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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19426: A Galeria dos Meus Heróis (18): A Nucha ou a difícil arte do envelhecimento (Parte I) (Luís Graça)



Luís Graça, Contuboel, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, julho de 1969

A Galeria dos Meus Heróis > A Nucha ou a difícil arte do envelhecimento - Parte I

por Luís Graça










1. A Nucha ainda estava muito combalida quando eu, na semana seguinte, lhe telefonei. Por mero acaso, numa daquelas minhas saudáveis rotinas de fazer a ronda, “on line”, dos amigos que estão longe. Uma ou duas vezes por ano, lembro-me de pegar no telefone para o fazer o teste da “prova de vida e da amizade”.


Em geral, sou preguiçoso demais para  telefonar. Fobias, critica-me um amigo. NO fundo, tenho tenho boas notícias. Mas afinal malta ainda vai estando cá está para as curvas, está  bem de saúde e recomenda-se. Mas neste caso foi o contrário. A Nucha estava viva, graças a Deus, mas tinha tido um “acidente de percurso” (sic), nesse princípio de verão de 2016.

− Num ataque de ciúme patológico, o meu ex tentou estrangular-me!

− O quê, estrangular-te ?! Quem, o teu ex ?!... Não acredito...

− Desculpa, nunca te cheguei a falar dele, nestes anos todos!


2.Pedi-lhe para desligar e voltei a contactá-la por videochamada. Senti que ela precisava de desabafar e nada como ter um velho amigo, a 300 km de distância, longe mas sempre ao alcance de um clique.

Enfim, pelas imagens, deu para perceber a gravidade da agressão de que fora vítima… Trazia ainda um colar cervical. Segundo as suas queixas, sofrera diversas contusões no pescoço, mas também na cabeça e no peito. Felizmente não havia vértebras cervicais partidas.

Logo que pude, em meados de julho desse ano, arranjei um pretexto para ir visitá-la. Tinha uma viagem no Alfa, paga. Até Braga, por razões profissionais. Aproveitei para ir na véspera e ficar no Porto nesse fim de semana.


3. Não deu, desta vez, para estar com a simpática malta da Tertúlia dos Caminheiros do Parque da Cidade (*), que se junta às 5ªs feiras. Havida entrado neste grupo, justamente através da Nucha e do seu projeto de promoção do envelhecimento ativo e saudável.

A Nucha é uma das “mães-fundadoras” do grupo e um elemento-chave. ”É certinha, não falha, comparece sempre, quer faça sol quer faça chuva”, dizem-me. Naturalmente, nas semanas seguintes à agressão, não teve condições para lá voltar. Sobretudo, anímicas. Creio que só regressou à tertúlia em outubro de 2016, até porque entretanto meteram-se as “férias de verão”dos caminheiros.

“Deixou-se ir abaixo com esta história toda, creio que anda deprimida”, confidenciou-me uma das pessoas do grupo que lhe estava mais próximas, a “Poetisa”. Mas, não faltaram logo, à boa maneira nortenha, as manifestações de afeto e de solidariedade, por parte dos caminheiros e demais amigos, até porque o “caso” se tornara público, contra a sua vontade.

− A nossa Nucha foi vítima de violência doméstica – anunciou o “Mister”, logo na 5ª feira seguinte aos “acontecimentos”. O “Mister”, professor de educação física reformado, exerce as funções de líder informal da Tertúlia, por acordo tácito da maioria (*).

Algumas pessoas do grupo estavam mais chocadas do que outras, segundo me contou a “Poetisa” com quem apenas falei ao telefone nesse fim de semana em que fui ao Porto e aproveitei para estar com a minha amiga Nucha.

− Uma “brincadeira”, ao que parece, que poderia ter acabado em tragédia – terá comentado um dos caminheiros.

A “Poetisa” não achou “graça nenhuma” à subtil insinuação desse caminheiro, para mais vindo de quem era, de alguém que, no passado, também fora vítima de violência doméstica, mas neste caso por parte da companheira, que sofria de graves problemas de saúde mental. O termo “brincadeira” não estava isento de uma conotação algo machista.

− O gajo, no fundo, está a insinuar que a Nucha também tivera culpas no cartório, “ao andar a brincar com o fogo”... Estás a ver a mente pornográfica destes sacanas!


4.Quanto ao ex-companheiro da Nucha (que vivia com ela há cerca de oito anos, e que eu só vim a conhecer pessoalmente mais tarde,) contaram-me que fora ouvido, no dia seguinte, na polícia e depois no tribunal, na presença do seu advogado.

A Nucha apresentava claros sinais de ter sido vítima de uma grave agressão, com danos corporais ao nível do pescoço, peito e cabeça. Teria havido uma tentativa de estrangulamento, num acesso de fúria provocada, ao que parece, por uma crise de “ciúme patológico” (sic).

− Patológico ?... Todo o ciúme é patológico! – ironizou a “Poetisa”.

A Nucha ficou muito afetada, física e psicologicamente. “In extremis” conseguira libertar-se das mãos do agressor, e chamar o 112. O INEM veio com a polícia.


O agressor acabou por cair em si (até porque era um homem inteligente) e deu-se por “culpado”. A Nucha foi levada, à meia noite, para o Hospital, donde só regressou no dia seguinte, tendo estado em observação e depois em tratamento.


5. Compreensivelmente, ela nunca mais voltou à casa da Foz, nem sequer para ir buscar uma muda de roupa e alguns objetos pessoais mais urgentes. Para essa tarefa, incumbiu uma amiga de ambos, que morava para os lados da av da Boavista. A Nucha voltou, de vez, para o seu apartamento na Rua da Alegria, os “50 metros quadrados da sua ilha preferida”, que ela costumava dividir com o casarão da Foz, nomeadamente no outono e inverno.

− Na primavera e no verão, preciso de sentir nas narinas a maresia, preciso de estar junto ao mar, como a Sophia [de Mello Breyner], faz-me bem aos quatro humores… Nunca poderia viver por detrás de uma serra! Detesto o rosmaninho e a urze, cheiros de uma infância em que não foi feliz!


6. O juiz impôs ao alegado agressor uma medida de coação de termo de identidade e residência.

− Se fora um trolha da construção civil, ia logo dentro! – desabafou a “Poetia”, ao telefone. E justificou a sua afirmação nestes termos:

− Como vês, é a merda da nossa justiça, no seu melhor, uma justiça ainda com muitos tiques de classe e, pior ainda, misógina, sexista, homofóbica e racista.

− Porque é que dizes isso ? – interpelei-a eu – Não serão chavões a mais ?

− Os nossos juízes, e nomeadamente os machos, mas também algumas juízas que vestem calças, parecem, às vezes, ter dois pesos e duas medidas, em matéria de crimes sexuais e de violência de género, incluindo a violência doméstica. Tudo depende do sexo da vítima e do agressor.

− Mas, também, se calhar, do estatuto socioprofissional − insinuei eu. – Mas não creio: os nossos juízes e juízas têm hoje uma outra formação.



7. Comentei este caso (que não é assim tão raro quanto se pensa, no nosso círculo de relações) com um psiquiatra, meu amigo, de Lisboa, que naturalmente não conhecia as pessoas em causa, a Nucha e o seu ex-companheiro.


− Tu, que és sociólogo da saúde, sabes tão bem ou melhor do que eu. Da minha prática clínica, assim a "olhómetro", eu diria que os casais 'grisalhos' (idosos, mas também de meia-idade), em Lisboa, no Porto, em todo o lado, estão a ter dificuldade em envelhecer. Quando as pessoas se reformam, têm ainda a esperança, legítima (ou legitimada pelas estatísticas demográficas...), de viver mais uns 10, 15, 20 ou até 25 anos (!) com saúde e qualidade de vida.


− Há gente a reformar-se muito cedo, por uma razão ou outra. É verdade que alguns começaram a trabalhar ainda crianças. Outros têm profissões ditas de desgaste rápido, ou que pertencem a certas corporações da função pública com privilégios que a maioria da população trabalhadora portuguesa não tem,não pode ter nem nunca terá.


− Mas, repara, a reforma significa para muita dessa gente, sobretudo entre as profissões científicas e técnicas, a "morte social". Saem de cena, saem do palco, saem das universidades, das empresas, das administrações, deixam de ser úteis e sobretudo... desejáveis!... O reformado é sobretudo um indesejável, até por que constitui um "fardo" para a população ativa, os mais novos e os que estão na fila para a reforma, mas que continuam a fazer descontos para a Segurança Social...


E o meu amigo psiquiatra acrescentou:

− As coisas já se vinham agravando com a crise de 2008/2009. As relações conjugais, amorosas, afetivas, enfim, o amor, o namoro, a amizade, a família, tudo isso se degrada com as crises económicas, o desemprego, a perda de rendimentos, os filhos que voltam para casa, etc.

− Ah!, a famosa anomia de Durkheim!

− Depois, há avós que não fazem mais nada do que cuidar dos netos, mesmo quando andam já na escola, adiando ou protelando os seus sonhos, de viajar, conhecer mundo, reviver, etc. Depois tens o inexorável relógio biológico, a idade que não perdoa, a velhice, os cabelos brancos...


− E, como diz, o povo, "teme a velhice porque ela nunca vem só"... − acrescentei eu.

− Tem um fundo de verdade, como muitos provérbios populares... De facto, com a velhice, vêm as doenças crónicas degenerativas, por exemplo, que em muitos casos até são geríveis, se tiveres uma rede de suporte social ou um sistema de saúde como aquele que hoje temos, e que não tinham os nossos pais e avós...


E explicitou melhor o seu pensamento:

− As pessoas querem viver mais, mas não estão preparadas para viver melhor, não sabem lidar com a reforma... É um fenómeno estranho. Há vários casais, meus conhecidos, alguns até meus doentes, que não aguentaram a "solidão a dois", depois da reforma...


(Continua)


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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19353: A Galeria dos Meus Heróis (17): Os caminheiros do parque da cidade - II (e última) parte (Luís Graça): com os meus votos para o novo ano que aí vem, o 2019. Porque a saúde, afinal, não serve para mais nada... a não para sermos livres e felizes! (Luís Graça)

sábado, 3 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19163: Agenda cultural (656): Hoje na RTP1, às 21h00, início da minissérie, de 3 episódios, "Soldado Milhões", o herói português da I Guerra Mundial (realização de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa)

Aníbal Augusto Milhais
(Murça, Valiongo, 1895 - 1970)
Cortesia de dnoticias.pt, de 23out2015
1. Minissérie de 3 episódios, na RTP 1, com início hoje às 21h00

O herói português da Primeira Guerra Mundial

Aníbal Augusto Milhais nada mais queria do que viver em paz, mas foi perseguido até ao fim pela aura de heroicidade, atribuída pelos que matou em nome de Portugal.

A história surge das memórias de guerra, atiçadas no decorrer de uma caçada [ao lobo]. Nesta busca, Milhões guia-nos na sua luta pela sobrevivência 20 anos antes, em plena Primeira Guerra Mundial. Na madrugada de 9 de Abril de 1918, dezenas de divisões alemãs irromperam pelo sector defendido pela segunda divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP). 

Em poucas horas, naquela que ficaria conhecida como Batalha de La Lys, perderam-se mais de 7.500 homens. Milhais recusa as ordens do Capitão e fica sozinho, frente a um regimento de soldados alemães, para salvar os companheiros em retirada. Isolado e perdido em território inimigo apenas com a sua metralhadora "Luisinha" [, Lewis,] e o seu amuleto da sorte, o lenço oferecido pela amada, Milhais enfrenta o seu maior desafio.

Pela coragem demonstrada no campo de batalha, Aníbal Augusto Milhais, foi premiado com a mais alta honraria nacional: a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. 

A 5 de Julho de 1924, o Parlamento alterou o nome da povoação de Valongo, a sua aldeia natal, no distrito de Vila Real, para Valongo de Milhais, em sua honra. 

No ano em que se assinala o centenário do fim da Primeira Grande Guerra (1914-1918), acompanhamos o percurso do soldado que "se chamava Milhais, mas valia milhões".

[Vd. aqui trailer oficial do filme que estreou nas salas de cinema em abril de 2018]

Próximas emissões: 

03 Nov 2018 21:00 | RTP1

03 Nov 2018  21:19 | RTP Internacional

04 Nov 2018 05:07 | RTP Internacional América

04 Nov 2018 09:58 | RTP Internacional Ásia

06 Nov 2018 22:35 | RTP África


Ficha Técnica:
Cartaz do filme (2018)


Título Original. Soldado Milhões - Minissérie, de 3 episódios

Intérpretes: João Arrais, Miguel Borges, Raimundo Cosme, Isac Graça, Tiago Teotónio Pereira, Ivo Canelas, Graciano Dias, Nuno Pardal, Lúcia Moniz, António Pedro Cerdeira.

Realização: Gonçalo Galvão Teles, Jorge Paixão da Costa.

Produção: Ukbar Filmes.

Autoria: Argumento: Mário Botequilha, Jorge Paixão da Costa

Música: Pedro Janel

Ano 2018.

Duração: 45 minutos


2. Ver também:

RTP Ensina > A Batalha de La Lys do Soldado Milhões

(...) Aníbal Augusto Milhais foi soldado do Corpo Expedicionário Português e, na sequência dos seus feitos durante a Batalha de La Lys, recebeu a mais alta condecoração militar portuguesa. Oiça a história relatada pelo próprio.

Leonida Milhões, filha de Aníbal Augusto Milhais, o Soldado Milhões, preservou durante mais de cinco décadas uma bobina com uma gravação em que o pai conta a sua versão dos acontecimentos ocorridos durante a Batalha de La Lys. Uma equipa da RTP realizou uma reportagem utilizando essa gravação.

O Portal Ensina, para além do trabalho de reportagem, deixa-lhe também algumas passagens mais extensas desta história. (...)


Ficha Técnica
Título: A Batalha de La Lys do Soldado Milhões
Tipo: Reportagem
Autoria: Sandy Gageiro/ Carlos Guerreiro
Produção: RDP / Ensina RTP
Ano: 2014

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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19093: Efemérides (291): Faz hoje 51 anos: 12 de outubro de 1967, o dia em que eu morri....Por outro lado, sou o "único culpado" do suicídio do ex-alf mil, madeirense, Gouveia (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)



Fotocópia da folha da caderneta militar, página 5,  do Mário Gaspar... onde foi averbada a sua morte, supostamente ocorrida em 12 de outubro de 1967.


Fotocópia da folha da caderneta militar, do Mário Gaspar, correspondente à página das "ocorrências extraordinárias", onde é de novo referida a sua  morte...

Fotos (e legendas) : © Mário Gaspar (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem, de hoje, às 5h35, do Mário Gaspar, ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associação APOIAR; tem mais de. uma centena de referências no nosso blogue]

Caros Camaradas,


Que interesse têm os portugueses de saberem que existiu uma Guerra Colonial? Já basta o “Aquecimento Global”, que nem sequer sabemos ao certo o que é, ainda para cúmulo essa guerra onde os nossos pais ou avôs combateram. Pois vou narrar-lhes aquilo que me sucedeu, talvez em Agosto, no período das férias de 1969.

– Foi precisamente no dia 12 de Outubro de 1967 que morri (*). Não sei como! Se por doença: paludismo; matacanha; outra.
– Mas o que é isso do paludismo ou matacanha? Compreendia antes se fosse da saudade!
– Esquece!

Morri, curiosamente só tive conhecimento de tal, no dia do meu casamento. Inicialmente fiquei preocupado, quando o Padre na Igreja de São João de Brito disse:
 – Estou a casar o morto vivo!
– Se morreste, não compreendi essa, estás aqui, e vivo… Como a sardinha da Costa!Sorri e tudo se sumiu como espuma!

Pois no dia que me desloco à Sacristia para levantar a Certidão de Casamento, recordei aquele episódio rocambolesco na Igreja. Parei no topo da escadaria e abri a sinistra Caderneta Militar que deixara para que fossem feitas as alterações necessárias:  data do casamento e mudança de residência.

Primeira surpresa. Leio, esfregando os olhos:  "Baixa de Serviço: – por falecimento a 12 de Outubro de 1967!" ... Algumas páginas a seguir: "Morto a 12 de Outubro".

Tudo sem explicações: quem o fez tinha plena consciência daquelas asneiras, podia no mínimo ressalvar esta «morte», uma mentira cruel,  e um Padre que tinha a obrigação de fazer menos comentários.

Verdade é que ia caindo na escadaria e rebolado até ao “passeio português”. Tinha consciência que da tropa podia esperar um pouco de tudo, agora matarem um combatente com tinta parker azul permanente…

Tive de saber o que estava por detrás daquela historieta.

Nas férias em Agosto dirigi-me ao Quartel mobilizador,  o Regimento de Artilharia de Costa (RAC), em Oeiras. Encontrava-se na Secretaria o Major (julgo ser ainda Major), o oficial que me colocara de Serviço no último domingo que tinha a oportunidade de estar com a Família antes de embarcar para a Guiné.

Quando lhe dei para as mãos a Caderneta logo me arrependi. Leu e disse:
– Que mal faz estar aqui dado como morto?
 Ao senhor pouco ou nada importa!

Interrompi-o ao escrever na Caderneta com uma bic azul e outra vermelha.
– Mas você não pode, nem deve fazer emendas ou ressalvas. Nesse caso as rasuras faço eu. Não tem o direito.

Tirei-lhe a Caderneta das mãos. Tinha sublinhado de um lado e fez uma ressalva.

Tratei-o mal, chamando a atenção àquilo que me fizera colocando-me no domingo anterior à partida de Serviço:
– Sargento de Dia ao Regimento!

Ninguém aceitou fazer esse Serviço por mim por ameaça a todos que de algum modo fizessem esse Serviço, inclusive eu pagava bem.

Passado algum tempo desloquei-me ao Departamento do Arquivo Geral do Exército que funcionava no antigo Quartel na Avenida de Berna e nos dias de hoje emprestado à Universidade NOVA de Lisboa. Segundo consta,  o imóvel foi vendido, esse quantitativo serve para o Fundo dos Combatentes.

Interessa neste caso a explicação sobre a minha morte. Logo que disse a razão da minha ida , s três indivíduos riram. Entreguei a Caderneta e logo vi segurar uma pasta, diferente das outras, estava toda agrafada. Disse:
– Vi que tenho toda a razão: morri a 12 de Outubro de 1967!

O Sargento tirou os agrafos – eram os três Sargentos – e referiu logo:
– Olhem,  este camarada era nosso vizinho na Guiné!

Disse-me junto ao balcão:
– Aquele estupor esteve comigo em Guileje e o outro do canto era de Mejo.

Curioso, estivemos todos juntos. Respondi:
– Agora estou a reconhecê-los, estivemos mais de uma vez a comer juntos.

Referiram estar tudo na ordem, com o inconveniente de estar registado na Caderneta. Não compreendiam a razão do Major em Oeiras ter feito esta gatafunhada. Ninguém o autorizou.

Ainda fui a Programas de Rádio; dei entrevistas para jornais e fui a dois Programas de televisão. Um deles, da Fátima Lopes.


 

Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Memorial aos Mortos do Ultramar >  c. 2018 > O Mário Gaspar aponta os nomes dos seus camaradas  António Lopes Costa, soldado, e Victor Correia Pestana, furriel, mortos em acidente com arma de fogo, em 12 de outubro de 1967, perto de Ganturé, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri.  (**)


Fotos (e legendas) : © Mário Gaspar (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Talvez tivesse algo a ver com esta asneira, terem morrido o meu Amigo, vítima do rebentamento de uma granada armadilhada, o Furriel Miliciano Vítor José Correia Pestana, de Abitureiras, Santarém e o Soldado António Lopes da Costa, de Cerva, Vila Real. Ambos mortos por acidente, um acidente, e grande, era estarmos na guerra.

Quando gozei férias fui entregar à Família do Vítor pequenos utensílios que lhe pertenciam. Como o Vítor falasse muito no Mário, trataram-me como sendo o filho, primo, etc.. Custou-me imenso. Como tivessem morrido num período em que não estava, fui verificando não me terem narrado tudo sobre ambas as mortes, por saberem sermos muito amigos. A razão de tal é termos cumprido grande parte do Serviço Militar juntos.

Um dia insisti com um camarada que a chorar pelo telemóvel contou. A CART 1659 iniciou uma patrulha até à fronteira com o fim de montarem armadilhas, o que foi feito. Esta patrulha era sempre no mesmo sentido, nunca no contrário nem regresso pelo mesmo lado.

O Alferes Gouveia que comandava, já na fronteira deu ordens para regressarem pelo mesmo trajecto da ida e o Vítor Pestana referiu ter feito o croqui mas no sentido da ida, não possuía pontos de referência no sentido contrário. Insistiu o Alferes, eram ordens. O Costa disse ao Furriel que o acompanhava, os dois avançaram. Pára o Pestana, olhando para os pés. Não podia escapar e lançou-se sobre a granada armadilhada que rebenta. O Costa fica encostado a uma árvore, parecia descansar, nem sequer sinais de ter atingido, estava morto. O Pestana tinha braços e pernas seguros do restante corpo por linhas. No peito um buraco. Estava vivo. Ainda chegou vivo a Gadamael Porto e foi visto pelo Médico do Batalhão que se encontrava perto.

O Pestana pedia, e por favor, aos Furriéis Milicianos, que lhe dessem um tiro na cabeça. Morreu. Tive só conhecimento da sua morte ao regressar de licença. A história que me contam é sobre o local das mortes e das ordens que recebeu.

Todas as vezes que via o Alferes Luís Alberto Alves de Gouveia, olhava-o bem nos olhos e dizia:
– Você matou o Pestana e o Costa!

Ele nunca me respondeu. Anos depois, encontrei-me com o Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Francisco Fernandes de Mansilha, [,nosso antigo comandante,]  que me informou:
– O Gouveia suicidou-se na Ilha da Madeira. Lançou-se ao mar de um penhasco!

Respondi-lhe:
– Sou o único culpado.

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18875: Efemérides (290): 4 de Julho – dia da Rainha Santa Isabel – o Dia do Serviço de Administração Militar (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

(**) Vd. postes de:


4 de outubro de  2015 > Guiné 63/74 - P15197: História de vida (41): Regressei a 6/11/1968 e casei-me a 29/6/1969, com uma das minhas madrinhas de guerra...Soube pelo padre que a tropa me tinha dado como morto... (Mário Gaspar,ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19050: Os nossos capelães (11): Não, não fui chamado à presença do gen Spínola, mas sim de um outro militar de alta patente que de resto teve um comportamento civilizado comigo (Arsénio Puim, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/71)


Coruche > IV Convívio anual da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > 27 de Março de 2010 > O ex-Alf Mil Capelão Arsénio Chaves Puim (, que vive na ilha de São Miguel, Açores) e o ex-Alf Mil Trms Antero Magalhães Pacheco da Silva (, que vive no Porto).

Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edikção e kegendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em 18 do corrente, enviámos a seguinte mensagem ao nosso camarada e amigo Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), na sequência do poste P19024 (*)


Arsénio, amigo e camarada:

Há séculos que não falamos!... Por favor, lê o texto e os comentários [, Poste P19024] (*)...Julgo que tu e o Rebelo nunca mais se voltaram a encontrar, depois da tua saída forçada de Bambadinca e do CTIG... É importante o teu testemunho...Por dever e direito de memória...

Já és avô ? Vejo que continuas vivo, ativo, produtivo, saudável...

Um alfabravo do Luis, um xicoração da Alice...


2. Resposta de ontem do Arsénio Puim:

Caro amigo Luís

Há muito que não nos vemos, mas não nos esquecemos. É como a brasa debaixo da cinza: não aparece, mas está viva.

Impossível apagarmos as recordações e sentimentos que nos imprimiu um ano tão forte e marcante de vivência comum na - para bem e para mal - sempre lembrada Guiné. O mesmo posso dizer em relação a todos os velhos companheiros do nosso Batalhão.

Eu continuo vivo, e com alguma actividade , ao ritmo da idade e das consequentes e naturais limitações. E estou preparado e feliz por viver com a qualidade possível a minha quarta idade, que, como é natural, marca o fim de uma vida.

É verdade: sou já avô duma linda neta, com quase 4 anos, e duma outra que vem a caminho e chegará no fim de Novembro.

Ora o «Romance do Padre Puim», que o próprio autor [, o Carlos Rebelo,]  me remeteu com o curioso endereço «onde quer que se encontre» e que acabou por me chegar às mãos através de um funcionário da Caixa Geral de Depósitos,  de Vila Franca do Campo, foi um momento muito gratificante e emocionante para mim.

O  Carlos Rebelo foi dos últimos elementos do Batalhão [, o BART 2917,]  com quem me encontrei na Guiné, pois ele encontrava-se em Bissau e participou no jantar de homenagem que um pequeno grupo de camaradas de Bambadinca me promoveu antes de embarcar para Lisboa. Depois, é verdade, tive oportunidade de contactar com os filhos no convívio de Viana em 2009.

Quanto ao texto e o seu conteúdo, acho que a composição demonstra o talento do autor neste género e que ele apreendeu realmente a verdade de fundo do «romance» do capelão de Bambadinca em relação à sua missão no meio duma guerra colonial, sem deixar, como é natural, de «romancear» alguns pormenores descritivos. 

A propósito, posso dizer que não se tratava do General Spínola, mas sim dum militar de alta patente, cujo nome já não recordo. (**)

Termino,  reiterando ao Luís e Alice a minha sincera amizade e os meus melhores cumprimentos. E aproveito a oportunidade para enviar a todos os velhos companheiros da Guiné - e não esqueço também as Companhias do Xime, Mansambo e Xitole - as minhas amistosas saudações com um grande abraço.

Arsénio Puim
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de setembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19024: Os nossos capelães (10): O "romance do Padre Puim", por Carlos Rebelo (1948-2009), ex-fur mil sapador, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

Dois comentários de LG:


(i) (...) O que fizeram ao Puim, os seus comandantes, os do BART 2917, o AC e o BB, foi de uma grande pulhice humana...Afinal, o que ele fez foi em perfeito alinhamento com as orientações da política spinolista "Por uma Guiné Melhor"!...

O Puim, enquanto português, homem, cidadão, capelão e oficial do Exército Português, insurgiu-se, protestou ou chamou a atenção para a situação desumana, degradante, em que viviam, numa espécie de galinheiro, em Bambadinca, velhos, mulheres e crianças que foram "recuperados" de uma tabanca no mato, sob controlo do PAIGC (que "eles" chamavam, pomposamente, "áreas libertadas", na famigerada áera do Poindon / Ponta do Inglês onde demos e levámos muita porrada ao longo da guerra...)!

Porra, não eram "TURRAS"!... Era população civil, desarmada, andrajosa, miserável, esfomeada, apavorada... As crianças tinham nascido no mato e entravam em pânico ao ouvir o roncar de uma GMC...no quartel.

Muito provavelmente estes "pobres diabos" foram trazidos pela minha CCAÇ 12 em abril ou maio de 1971... Eu tinha acabado de chegar à metrópole, há coisa de um mês e tal... (...)


(ii) (...) O "romance" escrito pelo Carlos Rebelo não pode ser lido "à letra"... O Rebelo nunca mais viu o seu camarada e amigo Puim... Daí a dedicatória: "Para o Padre Puim, onde quer que se encontre, tantos anos depois"...

Quando o Puim veio à metrópole, em 2009, ao 3º convívio do pessoal da CCS/BART 2917, já foi demasiado tarde... O Rebelo tinha acabado de morrer...

O Rebelo imaginou esta cena, o Puim, vítima mas corajoso, enfrentando o seu juiz, o general, prepopente mas fraco, e saindo porta fora com a dignidade e a superioridade dos que têm a razão moral...

Mas ninguém pode garantir, a não ser o próprio Puim, que as coisas se tenham passado assim... Nem sei sequer se o Puim esteve com o Spínola. É de todo improvável...Sei, pelas conversas que tive com ele, em Lisboa, na casa dos filhos, que houve, isso, sim, uma discussão azeda, amargurada, entre ele e o capelão-chefe, lá no "Vaticano", em Bissau...

Não estou a defender o Spínola, mas se ele tivesse chegado a saber a história como devia ser (, a história dos desgraçados dos prisioneiros civis, em Bambadinca, abril ou maio de 1971) quem teria levado uma "porrada" era o comando do BART 2917, o AC e o BB (...)



(**) Vd.poste de 25 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971

(...) O nosso capelão ainda teve uma semana em Bissau, a aguardar transporte, e outra semana em Lisboa, até ser reenvaiado para os Açores...

 Em Bissau, foi recebido por uma alta patente militar (que ele não consegue identificar, mas que até teve com ele um comportamento civilizado) bem como pelo seu superior hierárquico, o Major Capelão Gamboa (....). 

Em contrapartida, os amigos e camaradas de Bambadinca que na altura estavam de passagem em Bissau, fizeram-lhe um jantar de despedida, onde também esteve o 1º sargento Brito, como faz questão de frisar. (...)

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Guiné 61/74 . P19006: (De) Caras (117): A morte do fur mil, da CCAÇ 18, Virgolino Ribeiro Spencer, em Aldeia Formosa, em 15 de janeiro de 1972... Acidente ou homicídio na Consoada de Natal de 1971 ? A versão do Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/ BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73).

Manuel Gonçalves, alf mil mec auto
CCS/BCAÇ 3852
(Aldeia Formosa, 1971/73)
1. O Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), já aqui foi apresentado à Tabanca Grande em 2 de agosto passado. (*)

Em longa conversa que tive com ele, no passado  dia 30 de julho, na Praia da Areia Branca, ele falou-me desses tempos em que esteve em Aldeia Formosa, aí tendo conhecido a CCAÇ 18 e o seu comandandnte, o ex-cap mil Rui Alexandrino Ferreira, nosso grã-tabanqueiro de longa data. (Tem 3 livros publicados, vive em Viseu e inbfelizmente sofre de doenca crónica degenerativa que o impede de continuar a colaborar com o nosso blogue.)

Também foi camarada, na CCS/BCAÇ 3852, do alf mil João Marcelino, que vive na Lourinhã, e que esteve presente no VII Enconro Nacional da Tabanca Grande (2012).



2. O Manuel Gonçalves, ex-aluno dos Pupilos do Exército, esteve sempre em Aldeia Formosa (ou Quebo). E estava lá quando se deu o caso do Virgolino Ribeiro Spencer, fur mil, CCAÇ 18, "morto por acidente",  em 15/1/1972 (**).  

Oficialmente, o exército considerou a sua morte como "acidente". Na realidade, ele terá sido assassinado, quando crculava pela tabanca com a sua motorizada. Era um guineense, de origem cabo-verdiana,  sendo naatural de Nª Sra. Natividade, Pecixe, Cacheu.

Era o único militar, ao que parece, que possuía uma motorizada. Para o Manuel Gonçalves, terá sido morto por alguém da CCAÇ 18, mais provavelmnete da sua própria companhia. As praças da CCAÇ 18 viviam na tabanca, estando por isso armados.

A haver crime. não se apurou o móbil do crime, nem se identificou o autor do disparo.. Pode-se pôr a hipótese de vingança ou racismo. Esta história acabou por ser um "pretexto" para uma "insubordinação militar", com o pessoal da CCAÇ 18,  a revoltar-se e virar as suas armas contra os "tugas" da CCS/BCAÇ 3852.

Foi preciso mandar avançar uma Panhard para serenar os ânimos... Isto passa-se na véspera de Natal, na noite de Consoada, 24/12/1971. O Spemcer, evacuado para o HM 241, em Bissau, acabou por não resistir aos ferimentos, três semanas depois.


Viseu > Regimento de Infantaria 14 > 4 de novembro de 2017 > Sessão de apresentação do último livro do Rui Alexandrino Ferreira, "A Caminho de Viseu" (Coimbra, Palimage, 2017, 237 pp. ) > Um abraço do João Marcelino (que vive na Lourinhã, esteve presente no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2012, e que é amigo do autor desde a Guiné, tendo estado os dois juntos em Aldeia Formosa: o Rui como comandante da CCAÇ 18, o  João Marcelino, "Joneca", como alf mil, CCS/BCAÇ 3852).

Foto (e legendas): © Márcio Veiga / Rui Alexandrino Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Não sei como é que o Rui Alexandrino Ferreira ficou na "fotografia".  Nunca falei com
ele sobre esta história. Mas no seu penúltimo livro,  "Quebo - Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 368 pp),  há uma referência a este trágico caso: capº 11º ( " A noite dos horrores, ou o conflito armado entre metropolitanos e africanos e ainda a morte de Virgolino Ribeiro Spencer").

Confesso que ainda não li o livro e, portanto, não sei qual é a versão do Rui... O Manuel Gonçalves tem o livro e ficou de ver alguns pormenores. Nessa noite, o Rui saiu com o seu guarda-costas e mais uma pequena força com vista a serenar os ânimos. Terá sido recebido à granada. O guarda-costas provavelmente salvou-lhe a vida.

Temos também na Tabanca Grande o Manuel Carmelita (ex-fur mil mecânico radiomontador da CCS/BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73), que nos pode dar a sua versão do que se passou nessa "noite dos horrores".

O Silvério Lobo, soldado mecânico, que esteve sob as ordens do Manuel Gonçalves, também é nosso grã-tahanqueiro e já voltou à Guiné inúmeras vezes, tem inclusive "cartão de residente"... Mas, a verdade, é que o caso do Virgolino Ribeiro Spencer é "virgem", aqui no nosso blogue (**)... Porquê tanto silêncio ?

Rui A. Ferreira
3. O Manuel Guimarães disse-me que o Spínola, face à gravidade dos acontecimentos,  deu um a "porrrada" ao comandante do BCAÇ 3852,  o ren cor Barata, considerando-o como "inapto" para comandar homens em situação de guerra.

Esse tenente coronel disse, ao alferes, que nesse dia "tinha acabado" a sua carreira militar... Já cá, na metrópole, o Manuel Guimarães soube, entretanto, do seu falecimento há uns anos.

O nosso conhecido Barros e Bastos  (, o célebre BêBê, major art do BART 2917, Bambadinca., 1970/72, de seu nome completo Jorge Vieira de Barros e Bastos ), depois de promovido a tenente coronel, foi comandar o BCAÇ 3852.

O Manuel, com 12 anos de Pupilos do Exército, "teve alguns problemas" com o seu novo superior hierárquico. Em Aldeia Formosa, tinha outro "nickname",  o Bagabaga...

Apelamos aos camaradas que estiveram em Aldeia Formosa, em 1972, para confirmar essta história. Não tenho, de momento, condições para falar com o Manuel Gonçalves, o Manuel Carmelita, o Silvério Lobo ou o João Marcelino nem muito menos com o Rui Alexandre Ferreira. (***)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para  ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite  com a Amélia,  a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos,  em Jolmete.

Fotos (e legendas): © Eduardo Moutinho Santos / Manuel Resende (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Blogue Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo de Jolmete (*)

Manuel [Cármine] Resende [Ferreira] [, foto à direita,]
ex-alf mil art,  CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884,
Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto
(, maio 69/mar 71)

Nota informativa para quem não se lembra: 

Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites. Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (, dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [, CCAÇ 2381]. Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [, um dos régulos,] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.


[Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada); foto à esquerda]


Pergunto eu a Moutinho dos Santos:

“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585,  que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá. Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação. Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)


Resposta de Moutinho dos Santos:

Olá, Resende.

De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Djolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Djol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito). Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.

Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.

O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência. O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Djolmete e outras do regulado.

Este "assunto" consta de um Post do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [, António Medina,] de uma companhia [, CART  527,] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**)... O Cajan teria nesta data 15/16 anos...

[Foto à esquerda: Antonio Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, CalequisseCacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; tem dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]

Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Djolmete, e também nunca falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a Djolmete,  quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...

Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.

Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Actualmente está em Portugal com o filho,  dr. Jorge. O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...

A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).

A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).

A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos. 

Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...

Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão"  e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Djolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Djolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamance, secaram todos e a população (3.000 habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha...

Depois falamos sobre este assunto.

Um abraço,
Eduardo Moutinho Santos

[Reproduzido com a devida vénia. Revisão  e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné] 
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Notas do editor:

sábado, 26 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18679: (De) Caras (109): A história da Kalash apanhada pelos Kimbas a um "Don Juan" do PAIGC, contada pelo António Ramalho, o "pira" da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), que andou sempre com "gente aprumada e de alto gabarito"...



Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga > CCAV 2639 (1969/71) > 2/5/1970: o Victor Garcia, do 3º Gr Comb, "Os Kimbas", posando para a fotografia com a Kalash apanhada a um elemento IN.  É membro da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Victor Garcia (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



António Ramalho

1. Mensagem enviada pelo nosso editor LG ao António Ramalho e ao Victor Garcia:

Data: 24 de maio de 2018
Assunto: A Kalash apanhada pelos Kimbas (*)


António, Victor:

Expliquem lá melhor como é que... os pilha-galinhas dos Kimbas apanharam a Kalash e deixaram o "Dom Juan" fugir...


O Victor era Kimba,e tu, António ?... Ab para os dois. Luís

 2. Resposta do António Ramalho,  a 24 mai 2018, às  20:11


Caro Luís, vou satisfazer a tua curiosidade e podes acreditar, até porque o Victor Garcia já tinha enviado a foto.

Eu fui o mais "periquito" da minha companhia, fui substituir um camarada que se rebolou pela parada do RC7 quando soube que não iria ser mobilizado!...

Foi tão rápida a minha mobilização que tive que levar do Casão Militar as calças de um Coronel!...

Se a PM [, Polícia Militar,] me pedisse a identificação era só baixar as calças e mostrar a etiqueta com o nome do Coronel...

A minha Companhia [, a CCAV 2639,] em termos de formação era muito, muito heterogénea.

A minha origem foi o 3º Pelotão, Os Kimbas.

Mais tarde fiz parte dum Pelotão de "elite", constituído por rapaziada mal comportada, que foi "enviado" para Bissum para acompanhar uma companhia açoriana,  também muito "esquisita", cujo capitão não conheci por razões de saúde.

Fui com o alf mil Queiroz ("Caguei"),  casado com uma inglesa,  que vivia em Bula, estás a ver a permanência dele em Bissum!  E com o Zé Viriato,  que infelizmente já partiu, promotor das famosas maçãs de Blequisse (Pete)!

Como vês, tudo gente aprumada e de alto gabarito!

De regresso fui chutado para Ponta Consolação para junto do alf mil Miguel Ângelo Guimarães] Leal, co-piloto do avião da TAP que caiu no Funchal em 19 de novembro de 1977, ironias do destino!

Os sete Kimbas que apanharam a Kalash. O fur mil Adriano 
Serra é o do meio, sentado na frente do "burrinho", o Unimog 411,
empunhando a Kalash. Local e data: Bula, Capunga, 2/5/1970.  
Foto (e legenda) de Victor Garcia (2009)
Uma tarde o Adriano Serra (, fur mil, para nós era o 1º Serra, ) foi com esse grupo da foto a uma tabanca na picada Capunga/Pete, à esquerda, não me recordo o nome,  comprar qualquer espécie comestível; de mãos a abanar, já no regresso,  eis que se depararam com o IN (desenfiado). Tinha ido matar saudades com a namorada... ainda com a farda cubana, desabotoada,  não hesitou em entregar a arma e fugir!... Ainda o perseguiram,  mas sem êxito, estavam pertíssimo do Choquemone, recearam alguma reacção de qualquer elemento por ali escondido.

Imagino o que terá acontecido ao mancebo, comentámos na altura que talvez não tenha regressado [à base] e se tivesse refugiado ou deslocado para outras paragens, certamente que o castigo seria severo!

Irei tratar das fotos este fim de semana.

Um forte abraço para todos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  24 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18672: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte II: As armas não se comem... mas, mesmo assim, apanhámos uma Kalash quando íamos à procura de galinha ou de porco... 

(**) Último poste da série > 14 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18632: (De)Caras (107): O "pilotaço" Mário Leitão, ex-fur mil farmácia (Luanda, 1971/73): tirou o brevê de piloto privado de avião (PPA) em 1977, tem 300 horas de voo e 800 aterragens... Além disso, é "cavaleiro do mar", mergulhador e instrutor de mergulho...

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18672: Álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) - Parte II: As armas não se comem... mas, mesmo assim, apanhámos uma Kalash quando íamos à procura de galinha ou de porco...





Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga  > CCAV 2639 (1969/71) > A insólita história da captura de uma Kalash...

Fotos (e legendas): © António Ramalho (2018) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico de António Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), membro da Tabanca Grande, nº 757, natural de Vila Fernando, Elvas (*).

Uma história com algo de burlesco, que merece maior desenvolvimento por parte do autor... Se não for anedota, é uma
história de se lhe tirar o chapéu!

Os tipos do PAIGC eram tão "humanos" como nós, capazes de perder a cabeça por um rabo de saia... Neste caso, o "camarada" que foi a Capunga dar uma queca, ficou sem as calças e a arma que lhe estava distribuída, mas salvou a cabeça... Presume-se que tenha fugido em pelota, e sem arma, ao ser surpreendido pelos pilha-galinhas... (Sabemos, pelo Victor Garcia, que eram 7, e que pertenciam ao 3º Gr Comb, "Os Kimbas").

Pergunta de editor curioso: o que lhe tirá acontecido ao chegar à "barraca" em Choquemone, em pelota e sem a sua bela Kalash  ? (LG)

2. O Victor Garcia, nosso grã-tabanqueiro de longa data, também publica na sua página a foto da famosa Kalash apanhada por 7 elementos (menos de uma secção) do 3º Gr Com da CCAV 2639, a que ele pertencia.



Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga  > CCAV 2639 (1969/71) > A insólita história da captura de uma Kalash



Guiné > Região Cacheu > Bula > Capunga  > CCAV 2639 (1969/71) >  Os 7 elementos do 3º Gr Comb, "Os Kimbas",  que capturaram a Kalash: Pereira, Ferreira, Serra, Moura, Nogueira, Marco Paulo e Torcato



Guiné > Região Cacheu > Bula > CCAV 2639 (1969/71) > Emblema de "Os Kimbas", o 3º Gr Comb

Fotos (e legendas): © Victor Garcia  (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem omplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

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quarta-feira, 4 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18483: Tabanca Grande (460): Gina Marques, nossa grã-tabanqueira nº 769... E não era sem tempo... A Gina foi o anjo da guarda, a enfermeira, a mulher extraordinária e corajosa, que deixou tudo (incluindo o emprego) para trazer à alegria da vida o seu homem., o António Fernando R. Marques, ex-fur mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... Um caso de (e)terno amor.


Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa >  2 de junho de 2011 > A Gina [Virgínia], o António Marques e o  José Carlos Suleimane Baldé (ex-1.º cabo da CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1969/74) na véspera de regressar a Bissau, depois umas férias de 15 dias, em Portugal, que ele não conhecia e com o qual sonhou uma vida inteira... Entre os muitos e generosos apoio que teve, contaram-se também os do casal Marques. (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


XXII Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Oitavos, Cascais, 19 de novembro de 2015 > Merece um prémio de lealdade e assiduidade este casal, o António Fernando Marques e a Gina.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Recorte de "O Primeiro de Janeiro", 28 de novembro de 1970.

Um número da revista que deve ter chegado a Bambadinca, mas que o António Fernando R. Marques nunca deve ter lido... Em janeiro de 1971 estava internado no HM 241, em Bissau, em estado crítico. Por outro lado, a leitura da notícia (Felicidade e Forças Armadas") não podia vir mais a propósito: a carreira das armas, num país em guerra, deixava de ser atrativa... No ano letivo de 1970/71, a Academia Militar tinha aberto 463 vagas a que concorreram apenas 70 candidatos (15%)... Depois de um segundo concurso, acabaram por ser admitidos 77 candidatos, mas poucos escolheram a G3 como fiel companheira: mais de metade foi para engenharia e administração...


1. A Gina foi uma extraordinária companheira para o Marques ("o Marquês, sem acento circunflexo", como eu lhe chamava, ele que era a calma, a gentileza, a correção, a compostura, em pessoa)... Ela foi e é; ele era e é... felizmente estão os dois vivos, e são avós babados.  São, além disso, um inseparável casal, participando, de há muito, nos nossos convívios anuais ou mais regulares: do pessoal de Bambadinca, 1968/71, da Tabanca Grande, da Tabanca da Linha, etc.


A Gina foi uma extraordinária companheira do António, nomeadamente nos dois anos de "comissão militar" forçada que ele teve que fazer no antigo Hospital Militar Principal, na Estrela, em Lisboa, para onde foi evacuado, na sequência da mina A/C em que ambos, eu, ele e mais duas secções, caímos, no fatídico dia 13/1/1971, a menos de 2 meses do fim da nossa comissão, à saída do gigantesco reordenamento de Nhabijões (**)...

A Gina tem estado sempre ao lado do António, nos bons e maus momentos. E ajudou-o depois a criar e a desenvolver os seus próprio negócios, associados ao irmão mais velho. O casal vive hoje na Quinta da Torre, em Cascais. Ambos estão reformados, ou melhor, dedicam-se hoje a ajudar os filhos (um comandante da TAP e uma hospedeira de bordo) a cuidar dos netos...

É bom que se saiba isto, das "nossas mulheres que também foram à guerra"... E, por lamentável lapso meu, a Gina só agora entra para a Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 769 (****)... Devia ter entrado, no mínimo, em 2011, na altura em que faleceu a Teresa Reis, a esposa do Humberto Reis.


2. Conheço a Gina... desde os tempos de Guiné. De fotografia, claro... A mina em que eu caí, em 13 de janeiro de 1971, mais o seu noivo António Fernando R.  Marques haveria de aproximarmo-nos... graças também ao nosso blogue, à Tabanca Grande, aos nossos convívios ao longo destes anos todos. Se a memória não me atraiçoa, (re)encontrámo-nos em Fão, Esposende, em 1994, por ocasião do 1.º Encontro do Pessoal de Bambadinca de 1968/71.

Por coincidência,  estive na Sexta Feira Santa, em Esposende e em Fão, duas belas terras do distrito de Braga... Fui lá à procura da lampreia e dos "sabores do mar"... Perguntei pelo António Manuel Carlão, que chegou a ter um estabelecimento comercial, o "Café Juventude", onde almoçámos em 1994... Fechou entretanto. Disseram-me que era um retornado de África, natural de Mirandela, e conhecido na terra por Tony Carlão. Os sogros, António Bento e Zulmira de Jesus Eiras, também retornados, tinham  uma casa de fados, segundo me disseram, o conhecido restaurante "A Lareira", junto aos Bombeiros Voluntários de Fão  (, hoje com outra gerência). Um filho do Carlão e da Helena vive em Esposende. E uma filha era casada com o nosso leitor João Areias. O Carlão e a Helena era um dos poucos casais, metropolitanos,  que viviam em Bambadinca no nosso tempo (1969/71).

O António Fernando Marques, meu camarada da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), namorava a Gina e recebia, com regularidade, as suas "cartas de amor"... Namoravam-se e pensavam casar mal ele acabasse, com vida e saúde, a sua comissão no CTIG.

Creio que era o irmão mais velho que lhe mandava a revista  do reviralho, a "Seara Nova"... O número de janeiro de 1971 chegou tarde a Bambadinca, ele já não o leu. Estava em estado em coma, no HM 241, em Bissau... 17 dias em coma, a contar do fatídico dia 13 de janeiro de 1971.

Sei hoje, pelas conversas que vamos tendo,  que a vida não lhe fora fácil,  ao António Marques, sendo oriundo de famílias pobres, como aliás a maior parte de nós. Os filhos dos ricos não iam parar à Guiné... Era um camarada discreto e poupado, que não se metia em tainadas como alguns de nós... Não bebia, não jogava, deitava-se cedo... Tínhamos algumas afinidades, falávamos da situação política, éramos amigos e eu alinhei no mato com ele, bastantes vezes... mesmo não tendo um pelotão certo. Ele era fur mil at inf, do 4.º Gr Comb, comandante da 2.ª secção, eu costumava comandar a 3.ª secção, que não tinha, desde o início, comandante atribuído.

O António faz anos a 24 de agosto. E este ano o casal vai falhar o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio, porque o seu neto mais velho faz anos nesse dia... Creio que 15 aninhos. A Gina faz anos a 1 de abril,  o "dia das mentiras", queixava-se ela, há dias, no almoço da Tabanca da Linha. Ainda fui a tempo de pedir ao Carlos Vinhal para lhe fazer um postalinho de parabéns (***). E prometi, a mim mesmo, que desta vez é que ela iria entrar, "de jure", na Tabanca Grande. Porque "de facto" ela já era, há muito nossa, "grã-tabanqueira" (****).

Um beijinho, Gina. Bebo um copo à vossa saúde e ao vosso (e)terno amor. Sê bem vinda à Tabanca Grande. É apenas uma formalidade, é sobretudo a reparação de uma injustiça. O teu lugar é aqui, há muito. Luís
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Notas do editor:

(***) Vd. poste de 1 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18474: Parabéns a você (1411): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Esp do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73) e Gina Marques, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do António Fernando Marques

(****) Último poste da série > 30 de março de 2018  > Guiné 61/74 - P18471: Tabanca Grande (459): João Schwarz, novo grã-tabanqueiro, nº 768.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18170: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (53): três balas de kalash para uma missão suicida: o trágico fim do ex-soldado 'comando', Cissé Candé, em abril de 1978


Guiné > Região de Bafatá > Fajonquito > Junho de 1972 > CCAÇ 3549 / BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74> Equipa dos Condutores e Faxinas: da esquerda para a direita: José Maria, Vasconcelos, Carvalho e Fernando Mandinga. Na primeira fila: Jorge Suleimane, Barbosa (Mamassaido), Braima Banassé e o Francisco (Cherno-Dabo).

Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Cherno Baldé, foto atual. Gentileza
da sua página no Facebook.
I. Mensagem do nosso amigo e grã-tabanqueiro Cherno Baldé, com data de ontem:

Caros amigos Luis e Carlos Vinhal,

Antes de tudo, espero que tenham entrado com o pé direito neste ano novo, com votos de saúde e felicidades junto dos seus entes queridos. Também aproveito o ensejo para desejar, a todos os meus amigos reais e/ou virtuais do Blogue da Tabanca grande, votos de festas felizes e prosperidade no ano novo que agora inicia.

Juntamente envio um texto para vossa apreciação e posterior publicação, caso assim o decidam.

Eu passei as festas de Natal na minha aldeia de Fajonquito e a passagem do ano em Bissau com a família.


Um grande abraço de estímulo e de encorajamento para mais um ano de luta e de trabalho para uma vida melhor.

Cherno A. Balde



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > 1970  > Grupo da 1.ª CCmds Africanos, em formação. Vê-se na segunda fila, sentado, o cap 'cmd' graduado João Bacar Jaló. Não temos nenhuma foto do Cissé Candé, natural de Fajonquito,  que pertencia à 2.ª CCmds Africanos, tal como o nosso saudoso Amadu Djaló.

Foto: © Virgínio Briote / Amadu Djaló (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


II. Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (53): 

Três balas para uma missão suicida (*)

por Cherno Baldé

Fajonquito, Abril de 1978

Os dias sucediam-se normalmente nessa época seca. As mulheres continuavam a levantar-se cedo para pilar o milho que seria utilizado para matar a fome das crianças que passavam os dias em casa durante o dia e no período da noite quando os homens voltassem dos trabalhos da preparação dos terrenos no campo para a época das chuvas que se aproximava e das pastagens longínquas situadas para lá das bolanhas de Berecolóm e Sunkudjumá.

A vida na aldeia decorria calmamente, entrecortada aqui e ali por questões mundanas, de querelas por mulheres e roubos de gado num contexto em que, cada vez mais, a autoridade de Estado deixava de se fazer sentir nas zonas mais periféricas do pais.

A contrastar com o sentimento de alguma insegurança e de incerteza politica, eram os festejos ligados à independência recente do país com danças frenéticas, acompanhadas de tambores e cânticos das mulheres nos seus trajes multicolores, embora o entusiasmo fosse cada vez menor, assim como a adesão das multidões. “Bhê-Tchebhiríma-ey!” (estamos fartos desta gente) diziam em surdina os mais ousados. Manifestações de apoio seguidos de reuniões intermináveis, todos os dias, era demais para os pobres camponeses que não podiam desperdiçar seu precioso tempo em futilidades.

Para o jovem Cissé (1), todavia, a preocupação era outra. Desmobilizado dos Comandos Africanos, tinha regressado à aldeia havia pouco tempo e, sem problemas de maior, tentava reintegrar-se na vida e nos trabalhos da aldeia na companhia do seu grupo de idade e dos irmãos mais novos, esperando poder mostrar aos mais velhos da aldeia que a vida militar não mudara em nada a sua aptidão e afinco no trabalho que aprendera desde os primórdios da sua juventude.

Ao mesmo tempo, as informações que circulavam não o deixavam sossegado. Os rumores davam o tenente Djamanca, o Carlos Bubacar Djau (2), o Sedjali Embaló (3) e outros, antigos oficiais e colegas do Batalhão dos Comandos, como presos algures em lugar incerto, talvez mortos, e havia que encontrar uma solução o mais rápido possível.

Uma noite decidiu falar com a mulher sobre o assunto. Deviam emigrar para o Senegal, afastar-se por algum tempo, deixar a poeira assentar. Que não, respondera a mulher, emigrar agora e deixar a família com um bebé nos braços, não podia ser, que esperassem ainda um pouco, talvez depois da próxima campanha agrícola.

Os olhos de Cissé emudeceram de lágrimas contidas, pois a mulher não compreendia o desespero da situação e ele sabia que não podia mostrar sinais de fraqueza. Precisamente, ele planeava passar as chuvas já no outro lado da fronteira. Nos dias que se seguiram falou com os seus pais, em especial com o tio paterno sobre o assunto, pedindo-lhes que intercedessem para convencer a mulher no maior sigilo possível, pois o assunto não podia ser do conhecimento público.

Entre outras coisas, chamou-lhes atenção sobre a presença assídua do homem da segurança do Estado que aos olhos de todos não passava de um idiota qualquer, animador da vida social na aldeia em promiscuidade constante com as mulheres, mas que, na realidade, trabalhava para a sua perda. Era ele que controlava a situação na aldeia e arredores, transmitindo as informações ao mais alto nível do Partido e da região. Passava todos os dias nas moranças como se viesse simplesmente cumprimentar os homens grandes, mas o objectivo era outro e Cissé sabia-o, sentindo-se vigiado por olhos e forças invisíveis cujo cerco se apertava de dia para dia.

Sentindo-se incompreendido e encurralado, não podendo aguentar mais, o jovem ex-comando começou a ser violento nas suas atitudes e numa tarde quente do mês de Abril [de 1978], por da cá aquela palha, passou mesmo a vias de facto com a mulher, tendo-a agredido e provocado alguns ferimentos na cabeça. Chegados ao posto sanitário para tratamento e, pela sua gravidade, o caso foi levado junto das autoridades que lhe deram ordem de prisão, sendo encarcerado dentro da residência do responsável pela segurança. Na solidão do cárcere, concluiu que aquilo que ele temia há muito, tinha finalmente chegado e agora estava nas malhas dos agentes da segurança, donde nunca poderia sair.

Por volta das 20 horas, já a noite se tinha abatido sobre a aldeia e, no desespero da causa, forçou a
janela do pequeno quarto que lhe servia de cela, saiu para a varanda da casa e reentrou, pelas traseiras, no quarto do homem da segurança e, como previa, estava ali a Aka (HK-47)  [foto à direita], pendurada na parede da casa. Inspeccionou e viu que a arma continha somente três balas. Abanou a cabeça de tristeza. O que poderia fazer com três balas num momento tão decisivo!?... Teria pensado. Saiu, contornando a área e dirigindo-se ao posto sanitário situado na zona central da aldeia, onde, nesse preciso momento e com a ajuda de um candeeiro petromax, estavam a suturar os ferimentos que ele tinha causado à sua esposa durante a briga da tarde. 

Apontou a arma para o circulo iluminado, não se sabendo bem se para matar a esposa desobediente, se o responsável da segurança que o tinha preso ou alguém do grupo dos curiosos que, entretanto, se tinham amontoado. O tiro da Kalash ecoou no ar e o candeeiro foi projectado pelos ares, aterrando-se a uma dezena de metros de distância. Entre gritos e gemidos de aflição, a multidão dispersou-se na noite escura, espalhando a noticia de um ataque a aldeia…, de mortos e de feridos…

Tudo leva a pensar que o Cissé ficou convencido ter cometido um acto tão irreversível quanto imperdoável e que poderia determinar o seu destino final, destino esse que, durante muito tempo na sua vida de soldado comando e em inúmeras ocasiões, durante as arriscadas missões em que participara, teria pensado, sem conseguir descortinar as suas reais formas. Quantas vezes perguntara a si mesmo quando e como seria a sua morte. Por bala ou por acidente? A única certeza que tinha era que não seria por doença.

Saiu da sua trincheira improvisada, contornou de novo a aldeia, seguindo por um trilho de cabras que atravessava a barreira dos arames farpados, entre o bairro mandinga de Morcunda e as ruínas do antigo quartel, embrenhando-se na escuridão dos arbustos à volta da pista de aviação, onde teria passado parte da noite, mergulhado na convulsão dos seus pensamentos confusos e de lembranças antigas da sua curta mas agitada carreira militar que agora subiam à tona.

Enquanto os guerrilheiros vindos em reforço andavam à sua procura no mato adjacente, durante a madrugada, qual animal ferido, ele teria voltado, sorrateiramente, junto a sua casa e, não tendo encontrado a esposa, ficara emboscado nas suas traseiras à espera dos primeiros raios do sol para finalizar a sua operação.

De manhã cedo, estavam os pais (o pai propriamente dito e seu tio, irmão do pai), sentados no “bentem” dos homens grandes, no centro da morança, a falar sobre os acontecimentos do dia anterior e, certamente, a reflectir sobre as possíveis consequências e medidas de precaução a tomar já que o problema se transformara, perigosamente, num caso de segurança de Estado com toda a região militar Leste em prevenção e de alerta máxima e, eis que surge, de repente, o vulto longilíneo de Cissé à porta da sua cubata, a poucos metros, com uma arma nas mãos e que os intimida nos seguintes termos:
- Olhem para o sol, seus velhacos, porque esta é a vossa última oportunidade em vida!!!

Todas as opiniões convergem no sentido de que ele dirigia estas palavras especialmente ao seu tio, com o qual nunca se dera bem, e que, na sua opinião, tinha contribuído negativamente para as difíceis relações com a sua mulher. Caçador profissional experiente, foi o primeiro a reagir, atirando-se ao chão num instinto de defesa. O mais velho, não sabendo ou não podendo reagir a tempo, ainda ficou petrificado e incapaz de reagir até sentir o assobio do projéctil perto das suas orelhas, para a seguir, também, imitar o irmão mais novo e estender o seu corpo esquelético e comprido no chão vermelho de poeira da sua morança como se estivesse morto, pensando na ousadia e atrevimento daquele garoto que ele criara com todo o amor de pai, antes de crescer e se transformar naquela máquina de Guerra insensível que os brancos apelidavam de Comandos africanos.

O Cissé tinha feito bem as contas, e pensando ter morto a esposa e os pais e, na certeza de que agora só lhe restava uma única bala, virou a Aka e meteu-a dentro da sua boca, premindo o gatilho. Era o fim…

Era o fim de um homem, de um jovem que tinha escolhido ser militar, um soldado da elite, que tinha participado e saído ileso nos assaltos as barracas de Oio e Morés em 1971; da invasão de Conakry em 71; que tinha visto com os seus olhos o cenário dantesco de morte e destruição na bolanha de Cufeu, em Maio de 73, durante o cerco a Guidage; da missão suicida e fratricida de Kumbamory em Junho do mesmo ano, dos raides e emboscadas sofridas naquele regresso lento e doloroso até à fronteira… E que tinha concluído que a vida sem honra e sem a dignidade, por que sempre lutara, não valia a pena ser vivida.

Foi assim o fim de um Comando africano, filho da aldeia de Fajonquito no Regulado de Sancorla, que no momento decisivo da sua vida, sentindo-se encurralado pelas estranhas circunstâncias da vida e incompreendido pela própria família, não querendo ser humilhado pelos Comissários do PAIGC pelos quais não nutria nenhuma simpatia e cuja legitimidade não reconhecia, só tinha três balas para cumprir a sua derradeira e última missão. Estava assim escrito que morreria de uma bala do inimigo, atirada pelas suas próprias mãos. Que a sua alma possa repousar em paz.

Nesse mesmo dia, quando chegaram os guerrilheiros, o Comandante da segurança, olhando para o corpo inerte de Cissé e o rio já escurecido de sangue que esvaíra da sua garganta esventrada, disse seca e asperamente aos homens e mulheres ali presentes:

- Este corpo que estão a ver é o de um cão nojento dos colonialistas que nos poupou o trabalho do seu fuzilamento.

Agora pergunta-se: Quantas vidas, quantos jovens ex-soldados, Comandos e não só, enganados e abandonados a sua sorte após a independência, terão sido obrigados a viver dramas semelhantes ou, dito por outras palavras, quantos terão sido imolados no altar dos quiméricos acordos e tácitos entendimentos entre o exército Português e os guerrilheiros do PAIGC, durante o processo da descolonização?

Feito em Fajonquito, aos 25 dias de Dezembro de 2017.

Com os testemunhos de Suleimane Pendo Baldé (o Camões); e de Mamadu Saido Candé (o Barbosa); com a autorização de publicação de Sambaro Candé (o João Henriques), irmão mais novo de Cissé Candé; tradução e texto de Cherno Abdulai Baldé (o Chico de Fajonquito).
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Notas do autor:

(1) Cissé ou Sissé Candé (as duas formas são utilizadas tanto para grafar nomes ou apelidos; no caso dos Mandingas é um apelido e para os Fulas de Gabu é um nome próprio mas de origem Mandinga). Desconheço como era escrito o nome do ex-comando que, pelas informações recolhidas, pertencia a 2.ª  Companhia dos Comandos Africanos.

(2) Carlos Bubacar Jau era natural de Fajonquito, foi alferes cmd da 2.ª Companhia e teria sido ele a patrocinar a entrada do Cissé nos Comandos.

(3) José Manuel Sedjali Embaló, natural de Fajonquito, era 2.º Sargento e pertencia à 1.ª  Companhia de Comandos.

Informação complementar  do editor:

Elementos recolhidos  a partir da pesquisa do cor inf ref Manuel Bernardo:

Abdulai Queta Jamanca: tenente“Cmd”, Cmdt CCaç 21 > Fuzilado em março de 1975, em Bambadinca. Incoprado em 12-1-1956, nasceu em 5/1/1937, em Farim; pertenceu originalmente à 1.ª CCmds Africanos. Era de descendência nobre ("príncipe fula").

Carlos Bubacar Jau: Alferes “Cmd” 2.ª CCmds Africanos; fuzilado no Cumeré; incorporado em 7-11-1971; nasceu em 13-3-1946, no concelho de Bafatá.

Sijali Embaló; furriel “Cmd” 1.ª CCmds Africanos. Fuzilado em 1974 no Cumeré: foi incorporado em  24/10/1966; nasceu em  7/5/1946, em Bafatá (concelho).
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 3 de janeiro de  2017 >  Guiné 61/74 - P16913: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (52): à semelhança da França (em relação aos seus "tirailleurs sénégalais"), quando é que Portugal reconhece aos seus antigos soldados guineenses a nacionalidade portuguesa?

Vd. primeiro poste da série > 19 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão