sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20448: Notas de leitura (1245): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (36) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Impunha-se um confronto de opiniões, entre as expressas por Leopoldo Amado e as de Hélio Felgas, para o mesmo período, não para saber quem tem razão e manipula com mais rigor os dados. Sabe-se que Hélio Felgas tinha claramente objetivos promocionais, mas há momentos em que o seu trabalho atinge o nível do paradoxo: o inimigo recua mas entretanto cresce, está cansado mas recebe melhor equipamento, há etnias desavindas com a guerrilha mas o apoio internacional é cada vez maior, etc.
Arnaldo Schulz, de toda a documentação publicada, como anteriormente Louro de Sousa, responderam ao desafio com a contingência dos meios oferecidos. Há um dado no livro de Hélio Felgas que forçosamente tem que impressionar o leitor de hoje, quando ele fala do Plano Intercalar de Fomento da Guiné que, ao contrário de províncias como Cabo Verde e Timor, não conhecia quaisquer benefícios, escândalo clamoroso num território a viver a ferro e fogo, e a situação alterar-se-á radicalmente com Spínola. Mas disso os estudiosos hoje não falam. Lendo as instruções e diretivas de Schulz, forçoso é constatar a veracidade da sua informação, ela ficará bem patente quando aqui se referir, com maior extensão, o que ele vai escrever e dar a conhecer ao Governo de Lisboa em 1 de Dezembro de 1966.
Fiquemos hoje por aqui.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (36)

Beja Santos

“Muito armamento se capturou
na primeira Companhia.
A 5 de Janeiro no Cacheu
grande desastre surgia.

Rapazes distinguiram
ao fim de uma caminhada.
E dentro da mata cerrada
um acampamento se destruiu.
Muitos objetos lá se viram
quando nossa tropa avançou.
Para Farim se levou
um rádio e munições
e com três pelotões
muito armamento se capturou.

Foi um dia recordado
ao fazerem 16 meses.
Com os Alferes Azevedo e Menezes
este tormento passado
foi Fausto e Abogão evacuado
com Naciolindo no mesmo dia.
O Natálio também se feria,
a 19 deste mês.
E fez bom serviço o Garcês
na primeira Companhia.

Tivemos grande azar
com o Pelotão de Morteiros.
Morrem oito companheiros
por não se poderem salvar.
14 deles a nadar
a sorte lhes apareceu
21 G3 se perdeu
no fundo da água salgada.
Foi esta coisa amargurada
a 5 de Janeiro no Cacheu.

Iam para uma operação
dentro da barca pequena
deu-se então a triste cena
morrendo dois cabos na aflição.
Morreu o Alberto e o João
Batista e António Maria.
Junto ao Gonçalves também morria
o Patornilho Ferreira.
E naquela maldita traineira
grande desastre surgia.”

********************

Já aqui se fez referência à tragédia vivida por estes homens do Pelotão de Morteiros. No compulsar da documentação, sempre que possível, importa tentar a procura do contraditório. O historiador Leopoldo Amado dá-nos uma versão do ano de 1964 que não é coincidente com o que escreve Hélio Felgas, fora comandante do Batalhão de Caçadores 507 e escreveu o livro “Guerra na Guiné”, editado por um serviço de publicações do Ministério do Exército em 1967. A seu tempo se referiu que foi propósito do autor fazer um enquadramento do território, da sua etnografia e etnologia, dando igualmente dados sumários sobre transportes e comunicações, situação económica, história dos movimentos de libertação e elementos afins. Há na sua exposição a propósito das perspetivas económicas da Guiné um dado muito curioso. Fala ele do Plano Intercalar de Fomento da Guiné e observa que não conhece este Plano qualquer benefício, dizendo que o de Timor foi concedido a título de subsídio gratuito, o de Cabo Verde não vence juros mas a Guiné terá de pagar o seu plano como se nada de anormal se estivesse a passar naquele território. Subtilmente conclui que “não é difícil compreender-se que com receitas orçamentais tão reduzidas, a Guiné não tem qualquer possibilidade de acompanhar o progresso das outras províncias”. Estamos na era Arnaldo Schulz, que recebeu armamento, mais unidades militares, mais meios aéreos e navais. Mas teve que fazer um desenvolvimento com a prata da casa, situação que se alterará radicalmente em 1968, António Spínola entrará na Guiné com meios farfalhudos. Mas desta discrepância de recursos os estudiosos não falam. Havia inegáveis intuitos promocionais no trabalho de Hélio Felgas, não se iludia no seu escrito que estava a apresentar serviço, respondendo euforicamente no balaço efetuado e atribuindo à governação Schulz a travagem do alastramento da guerra.
Faz logo um comentário que pode ter uma leitura contrária, vejamos:
“1964 foi um ano decisivo na guerra da Guiné. Em todo o primeiro semestre o PAIGC despendeu esforços enormes para obter qualquer resultado palpável. Graças à actuação dos nossos soldados, nada conseguiu, porém. Enfraquecido, dispersou-se, tentando abrir novas frentes e provocar a diluição das forças portuguesas. Esta diluição foi-lhe fatal pois com a ocupação militar da província estabeleceu-se uma rede que coartou por completo a sua liberdade de acção”.

Se aceitarmos os princípios da teoria da guerrilha, esta diluição funciona a favor dos guerrilheiros, a dispersão faz crescer exponencialmente os problemas logísticos, a gestão dos recursos humanos, avoluma as dificuldades operacionais, guerrilha é sinónimo de bate e foge, de casa de mato ou de santuário que pode ter algumas dimensões de inexpugnabilidade, exige meios de destruição fortíssimos, depois regressa-se ao destacamento, e o guerrilheiro regressa ao seu ponto de partida. Ora o primeiro semestre, e agora vamos fazer fé no que escreve Hélio Felgas, denotou uma atividade guerrilheira intensa, foi-se alastrando, e há logo um ponto no que ele diz ao norte do Geba que tem a ver com a vida do BCAV 490.
Escreve ele:
“No final de Janeiro, Farim, centro populacional já importante, encontrava-se quase isolada, pois os bandoleiros, destruindo pontes, montando emboscadas, colocando abatises e minas, procuravam cortar as estradas que ligavam a vila às povoações de Bigene, a oeste, Bissorã, a sudoeste, Mansabá, a sul, e Cuntima, a nordeste. A situação agravou-se durante os meses de Fevereiro e Março, tendo Farim e Binta sido flageladas pelos terroristas que destruíram novas pontes e pontões e começaram a fustigar as populações nativas da área de Jumbembem-Canjambari-Cuntima. Esta actuação levou Fulas e Mandingas a fugirem para o Senegal e originou a paralisação quase completa das serrações locais e da actividade madeireira de que Farim é um dos principais centros da Guiné”.
E também escreve que o PAIGC alastrara a sua atuação na direção de Binar e Bula, e a tornar-se intransitável a estrada Mansabá-Bafatá, a sua posição dentro do Oio tornara-se uma realidade. Em abril a atividade em torno de Farim incrementou-se, como ele escreve:
“Conjugada com a obstrução das estradas que, na margem sul do Cacheu, dão acesso à região, aquela actividade abrangeu o ataque às serrações madeireiras que restavam e a destruição das tabancas Fulas da zona fronteiriça de Cuntima”.
E, escreve mais adiante:
“Também entre os rios Cacheu e Mansoa aumentara a actividade guerrilheira. A leste de Binar, ocorreu a primeira emboscada na estrada de Nhamate. Os chefes das tabancas de Ponta Fortuna e Ponta Penhasse, ambas a norte de Bula e habitadas por Balantas e Mancanhas, foram assassinados por acolherem bem as tropas portuguesas. As populações da importante península de Naga, a nordeste de Bula e a oeste de Bissorã, começaram a fugir das nossas patrulhas de reconhecimento. O aquartelamento do Olossato foi atacado no dia 21 de Abril, aqui se empregou pela primeira vez uma metralhadora pesada de calibre 12,7 milímetros. Mansabá foi flagelada novamente e as estradas que lhe dão acesso tinham cada vez mais abatises”.

Também no chamado Centro-Leste, a situação estava longe de ser boa (a região pode incluir o Cuor, o Enxalé e todo o regulado do Xime). Flagelações em Enxalé e Xime, atos terroristas junto das populações de Missirá e Finete. E na margem direita do Corubal passou a haver flagelação às embarcações. Iniciava-se um problema sério, como garantir a navegabilidade do Geba, numa importância nada comparável com a do Corubal. E pouco há a dizer que não se saiba sobre o crescimento da influência do PAIGC na região Sul: Cabedu, Fulacunda, Cacine, Bedanda, Cumbijã, Cachil, Enxudé, Empada, Catió, flageladas com regularidade. Fez-se a reabertura da estrada Guilege-Campeane. Procedendo ao balanço deste primeiro semestre, Hélio Felgas não mostra nenhum otimismo. E quanto ao campo externo, Amílcar Cabral averbara sucessos político-diplomáticos, na organização da unidade africana, na NATO, colhia simpatias até junto de certas democracias ocidentais. E Hélio Felgas passa a analisar o segundo semestre, logo dizendo que as forças portuguesas começaram a assenhorear-se da situação na Guiné. O autor considerava que os grupos do PAIGC tinham perdido a iniciativa mostrada em 1963 e na primeira metade de 1964. Diminuíra a sua atividade nas áreas habituais. No entanto, e de um modo paradoxal, refere o crescimento organizativo do PAIGC, a sua iniciativa a partir de setembro, tanto ao norte do Geba como nas regiões de Farim e do Oio. Aumentara o apoio internacional em armamento e equipamento. Nas regiões fronteiriças das Repúblicas da Guiné e do Senegal, os centros do PAIGC ganhavam importância. Se por um lado havia uma aparente frenagem da atividade do PAIGC, próximo do fim do ano relata o autor um crescendo de ações, sobretudo no Sul, mas também no Norte e no Leste. Fala de sucessos à sombra da bandeira portuguesa: a colaboração prestada pelas populações nativas, o início da africanização da guerra, a ação psicossocial, a melhoria dos serviços de saúde, o desenvolvimento do ensino primário por todos os lugares.

Em novo capítulo, diz que a situação militar melhorara a olhos vistos em 1965, isto ao mesmo tempo em que vai falando das atividades operacionais do PAIGC em número alargado.
E já não se sabe muito bem o que melhorou quando ele escreve coisas como esta:
“Quanto ao Sul da Província, o aumento da actividade terrorista, verificado já em Dezembro de 1964, manteve-se nos primeiros meses de 1965, tendo sido especialmente visados os aquartelamentos das forças portuguesas. Em Janeiro, alvejaram os quartéis fronteiriços de Cameconde, Cacoca, Sangonhá e Ganturé, além de Buba, Bedanda, Fulacunda, Cachil e Cufar. Também o quartel de Tite sofreu diversas flagelações, tal como as tabancas vizinhas”.
E introduz uma novidade, a presença da guerrilha no nordeste da Província, em especial no triângulo Piche-Buruntuma-Canquelifá.

Em jeito de conclusão, faz previsões de grandes dissidências dentro do PAIGC, cansaço dos seus guerrilheiros, fala nas grandes qualidades do militar português e termina de forma sibilina: “Seja qual for a sua evolução, podemos estar certos de que o Exército, a Marinha e a Aviação saberão manter na Guiné as melhores tradições militares portuguesas".

(continua)

Depois da explosão de uma mina anticarro
Imagem retirada do livro de Hélio Felgas

Jangada a atravessar as margens do Corubal em Cheche
Fotografia de Hélio Felgas, datada de 1969
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Notas do editor

Poste anterior de 6 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20420: Notas de leitura (1243): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (35) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20432: Notas de leitura (1244): “Missão na Guiné, Cabedu, 1963-1965”, por António José Ritto e Norberto Gomes da Costa, com a colaboração de José Colaço; DG Edições, 2018 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20447: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (3): "Festas Felizes. Até ao meu regresso!"... Era assim há 50 anos... (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)


O famoso aerograma natalício, criado pelo Movimento Nacional Feminino


Foto (e legenda): © José Martins (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. J
osé Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, região de Gabu, 1968/70, nosso colaborador permanente,  autor da série "Consultório Militar", faz a sua "prova de vida" e deseja a todos os membros da Tabanca  Grande festas felizes.

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Nota do editor

Postes anteriores da série:

Guiné 61/74 - P20446: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte V: Em Cutia, entre Mansoa e Mansabá, barragem de artilharia sobre a mata do Morés, de 17 a 27 de julho de 1970... A 25, no regresso da visita a Teixeira Pinto, morrem quatro deputados da Assembleia Nacional, em acidente aéreo, no rio Mansoa.


Foto nº 1 > Guiné > Região do Biombo > Estuário do Rio Mansoa >  Recuperação dos restos do Heli AL III, caído por acidente na foz do rio Baboquem, afluente do rio Mansoa, em 25 de julho de 1970, e que transportava quatro deputados da Assembleia Nacional, em visita à província (além da tripulação) (**)


 Foto nº 2 >  Guiné > Região do  Óio > Mansoa > Cutia > O Domingos Robalo, em primeiro plano.

  
Foto nº 3 >  Guiné > Região do Óio  > Mansoa > Cutia > Obus 14




 Foto nº 4 >  Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > Acomodações: o "Matador", veículo pesada que rebocava o obus 14: eram precisos uns caixotes de munições para se poder ao 1º andar...



 Foto nº 5 >  Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > Rancho


 Foto nº 6>  Guiné > Região do Óio > Mansoa > Churrasco


 Foto nº 7 >  Guiné > Região do Óio  > Mansoa > Cutia >  Relaxando


 Foto nº 8 >  Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > Confraternização


Foto nº 9 >  Guiné > Região do Óio > Mansoa > Cutia > O alferes de óculos é o sobrinho do Sá Viana Rebelo, que esteve, também, comigo na operação Mabecos em fevereiro de 1971

Ação sobre a mata do Morés, levada a efeito a partir de Cutia/Mansoa entre os dias 17 e 27 de julho de 1970. Nessa altura visitava a Guiné um grupo de deputados da  Assembleia Nacional, da chamada Ala Liberal, entre eles o seu chefe de fila, Pinto Leite.

Fotos (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico (*) de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7,  Bissau, 1969/71; foi comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda (1969/70); vive em Almada; tem mais de 20 referências no nosso blogue. [, Foto atual, à esquerda, Tabanca da Linha, Algés, 2019].

(...) No fim do  mês de maio de 1970, sou destacado para uma operação em Cutia, sector de Mansoa, para flagelar a mata do Morés (?). 

De 17 a 27 de julho, a artilharia flagelava de noite e a FA [Força Aérea] de dia.

Nesse período, vêm a falecer os deputados à Assembleia Nacional que nos visitaram em Cutia [, José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull].(**)

Os deputados à Assembleia Nacional visitaram-nos, ou melhor, passaram em Cutia, no dia 23 ou 24 de julho, vindo a falecer em consequência da queda de um dos helis que os transportava de [Teixeira Pinto]  para Bissau no dia 25 ou 26 de julho. (como curiosidade, o Salazar faleceu no dia 27 de julho.)

Um dos deputados era pai de um camarada meu da artilharia que estava colocado em Catió, razão pela qual o deputado trocou com um outro para poder visitar o filho. Deslocação inglória, porque não se encontraram. (...)



Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Região do Oio > Detalhe: posição relativa de Cutia no triângulo Bissorã- Mansabá- Mansoa. Ficava  a meio, na estrada Mansoa-Mansabá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 4 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20413: Álbum fotográfico de Domingos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 (Bissau e Fulacunda, 1969/71) - Parte IV: Acção Mabecos (subsetor de Piche, 22-24 de fevereiro de 1971)

(**) Vd. postes de:

Guiné 61/74 - P20445: E as nossas palmas vão para... (21): Caretos de Podence, classificados pela UNESCO como "património imaterial da humanidade"


 Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > Pintura mural:  os caretos chocalando as "novas"...


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro >  Pintura mural


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > O careto e as "velhas"...


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > A Alice Carneiro, posando com um careto que enverga uma típica máscara de latão.



Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > Os famosos chocalhos com que os caretos chocalham as mulheres, novas e velhas.


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > O Francisco Baptista e a espoa. Também lá apareceram, atraídos pela notícia do blogue. Apresentei-o ao João Rebelo e ao Joaquim Pinto de Carvalho, também, camaradas da Guiné, que me acompanhavam nesta visita  (*)

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A notícia é do DN - Diário de Notícias / Agência Lusa, edição "on line", de ontem, às 16h51:

(...) "os Caretos de Podence foram, esta quinta-feira, declarados Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

A decisão foi anunciada na Assembleia Geral da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre até sábado, em Bogotá, na Colômbia.

Os tradicionais mascarados do Entrudo Chocalheiro da aldeia do concelho transmontano de Macedo de Cavaleiros passam a estar integrados numa lista mundial onde Portugal já tem o Fado, o Cante Alentejano, a Dieta Mediterrânica, a Falcoaria e os chamados "Bonecos de Estremoz".

As "Festas de Inverno Carnaval de Podence" foram a única candidatura selecionada pelo Governo português para representar Portugal nesta que é a XIV reunião do Comité Internacional da UNESCO, o organismo das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação.

Os Caretos de Podence marcam a folia de Carnaval no Nordeste Transmontano com coloridos e farfalhudos fatos, máscaras de ferro ou lata, chocalhos à cintura e um pau para amparar as tropelias.

Em toda a região de Trás-os-Montes há Caretos, protagonistas das chamadas Festas de Inverno, que acontecem entre o Natal e o Carnaval. Os de Podence distinguem-se dos restantes pelo chocalho, daí o nome da festa ser "Entrudo Chocalheiro". É apontado como "o mais genuíno carnaval português", sem samba, ao ritmo da tradição.

As ruidosas manifestações dos Caretos atraem, durante quatro dias, à aldeia de Podence com cerca de 180 habitantes, milhares de curiosos portugueses e estrangeiros." (...)


2. Este ano fui conhecer Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros. E lá estavam, para animar  o "entrudo chocalheiro" (*), os famosos caretos que já conhecia de Lisboa, do Festival Internacional da Máscara Ibérica (**).

E até lá fui encontrar o meu amigo e camarada Francisco Baptista, mais a esposa, que é vizinho, natural de Brunhoso, Mogadouro, autor do livro "Brunhoso, era o tempo das segadas; na Guiné, o capim, ardia" (2019).

Ele, por certo, e eu, e tantos transmontanos e amigos de Trás-Os-Montes, juntamo-nos aqui, no blogue, para bater palmas ao sucesso desta candidatura portuguesa.  Os  Caretos de Podence vêm enriquecer a lista do nosso Património Imaterial da Humanidade onde já estão, entre  outras manifestações culturais como  o Fado, a Dieta Mediterrânica,  o Cante, a Falcoaria, os Bonecos de Estremoz, a Manufatura de Chocalhos,  a Olaria Negra de Bisalhães.

E associo-me à alegria das  gentes de Podence / Macedo de Cavaleiros (***), com este excerto de um poema meu, "A Vida é Um Entrudo Chocalheiro" (*).

(...) A máscara também está associada
à festa,  à terra, aos tambores,
à gaita de foles,  aos chocalhos,
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra,
aos enchidos, ao vinho...
Porque não há festa sem o pão
e o vinho, a música, a folia,
a transgressão,  a subversão dos papéis,
o entrudo, o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão português
que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence,  Grijó e Lazarim...
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três.
... E eu quero lá estar!

Para saber mais sobre os Caretos de Podence, vd. aqui:



PS - Os filhos de Macedo de Cavaleiros  que morreram na guerra do ultramar / guerra colonial, foram 37, incluindo o José Luís Alves Rancão (1947-1970), natural de Podence: furriel mil paraquedista, CCP 122 / BCP 12, morreu  em combate, na Guiné, em 26/6/1970. Seguramente que também terá participado, no seu tempo, na "festa dos rapazes", e vestido o traje de "careto".
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de1 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

Guiné 61/74 - P20444: Banco do Afeto contra a Solidão (24): Calcula-se que só no Ontário, Canadá, existam mais de 20 mil ex-combatentes da guerra do ultramar, e muitos deles passam o tempo sozinhos em casa... (Agência Lusa / Jornal Açoriano Ocidental)

1. A peça é da Agência Lusa e do jornal "Açoriano Oriental", na sua edição digital, de 9 do corrente






Associação no Canadá pretende ‘tirar da solidão’ ex-combatentes da guerra colonial


Uma associação de ex-combatentes da guerra colonial no Canadá pretende "tirar da solidão os seus associados" e vai "criar um centro de dia", disse à agência Lusa uma fonte da instituição.

"O grande problema que está a afetar os nossos associados é a solidão que está a ser muito grande para determinados ex-combatentes e membros da nossa liga", lamentou Armando Branco, de 74 anos, o presidente da Associação do Ontário dos Ex-Combatentes do Ultramar - Núcleo de Toronto.

O dirigente está de partida para Portugal, onde até ao dia 15 de janeiro tem agendadas reuniões com responsáveis de organizações semelhantes.

Armando Branco justificou que os filhos "já não têm muito tempo para despender com os pais", que então "passam grande parte do tempo sozinhos em casa".

O objetivo da instituição criada há 18 anos é de "melhorar o fim de vida dos ex-combatentes", dando-lhes condições para que "tenham mais assistência e apoio social".

"Queremos aproveitar as associações portuguesas de Toronto que já dispõem de cozinha e de infraestruturas. Ao mesmo tempo estamos a ajudar a associação com a venda das refeições diárias, aqueles que estão lá presentes, e desta forma proporcionar convívio aos nossos membros", disse Armando Branco.

O centro de dia, numa parceria com a Casa das Beiras de Toronto, localizada no número 34 da Caledónia Road, deverá entrar em funcionamento no próximo ano, numa data a definir.~

Este ano o sindicato da construção, a Liuna Local 183, atribuiu à Associação do Ontário dos Ex-Combatentes do Ultramar uma viatura que vai ficar "operacional em 2020 para o transporte dos associados com mobilidade reduzida no acesso aos hospitais e médicos".

O dia de aniversário da associação, 4 de abril de 2020, é uma data ambiciosa para o dirigente, esperando que o número de associados atinja os mil com uma quota anual de 30 dólares canadianos (20 euros), uma verba que vai permitir a realização de diversas atividades.

Nesse sentido, o responsável apelou ainda ao governo português o apoio financeiro a "projetos que se dediquem ao bem-estar dos ex-combatentes".

Já na próxima primavera e verão está prevista a organização de uma excursão mensal a vários pontos do Ontário, destinada aos associados.

Calcula-se que existam no Ontário cerca de 20 mil ex-combatentes do Ultramar, segundo a associação.

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Nota do editor:

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20443: E as nossas palmas vão para... (20): A morna, património imaterial da humanidade



1. Foi assim que o "Expresso das Ilhas", na sua edição digiiaol, deu a notícia, ontem, às 16h21




"O meu país celebra a inscrição da sua alma na alma da Humanidade"."




(...) Agora é que é mesmo. A Morna foi hoje proclamada Património Imaterial da Humanidade. “Para todo o Cabo Verde, hoje é um dia feliz, em que nos sentimos felizes de ser cabo-verdianos”, destacou o Ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente, em língua cabo-verdiana, no discurso de celebração, perante o Comité do Património Cultural Imaterial da UNESCO.

No seu discurso, que prosseguiu em castelhano, Abraão Vicente congratulou a consagração desta prática musical que é a alma de Cabo Verde, agradecendo à UNESCO, aos peritos e a toda a comunidade.

“Hoje o meu país celebra! O meu pequeno país, formado por 10 ilhas no meio do Atlântico, meio milhão de habitantes residentes e um milhão em todo o mundo, o meu país celebra a inscrição da sua alma na alma da Humanidade”, disse.

O Ministro assumiu ainda que será cumprido “com honra o privilégio de ver reconhecido como património da Humanidade, o vínculo emocional mais importante do povo e nação de Cabo Verde: a Morna”.

E, em jeito de presente do povo de Cabo Verde, apresentou “dois músicos de referência que irão representar não somente os artistas e os compositores, mas a gente simples de Cabo Verde”.

“Porque a morna é a alma do nosso povo”.

E a morna fez então ouvir, pela voz de Nancy Vieira e a viola de Manuel di Candinho, na reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade.


Caminho longe

A candidatura da Morna foi oficialmente apresentada no passado mês de Março e hoje, na cidade colombiana de Bogotá, foi confirmada como Património Imaterial da Humanidade.

Neste processo de candidatura, Cabo Verde contou com o apoio de Portugal tendo Paulo Lima, especialista na elaboração de processos de candidatura a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, estado no país para uma missão de assessoria técnica de apoio à instrução da candidatura.

A 27 de Fevereiro, o parlamento aprovou, por unanimidade, a data de 03 de Dezembro como Dia Nacional da Morna, dia em que nasceu Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B. Léza (1905 - 1958), um dos maiores compositores do género musical.

A 7 de Novembro, Abraão Vicente já tinha dito que a nomeação era certa, no que foi, por muitos, considerado como uma "partida em falso" uma vez que ainda faltava a confirmação oficial do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade. Esta acabou por surgir hoje durante a reunião que, se iniciou no dia 8 e termina dia 14." (...)



2. Neste dia de alegria e felicidade para os cabo-verdianos (*), a que se associam, seguramente, os demais povos lusófonos, e os amantes da morna, como eu (**), deixem-me aqui lembrar a letra (e a música) da morna talvez mais conhecida em todo o mundo, a mais emblemática, numa interpretação (imortal) da Cesária Évora, a "Sodade":


Quem mostra bo es caminho longe? [Quem te mostra esse caminho longo ?]
Quem mostra bo es caminho longe? [Quem te mostra esse caminho longo ?]
Es caminho pa São Tomé [Esse caminho para São Tomé ?]
Sodade, Sodade, Sodade [Saudade, saudade, saudade]
Des nha terra, São Nicolau [Da minha terra natal São Nicolau]

Si bo screve m', [ Se me escreveres, ]
M' ta screve bo [ Eu escrever-te-ei,]
Si bo squece m' [Se me esqueceres,
M' ta squece bo [Eu te esquecerei,]
Até dia qui bo volta [, Até ao dia em que voltares]
Sodade, Sodade, Sodade [Saudade, saudade, saudade]
Des nha terra, São Nicolau [Da minha terra natal São Nicolau]


A interpretação, na voz luminosa de Cesária Évora, pode ser ouvida aqui no aqui no You Tube, numa ficheiro áudio que tem de 18 milhões de visualizações. Este foi um (ou talvez o maior) dos  sucessos da carreira da cantora mindelense Cesária Èvora (1941-2011), mais conhecida por Cize, entre os amigos e fãs locais. Claro  que há outras mornas, que ficam para a eternidade, como o "Mar Azul" ou a "Miss Perfumado", interpretadas pela "diva de pés descalços"... Mas a morna não é só figura, uma artista, é uma criação coletiva de uma comunidade, de ula cultura,  tal como o fado, e é isso que a torna "património imaterial da humanidade"... E tal como o fado a morna canta a vida e a morte, o amor, o desejo e o ciúme, a alegria e a tristeza, a saudade da partida, a morabeza, a hospitalidade, a amizade, o quotidiano, enfim, a "petite histoire" das gentes das ilhas e da diáspora... E tudo começou na Boavista... onde as primeiras mulheres começaram a cantar a morna. E "os nossos, nossos velhos e nossos camaradas" trouxeram-nos, no sabor de regresso a casa, esse som incomfundível da morna...

Curiosamente a autoria desta morna, a "Sôdade",  ainda hoje é atribuída, indevidamente, nalguns sítios,  à dupla de Amândio Cabral / Luis Morais.

Na realidade, o autor da "Sôdade" foi Armando Zeferino Soares (1920-2007), compositor e comerciante na sua ilha natal, São Nicolau. Segundo declarações à Agência Lusa, sete anos antes de morrer,  ele explicou como esta morna nasceu quando, por volta de 1954,  foi  despedir-se de um grupo de conterrâneos, na situação infamante de "contratados" para trabalhar nas roças de cacau e café de São Tomé e Príncipe. Era  habitual , em Cabo Verde, os amigos e familiares irem-se despedir de quem ia partir, talvez para sempre. A emoção era  grande, dada a incerteza da viagem, da estadia e do regresso.

Os "contratados"  cabo-verdianos, a par de angolanos e moçambicanos, alimentavam a economia colonial local, basada na monocultura do cacau e do café.  enquanto a população local, os "forros" (descendentes de escravos), se recusavam a trabalhar nas roças.

Um ano anos, com início em 3 de fevereiro de 1953, tinha acontecido o "massacre de Batepá"  (, despoletado por um conflito laboral, tal como o massacre do Pidjiguiti, em Bissau, em 3 de agosto de 1959, que se tornou, desgraçadamenet, numa espiral de violência.)

Hoje, dia de festa,  não é a  melhor ocasião para lembrar esta triste efeméride...Em todo caso, convém dizer que sobre o massacre de Batepá há um manto diáfano de efabulações e de silêncios que mascaram e escamoteiam uma realidade complexa e contraditória, em que os próprios "contratados" foram instrumentalizados pelo poder colonial, e pelos fazendeiros,  a responder a uma alegada  revolta dos "forros" (Fala-se em mais de mil mortos, segundo fontes são-tomenses, ou em 100 a 200, segundo as autoridades coloniais da época; continua a ser, em todo o caso, um trágico acontecimento da nossa história colonial, pouco ou nada conhecido tanto dos portugueses, como dos próprios são-tomenses e dos cabo-verdianos, nos seus contornos, antecedentes, causas imediatas, processo, protagonistas e consequências; em São Tomé, o 3 de fevereiro de 1953 é feriado nacional, o " Dia dos Mártires da Liberdade"; o governador geral de São Tomé e Príncipe, cor art Carlos Sousa Gorgulho, fica para sempre associado a esta página negra da história do colonialismo; não escrevo "colonialismo português", porque o colonialismo não tem... pátria!)

A letra e a música da morna "Sôdade" traduzem muito da idiossincrasia do cabo-verdiano, dividido entre o "ter de partir" (para fugir da fome e da miséria) e o "querer ficar" (por amor à terra). Entre 1922 e 1971, estima-se em 12 mil o número de cabo-verdianos que foram forçados a emigrar para São Tomé, numa altura de reto em que a economia são-tomense e o sistema dos "contratados" entravam em crise,,,

Por outro lado, com a descolonização e a independência de São Tomé e Príncipe, muitos destes cabo-verdianos não puderam voltar à sua terra e a situação de miséria, na sequência da decadência e encerramento  das roças de cacau e de café  (,com o regresso de dois mil brancos a Portugal),  ainda hoje é um problema social (e diplomático)  que está por resolver entre as três partes implicadas, São Tomé, Cabo-Verde e Portugal.

Oxalá esta consagração mundial da morna seja, tal como aconteceu com o fado, uma oportunidade  histórica para o renascimento deste género musical, com o aparecimento de novos temas, compositores, músicos, letristas e vozes. Também Cabo-Verde está a sofrer as consequências do "rolo compressor" da globalização que, a par de aspetos positivos, está a matar a diversidade cultural da humanidade (, além da biodiversidade, em consequências das alterações climáticas e dos impactos negativos do desenvolvimento económico e social nos ecossistemas).

PS - Pode ser ver-se aqui, na RTP Play, um excelente trabalho de reportagem sobre a Morna Património Mundial da Humanidade (vídeo: 50' 30''). Um dos entrevistados é o nosso camarada e membro da Tabanca Grande, Carlos Filipe Gonçalves (ex-fur mil amanuense, QG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74, jornalista, escritor, estudioso da morna e de outras formas da música de Cabo Verde).

Sinopse: "A Morna é um género musical de Cabo Verde, tradicionalmente tocada com instrumentos acústicos. Reflete a realidade insular do povo crioulo e os seus sentimentos mais genuínos: a saudade; o amor; a morabeza; a chegada e a partida.Apesar das várias versões sobre a sua origem, acredita-se que a Morna terá nascido no século XIX da convergência entre os ritmos melancólicos trazidos pelos judeus do norte de África; da modinha brasileira; do lundum português e mais tarde (princípio do século XX) do fado.

"Tornou-se símbolo nacional, eternizado por vozes tão carismáticas como Bana; Ildo Lobo; Tito Paris; Mayra Andrade; Lura, Mário Lúcio.

"Mas seria Cesária Évora, o seu expoente máximo, a levar a Morna a todo o mundo. Cesária Évora, é, na verdade, um dos mais fortes argumentos do dossier de candidatura da morna a património mundial entregue à Unesco em março de 2018 e cujo desfecho será conhecido entre os dias 10 e 13 de dezembro.

"A confirmar-se o parecer positivo do Comité Científico da Unesco, a Morna será proclamada Património Imaterial da Humanidade." (Fonte: RTP, 5/12/2019).

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Notas do editor:

(*)  Último poste da série > 2 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19642: E as nossas palmas vão para... (19): A. Marques Lopes, cor art ref, DFA, ex-alf mil, CART 1690 (Geba) e CCAÇ 3 (Barro) (1967/68) cujo livro "Cabra-Cega" vai ser publicado no Brasil, em edição revista e aumentada, com a chancela da Paperblur, de São Paulo

Guiné 61/74 - P20442: Parabéns a você (1721): Francisco Palma, ex-Soldado CAR da CCAV 2748 (Guiné, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 (Guiné, 1971/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20435: Parabéns a você (1720): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 (Guiné, 1970/72)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20441: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte XII: Mais fotos da população de Catió, com destaque para as mulheres e bajudas


Foto nº 1 > Catió > Alfaiates... uma profissão masculina!


Foto nº 2 > Catió > Luta desportiva de mulheres


Foto nº 3 > Catió > A minha lavadeira Fátima


Foto nº 4 > Catió > A lavadeira nalu do capitão.[ Os nalus eram uma minoria étnica que habitavam o Cantanhez. Eram grandes escutores, antes de se converteram ao islamismo, religião que proíbe a figuração humana e animal.]


Foto nº 5 >Mercado de Catió


Foto nº 6 > Catió > "A Fátima em pose artística"


Foto nº 7 > Catió > Estima, a mais bonita fula de Catió
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do João Gabriel Sacôto Martins Fernandes: 

(i) ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66);

 (ii) trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC (Direção Geral de Aeronáutica Civil);

 (iii) foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

 (iv) estudou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG):

 (v) andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente; (vi) é natural de Lisboa; (vii) casado; 

(viii) tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas); 

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, desde 20/12/2011;

(x) já viajou por mais de 50 países.


2. Estas são mais algumas fotos que dispomos do seu álbum: neste caso, da população sobretudo  feminina de Catió. E a propósito do "nu" de há mais de 50 anos na Guiné  (que nós chamamos "nu etnográfico"), o autor já fez em tempos um elucidativo comentário, em 30/3/2019 (**)

(...) "Quando cheguei à Guiné, em 1964, já tinha tomado contacto, especialmente em alguns lugares no Algarve e em França, Nice e Biarritz,  de mulheres em tronco nu nas praias "topless". Também já tinha visto imagens e fotografias de cenas affricanas em que as mulheres, principalmente as mais jovens ("bajudas"), em cenas rurais se apresentavam em tronco nu. Creio que, por isso, não fui especialmente surpreendido, o que não quer dizer que não tenha admirado a beleza de algumas bajudas, e que, com sua autorização e pose artística,  fotografei. Vou mandar para o Luis duas dessas fotos que as publicará se achar oportuno." (...)

Anteriormente, o Virgílio Teixeira tinha feito, em 29/3/2019, no mesmo poste (**), o seguinte comentário;:

(...) "À atenção de João Sacôto e Cherno Baldé: À margem do assunto deste Poste, faz-me uma confusão que não apareçam as mulheres, bajudas ou mulheres grandees, com as 'mamas ao léu', desculpem a expressão mas é assim para nos entendermos.

Nos locais e sitios por onde passei [, em 1967/69], a maioria das mulheres, em especial nas tabancas, andavam  desnudadas, e não era eu que lhes tirava a roupa. Fiz tanta fotografia que já foi publicada, mas ainda há mais e são só para mim. Nunca abusei ou fiz disto um assunto sexual, era apenas a curiosidade de um jovem que não estava habituado a ver tanta mama de tanto feitio. Ou o Sacoto tem essas fotos guardadas? É pura curiosidade, nada mais.

Talvez andei por sitios de culturas diferentes, como os felupes que praticamente andavam nus, eles  e elas, miudos e graudos!" (...)

Guiné 61/74 - P20440: Historiografia da presença portuguesa em África (191): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Os documentos falam por si, as nossas práticas coloniais pautaram-se pela discriminação e preconceito de caráter racial, não se podem abafar as provas. A questão não teria nada de grave se acaso não se tivesse fabricado o argumento propagandístico, para uso nacionalista, que a presença portuguesa na esfera colonial era multirracial, civilizadora e sustentada por valores humanistas e uma profunda tolerância religiosa. Não só não foi assim como na envolvente do tráfico negreiro se usaram práticas comuns às outras potências coloniais.
Como iremos proximamente apreciar.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6)

Beja Santos

Fez-se referência a uma obra de leitura obrigatória para entrar numa discussão fundamentada se houve ou não, e com que extensão, racismo no colonialismo português: “O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer, introdução de Diogo Ramada Curto, Edições 70, 2017. O eminente historiador britânico lança-se na discussão com muitíssima documentação, e mostra à saciedade como as ordens religiosas praticavam no Oriente uma ostensiva discriminação, europeus de um lado, os muitos outros do outro. A situação brasileira era igualmente delicada, e a legislação que visava aplainar diferenças entre brancos, aborígenes cristianizados, mulatos e pretos, era muitas vezes letra morta. Os candidatos à ordenação deviam ser, entre outras coisas, isentos de qualquer mácula racial de “judeu, mouro, mourisco, mulato, herético ou de outra alguma infecta nação reprovada”. Nada de sangue impuro. Tal como tinha acontecido na Índia portuguesa, desenvolveu-se no Brasil uma rivalidade considerável entre os frades crioulos e os seus colegas de origem europeia.

Referiu-se anteriormente que não há abordagem linear nesta questão, há matizes de complexidade, e Boxer não foge a exemplificações que a fazem avultar. Os monges Beneditinos do Rio de Janeiro educavam alguns mulatos descendentes de mães escravas mas não admitiam mulatos nas fileiras da sua própria Ordem. A discriminação racial, omnipresente na Igreja que pregava ostensivamente a fraternidade, estendia-se a outras profissões: Forças Armadas, administração municipal e corporações nos artífices. Para ser admitido na Ordem de Santiago era preciso provar ser de sangue nobre e de nascimento legítimo, “sem qualquer mistura racial, ainda que remota, de mouro, judeu ou cristão-novo”, havendo posteriormente de provar que os pais e avós de ambos os lados "não haviam nunca sido pagãos, rendeiros, cambistas, mercadores, usurários nem empregados do mesmo género”.

Mas uma coisa eram os princípios, outra a prática, como Boxer exemplifica. A João Baptista Lavanha, Matemático-Chefe e Cosmógrafo Real de Portugal em 1591, foi concedido o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, se bem que fosse descendente de judeus de ambos os lados. Um ameríndio puro, Dom Filipe Camarão, e um negro puro, Henrique Dias, obtiveram ambos o Grau de Cavaleiro da mesma Ordem pelos notáveis serviços prestados na luta contra os holandeses no Brasil.

E escreve Boxer:
“As desqualificações raciais limitavam-se inicialmente a indivíduos descendentes de judeus, mouros e hereges, tratando-se tanto de um preconceito religioso, como racial; mas, desde o início do século XVII, fazia-se uma discriminação legalizada e específica contra negros e mulatos, por causa da ligação estreita entre a escravatura humana e o sangue negro. Este facto foi confirmado e renovado por uma lei promulgada em Agosto de 1671, que relembrava que ninguém com sangue judeu, mourisco ou mulato, ou casado com uma mulher nessas condições, estava autorizado a ocupar qualquer posto oficial ou qualquer cargo público”.

Críticas a estes procedimentos foram muitas, e Boxer recorda-as, e depois volta a escrever o seguinte:
“Se os negros, mulatos e todos os indivíduos com mistura de sangue africano foram considerados durante séculos ‘pessoas de sangue infecto’ no Império Português, o mesmo aconteceu com os descendentes dos judeus que haviam sido convertidos à força ao catolicismo em 1497. A partir de então, a sociedade portuguesa ficou dividida em duas categorias, cristãos-velhos e cristãos-novos, e assim continuou durante quase três séculos (…). Infelizmente para os cristãos-novos, depois de 1530 nunca mais puderam contar com a protecção da Coroa, que, a partir de então, se colocou ao lado dos seus perseguidores. D. João III havia acabado de se convencer da realidade da ameaça dos cristãos-novos, e, por insistência sua, foi introduzido em Portugal o Santo Ofício da Inquisição”.
A vida dos cristãos-novos transformou-se num verdadeiro calvário, o alívio chegou com a revolução liberal de 1820.

Concluído o exame da pureza de sangue e das raças infectas, Boxer faz uma apreciação dos conselheiros municipais e dos irmãos de caridade. Diz que os portugueses conseguiram transplantar e adaptar com êxito estas instituições metropolitanas para meios exóticos, mas com menos severidade, havia discriminação racial.
E escreve:  
“A tendência foi para manter o elemento branco dominante durante o maior prazo de tempo possível. Isso aconteceu sem dúvida em locais como a Baía e o Rio de Janeiro, onde havia todos os anos uma penetração de sangue branco vindo de Portugal, e onde se havia fixado e estabelecido uma aristocracia local de senhores de engenho (…). Os preconceitos contra os cristãos-novos duraram também muito na administração principal. D. Manuel, apesar de os ter obrigado a converterem-se à força, fez posteriormente tudo o que pôde para integrar estes convertidos na sociedade portuguesa. Até 1572, a guilda dos ourives de Lisboa elegia ainda os seus representantes numa base de igualdade entre cristãos-velhos e cristãos-novos”.
Passando para a análise dos irmãos de caridade, os estatutos da Misericórdia eram bem claros: pureza de sangue logo em primeiro lugar.
E para que não haja lugar a dúvidas escreve:  
“As Misericórdias, tal como as irmandades religiosas exclusivamente para brancos, eram, de um modo geral, se bem que não invariavelmente, defensoras acérrimas da superioridade étnica da raça branca e das distinções classistas”.
Estas discriminações e preconceitos estendiam-se também ao funcionamento da administração, incluindo as câmaras municipais.

E voltando a falar de preconceitos, oiçamos o que escreve Boxer:
“Os preconceitos não oficiais eram muito mais profundos e duraram muito mais tempo do que as atitudes oficiais variáveis no que diz respeito a relações raciais. A correspondência de sucessivos vice-reis, desde o século XVI ao XIX, é fértil em queixas acerca da inferioridade moral e física, real ou pretensa, dos mestiços e canarins em relação aos Portugueses nascidos e educados na Europa. Sempre que possível, os vice-reis e governadores colocavam brancos nos cargos militares e administrativos mais importantes, tal como o faziam os arcebispos e os bispos quando escolhiam os ocupantes para altos cargos eclesiásticos. Os conselheiros municipais de Goa, a maioria dos quais eram casados com mulher euroasiáticas, queixavam-se à Coroa em 1607 de que quando havia comandos militares ou cargos governamentais que ficavam vagos, estes eram atribuídos a adolescentes recém-chegados de Portugal que nunca haviam assistido a qualquer combate”.

E vamos ver seguidamente as conexões entre escravatura e racismo, escolhe-se o exemplo do que era ser escravo em S. Tomé e, por outra via, far-se-á alusão às rotas da escravatura entre meados do século XV e finais do século XIX.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20414: Historiografia da presença portuguesa em África (190): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20439: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (2): José Belo, o nosso camarada que tem o privilégio de ser vizinho do Pai Natal...


Foto nº 1 > "Mesmo que dentro do Círculo Polar Ártico o Natal é sempre quente !"... Mas aqui, na Lapónia sueca, até a rena tem nome bem português: "Chaparro “: e o dono diz  "poder garantir que é o único com esse nome entre os muitos milhares de alimárias locais"....


Foto nº2  >  A sede da Tabanca da Lapónia... Na  Lapónia sueca, esta é a casa da família Belo:  "uma casa com pão e vinho sobre a mesa e um cheirinho a alecrim!... ou seja, é uma casa  portuguesa, com certeza".

Fotos (e legendas): © José Belo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem natalícia de José Belo, o nosso grã-tabanqueiro têm o privilégio de ser vizinho do Pai Natal. 

Recorde-se que ele:

(i) é  régulo da Tabanca da Lapónia, membro da Tabanca Grande, tem mais de 135 referências no nosso blogue:

(ii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu família: continua a ter uma pontinha de orgulho nas suas velhas raízes portuguesas,


(iii) foi alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70;


(iv) está reformado com  cap inf;

(v) reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico, e Key West, na Flórida, EUA, onde a família tem negócios;



De: Joseph Belo
Date: segunda, 9/12/2019 à(s) 16:31
Subject: Votos de Natal

"Mesmo que dentro do Círculo Polar Árctico o Natal é sempre quente !" (Foto nº 1)

Tendo como vizinho próximo a casa do Pai Natal situada,  junto à  cidadezinha finlandesa de Rovaniemi (, a viajar-se em linha reta, seräo cerca de 350 quilómetros, o que nas distäncias da Lapónia não é nada tendo em conta que o meu vizinho mais próximo vive a 279 quilómetros da minha casa), näo posso deixar de "retransmitir" a todos os camaradas e suas famílias uma mensagem de Paz e Felicidade, vinda das...origens.

Nestes momentos tão especiais é impossível não deixar de recordar todos os camaradas da Guiné que já näo estão entre nós.

No entanto devemos lembrar-nos que, como nas matas e picadas de então,eram sempre os melhores de entre nós que seguiam à frente.

Mas este é um período do ano em que os pensamentos deverão prioritizar as novas gerações, os netos e crianças em geral.

Com tudo o resto que tantas vezes nos "confunde", quase é fácil de ser esquecido que talvez o melhor presente que por nós foi dado aos netos é o facto de não serem obrigados a partir para guerras distantes nos melhores anos das suas vidas.

Para todos os camaradas e familiares os votos de um Feliz Natal e um Bom Novo Ano! 

J.Belo

PS - Já regressei de Key West, Flórida, já estou de novo na Suécia (Foto nº 2) . (Apesar de ser cada vez mais difícil o afastamento do Sloppy Joe´s Bar, dos seus daiquiris,e não menos de algumas clientes).

Para mais seria indesculpável passar o Natal à beira da piscina, entre palmeiras (algumas de plástico!) iluminadas com lâmpadas coloridas quando a minha casa na Lapónia está a umas poucas centenas de quilómetros da casa do...Pai Natal na Lapónia finlandesa.

Torna-se mais fácil para ele trazer-me os inúmeros presentes que (obviamente!!!) tenho mais do que...direito!
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Nota do editor:

Último poste da série >  9 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20431: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (1): João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque)

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20438: Dossiê cap cav Luís Rei Vilar - IV (e última) Parte: declarações da segunda testemunha, fur mil op esp , da CCAV 2538, José Manuel Teixeira






Declarações da 2ª testemunha, fur mil op esp José Manuel Teixeira,  da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), natural de Fafe,  no âmbito do processo por ferimento em combate de que resultou a morte do cap cav Vilar; foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da companhia.

Local e data, Susana, 26 de fevereiro de 1970.

Fonte: Cortesia de cor art ref Morais da Silva


Cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970).

Foto: cortesia de cor art ref Morais da Silva


1. Mais uma peça (, para já a última,) do processo do infausto cap cav Luís Rei Vilar  (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva. (*)

Sobre as circunstâncias da morte deste intrépido oficial de cavalaria, no TO da Guiné,  publicámos em 3 postes,  publicar, sob a forma de dossiê, os documentos que nos enviou, gentilmente, o cor art ref Morais da Silva, autor de um notável trabalho de pesquisa sobre os 47 oficiais da Escola do Exército / Academia Militar, mortos em combate, na guerra colonial, que também temos vindo a publicar, no nosso blogue.
Hoje reproduzimos as declarações da 2ª testemunha, o fur mil op esp, José  Manuel Teixeira, natural de Fafe, no âmbito do "processo por ferimento em combate de que resultou a morte [do cap cav Vilar]". Foi instrutor do processo o cap cav Rogério Silva Guilherme, substituto do cap cav Luís Rei Vilar, no comando da CCAV 2538.

Seria interessante poder completar este dossiê com o que diz o relatório da autópsia, que  sabemos que existe, e que já é do conhecimento da família.

Entretanto, sabemos que os irmãos Vilar (Manuel, Miguel e Duarte) se preparam para voltar a Susana, em fevereiro de 2020,   onde há um escola que é frequentada por 700 alunos e tem o nome do valoroso cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970). O meu amigo Duarte Vilar prometeu-me mandar, em breve,  uma notícia sobre o projeto Kasumai e sobre a próxima viagem dos 3 irmãos ao "chão felupe".
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:


5 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20417: Dossiê Cap Cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941- Susana, 1970) - Parte II: declarações do ex-alf mil op esp, da CCAV 2538, Eurico Borlido

Guiné 61/74 - P20437: Lembrete (33): É hoje, 3ª feira, dia 10, às 21h30, em Beja, na Biblioteca Municipal José Saramago, o lançamento do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial" (Edições Colibri, Lisboa, 2019, 220 pp.)




Um das mais de 7 dezenas de crónicas deste livro é sobre o Natal de 1973, o último que os militares portugueses passaram na Guiné. Em Nova Lamego, o autor faz  "o rescaldo de um noite quente e de luar" (pp. 59-61).


1. Recorde-se que é hoje em Beja, na Biblioteca Municipal José Saramago, às 21h30 (*), a sessão de lançamento do último livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu" (**).

No próximo dia 8 de fevereiro de 2020, na Casa do Alentejo, será feita a apresentação do livro em Lisboa.



Ficha Técnica:

Autor: José Saúde
Título: Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: memórias de Gabu
Editora: Colibri, Lisboa
Ano: 2019

Capa: capa mole

Tipo: Livro
N. páginas: 220, ilustradas
Género: Memórias / autobiografia
Prefácio: Luís Graça
Formato: 23x16
ISBN: 9789896899158
Preço de capa: 16€


2. Na página 19, o autor deixa um agradecimento ao nosso blogue de que ele é um ativo colaborador, e de quem sempre tem tido, por parte dos editores, colaboradores e leitores, um especial carinho. Destaco aqui o papel do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro. Recorde-se que o José Saúde foi fur op esp / ranger, CCS / BART 6523 (Nova Lamego / Gabu, 1973/74, tendo mais de 170 referências no nosso blogue.

"Agradecimento 

"Deixo aqui explícito que esta obra surge por via do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné onde habitualmente debito narrativa acerca da minha presença militar por terras de Gabu.

"Uma experiência que ainda hoje recordo com uma sufragada nostalgia e que me conduz a uma literal elaboração de temas que considero transversais a todos os camaradas que partilharam temáticas idênticas durante a sua comissão na guerra da Guiné.

"Procurei, embora de forma sintética, cruzar histórias, deixar para memória futura realidades que nos vão na alma mas que jamais misturemos a veracidade do conflito real, porque entendo que o teor das opiniões resvalam normalmente para o campo de divergências. Neste contexto, fica o meu profundo respeito, bem como a minha enorme admiração por todos os camaradas que pisaram o solo guineense.

"Obrigado Luís Graça pela aceitação da minha pessoa neste universo de antigos combatentes e a tua singela gentileza como sempre me recebeste, não só como camarada de armas mas sobretudo como fidedigno amigo.  José Saúde".

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 
9 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20045: Lembrete (32): Lançamento do livro "Ferrel através dos tempos", do nosso camarada Joaquim Jorge, ex-alf mil, CCAÇ 616 (Empada, 1964/66)... Hoje, em Ferrel em Festa, sábado, dia 9 de agosto, às 17h00