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quarta-feira, 8 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23336: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVII: O "meu" regresso à Guiné (3): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um guia, e, em vez de um grupo de combate, um grupo de excursionistas...


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > “E o que vês tu, marinheiro, lá desse mastro real”?..." Vejo paisagens de sonho e um país surreal"...


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Mariscador... Não, não é uma pintura, é mesmo uma fotografia


Foto nº 13 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um pequeno e frágil paraíso... Com menos 48 m2 (e 4 mil habitantes), mais de um terço fica inundado na maré-cheia..



Foto nº 14 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Um paraíso (ainda) para a vida selvagem... e com uma grande mancha florestal... 


Foto nº 15 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ave marinha...


Foto nº 16 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Os bijagós têm sido apontados com uma das escalas do tráfico de droga internacionao... Bubaque é a ilha mais afetada, desde há mais de um século, pela presença dos europeus.. Chegou a ser colónia alemã! (*)


Foto nº 17 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > O turismo é das poucas atividades económicas da região de Bolama / Bijagós... Uma oportunidade e uma ameaça: a ilha não tem água potável, saneamento básico, recolha de lixo...  E os Bijagós são um dos dos 10 sítios mais vulneráveis do planeta...


Foto nº 18 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda havia gado à solta... Mais recentemente tem havido denúncias de roubos... Os ladrões também gostam do paraíso..


Foto nº 19 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > "Para onde vamos?"... " Só sei que vamos... Para onde não sei!"...


Foto nº 20 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >-Bissau > Bijagós > Adeus… Até ao meu Regresso

Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor do ensino secundário
(os últimos 20 anos em Gondomar.

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Setá apresnetado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gomdomar (**).


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (***)

Parte XXVII - O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - II (e última) Parte  (**)

A visita ao Arquipélago dos Bijagós (por interposta pessoa, o meu filho, Tiago Costa)  > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa)  (Vd. acima fotos, numeradas  de 10 a 20)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

(...) A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (...).

É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). 

Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)


Excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Instituto de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23334: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVI: O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - Parte I


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > 2008 >A engenharia (sendo o Tiago Costa o segundo da esquerda) bebendo umas cervejas no antigo "Clube de Oficiais no Saltinho"



Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto nº 2B

Fotos nº 2, 2A e 2B  > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > Rio Corubal > A engenharia foi a banhos nos rápidos do Saltinho 










Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor e adminsitrador escolar no  ensino secundário  (os últimos 20 anos em Gondomar

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Será apresentado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gondomar (*).



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)


Parte XXVI - O "meu" regresso à Guiné (2):  Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - Parte I (**)



Enfim! Pontes e não mais muros, sejam eles de betão ou de arame farpado.

Mas só pontes não bastam, mais que tudo é preciso educação… paz, pão, habitação…Liberdade...

A Guiné entranhou-se de tal forma no nosso corpo que a tudo o que aí acontece os nossos sentidos reagem. Ansiamos mais que tudo por boas notícias, que infelizmente tardam a chegar.

Este poste  mostra as extraordinárias potencialidades deste país que teima em não encontrar o caminho da paz e do desenvolvimento. Meio século após a proclamação da independência as notícias que ainda chegam são de guerra. Não contra um inimigo externo, mas sim, inexplicavelmente, uma guerra fratricida sem fim.

Como já alguém disse (com muita propriedade) a Guiné não nos sai da cabeça... Extraordinário a quantidade de ONG criadas por ex combatentes na ajuda ao desenvolvimento desta terra, que se nos entranhou.

Eis a Guiné que muitos de nós nunca viu Ue de que chema imagens atrvavès do Tiago Costa, meu filho Tiago, engenheiro civil da Soares da Costa,  que esteve a a trabalhar na Soares da Costam na Guiné, de 2007 a 2009, na construção de uma ponte sobre o rio Cacheu, junto a S. Vicente, financiada pela União Europeia, a pomte



A visita ao Arquipélago dos Bijagós  (por intreposta pessoa, neste caso o Tiago Costa, meu filho) > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa) - Parte I




Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 >  A mulher dos Bijagós: “O que dizem os teus olhos”?



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Dia de festa (creio que o carnaval)...“Manga de Ronco”!!


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 > Em dia de festa a melhor indumentária...para impressionar as Bajudas!!!


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Não parece mas estamos na Guiné. Um resort numa das Ilhas paradisíacas dos Bijagós.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda há encantos destes...


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Aves marinhas...


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Encantos de recantos...



Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"

domingo, 8 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"


Convite do autor, Joaquim Costa, para apresentação do seu livro "Memórias de Guerra de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", no próximo dia 11 de junho de 2022, sábado, pelas 11h00, na Tabanca dos Melros, Quinta do Chouoal dos Melros, ria de Cabanas, 175, 4510-506 Fânzeres. Apresentação a cargo do editor do nosso blogue, Luís Graça. (*)


O livro  "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp., pode ser pedido diretamente ao autor, através do email jscosta68@gmail.com

O valor é de 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro. Não esquecer de indicar o endereço postal.

Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, Os Tigres do Cumbijã (Cumbijã, 1972/74) é natural de V. N. Famalicão. Engenheiro ténico e professor reformado, vive em Fânzeres, Gondomar.

E numa primeira "nota de leitura" deste livro, o Luís Graça já aqui repoduziu o que escreveu nas pp. 177/178.

Nota final, por Luís Graça (pp. 177/178) (**)

Em boa hora o Joaquim Costa decidiu, no princípio do ano de 2021, deixar de ser um “consumidor  passivo”, um simples leitor,  do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, para se tornar um “elemento ativo”, um “autor”…  E começou logo,  ainda em plena pandemia de Covid-19, a pré-publicar alguns excertos (cerca de  2 dezenas) do livro que agora deu à estampa. Todos ficámos a ganhar, a começar por ele, que, ao  expor-se-à crítica dos leitores, muitos deles antigos combatentes, receberia em troca  cerca de 170 comentários “a quente”.

O que seguramente ajudou a melhorar a versão final deste livro que eu saúdo e agradeço: vem enriquecer o património literário e documental da Tabanca Grande, que é uma tertúlia virtual centrada na experiência de uma guerra, a guerra colonial (1961/74),  e em particular a da Guiné, sendo porventura  a maior tertúlia do género, em português, quer pelo número de visualizações do blogue (cerca de 13,2 milhões, desde 2004) quer pelo número dos seus membros registados (N=854) e ainda pelo volume de memórias partilhadas. Memórias mas também afetos. E este livro é sobretudo  um livro de afetos.

O Joaquim Costa é mais um talento literário que o nosso blogue veio revelar,  com a particularidade de, sendo um bom minhoto, a sua  prosa ter também belos nacos do português camiliano, a começar pela ironia,  o humor e até o sarcasmo, tão bem patentes na reconstituição de algumas das suas memórias de infância e na evocação da sua família, bem como na descrição de cenas da vida castrense.

Já tive ocasião de lho dizer, e agora  passo a  partilhá-lo com os seus futuros leitores: Joaquim, quisestes escrever um livro com uma parte da tua história de vida,  que é também a de muitos de nós, e que quiseste dedicá-lo aos que te amam e estimam.  A tua narrativa  tem momentos portentosos sobre a epopeia de Cumbijã e de Nhacobá, os seus bravos e as suas vítimas.  Um dia, quando fizermos uma antologia dos nossos melhores textos, o teu testemunho, na 1ª pessoa, sobre a Op Balanço Final (17-23 maio 1973), por exemplo,  terá que lá figurar, com toda a justiça.

A historiografia militar pode, em  meia dúzia de linhas secas, telegráficas, resumir aquela “guerra de baixa intensidade”, num contexto geopolítico marcado pela guerra fria e o fim dos impérios, mas que não foi feita   para “meninos de coro”, como todas as guerras... Mas faltar-lhe-á, por certo, à escrita do historiador, o nosso "sangue, suor e lágrimas", que na Guiné, no meu e no teu tempo,  não foi uma figura de retórica. E é bom que os nossos filhos e netos saibam, por fim,  que ali não fizemos só a guerra mas também a paz.

Joaquim Costa, ex-fur mil,
CCAV 8351, Os Tigres do Cumbijã,
Cumbijã, 1972/74


Obrigado, Joaquim,  também por dares voz a muitos combatentes, de um  lado e do outro,  que nunca tiveram nem terão  oportunidade de escrever,  e muito menos de publicar, sob  chancela editorial,  as suas “vivências” sobre aquela guerra e aquela terra (que, estranhamente, acabou por ficar no nosso coração, contagiando até os nossos filhos). E muitas memórias vão morrer connosco...

Não quero acabar esta nota sem referir os sucessivos murros no estômago que, metaforicamente falando, recebeste, a começar pelo batismo de fogo, as primeiras minas e emboscadas, o primeiro morto...   Na realidade, aqueles de nós (e fomos muitos) que passámos por essa dura, trágica, traumática experiência, sabe dar valor às tuas palavras onde há raiva e impotência mas também coragem e dignidade, quando falas do primeiro camarada que morre ao teu lado.

O batismo de fogo era sempre uma situação-limite... O coração ficava a bater à velocidade Match 1...Depois, era como tudo: a guerra (e a morte) banalizava-se, tornava-se uma certa rotina... 

Mas os "embrulhanços" eram sempre temidos, de um lado e do outro... As balas eos estilhaços das granada ou o sopro das minas (antipessoais e anticarro) não tinham código postal... Era a roleta russa...

Mesmo sem quereres fazer juízos de valor sobre a legitimidade, a condução e o desfecho daquela guerra, acabas por nos mostrar, com fino mas cáustico humor, que às vezes acontecia sentirmo-nos como um bando de cegos, comandados por outros cegos, à beira de um precipício. Felizmente voltaste, “são e salvo”,  para escrever este livro e dares mais valor e força à liberdade, à justiça, à paz e à solidariedade.

Luís Graça, sociólogo, 

editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

____________

(**) Vd,. poste de 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22861: Notas de leitura (1404): Joaquim Costa, "Memórias de guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina. Guiné: 1972/74", Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp. - Parte I: "E tudo isto, a guerra,para quê ? Não sei"...

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23149: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXV: O "meu" regresso à Guiné (1): Enfim, pontes em vez de...muros!

 

Foto  1>  Guiné-Bissau>  Região do Cacheu > Rio Cacheu > S. Vicente >  2010 > Ponte de S. Vicente (Ponte Europa) sobre o Rio Cacheu, ligando S. Vicente ao Ingoré.  Construída pela Soares da Costa.


Foto 2> Guiné-Bissau> Região do Cacheu > Rio Cacheu > S. Vicente > 2008 > Ponte de S. Vicente em construção. Vd. blogue criado na altura por Pedro Moço (e que ainda está "on line"). obre o período de outubro de 2007 a junho de 2011. Tiago Costa também lá escreveu.



Foto 3 > Guiné Bissau> Região do Cacheu > S. Vicente > A travessia do Rio Cacheu, antes da ponte, era feita por um "ferry" que transportava veículos e pessoas (e, claro, porcos galinhas a cabras!), de seu nome “Saco Vaz”. nome de um herói de guerra guineense




Foto 4 > Guiné-Bissau> Região do Cacheu > Rio Cacheu > S. Vicente> 2009 > Mais uma travessia da “Saco Vaz”, depois de longos dias parada devido a mais uma avaria. Em frente a ponte promete desenvolvimento, contudo a "Saco Vaz"  vai deixar saudade…



Foto 5 > Guiné-Bissau> Região de Cacheu> S. Vicente> 2008 >  Festa de Natal > A cumplicidade com as gentes de S. Vicente mitigava as saudades de Portugal. Ninguém fica indiferente à afabilidade destas gentes. Como família se reuniram nos estaleiros da empresa para festejarem, conjuntamente, o Natal, onde as prendes às crianças, como em qualquer outra família, é o ponto alto da festa> 

 

Foto 6> Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Rio Cacheu >  S. Vicente > 2009 >  Jaime Gama,  chefiando os representantes dos financiadores da obra (a União Europeia), numa visita à construção da ponte, cujo nome oficial é “Ponte Europa”. O Tiago Costa é o quarto a contar da direita. É engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

A ponte Euro-africana tem 730 metros de comprimento, 11 metros de largura total,  dividido em duas faixas de rodagem de três metros e meio e dois passeios. O finaciamento da UE foi de 31 milhões de euros.



Foto 7 > Guiné Bissau> Cacheu> S. Vicente > A equipa de trabalhadores da Soares da Costa que construiu a Ponte de S. Vicente. O  Tiago Costa é o terceiro da esquerda da primeira fila.



Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > S. Vicente> A equipa de trabalhadores guineenses contratados pela Soares da Costa (Era conhecida pela equipa maravilha!) 


Fotos (e legeendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor.

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)


Parte XXV - O "meu" regresso à Guiné (1): Enfim!, pontes em vez de muros


Aproveitando o facto de ter o meu filho Tiago (Engenheiro  Civil da Soares da Costa) a trabalhar na Guiné (de 2007 a 2009), na construção de uma ponte sobre o rio Cacheu, junto a S. Vicente, considerei fortemente a possibilidade do meu regresso à Guiné, aproveitando toda a logística da empresa em termos de mobilidade e segurança. 

Fui planeando com entusiasmo o meu regresso não só aos locais mais marcantes no tempo de guerra, mas também, uma visita às várias ilhas do arquipélago dos Bijagós, e, se possível, ao Senegal e à Gâmbia. Por razões várias, a visita foi sempre adiada e, infelizmente, nunca chegou a acontecer.

Concretizei o “regresso”, por interposta pessoa, neste caso o meu filho, que não obstante as dificuldades colocadas na construção de uma ponte de grande complexidade no meio do nada e onde tudo falta, deu ainda para conhecer toda a Guiné continental, as mais importantes ilhas dos Bijagós e fazer umas incursões aos "resorts" do Senegal e da Gâmbia.

 

Imagens arcantes durante a construção da ponte. 


Foto 9 > Guiné Bissau> Região de Cacheu> S. Vicente> A segurança do estaleiro da Soares da Costa era levada muito a sério. Para além do musculado guarda, havia sinalética  (ISTOP) e equipamentos de intrusão sofisticadíssimos 


Foto 10


Foto 11

 
A grande família da Obra de S. Vicente, na Guiné-Bissau, conta com um novo e surpreendente membro. O seu nome é Vicentina, tem uns poucos meses de idade, e uns belos e sedutores olhos castanhos. (Fotos  1o e 11).

A Vicentina rapidamente seduziu todos os trabalhadores, com o seu ar frágil e inseguro, e a sua graciosidade própria das gazelas.

Dada a sua tenra idade, foi no início da sua estadia alimentada a biberão, com toda a paciência e desvelo. Passada a infância, mais arisca, mais confiante, já se desloca pelo estaleiro, comendo tudo o que é verde no jardim, e confraternizando com a restante equipa técnica. Foi a mascote da obra e já faz parte das vidas de todos, com o seu ar que desperta ternura.

Seria uma ótima companhia para a Cabra Joana que a minha Ccav 8351 trouxe de Nhacobá para o Cumbijã, em 1973, na operação Balanço Final.

(Fonte: Fotos 9, 10 e 11: Cortesia do blogue Construção da Ponte S. Vicente - Guiné Bissau

(Continua)

_________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23057: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIV: O regresso a casa, com a cidade do Porto a abrir os seus braços só para mim

terça-feira, 22 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23100: In Memoriam (433): Joaquim Bonifácio Brito (1950-2022), um Tigre do Cumbijã (CCAV 8351, 1972/74), que ficou em Bissau até à guerra civil de 1998, como empresário na área da restauração, e que agora vivia no Algarve (Joaquim Costa)



Joaquim Bonifácio Brito (1950 - 2022)


1. Mensagem do Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, autor do livro "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74" (Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.)

Data - 22 mar 2022 00h42
Assunto - Mais um Tigre do Cumbijã que nos deixou

Amigo Luís, 

Recebi hoje a triste notícia que mais um dos bravos Tigres de Cumbijã. Joaquim Bonifácio Brito (*), a viver no Algarve, acabou de falecer.

Uma semana atrás tinha falado com ele a propósito do meu livro e continuava entusiasmado com a vida,  dando-me a conhecer alguns projetos na área da restauração.

Este camarada, da minha companhia (CCav 8351), e do meu pelotão, não regressou com a companhia, ficando em Bissau abraçando uma nova vida como empresário da Restauração.

Manteve-se na Guiné, resiliente, não obstante os vários episódios de tentativas quase mensais de golpe de Estado.

Já não resistiu à guerra civil, entre os fiéis a Nino Vieira e Ansuname Mane, sendo resgatado com toda a família, apenas com a roupa que tinham vestido, na operação Crocodilo (junho de 1998).

Tudo lá deixou, depois de 25 anos de trabalho no país que adotou, pois segundo ele o seu restaurante servia uma média de 100 refeições por dia.

Contudo sempre manteve um carinho muito especial pela sua Guiné. Nos encontros anuais de 2007 a 2009, sempre me procurava a saber notícias de Bissau sabendo que o meu filho Tiago Costa  fazia parte da equipa que estava a construir uma ponte no Cacheu, em São Vicente.

Sendo o nosso Blogue uma fonte de informação que chega a todos os cantos do mundo, gostaria de lhe deixar, aqui, a minha pequena homenagem a um homem que amou a Guiné.

As minhas condolências à família

Camarada Tigre, Joaquim Brito, estejas lá onde estiveres, espero que estejas em Paz.(**)

Joaquim Costa

___________

Notas do editor:

Último postea da série > 

(*) 12 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23072: In Memoriam (432): António Brandão de Melo (1950-2022), ex-Fur Mil Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74)

terça-feira, 8 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23057: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIV: O regresso a casa, com a cidade do Porto a abrir os seus braços só para mim



Porto > Parte Ribeirinha da Zona Histórica do Porto, ao final do dia > c. 2016 > Foto do nosso saudoso camarada, e grande fotógrafo, amante da "Invicta", o Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017) (ex-Fur Mil Arm Pes Inf, Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70). Publicada em 5 de setembro de 2016, na sua página do Facebook Jorge Portojo  (seu nome artístico), a escassos meses da sua morte, em 7 de abril de 2017. Reproduzido aqui com a devida vénia...

Quem vem e atravessa o rio
junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende até ao mar.

(...) E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa.

letra de Carlos Tê, música de Rui Veloso)



Foto nº 1 > Uma imagem vale mais do que mil palavras...O Joaquim Costa, de braços abertos


Foto nº 2 >  O Vago Mestre Ferreira, o homem do arroz com estilhaços e o amigo Machado de óculos escuros


Foto nº 3 > O meu grande amigo Afonso... O homem da “caminhada louca” com o olhar cúmplice da sua esposa Luísa

Sobral do Monte Agraço> 20 de Abril de 2002 > O meu 1.º encontro-convívio, o 6º da CCAV 8351, "Os TIgres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74)

Fotos (e legeendas) © Joaquim Costa  (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor.

Já saiu o seu livro de memórias (, a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (**)

Parte XXIV - O regresso a casa

Estranhamente o dia da partida e a viagem para Portugal foram vividos quase em silêncio. Só quando se avistou Lisboa,  o pessoal gritou de felicidade e cantou: “cheira bem cheira a Lisboa”, mas sem grande entusiasmo. 

Sentia-se um ambiente estranho. Alegre, descontraído e ao mesmo tempo contido. O fim das hostilidades e uma pequena brisa do vendaval do PREC, que também chegou ao Cumbijã, talvez possam explicar esta melancolia.

Chegados a Lisboa, foi tudo muito rápido: Partida para um quartel que não faço ideia qual, nem onde fica, desfazendo-me de tudo que me recordasse a Guiné (deitei, literalmente, tudo num caixote de lixo, até os “roncos” de Nhacobá e muitas fotografias)... 

E mal nos despedimos uns dos outros, apenas uns acenos de circunstância com aqueles que nos cruzavámos na azáfama de nos libertamos “rapidamente e em força” (onde é que eu já ouvi isto?) dos último três anos.

Chegado ao Porto (Campanhã), pese embora a sofreguidão em rever a família, uma força vinda das entranhas, levou-me ao centro da cidade, apanhando um comboio com destino à estação de S. Bento com o dia ainda a romper. 

Quatro anos de estudante fizeram desta cidade a minha casa. A esta hora poucas pessoas se viam nas ruas e nos transportes. Senti a cidade a abrir os seus braços só para mim. Foi a primeira sensação do regresso a casa,  depois de uma longa e cansativa viagem.

Caminhei quase sozinho pelos Aliados, sentindo a falta do café Astória e do Imperial, este com a sua imponente porta giratória e o engraxador residente. Subi os Clérigos, passei pelo Estrela, o Aviz, o Piolho e ainda pelo Ceuta, felizmente, tal como os deixei. 

Respirei fundo várias vezes, chegando mesmo a limpar uma lágrima por este abraço da cidade que adotei e se me entranhou.

Durante uns anos nem falei nem queria ouvir falar da Guiné. Encontrei mais tarde o Portilho, o Albuquerque, o Beires, o Parola, o Félix e o Caetano em Itália (Veneza), em conversas de circunstância, não fazendo uma única referência à Guiné, procurando abreviar a conversa e fugir daqueles encontros como a fugir do passado recente.

Passados 28 anos depois do regresso da Guiné,  fiquei maravilhado com a carta do Tomé a convocar-me para o 6º encontro da companhia, em Sobral de Monte Agraço.  Com o entusiasmado até as lágrimas me vieram aos olhos com a perspetiva de rever aquela maravilhosa família.

No dia marcado lá abalei eu, mais nervoso do que quando embarquei para a Guiné.

Chegado ao local marcado na carta do Tomé: o mercado municipal, avistei, ainda dentro do carro, um grupo de idosos, não reconhecendo ninguém comentei com a minha mulher e o meu filho Ricardo: "De maneira nenhuma este grupo de idosos (já mais para lá do que para cá), é o pessoal da minha companhia"...

Abri a janela do carro e perguntei a uma pessoa que passava se aquele edifício, onde estavam os idosos, era o mercado municipal, confirmando que sim. Vai daí telefonei ao Tomé a saber se o grupo já tinha abalado para a igreja. Informa-me que não e que todo o pessoal ainda se encontrava junto ao mercado. 

Entretanto, o meu filho Ricardo, que tinha visto comigo, nos dias anteriores, as fotografias da Guiné que tinham escapado ao caixote do lixo em Lisboa, identificou o Afonso. Afinal, aquele grupo de idosos eram os temidos Tigres do Cumbijã

Tal como na Guiné, mantive o hábito de não me ver ao espelho!!!

(Continua)

3. Capa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.(*)

O livro, saído neste último Natal de 2021, aguarda a melhor oportunidade para a sua apresentação ao público.

Mas podem desde já serem feitos pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro.

Os pedidos devem ser feitos para o e-mail:


indicando o endereço postal.



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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 1 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22954: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIII: Velhice vai no Bissau, Ó-lé-lé...lé-lé...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22954: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXIII: Velhice vai no Bissau, Ó-lé-lé...lé-lé...


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Buba > CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74 > 27 de Junho de 1974> O pessoal  "instalado" na LDG batizada com o nome do nosso capitão, Vasco da Gama, a caminho de Bissau... “Tudo ao molho e Fé em Deus”... Nada de euforias!


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351 (1972/74 >  25 de Junho de 1974 > Aqui vamos nós… sem euforias... a caminho de casa
 
Fotos (e legendas): © Carlos Machado / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto 3 > Guiné > Bissau > c. 1960/70 > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). (Cortesia do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor.

Já saiu o seu livro de memórias (, a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça (*)



Paz &  Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (**)

Parte XXIII - … VELHICE VAI NO BISSAU, “Ó-LÉ-LÉ-LÉ-LÉ…”


Entretanto, lá chega o dia, há muito desejado, de deixarmos o Cumbijã, com destino a Bissau (riscando o último “pau” na caserna), em trânsito para a peluda.

Coisa estranha!,  na partida não se sentia o entusiasmo normal destas situações. Compreensível, tendo em conta o fim (ainda que tacitamente) das hostilidades.

Deixamos o Cumbijã à guarda da companhia que havia abandonado Guileje, a CCAV 8350. Um reencontro, fraterno, mas estranho, depois de Estremoz. O normal seria a nossa substituição por periquitos e não por alguém tão velhinhos quanto nós, como era o caso da CCav 8350. Estava, obviamente, em curso algo de injusto para uma companhia que passou por um dos momentos mais dramáticos da guerra na Guiné.

Ao passarmos o cavalo de frisa, abandonando definitivamente Cumbijã, uma lágrima senti ao canto do olho. Não sei se de alegria pela partida, se de tristeza pelas perdas e sofrimento de tantos camaradas e elementos nativos, questionando-me: porquê?

Afinal tudo se resolveu da noite para o dia (de 24 para 25 de Abril de 1974)!? Eu, só sei que não sei! Alguém que me explique,  que eu estou muito cansado...

Ao fazermos o caminho de Cumbijã para Buba  (Foto nº 1) para apanharmos a LDG para Bissau, junto à bolanha das “Touradas”, um grupo de elementos do PAIGC emerge da mata, armados até aos dentes e nós já completamente desarmados (senti arrepios na espinha), acenando com as mãos e as armas. 

Foi um momento muito estranho, dava a sensação que do dia para a noite o mundo tinha virado do avesso. Ficamos na dúvida se foi um gesto fraterno ou de alívio (passe a presunção). Grupos do PAIGC tinham já ido, creio eu, a todos os aquartelamentos da zona numa visita de cortesia e ao mesmo tempo para falarem com as populações sobre os rápidos desenvolvimentos que iriam conduzir à independência.

Vivi com alguma perplexidade, a forma como gerimos o fim das hostilidades. Esta feliz fotografia publicada no Blogue (paradigma do momento) fala por si!


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974: visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, fazendo as "honras da casa" (*). O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado.)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Um dos beligerantes sempre se apresentando armado até aos dentes enquanto o outro, completamente desarmado, de mãos nos bolsos e de palito ao canto da boca.

Muita... muita negligência, muita descontração e muita “fé...zada” que o Natal é todos os dias…

Nunca a companhia se encontrou ou falou com grupos do PAIGC, nem nunca fomos contactados para os receber (talvez porque não tínhamos população?). Soubemos que passados uns dias depois da nossa saída, estes entraram, a seu pedido, em Cumbijã.

Em Bissau foi descanso, muitos bifes com batatas fritas, muita...muita ostra, com cerveja e ás vezes, imaginem! vinho verde branco fresquinho.

A minha perceção, chegado a Bissau, era o de um clima de “fim de guerra” e ao mesmo tempo tenso.

Só conheci Bissau, fugazmente, nos momentos de partida e regresso de férias, pelo que não dava para comparar. Contudo, era evidente um ambiente de descompressão, que sempre acontece com o fim da guerra, por parte dos militares, mas, ao mesmo tempo, de um nervosismos indisfarçável dos europeus aí residentes: quadros de empresas, funcionários públicos e principalmente comerciantes. O semblante do proprietário da escola de condução, meu instrutor, onde tirei a carta, gritava através do seu silêncio ensurdecedor em cada aula.

Quanto à população em geral a vida continuava, nas suas rotinas de sempre, como se nada tivesse acontecido… ou estivesse para acontecer.

Deu para comprar um terço de um carocha (o carro pertencia a 3), onde o Gouveia me ensinou a conduzir, e um relógio “Citizen” (excelente relógio que ainda hoje funciona) para gastar os últimos pesos

Deu ainda para tirar a carta de condução, em tempo recorde, graças às lições do Gouveia (no meu ⅓ de carocha), com exame no dia anterior ao embarque para Portugal. Incumbi o camarada Mourato, furriel periquito do meu pelotão, para me enviar a dita carta logo que estivesse pronta. 

A carta tardou tanto a chegar que resolvi inscrever-me numa escola de condução para tirar uma nova. Felizmente, antes do exame lá recebi o dito papel com as desculpas do Mourato que não a enviou, por correio, com receio que a mesma não chegasse ao destino dada a anarquia reinante de fim do império. Acabou por ma enviar já em Portugal.

Galinha Gorda... por muito dinheiro

Já em Bissau (a conhecer e a viver um pouco do seu dia dia), éramos chamados a fazer proteção à cidade.

Bissau, em grande parte do seu perímetro, tinha uma proteção de arame farpado com vários pontos de vigia ao longo do seu percurso.

Quando entrava de serviço, uma das funções era fazer a ronda, de jipe com um condutor, por todos os postos de vigia assegurando que todos os soldados estavam nos seus postos e em alerta. Era evidente o desleixo nos postos de vigia dado que se tinha já interiorizado que a guerra tinha acabado.

Num dos postos de vigia, da responsabilidade de soldados da companhia, parei para conversar um pouco. Logo me arrependi porque de imediato vem na minha direção uma mulher esbaforida, a queixar-se de não sei do quê, não conseguindo perceber absolutamente nada do que dizia dada a pressa com que falava. Apercebo-me que os soldados,  em vez de ficarem comigo para me protegerem daquele “ataque” de fúria da mulher, todos se afastam, com um sorriso entre dentes.

Percebi logo que havia história. A mulher, um pouco mais calma, vai ao chão e pega numa pena de galinha e aponta para os soldados. Mistério fácil de desvendar, para este “Sherlock Holmes” do Cumbijã. Estamos perante um crime cheio de rabos de palha: o rancho do almoço estava intacto e junto ao posto de vigia uma fogueira ainda mal apagada.

Exerci a minha autoridade (?) fazendo uma acareação entre as partes. Dizia a mulher: "Estes militares foram à minha tabanca, roubaram, mataram e comeram a minha galinha".

Os soldados afirmaram: "Concordamos com tudo o que a mulher disse menos o rouba da galinha já que foi a mesma (a galinha) que entrou, sem autorização, no nosso posto de vigia, pondo em risco a nossa segurança"…

Assim se chegou à reconstituição do “crime”: Um soldado, que já tinha feito ali serviço, tomou de ponta aquela galinha. Trouxe umas sementes da caserna para a aliciar a entrar na guarita seguindo o carreiro de sementes, deixadas por ele, da tabanca até à guarita, acabando aqui por a matar. Perante a galinha morta, depois de conferenciarem, tomaram a decisão mais sensata de assá-la e comê-la.

Todos assumiram o pecado da “gula” ao afirmarem: "Assámos a galinha e todos a comemos. Soube-nos também como se fosse roubada... mas não foi!"

Afinal não foi nada fácil atribuir culpas, pelo que fui colocando pesos (dinheiro) na mão da mulher até ela se calar. Ou seja: Paguei, mas não comi… mas também não pequei de gula!

Continua...


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Capa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.(*)

O livro, saído neste último Natal de 2021, aguarda a melhor oportunidade para a sua apresentação ao público. 

Mas podem desde já serem feitos pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seu NIB que será enviado juntamente com o livro.

Os pedidos devem ser feitos para o e-mail: jscosta68@gmail.com, indicando o endereço postal.
__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22861: Notas de leitura (1404): Joaquim Costa, "Memórias de guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina. Guiné: 1972/74", Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp. - Parte I: "E tudo isto, a guerra, para quê ? Não sei"...

(**) Último poste da série > 16 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22911: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXII: Os torneios de futebol e a Cilinha que não veio, e a notícia do 25 de Abril que só chegou a 26...

Postes anteriores (faz agiora um ano que começámos a publicar esta série, que já deu um livro):

20 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22824: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXI: A "marcha louca" na véspera do Natal de 1973

26 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22754: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XX: outras guerras, outros protagonistas: os mosquitos, as abelhas, as formigas, as matacanhas...

12 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22711: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIX: As hortinhas... dos "durões"

2 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22682: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVIII: A ração de combate

11 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22621: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVII: a minha "bigodaça”... que tanto incomodou os senhores da guerra

22 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22561: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XVI: O regresso de férias e o terceiro murro no estômago

31 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22499: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XV: Férias em julho/agosto de 1973... e o teste da cerveja

25 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22482: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIV: " Bora lá... para a nova casa, Nhacobá" (Op Balanço Final)


8 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22350: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final)

23 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22308: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI: Op Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o dia mais longo

7 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22261: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte X: a segunda "visita dos vizinhos" (com novo ataque ao arame)

26 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22225: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IX: O primeiro murro no estômago

1 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22159: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VIII: A primeira visita... dos "vizinhos", com ataque ao arame!

13 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22100: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VII: Cumbijã: a nossa modesta casinha, os picadores e a crueldade das minas

24 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!

23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22028: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte V: As nossas lavadeiras... e o furriel 'Pequenina'

12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21996: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IV: O embarque, as 'hospedeiras'… e África Minha

27 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21953: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III: Depois de Chaves, Estremoz, RC 3, onde fomos formar companhia...

13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)