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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado


Foto do 1.º Cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim
In: "Os eternos esquecidos". Almada, Trafaria, Junta da Freguesia da Trafariam, 2009. p.127


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); 
coeditor do blogue desde março de 2018



ENSAIO SOBRE AS MORTES POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-1974) - ACTUALIZAÇÃO
O CASO DO 1.º CABO HENRIQUE MANUEL DA CONCEIÇÃO JOAQUIM, DO BENG 447, AFOGADO EM 31JUL1974 NA ILHA DA CARAVELA
(CORPO NÃO RECUPERADO) 



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1969 > Militares da CCS do BCAÇ 2856, atravessando um afluente do Rio Geba, durante uma operação de reconhecimento. In: Lugar do Real , com a devida vénia.


1. INTRODUÇÃO

No âmbito do projecto de investigação titulado de "ensaio" sobre o número de militares do Exército que morreram afogados nos diferentes planos de água existentes na Guiné, durante o conflito armado (1963-1974) (*), deixei expresso no primeiro fragmento – P11979 – que os resultados entretanto apurados, através da consulta a fontes oficiais, poderiam vir a ser alterados em função de outros casos particulares, "estranhos" ou "não considerados" no domínio institucional.

Cabe neste cenário a situação do 1.º Cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, militar pertencente ao Batalhão de Engenharia [447], sedeado em Bissau, com a especialidade de Pedreiro, que viria a morrer afogado em 31 de Julho de 1974, 4.ª feira, na Ilha da Caravela, Arquipélago dos Bijagós, cujo corpo não foi recuperado. 

Como este episódio ocorreu no CTIG, ainda que depois do "25Abr74", no período de retracção das nossas Unidades no terreno, porque não consta a morte (por afogamento) do camarada Henrique Manuel Joaquim no número de baixas oficiais do Exército?
O que terá acontecido?
Entretanto, a informação que abaixo de reproduz, e que serviu para estruturar a presente narrativa, faz parte do livro editado, em Setembro de 2009, pela Junta de Freguesia da Trafaria, pertencente ao Município de Almada, no qual constam pequenas biografias de militares, nascidos ou residentes naquela Freguesia, que estiveram nos diferentes "Teatros de Operações", como é o exemplo do camarada Henrique Manuel Joaquim.


Esta colectânea nasceu, como sucedeu noutros contextos, da conversa informal entre camaradas, ex-combatentes, onde vieram à "baila" histórias vividas por cada um, nas ex-Províncias Ultramarinas onde efectuaram o respectivo serviço militar.

No caso em análise, foi eleita uma Comissão, constituída por: Alfredo Pisco (CCaç 2321; Moçambique); António Oliveira Bentes (1946-2007 - CCav (?); Guiné): Euclides Soares (BA 12; Guiné); Ezequiel Pais (CArt 2521; Guiné); Ilídio Pinheiro (CArt 698; Angola - pesquisa e análise); João Freitas (BCP 31; Moçambique - coordenação gráfica); José Manuel Martins (AgEng; Moçambique) e Manuel Fernandes (PInt 2161; Angola).

Dessa conversa inicial e informal "começou a nascer a ideia, ainda que sem consistência, de fazer algo para homenagear todos esses bravos militares, apenas lembrados por familiares e amigos, (e eternamente esquecidos por todos os governantes) alguns dos quais, infelizmente, desaparecidos nessas terras longínquas.  Ao fim de muito trabalho e muitas pesquisas, foi-nos possível reunir todos os dados para começarmos a pensar na possibilidade de compor um livro". 

Este livro, publicado em Setembro de 2009 [, imagem da capa a seguir], "é uma homenagem a todos os militares falecidos em combate, e os que felizmente ainda vivem, nascidos ou a habitar na Trafaria há mais de dez anos" [na data em que a ideia foi aprovada].
Quem tiver conhecimento deste triste episódio, faça o favor de comunicar. Obrigado!


Capa do livro, editado em  Setembro de 2009, pela Junta de Freguesia da Trafaria, pertencente ao Município de Almada. Referência bibliográfica na PorBase: Os eternos esquecidos / comis. Alfredo Pisco... [et al.] ; colab. Câmara Municipal de Almada... [et al.]. - [Trafaria : s.n.], 2009 ([Charneca da Caparica] : Jorge Fernandes). - 173, [3] p. : il. ; 30 cm


Imagem de satélite do Arquipélago dos Bijagós, com a situação geográfica da Ilha da Caravela e Bissau, e da sua relação entre si.


2. OS DADOS DO "ENSAIO" ACTUALIZADOS (*)

- QUADROS ESTATÍSTICOS

Em função da alteração dos resultados anteriormente divulgados, organizados em quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, tomei a iniciativa de os corrigir, apresentando, de imediato, a respectiva actualização [gráficos e quadros], levando em consideração os objectivos que cada contexto encerra.



Quadro 1 e Gráfico 1 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974), e que constituíram a população deste estudo, é de 145. Verifica-se, ainda, que desse total, 113 (77.9%) eram soldados; 23 (15.9%) 1.ºs cabos; 7 (4.8%) furriéis; 1 (0.7%) 2.º sargento e 1 (0.7%) major. 




Quadro 2 e Gráfico 2 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados é de 64 (44.1%). Verifica-se, também, que desse total, 48 (75.0%) eram soldados; 11 (17.2%) 1.ºs cabos; 4 (6.2%) furriéis e 1 (1.6%) 2.º sargento. 




Quadro 3 e Gráfico 3 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados é de 64 (44.1% do total). Quanto aos corpos não recuperados, verifica-se que a CCaç 1790, com 26 (40.6%) casos, e a CCaç 2405, com 19 (29.7%) casos, foram as Unidades Militares que contabilizaram maior número, sendo estes consequência do acidente da «Jangada de Ché-Che» em que elementos das duas Companhias de Caçadores estiveram envolvidos. Segue-se o Pel Mort 980, com 3 corpos não recuperados, no Rio Cacheu, na «Operação Panóplia", e a CArt 3494, com dois, no Rio Geba (Xime), durante uma missão, não cumprida, a Mato Cão, situado na margem direita desse rio. Das 17 Unidades Militares que não conseguiram recuperar os corpos dos seus naufragados, 12 (18.8%) tiveram apenas um caso.



Quadro 4 e Gráfico 4 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "ano das mortes por afogamento", "corpos não recuperados" e "corpos recuperados". O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os anos ocorreram mortes por afogamento. No final foram contabilizados cento e quarenta e cinco náufragos. Durante os doze anos em que decorreu o conflito, por quatro vezes (1/3) o número de mortes ultrapassou a dezena de casos, com destaque para o ano de 1969, onde os números ultrapassaram a meia centena, em consequência do «desastre da Jangada do Ché-Ché». Para esses valores globais muito contribuíram os "acidentes" nos rios da Guiné - Cacheu, Corubal e Geba.

Nota:

Para efeitos de comparação estatística devem ser consultados os P19679; P19710; P19788 e P19822 (*).

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
05Jul2019.
___________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores:

15 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19788: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (Parte III)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10428: Notas de leitura (409): "Comandante Hussi", de Jorge Araújo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Agosto de 2012:

Queridos amigos,
Nem sempre uma reportagem de gabarito se pode converter numa peça novelística do mesmo nível, no caso em apreço, o comandante Hussi sai vencedor nos dois processos de escrita, Jorge Araújo pusera a criança a percorrer Bissau sempre a sonhar com a sua bicicleta, nesta história que podia ter começado por “Era uma vez…”, a luminosidade da criança ganha encanto, e o que antes fora uma reportagem de alta intensidade converte-se agora numa narrativa encantadora e imaginativa.
A Guiné-Bissau e os acontecimentos de 1998-1999 são presentes nos dois cenários. As ilustrações de Pedro Sousa Pereira valorizam todo o texto, adoçam o que já é terno, acrescentam, nas suas linhas por vezes pueris, uma densidade que potencia a fantasia do texto.
Mas será mesmo fantasia o objetivo da narrativa? Compete ao leitor ajuizar de tanta capacidade de sonho.

Um abraço do
Mário


Comandante Hussi 

Beja Santos

Foi a ler “Reportagem, uma antologia” (por José Vegar, Assírio & Alvim, 2001) que tive conhecimento do soberbo trabalho de Jorge Araújo, uma peça intitulada “Comandante Hussi”, e publicada no jornal O Independente, numa edição de Fevereiro de 1999. O jornalista cabo-verdiano Jorge Araújo assentou arraiais em órgãos de comunicação social portugueses como O Independente, TVI e Correio da Manhã. Presentemente, é editor do “Actual”, caderno do semanário Expresso.

Comandante Hussi é o seu primeiro romance e venceu em 2003 o Prémio Gulbenkian para a Qualidade Literária. Este romance foi publicado recentemente entre nós (Clube de Autor, Novembro de 2011). O ponto de partida foi a reportagem em que Jorge Araújo percorreu a Guiné em chamas durante o conflito político-militar de 1998-1999. Como escreveu José Vegar, “Quis o acaso que nas ruas de Bissau alguém lhe indicasse o miúdo António Hussi, o mais jovem guerrilheiro de Ansumane Mané. O repórter deixou-se ficar junto dele, ouviu-lhe confidências e narrações dos episódios da guerra. Através dele, contou a batalha de Bissau e revelou ao leitor o desejo de um miúdo recuperar a sua bicicleta. Uma história única possibilitou uma reportagem de escrita avassaladora".

Pode descrever-se assim: António Hussi vivia na miséria absoluta mas tinha um tesouro, uma bicicleta pintada de lama, pedais amputados, celim desengonçado, os raios das rodas a contorcerem-se de dor; um dia, o menino foi obrigado a abandonar a sua bicicleta, as balas caiam do céu, a guerra civil veio com toda a força, a mãe partiu e levou a família, o pai ficou a combater, ao lado de Ansumane Mané; António Hussi não quis ficar em Nhacra, regressou a Bissau e pôs-se à procura do pai. A escrita de Jorge Araújo mistura o pungente com a candura, as ruas desertas, asfaltadas de cadáveres, casas abandonadas feridas de balas, almas penadas vestidas de medo; é numa atmosfera de demência e irracionalidade que por ali andam abutres em voo picado sobre corpos em decomposição, paisagem mais desoladora não há: famílias divididas, vidas destruídas, uma cidade inteira a sangrar de dor.

António Hussi a todos vai perguntando por onde anda o pai, dá-se o reencontro o pai está furioso, António não cede perante a pancadaria que levou do pai e este, resignado pela determinação do filho, cede-o ao campo de batalha, ele fica obrigado a fazer tudo como se fosse um homem grande. E Jorge Araújo escreve: “E ele fez. Transportou armas e munições para a linha da frente, fez de pombo-correio, foi ajudante cozinheiro. Não matou mas viu morrer. Passeou pelos horrores de uma guerra fratricida com a mesma inocência com que antes pedalava na sua bicicleta pelas ruas de Bissau”. António assiste à internacionalização da guerra, vê gente de outros países a morrerem ao lado dos homens fiéis de Nino Vieira. E em 6 de Maio de 1999, as forças de Ansumane Mané levam tudo de roldão, Nino Vieira refugiou-se na embaixada de Portugal. Segue-se uma descrição dantesca, naquela Bissau em chamas o Palácio Presidencial era vandalizado: “Assistiu ao saque e à ira da população. Subiu as escadas do velho edifício colonial, atravessou as portas imponentes, vagueou pelas enormes salas abandonadas, vasculhou destroços calcinados, distribuiu abraços pelos soldados vencedores, tropeçou em Kalashknikovs que adormeciam pelo chão”. António é tratado por todos por “comandante Hussi”. A guerra acabara, voltou à sua casa no bairro de Santa Luzia. O seu tesouro mais valioso estava são e salvo: “pintado de lama, pedais amputados, selim desengonçado, os raios das rodas a contorcerem-se de dor, a sua bicicleta estava suja e abandonada, mas era a sua bicicleta”.

O romance pega nesta trama, reconverte os factos e os feitos numa arquitetura onde cabe o mirífico e a possibilidade lendária. A família vive em Porto dos Batoquinhos, ali existe o Batuque Futebol Clube, eterno rival dos Saguessugas, o orgulho do Cais da Sombra. Em dia de futebol rebenta uma guerra, a Guerra do Balão. Entra em cena o brigadeiro Raio de Sol. O pai de Hussi, Abdelei, vestiu a farda militar e mandou a família para outro local. A bicicleta fica ali escondida, angustiado, Hussi parte ao lado de Dona Geca, a sua mãe, e dos irmãos, vão rumo à aldeia dos seus antepassados. Hussi ganha coragem e regressa a Bissau, a todos vai perguntando onde está Abdelei Sissé. É neste ponto que surgem as divergências entre o romance e a reportagem. Aquela Guerra do Balão parece estar empatada, entrara mesmo na rotina, com bombardeamentos à hora marcada, as mesmas conversas nos bunkers improvisados, os ataques à frente leste depois da frente norte, as pausas das tardes de sábado para se poderem beber os relatos da bola. O brigadeiro Raio de Sol tem como feroz opositor o comandante Trovão que acreditava que a guerra estava no fim. É desenhado como um déspota sanguinário, cercado por uma clique de bajuladores, e sobre ele o autor escreve: “O comandante Trovão era uma personagem gorda, tão pesada que o chão tremia com as suas passadas de elefante. O seu rosto era uma cascata em alvoroço, tanto era o suor que lhe escorria pela testa. Tinha um olhar de pitbull anestesiado, dentes pontiagudos, desalinhados, a pele mais gordurosa do que o óleo de palma. Os dedos eram pequenos e redondos. Talvez por isso usasse sempre luvas de boxe forradas de cetim vermelho e se recusasse cumprimentar os visitantes com um aperto de mão”.

A arquitetura da escrita vai resvalando para as considerações moralizadoras, este Trovão vive em perpétuo autoelogio, nunca suportou a traição da bela Ayassa, a menina dos seus olhos, que o trocou pelo brigadeiro Raio de Sol. Convocados os generais, o chefe do Estado Maior informa que estavam empatados, eles controlavam a cidade do asfalto, o inimigo a cidade de terra batida. Furioso, Trovão liquida-o com um tiro de pistola e exige ao major Katinga que lhe traga no dia seguinte o crânio do brigadeiro Raio de Sol. A história desenvolve-se à volta de profecias, era preciso apreender uma bicicleta mágica do filho de Abdelei Sissé, é este o ícone que protege os combatentes. Por portas e travessas, lá se arranjou uma bicicleta qualquer, decapitaram-lhe o selim, e serviram-na ao comandante Trovão sobre uma bandeja de prata. O déspota parece aliviado e volta a ditar mais uma ordem mirabolante: quem for apanhado a pensar numa bicicleta será imediatamente fuzilado. Hussi apercebe-se de que morrera uma bicicleta e logo se afligiu, podia ser a sua, patrulhou o local onde vivera, era tudo um amontoado de destroços. E o menino chorou desesperado pela perda do seu tesouro. Passaram-se os dias e o jovem Hussi descobriu que o inimigo não conseguia ganhar a guerra.

Chegara entretanto o momento da ofensiva final na linha da frente. Assiste ao descalabro dos derrotados em fuga, viu os mercenários estrangeiros a fugirem, viu livros a serem consumidos pelas chamas assassinas. Os vencedores chamavam ao menino herói. A guerra de Hussi não terminara com o fim dos combates, porque os seus pensamentos continuavam estrangulados pelo desaparecimento da bicicleta. E a história edificante termina como deve ser: Hussi recupera a sua bicicleta, ser vivo e objeto conversam, aliás tinham muito que falar, e tudo termina em absoluta concórdia, de acordo com as regras de qualquer história com moral: “Hussi limpou o retrovisor com o seu velho lenço amarelado, sacudiu o pó que asfixiava o cachecol do Barcelona, colocou a fitinha tricolor do outro lado do guiador, ajustou os pedais com a sola das sandálias. Quando se sentou no selim, sentiu-se outra vez dono do mundo. E os dois pedalaram para a eternidade”.

Lê-se a narrativa e é com desgosto que se fecha a última página. A mascote dos revoltosos da Guiné-Bissau é agora personagem com direito a uma eternidade, tal e tanto é o amor que vota à sua bicicleta.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10422: Notas de leitura (408): O conflito político-militar na Guiné-Bissau (2) (Francisco Henriques da Silva)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21680: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (23): Os meus/nossos três Natais no CTIG (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp/ranger, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)


Foto 1 > Ponta Coli (1972) > situada na estrada Xime-Bambadinca > local de muitas memórias do colectivo da CART 3494, tais como: (i) Local do "baptismo de fogo" dos elementos do 4.º Gr Comb, em 22 de Abril de 1972, em acção dirigida pelo Cmdt Mário Mendes (1943-1972); (ii) local da primeira baixa (a única em combate), em 22 de Abril de 1972, a do fur mil art Manuel da Rocha Bento (1950-1972): (iii) Local da segunda emboscada sofrida por elementos do 4.º Gr Comb, em 01 de Dezembro de 1972, devido a acção dirigida pelos Cmdts Mamadu Turé e Pana Djata. (iv) Local da recolha de cadáveres de dois guerrilheiros participantes na emboscada acima, incluídos no grupo de assaltantes (ou de assalto), e das suas respectiva armas: uma Kalashnikov (AK47) e um RPG. Os seus corpos foram inumados no cemitério de Bambadinca.

 

O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo; tem cerca de 270 referências no nosso blogue.

BOAS FESTAS

em tempo de pandemia "COVID-19"

RECORDAR É… TORNAR PRESENTE!

OS TRÊS NATAIS DA MISSÃO ULTRAMARINA NO CTIG


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3878 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava nove anos.

A sua chegada ao Cais do Pidjiguiti, em Bissau, ocorreu a 29 de Dezembro, 4.ª feira.


 

Foto 2 > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos rumo ao TO do CTIG. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.


1.º NATAL (1971) a BORDO DO «NIASSA»

Ao terceiro dia de uma viagem de seis, mas que era só de ida pois o regresso não tinha data marcada, teve lugar a consoada de 1971, realizada em pleno Alto Mar, talvez na linha imaginária de Santa Cruz de Tenerife, no Oceano Atlântico Norte.

 



Foto 3 > Cais do Pidjiguiti > Bissau > 29 de Dezembro de 1971 > N/M «NIASSA». Desembarque do contingente metropolitano da foto 2. [foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494], com a devida vénia.

2.º NATAL (1972) NO XIME

Decorrido um ano da sua missão ultramarina no CTIG que, pode aceitar-se, coincidiu com a comemoração da primeira festa natalícia fora do contexto familiar do colectivo da CART 3494, esta a bordo do «Niassa», este voltou a sentir o ambiente simbólico dessa secular celebração religiosa anual, nomeadamente os membros da família cristã.


Esta segunda reunião natalícia, que por tradição cultural sempre foi considerada de relevante significado espiritual, incluindo o meio militar, foi organizada no Aquartelamento do Xime, espaço físico onde ficou instalada durante catorze meses a partir do qual operacionalizava as diversas acções diárias que lhe haviam sido confiadas.


Esta cerimónia, ainda que não tenha sido possível reunir todo o contingente da Unidade, pois 2.º Gr Comb estava destacado no Enxalé, sempre ajudou a elevar um pouco mais o ânimo individual, reforçando a solidariedade e o companheirismo entre os seus pares, valores importantes num contexto geográfico considerado de excepcional importância estratégia para a mobilidade da logística militar, e de civis, entre Bissau e a restante Região Leste, o primeiro por via marítima (rio Geba) e depois por meio rodoviário (e vice-versa) e, por isso mesmo, de grande exigência e rigor, logo de elevada inquietação e labor nos múltiplos desempenhos.

 


Foto 4 > Xime > Natal/1972. Alguns dos militares participantes no almoço/convívio, distribuídos por mesas colocadas na Messe de Oficiais.

 


Foto 5 > Xime > Natal/1972. Em primeiro plano; de pé, António Costa [1.º C]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [Furriéis].

 


Foto 6 > Xime > Natal/1972. Da esquerda para a direita: 1.º Sarg Orlando Bagorro [, morreu em 2018]; 1.º Sarg Carlos Simões; Alferes Manuel Gomes [morreu em 2014; metade do rosto]; Alferes José Araújo [-2012]; Alferes Maurício Viegas [20.º Pel Art]; D. Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins; esposa do Cmdt BART [1923-2011]; TCor António Tiago Martins [1919-1992; Cmdt BART 3873]; Cap Mil Luciano Costa [3.º Cmdt da CART 3494] e Alferes Serradas Pereira [de costas].


3.º NATAL (1973) EM MANSAMBO


Já com vinte e quatro meses de comissão, mas agora em Mansambo, para onde seguimos em Março do mesmo ano, por troca com a CART 3493, realizou-se a 3.ª reunião natalícia, num tempo que ainda não era possível prever ou "adivinhar" o regresso ao Continente (à Metrópole), o qual só se veio a concretizar nos primeiros dias do mês de Abril de 1974, ou seja, a três semanas do «25 de Abril».

 


Foto 7 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º C]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º Cmdt da 3494]; Lobo da Costa [Alferes]; João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel].

 


Foto 8 > Mansambo > Ceia de Natal/1973. Da esqª para a dtª: Carola Figueira [1950-2017; Furriel]; António Costa, de pé [1.º C]; Orlando Bagorro [-2018; 1.º Sarg]; Serradas Pereira [Alferes]; Luciano Costa [Cap Mil 3.º Cmdt da 3494]; Jorge Araújo, de pé [Furriel]; Lobo da Costa [Alferes] e João Manuel Sousa Teles [Major; 2.º Cmdt do BART 3873].

 


Foto 9 > Mansambo > Natal/1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.

Termino esta pequena resenha histórica natalícia enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, os meus votos de BOAS FESTAS, ainda que o cenário de pandemia provocada pelo «coronavírus» nos imponha algumas restrições. Nós, os ex-combatentes, sabemos bem, por experiência própria, o que significa o conceito de "confinamento".

BOM NATAL E UM MELHOR 2021

Muitas Felicidades.

 

Com um forte abraço de amizade, e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

20DEZ2020.

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de dezembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21677: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (22): Natal Santo que a todos nos abraça... (João Afonso Bento Soares, maj gen ref)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12232: A CART 3494 e as emboscadas na Ponta Coli (Xime, Bambadinca), 1972: A verdade dos números... (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74)

1. Mensagem,  de 26 de outubro, do Jorge Araújo (ex-fur mil op esp,  CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74):

Assunto - A CART 3494 e as Emboscadas na Ponta Coli

Caríssimo Camarada Luís Graça, os meus melhores cumprimentos.

A consulta do espólio do Arquivo Amílcar Cabral, pertença do Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares, que em boa hora,  fizeste o favor de nos dar conta neste espaço plural da "Tabanca Grande", onde, diariamente, os ex-combatentes da/na Guiné partilham diferentes vivências/experiências ocorridas em locais diferentes e em tempos diferentes, vem-nos permitir abrir um novo caminho de reflexão e debate.

No nosso caso, e independentemente de a ela [consulta] todos terem acesso, não deixou de nos influenciar para a elaboração do presente texto, na justa medida em que, como testemunha ocular de muitos dos episódios que marcaram a historiografia da minha companhia [CART 3494], defendo, em tese, de que nos deveremos aproximar da verdade, ainda que não seja no imediato, pois esta Guerra já acabou.

Com efeito, os comunicados mensais consultados referentes aos principais eventos que conduziram ao confronto nos palcos da guerra de guerrilha entre os elementos da CART 3494 e os do PAIGC, particularmente as emboscadas à Ponta Coli, e que já tive a oportunidade de vos dar conta em duas narrativas [Abril/2012], demonstram e confirmam a importância do valor quantitativo [os números] como factor propagandístico.

Assim, para corrigir as discrepâncias  entre os documentos ditos oficiais,  a que a estes episódios
dizem respeito, segue uma nova narrativa  melhorada e aumentada.

Obrigado pela atenção. Um forte abraço, Jorge Araújo.
2. A CART 3494 e as emboscadas na Ponta Coli (Xime, Bambadinca), 1972: A verdade dos números

por Jorge Araújo

Há pouco mais de ano e meio [Abril/2012] tomei a iniciativa de narrar aqui no blogue da nossa «Tabanca Grande» [postes: 9698 e 9802] (*), bem como no da minha companhia «CART 3494 & camaradas da Guiné» [postes: 148 e 152], na primeira pessoa, o que ainda estava bem presente na minha memória referente às ocorrências observadas nas duas emboscadas sofridas pelo 4.º GComb da CART 3494, na fatídica e sempre arriscada segurança à Ponta Coli.

Relembro que esta segurança era organizada num «ponto X», dito estratégico, entre a bolanha de Taliuará e a tabanca de Amedalai, na Estrada Xime-Bambadinca [ver mapa], estrada que tinha o seu início vs fim no Cais do Xime e que era a única via que dava acesso ao extremo leste do território, nomeadamente às localidades de: Bafatá, Nova Lamego, Piche, Canquelifá, Galomaro, Mansambo, Xitole, Saltinho, entre outras.


Pelo elevado grau de dificuldade, à qual se adicionou o historial de confrontos com os guerrilheiros do PAIGC anteriores à nossa companhia, como são os sucessivos exemplos da CCAÇ 1550 (1966/68), CART 1746 (1967/69), CART 2520 (1969/70) e CART 2715 (1970/72), a segurança diária à Ponta Coli era sempre uma acção/ missão única, dando lugar continuamente a novos desafios, por estar carregada de interrogações onde emergia o conceito «surpresa», principal característica na guerra de guerrilha.

Por esse motivo, e em função das inúmeras experiências que aí vivi (vivemos), decidi chamar-lhe: «palco de jogos de sobrevivência», já que a única regra desse “jogo” era a eliminação física do opositor ou dos opositores por antecipação e perícia, independentemente dos argumentos e motivações que a cada qual pudessem assistir, à época.

Para identificação desse «palco» e caracterização do seu contexto, eis algumas imagens:


Foto 1 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 > Espaço onde se concentravam e distribuíam os nossos militares em serviço de segurança à estrada Xime-Bambadinca.


Foi exactamente no local representado na imagem que um bigrupo do PAIGC, comandado muito provavelmente por Mário Mendes, constituído por mais de cinco dezenas de guerrilheiros, se instalou no dia 22Abr1972, sábado, e donde emboscou o nosso GComb.

O baptismo de fogo da CART 3494 [ao vivo e a cores] aconteceu, assim, ao trigésimo nono dia depois de ter assumido na plenitude o controlo do seu território de intervenção – o XIME –, na sequência de ter finalizado o tempo de sobreposição com a CART 2715, do BART 2917 (1970/72), que decorreu entre 28Jan e 14Mar1972.

De referir, a propósito do nome de Mário Mendes, que este CMDT do PAIGC viria a morrer no dia 25 de Maio de 1972, 5.ª feira [um mês depois da emboscada], na acção «GASPAR 5», realizada por 6 GComb [3 da CART 3494 e 3 da CCAÇ 12]. O “encontro” com Mário Mendes aconteceu na Ponta Varela, tendo-lhe sido capturada a sua Kalashnico, bem como 3 carregadores da mesma e documentos que davam conta das “acções” a desenvolver na zona de que era responsável.

Sabendo-se que era um líder temido e um guerrilheiro experiente, conhecedor dos terrenos que pisava e consciente dos riscos que corria, estas dimensões conjugadas não foram suficientes para garantirem estar a salvo e sobreviver, mais uma vez, aos muitos sustos que certamente apanhou ao longo dos anos que viveu no mato.

Depois de alguns elementos (5/6) do seu grupo terem sido detectados pelas NT na acção sobredita, e que não se sabia, naturalmente, de quem se tratava, um daqueles elementos [Mário Mendes] liderou uma estratégia de fuga que não lhe foi, desta vez, favorável, por via de lhe(s) ter sido movida perseguição, obrigando-nos a serpentear várias vezes os mesmos trilhos, entre itinerários de vegetação e clareiras.

Por isso, estou crente que Mário Mendes, a partir do momento em que ficou sem rumo certo e sem portas de saída, movimentando-se em várias direcções, sem sucesso, tomou consciência de que aquele seria o último dia da sua vida. E foi … por intervenção de elementos da CCAÇ 12, no mesmo dia em que se comemorou o 9.º aniversário da fundação da Organização de Unidade Africana (OUA), criada em Adis Abela, na Etiópia, em 1963. Que coincidência …



Foto 2 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >  O  mesmo espaço anterior, onde se observa um trilho à esquerda. Este trilho ligava o itinerário entre várias árvores, em que cada uma delas era utilizada como posto de observação e protecção.




Foto 3 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >  O  mesmo espaço anterior, vendo-se a base de um tronco da árvore "bissilão" (ou "poilão" ?), de grande porte, situada mais ou menos a meio da linha de segurança, numa frente de aproximadamente cem metros, e onde se fixava o comandante do GComb.




Foto 4 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >   O mesmo contexto e o mesmo tronco da árvore da imagem anterior, agora num plano mais elevado.




Foto 5 –Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >  O mesmo espaço anterior com a observação de um «bagabaga», que funcionava como posto de vigia.


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo  (2013). Todos os direitos reservados.


Considerando o historial dos dois confrontos contabilizados pela CART 3494, [22Abr e 01Dez1972], de que resultaram baixas de ambos os lados, importa dar-vos conta da «verdade dos números», agora por contraditório com os divulgados pelo opositor da contenda – o PAIGC.

Sei [ou sabemos] que esses números, agora que estão decorridos mais de quatro dezenas de anos, pouca relevância têm entre nós, ou seja, não interessam nada. Mas, porque a eles continuaremos ligados emocionalmente, importa, do ponto de vista histórico [que é a ciência dos factos reais], corrigi-los, em nome da verdade por oposição à ficção.

Para o efeito, foi consultada a História da Unidade do BART 3873, em particular a da companhia CART 3494, bem como o arquivo Amílcar Cabral disponível na Net com o endereço http://casacomum.org/cc, pertença do Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares, em contraponto com o que foi a nossa observação naquele contexto.

1. – EMBOSCADA DE 22 DE ABRIL DE 1972 – Os números

a) – O que aconteceu …

Naquele dia, o grupo escalado para cumprir a missão de efectuar a segurança à Ponta Coli era o 4.º GComb, constituído por vinte operacionais, entre sargentos e praças, uma vez que não havia nenhum oficial adstrito, e mais dois condutores e um Guia, no caso o Malan, o que totalizava vinte e três elementos.

Estes elementos seguiram em duas viaturas [12+11] Unimog.

Na sequência do confronto, o balanço da primeira emboscada sofrida pela CART 3494 foi de um morto, o camarada furriel Manuel Rocha Bento [a única baixa em combate ao longo dos mais de vinte e sete meses de comissão], dezassete feridos entre graves e menos graves, e, por exclusão de partes, cinco dos militares saíram ilesos, sendo eu um deles. As viaturas não sofreram qualquer dano significativo.

b) – O que consta na História da Unidade – BART 3873

- Em 220600ABR72 grupo IN emboscou a segurança da PTA COLI (01 GRCOMB da CART 3494). As NT e a Artilharia do XIME pôs [puseram] o IN em fuga. Sofremos 01 morto (Furriel), 07 feridos graves e 12 feridos ligeiros [p.59].

c) – O que consta no Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Abril (1972)


Transcrição do comunicado do PAIGC em língua francesa, sobre as acções militares do mês de Abril (1972) e assinado por Amílcar Cabral.

Tradução do parágrafo em que é referida a emboscada à Ponta Coli.

(…) “As emboscadas mais mortíferas para o inimigo foram as que ocorreram nos itinerários do Saltinho/Kirafo [CCAÇ 3490/BCAÇ 3872 - 72/74 #] (a 17 de Abril, 2 viaturas destruídas, 20 mortos e vários feridos) e a do Xime/ Bambadinca (a 22 de Abril, 4 viaturas destruídas e 12 mortos).” (…)

Data: 8 Junho 1972
Amílcar Cabral
Secretário Geral

Fonte: Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07/197.160.014
Título: Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Abril
Assunto: Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Abril (66 operações), com destaque para o ataque a Mansoa e Bolama. Denuncia a destruição de escolas, hospitais e vilas, a utilização de napalm e os bombardeamentos aéreos efectuados pelo exército português. Comunicado assinado por Amílcar Cabral.
Data: Quinta, 8 de Junho de 1972
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Documentos.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos

(#) Blogue: Luís Graça & Camaradas da Guiné: Vd. 22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4068: Recordando a tragédia do Quirafo, ocorrida no dia 17 de Abril de 1972 (Luís Dias).

– A VERDADE DOS NÚMEROS

Perante os elementos acima referenciados, em particular os números oficiais das NT e do PAIGC, deixo-os à V. consideração.

Um forte abraço para todos, com muita saúde e energia.

Jorge Araújo.

Outubro/2013.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20947: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (11): Salada de atum camuflado (Jorge Araújo, régulo da Tabanca dos Emiratos)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Tabanca dos Emiratos > Abu Dhabi > Uma casa portuguesa, com certeza,,, (como cantaria a Amália, no seu imortal e irónico fado...)

Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Jorge Araújo:Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias... doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; vive habitualmente em Almada:  autor da série "(D)o outro lado do combate";  nosso coeditor... Foi apanhado pela pandemia de COVID-19, em Abu Dhabi, quando foi visitar a sua "bajuda"...

Data:  sexta, 24/04/2020 à(s) 21:13
Assunto: Notícias dos "Emiratos"

Caro Luís,
Boa noite. Hoje foi dia de descanso semanal. Aproveitámos para ir às compras, para repor os stocks, pois temos o vício "desgraçado" de comer todos os dias. Feito o pagamento das últimas compras, e na impossibilidade de almoçarmos fora, devido ao encerramento dos estabelecimentos de restauração (a exemplo do que está a acontecer em Portugal), a alternativa foi regressar ao local de partida, numa altura em que o termómetro indicava já 30º, no dia em que chegou aos 38º.

Sem nada preparado para o almoço, havia que "desenrascar" qualquer coisa rápida, agradável e fresca. Ao ler/ver as sugestões, de hoje, dos "vagomestres" da Tabanca Grande, por sinal muito apelativas, cada uma delas a fazerem crescer água na boca, mas sem as podermos "agarrar", logo aproveitei a ideia das conservas... e já está... vai ser ATUM?... e foi mesmo!

Foi baptizado de «Salada de Atum Camuflado" ... para dois (e meio).

Ingredientes utilizados: (foto 1)

- 8 batatas p/ assar (pequenas) .... da África do Sul
- 1 lata de atum (160 g) ................ da Indonésia (Arábia Saudita) 
- 2 ovos ........................................ origem local
- 1/2 cebola .................................. de Espanha
- salsa (qb) ................................... origem local
- azeitonas (qb) ............................ de Espanha
- azeite (qb) .................................. de Espanha
- pimenta (qb) .............................. de França
- vinho (qb) .................................. de Portugal (alentejano)

Modo de preparar:
- Cozer as batatas e os ovos
- desfiar o atum
- cortar a 1/2 cebola em rodelas finas
- picar a salsa

Modo de empratar:
Numa terrina adequada às quantidades utilizadas, colocar por esta ordem: 
1. - batatas cozidas cortadas aos cubos;
2. - atum desfiado;
3. - cebola;
4. - azeitonas fatiadas;
5. - ovos fatiados:
6. - pimenta a gosto;
7. - salsa 
8. - azeite para temperar a gosto (individual)
9. - vinho - o estritamente necessário, neste tempo de confinamento.

Resultado final (fotos 2 e 3)

Bom apetite!.

Quando quiserem... apareçam. A porta está aberta, e a mesa está posta. (fotos 4 e 5). 

Nota: Aconselha-se este prato, em especial, ao grupo dos que tenham um "perímetro abdominal" superior ao regulamentado. Os restantes também podem/devem experimentar, numa altura em que importa repensar a nossa alimentação, tornando-a mais saudável, pois pertencemos a um "grupo de risco".

Bom "25 de Abril"... Bom fim-de-semana.

Um abraço,
Jorge Araújo.
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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12152: (Ex)citações (228): Confirmo que o Mário Mendes, chefe de bigrupo do PAIGG; no subsetor do Xime, foi morto pela CCAÇ 12, em maio de 1972 (António Duarte, ex-fur mil, CART 3493 e CCAÇ 12, 1971/74)


1. Mensagem do nosso camarada António Duarte com data de ontem


Boa noite,  Camaradas

Confirmo que o contacto que resultou na morte do Mário Mendes, comandante do Bigrupo que atuava na zona [do Xime], teria sido em Maio de 72, tal como nos dá nota o Jorge Araújo,  da CART 3494.

Eu nessa altura estava ainda na CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74).

É curioso que na História do BART 3873, só encontro uma breve referência à incidência, que passo a transcrever:

"De harmonia com correspondência retirada a Mário Mendes (aniquilado pela CCAÇ 12), o IN planeava nova acção na estrada XIME - BAMBADINCA, o que nos leva a concluir que no futuro acções deste teor venham a ser cometidas, pois que a suceder seria a segunda vez no espaço de 02 meses."


Recordo que a 22 de Abril de 1972 tinha havido uma emboscada na Ponta Coli, que implicou a morte do nosso Bento, furriel da CART 3493, com mais um conjunto de feridos. O [Jorge] Araújo estava lá, felizmente para ele, sem consequências físicas. (*)

Eu tenho uma versão da História do BART 3873, que vou transformar em PDF para disponibilizar.

Abraços a todos (**)

António Duarte... que foi furriel mas que em consciência NUNCA deveria ter sido...

2. Comentário de L.G.:

O malogrado fur mil Manuel Rocha Bento pertencia à CART 3494 (e não 3493). Era natural de Galveias, Ponte de Sor, onde está sepultado.

Obrigado, António, pelos teus esclarecimentos.

_____________

Notas do editor:

(*) Jorge Alves Araújo,  ex-Furriel Mil Op Esp/ Ranger,  CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974)

Vd. postes de:


3 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9698: O caso da ponta Coli, Xime-Bambadinca (Jorge Araújo)



domingo, 19 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18935: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - III (e última) Parte: Por doença (n=14) (Jorge Araújo)


Guiné > Bissau > O Hospital Militar 241, o terminal da morte para muitos camaradas nossos  (*)


Foto: © António Paiva (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue

OS 221 FURRIÉIS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) - III (e última) Parte: Por doença (n=14)

Sinopse:


Na sequência da actualização da lista dos camaradas «Alferes» que tombaram no CTIG (1963-1974), publicada no P18860, anexo agora a referente aos camaradas «Furriéis», apresentando-a ao Fórum organizada segundo a mesma metodologia anterior, ou seja, por quadros de categorias (acidente, combate e doença) e por ordem cronológica.

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como é timbre do nosso blogue, eis os quadros estatísticos dos 221 (duzentos e vinte e um) furriéis, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, por diferentes causas: combate (n=139), acidente (n=68) ou doença (n=14). (**)


2. QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA (Fim)











Fontes consultadas [com cruzamento]:

http://www.apvg.pt/

http://ultramar.terraweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm (com a devida vénia)
Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

30JUL2018.
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)

(**) Vd. postes anteriores da série:

15 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18924: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)

quinta-feira, 17 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15871: (De) Caras (36): Morrendo de paludismo, com 42º, em Mansambo, em 1973, provavelmente no mesmo abrigo onde, cinco anos antes, apanhavam "banhos de luar" os alf mil da CART 2339, Cardoso e Rodrigues (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)





Guiné > Zona Leste > Setor L1 > CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974) > 1973 > O Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp, convalescente...  da terceira e última crise de paludismo... Provavelmente no mesmo abrigo onde, cinco anos antes, dormiram ao luar os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues, da CART 2339, "Os Viriatos"  (Mansambo, 1968/69).

Foto: © Jorge Araújo  (2016). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 >  Os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues apanham "banhos de luar" (sic)... Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos a chegar ao nosso blogue, logo em 2005, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça: (...) "Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável" (...).

Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Jorge Araújo [ ex-fur mil op esp,  CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)]

Data: 17 de março de 2016 às 13:23
Assunto: P15869


Caro Camarada Luís,

Como complemento da imagem inserida no P15.869, de hoje (*), do camarada Henrique Cardoso [ex-Alf. da CART 2339, Mansambo, 1968/69] tomei a iniciativa de juntar outra, esta com cinco anos de diferença [1968-1973] para valorizar o trabalho daqueles que me antecederam naquele Aquartelamento. (*)

Trata-se, quem sabe!?,  do mesmo espaço mas agora fechado, logo com mais dignidade. A ser verdade, é muito provável que seja a mesma cama com um novo visual, enquadrada por mobiliário adequado ao espólio de cada um. A decoração é anterior à minha curta estadia.

Esta foto não corresponde à recuperação de um "pifo", mas sim à fase final de uma dose de paludismo, a 3.ª e última com que fui brindado durante a comissão. Esta foi a mais difícil de debelar, tendo inclusive pedido ao Carvalhido da Ponte, meu camarada Fur Enf,  para me matar, tal era o meu estado de desespero, com mais de 42ºC.

Boa semana.

Um abraço, Jorge Araújo.

___________

Notas do editor:

(*) Vd, poste de 17 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15869: Inquérito 'on line' (46): Apanhei um "pifo de caixão à cova", uma, duas, três ou mais vezes... confessam 65 em 100! (Resultados finais)

(**) Último poste da série > 5 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15824: (De) Caras (34): Bla, bla, bla .... e o almoço de 16 de Abril (António Matos)