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terça-feira, 16 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11405: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (9): Resposta nº 17: Hélder de Sousa,ex-fur mil de Trms TSF (Piche e Bissau, 1970/72), membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente




Guiné > Bissau > Foto nº 1 > O Hélder de Sousa junto ao cais.




Guiné > Bissau > Foto nº 5 > O Hélder de Sousa em dia de aniversário, junto ao palácio do governador



Guiné > Zona leste  > Piche > Foto nº 11 >  Algures... em Piche

Fotos do álbum (esquecido...) do Hélder de Sousa


Fotos: © Hélder de Sousa  (2007). Todos os direitos reservados

A. Continuação da respostas ao inquérito por questionário aos nossos leitores. Resposta nº 17: Hélder de Sousa, ex-fur mil de TRMS TSF (Piche e Bissau, 1970/72), ribatejano, engenheiro técncio, residente em Setúbal, membro da Tabanca Grande desde abril de 2007 e nosso colaborador permanente:

Caros camaradas
Aqui vai a minha colaboração com as respostas às questões colocadas a propósito do 9º aniversário do nosso Blogue.

Saiu um pouco mais extenso do que o 'estilo telegráfico' que poderia ser mais fácil de ler mas fui pensando e escrevendo e reflectindo e acabou por sair o que vos envio.

Um grande abraço.


B. Resposta nº 17 >  Hélder de Sousa

Eu e o nosso Blogue

A propósito do próximo 9º aniversário deste espaço de partilha de memórias e afectos, que é o Blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné”, foi lançado um repto aos seus leitores, acompanhantes, membros e participantes, incluindo os ‘vigilantes’, para responderem a um pequeno inquérito, o qual poderá servir para melhor caracterizar o futuro do Blogue, conhecendo as motivações, os gostos e as expectativas daqueles que responderem.

Deste modo, segue-se o meu contributo.

As questões são:

(1) Quando é que descobriste o blogue?
(2) Como e através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando?
(4) Com que regularidade vês/lês o blogue? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)
(6) Conheces também a nossa página no Facebook? (Tabanca Grande Luís Graça)
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais?
(13) Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.



E as respostas são, pela mesma ordem:

1. Descobri [o Blogue]  em Fevereiro de 2007.

2. Depois de muitos anos em que a lembrança da Guiné era ‘calada’, embora cada vez mais fosse mais forte o apelo, encontrei o “Diário [da Guiné”,  de António Graça de Abreu,  e, através dele, pesquisando nos ‘links’ que lá se encontravam, cheguei ao Blogue.

Comecei a ler, cada vez de forma mais intensa, comovendo-me, irmanando-me, divertindo-me com o que ia lendo e a ‘projectar’ muitas vezes a vivência daqueles tempos.


3. Na sequência do que acima escrevi e para mais concordando inequivocamente com os ‘estatutos’, ‘regras de conduta’, ou lá o que quiserem chamar, balizando os comportamentos dos intervenientes, acabei por decidir que era um espaço que queria compartilhar e pedi para ‘entrar’ de modo a participar no II Encontro que ocorreu em Pombal, salvo erro a 28 de Abril, data do que seria o aniversário do meu Pai [, Ângelo de Sousa Ferreira,  1921-2001 ,ex -1º Cabo n.º 816/42/5 da 4ª Companhia do 1º Batalhão de Infantaria do R.I. 23, São Vicente, Cabo Verde, 1943/44 - foto à esquerda]

Sou, portanto, membro desde Abril de 2007. Existe o poste P1652, de 11 de Abril de 2007, que refere ‘três novos candidatos’, o José Pereira, eu e o Jorge Teixeira “Portojo”.

4. Vejo o Blogue quase diariamente, alguns dias mais do que uma vez. É uma visita ‘obrigatória’ embora a disponibilidade para poder dar maior sequência às intervenções esteja limitada por questões familiares e profissionais.

5. Sim, tenho enviado algum material para o Blogue. Comentários em quantidade razoável porque são mais rápidos de ‘produzir’ e para que aqueles que escrevem possam aferir se são lidos, sendo que isso pode ser estimulante e motivador para novos contributos.






As fotos são realmente poucas, pois a maior parte delas, as que tirei em Piche e que por lá deixei por esquecimento quando vim embora, perderam-se num ataque a uma coluna em que a caixa em que elas se encontravam foi atingida, tendo o seu portador, o que tinha sido o meu 1º Cabo Guedes, ficado ferido no pescoço.

Relativamente a textos, tenho enviado alguns, com as memórias das vivências daqueles tempos, retratando algumas situações ou personagens com as quais convivi, já que não tendo sido ‘operacional’ não tenho relatos de ‘operações’ por mim vividos, embora tenha como orientação que a nossa presença naquele território foi multifacetada e é o seu conjunto que pode fazer a “História”. Quanto a enviar mais material, pois claro que o farei, logo que seja oportuno, embora goste de ‘dar o lugar aos novos’.

6. Sim, conheço a página no “Facebook”, sou ‘amigo’ dela. [E tem página pessoal no Facebook]

7. Vou incomparavelmente mais [vezes] ao Blogue.

Aliás, no “Face”, é mais de ‘fugida’ e um ou outro raro comentário. Mas considero importante, útil e essencial que o Blogue esteja reflectido no “Face” já que por aí ganha outra ‘visibilidade’, atinge outro público e até é possível verificar que uma quantidade apreciável dos seus ‘amigos’ não está, ainda, como membro do Blogue.

8. Do que gosto mais no “Face” é aquilo que escrevi cima, ou seja, a capacidade de o Blogue projectar para outro tipo de público, outro tipo de audiência, aquilo que é a sua essência.

No Blogue, o que gosto é, francamente, quase tudo. As memórias das diferentes vivências, dos diferentes locais, dos diferentes tempos, podendo assim ser feito o ‘filme’ da evolução daquela época.

Não é um espaço de uma “Unidade”, de “Companhia”, de “Batalhão”, é uma janela para um espaço comum transversal a todo o tempo do ‘conflito’ e a todo o espaço geográfico. Em terra, no ar e no mar. No ‘mato’ e em Bissau. Nas acções e operações e nas peripécias do dia-a-dia.

9. Do que ‘não gosto’ no “Face” não sei dizer. Insisto em que é importante e necessária a presença do Blogue no “Face”.

Do que não gosto no Blogue é a falta de contenção verbal de alguns comentários, deixando-me particularmente triste quando partem de camaradas que ‘têm obrigação’, pela sua craveira intelectual, de saber que estão a cometer infracção às regras do Blogue e ao mínimo de civilidade no relacionamento que se deve ter.

Por vezes tenho mesmo a sensação que pode ser feito propositadamente para criar um clima de animosidade contra o Blogue com vista a potenciar ‘deserções’ de camaradas ‘incomodados’ com as truculências que provocaram.

10. Não senhor, não tenho tido dificuldades [de acesso].

11. Relativamente à página no “Face” o seu significado é o mesmo que acima referi, ou seja, estar presente numa ‘rede social’ de larga utilização, potenciando o conhecimento do Blogue e dos seus conteúdos a uma mais vasta e diversificada audiência.

Relativamente ao Blogue é muito mais difícil opinar. Para mim o Blogue foi (e é) uma via de reencontrar o passado. Não por saudosismo, inconsequente, nem por revivalismo, mas sim para recuperar explicações.

Através do Blogue tenho obtido um maior, mais vasto e mais profundo conhecimento da Guiné, do ‘meu tempo’ e de outros, tomei conhecimento de episódios que nem de perto os sonhava, conheci amigos, que tenho preservado.

O Blogue é, também, um local onde encontro ‘lições de vida’ de uma forma ‘concentrada’, de revelações de camaradas com jeito para a poesia, para a escrita, para a crónica.

12. Sim, já participei em vários dos nossos “Encontros”. Falhei o “I Encontro”, apesar de ter ocorrido aqui bem mais perto de onde vivo [, na Ameira, em Montemor o Novo], pois nessa altura ainda não conhecia o Blogue, e falhei, salvo erro, o “IV Encontro”, ou seja a segunda vez em Ortigosa.

13. Embora ainda não me tenha inscrito formalmente, é de facto minha intenção estar presente no nosso VIII Encontro [Nacional],  no próximo dia 8 de Junho,  em Monte Real [, Leiria].

A minha demora na inscrição prende-se com a saúde de um amigo que gostaria de levar e que está à espera de ser alvo de uma intervenção cirúrgica.

14. Se o Blogue ‘ainda tem fôlego, força anímica, garra, para continuar'... Já li por aqui coisas bem interessantes sobre o que alguns camaradas pensam disso. Palavras de incentivo, de afirmação de vontade, de bom senso.

Também penso que sim, que ‘ainda tem’ isso tudo. O Blogue! Mas, e as pessoas que lhe dão corpo? O desgaste é grande, a ‘batalha’ já é prolongada, a idade já vai ‘pesando’.

No entanto, a razão de ser da sua ‘criação’, que se revelou extremamente acertada, útil e até indispensável, não se esgotou.

Através do Blogue criou-se uma imensa rede de amizades, de conhecimentos, de cumplicidades, fizeram-se amigos, reencontraram-se outros, potenciaram-se “tabancas” para alegres convívios comensais e não só, criaram-se ‘grupos de trabalho’ para originar obras, incentivou-se camaradas a escrever as suas memórias, criou-se um imenso acervo fotográfico, deu-se voz a acções de cooperantes para se compreender que as novas gerações também sentem pela Guiné muito do que nós sentimos, possibilitou a ‘revelação’ de escritores e poetas, ajudou em trabalhos de estudo e de pesquisa, e muito mais.

Então, a questão não é se o Blogue tem isso tudo que é perguntado mas sim se as pessoas, e essas pessoas são os que dia-a-dia corporizam o Blogue, têm esses predicados.

E as pessoas não são só os Editores são, essencialmente, todos nós, os que lemos, os que queremos mais, os que fazem (ou fizeram) ‘blogueterapia’, os que ainda não contaram tudo.

15. As “outras críticas, sugestões e comentários” vão no sentido de apelar à contínua colaboração dos leitores do Blogue para que contribuam com mais material.

Pode-se pensar, ou dizer, que ‘já foi tudo dito’, que há temas ou assuntos que ‘já não se pode ouvir falar’, que os camaradas já contaram as suas vivências e que agora não têm mais, a não ser que inventem ou que romanceiem, mas isto não é totalmente verdade, basta ver dois ou três pequenos exemplos, como o caso do “Cifra”, do Veríssimo dos ‘melhores 40 meses da vida’ e do ‘sou amanuense, porra!’ para se perceber que há mais aspectos que ainda nos podem surpreender, tanto no conteúdo como nos intervenientes.

E é tudo! Um bom aniversário e votos de “quantos muitos” ao nosso querido Blogue.

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11404: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (8): Resposta nº 16: Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11358: Meu pai, meu velho, meu camarada (38): Evocando a figura de Luís Henriques (1920-2012) que há precisamente um ano se despedia da terra da alegria (Luís Graça / Pedro Martins)


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques " [, 1º cabo inf, 3º Companhia, 1º Batalhão, RI 5, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, 1941/43, entretanto integrado no RI 23].


Lourinhã > c. 1920 > A mãe, muito querida, de Luís Henriques, que morreu, em 1922, quando ele tinha 2 anos de idade. O meu pai tinha raízes na Lourinhã: pelo lado do seu pai, Domingos Henriques  , no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar (clã Maçarico). Sua mãe, Alvarina de Jesus, morreu jovem, em 1922, de tuberculose, fato que o marcaria para toda a vida: a mãe nunca lhe pôde dar um beijo, afagava-lhe o rosto com a ponta dos dedos!... E nos seus três últimos dias de existência, em que eu tive o privilégio de o acompanhar no seu leito de morte, evocou o nome da mãe Alvarina, por mais de um vez. Tinha uma enorme afeição por ela. O pai, Domingos Henriques, casou três vezes: do primeiro casamento, não teve filhos; do segundo teve dois, Luís e Domingos; e do terceiro, teve onze... Era um homem remediado, com "sete propriedades": arruinou-se com os amigos e com tantos... filhos. Ainda o conheci, de muletas e de beata ao canto da boca... (LG).


Lourinhã > 6/12/1942 > Nazaré, Maria Adelaide e Ascensão, três vizinhas e amigas de Luís Henriques, fotografada na ponte sobre o Rio Grande, Lourinhã Foto enviada para o amigo e vizinho, expedicionário em Cabo Verde, com "votos de verdadeira e sincera amizade". A primeira parte da legenda é ilegível. Lembro-te de todas elas. A Maria Adelaide já morreu. Da Ascensão perdi-lhe o rasto. A Nazaré, conhecia-a bem, era a tia da Mariete, a família toda foi para a América, com a família no em meados dos anos 50. E julgo que casou lá... Será que ainda é viva ? Era "ajuntadeira" (costureira de calçado), e trabalhou muito para o meu pai, sapateiro, que dava trabalho a muita gente na Lourinhã. Lembro-me bem a ti Adelina, mãe da Nazaré, nossa vizinha, e que era um, espécie de curandeira lá do bairro... Nós morávamos na rua dos Valados, ou do Castelo, e elas na rua, paralela, a do Clube... Quando puto, e quando doente, ela - a tia Adelina - aplicava-me as suas mezinhas, receitas da medicina popular com séculos de eficácia simbólica e terapêutica... Lembro-me, com repulsa, das suas unturas, na garganta, feitas com merda e gordura de galinha, para tratar da papeira... (LG)


Lourinhã > s/d [. década de 1940] > Julgo tratar-se da comissão de festas da Confraria de N. Sra. dos Anjos, de que fez parte o meu pai [,o primeiro á direita], mas também o seu primo António de Sousa, já falecido, músico, saxofonista,  fundador do conjunto  Dó Ré Mi [, primeiro à esquerda] e o meio-irmão do meu pai, José, de alcunha Vassourinha [, segundo à esquerda]... Reconheço ainda o seu primo Abel Sousa, o quinto a contar da esquerda, entre o João Pinheiro e o Rei (tesoureiro da CML)... Reconheço ainda o pai do meu querido e falecido amigo João Manuel Delgado: era carpinteiro,  o quarto a contar da direita.. (LG).


Cabo Verde > S. Vicente > Julho de 1942 > "Num dos quintais dos aquartelamentos do Monte num grupo de amigos e, entre eles, Luís Henriques [, o segundo do lado esquerdo, na 2ª fila,] que ia para os treinos do voleibol".


Cabo Verde > S. Vicente > 1/12/1942 > "Uma das fases do jogo de voleibol no dia da festa da Restauração, organizada pelo R. I.  nº 5, em Lazareto, 1/12/1942, S. Vicente, C.Verde. Luís Henriques".



Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época, "Coladeira do S. João"  [ou cola san djon] >  Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de São João, no dia de São João , no interior (?) de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943". [A festa de São João Baptista  continua a ser uma das festividades maiores das ilhas do Barlavento  e da comunidade caboverdiana da diáspora, por exemplo, no bairro da Cova da Moura, Amadora; ainda hoje, "em São Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo um pouco: Missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbicada. A anteceder o dia de São João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (lumenaras)" .

 Fotos: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Legendas de Luís Henriques e de L.G.]


Lourinhã > s/ d [, c. década de 50] > Praça da República: praça dos automóveis de aluguer. E, ao fundo, a Rua Grande. Postal ilustrado. Edição do GEAL - Museu da Lourinhã. [Reproduzido com a devida vénia].

Do lado esquerdo, não visível na foto, ficava a Escola do Ensino Primário Conde de Ferreira onde eu estudei (1954/58), infelizmente já deitada abaixo tal como o coreto, ao lado da Igreja Matriz, antiga igreja do convento dos Franciscanos (e moinumento nacional). O coreto  vê-se melhor  na foto a seguir...

A rua que se vê ao fundo era (e ainda é) uma rua bonita, do Séc. XVIII... Para nós, era a Rua Grande, por onde passava todo o trânsito local, regional e nacional (Felizmente, hoje é uma rua pedonal)...

A política do bota-abaixismo do presidente da Câmara Municipal, Licínio Cruz  (, lourinhanense, e ainda para mais arquiteto!), deposto com o 25 de Abril de 1974, levou à perda deste belíssimo património edificado, a escola e o coreto... O edifício, nas traseiras da praça de táxis, também já não existe... O resto da Praça da República mantêm-se de pé, em especial os edifícios do lado direito  (antigos edifícios da Repartição de Finanças e do Tribunal da Comarca; neste último está instalado o Museu da Lourinhã - ou Museu dos Dinossauros -  onde se pode ver uma das mais valiosas colecções paleontológicas da Europa). (LG).



Lourinhã > s/ d [, c. década de 50] > Praça da República: o velho coreto [, demolido no princípio dos anos 70,]. Este foi um dos  lugares (mágicos) das brincadeiras da minha infância: era aqui, neste empedrado que, na hora do recreio escolar, jogávamos ao "hoquei em patins"... sem patins e com "sticks" de pau de tramagueira... Era também aqui que ouvíamos os concertos da Banda da Lourinhã, fundada em 2 de janeiro de 1878... Postal ilustrado. Edição do GEAL - Museu da Lourinhã. [Reproduzido com a devida vénia]. (LG).


1. Faz hoje um ano que se despediu desta terra da alegria (parafraseando o título do último livro do poeta Ruy Belo, publicado em vida, Despeço-me da terra da alegria, 1978) o homem simples e bom que foi o meu pai, meu velho e meu camarada Luís Henriques (19/8/1920-8/4/2012).

Reproduzo aqui, com a devida vénia, um texto de opinião, do jornalista da RTP, Pedro Martins, lourinhanense, publicado no blogue Lourinhã Local, e que é um singela e sincera homenagem ao seu antigo treinador, Luis Henriques, popular e carinhosamente conhecido como o Ti Luís Sapateiro...

A Lourinhã, a sua terra, Cabo Verde (e em particular a ilha de São Vicente), onde esteve 26 meses como expedicionário durante a II Guerra Mundial,  e o futebol, de que foi praticante e treinador, foram três paixões do meu pai. Recordá-lo é cultivar a sua memória e cultivar a memória é de algum modo, tentar imortalizar alguém, mesmo que essa seja uma forma, ingénua  mas muita humana, de lutarmos contra o efeito devastador e irreversível da morte que nos aparta, para sempre, dos nossos entes queridos...

Ainda ontem estive no cemitério da Lourinhã, junto ao seu jazigo. E falei com ele, em voz alta,. como costumo fazer, sem receio do ridículo. É a minha maneira, muito pessoal, a par da escrita e da fotografia, de fazer o luto pela sua perda. Faz hoje um ano, que ele se despediu de nós, para sempre. Escolheu um domingo de Páscoa, e uma manhã soalheira para se despedir da terra da alegria, e daqueles de quem mais amava, os seus filhos, netos e bisnetos... Já a sua  "Maria, minha cachopa", a viver no mesmo lar em que ambos estavam, desde 2008,  ainda hoje tem a convicção que ele anda por ali perto: "não está aqui, foi trabalhar"... Para mim, e para a sua família e amigos, ele estará sempre por ali, nos labirintos da memória, mesmo que eu oiça o poeta (e meu vizinho, ali da Praia da Consolação) dizer:

(...) Chegou enfim o tempo do adeus
Ouço a canção efémera das coisas
despeço-me da terra da alegria
já reconheço a música da morte (...)

(Ruy Belo, in Todos os Poemas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 624) (LG)


3. Blogue Lourinhã Local > 26 de fevereiro de 2013 > ; "Ti Luís Sapateiro - o mestre do fair-play", por Pedro Martins

Os recentes incidentes durante os jogos Sp. Braga-Paços de Ferreira e V. Guimarães B-Sp. Baga B voltam a colocar,  em primeiro plano da atualidade desportiva, a questão da violência nos recintos desportivos.

A possibilidade que os clubes têm atualmente – em tempo de crise  –  de poderem poupar uns trocos no policiamento é uma verdadeira bomba relógio. Afinal como é possível que em certos jogos sejam os stewards (assistentes de recintos desportivos) os únicos a zelar pela segurança de todos?!

Receio realmente que a situação possa ainda piorar mais no futuro, caso os responsáveis governamentais e do futebol português não alterem um regulamento que é um verdadeiro aliado daqueles “adeptos” que se deslocam aos estádios (ou pavilhões) apenas com um intuito: o de derrotar/aniquilar os inimigos através da violência física.

Será que vai ser preciso esperar por uma morte num estádio para tomar medidas drásticas? Não quero acreditar nessa hipótese. E nem de propósito. Este domingo ao fazer um jogo de futsal tomei conhecimento de uma importante e louvável iniciativa dos responsáveis pela modalidade no Sporting. Durante uma semana, atletas, treinadores e dirigentes do clube, mas também alunos de várias escolas do concelho de Odivelas, tomaram contato com o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED).

Mas afinal o que é o PNED? Nada mais, nada menos que um conjunto de iniciativas planificadas por parte do governo que visam promover os valores inerentes à prática desportiva, como o fair-play, o respeito pelas regras do jogo, o respeito pelo outro, o jogo limpo, a responsabilidade, a amizade, a relação e a interajuda entre todos os agentes desportivos.

Algo que tem de ser incutido aos desportistas logo em criança mas também, e acima de tudo aos pais, muitas vezes os primeiros responsáveis por situações delicadas no desporto mais jovem, principalmente no futebol.

Quem já não assistiu a um jogo de formação e ficou horrorizado com o comportamento de alguns pais nas bancadas? Um péssimo exemplo para os filhos, numa altura em que estes estão a dar os primeiros passos no desporto.


Estádio do Sporting Clube Lourinhanense (SCL) > 8 de fevereiro de 2003 > Homenagem, ainda em vida, ao sócio nº 1 do SCL, Luís Henriques (1920-2013). Ao centro, o meu pai, já de muletas, tendo à sua direita o presidente do município, José Manuel Custódio (, e também presidente da assembleia geral do clube), e à esquerda o diretor do SCL, Miguel Fernando Oliveira Pinto (O SCL foi fundado em 26 de Março de 1926, sendo a filial nº 24 do Sporting Clube de Portugal.  (LG)

Foto: Cortesia do blogue Lourinhã Local (2013) e do blogue do neto, André Henriques Anastácio (2012)



E depois também não nos podemos esquecer do (importante) papel que têm os treinadores no crescimento desportivo dos jovens atletas. São eles os primeiros a ensinar que não se pode ganhar com batota, que é preciso respeitar os adversários e os árbitros, além de que devem também ser eles a exigir aos jovens o máximo de fair-play, combater a violência e proibir o tal jogo duro.

Daí que não possa deixar de aqui recordar com muita saudade o ser humano que maiores conhecimentos me transmitiu no futebol, ainda nos meus tempos de criança na Lourinhã. Não esquecendo aquele que foi o meu primeiro treinador (o senhor Germano, do Casal Juncal), foi no entanto o Ti Luís Sapateiro a pessoa que sem dúvida me marcou mais quando comecei a dar os meus primeiros passos como desportista. A mim mas não só. Pelas mãos deste treinador “à moda antiga” passaram muitos jovens do concelho da Lourinhã.

Infelizmente o Ti Luís Sapateiro deixou-nos há cerca de um ano mas a sua memória continua bem viva. Aquele que chegou a ser o sócio número um do Lourinhanense tinha sempre uma palavra amiga, um sorriso no rosto e um enorme respeito por todos os agentes desportivos. Ainda hoje recordo com muita saudade, os conselhos que nos dava... e quase sempre em frases que rimavam.

Que falta fazem hoje em dia, no desporto português, pessoas como o Ti Luís Sapateiro.

Pedro Martins

[Reproduzido aqui com a devida vénia]
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...

terça-feira, 19 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  1942 > "Depois da pareada, o desfile das viaturas. No dia 14 de agosto de 1942. Algumas das tantas autoambulâncias e outras viaturas. Mindelo. São Vicente". [Marca, modelo e ano... Alguém sabe ?]


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo >  1942 > Igreja de S. Vicente [, julgo chamar-se N. Sra. da Luz]. À esquerda, a Casa do Leão, na época uma importante casa comercial. Edifício hoje classificado e recuperado [LG].





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo, LG]


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "Homenagem do Mindelo a Sacadura Cabral e Gago Coutinho. Cabos da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5. Luís Henriques" [`, último do direita, na primeira fila]. [Há quem confunda este monumento com a Àguia do Benfica...].


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1941 >"Lazareto em festa. 1/12/1941. Canto coral no dia da Restauração de Portugal. Lazareto. São Vicente. Luís Henriques".


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1941 > "Uma das partes mais brilhantes do programa da festa da restauração: a ginástica. No dia 1 de dezembro de 1941. Lazareto, São Vicente, Cabo Verde. Luis Henriques".


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "Um aspeto da missa campal no dia da nossa festa no Lazareto, 23 de julho de 1942. Luís Henriques"


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1941 > "Apresentando armas à Bandeira Nacional no dia da Restauração. 1/12/1941. Lazareto. Ao fundo, o Monte Cara. São Vicente. Cabo Verde. Luís Henriques"


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "Um número de ginástica, feito pela 2ª Companhia, que deixou boa impressão à assistência. Lazareto en festa, aos 23 de julho de 1942. Luis Henriques".



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Lazareto > 1942 > "Um dos números representados pela minha companhia no dia da festa do aniversário da nossa chegada a São Vicente. 23/7/1942. Luís Henriques".


Lourinhã, estrada Lourinhã-Peniche, 7/9/1942... Uma fotografia com amigos, contemporâneos do m,eu pai... Nenhum deles está hoje vivo, se bem os reconheço. O segundo do lado esquerdo, é o tio, irmão do meu pai (dois anos mais novo) e meu saudoso padrinho, Domingos Henriques Severino. O quarto é o Carlos Fidalgo e o quinto o José Frade. A foto, enviada para Cabo Verde, está assinada pelo Domingos Severino.


1. Lembrando o meu saudoso pai, meu velho e meu camarada, Luís Henriques (1920-2012), e em homenagem a todos os nossos pais, no dia do pai, 19/3/2013.

[Foto à esquerda: Luís Henriques, em Candoz, c. 1988/89,  com o seu neto, João Graça. Foto de L.G.].

Luís Henriques (1920-2012) foi  1º cabo inf,   nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha), mais tarde integrado no RI 23. Esteve no Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943. Alguns dos sítios da ilha de que ele se recordava bem, até ao fim da sua vida:  Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau, Monte Verde, Monte Cara, Ribeira São João...  Falava sempre com muita ternura e saudade deste seu tempo de vida, apesar das duras condições em que viveu na ilha (26 meses, 4 dos quais hospitalizado). As fotos (e as legendas) que reproduzimos acima, são do seu álbum.

Fotos: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10924: Meu pai, meu velho, meu camarada (36): Fotos recentes do Mindelo, em memória do meu avô Luís Henriques (1920-2012) (João Graça)


Foto nº 150 > 9/11/2012 > 11h11 > Mindelo > Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo


Foto nº 192 > 9/11/2012 > 12h56 > Mindelo > Baía do Porto Grande



Foto nº 152 > 9/11/2012 > 11h59 > Mindelo > Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo



Foto nº 154 > 9/11/2012 > 12h05 > Mindelo > Marina e Monte Cara, ao fundo



Foto nº 201 > 9/11/2012 > 14h45 > Mindelo > Praia da Laginha, porto e Ilhéu dos Pássaros, e a silhueta da Ilha de Santo Antão ao fundo


Foto nº 191 > 9/11/2012 > 12h59 > Mindelo > O calçadão da Praia da Laginha



Foto nº 161 > 9/11/2012 > 12h11 > Mindelo > Edifício da Câmara Municipal



Foto nº 150 > 9/11/2012 > 11h11 > Mindelo > Edificío da "Alliance Française"



Foto nº 209 > 9/11/2012 > 16h45 > Mindelo > Av Marginal > Réplica local da Torre de Belém, antiga capitania dos portos, na Praia de Bote.


Foto nº 211 > 9/11/2012 > 16h57 > Mindelo >211 > Rua típica, de estilo colonial



Foto nº 183 > 9/11/2012 > 12h24 > Mindelo > Praça Nova, na Av 5 de Julho, um dos pontos centrais da vida social mindelense.




Foto nº 169 > 9/11/2012 > 12h13 > Mindelo > Interior do "Café Lisboa".




Foto nº 170 > 9/11/2012 > 12h13 > Mindelo > Rua de Lisboa, o "Café Lisboa", um dos ícones da cidade. É gerido por uma das antigas glórias do futebol português e caboverdiano, o Alberto Gomes. Esta é um das ruas  nevrálgica da cidade.




Foto nº 184 > 9/11/2012 > 12h25 > Mindelo > Quiosque Praça Nova, na Av 5 de Julho, um dos pontos centrais da noite mindelense.


Foto nº 295 > 9/11/2012 > 16h45 > Mindelo > Rua típica, com vendedores ambulantes

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9 de novembro de 2012 >  Fotos do álbum de João Graça, que passou por aqui, e passeou pela "capital da morabeza", em trânsito para a Ilha de Santo Antão, com a sua banda, os Melech Mechaya, por ocasião do Festival Sete Sóis Sete Luas. Mindelo, cidade cosmopolita com uma arquitetura  de toque colonial que reflete a influência portuguesa e inglesa, é a capital cultural de Cabo Verde, a terra da Cesária Évora, B.leza, Bana, Luís Morais, Tito Paris,  Bau, e de outros grandes músicos e cantores, terra da morna, da coladera, do funaná, do festival da Baía das Gatas... Terra que faz parte da minha infância e à qual nunca fui... Espero ainda ir um dia, mesmo sem o meu pai que amou tanto aquela terra... (LG)

Fotos: © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

Ao João, 
que foi visitar o avô Luís Henriques (1920-2012)
ao Mindelo,
em 9 de novembro de 2012,
seis meses depois da sua morte.


Ouço os passos do meu avô,
arrastando as botas cardadas
ao longo do calçadão da Praia da Lajinha.
E, mais atrás, vislumbro
a sombra frágil do seu impedido, o Joãozinho,
que há-de morrer, meses mais tarde,
por volta de junho de 1943.
De fome. Da grande fome.

Ouço a voz do dr. Baptista de Sousa,
diretor do hospital:
- Então, ó nosso cabo,
há quantos meses é que estás na ilha ?
- 26 meses, meu capitão.
- Eh!, pá, estás farto de engolir pó,
vou te já mandar p'ra casa!

Ouço o meu avô falar, em verso,
em certas noites de luar,
com o Monte Cara,
a Baía do Porto Grande,
e o Ilhéu dos Pássaros.

Ouço o meu avô perguntar
ao Fortunato Borda d'Água
enquanto lhe escreve mais uma das suas cartas
às suas namoradas:
- Ó Fortunato, afinal, de quem é que tu gostas mais ?
Da que ri ou da que chora ?

Vejo uma multidão de gente,
portugueses, africanos, ingleses,
erguer-se do Monte Verde,
abraçar a ilha
e cantar uma morna
à doce e mágica cidade do Mindelo.

Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de dezembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10793: Meu pai, meu velho, meu camarada (35): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte II (Adriano Miranda Lima)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Foto nº 6 > Comemoração do dia do exército, 14 de Agosto de 1942. Foto: Melo. [Vê-se ao fundo o Ilhéu dos Pássaros e, à direita, a Ponta João Ribeirro; foto do álbum do pai do nosso camarada Hélder Sousa, 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, expedicionário: nasceu em 1921 e morreu em 2001; esteve em São Vicente, em 1943/44, foi portanto contemporâneo do cap cirurgião-médico José Baptista que esteve no Mindelo,  de fevereiro de 1942 a setembro de 1944].

Foto: © Hélder Sousa (2009). Todos os direitos reservados. 


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Adriano Lima, com data de 2 do corrente:

Meus caros familiares, amigos, conhecidos, e correspondentes.

Em anexo, envio-vos um texto sobre o Dr. Baptista de Sousa e explico o porquê deste meu gesto. Todo o meu tempo de menino e moço em S. Vicente, sempre ouvi falar do Dr. Baptista de Sousa mas sem chegar a saber ao certo de quem se tratava. Nem mesmo o vir a saber o seu nome atribuído mais tarde, no pós-independência, ao novo Hospital Civil de S. Vicente espicaçou a minha curiosidade, mas neste caso talvez justificável por eu não viver em Cabo Verde.

Só há meia dúzia de anos, por intermédio da blogosfera e por iniciativa pessoal do meu amigo Valdemar Pereira, fiquei finalmente a conhecer a identidade do médico e o amor imenso que o povo do Mindelo tinha por ele. E como fiquei a saber que afinal ele era ao tempo um oficial médico (capitão) integrado nas Forças Expedicionárias a Cabo Verde durante a II Guerra Guerra Mundial (1941-1945), a curiosidade levou-me a efectuar uma pesquisa no Arquivo Histórico-Militar para obter o máximo possível de dados sobre o seu percurso profissional. E assim aconteceu, tendo elaborado um texto de cerca de 30 páginas, do qual colhi material para, a convite, fazer uma palestra sobre esta figura da medicina e do exército na "Associação de Antigos Alunos do Liceu Gil Eanes", em Lisboa, há para aí uns 6 anos.

Actualmente, tenho vindo a publicar num blogue designado Praia de Bote um conjunto de textos sequenciais e temáticos sobre o historial das Forças Expedicionárias a Cabo Verde. Chegou a altura, mais que propositada e oportuna, de, nesse âmbito, publicar naquele blogue um texto contendo uma síntese biográfica sobre o Dr. Baptista de Sousa (também ele um militar expedicionário), que em particular foca a sua acção em Cabo Verde (S. Vicente). É este mesmo texto que vos estou a enviar (em versão pdf e em versão word, para quem tiver dificuldade em abrir o primeiro). [Já publicado no dia 3 do corrente, no blogue Praia de Bote].

Devo dizer-vos que o que eu escrevi talvez venha a surpreender o leitor, tal como me surpreendi, porque não o esperava, face à constatação de que o Dr. Baptista de Sousa, além de distinto oficial médico, de cirurgião de alta craveira e grande humanista, era dotado de vincada consciência política, e implicitamente de verticalidade ético-moral, o que lhe causou transtornos na sua carreira militar. De notar que em Cabo Verde (S. Vicente) mostrou desassombradamente essa faceta, estribada no seu elevado sentido de deontologia profissional, ao recusar escrever nas certidões de óbito que a causa de muitas mortes não era outra senão a fome que grassava nas ilhas. Foi a partir daí que o antigo Regime político encontrou razões para começar a urdir um estratagema para lhe criar entraves na carreira militar, com inevitáveis consequências na sua actividade como médico cirurgião.

Contudo, o que mais impressiona no texto é a expressividade do carinho que o povo do Mindelo lhe dedicava, que atinge o auge na incontida emoção vivida na cidade no dia da sua partida para Lisboa. Procuro dar uma ideia disso no meu texto, por vários testemunhos recolhidos.

Leiam porque vale a pena. E, já agora, vão ao blogue Praia de Bote ,  quando sair o post referente a este texto, e deixem lá o testemunho da vossa própria emoção e o sentido da vossa gratidão a um Homem que tanto bem fez à nossa gente.

Faleceu em 1967, aos 63 anos de idade, em Lisboa [, com o posto de coronel]. Os crentes do Racionalismo Cristão em S. Vicente dizem que ele pertence ao Astral Superior e aí preside, mas isso já é assunto de um domínio que me ultrapassa. Mas seguramente que ele foi, sim, uma Grande Alma, de uma dimensão incomensurável, quase sobrenatural.

Um abraço
Adriano Miranda Lima

Nota do editor - No nosso blogue,  Luís Graça & Camaradas, este texto será publicado em duas partes. Ele é também uma homenagem à geração dos nossos pais que, em Cabo Verde e noutros do império, estiveram em missão de soberania durante a II Guerra Mundial. (LG).-
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Dr. José Baptista de Sousa, um “anjo di céu” que pousou em S. Vicente

Texto: Adriano Miranda Lima [, foto à esquerda]

Fotos: Valdemar Ferreira [, foto à direita,  a seguir]

Nos meus tempos de menino e moço, o nome do Dr. Baptista de Sousa era volta e meia aflorado em conversas dos mais velhos, tido como um “anjo di céu” que um dia pousara em S. Vicente. Mas nunca cheguei a saber ao certo de quem se tratava, nem sequer cuidando-me de indagar algo de concreto sobre a sua identidade. Dezenas de anos decorridos, e já no pós-independência, viria a saber que o novo hospital de S. Vicente recebeu o nome médico, mas nem isso espicaçou a minha curiosidade sobre os pormenores da sua identidade, ficando no entanto sensibilizado por ver assim consagrada a memória de alguém verdadeiramente querido na nossa terra.


Dr. Baptista de Sousa, com a bata branca de serviço. Foto colhida na net. Só há meia dúzia de anos, com a fruição da blogosfera, eu viria a saber quem era afinal esse personagem do mundo da medicina. Tudo se proporcionou através do blogue “Mindel na Coraçon”, editado por Jorge Martins e em que eu e outros conterrâneos participávamos desenterrando memórias e cruzando informações e opiniões. Chegou o dia em que veio a propósito o nome do médico. E então o conterrâneo Valdemar Pereira ], foto à direita], portador de uma fabulosa memória, não deixou os seus créditos por mãos alheias quando resolveu rebobinar a fita do tempo para recuperar factos relacionados com a passagem do Dr. Baptista de Sousa por S. Vicente, designadamente com a sua despedida em 1944. Tinha o Valdemar nesse tempo apenas 11 anos de idade, mas o que entretanto também ouviu dos mais velhos e guardou a sete chaves na memória consubstanciou uma importante informação, ainda por cima ilustrada com expressivas fotografias. E no-la trouxe, incólume e preciosa, para gáudio das gerações mais velhas, que revisitaram o acontecimento, e para grata surpresa das que lhe são posteriores.

Surpreendido, porque não o esperava, fiquei então a saber que Baptista de Sousa era médico militar, ao tempo capitão. Esta é que foi a minha maior surpresa, porque sempre o supus civil. Mas não, afinal Baptista de Sousa foi também um Militar Expedicionário, como outros já mencionados em episódios anteriores da minha narrativa sobre esta temática.

Justo é dizer que todos ficámos siderados com o relato feito por Valdemar sobre a homenagem que a população de S. Vicente prestou a essa figura da medicina à data do seu regresso à Metrópole, terminada a sua comissão de serviço integrado nas forças expedicionárias. A palavra do Valdemar foi de grande eloquência mas as imagens das fotografias do acontecimento por ele publicadas foram igualmente uma peça importante para se perceber o quanto era o médico idolatrado pelo povo de Mindelo. A ponto de se poder dizer que a emoção da despedida de Baptista de Sousa transborda-se das fotografias e tem o condão de tocar quem as observa.

Esclareço que, na sequência das revelações daquele blogue, decidi realizar uma pesquisa sobre a vida militar do Dr. Baptista de Sousa, recolhendo e trabalhando algum material que me permitiu, por sugestão do Valdemar e outros amigos, efectuar uma palestra sobre a sua biografia na Associação de Antigos Alunos de Liceu de Cabo Verde. Seria ocioso derramar aqui o conteúdo do que foram cerca de 30 páginas, mas aproveitarei algumas das suas passagens mais significativas para deixar aqui algo sobre o Homem que os cabo-verdianos nunca esqueceram, tanto que o seu nome está para sempre imortalizado na designação do novo hospital civil de S. Vicente.

José Baptista de Sousa ], foto à esquerda, retirada da Net  pelo autor do texto]:

(i) nasceu em 2 de Março de 1904 na freguesia de Camões, em Lisboa, filho de José Augusto de Sousa e de Victoria Alves Baptista de Sousa.

(ii) De 1922 a 1927, fez o curso de Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa;

(iii) De 1928 a 1929, frequentou com aproveitamento, no Hospital Militar Principal, o Curso Técnico de Oficiais Milicianos Médicos e a seguir concorreu ao Quadro Permanente de Oficiais Médicos, tendo sido promovido a alferes em 1929;

(iv) Foi em seguida colocado em unidades do Exército e, depois, na Guarda Nacional Republicana, onde serviu de 1936 a 1942, tendo entretanto sido promovido a tenente em 1930;

(v) De realçar que numa das unidades militares, ainda oficial subalterno, foi louvado “pelo zelo, competência e dedicação manifestados nos diferentes serviços para que foi nomeado”; entretanto, concorreu ao internato de Cirurgia dos Hospitais Civis de Lisboa e fez o concurso para cirurgião dos mesmos hospitais;

(vi) Foi igualmente assistente na Faculdade de Medicina de Lisboa, ao mesmo tempo que frequentava o internato de cirurgia nos Hospitais Civis de Lisboa, tudo isso em acumulação com as suas funções militares, o que demonstra uma firme disposição de alargar e diversificar as experiências e desafios da sua actividade médico-científica;

(vii) É quando prestava serviço na Guarda Nacional Republicana que, em 17 de Janeiro de 1942, é nomeado para integrar as Forças Expedicionárias a Cabo Verde;

(viii) Deste modo, embarca em Lisboa a 16 de Fevereiro de 1942, no vapor Guiné, com destino a S. Vicente de Cabo Verde, onde desembarca a 22 do mesmo mês;

(ix) É já em S. Vicente que é promovido ao posto de capitão médico.


Baptista de Sousa vai viver em S. Vicente talvez uma das fases mais marcantes da sua vida pessoal e profissional, durante a qual deve ter encontrado o verdadeiro significado da carreira que abraçou e a sublimação dos altos valores humanos que eram parte integrante do seu ser. Ele é o médico-cirurgião dos militares mas é-o também dos civis, movido pelo seu impulso natural de pôr a sua ciência médica indiscriminadamente ao serviço de quem dela precisava.

Seria por demais exaustivo enumerar as vidas que o Dr. Baptista de Sousa salvou e as malformações físicas (casos de pé boto) de civis que reabilitou com a sua técnica cirúrgica. Fez uso de intervenções terapêuticas até aí pouco utilizadas em Cabo Verde por falta de meios adequados ou mesmo por insuficiência de pessoal médico qualificado. Mas tudo fazia sem olhar a quem, fosse rico ou pobre, militar ou civil, demonstrando uma total disponibilidade e uma dedicação e humanidade sem limites. Era director do Hospital Militar Principal de Cabo Verde e tinha como adjunto o capitão médico Lisboa, outro que deixou boas recordações em S. Vicente.

A acção do Dr. Baptista de Sousa durante quase 3 anos de permanência em Cabo Verde granjeou-lhe o mais alto prestígio e consideração quer entre o contingente militar quer, sobretudo, entre a população civil. Para se ter uma ideia do que alguém significa para o seu próximo, nada como a expressividade de um coração agradecido. E para se perceber isso, veremos como se soltaram as rédeas, não de um coração agradecido, mas de milhares de corações no dia em que o Dr. Baptista de Sousa deixou a ilha de S. Vicente, regressando à Metrópole, finda a sua missão militar. Isso aconteceu em 10 de Setembro de 1944.

Rezam as crónicas que naquele dia a cidade de Mindelo parou em peso para acompanhar o médico ao cais de embarque. O povo concentrou-se em massa formando alas entre a sua residência, na Praça Nova, e o cais de embarque, afluindo de todas as partes da cidade e seus arredores. As janelas se escancararam e os passeios estavam pejados de gente, algumas pessoas alcandoradas em pontos dominantes para lograrem uma observação mais vantajosa.

Valdemar Pereira refere o seguinte testemunho coevo que ouviu ao senhor Antoninho Santiago, funcionário dos CTT: ao sair da sua casa na Praça Nova para entrar no automóvel militar que o levaria ao cais, o médico foi imediatamente levantado e levado em ombros por figuras gradas da sociedade mindelense, ao que ele, modestamente, se procurou opor, mas sem êxito. Assim, em ombros parece ter sido conduzido até às imediações do cais, com o povo a soltar ensurdecedores e emotivos vivas ao doutor Baptista de Sousa e vivas ao “Engenheiro Humano” (1). As mulheres do povo derramavam lágrimas enquanto gritavam vibrantes palavras de saudação e apreço àquele que elas já tinham como um querido filho adoptivo da terra.


Cabo Verde > São Vicente > Midelo > 10 de setembro de 1944 >Baptista de Sousa acompanhado, na hora da despedida, pelas forças vivas do Mindelo e o povo da cidade. À sua direita, o Comandante das Forças Expedicionárias, Brigadeiro Nogueira Soares, e à sua esquerda, o Presidente da Câmara de S. Vicente. Foto cedida por Valdemar Pereira.



Cabo Verde > São Vicente > Midelo > 10 de setembro de 1944 > Baptista de Sousa levado em ombros no cais da despedida. [Ao fundo, o Hospital de São Vicente, fundado em 1890]. Foto cedida por Valdemar Pereira.


Nunca se vira coisa igual em Mindelo, nunca a cidade inteira se tinha comovido tanto na hora “di bai” (2). Depois da despedida, calcule-se a nostalgia que deve ter ficado a pairar na cidade. Ora, para um homem ser assim alvo de tanta unanimidade no reconhecimento e no aplauso à grandeza do seu mérito e da sua acção, unindo autoridades e povo anónimo, ricos e pobres, gente de todos os estratos e condições, é porque verdadeiramente invulgar foi o modo como exerceu o seu múnus profissional em prol da comunidade local, é porque excepcional foi ele na esfera da sua humanidade e civismo. E foi assim que uma onda de emoção se formou no alto mar da “morabeza” do povo de Mindelo, atingiu altura indescritível, galgou as ruas da cidade e foi inundar de saudade o cais da despedida.

A minha mãe contou-me que as sirenes de todos os navios fundeados no Porto Grande tocaram continuamente durante o embarque de Baptista de Sousa, só se calando quando o navio se perdeu da vista da imensa mole humana que o acenava incessantemente no cais e na orla do porto. O mar seria uma vez mais motor do destino luso e cabo-verdiano, esse mar que é lugar mitológico de encontro e separação; levou para longe aquele que se tornara um querido filho do povo do Mindelo. Ao tumulto da apoteose daquele dia 14 de Setembro de 1944 iria seguir-se, calcule-se, um vazio no coração da ilha, um sentimento de desamparo difícil de mitigar. O povo do Mindelo jamais esqueceria a atenção, a disponibilidade, a simpatia, a bondade e a proficiência com que Baptista de Sousa operou e recuperou tanta gente em estado clínico desesperado, salvando muitas vidas que, antes da sua chegada a Cabo Verde, estavam praticamente condenadas.


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 10 de setembro de 1944 > Eflúvios da emoção popular no cais da despedida de Baptista de Sousa. Foto cedida por Valdemar Pereira.



Cabo Verde > São Vicente > Mimdelo > 1944 > Baptista de Sousa na sua última despedida ao povo do Mindelo. Foto cedida por Valdemar Pereira

(Continua)

Tomar, 30 de Novembro de 2012

Adriano Miranda Lima

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Notas de AML:

(1) Nome que foi dado a uma morna em homenagem a Baptista de Sousa, da autoria de Jorge Monteiro.

(2) Hora de despedida.

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Nota do editor:

ÚItimo poste da série > 23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)