Caro Carlos Vinhal:
As minhas cordiais saudações.
Uma vez que, segundo percebi, estarás com a braçadeira de editor de serviço durante o mês de Abril, a ti dirijo aquilo que espero possa constituir um contributo para o esclarecimento de alguns aspectos da emboscada do Quirafo, oportunamente relatados neste blogue, que muito estimo.
Antes do mais, e em complemento da breve apresentação que o Paulo Santiago já aqui fez da minha pessoa, aquando da publicação no P1230 (Outubro 2006) (*) de uma mensagem que lhe dirigi, em resposta à questão que me colocava sobre o ranger Eusébio, passo a facultar a minha ficha de identificação e algumas fotos, por forma a cumprir escrupulosamente o regulamentado para a adesão à Tabanca Grande:
Nome: Mário Migueis Ferreira da Silva (**)
Data de nascimento: 19/11/1948
Naturalidade: Esposende
Residência: Esposende
Estado civil: casado
Profissão: Bancário (na situação de reformado há cerca de dois anos)
Experiência militar:
Por onde andei:
Após Caldas - Recruta - 4.º turno/69 e Tavira - Especialidade - 1.º turno/70, novamente Caldas como Monitor de Instrução - Abril a Out/70, inclusive.
Seguiu-se a Guiné dos meus sonhos.
Posto: Furriel Miliciano
Especialidade: Reconhecimento e Informação
Unidade: C.C.S. - Q.G. (Bissau)
Colocação: Com-Chefe / Rep-Info (Amura-Bissau)
Função: Serviço de Informações Militares (SIM)
Unidades em que estive em diligência:
Bart 2917 / Bambadinca (Novembro 70 a Janeiro 71, incl.);
CCaç 2701 e CCaç 3890 / Saltinho (Março 71 a Outubro 72, incl.)
Outros sítios importantes onde, ao longo da comissão, estive amiúde, em curtas estadias de serviço ou, simplesmente, em trânsito para outros pontos do território: Galomaro, Bafatá, Nova Lamego, Xitole, Xime, Mansambo, Aldeia Formosa.
(**) Conhecido por Migueis na Metrópole e no Serviço de Informações Militares (em Bissau); conhecido também por Silva em Bambadinca e Saltinho.
Ainda no âmbito desta minha, já longa, apresentação – antigamente, um bater de pala e um papaguear do número mecanográfico resolviam praticamente o problema -, ficam todos a saber que não tive o prazer de te conhecer, Carlos Vinhal, embora tivéssemos estado na Guiné na mesma altura, mas tu em Mansabá, de que muito ouvi, mas não cheguei a visitar. Relativamente aos restantes editores, descobri, já em 2006 (imediatamente após o primeiro contacto que o Paulo Santiago me fez a propósito do blogue, que eu não conhecia ainda), que o fundador Luís Graça era, nem mais nem menos, que o Henriques, que eu conheci na minha estada de cerca de três meses em Bambadinca. Quanto ao Virgínio Briote, não o conhecendo pessoalmente, era (sou) muito amigo do seu irmão Rui, a quem ele, com perceptível e compreensível amargura, já tem aludido em algumas das suas intervenções no blogue, uma vez que, gravemente ferido em combate em Moçambique, o Rui trouxe, no regresso ao lar e para o resto da vida, as sequelas de uma guerra, que, para os que combatiam do nosso lado, acabou por se revelar estéril e, nalguns casos, trágica (além de colegas de liceu, eu e o Rui fizemos parte da melhor equipa de futebol juvenil de sempre do Esposende S.C., que disputou os nacionais de futebol com “Portos, Guimarães, Bragas, Boavistas e outros que tais” no tempo dos famosos “Bébés do Leixões Sport Clube” – haverá algum craque da altura na Tabanca de Matosinhos?!...)
Este último parêntesis, com um pouquinho de futebol à mistura, não será de todo despropositado, já que sou de opinião que não devemos nunca perder a oportunidade de homenagear, recordando, todos os nossos camaradas que, pelos três cantos do mundo, hipotecaram generosamente a sua juventude e o seu futuro a favor de uma causa em que acreditaram ou à qual se viram compelidos a aderir, por razões que todos conhecemos. Por outro lado, suponho ser interessante que fiquem registados no nosso blogue, que é como quem diz, na Verdadeira História da Guerra do Ultramar Português – ou da Guerra Colonial, se preferirdes -, pequenas notas como esta, simples, mas capazes de ajudar a fazer perceber aos restantes portugueses as encruzilhadas de uma geração, feitas de separações, encontros e reencontros daqueles que, sobrevivendo, terão sempre na memória os momentos felizes de fraternal convívio entre si, mas também o drama do(s ) amigo(s ), do(s) parente(s), a dor e a agonia dos feridos em combate, a tragédia da morte violenta de cada camarada.
![](http://1.bp.blogspot.com/_7fkEU8QYw6U/Sed6IEiveUI/AAAAAAAAD9k/hfqjTuOi5TA/s400/Ponte.jpg)
Muitas águas passaram entretanto, mas...
![](http://4.bp.blogspot.com/_7fkEU8QYw6U/Sed6Tvr041I/AAAAAAAAD9s/9gMWo1O452I/s400/Honra+aos+mortos.jpg)
Fotos: © Mário Migueis (2009). Direitos reservados
2. Comentário de CV
Desculpa, caro Mário, cortei-te a palavra.
Os nossos leitores só vão perceber isto no próximo poste que te dedicar.
Este fica por aqui e será a tua apresentação à Tertúlia. Acrescento, e que apresentação.
Parece que não precisas de ser incentivado a escrever, pela amostra, pelo que nesta parte estamos arrumados. Venham os teus textos e as tuas fotos (legendadas, por favor) para serem publicados.
De facto não nos conhecemos, até porque andei dois turnos à tua frente nas Caldas da Rainha, fiz a Especialidade em Vendas Novas, e cheguei à Guiné sete meses antes de ti.
Com respeito aos bebés do Leixões, sou do tempo deles e fui colega de Escola Secundária de alguns. Havia um, o João Nunes, penso que o n.º 6. que era meu colega de turma. Também joguei a bola, no recreio, com o Barros que chegou a jogar no Benfica, o Chico, já falecido, que jogou no Sporting e que era irmão do Horácio que jogou sempre no Leixões, o Nicolau, hoje treinador de futebol. Havia ainda o Fonseca, célebre guarda-redes, ainda o vejo por Matosinhos, embora não tenha nenhum relacionamento social com ele. Eram tantos que se perde a conta. Tudo rapazes que o senhor Óscar descobria na Praia de Matosinhos e nos pequenos clubes da área. Mas reparo que o Chefe não me paga para falarmos de futebol.
Tenho aí em Esposende, além de uma familiar, dois amigos, ex-combatentes da Guiné. O Veiga Pereira, meu companheiro no Curso Industrial que pertenceu à CCAÇ 2405 e o seu irmão de nome André, se a memória não me falha, que era da 28.ª CComandos, e que esteve comigo em Mansabá.
Quanto a ti, convido-te, se para tal tiveres disponibilidade, a participar no nosso IV Encontro a realizar em Ortigosa, Monte Real, Leiria, no próximo dia 6 de Junho.
Apresentação feita, deixo-te o tradicional e indispensável abraço de boas-vindas em nome da Tertúlia, com votos de que contribuas o mais possível para escrever a Verdadeira História da Guerra do Ultramar Português, utilizando as tuas próprias palavras nesta tua apresentação.
Teu camarada
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1230: Onde se fala do Henriques da CCAÇ 12, do ranger Eusébio e da tragédia do Quirafo (Mário Miguéis)
Vd. último poste da série de 12 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4177: Tabanca Grande (133): Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69