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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23531: O nosso querido mês de agosto, pós-pandémico: o que é ser português, hoje? (5): Acordei com alguma inveja de ver os meus netos, neerlandeses, partir de regresso das férias em Portugal... (Valdemar Queiroz)


Valdemar Queiroz, minhoto por criação, lisboeta por eleição, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; aqui, na foto, em Contuboel, 1969. 


1. Trancado em casa, em pleno agosto (aquele que deveria ser "o nosso queridp mês de agosto"), por causa da sua DPOC de estimação, desolado por ver partir os seus netos, filho e nora de volta para os Países Baixos (depois de umas sempre curtas férias em Portugal), o nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz não desiste de enriquecer (ou complexificar)  as respostas à pergunta (tramada, para os portugueses) que é a de saber o que quer dizer "ser português", aqui e agora, "hic et nunc"... Aqui ficam cinco dos seus comentários de antologia:


(i) 11 de agosto de 2022 às 16:03 (*)

O que é ser português ?

Mas, depois de três dias de viagem a atravessar a França e, por não aguentar mais tempo, uma directa de San Sebastian pra chegar a Bragança. Ufff!, chegar a Portugal, e começar logo a sentir a diferença do calor, do cheiro, ver o céu azul, tudo diferente mas nunca esquecido, e ouvir 'bócê nem sabe o calor pro aqui'.

Depois, é só passar por Valverde, Vale do Porco, Vilar de Rei e chegar a Mogadouro, estacionar a autocaravana no Parque de Campismo e descansar para viajar em Portugal.

Parece que estes emigrantes dos anos 2000 já não se sentem emigrantes, antes vão trabalhar para outras paragens...mas a razão é sempre a mesma: um país com mais conventos que palácios e fábricas ter mar à porta de casa.

Assim cá chegaram os meus netos, filho e nora para passar férias vindos dos Países Baixos. (...)


(ii) 13 de agosto de 2022 às 02:13 (**)

Sempre me fez muita confusão ver os neerlandeses ir à casa de banho e não lavar as mãos. Nunca me deram uma explicação, talvez seja por causa do tempo frio.

Depois, lembrei-me de ter lido uma crónica de um estrangeiro em Lisboa no séc. XVIII,  que dizia que os portugueses parecem estar a cometer pecados a qualquer hora, estão sempre a lavar as mãos. Dizem que nos ficou do tempo dos árabes, tal como o "Se Deus quiser" (Insha' Allah") por tudo e por nada.

(iii) 13 de agosto de 2022 às 18:28  (***)

E sobre moinhos também há para escrever.

Do latin molinu apareceu o português 'moinho', que perdeu o l intervocálico e o galego 'muiño' também. Não é muito diferente do latim o espanhol 'molino', o catalão 'moli' e o francês 'molin'. Em alemão 'müle' e em neerlandês 'molen'.

Com 'moleiro', do latim molinariu, foi um pouco diferente, por em galego ser 'muiñeiro', em espanhol 'moinero', em catalão 'moliner' e em francês 'meunier'. Os alemães dizem 'müller' e os neerlandeses 'molenaar'.

Agora, o querer ir ao Restaurante "De Hoop" num moinho em Bavel (NL) e perguntar por molen, môlen, mólen, e uuuu? molin, molino, e uuuu? ah! móla,  respondeu-me a senhora indicando o caminho. 

Os vizinhos flamengos que povoaram os Açores,  também levaram para as ilhas os seus conhecimentos na construção de moinhos que ainda por lá se encontram.

Os neerlandeses, não digo os holandeses por haver moinhos sem ser nas províncias da Holanda do norte e do sul, aproveitando as suas "estradas" de água construíram moinhos de vento junto dos muitos canais que utilizam para tudo e mais alguma coisa. São uma força motriz para as mais diversas actividades.

E temos o célebre "Molin Rouge" em que as velas ao vento são as pernas em movimento das bailarinas de can-can.

PS -  Sem pretender ser um letrudo e escrever como que velas ao vento, desculpem a confusão da explicação, que não será nenhuma novidade para a rapaziada da nossa idade.


Meu caro Fernando Ribeiro:

... "Ser português ... é dar porrada na mãe" ... e o resto que eu transcrevi, são palavras de parte de um interessante texto humorístico, de Guilherme Duarte, com o título genérico "O Fado de ser Português".

O estigma dar "porrada" na mãe ficou-nos por causa do D. Afonso Henriques ter batido a mãe na batalha de S. Mamede. É o que dizem e sempre se prestou para textos de humor.

O texto completo do "O Fado de ser Português" tem frases com piada e com alguma verdade.

Abraço e saúde da boa.

Hoje acordei com alguma inveja de ver os meus netos partir de regresso das férias em Portugal. Inveja de outros os poderem ver todos os dias.

O Camões chamava invejosos aos portugueses? Só poderia ser por nos aventurarmos à procura de novas rotas das especiarias com inveja dos muçulmanos, venezianos e genoveses o fizessem no Mediterrâneo. 
Ou antes a inveja era dos outros por não serem como o D. Sebastião e o Vasco da Gama?

Ou por sermos invejáveis? Ou até, dividindo bem as orações, a INVEJA final pode estar relacionado com outro canto. não sei por nunca ter sido bom a português.

Ah, também tenho inveja não poder respirar como deve ser....talvez por ter inveja de ver os outros fumar quando tinha 15 anos !!

Inveja em neerlandês é jaloezie (lê-se: iáluzi) que quer dizer ciúmes, e invejar é benijden (lê-se: beneida).

Saúde da boa (sem invejas)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22327: Efemérides (349): Recordando o dia 24 de junho de 1622, a vitória de Macau sobre os holandese, hoje dia da cidade (Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74)

 

 紀念澳門「六月廿四」過去‧現在‧未來 

24 de Junho em Macau - Memórias e perspectivas para o futuro 

 Vídeo (23' 09'') > 24/6/2021 | IMM - Instituto Português de Macau



1. Mensagem do nosso camarada da Diáspora Lusófona, Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha há mais de 2 décadas, em Macau, região autónoma da China, e que foi alf mil, CCAÇ 4142/72, "Os Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74); é o nosso grã-tabanqueiro nº 709, desde 18 de dezembro de 2015, e régulo da Tabanca de Macau :

Date: terça, 29/06/2021 à(s) 03:39
Subject: Sessão sobre o dia 24 de Junho | 紀念澳門 「六月廿四」講座 | Session regarding the 24th of June


Sessão sobre o dia 24 de Junho

No dia 24 de Junho, Dia da Cidade, o Instituto Internacional de Macau promoveu uma sessão aberta ao público, destinada a comemorar o acontecimento histórico que marcou Macau neste dia, em 1622, da vitória sobre os holandeses que tentaram apoderar-se de Macau, no dia de São João Baptista, pelo que a edilidade lhe consagrou Padroeiro da Cidade.

A sessão pretendeu de forma simples homenageá-lo, relembrando à população uma promessa que tinha sido feita há quase 400 anos.

O IIM tem vindo a realizar desde 2018 diferentes manifestações, destinados as estudantes e à camada mais jovem para uma continuada promoção deste acontecimento que poderá ajudar a população a compreender melhor a importância desta data, e contribuir para melhorar o sentido de pertença e uma percepção mais nítida da importância da preservação desta memória, que recentemente tem sido comemorada através de um Arraial que foi classificada como um dos elementos do Património Cultural Intangível de Macau.

Houve uma breve apresentação por várias representantes presentes, do IIM, com a moderação do seu secretário-geral, Rufino Ramos, Miguel de Senna Fernandes, da Associação de Macaenses, Amélia António, da Casa de Portugal, Paula Carion da Associação dos Jovens de Macau, e Wallace Kwah, da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, que colaboraram no projecto, além de uma intervenção online da investigadora Mariana Pereira, que apresentou e lançou uma página electrónica dedicada a este acontecimento (https://macaense24junho.wixsite.com/evento).

O IIM apresentou e lançou ainda um vídeo sobre o acontecimento histórico, memórias das celebrações anteriores e perspectivas para o futuro sobre esta importante data, agora com acesso nas suas redes sociais, através do seu canal YouTube e Facebook (iim macau).

A sessão contou com o apoio da Fundação Macau.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=5ac3-TUp4eM

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22320: Efemérides (348 ): Foi há 50 anos, a partida da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 (Buba, 1971/73) (Pinto Carvalho, ex-alf mil, poeta, músico e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar)

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22078: Blogoterapia (297): Obrigado, a todos, por se terem lembrado de mim no dia dos meus anos... sozinho em casa, com o computador nos "cuidados intensivos" e agarrado à máscara de oxigénio por causa do pó do Saara... (Valdemar Queiroz, Agualva-Cacém)


Cacém > PC-Doctor > Rua Marquês de Pombal,nº 89, loja, esquerdo... Tem página aqui. (Passe a publicidade, mas é uma informação que pode ser útil para os camaradas da Tabanca da Linha)


1. Mensagem do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70; tem mais  de 120 referências no nosso blogue, e é um activo e incansável comentador]:


Date: terça, 6/04/2021 à(s) 23:58
Subject: Obrigado, Luís Graça


Luís, muito obrigado pelo teu telefonema.

Já estou um pouco melhor, embora agora com uma ciática (?) numa perna, e deu para ir buscar o meu computador que já está pronto para mais umas viagens.

Embora com algum atraso, já fiz um comentário no post do meu aniversário no nosso blogue. (*)

Teve piada o meu computador ter estado em cuidados intensivos na loja dum PC-Doctor, indicado pelo meu filho por terem sido colegas no Secundário.

E cá vamos andando.
Abraço
Valdemar

PS - Anexo uma foto do consultório do PC-Doctor


2. Comentário do Valdemar Queiroz, no poste P22050 (*)


Obrigado a todos.

Não é por ser meu hábito, mas só agora estou a agradecer a atenção pelo vossos Parabéns no dia do meu 76º. aniversário. Fico muito sensibilizado.

Este atraso de agradecimento deves-se ao facto do meu computador não ter escapado a mais um vírus e ter de ser internado nos cuidados intensivos num PC-Doctor com internamento de 24/03 até 05/4/2021. Afinal não era propriamente um vírus, era mais um problema da idade avançada com necessidade de substituição dumas peças (, afinal até nos humanos assim acontece).

Mas, com a saída,  expus-me às ditas poeiras/areias do Saara e fiquei bastante enrascado com o meu problema DPOC [doença pulmonar obstrutiva crónica] e foram dias seguidos a máscara de oxigénio, incluindo o dia dos meus anos.

Sem o computador que faz de livro, jornal de notícias, sala de cinema e teatro, troca de conversas com familiares, amigos e camaradas da Guiné, e sem poder sair de casa, deu para voltar a ler "Viagem a Portugal", de José Saramago, e reler algumas "Vida Mundial" e uns Suplementos Literários do "Diário de Lisboa" que, com uns filmes do Estúdio do Cinema Império, faziam parte da 'militância de ser culto' para fazer boa figura em tertúlias de mesa de café... naqueles belos anos sessenta.

Obrigado, Cherno Baldé, o que será feito dos outros Embalós?
Obrigado, Luís Lomba, nunca mais voltaremos a passar naquela inesquecível Ponte Caium.
Obrigado, Gaspar, não te esqueças de quem nos lixou aqueles belos anos sessenta.
Obrigado, Luís Graça,  pela amabilidade do teu telefonema.
Obrigado,  Duarte, para o mês de Junho não pode faltar a nossa sardinhada.
Obrigado a todos.
Os meus Parabéns ao António Graça Abreu e à Rosa Serra.
Para o ano há maís.

Abraços
Valdemar Queiroz

6 de abril de 2021 às 23:22

3. Comentário do editor LG:

A gente às vezes pensamos que somos "os mais coitadinhos do mundo"...Basta dar uma vista de olhos pelas salas de espera dos nossos hospitais, centros de saúde, consultórios... Cada um, cada uma, mergulhado/a na "sua dor"... Enfim, basta ouvir as conversas, agora mais mitigadas pelas restrições impostas pelo confinamento: ai a minha perna, ai o meu braço, ai o meu problema de saúde que é muito maior do que o teu, ai os meus medicamentos que são muito mais caros do que os teus... 

Mas adiante, não vim falar de mim... nem do meu umbigo, parafraseando o nosso camarada Alberto Branquinho (que tem andado arredado do nosso blogue). Venho, sim, dizer que fiquei, há dias, sensibilizado com a situação d0 nosso camarada Valdemar Queiroz que vive há anos sozinho na sua casa em Agualva-Cacém, e tem que saber lidar com uma doença crónica tramada, uma DPOC (**)... Foi o Renato Monteiro, outro portador de uma DPOC, que me deu o seu nº de telemóvel. 

Fiquei a saber que o Queiroz divide os 365 dias do ano entre a Holanda (onde tem filho e netos) e Agualva-Cacém... O clima da Holanda é tramado para um portador de DPOC, razão por que passa cá uns meses... E aqui só sai para o estritamente necessário, tem o carro à porta, mas é de uma autonomia impressionante. Está habituado a (e gosta de) cozinhar. E tem um sentido de humor que o ajuda a superar as dificuldades e contrariedades... 

Há dias o seu PC "pifou" e foi preciso ir ao PC-Doctor... Valeu-lhe o filho, na Holanda, que à distância lhe deu umas dicas... Meteu-se o Queiroz ao caminho até ao consultório do PC-Doctor, mas em mau dia, com a atmosfera carregada de pó do Saara... Resultado: teve uma crise dos diabos...

No dia dos anos, não consegui que ele me atendesse. Consegui ontem, e ele ficou sensibiizado. Até o gesto de pegar no telemóvel lhe custa.

Conversámos um pouco, não quis maçar. O meu respeito por ele aumentou. Já estava a ficar mais aliviado, depois de uma crise de vários dias. E estava entusiasmado porque o PC estava pronto e ia buscá-lo. É a sua ligação ao mundo, para mais neste tempo de não-tempo de Covid. 

Fico feliz por saber que ele também já pode voltar ao nosso convívio na Tabanca Grande. E se alguém quiser telefonar-lhe, que me peça o número: dá-lo-ei, com todo o gosto... Sabe tão bem ouvir uma voz amiga quando se está doente e sozinho, em casa!... (***)
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sábado, 13 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19675: Os nossos seres, saberes e lazeres (315): Viagem à Holanda acima das águas (19) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Era uma visita de ajustamento, dois dias em Bruxelas para abraçar amigos, ficar à sua disposição. E preparar uma viagem no início do outono, que se realizou, como aqui se irá contar.
Mesmo sujeito à compressão dos horários, voltou-se a locais que já se visitaram muitas vezes, mas como diz José Saramago, o que se vê no verão não é o que se vê no inverno, nem ao amanhecer nem ao entardecer, sozinho ou acompanhado, sempre se vai descobrindo algo mais que dita o consolo da visita e a vontade de ali retornar, como acontece sempre quando para o viandante se fala em Bruxelas.
Uma cidade com cerca de cem museus, pejada de alfarrabistas e lojas de traquitana, mesmo muitíssimo maltratada pelas destruições em prol de edifícios novos que albergam as instituições comunitárias, os negócios e os lobistas, tem sempre coisas novas a oferecer, tais e tantas são as suas pedras de tesouro.

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas e Namur, numa certa repentinidade (19)

Beja Santos

Quem diria que esta praça tão formosa que começou a ser erigida na geometria que hoje conhecemos entre os séculos XIII e XIV, ficando concluído no século XV o edifício da Câmara Municipal, tenha sido barbaramente destruída num bombardeamento francês de 1695? Depois houve depredações, no tempo da Revolução Francesa, até que se chegou aos anos 1840-1850 e ganhou-se consciência da necessidade de salvaguardar este património de valor universal. Deve-se a Charles de Buls a política de salvaguarda da praça. Sempre que aqui se entra, fica-se de boca aberta perante a riqueza e a variedade das fachadas barrocas, douradas e esculpidas, com os seus engalanados emblemas corporativos. É uma decoração quase teatral, impossível ficar indiferente à justaposição algumas vezes violenta dos estilos e das épocas, à formosura de todo o conjunto.



A praça retangular é dominada pela alta silhueta do edifício da Câmara, é um dos principais monumentos da arquitetura civil gótica do país. O bombardeamento de 1695 destruiu e danificou arquivos e numerosas obras de arte, foram devorados pelo fogo quadros de Van der Weyden, Rubens e Van Dyck. Frente à Câmara temos a famosa Maison du Roi, o museu da cidade de Bruxelas, recheado de obras de valor incalculável. Quase todas as casas da Grand-Place pertenciam às corporações de mesteres, identificadas pelas esculturas ou motivos alegóricos aplicados nas fachadas: corporação dos padeiros, a guilda dos arqueiros, dos construtores de barcos, dos carpinteiros, etc. Todo e qualquer edifício está associado a uma história e nalguns deles, está historicamente seguro, encontraram-se figuras célebres como Karl Marx, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud. Não se pode ficar indiferente a tanta beleza, mil vezes que se entre nesta praça.



Regresso a Namur, almoço em casa de uma grande amiga, passei pela cidade, visita à cidadela e um passeio a Dinant, nada mais, ao anoitecer é regressar cedo a Bruxelas, na manhã seguinte parte-se pela alva a caminho de Lisboa.




O viandante é sempre recebido com desvelo e ternura, trata-se de uma amizade que já passou os 35 anos de relação profundamente cordial, conheceu-se o essencial deste recheio na cidade de Bruxelas, depois dessa mudança para Saint-Marc, a poucos quilómetros de Namur. Uma bela sopa, entradas, uma tábua de queijos, saladas, um bom Beaujolais, café e pralinês. Um passeio pelo jardim, Nelly Alter mantém com todo o esmero o seu jardim cercado de bosques. No pós-prandial, ruma-se à cidade.


Olha-se para o relógio, é arriscado ir passear a Dinant, o melhor é vagabundear por Namur, resiste-se a visitar a feira de antiguidades, o viandante já lá foi várias vezes, são esplendorosas cavernas de Ali Babá, o melhor é só cirandar pelo centro, e assim caiu-se numa praça de flores, está aqui a riqueza luxuriante de um fim de verão, como é que se pode resistir à intensidade de tanta luz, de tanto colorido?



É o fim do dia, vai seguir-se o comboio para Bruxelas, os tons ígneos do céu fazem prever um bom tempo para amanhã, uma viagem amena de regresso. Como é que é possível resistir a este céu em fogo?


No termo da viagem, o viandante quer recordar um templo religioso que visitou vezes sem conta nas suas deambulações por Bruxelas, Nossa Senhora da Finisterra, construção barroca, em plena Rua Nova, uma das zonas comerciais mais intensas, por aqui se andava de saco a comprar vitualhas e lembranças para a família, depois passava-se para a gare central, aqui se toma o comboio para o aeroporto de Zavantem, já no Brabante flamengo. Aqui se fazia pausa para agradecer privilégios, ficou o hábito, só em circunstâncias excecionais é que o viandante aqui não regressa para cantar hossanas, desejar paz para os seus mortos e glória para os seus vivos.

Igreja de Nossa Senhora da Finisterra, Rua Nova, Bruxelas.


É a despedida. Dentro em breve aqui se regressa, será uma visita comovente, quem aqui recebeu o viandante durante décadas tomou a decisão de partir para um lar, a madura idade sénior é mais forte. Deixamos para mais tarde a despedida comovente, amanheceu cedo, o céu é límpido, o viandante voltará sempre que lhe for possível, este entusiasmo é uma sarça-ardente, e ainda bem.

FIM
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19633: Os nossos seres, saberes e lazeres (314): Viagem à Holanda acima das águas (18) (Mário Beja Santos)

sábado, 30 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19633: Os nossos seres, saberes e lazeres (314): Viagem à Holanda acima das águas (18) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Os tempos são outros, podemos desenhar as nossas incursões, deitar contas à vida, escolher os voos mais baratos, quando necessário completá-los com comboios, isto da 3.ª idade tem muitas vantagens, Bruxelas-Antuérpia-Bruxelas ou Bruxelas-Namur-Bruxelas fica por menos de 5 euros, entramos e saímos em pontos centrais. O resto é organização.
Foi o caso deste regresso da Holanda, comboio para Namur, concerto coral em Barbençon, regresso, mais uma passeata pelo centro histórico, ala morena que se faz tarde, ir até Watermael-Bois Fort, na fímbria da cidade, gozar da companhia de um velho amigo, amanhã ainda temos muito para ver, em Bruxelas e na Valónia, como se mostrará.
Admirável mundo, admiráveis amigos!

Um abraço do
Mário


Em Bruxelas e Namur, numa certa repentinidade (18)

Beja Santos

Se o leitor ainda se recorda, o viandante andou à procura de uma solução baratucha para chegar aos Países Baixos, encontrou um voo low cost de Lisboa para Bruxelas, preço mais abordável não podia haver. Aproveitou uma breve estadia para visitar amigos do peito. Não se pretende ser enfadonho, Bruxelas é um chamamento encantatório pelos seus cafés, pelos seus monumentos, museus, igrejas, pela circulação multiétnica, não sei mesmo se neste último capítulo Bruxelas não ultrapassa Nova Iorque. O que o leitor está a ver é o átrio da gare central de Bruxelas, aqui se compram passagens para toda a Europa, para já não falar na Bélgica. O projeto deste edifício é de um dos nomes mais relevantes da arquitetura mundial do seu tempo, Victor Horta (1861-1947), arquiteto e decorador, o chamado pai da Arte Nova em Bruxelas, revolucionou a arquitetura privada utilizando materiais da arquitetura industrial, a começar pelo ferro, deu a esses novos materiais uma forma inédita, criando uma linguagem orgânica com curvas, inspirada na natureza, fez com que a estrutura metálica se identificasse à decoração. Parece que não chegou a ver toda esta gare ferroviária construída, mas o seu nome aparece bem destacado, é um edifício Victor Horta.


Em todas as circunstâncias, os belgas revelam esta constante do caráter, a gratidão por todos aqueles que combateram e tombaram nas duas guerras, aqui está a homenagem aos ferroviários caídos, é tocante e singelo.


Sempre o viandante ouviu dizer que Bruxelas é um estaleiro em perpétua evolução. Não haja ilusões, é uma cidade traumatizada por uma destruição do que era antigo em razão da especulação imobiliária, tudo começou nos anos 1960 quando passou a ser a capital da Europa e a acolher as instituições comunitárias, a NATO, os escritórios de uma quantidade mirabolante, assim se demoliram monumentos maiores da história da arquitetura, um dos casos mais escandalosos foi a Maison du Peuple, construída por Victor Horta em 1898 e destruída em 1965. Encontramos estas chagas e remendos em comunas como Ixelles, Saint-Gilles, Saint-Josse, Uccle, entre outros. É por isso que o viandante, mal chegado, anda por ali a circular e a registar fachadas irrepetíveis de simples prédios urbanos de outras eras.




Feito o reconhecimento e lavada a alma, volta-se à gare central, a viagem vai prosseguir, até Namur. E porquê? Há um festival de música intitulado o Verão Mosan. Desembarca-se na cidade e gente amiga leva-nos até à igreja de Saint-Lambert de Barbençon para ouvir o Ensemble Vocal de l’Abbaye de la Cambre, são obras corais com harpa e harmónio, entre outros de Fauré e Saint-Saens. Um belo passeio de Namur até Barbençon, diga-se de passagem. Barbençon data do século IX, teve o seu apogeu no século XVI, graças a numerosas indústrias, a vidreira, o mármore, as fundições, daí ter sido senhoria. Em 1815, depois de algumas andanças de mão em mão, regressou à posse dos Países Baixos, e depois à futura Bélgica.





Basta ver o exterior da igreja para sentir o peso do gótico. Um belo projeto de reabilitação permite que Barbençon seja uma povoação cuidada e senhora do seu passado. Por ali se deambula com prazer, e com mais prazer se fica vendo estes sinais de recuperação, estes toques de identidade de uma terra que hoje faz parte da Valónia, região federal onde pontifica o francês.




Imagens prévias ao concerto. Este conjunto que aqui se apresenta é apaixonado por repertórios esquecidos, com destaque para a música sacra do século XIX, vamos ouvir uma seleção de obras-primas românticas belgas e francesas entre o fim do século XIX e o princípio do século XX intercaladas pela história da povoação de Barbençon e da sua região por um declamador. Um belíssimo espetáculo, de Berbançon até Namur, e depois Bruxelas. Amanhã regressa-se a Namur para amesendar e cirandar, sempre com uma grande alegria, pois claro.


O burgomestre Charles Buls terá sido uma figura de enorme prestígio no final do século XIX. Era um tempo em que os políticos liberais tinham uma enorme preocupação com a economia social, o espaço urbano, a cultura e a defesa do património. O seu prestígio deve ser tão grande que tem outra placa memorial na Grand-Place. O que aqui importa é o cão fiel amigo, o ambiente fontanário, no meio de um espaço de feirantes, estamos em pleno centro, que grande ternura, esculpir assim alguém que foi intensamente amado pela obra feita em Bruxelas. De seguida, vamos até ao coração histórico da cidade, a Grand-Place, um dos mais belos conjuntos arquitetónicos da Europa, sem discussão.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de23 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19615: Os nossos seres, saberes e lazeres (313): Viagem à Holanda acima das águas (17) (Mário Beja Santos)

sábado, 23 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19615: Os nossos seres, saberes e lazeres (313): Viagem à Holanda acima das águas (17) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
O que é bom tem a sua duração limitada, cumprira-se um tanto à risca um programa previamente negociado para rever recordações perduráveis e conhecer mais a preceito algumas regiões da Holanda do Sul, assim se foi a Amesterdão e Haia e a Leiden, se saborearam as panorâmicas das estradas secundárias e se andou nas fimbrias do Mar do Norte.
E, como já se mostrou, andou-se por museus excecionais, daqueles que apetece repetir, tão depressa quanto possível. Tudo começou com um telefonema a incitar a visita, lá naquele lado de um braço do Reno, encontrou-se uma viagem low cost, de Bruxelas andou-se de comboio e autocarro até ao destino, agora faz-se a viagem em sentido contrário, felizmente que o viandante tem amigos que o aboletam na chamada capital da Europa, onde ele se sente tão bem. É por isso que a próxima viagem vai começar na gare central de Bruxelas, a seu tempo visitará Namur, foi quase uma visita de médico, deu para matar saudades e dizer até breve, como adiante se verá.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (17)

Beja Santos

A visita está prestes a acabar, hoje vai deambular-se por canais, pólderes, zonas de horto, o viandante quer cheirar as flores da estação; e vamos a Katwijk, um município também na Holanda do Sul, move a curiosidade de ver uma praia no Mar do Norte, em pleno verão. As imagens são concludentes.



Antes de chegar à praia, percorre-se uma longa passadeira entre dunas, por aqui se posicionam esculturas que seguramente têm a ver com os hábitos da terra, aqui predomina a pesca, e aqui viveu Spinoza, um filósofo que trouxe uma visão radical sobre o mundo e sobre Deus.





O sol era esparso, vinha e partia, havia umas réstias de calor, suficientes para entusiasmar aqueles veraneantes que se resguardam nestas curiosas barracas, pois aqui o vento não perdoa.


Havia referência explícita a este bairro de pescadores de Katwijk, foi um prazer andar por aqui, era o fim de estação, Katwijk já estava a meio gás mas com muito comércio aberto, voltados para o mar, viandante e companha saborearam um fish and chips muito à inglesa, com uma saborosa cerveja Pilsen. E de seguida, foram à procura de plantas odoríferas.





Que paleta de cores! Na primeira imagem é uma hortênsia especial, a hortênsia Annabelle, que floco de neve, ao princípio o viandante lembrou-se das hortênsias açorianas, mas não é bem assim, esta é a Annabelle, é cá do sítio; depois temos dálias e verónica, em primeiro plano; e nas duas últimas imagens temos primeiro begónias de todas as cores e feitios e por último begónias com lobélias, havia um perfume especial no ar, era um horto muito cuidado, não faltava a preocupação de manter o ar borrifado naquela estranha época de secura. E meteram-se vários vasos no carro, já se disse que o holandês não vive só cercado de tulipas, gosta de flores de todas as condições.


Nesta sala se comia e conversava, por aqui se pavoneava um gato ronronante, muito amigo de certos restos de comida. Uma sala com vista para pólderes. Quem aqui vive trabalhou no Congo, mais propriamente em Kinshasa, trouxe muita estatueta que ali nos observa. E, como se vê, é impensável uma mesa não ter flores.


É a despedida, daqui se regressa a Gouda, depois Roterdão e depois a gare central de Bruxelas. Aqui acaba a viagem na Holanda, em Alphen aan den Rijn, nunca, em circunstância alguma, o viandante pensara ir viver uma semana junto de um braço do Reno. Para sua felicidade, assim aconteceu, como ficou contado.

(Continua)
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Nota do editor

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sábado, 16 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19593: Os nossos seres, saberes e lazeres (312): Viagem à Holanda acima das águas (16) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Se o mito do eterno retorno tem algum fundamento, o viandante pode testemunhar que havia lembranças indeléveis, aqui se chegara num dia de chuva diluviana, em 1978, havia uma informação um tanto nebulosa de que o museu encerrava alguns tesouros bem singulares, um acervo sem precedentes da obra de Piet Mondrian, era uma casa febricitante de arte moderna, mas também com exposições enquadradoras dos tempos e das sociedades onde se operavam tais e tantas movimentações das artes plásticas, e que essas lembranças iam fluindo na nova visita, como houvesse fundamento para o dito eterno retorno.
Um dia de intensa alegria, voltar de novo e reconhecer que fora uma decisão acertada, como qualquer dia será acertado querer aqui regressar, para ver tudo com outros olhos e de novo lavar a alma.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (16)

Beja Santos

Sim, seria para o viandante um desmerecimento atirar para o balde do lixo esta coletânea de imagens provindas do Museu Municipal de Haia, a tal casa de cultura que se conheceu numa deslocação de ordem profissional em 1978, chovia que Deus dava, na véspera, num posto de informações junto da gare ferroviária, uma diligente e amável funcionária recomendou vários museus na cidade, que o viandante apanhasse um transporte público até uma praia chique, Scheveningen, e se mais tempo houvesse um outro transporte público levava-o a Delft, sim a terra dos belos azulejos e de alguma louça que corre o mundo. Foi por aqui que se começou, e mesmo com o tempo a desanuviar, o viandante não arredou pé, dera-se o enfeitiçamento com o edifício Arte Deco, o assombro pelo génio de Piet Mondrian, e o não menos assombro pela qualidade das artes plásticas, viu uma vez, de alto a baixo, comeu sopa e sandes naquele belíssimo espaço reservado a comes e leituras, e depois de descansar os pés atirou-se a novo folguedo, saiu daqui quando escurecia, segundo as leis meteorológicas desta região próxima do Mar do Norte. Por isso, voltou com contentamento, e o que saboreou aqui se põe à mesa, para despertar apetite a quem o lê.




Esta fotografia antiga traz água no bico, pois o viandante, no penúltimo dia desta estada holandesa teve oportunidade de ir a uma praia, viu estes refúgios, às vezes o vento é implacável, os banhistas anichados à espera de uma hora de sol, de céu límpido, quanto ao mais desenganados, a água é fria todo o ano…




É sempre um deleite ver o génio rebatível de Pablo Picasso, desenho, cerâmica, cenografia, até à pintura a óleo tudo fez por experimentar, em tudo deixou lembrança. E nada como desfrutar deste extraordinário quadro de Wassily Kandinsky, um outro génio que percorreu tantos movimentos até chegar a estas sínteses voluptuosas onde não teve concorrente à altura.


Quem conhece a arte de Egon Schiele não é logo à primeira que atribui este retrato a essa figura meteórica e inesquecível do expressionismo. É o retrato de Edith Schiele que, tal como o marido, foi vítima mortal da gripe espanhola, a mesma epidemia que nos levou Amadeu Souza Cardoso.




As dançarinas de Degas são pinturas e esculturas presentes em muitos museus, o artista observou por todos os ângulos o trabalho nos ateliês da dança e o que aqui parece exprimir é a alegria de uma adolescente que encontrou a plena graciosidade no seu corpo vibrátil, num momento de repouso que precede o turbilhão dos passos.




Seria pecado mortal um museu destes não dispor de algumas lembranças de Van Gogh, com destaque para este autorretrato, o pintor holandês nunca descurou o confronto consigo mesmo, ele que viveu permanentemente à procura da paz de espírito, que nunca esqueceu o mundo rural de onde proveio e que pareceu ter encontrado na Provença a quintessência da felicidade, há sempre flores, campos arborizados, um casario ao fundo e tantíssimos retratos de gente humilde, que o fascinava.



Rodin é outro inevitável, temos um seu corpo adolescente no museu do Chiado, no dealbar do século XX era nele que se centravam as atenções para um novo cânone que reduzia a cinzas o academismo. E a visita chega ao seu termo, impossível deixar de registar esta fosforescência que tem as suas reminiscências a Vasarely, pois há aqui qualquer coisa de arte ótica, com uns pozinhos de arte pop, enfim um belo cenário para uma outra exposição, nesta altura o viandante atingira o ponto alto da saturação, precisava de ar fresco para digerir tão doce peregrinação, tão amáveis encontros e, sobretudo, curvara-se respeitosamente diante do génio de Piet Mondrian, um seu santo de culto. E a viagem prossegue, desta feita um pouco pela Holanda profunda, dos moinhos e praias e canais. Como podemos ver, logo a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19565: Os nossos seres, saberes e lazeres (311): Viagem à Holanda acima das águas (15) (Mário Beja Santos)