Mostrar mensagens com a etiqueta Hino de Gandembel. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Hino de Gandembel. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2329: O Hino de Gandembel cantado ao vivo na já famosa Casa Teresa, em Matosinhos, sede da delegação Norte da Tabanca Grande



1. Mensagem de ontem do A. Marques Lopes, tendo em anexo este vídeo supra:

Foi na quarta-feira passada, 28 de Novembro, na Casa Teresa (1), em Matosinhos: o Álvaro Basto trouxe a máquina de filmar e a viola e o Almeida cantou o Hino de Gandembel (2) A assistência era: eu, José Teixeira, Rocha, Xico Allen, António Pimentel, Barroso, Custóias, Álvaro Bastos e seu pai. O Álvaro Bastos acompanhou à viola.

Havia mais gente (paisanos, como diz o Idálio Reis) noutra mesa ao lado... e os que estavam no rés-do-chão também ouviram, claro. Gostaram e não nos chamaram pimbas (3).


A. Marques Lopes


2. Comentário de L.G.:

António: Já cá chegou... Fico grato ao cineasta, Álvaro Basto, nosso querido camarada do Xitole... E a ti, que inseriste o vídeo no You Tube, na tua conta Cantacunda

A Casa Teresa já é famosa... na Internet. É a sede - todas as quartas feiras ao almoço - da vossa tertúlia de Matosinhos & Arredores (sem ofensa para os do Porto, Vila Nova de Gaia, Maia...). Como está a crescer, é melhor é chamar-lhe Delegação Norte da Tabanca Grande.

O pessoal estava divertido, mas já é altura de saberem a letra de cor... Para a próxima, toca a cantar o refrão como deve ser, senão chamo os... críticos musicais! ... Ou, em último caso, a ASAE! (Não faço isso, senão nunca mais poderia saborear aquela marvilhosa feijoada de búzios que lá comi da outra vez!!!)...

Bom, vocês são gente de poucos galões e de muitas estrelas!... Gente, maravilhosa, que tem sempre uma resposta na ponta da língua, e um grande sentido de amizade, camaradagem, hospitalidadade... e humor... Enfim, vocês não param de nos surpreender! São uma delegação de referência da nossa Tabanca Grande!

Os meus respeitosos cumprimentos à Teresa, dona da casa...

PS - António:

Amanhã, 5ª feira, dia 6, vou estar no Porto, às 23h, no Contagiarte, para assistir a um concerto da banda de música klezmer Melech Mechaya onde toca (violino) o meu filho, João... A iniciativa integra-se no Festival Etnias... A entrada é de borla, ou tem um preço simbólico, julgo eu ... Se alguém (dsa Delegação Norte da Tabanca Grande) quiser lá aparecer, beberemos um copo juntos!...

O Bar Contagiarte fica na Rua Álvares Cabral, 372, 4050- 040 PORTO... Fica perto da Praça da República.


Vê o sítio do Contagiarte :

Não é um simples bar, é muito mais do que isso… é um espaço de sensibilização, formação e dinâmica cultural. Situado numa zona classificada no centro da cidade do Porto, o Contagiarte foi inaugurado em 11 de Dezembro de 2003 e tem-se vindo a tornar como espaço focal de divertimento e entretenimento na cidade do Porto frequentado diariamente por centenas de pessoas desta cidade e de cidades circundantes.
________

Notas de L.G.:

(1) Vd. referências no nosso blogue à Casa Teresa, que já faz parte obrigatória do roteiro gastronómico, cultural, sentimental e convival da nossa tertúlia ou Tabanca Grande:

9 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1412: A minitertúlia de Matosinhos e... Leça da Palmeira (Carlos Vinhal / Xico Allen)

29 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1393: Saudações tertulianas na chegada do novo ano de 2007 (1) : Luís Graça / Pedro Lauret

(2) Sobre o Hino de Gandembel, vd post de 1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

Vd. ainda os posts de:


3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)


22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)


4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)


4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)


3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)


3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)


26 de Setembro de 2006> Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)


(3) Vd. posts de:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2321: Humor de caserna (3): Hino de Gandembel: hino de guerra ou música pimba ? (Manuel Trindade)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2323: Um insulto aos heróis de Gandembel (Zé Teixeira)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Vida quodiana... No comments!... As grandes fotografias dispensam legendas.

Fotos: © Idálio Reis (2007). (Editadas por L.G.). Direitos reservados.

Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem de hoje do Idálio Reis

Grande companheiro Luís

Julgo prudente não emitir qualquer opinião ante a verborreia maliciosa e cínica do paisano Manuel Trindade (1).

Já tive a oportunidade de me pronunciar sobre o hino de Gandembel, aquando do envio, [em 6 de Novembro último,] do CD do António de Almeida. Segue de novo em anexo.

A Tertúlia deverá tomar conhecimento prévio desse post, e então procurarei conseguir dar a compreender o que a letra daquela canção, genuinamente popular, quer significar. A guerra teve várias faces, mas a pior de todas tem sido a do seu branqueamento.

Fraternal abraço à tertúlia do Idálio Reis


3.
Mensagem de 6 de Novembro de 2007:

Meus caros editores-mor:

Enviei para a Escola do Luís um CD contendo 2 versões do Hino de Gandembel, do meu camarada ex-soldado António Almeida.

Demorou mais algum tempo que previa, mas ele andou a encetar diligências para se fazer acompanhar por uma banda, com gravação num estúdio.

Como me afirmou, foi a 1.ª vez que se viu metido nestas alhadas e sentiu-se um pouco nervoso.

De qualquer forma, o Almeida está de parabéns e o Blogue fica mais rico. Quem quiser apoiá-lo, o seu telemóvel é o 932896244.

Anexo um pequeno texto que apelidei de traços de Gandembel, para lhe emprestar algum enquadramento.

Um grande abraço do Idálio Reis.

Comentário de L.G.:


Idálio: Por lapso, o teu texto, tão autêntico, tão profundo, tão rico, de análise de conteúdo à iconografia de Gandembel/Balana e à letra do vosso hino, que acompanhou o envio do CD-ROM com a versão musical do Hino de Gandembel, não foi lamentavelmente publicado na altura (2)... Se o tivesse sido, talvez não houvesse nenhum (pré)-texto humorístico como aquele que publicámos...

E a propósito dou-me agora conta de que, muitas vezes sem querer, podemos magoar as pessoas e os seus sentimentos mais propfundos, com as coisas que escrevemos e publicamos aqui, no nosso blogue... É um risco calculado, com que todos os camaradas da Guiné têm que saber viver... Nada do aqui dizemos é neutro, inócuo, inocente, gratuito...mesmo quando abordamos, com ligeireza, o nosso quotidiano (sofrido) de guerra...

Um ou outro dos nossos camaradas já se têm afastado da nossa Tabanca Grande, discretamente, sem grandes protestos, porque nem sempre se reconhecem nas coisas que publicamos, e implícita ou até explicitamente têm criticado a nossa orientação editorial. Como sabes, o nosso blogue tem feito um esforço por ser plural, pluralista, aberto, isento... Não é fácil, ainda por cima quando se é generoso e se abre as portas a toda (ou quase toda) a gente...

Tu, que estiveste em Balana, sabes a importância que tem uma ponte...Ora o nosso blogue não é apenas um jornal de caserna, uma câmara de eco dos que nele escrevem, um circuito de comunicação fechada e autofágica, é também uma ponte, um elo de ligação entre duas margens, mas também uma via para a outra margem... para aqueles, mais jovens, como porventura é o caso do Manuel Trindade e de outros paisanos que nos visitam - e que, no fundo, nos admiram e respeitam, embora possam não compreender-nos, em parte ou em grande parte... Não vamos cortar essas pontes. E, muito menos, silenciar com tiro de morteiro certeiro aqueles que estão do outro lado, na outra margem...

Temos, contudo, o direito... à indignação quando não respeitam os nossos sentimentos. De qualquer modo, és um homem sábio quando decides desvalorizar o caso... Dito isto, vamos ao que interessa, que é o teu texto, que merece toda a nossa atenção e reflexão.

Não serve de consolo dizer-te isto, mas tenho que o dizer, embora tu o saibas muito melhor do que eu: Gandembel e Balana ficarão para sempre ligados à tua companhia, aos teus bravos da tua companhia, a CCAÇ 2317. Gandembel/ Balana é vosso, para sempre: refiro-me não ao pedaço de floresta desmatada do sul da Guiné, junto ao Rio Balana, onde flutuou a bandeira verde-rubra entre Abril de 1968 e Janeiro de 1969, mas sim às memórias, às emoções, ao desassossego, à saudade, ao medo, à fome, à tristeza, ao desalento, à merda, ao sangue, às lágrimas... e também ao orgulho, ao brio, à coragem, à brincadeira, à camaradagem, à alegria, à esperança... Isso, camarada, nada nem ninguém (nem muito menos a História) vos pode roubar!!!




Hino de Gandembel cantado por António Almeida, residente em pedrouços, Maia, ex-soldado da CCAÇ 2317 ( Gandembel / Balana , 1968/69), com acompanhamento musical de um amigo e conterrâneo. Vídeo: 2 m 42 s. Alojado no You Tube > Nhabijoes.

Vídeo: © António Almeida / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Traços de Gandembel: das fotografias ao seu hino
por Idálio Reis

Meus caros Luís, Vinhal e Briote.

Faço enviar, para o Luís, um CD de áudio onde o meu camarada ex-soldado António Pinto de Almeida, residente em Pedrouços-Maia, fez gravar o hino da sofrida Gandembel, cantado a seu modo, entoado como ele o fazia há quase 40 anos. Mas agora, até se deu ao privilégio de se fazer acompanhar de uma banda, e ao ouvi-lo fiquei encantado.

A maneira como se prestou a fazer partilhar este favor que lhe pedi, já o agradeci em nome da Tertúlia. Para quem sempre esteve ao lado desta enorme gente, mais uma enorme prova de estima e consideração por este seu velho amigo.

Porventura, caberá a vez ao nosso balador-mor Gabriel Gonçalves saber conjugar, com o seu benjamim, essa voluntariosa missão técnica de sonoplastia, e assim em definitivo fazer florescer mais uma das célebres cantigas de amigo, para fazer repartir sonoramente por todos nós.

Aproveito a circunstância deste envio, para me debruçar um pouco sobre esta canção, invocando também as fotografias que apareceram no post P2152 de 4 de Outubro (2).

O Luís tem feito destacar uma, em que eu-próprio apareço envolto no cobertor que me servia de colchão, a tentar que uma pá provocativamente calejante, porque a gastaram de tantas canseiras, emitisse um sonido tangível, cristalino e plangente, a fim de que uma transformada canção de gesta ecoasse rio Balana abaixo, e chegasse em velocidade da luz, embalada ao mundo dos meus e dos nossos.

E para seus contentos, lembro-me que lhe incuti uma secreta aspiração, ainda que reconhecesse ser muito difícil de sobrepujar. De todo não chegou ao destino, tudo indiciando que os seus ecos se vieram a sumir no marulhar de um macaréu de lua, acabando por se esvanecer na salsugem do Geba.

E aí se quedou de mansinho durante muitos anos, enquistada talvez nalguma ostra perlífera, e um dia o Luísv Graça & Camaradas da Guiné a remoçou em melopeia cândida e dolente, que cativantemente nos vem seduzindo e incontidamente nos emudece, já que ela teve o condão de aglutinar miríades de recordações marcadas por aquele frenesim delirante que aquela tremenda Guiné tantas vezes nos avassalou.

Procuro perceber as causas desse estancamento repentino, e agora me lembro que, naqueles tempos de antanho, havia imensas dificuldades para transpor as fronteiras do império. A autocracia totalitária tudo abafava, inclusive o exaspero ou o desalento.

De todo o modo, a guerra subversiva que nos entranhava, ainda continha um certo poder de rebusca para de todo não dobrar a cerviz. Deleitantemente houve enlevos que parecem terem-se mantido, como a fotografia que nos mostra este conto-imagem, que fundamentalmente se consubstancia na fidelidade. Ela é uma parte imanente da nossa memória plena, a querer continuar a perdurar bem presente até ao infinito, que não ousa enganar, trair ou ludibriar.

A fotografia fixa uma imagem a advir de um pulsar num determinado momento-instante. Creio que os milhões de vezes que o indicador da mão direita premiu o botão da máquina, revérberos de uma luz intensa, se transformaram em estrelas cintilantes a iluminar o sonho vivo da presença. Mesmo que se assemelhassem a um fogo-fátuo, conseguiram que esboçássemos um doce sorriso, porque ainda estávamos de pé, numa Guiné onde se intentava viver obsessivamente para ver amanhecer o dia posterior.

As 2 fotografias que aparecem no Post, como as que fomos guardando num recanto especial como autênticas relíquias, são fortemente expressivas ao revelarem-se-nos. Talvez por isso, têm de ser observadas com uma apurada acuidade visual, para que nos elucidem em contemplação, o que foram as vivências desses conturbados tempos que nos assolou com tantos confrontos.

E uma grande maioria delas arrebatam-nos sensorialmente a fim de lhes emoldurar uma legenda capaz de as interpretar. Ah!, mas quantas delas denotam uma possança tão forte que nos anuviam os sentimentos e por vezes quaisquer palavras que se lhes apensem, perdem sentido.

Torna-se então preferível aprofundar uma sua absorção, deixar que elas exteriorizem todo o seu conteúdo, mas no êxtase da sua contemplação, nada se consegue comentar. Tudo parece resultar do local e do momento que se pulsou a máquina que a fixou.

Também elas transparecem uma particularidade muito peculiar, a da sua intemporalidade, no contexto em que um relance da sua visão nos transmite todo o itinerário das nossas vidas até ao presente, onde se cruzam emoções em rodopio, uma furtiva lágrima pinge sobre a barba esbranquiçada, para questionar-mo-nos se tantos tropeços valeram a pena.

Aventuro-me a afirmar que nem tudo valeu a pena, apesar de as nossas almas se terem mostrado demasiado grandes, não haja a mínima dúvida. Mas quantas vicissitudes nos foram compulsivas!

O Luís gostou mais de uma, de um conteúdo mais global [«nesta fotografia de um camarada sozinho, no palco da guerra, no cu do mundo, estamos lá todos»]. Será muito difícil não encontrar uma qualquer fotografia que não nos inebrie, dado que elas conseguem desnudar-se nas facetas várias da camaradagem [«as alegrias, as tristezas, a coragem, a solidão, a esperança, os medos, os sonhos, os intervalos»].

É tudo isso, meu caro Luís, a saudade que o isolamento de Gandembel fazia aflorar de um modo persistente, toma lugar com muita veemência. Talvez por isso, a fotografia representa a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego.

Já o Nuno Rubim propendeu para uma outra. Intento reconhecer as razões dessas escolhas, já que sobre esta, permitam-me tecer alguns comentários, ao que legendei de banhos de imersão, onde o elemento água toma aqui um valor insuperável.

Gandembel, num dos períodos mais cruciais, o do início do aquartelamento, debateu-se com falta de água, mesmo a provir de charcas que o leito do Balana ia contendo, e que bebemos durante quase 2 meses, ainda que reconhecendo ser imprópria para consumo. Um dos nossos maiores contentamentos deu-se no dia em que começou a haver água bastante, com os débitos do rio a aumentarem.

Esta fotografia revela 2 aspectos: a fartura de água que até servia para o pessoal se comprazer naquelas banheiras verticais, mas os cuidados que eram requeridos, já que os bidões estavam dentro do aquartelamento, apesar da distância ao Balana não superar o meio quilómetro. Mas ninguém ousava banhar-se no próprio rio, pelo risco bélico que sempre nos confrontava.

Já o hino de Gandembel contextualiza a gesta dos que tiveram a desdita de nela ousarem (sobre)viver. A sua concepção surge em circunstâncias particularmente difíceis, onde transparece uma mescla de clemência, agonia, alívio, alegria. O seu contributo para o estímulo da Companhia foi valioso, na pacificidade das tensões, e daí que se viesse a repercutir por alguns aquartelamentos. Hoje o Blogue, ao fazer divulgar a sua forma cantada, fá-lo resplandecer, e torna-se um hossana.

Mas permita-se-me uma leitura aliás bastante subjectiva, muito em especial de alguns dos seus versos.

(i) Das peripécias de guerra mais penosas, foi a audição dos milhares dos ecos das saídas dos morteiros 82, «Gandembel das morteiradas» que quase quotidianamente flagelavam aquele aquartelamento; os momentos de ansiedade e expectativa, enquanto a granada silvava os ares na sua trajectória indefinida, eram aterradores: «Meu alferes, uma saída/Tudo começa a correr»; havia um estrondo quando deflagrava, e tudo se poderia esvair naquele contacto com o solo: onde? longe? ao lado? «Não é p´ra aqui, é p´ra Ponte/Logo se ouve dizer».

(ii) Uma das outras facetas negras, que envolve um doloroso e prolongado tempo, foi a do espectro da fome, pois a variedade das refeições quase não se alterava, em que os frescos não existiam: «A comida principal/É arroz, massa e feijão». Longos períodos sem uma bebida que não fosse água: «Bebida, diz que nem pó/Acontece o mesmo ao vinho».

Sim, Gandembel foi um local onde o perigo pairava a cada momento, e o seu tempo mais agradável conhecia-se por bonança. E, por vezes ao entardecer, saía de uma caserna-abrigo, um coro à capela, à busca de um contentamento de tranquilidade, e também de rogo para que a noite decorresse sem queixumes.

Mas quantas vezes, no pedido não satisfeito, as noites estremunhavam e o cansaço ou desalento agudizavam-se. E mal despontava o dia, em alvor da madrugada fustigante, ouvia-se um forte brado, de revolta, não mais que um grito de chamamento para ninguém: «TIREEEEEM-ME DAQUI!».

Um fraterno abraço a todos, do Idálio Reis.

________


Notas de L.G.:

(1) vd. posts de:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2321: Humor de caserna (3): Hino de Gandembel: hino de guerra ou música pimba ? (Manuel Trindade)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2323: Um insulto aos heróis de Gandembel (Zé Teixeira)

2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2324: (Ex)citações (1): Um pouco de humor de vez em quando também nos faz bem (Henrique Matos)

(2) Vd. post de 1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)

sábado, 1 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2319: Hino de Gandembel: interpretação de António Almeida (CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69)



Hino de Gandembel cantado por António Almeida, que reside ma Maia, ex-soldado da CCAÇ 2317 ( Gandembel / Balana , 1968/69), com acompanhamento musical de um amigo (1). Vídeo: 2 m 42 s. Alojado no You Tube > Nhabijoes.

Vídeo: © António Almeida / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Nota dos editores: um especial agradecimento a:

(i) ao António Almeida que teve a pachorra, a disponibilidade e a generosidade de gravar, num pequeno estúdio de um amigo ou conhecido lá da terra (Maia), esta versão do Hino de Gambendel, para o nosso blogue, e que ele de resto costuma cantar nos convívios da CCAÇ 2317; naturalmente que o António, embora não tendo neste momento endereço de email, já está inscrito na porta de entrada da nossa Tabanca Grande;

(ii) ao Idálio Reis, que de há muito é a figura de referência dos homens-toupeiras, o verdadeiro capitão do desse navio-fantasma que ainda hoje navega pelos rios e braços de mar do sul da Guiné, com os sobrevieventes e os órfãos de Gandembel/Balana... e que nos enviou, pelo correio, o CD-ROM com as duas versões do António Almeida;

(iii) ao Rui Gonçalves, filho do nosso camarada Gabriel Gonçalves (ex-CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), que mais uma vez nos fez a conversão do ficheiro áudio e colocou-o em vídeo, à nossa disposição, no You Tube, na nossa conta Nhabijoes); ao Rui, fazemos questão, desde já, de o considerar como mais um amigo da Guiné, mais um membro da nossa Tabanca Grande... É o Rui, os nossos filhos e os outros filhos dos nossos camaradas, que fazem a ponte geracional, pondendo colmatar as lacunas das nossas memórias e levá-las para além da nossa morte física... Por isso, nós costumamos aqui dizer "Filho(a) de um camarada nosso, nosso(a) camarada é"...

Hino de Gandembel


Ó Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída! -
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte! (i),
Logo se ouve dizer.

Refrão

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se liga o rádio
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Refrão

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se liga o rádio
Ao som de estrondos e tiros.

Temos por v’zinhos Balana (i),
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Refrão

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se liga o rádio
Ao som de estrondos e tiros.


Recolha: José Teixeira / Revisão e fixação de texto: L.G.

(i) A famosa ponte sobre o Rio Balana, destacamento da CCAÇ 2317 (que estava em Gandembel, Abr 68/Jan 69)
(ii) Verylights
(iii) WC, casa de banho
(iv) A espingarda automática G-3, usada pelas NT.

________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:
22 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2153: Hino de Gandembel: talvez a mais popular canção entre as NT no ano de 1969 (José Teixeira)

4 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

26 de Setembro de 2006 Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)

Almoço da mini-tertúlia de Matosinhos e o Hino de Gandembel interpretado pelo camarada Almeida, da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69).


Foto 1> O nosso camarada Almeida interpretando o Hino de Gandembel, acompanhado (à viola ou à guitarra?) pelo A. Marques Lopes. Ao meio, um espectador menos atento. Imperdoável.

Foto 2> Logo na primeira fila vêem-se o Zé Teixeira, o Álvaro Basto e o António Pimentel.

Fotos: © Xico Allen / A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.

Texto de Carlos Vinhal:

De acordo com um comunicado oficial do nosso camarada A. Marques Lopes, no passado dia 21 de Novembro aconteceu mais um almoço, das quartas-feiras, da mini-tertúlia de Matosinhos (1). Marcaram presença o Álvaro Basto e seu pai, o António Pimentel, o Almeida (da CCAÇ 2317), o Marques Lopes, o Rocha, o Xico Allen e o Zé Teixeira.

Como é costume, aconteceu na Casa Teresa e não teria nada de especial, não fosse a presença do Almeida, que presenteou o comensais com uma espectacular interpretação, à capela, do Hino de Gandembel (*). Dentro de dias iremos inserir no You Tube e no nosso blogue uma outra versão, musicada, que o Idálio Reis nos mandou à dias, em CD-Rom, gravada pelo Almeida (que mora na Maia).

De tal forma o Almeida impressionou a assistência que foi logo, ali mesmo, combinada uma repetição da perfomance, na próxima quarta-feira, no mesmo local, desta feita com uma gravação ao vivo de imagem e som.

Não é demais lembrar que neste almoço é bem-vindo qualquer ex-combatente da Guiné, residente em qualquer parte do País.

O facto de se intitular mini-tertúlia de Matosinhos (**) não fecha o convívio a quem quiser participar nestes almoços, até porque a Dona Teresa e o marido recebem bem e agradecem a visita.

Em cima dois instantâneos do acontecimento com as legendas/comentários do co-editor.
________

Notas do co-editor CV:

(*) Aqui podem ouvir a versão interpretada pelo nosso camarada Gabriel Gonçalves

(**) Vd. último Post sobre a Tertúlia de Matosinhos de 9 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2040: No almoço da tertúlia de Matosinhos com o António Batista, o nosso morto-vivo do Quirafo (Paulo Santiago)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2152: Hino de Gandembel, hoje um hino de alegria (Idálio Reis / Gabriel Gonçalves)



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (Abril de 1968/Janeiro de 1969) > 1968 > Será este o misterioso autor da letra (e da música) do Hino de Gandembel ? Podemos imaginar que sim... Aí está o homem-toupeira, o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, fazendo da pá do trolha a viola de baladeiro, e ensaiando as primeiras notas e o primeiro verso do Hino de Gandembel: Ó Gandembel das morteiradas, /Dos abrigos de madeira / Onde nós, pobres soldados, /Imitamos a toupeira.(...). Um hino que o Idálio Reis e os seus camaradas da CCAÇ 2317 transformam hoje em Hino da Alegria quando se encontram para confraternizar... LG)

Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.

1. Ontem, o Idálio Reis escreveu a seguinte mensagem ao Gabriel Gonçalves, a propósito da gravação do Hino de Gandembel (1):

O nosso hino de Gandembel, por razões que conheces, ouço-o todos os anos aquando dos almoços de confraternização da Companhia (2).

É pois cantado pelos presentes, já na parte última do convívio, em que os ânimos estão mais exaltados, satisfeitos. É fundamentalmente um hino de alegria.

Só o nosso Blogue me deu a conhecer que o hino se difundiu por diferentes locais da nossa Guiné, já Gandembel não existia ou mesmo a Companhia tinha regressado (3). E aqui penso que os principais transmissores foram os pára-quedistas, que estiveram connosco durante uma larga temporada.

Aquele teu minuto é uma rara preciosidade (1). Felicito-te por isso, pois um belo cantor já cá conta...

Como podes reconhecer, foi-me difícil encontrar um solista. Mas já agora resta-nos esperar o que o meu homem vai apresentar. E depois veremos, se a balada tem merecimento!

De qualquer modo, tornar-se-á obvio que a canção terá de ser internetalizada em banda larguíssima, até maior da que o Sócrates tem prometida ... Mas até parece que na eventualidade de merecer o seu aproveitamento, tens em casa um benjamim, que mexe nestas coisas, que até suplanta o pai nas baladas. Se lhes chamam as novas tecnologias, é porque já não são para os velhos.

Quando receber a encomenda do meu Almeida, contactarei o Luís para me informar como agir.
E até lá um grande abraço do Idálio Reis.


2. Resposta do GG:

Agradeço as tuas palavras, com o respeito que me mereces, de periquito para velhinho. Apenas contribuí como é meu dever, para as recordações virem à tona, passados todos estes anos. Tenho a certeza que o vosso/nosso hino a Gandembel, cantado pela rapaziada da tua Companhia, será a todos os níveis um hino de alegria.

Bem hajam por isso todos vós.

Um abraço
GG
________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2150: O Hino de Gandembel, cantado pelo GG [Gabriel Gonçalves], o baladeiro da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (Abril de 1968/Janeiro de 1969) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > Os homens que fizeram das tripas coração...
Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.





Hino de Gandembel (voz: Gabriel Gonçalves, ex- 1º Cabo Cripto, cantor e tocador de viola, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1960/71) (1 m e 3 ss)

(2) Vd. posts de:

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1863: Convívios (18): Como a cidade que nos acolheu, foi nobre a confraternização da CCAÇ 2317, Os Gandembelenses (Idálio Reis)

(3) O hino era cantado pela malta de Bissau, de Contuboel e de Bambadinca, quando a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 chegou à Guiné (finais de Maio de 1969). Fazia parte do reportório dos baladeiros da nossa companhia (o GG, o José Luís de Sousa, o Pina...) (4).

Gandembel e Ponte Balana foram abandonados em 28 de Janeiro de 1969. Até 14 de Maio, a CCAÇ 2317 esteve em Buba. Seguiu depois para o Leste: Nova Lamego e Cansissé. Em Julho de 1969, a CCAÇ 12 estava em Contuboel e a CCAÇ 2317 em Cansissé . O Idálio e os seus camaradas eram os heróis de Gandembel. As suas histórias e o seu hino chegaram-nos rapidamente a Contuboel, onde eramos periquitos e treinavamos os nossos queridos nharros. E levámo-los, ao hino, às histórias de Gandembel e aos nossos nharros, para Bambadinca.

Vd. posts do Idálio Reis sobre a sua passagem pela Zona Leste, vindo do sul, já na parte terminal da comissão:

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P954: Cansissé, terra de mil encantos (Parte II) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)

2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)

(4) Vd. post de 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2149: Hino de Gandembel: Quem foi o autor da letra ? (José Teixeira / Idálio Reis)

1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70):


Caríssimos:

Segundo consegui apurar, o Hino a Gandembel (1) foi escrito por um soldado pára-quedista do grupo que em Setembro de 1968 andou por Gandembel a fazer a limpeza.

Não só pegou de imediato nos camaradas na CCAÇ 2317 (2) que o passou às Companhia que com eles conviveram, entre os quais a minha (CCAÇ 2381) (3), como foi levado pelos Páras para as localidades por onde estes passaram, incluindo Bissau, tornando-o num hino de escape nas horas difíceis.

O papel que possuo com o texto, é uma das cópias do original que me foi fornecido lá, na minha última visita, a que felizmente ia ajudar a CCAÇ 2317 a regressar a Aldeia Formosa, abandonando-se em definitivo Gandembel.

Fraternal abraço do

J. Teixeira

2. Resposta do Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69).

O substrato musical do Hino de Gandembel há-de aparecer. A letra, essa, é bem conhecida.

Quando o Luís/Pepito difundiram esse pedido, é evidente que não poderia ficar indiferente. Se então, nada disse, é porque o Idálio teria de encontrar alguém que nos fizesse esse favor, e comecei a auscultar alguns antigos companheiros (1) para cantarolar esse brilhante hino, que depois enviarei à edição do Blogue para tratamento e difusão.

Só um apenas... O hino já existia quando os pára-quedistas foram para Gandembel. Quando estes chegaram a Gandembel, já milhares de saídas de morteiro o alferes Reis tinha ouvido. Por enquanto o autor da CCAÇ 2317 é anónimo, ainda que os resultados das sondagens que este assunto me fez mover, aponte para um dos nossos que jamais vimos após o regresso. E não sei do seu paradeiro, porque as minhas buscas têm sido infrutíferas.

Esperemos então pelo hino cantado pelo companheiro António Almeida, com sotaque à tripeiro.

Cordiais abraços
do Idálio Reis

__________

Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:


26 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel (José Teixeira / Luís Graça)

(2) Vd. posts de:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo´

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

18 de Setembro de 2007>Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)

(3) Vd. posts de:

25 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2129: Quero depositar um ramo de flores em Gandembel (José Teixeira)

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi

sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P383: O Hino de Gandembel (Luís Graça)

Guiné > Quebo > 1968 > O José Teixeira, 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/79), junto ao obus 14, apontado à fronteira.

© José Teixeira (2005)

É com visível satisfação que inserimos hoje, aqui no nosso blogue, a famosa letra do hino de Gandembel. No meu tenpo (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) era provavelmente a canção de caserna mais popular, passando de boca em boca. Guileje, Gadamael e Gandembel eram três nomes que aquartelamentos que os periquitos, em Bissau ou na Zona Leste, pronunciavam com temor e respeito... Estou a fazer um esforço por me lembrar da música que acompanhva esta letra: creio que era um fado ou um balada conhecida... Se alguém se lembrar que me diga.

Gandembel era um aquartelamento, no sul, junto à fronteira, a nordeste de Guileje.

A recolha foi feita pelo nosso camarada José Teixeira, na altura 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381 que andou por Buba e Empada, entre 1968 e 1970. O Teixeira voltou recentemente à Guiné, em Março de 2005, com o Allen e outros camaradas. Desse regresso vais-nos dar conta em crónica que está a elaborar para a nossa tertúlia. Além disso, deu-nos o privilégio de partilhar o seu diário da época (1968/70) , bem como as suas fotos, que iremos divulgando nos proximos dias...


Hino a Gandembel

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída!
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte!,
Logo se ouve dizer.

Oh!, Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (1) e morteiradas.
Oh!, Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (2)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (3),
Do outro lado o Guilleje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (4) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
____

(1) Verylights
(2) WC
(3) A famosa ponte Balana
(4) A espingarda automática G-3