terça-feira, 22 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9080: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (3): Hugo Spadafora, o Che Guevara italopanamiano (1940-1985), terá estado no (ou passado pelo) Fiofioli nos idos anos de 1965/67


Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mapa da antiga província portuguesa da Guiné > 1961 > Escala 1/500 mil > Localização da mata do Fiofioli, zona de floresta galeria, sita na margem direita do Rio Corubal, entre Mangai e Concodea Beafada, e onde no princípio de 1969 se suspeitava que o PAIGC tivesse um hospital, com médicos cubanos... Nos anos em que eu estive na Guiné (entre 1969 e 1961), só me lembro de se ter ido ao Fiofioli na Op Lança Afiada (em que o José Ferraz também participou e foi ferido) (*).


1. Texto do José Ferraz [, português a viver há mais de 40 anos nos EUA, em Austin, Texas; ex-Fur Mil, Op Esp, CART 1746, Xime, 1969]

Companheiro e camarada Luís

(i) Da conversa que tive com o Hugo Spadafora (**), nessa tarde tão interessante,  houve de princípio certa reserva da minha parte devido à multitude de emoções que sentia nesse momento. Passado isso,  fomo-nos abrindo pouco a pouco e aqui está o que me lembro:

Não falámos de nenhuma situação política da época, falámos sim, e exclusivamente,  dos nossos tempos da Guiné. Curiosamente não como inimigos mas como dois seres humanos trocando impressões de experiências da vida que, ainda que em polos opostos, tanto tinham em comum.

O que me lembro é que o Hugo parecia-me um idealista, porém de certa forma arrogante e talvez com inveja do Che [Guevara] com quem me disse se identificava ideologicamente.

Disse-me também que tinha estado na zona leste, no Fiofioli, e que as forças do PAIGC tinham receio de certos encontros connosco. Não especificou nenhuma unidade, mas sim que procuravam evitar qualquer contacto e moverem-se antes que isso acontecesse.

Acrescentou que tinham excelentes serviços de inteligência [informações] e praticamente sabiam com antecedência todos os nossos movimentos. Por isso, disse-me ele, os ataques e emboscadas tinham mais o propósito de acção psicológica do que realmente causar baixas. Contudo eles tinham pleno conhecimento de que as perdas das suas forças nesses contactos eram muito mais elevadas do lado deles do que do nosso e, como tal,  evitavam contacto com os nossas forças quando sabiam por experiência que essa tropa lhes tinha causado problemas.

Para mim e tal como eu fomos dois D. Quixotes.

(ii) A propósito desta lembrança... Lembro-me que numa operação [, Lança Afiada ?,] cuja ordem dizia "destruir [todos]  os meios de vida", chegámos a uma tabanca, não me lembro do nome, em que fiquei realmente espantado com a organização urbanística deste povoado, o que me obrigou a rever o propósito desta guerra. Interroguei-me então:

- Porra, estas populações estão muito melhor organizadas que nós, os livros que encontrei na escola eram em português e não em crioulo; as ruas ainda que de terra batida estavam orientadas a noventa graus e limitavam perfeitos quadrados... Pelo nosso lado as tabancas eram um ver se te avias...


Nunca me esqueci dessa devastadora descoberta. Não quero discutir política mas esta experiência comprovou-me intelectualmente que o PAIGC deveria fazer esforços enormes em procurar desenvolver uma consciência nacional sem a qual a independência nunca seria possível... E exactamente isto é o que continua a ser o problema de todos os países africanos. O pior inimigo dum africano é outro africano de outra tribo (factor primário de socialização). (**)


José Ferraz
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Notas do editor:



(*) Vd. postes da I Série do blogue:


15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII: Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli


(...) Dia D + 7 (15 de Março de 1969)

Em face da informação dada pelas 2 mulheres capturadas em Cancodea Beafada, os Dest A, B e C atacaram Queroane à tarde, tendo destruído a tabanca e sido flagelados por um grupo IN que sofreu baixas confirmadas.

Cerca das 2H30, os Dest F, G, H e I iniciaram a sua marcha sobre a mata do Fiofioli. Só havia uma guia mais ou menos seguro, o Brima Dico [, mais provável, 
Braima Seco,] capturado pelos paraquedistas em Mina em Dezembro de 1968. O outro guia, de Mansambo, apenas conhecia região mas não os trilhos. Decidiu-se por isso seguir com os Dest em bicha, a fim de deixar um ou mais emboscados em bifurcações que aparecessem.


O Dest H, antes do alvorecer, penetrava na mata. Às 16H00 houve uma flagelação ao Dest H, tendo o IN sofrido baixas confirmadas. O Hospital antigo surgiu pouco depois com as suas enfermarias separadas para homens e mulheres, quarto dos médicos cubanos, banco, etc. O guia esclareceu tudo mas o hospital devia ter sido abandonada cerca de 2 meses antes. Todos os novos trilhos que apareciam eram cuidadosamente batidos. Descobriu-se um outro Hospital recentemente abandonado. O primeiro estava em (Xime ID5-56 ) o segundo (encontrado ás 8H00) estava em Xime 1D6-52). Ambos foram queimados e o PCV deu a sua localização.

Batida a mata, desceu-se à tabanca de Fiofioli, recém abandonada, dispondo de bons edifícios e 2 escolas com imensos livros e cadernos. Próximo estava uma pequena arrecadação onde se capturou material de guerra IN. Novamente foram apanhadas centenas de animais domésticos. A destruição da tabanca foi apenas começada pois no dia seguinte seria completada. Encontraram-se documentos comprovativos da presença IN na área.

Voltou-se a penetrar na mata para bater a zona Oeste e acabou-se por ir ter à bolanha a Oeste eram cerca das 12H00. Contactou-se o Dest E que às 6H10 fizera fogo sobre elementos IN fugidos da mata de Fiofioli (onde deveriam ter sido os autores da flagelação ao Dest H), tendo-lhes causado baixas.

A mata foi batida durante cerca de 10 horas em todos os sentidos. Previa-se no entanto voltar a batê-la no dia seguinte na direcção Oeste-Leste. Mas o mito do Fiofioli desaparecera na mentalidade dos nossos soldados. A mata do Fiofioli fora um tigre de papel. (...)


14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal


(**) Último poste da série > 21 de Novembro de 2011 >Guiné 63/74 - P9070: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (2): Hugo Spadafora (1940-1985), que combateu como médico e guerrilheiro nas fileiras do PAIGC (entre 1965 e 1967), e que encontrei na década de 1980 no Panamá...

Guiné 63/74 - P9079: (Ex)citações (157): O sentido da expressão "assassinos de Mampatá" (Mário Pinto, CART 2519, 1969/71)

1. Comentário ao poste P9059, colocado por Mário Pinto (de seu nome completo, Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519, "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71):

do Mário Pinto Caros camaradas:


A Cart 2519 a que eu pertencia quando se instalou em Mampatá por volta do fim de Agosto de 1969, depois da construção da estrada Buba-Aldeia Formosa,  de má memória, recebeu como missão interceptar as colunas do PAIGC no corredor de Missirá que se deslocavam de Sul para norte via Nhacobá-Uane-Xitole.

Para cumprimento desta missão todos os dias um Grupo de Combate reforçado fazia emboscada no dito corredor em quanto outro Gr Comb patrulhava as imediações perto do corredor.

Neste contexto de acção foram diversas as vezes que interceptámos as colunas do PAIGC que na sua maioria era composta por carregadores civis, (população nativa controlada pelo PAIGC,) que se tornaram vítimas da guerra por força das circunstâncias do fogo aberto por nós quando caíam na zona da emboscada.

Era habitual depois da emboscada fazermos aproximação e reconhecimento ao local para recolher o material e feridos do IN se os houvesse e confrontarmo-nos com a realidade da acção.

Fomos também muitas vezes apeliados de ASSASSINOS pela Rádio Conakry, julgo que era norma o trato dado a todos nós pelo PAIGC quando tinham baixas.

Por isso acho que o termo Assassinos de Mampatá, a meu ver,  é um termo mais antigo que a CCAÇ  3326, herdou quando rendeu a minha Companhia em Mampatá.

Quanto á expressão: "Quando chegámos a Mampatá entrámos a matar, naquela zona em que praticamente se havia perdido o controle e rapidamente o reconquistámos"... 

Camaradas, lamento dizer mas não é correcto e posso confirmar pelos relatórios que tenho em meu poder.

Toda a Zona era complicada, sim, mas dominada pelas nossas forças que se movimentavam por toda a ZA causando vários desaires ao PAIGC, conforme se pode ver nos documentos e Historial da CART 2519. Agora julgo existir aqui é uma discrepância, pois como é sabido que as condições apartir do segundo semestre de 1971 tornaram-se mais duras e cresceram de intensidade por força de uma acção mais forte das tropas do PAIGC.

Posto isto...

Um abraço

Mário Pinto


PS - Em poste de 4 de Agosto de 2011, publicado no seu blogue (CART 2519 - Os Morcegos de Mampatá), o Mário Pinto informa o seguinte:

"Informo todos os Morcegos que já tenho pronto vários livros em Fotocópias do nosso Cap Jacinto Manuel Barrelas  Há Sangue na Picada. Quem o pretender deverá fazer o pedido para o meu email, pintanof@gmail.com ou pelo telm 931648953. O mesmo será enviado gratuitamente para a morada indicada pelos camaradas" .
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Nota do editor:

Vd. último poste da série > 15 de Novembro de 2011 >  Guiné 63/74 - P9046: (Ex)citações (156): A recensão a Pami Na Dondo foi feita não ao livro mas à pessoa do autor (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P9078: O nosso blogue em números (23): Mensagens dos nossos camaradas Carlos Filipe, Fernando Barata e José Barros

1. O nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72, em mensagem do dia 20 de Novembro de 2011, mandou-nos estes quatro "instantâneos sem truques" referentes ao nosso Blogue e particularmente ao aniversário dos nossos camaradas César Dias e Maria Arminda, e ainda aos nossos 3 milhões de visitas atingidos muito recentemente.

O nosso muito obrigado por este trabalho ao Fernando, de quem já não tínhamos notícias há uns tempos. O Barata, que é um homem de Coimbra, vem provar que a vida também é humor, brincadeira, graça,  imaginação, cordialidade... e que com estes ingredientes também se ajuda a construir o nosso blogue, que é de todos e para todos...

Eis o que escreveu: (...) Devemos todos rejubilar ao vermos espalhados pela cidade diversos 'outdoors' publicitando os '3 milhões. Até Obama se associou. Abraço. F. Barata



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2. Comentário do nosso camarada Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74:

Caros Amigos, neste exacto momento, ainda estou indeciso se devo comentar. Mas aí vai.

(i) Um Blogue é essencialmente um local onde se publica algo (quase sempre com carácter definitivo), e um Fórum,  um local onde se comenta também, a partir de algo publicado, e que por condição de publicação (um fórum) se sujeita a todo o tipo de crítica, contra-opinião, etc.

Colocada esta minha concepção, penso que na nossa Tabanca se confunde Posts com Coments. Na realidade, os comentários no blogue, deveriam simplesmente transparacer uma opinião favorável ou não ao respectivo Poste.

Mas não é isso que muitas vezes acontece e tranformam-se em perfeitos minifóruns, desvirtuando nalguns casos o perfil deste Blogue (não entendam isto como crítica ao Blogue), principalmente para quem nos lê e não é habitual participar.

Esses minifóruns nos Comentários  criam receios, dúvidas... em quem eventualmente queira participar,  receando reacções de terceiros. (vd. ponto iii)

(ii) Sobre a estrutura do blog, partilho das opiniões do Juvenal e do António Estácio, no geral, e claro também de uma ou outra já publicada.

Agora vou azedar um pouco o meu discurso... Refiro-me ao número de visitas ao Blogue. Eu por exemplo visito no mínimo 3 a 4 vezes por dia a Tabanca. Como é isto contabilizado? Não se estará a pecar por defeito? Concerteza que como eu um número infindável de outras pessoas.

(iii) Como o António escreveu, penso haver uma necessidade de reorganizar as temáticas do Blogue.

Por outro lado queria lançar uma ideia para evitar os pseudo-fóruns no espaço dos comentários. O Blogue permitiria somente a possibilidade de gostar ou não de um Poste.
Sendo que estaria já criado um Fórum que, dividido da mesma forma temática do blogue, só publicaria para discussão (então sem condicionalismos a não ser os do próprio Blogue da Tabanca), somente os mesmos títulos e números de cada Poste publicado sem respectivo texto.

Era só isto que tinha para escrever.
Um abraço para todos
Carlos Filipe
ex-CCS/BCAÇ 3872
Galomaro/71


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3. Mensagem do nosso camarada José Ferreira de Barros (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 21 de Novembro de 2011:

Caros amigos e camaradas:

Aqui estou, para dizer-vos que votei “Muito Melhor”. Para mim foi uma grande alegria encontrar esta grande família, porque me permitiu reviver locais e acontecimentos que há muito estavam num velho caixote de memórias esquecidas.

O blogue teve o condão de fazer o milagre de abrir o dito caixote, que pensava estar fechado para sempre.

Obrigado a todos vós, editores e co-editores,  pelo vosso trabalho e dedicação a esta ”GRANDE CASA”.

As críticas e divergências de opinião são saudáveis desde que respeitosas. Qual a família onde não há divergências?

Por isso somos a GRANDE FAMÍLIA DA TABANCA GRANDE.

Um grande abraço para todos e que Deus vos dê saúde, força e coragem para continuar e aumentar a grande FAMÍLIA que somos.

José Barros
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9074: O nosso blogue em números (22): Foi assim que eu vos conheci, irreverentes; foi assim que vos reencontrei, controversos... (Cherno Baldé)

Guiné 63/74 - P9077: Agenda Cultural (170): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (8): Acção a Cavalo em África, por Jorge Félix Furtado Dias, dia 23 de Novembro de 2011 no Anfiteatro C da Universidade dos Açores (Carlos Cordeiro)

Mensagem de hoje, 22 de Novembro de 2011, do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, dando-nos notícia de mais um acontecimento integrado no "Ciclo conferências-debates Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961-1974, história e memória(s)":

Vamos prosseguir com o nosso ciclo de conferências*, agora sobre a Cavalaria… a cavalo. O então capitão Jorge Furtado Dias comandou um dos esquadrões com sede no Leste de Angola e vai falar-nos da sua experiência.

Junto então a notícia, aspectos biográficos, etc.

Um grande abraço amigo do
Carlos Cordeiro


Ciclo de conferências-debate
“Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961¬ 1974: história e memória(s)”

No âmbito do ciclo de conferências-debate “Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961-1974: história e memória(s)”, Jorge Félix Furtado Dias, Superintendente-Chefe reformado, proferirá, no próximo dia 23 do corrente, a conferência “Acção a Cavalo em África”. Jorge Furtado Dias desempenhou, como Alferes e Capitão de Cavalaria, três comissões de serviço durante a Guerra do Ultramar: uma em Moçambique e duas em Angola.

O evento terá lugar no anfiteatro “C” do Pólo de Ponta Delgada da Universidade dos Açores, com início pelas 17H30 e estará aberto à participação de todas as pessoas interessadas.

Esta iniciativa teve início em Maio, sendo esta a quinta conferência do ciclo. Trata-se de uma organização do Centro de Estudos Gaspar Frutuoso do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores.
Trata-se de uma organização do Centro de Estudos Gaspar Frutuoso do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores.


Notas biográficas do Superintendente-Chefe Jorge Félix Furtado Dias

O Superintendente-Chefe Jorge Félix Furtado Dias nasceu em Ponta Delgada, em 1942. Em 1962 ingressou na Academia Militar, onde concluiu o curso de Oficial de Cavalaria.
Ainda como alferes, foi mobilizado, em 1966, para uma comissão em Moçambique. Promovido a capitão, em 1969, foi mobilizado, desta vez para Angola, tendo desempenhado as suas funções num Esquadrão de Cavalaria a Cavalo, na Zona Militar Leste, de onde regressou em 1972. No ano seguinte foi novamente mobilizado para Angola para comandar um Esquadrão de Cavalaria a Cavalo, tendo desempenhado também outras funções de comando, inclusive a de comandante interino de um batalhão.
A partir de 1975 desempenhou diversas funções militares nos Açores. Em 1981 foi promovido a major e em 1983 assumiu o Comando da Polícia de Segurança Pública de Ponta Delgada e o Comando Operacional de todas as forças dessa Polícia nos Açores.
Em 1987 passou a integrar os quadros da PSP como Subintendente, depois Intendente, Superintendente e por fim Superintendente-Chefe, mantendo o Comando da PSP de Ponta Delgada e dos Açores até à sua passagem à situação de reforma.
É detentor de diversos louvores e condecorações, atribuídas, quer no desempenho das suas funções como oficial de Cavalaria, quer como oficial superior da PSP.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8858: Agenda Cultural (160): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (7): Rescaldo do dia 30 de Setembro de 2011

Vd. último poste da série de 20 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9066: Agenda cultural (169): Colóquio, Arquivos do Silêncio: Alianças Secretas da Guerra Colonial, dia 29 de Novembro de 2011 às 10 horas no Colégio de S. Jerónimo - Centro de Estudos Sociais - Coimbra (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P9076: Memória dos lugares (164): RTX - Rádio Televisão do Xime, Carnaval de 69, Xime, CART 1746, com o Manuel Moreira e o José Ferraz de Carvalho



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 1746 (Bissorã e Xime,1967/69) > A RTX - Rádio Televisão do Xime, em ação, no Carnaval de 69... Na primeira foto de cima, está o Manuel Moreira, o primeiro a contar da direita; o Júlio (, de tanga,) e o Zé Ferraz (, de óculos, megafone e barba), a contar da esquerda...

Comentou o Zé Ferraz: "Foi formidável, o companheiro e camarada Manuel Moreira enviou-me um e-mail dizendo que se lembrava muito bem de mim; enviou-me também uma foto tirada no Xime quando, para descarga da infinita espera, decidimos fundar a Rádio Televisão do Xime. Por curiosidade o homem à minha direita, de tanga, era o famoso Júlio que bebia 2 garrafas de Sagres grandes como pequeno almoço e foi o protagonista da coluna a Bambadinca onde se cortou o corpo inteiro" (...).


Fotos: © Manuel Moreira (2011)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. Mensagem, enviada ontem pelo Manuel Moreira (ex. 1.º Cabo Mec Auto, CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69): 
É com grande satisfação que vejo alguém da minha Companhia a fazer parte do nosso blogue.

Refiro-me ao Zé De Ferraz, de nome completo José Marçal Wang Ferraz De Carvalho, que chegou à CART 1746 em 14 de Janeiro de 1969, e a quem dou as melhores Boas Vindas porque tem e terá muitas histórias para contar, apesar de ter estado pouco tempo connosco. Já activamos o contacto.

Envio para publicação duas fotos onde está o Zé Ferraz com um megafone improvisado, sentado numa poltrona a anunciar o arranque da RTX- Rádio Televisão do Xime por altura do Carnaval de 69. Eu sou o da placa de "entrada em cena".

 Espero que entrem mais camaradas [da CART 1746].

Um abraço camarigo para toda a Tabanca com " manga de ronco ".

Manuel Moreira

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P9075: Bombolom XIX (Paulo Salgado): I Grande Guerra em África (1914-1918), guerra colonial (1961/74)... Relembrando os nossos mortos




Lisboa > 1914 > I Guerra Mundial (1914-1918) > Cais do Arsenal > Embarque de tropas portuguesas para Angola, durante a 1ª Guerra Mundial > Sob o comando de Alves Roçadas, foi enviado para Angola uma força expedicionária de 1600 homens, em Outubro de 1914. Por sua vez, o batalhão de infantaria nº 23 partiu para Moçambique.

Fonte: Cortesia de Wikipédia (2011). Imagem do domínio público (documento com mais de 70 anos).



1. Mensagem, de 20 do corrente, do nosso amigo Paulo Salgado [, transmontano de Moncorvo; administrador hospitalar reformado; consultor, especialista em gestão de serviços de saúde, a trabalhar em Angola;  ex-Alf Mil, CCAV 2721,Olossato e Nhacra, 1970/72]: 

Camaradas, Amigos, Camarigos: 

Tem andado calado o meu bombolom (*)… Há tanta coisa para contar. Mas, às vezes, fico indeciso… Se achardes bem,  postai esta mensagem de solidariedade para os que sofreram tanto como nós, lá no Rovuma, lá no Cunene, durante a primeira grande guerra. Como nós  – mais ainda, tenho a certeza – passámos na Guiné. Um abraço, Paulo.

2. Bombolom II > I Grande Guerra (1914-1918)

Em 18 de Agosto de 1914,  tendo sido declarada a Grande Guerra, o governo português, entendeu ser necessário guarnecer e reforçar diversos postos fronteiriços no norte de Moçambique e no sul de Angola,  para o que foram mobilizadas duas forças expedicionárias com destino àquelas colónias, ameaçadas pelos alemães.

As cenas mostradas nas fotografias da Ilustração Portuguesa e de outras revistas da época não eram muito diferentes das que todos quantos rumaram a Moçambique, Angola e Guiné conhecem sobejamente.

Na verdade, amigos do blogue, o meu velho amigo Ti Adriano contava-me as histórias que viveu no norte de Moçambique, de 1915 a 1919 – quatro anos…!

O seu neto veio a falecer cerca de 50 anos depois nas matas da Guiné! 

Os seus olhos marejaram-se de lágrimas no funeral, em choro convulsivo, e bem sabedor do que teria sido a “guerra” sofrida pelo neto. Ouvi-o após a cerimónia da secção que veio acompanhar o soldado na caixa de pinho (como cantava o Adriano – o outro: Correia de Oliveira…): 
- Pobre filho, quanto terás sofrido!
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9074: O nosso blogue em números (22): Foi assim que eu vos conheci, irreverentes; foi assim que vos reencontrei, controversos... (Cherno Baldé)


Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto fotográfico de Amílcar Ventura > "Foto 13 - Encontro das Altas Chefias de Pirada depois do 25 de Abril [de 1974]".

Fotos (e legendas): © Amílcar Ventura (2009)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário, ao poste P9063, da autoria do querido amigo guineense Cherno Baldé [, primeiro da esquerda na primeira fila, foto ao lado,  Fajonquito, 1975, ] 



Caros amigos,


Foi assim que eu vos conheci, irreverentes;
Assim vos reencontrei, controversos;
No espaço deste nosso blogue e Tabanca Grande;
Espero e faço votos para que possam continuar a discutir, ainda por muito mais tempo;
Enquanto tiverem forças e engenho;
Enquanto ainda quiserem e puderem concordar ou discordar;
Apoiados na vossa consciência, na vossa capacidade de discernimento e de bom humor.


Eu acho que, neste blogue, há espaço para toda a gente se exprimir livremente, bastando para isso que sejamos um pouco mais tolerantes e abertos na recepção que fazemos das opiniões dos outros. Mas, às vezes, tenho a impressão que alguns camaradas se esquecem de que já não estão dentro das trincheiras dos tempos de outrora...


Senti alguma incompreensão na forma como foi recebido o Vitor Junqueira da última vez que ele reapareceu no blogue, com a apresentação do trabalho de um amigo guineense, depois de uma prolongada ausência, malgrado o seu "(...) chacun sa putain!...", que a seu tempo foi apreciado e criticado sob diferentes pontos de vista, não se tendo manifestado qualquer sentimento de ofensa ou de vitimização.


Senti alguma incompreensão em relação ao vosso camarada Amílcar Ventura que foi, literalmente, "banido" do blogue por ter feito declarações que denunciavam a sua visão e postura "alegadamente" diferentes e não conformes as regras de jogo da guerra colonial.


Como já disse alguém, no dia em que não houver diferençaas e todos tiverem a mesma visão e opinião sobre a vida e das coisas que a governam, será o fim da vida deste blogue onde nos reunimos com o prazer de ouvir histórias de outros tempos, das "nobas" da Guiné-Bissau e das "nobas" dos nossos amigos e camaradas.


Um grande abraço,


Cherno Baldé
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Nota do editor:


Último poste da série > 20 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9069: O nosso blogue em números (21): A propósito dos 3 milhões de visitas... Sondagem... Fotos de Nova Lamego, de Tino Neves

Guiné 63/74 - P9073: In memoriam (97): Daniel Matos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3518 (Gadamael, 1972/74), falecido no dia 13 de Novembro de 2011

1. A propósito do comentário aposto por um anónimo no Poste 6351 que dizia:  

Agora que o Daniel Matos nos deixou, traído pela doença que o minou, curvemo-nos perante a memória de UM GRANDE HOMEM E UM GRANDE CARÁCTER.

O nosso camarada José Martins acaba de nos mandar este mail com a confirmação da triste notícia:

Boa tarde
Também li o comentário a que te referes.
Procurei obter um contacto, e apenas tinha o mail que referia SITAVA.
É um sindicato ligado à aviação e, assim, telefonei de imediato para o sindicato que, infelizmente, confirmou que o Daniel Matos partiu em 13 de Novembro último, após doença prolongada.

Mais um no Batalhão Celestial, menos um no Batalhão Terreno.

Certamente foi mais cedo para preparar a nossa chegada.

José Martins


2. Comentário de CV:

Foi com enorme pesar que recebemos a confirmação do falecimento do nosso camarada Daniel Matos*. Quando se perde um amigo, um pouco de nós que vai com ele.

Infelizmente, cada vez mais, estas notícias fazem parte do nosso dia a dia e, como afirma o nosso diligente camarada José Martins, estamos todos, aos poucos, a mudar de Unidade, deixando o Batalhão Terrestre a caminho do outro, onde iremos seguramente ter uma comissão de serviço bem mais prolongada.

À família do nosso camarada Daniel Matos apresentamos as nossas mais sentidas condolências pelo infausto acontecimento.
Para nós continuará sempre presente, e a sua colaboração neste blogue é a prova de que podemos morrer, mas a nossa obra fica.

Caro Daniel, até um dia destes.

Pela tertúlia
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

- Daniel Matos foi Fur Mil na CCaç 3518 - "Os Marados de Gadamael" - que esteve em Gadamael nos anos de 1971 a 1974. A madeirense CCAÇ 3518, independente, foi mobilizada pelo BII 19, partiu para a Guiné em 20/12/1971 e regressou  a 28/3/974.... Dois anos e três meses de comissão!... Esteve em Gadamael, Brá e Bafatá. Comandante: Cap Mil Inf Manuel  Nunes de Sousa.

- Para consultar o espólio deixado pelo nosso camarada Daniel Matos no nosso Blogue, utilizar os marcadores Daniel Matos e/ou CCAÇ 3518.

(*) Vd. poste 12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5981: Tabanca Grande (208): Daniel Matos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3518 (Gadamael, 1972/74)

Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9054: In memoriam (96): Dia 17 de Novembro de 1967, data tão distante, ainda hoje lembrada (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P9072: Tabanca Grande (308): Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Mansoa e Bissorã, 1965/66)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, Carlos Luís Martins Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Bissorã e Mansoa, 1965/66, dirigida a Virgínio Briote em 9 de Outubro passado:

Caro camarada de armas
Antecipo a tudo o mais o pedido de desculpas pela ousadia de te enviar este e-mail. Tenho lido com grande interesse e uma mescla de saudade e alguma paixão, onde é co-responsável, o julgo eu ex-alferes que algumas vezes comigo passou, algumas agruras e perigos no triângulo do OIO.

Pertenci à CCAÇ 1420 entre 1965 e finais de 1966 em Bissorã e Mansoa onde vim a ser gravemente atingido. Chamo-me Carlos Luís Martins Rios e era Fur. Milº.

Como sou um incipiente nestas novas tecnologias, não consigo entrar em contacto tornando-me mais um dos camarigos.
Daí ousar usar esta expediente para ver se me aceitam como mais um chato a choramingar quase 50 anos depois algumas recordações da juventude.

P.S.- Também sou natural de Cascais (Parede) e resido em Carnaxide.

Em anexo envio cópia de um pequeno cadernito de esparsas memórias que agradeço lhe dês o encaminhamento que entenderes e que agradeço com gratidão aceites um exemplar, porquanto já o mandei encadernar, bastando para o efeito se não vires inconveniente mandares-me a morada.

Apresento os melhores e mais respeitosos cumprimentos.
CARLOS RIOS

Mansabá > Ex-Fur Mil Carlos Rios e ex-Alf Mil Rui Alexandrino Ferreira da CCAÇ 1420

Alguns graduados da CCAÇ 1420 num jantar de confraternização no Bairro Alto. Da esquerda para a direita - Carlos Rios, José Monteiro, Henrique Sacadura Cabral, José Manuel Bastos e Rui Alexandrino Ferreira.


2. Comentário de CV:

Caro Carlos, estou a receber-te formalmente em nome da tertúlia e dos editores. Sê bem vindo à nossa Tabanca, onde esperamos te sintas como em casa. Não és propriamente um desconhecido, já que o teu, e nosso, amigo Rui Alexandrino Ferreira falou de ti no nosso Blogue, como se pode verificar nas ligações dos postes abaixo referidos*.

Muito obrigado por te quereres juntar à equipa e também pelo teu "Porto de Abrigo", trabalho que enviaste ao nosso camarada Virgíno Briote que por sua vez o fez chegar até nós. Vamos começar a publicá-lo estes dias porque será uma mais valia para o espólio do nosso blogue.

Publicamos hoje a Capa e a Dedicatória, início destas tuas memórias


Sabemos que neste momento estás a passar menos bem da tua saúde, mas podes contar desde já com a solidariedade destes teus 527 novos amigos e camaradas, que compõem este grupo enorme de tertulianos de que a partir de hoje fazes também parte.

Quando nos quiseres contactar usa o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Podes consultar os postes referentes à tua Unidade clicando no marcador CCAÇ 1420 existente no lado esquerdo da nossa página no grupo dos marcadores/descritores, assim como os teus postes, clicando no marcador Carlos Rios.

Antes de terminar o teu poste de apresentação quero deixar-te um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Recebe um abraço pessoal da minha parte com os votos de um rápido restabelecimento.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

18 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8438: (Ex)citações (141): Hospital Militar Principal: Sofri as piores atribulações naquelas miseráveis e desumanas instalações, principalmente o anexo, o Texas (Carlos Rios, ex-Fur Mil, CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67)

21 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)
e
20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8579: (Ex)citações (143): Ex-Fur Mil Carlos Rios da CCAÇ 1420, um menino que as circunstâncias fizeram homem (Rui Alexandrino Ferreira)

Vd. último poste da série de 9 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9065: Tabanca Grande (307): José Ferraz de Carvalho, português há mais de 40 anos nos EUA, ex-Fur Mil da CART 1746 (Xime, 1969)

Guiné 63/74 - P9071: Notas de leitura (304): Dois Anos de Guiné - Diário da Companhia de Caçadores 675, por Fur Mil Oliveira (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2011:

Queridos amigos,
Aqui se começa a falar do diário de JERO, um livro de 1965, de circulação restrita. Uma construção ingénua e comovente, um punho cheio de convicções e um olhar cheio de ternura. Pergunto se nalguma frente de combate houve um capitão tão estimado (quase idolatrado) como o de Binta, o “capitão do quadrado”. Mas pergunto se alguma vez nos passou pela cabeça que existisse um enfermeiro tão desvelado a fazer crónica, escondendo o seu heroísmo tal como se mascarava no arvoredo, nas longas esperas de uma emboscada. Não sei se é o JERO se somos nós quem está de parabéns.


Estou a trabalhar com o exemplar nº 31, pertença do Belmiro Tavares.
Obrigado, Belmiro, por me teres confiado esta missão.

Um abraço do
Mário


Um documento histórico, o diário da CCAÇ 675, o diário de JERO

Beja Santos

José Eduardo Reis de Oliveira (JERO) é um Furriel Miliciano Enfermeiro responsável por uma singularidade histórica: escreve o diário da CCAÇ 675 referente ao período de Maio de 1964 a 1965 que a SOCTIP (uma conceituada tipografia da época) imprimiu. Todos os volumes têm carimbado o termo “confidencial” e todos os exemplares estão numerados. O nosso confrade Belmiro Tavares muito me sensibilizou entregando-me para análise o diário que JERO, outro dos nossos confrades, registou e veio a ser impresso a Lisboa, quase em tempo real. O “capitão do quadrado”, Alípio Tomé Pinto, escreveu a ressalva de que tal diário continha matéria classificada e não podia ser do conhecimento de todas as pessoas. Agora já pode, o diário de JERO passou a ser um bem patrimonial por mérito próprio, pelo desvelo do autor em tudo quanto escreve, refugiando-se num semianonimato, exaltando o capitão de Binta, compendiando meticulosamente os actos de um colectivo que deixou memória pelo espírito corpo e pela sua mentalidade ofensiva, lá para os lados do Cacheu, em meados dos anos 60. Aqui se publicitou o ineditismo de Tarrafo, de Armor Pires Mota, publicado no Jornal da Bairrada, sem nenhum óbice da censura e logo retirado, em 1965, quando posto à venda em forma de livro. JERO, ao coligir todos os dados do seu diário, só queria registar um período de uma gesta colectiva anónima, escreveu para as gentes da CCAÇ 675, não para nós. Também por essa razão de pura discrição, o JERO já então revelava os seus primores de carácter.

Estamos em Maio de 1964, a Companhia independente parte de Évora, no dia 8 chegam a Lisboa cerca das 6.30 horas: “Particularmente impressionante a passagem em marcha lenta da composição pelas zonas do Areeiro, Campolide e Alcântara, com muitas pessoas, principalmente de classes humildes a caminho do seu trabalho, que nos acenavam, desejando-nos felicidades para a vida difícil que ia começar para todos nós”. Depois a despedida, o Uíge afasta-se e cumpre a JERO inquietar-se, falando por todos, como regista no seu poema “Partida”: “Que vai ser de mim? Viverei? Voltarei a ver os meus? A Pátria querida?”.

O Uíge vai fundear diante de Bissau, a mocetada arde em curiosidade: “Nos mais variados pontos do navio, empoleirados nos mastros, nas baleeiras, na ponte, nas amuradas, algumas centenas de olhos dirigiam-se para a pequena cidade que crescia junto do rio e se estendia para o interior". E o mês de Maio decorre com instrução na carreira de tiro e no campo, JERO anota: distribuição do correio. Junho é praticamente dedicado a exercícios operacionais, no dia 13 JERO anota: um mês na Guiné. Dia 19, pelas 8 da manhã: desastre de viação, choque de um Unimog com um tronco de palmeira, viatura destruída, um ferido ligeiro. A 23 há boatos de caserna, está próxima a ida para o mato. A 28 partem de Bissau no “Alexandre da Silva”. JERO já está afadigado a registar os eventos primigénios: “Poucos momentos depois do desembarque o nosso capitão saiu com o primeiro pelotão para uma patrulha de reconhecimento nas proximidades do estacionamento, seguindo até ao entroncamento de Courbá, onde se incendiaram duas moranças. Continuou-se a descarga do navio até cerca da meia-noite. No silêncio da noite as sentinelas estavam atentas. E o mês de Julho introduz os primeiros momentos épicos, mesmo o leitor menos experimentado nas fainas da guerrilha e da contra-guerrilha questiona porque é que Binta e arredores viviam entregues a uma quase total liberdade das forças do PAIGC. Vamos aos factos.

Obras no quartel e saída dos grupos de combate, montam-se emboscadas. Nada de viaturas, tudo a butes para evitar sinistros no homem e na máquina. O “capitão do quadrado” tem gente motivada, mal chegam arranca a operação Lenquetó (povoação situada a 12 quilómetros de Binta. Troca de tiros, um atirador de uma árvore é abatido e “outros dois indivíduos saíram em correria da tabanca e ziguezagueando conseguiram passar por meio de uma secção, escapando ao fogo de duas ou três dezenas de atiradores. Foi uma fuga desesperada que um mínimo de probabilidades de êxito resultou”. Houve um inimigo que apesar de ferido lançou uma granada e acto contínuo foi abatido. Prisioneiros foram cerca de 40. Vejamos os detalhes registados por JERO, acerca de um regresso enquanto Lenquetó ardia, enquanto, no chão, ficavam os corpos de duas ou três dezenas de inimigos: “Quando acerca de 500 metros de Caurbá progredíamos numa zona fortemente arborizada, fomos emboscados pelo inimigo. Depois de um primeiro momento de expectativa e surpresa, instalámo-nos rapidamente em círculo (…) Continuámos a responder ao inimigo com fogo baixo e uma bazucada deve ter feito grandes estrago no inimigo, pois ouviram-se gritos lancinantes durante alguns momentos. Junto a uma árvore o nosso capitão transmitia ordens e recomendava ordem no fogo para não virem a faltar munições (…) A pedido do nosso capitão o piloto metralhou a zona por onde, electrizados pelo exemplo do nosso capitão que arrancou para a frente, seguimos o mais rapidamente possível, respondendo ao fogo inimigo que de cima das árvores nos continuou a flagelar durante algum tempo. A experiência e o arrojo do nosso Comandante de Companhia conseguiu que dois grupos de maçaricos que se agarravam ao terreno logo que se ouvia um tiro “voassem” por uma zona batida pelo fogo do inimigo que nos viu afastar com rapidez e segurança. A registar a tentativa de fuga de três prisioneiros aquando da retirada da zona de emboscada que no entanto foram abatidos (…) Acabava-se de viver o nosso primeiro dia operacional em terras da Guiné. Tínhamos combatido duramente com o inimigo. Tinha chegado a Binta uma Companhia de homens duros chefiados por um leão que andava de pé debaixo das balas inimigas”.

Isto é o começo, estamos no dia 4 de Julho. Em catadupa, prosseguem os patrulhamentos ofensivos e golpes de mão e batidas. De vez em quando, o inimigo resiste mas acaba por se pôr em fuga. O fundamental é que ao longo do mês a CCAÇ 675 percorre todo o território da sua quadrícula, a prudência mantém-se, os temores esfumam-se. JERO participa ou colhe informações para compendiar as suas notas, por vezes são parágrafos adubados, outras vezes prima pelo laconismo: “Não foi possível carregar os géneros em virtude da chuva. A zona ficou armadilhada”. Registam-se ingenuidades, sustos com vacas e burros, dores de cabeça debaixo de fogo, alguém rasteja a pedir ao sargento enfermeiro umas aspirinas. As estradas que estavam ao abandono são limpas das abatizes, assim se chega a Guidage, se contacta com a população que fugira para o Senegal. Lá para o fim do mês vai-se até Canicó, há uma grande troca de fogo, impressivamente registada. O guia Pathé Baldé é morto em combate. O “capitão do quadrado” propõe no seu relatório uma condecoração para este brioso combatente: “Não posso deixar de frisar os bons serviços prestados pelo guia Pathé Baldé.

Além do entusiasmo permanente pela missão que estava cumprindo, era sempre o primeiro nos locais mais difíceis. Granjeou com as suas atitudes e maneira de ser a amizade de todo o pessoal da Companhia; correcto e bem-educado, ele “valia por uma secção” como os soldados diziam ao referir-se ao seu valor; com a sua morte perdeu esta Companhia um bom guia e auxiliar que dificilmente poderá ser substituído. Creio que seria de grande valor que à família do mesmo fosse dada uma pensão de sangue e se possível o Exército demonstrar-lhe reconhecimento, pelos serviços prestados, através de uma condecoração, que de facto merece”.

Isto é o princípio do diário de JERO, que soma cerca de 280 páginas. Surpresa mais gratificante não podia ter. Publicitar o diário do JERO no blogue, anunciá-lo a quem estuda a guerra da Guiné, é uma honra e um grato dever.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2011 < Guiné 63/74 - P9057: Notas de leitura (303): Amílcar Cabral Filho de África, de Oleg Ignatiev (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9070: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (2): Hugo Spadafora (1940-1985), que combateu como médico e guerrilheiro nas fileiras do PAIGC (entre 1965 e 1967), e que encontrei na década de 1980 no Panamá...

1. Texto do Zé Ferraz, nosso camarada da diáspora (*):

Na década de 80, quando era Zone service manager - para a América Central e Caraíbas - da divisão Detroit Diesel Allison da General Motors, ia muitas vezes ao Panamá. 


Numa dessas visitas estava num almoço com os meus contactos locais quando o gerente da nosso representante me disse:
- Como és Português e estiveste em África, quero apresentar-te a um amigo meu.
- Ok, onde está ?
- Está para chegar porque te quer conhecer pessoalmente.

Passados ums minutos chega um tipo que à guisa de apresentação me diz:
- Corpo di bó ?

Fiquei espantado mais ainda quando soube o seu nome:
- Eu sou o Hugo Spadafora, médico. 

Primeiro senti um ódio intenso, acalmei-me e durante a tarde ficámos na mesa do restaurante a falar dos nossos tempos na Guiné. Para mim, foi uma experiência catártica que fechou em mim o desejo de vingança que guardei comigo durante anos.

Posteriormente o Hugo foi morto (degolado), pelo que a gente diz, por ordem do ditador Noriega [e não Torrijos, como certamente por lapso escreveu o Zé]. Vox populi vox dei [, Voz do povo, voz de Deus].

Um forte abraço. 
Zé. 

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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 20 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9068: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (1): O valente soldado Júlio

(**) Vd. entrada da Wikipédia em inglês, sobre o médico, guerrilheiro e ativista político, panamiano, Hugo Spadafora (1940-1985):

(...) Hugo Spadafora Franco (September 1940 – September 1985) was a Italian and Panamanian doctor and guerrilla fighter in Guinea-Bissau and Nicaragua. He criticized the military in Panama, which led to his murder in 1985.

Born in Chitré, Spadafora was a doctor, graduated from the University of Bologna, in Italy. He served as a combat doctor with the independence guerrilla of Guinea-Bissau.

Originally a critic of the military regime headed by Omar Torrijos, he served as its Vice-Minister of Health. In 1978, he organized the Victoriano Lorenzo Brigade, formed by a group of Panamanian fighters to fight against the Anastasio Somoza Debayle regime in Nicaragua.

Concerned about the increased Soviet and Cuban influence in the Sandinista regime of Nicaragua and the delay of free elections, Spadafora joined the Sandino Revolutionary Front (FRS) alongside Edén Pastora ("Comandante Zero"), hero of the August 1978 seizure of Somoza's palace. 

The rise of Manuel Noriega as authoritarian ruler of Panama compelled Spadafora to denounce Noriega's protection of drug trafficking. Spadafora was detained by Noriega's forces when entering Panama from Costa Rica in September 1985, and his decapitated body was later found stuffed in a post office bag. The autopsy later found Spadafora's stomach full of the blood he had ingested during the slow severing of his head. 

He had also endured hours of severe torture, as is quoted in Gary Webb's book, Dark Alliance: 

"His body bore evidence of unimaginable tortures. The thigh muscles had been neatly sliced so he could not close his legs, and then something had been jammed up his rectum, tearing it apart. His testicles were swollen horribly, the result of prolonged garroting, his ribs were broken, and then, while he was still alive, his head had been sawed off with a butcher's knife." 

His head was never found. President Nicolás Ardito Barletta tried to set up a commission to investigate the murder but was forced to resign by Noriega, which increased suspicions that the military ordered the beheading.

It was not until the administration of President Guillermo Endara that a court found Noriega (in absentia) and other followers guilty of a conspiracy to murder Spadafora.

In 2010, the Spadafora family published a website on the life of Hugo Spadafora Hugo Spadafora Website (...). (***)



Tradução livre:

Hugo Spadafora nasceu em 1940, filho de uma família pobre, do sul de Itália, que emigrara para o Panamá. Formou-se em medicina, pela Universidade de Bolonha, em 1964. Entre 1965 e 1967, combateu nas fileiras do PAIGC. Foi talvez na Guiné que começou a ser conhecido como o "Che Guevara italiano"...

De regresso ao Panamá,  foi vice-ministro da saúde sob o governo de Omar Torrijos (1968-1981).   Em, 1978, formou a brigada panamiana Lorenzo Vitoriano para combater a ditadura de Somoza, no país vizinho, a Nicarágua.

Mais tarde, preocupado com a crescente influência soviética e cubana no regime sandinista da Nicarágua e com o atraso do processo eleições livres, Spadafora juntou-se à frente sul da Frente Revolucionária Sandinista (FRS), ao lado de Edén Pastora ("Comandante Zero"), herói do 25 de Agosto de 1978 (tomada de assalto do palácio de Somoza). 

A ascensão de Manuel Noriega, em 1982,  como ditador da Nicarágua, leva Spadafora a denunciar o tráfico de drogas e a proteção que beneficia por parte dos militares. Spadafora será foi detido pelas forças de Noriega ao entrar Panamá a partir de Costa Rica, em setembro de 1985. O seu corpo, decapitado, foi encontrado mais tarde escondido num saco de correios. A autópsia viria a descobrir que o estômago estava cheio de sangue, ingerido durante o corte lento de cabeça de Spadafora. O médico e guerrilheiro enfrentou horas e horas de tortura antes da sua morte infamante e horrorosa… 
A cabeça nunca chega a ser encontrada. 

O Presidente Nicolás Ardito Barletta tentou criar uma comissão para investigar o assassinato, mas foi forçado a desistir por pressão de Noriega, o que veio fazer aumentar as suspeitas de que por detrás da ordem de decapitação estavam os militares. Só sob a administração do presidente Guillermo Endara é que um tribunal considerou Noriega (entretanto deposto e capturados pelos americanos em 1990) e outros seguidores, culpados de conspiração para assassinar Spadafora. No princípio de 2010, o último condenado no processo saiu da prisão, depois de cumprir uma pena de cerca de 20 anos. Nesse ano a família Spadafora abriu, na Net, um “site” sobre a vida de Hugo Spadafora, continuando a sua luta pela justiça... Noriega cumpre uma sentença de 30 anos nos EUA por crimes relacionados com o tráfico de droga...


(***) Neste "site" da família pode ler-se o seguinte sobre a atividade de Hugo Spadafora [, foto á direita, reproduzida com a devida vénia,] como médico e guerrilheiro na Guiné-Bissau, entre 1965 e 1967:

(...) Hugo nació el 6 de Septiembre de 1940 (...). Haciendo uso de la beca, Hugo decide ir a estudiar a la Universidad de Boloña en Italia donde opta por estudiar Medicina, graduándose en Noviembre de 1964. Luego de su graduación regresa al país [, Panama,] , donde realiza su internado de año y medio.


(...) Con la excusa de haberse ganado otra beca, pero esta vez para tomar un postgrado, viaja a El Cairo (Egipto), pero su verdadero propósito no era buscar una especialización o maestría si no enrolarse un movimiento revolucionario independista que en 1960 pululaban en África, allí en el Cairo, luego de varios intentos y cartas enviadas a los líderes revolucionarios independentistas logra hacer contacto con el movimiento de separación de Guinea Bissau y las Islas de Cabo Verde, luchas éstas lideradas por ese gran líder africano Amílcar Cabral. 

Hugo se ofrece como voluntario, brindando sus conocimientos médicos, y es así como forma parte de ese movimiento revolucionario y los anales de ese país. Hoy independiente, con el nombre de la República de Guinea Bissau, existe una avenida con el nombre del médico panameño Hugo Spadafora.


En África Hugo lucha contra el colonialismo Portugués y luego después de dos años regresa a Panamá en 1967 y decide hacer su segundo año de internado. Allí lo sorprende el golpe de estado del 11 de Octubre de 1968 (...)  

Comentário de L.G.:


Spadafora não tem a ver com os primeiros médicos cubanos que se juntaram ao PAIGC,  em 1966. Faziam parte de um primeiro grupo de "voluntários", enviados por Fidel Castro. Eram todos cubanos, num total de 24. O grupo era composto sobretudo por instrutores. Os médicos eram três. Vd. depoimento do dr. Domingo Diaz Delgado, cirurgião, que chefiava a equipa médica (1966/67): Tinha 29 anos - nascera em 1936 - quando parte de Cuba... Mais velho,  portanto, e com mais  experiência clínica, decerto,  do que o jovem italopanamiano Hugo Safadora, que parte para a Guiné, com 24  anos, acabado de se formar em medicina, em Bolonha... Seria interessante saber o que fez (medicina ? guerrilha ? ) e por onde andou este homem na Guiné, entre 1965 e 1967... 


É a primeira vez que oiço falar do seu nome... Teve um destino trágico às mãos dos torcionários de Noriega, em setembro de 1985.