terça-feira, 30 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Henrique Martins de Castro,
Soldado Condutor Auto,
CART 3521
Piche, Bafatá e Safim
1971/74


1. Apresenta-se o ex-Soldado Condutor n.º 10311971 Henrique Martins de Castro, residente em Bairro, V.N. de Famalicão.

Começo por contar uma pequena história da minha vida militar.

Assentei praça no ex-CICA1, no Porto, em 7 de Junho de 1971, e tirei a especialidade no RC6 do Porto.

Certo dia em instrução militar, sofri um acidente de que resultou 1 morto e oito feridos nos quais estava incluído. Prestaram-me os primeiros socorros no Hospital de S. João no Porto e passados poucos dias mandaram-me a conta. Como não fomos culpados no acidente e estávamos em instrução militar, competia ao Ministério do Exército pagar a conta, que eram 550 escudos. Como já estava mobilizado para a Guiné e nem sequer sabia se morria na guerra, não paguei a conta. Deixaram-me ir e vir da guerra e mandaram-me novamente a conta já com os respectivos juros de mora no valor de 850 escudos. Como não paguei, enviaram a conta para as finanças de V.N. de Famalicão para cobrança coerciva, mas como não queria pagar, perguntei o que me acontecia se não pagasse. A resposta foi:
- Vamos a sua casa e fazemos-lhe uma penhora.

Perguntei:
- O que é isso?

Resposta logo de pronto e, muito zangado perguntei:
- Vocês sabem o que eu precisava de ter quando vocês fossem lá a casa fazer a tal penhora?

Pergunta o funcionário em tom bastante agressivo:
- O que era?

Respondo eu ainda mais agressivo:
- Era uma p.... duma HK 21 carregada com uma fita de 500 balas, que eu dava-lhes a penhora!

... Mas lá acabei por pagar.

Fui mobilizado para a Guiné na ex-RAP2 de V.N. de Gaia. Depois de gozar os dez dias de mobilização, foi o BART 3873, juntamente com a CART 3521 num grande desfile, atravessando a ponte de D. Luís do Porto, ver ao Teatro Sá da Bandeira, gratuitamente a peça Uma Cama Para Toda a Gente, intrepetada pelo Camilo de Oliveira e pela Io Apoloni, salvo erro.

Depois seguimos para Lisboa, rumo a Santa Apolónia de comboio, embarcámos em 22 de Dezembro de 1971 no navio Niassa rumo à Guiné, onde chegámos a 29, passando a consoada e o dia de Natal no alto mar.

De seguida embarcámos numa LDG rumo a Bolama para tirar o IAO que durou mais ou menos um mês. Acabado este, fomos novamente de LDG rumo ao Xime onde havia uma escolta militar à nossa espera para nos levar até Piche.

Já em Piche, a malta da Companhia fazia colunas a Canquelifá, Buruntuma, Nova Lamego, Bambadinca, Bafatá, Galomaro, etc., operações, patrulhas e psíco - que para quem não sabe, era dar um certo apoio e levar medicamentos (mesinho).

Estivemos em Piche mais ou menos até Agosto de 1972, só o primeiro Gr Comb ficou em Piche adido ao BCAÇ 3883. A Companhia seguiu para Bafatá com o segundo, terceiro e quarto Gr Comb.

A Companhia ficou com terceiro e quarto Gr Comb adidos ao BCAÇ 3884 em Bafatá, o segundo foi reforçar para Galomaro o BCAÇ 3872.

O terceiro e quarto Gr Comb alternaram entre si, ficando um em Galomaro e outro em Cancolim até se juntarem à Companhia em Bafatá, em 24 de Dezembro de 1972. O quarto Gr Comb deixa Cancolim e o primeiro deixa Galomaro para irem reforçar a CCAV 3405 em Nova Lamego.

Em 8 de Março de 1973, a Companhia deixa Bafatá rumo ao Combis, perto de Bissau, ficando assim distribuída:
- um Gr Comb em Ponta Vicente da Mata,
- um Gr Comb e duas Secções em Safim e uma secção em João Landim, fazendo patrulhamentos apeados, fluviais, psicos, etc.

Em Piche no dia 28 de Fevereiro de 1972, faleceu, vítima de um acidente com arma de fogo, Joaquim Francisco Rodrigues que está sepultado em Passos-Pinho-S. Pedro do Sul (ver em Windows Internet Explorer em mortos na guerra do ultramar, pesquisa do Google).

Em 3 de Abril 1972, tambem em Piche, sofremos o segundo morto de nome: Agostinho Ferreira Mendes, vitima de um ataque de abelhas na Operação Topázio Maior que começou no 2 de Abril.

Em autêntico desespero com as abelhas, resolveu rebentar com as duas granadas de fumo que trazia para as abelhas fujirem, ficou com um joelho esfacelado e como se pode calcular mais desesperado, pegou na G3, disparou dois tiros, pondo fim à vida. Está sepultado no cemitério concelho de Castro Daire.

Estes dois mortos não constam, como já me apercebi, na placa invocativa dos mortos do Ultramar na ex-RAP2, em V.N. de Gaia. O nosso terceiro morto de nome Octávio José Horta, era Primeiro Sargento Sapador e foi destacado para para outra companhia, morrendo a desmontar uma mina em 17 de Abril de 1973, como consta na placa invocativa dos nossos mortos em Safim, na Guiné-Bissau e na da ex-RAP2 em Gaia.

Embarcámos para a Metrópole com 27 meses e meio de Guiné, depois de sermos sucessivas vezes enganados. Adiaram-nos muitas vezes o regresso. Éramos para vir embora com 18 meses, passamos para os 21, dos 21 para os 24 e dos 24 para os 27. Quando no dia 28 de Março de 1974, embarcámos no navio Niassa, até julgavamos que era mentira. Foi a última viagem que o Niassa fez, chegando a Lisboa a 4 de Abril de 1974. Só nos sentimos seguros quando vimos o Cristo-Rei, nunca mais ninguém dormiu tal era a alegria. De manhã a emoção e a alegria eram tão grandes que havia centenas de militares a chorar por ver os seus familiares à espera. Eu também chorei e não tinha lá ninguém. Ainda hoje me arrepio e me emociono passados 34 anos, só em me lembrar desse dia.

Passados alguns anos tivemos um convite de alguém do BART 3873 e lá fomos 14 ex-militares da CART 3521, a um convívio, salvo erro no dia 10 de Junho de 1987, na Quinta da Paradela, em V.N. de Gaia. Nesse convívio, depois de comermos e de conversarmos sobre a guerra, lá fomos bebendo mais uns copos, sendo, no fim, nos oferecida uma medalha do BART 3873, alusiva ao encontro. Medalha essa que ofereci depois ao meu amigo Antunes, da 3494, que esteve no Xime juntamente com o nosso tertuliano Sousa Castro que pretenceu à mesma Companhia.

Como gostei deste encontro, organizei lá o encontro dos 25 anos de regresso da CART 3521. A concentração foi na ex-RAP2, depois houve uma missa por alma dos que faleceram lá e cá, a deposição de uma coroa de flores, oferecida por mim, aos nossos mortos, numa pequena cerimónia militar, prestada por um piquete, autorizada pelo senhor comandante a meu pedido. Houve um minuto de silêncio e o hino nacional como consta num filme que eu próprio fiz.

Comecei a organizar os convívios depois de 23 anos do regresso, ou seja no ano 1997, depois de um longo trabalho de pesquisa nos arquivos da ex-RAP2, autorizada pelo senhor comandante. Descobrimos, eu, o Sousa, o Vieira e um ex-sargento na reserva, os nomes e as residências dos ex-militares da CART 3521 aquando o seu regresso. Depois foi comunicar através dos telefones e lá se foi arranjando as direcções actuais. Deve-se muito ao Magalhães, que por trabalhar na PT, arranjou mais de cem contactos.

Sendo o organizador de todos os convívios, estou um pouco triste, porque cada vez mais há menos malta a aparecer. Dá-me muito trabalho e eu não ganho nada com isso, faço-o pelo gosto de ver a malta divertida e por ter a certeza que mais ninguém os faz.

No convívio dos 25 anos do nosso regresso, ofereci a coroa de flores de homenagem aos nossos mortos, o Sousa ofereceu uma colcha com o emblema da Companhia, o Vieira ofereceu centenas de t-shirts bordadas alusivas e o Magalhães ofereceu as medalhas também alusivas aos 25 anos do nosso regresso.

Brevemente vou contar uma pequena história sobre a minha ida à Guiné-Bissau, acompanha de algumas fotos.

É tudo por hoje.

Um abraço para todos os que lutaram na Guiné em especial aos da CART 3521.


Postal de Natal


Ponte de Caium em meados de 1972 na estrada que liga Piche a Buruntuma.


Hotel da malandrice > Foto tirada em Piche no abrigo dos condutores.


Abrigo dos condutores: em cima eu, em baixo o Botelho e o Simão.


Foto tirada no primeiro Encontro da CART 3521, passados 23 anos do nosso regresso à Metrópole, em Cucujães, Oliveira de Azemeis, no dia 4 de Abril de 1997.

2.Comentário de CV

Caro Henrique, estás apresentado. Sei que gostas de escrever embora tenhas algumas dificuldades técnicas com o computador. Como me disseste por telefone, és periquito nestas coisas da informática. Não desistas e vai insistindo, porque todos os dias aprenderás algo de novo. Nós cá também daremos uma ajuda.

Já mandaste umas fotos e um texto com a tua apresentação. Nada mal.

Recebe, em nome da Tabanca Grande, um abraço de boas vindas e votos de muita saúde.
Carlos Vinhal
_________________

Nota de CV

Vd. poste de 15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2947: O Nosso Livro de Visitas (17): Henrique Martins de Castro, CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

Guiné 63/74 - P3251: Em Busca de ... (41): Notícia sobre o ataque a Sedengal, em 21/12/1970 (Cor Carlos Matos Gomes)

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje, no último dia do evento. Na foto, o Coronel e Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz); a seu lado, o o catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...

Por detrás, o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. Matos Gomes, na altura capitão dos comandos, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história... Recorde-se que a Amura é hoje o panteão nacional da Guiné-Bissau, onde repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros heróis da pátria guineense, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, etc. (LG).

Foto e legenda: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.





Download:
FLVMP43GP

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Dia 4 de Março de 2008 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação > Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé) > Comunicação > 10h00 - 10h30: Carlos Matos Gomes (Coronel do Exército Português) : Guiné 1973 – Quando os portugueses perceberam que chegara o fim.
Neste excerto, com o o início da sua intervenção, Matos Gomes saúda os organizadores do encontro e faz votos para que esta iniciativa frutifique. Muito a propósito, cita o grande poeta africano, o moçambicano, José Craveirinha (1922-2003), Prémio Camões 1991, que escreveu em 1955 o belíssimo poema Sementeira: Cresce a semente / lentamente / debaixo da terra escura. / Cresce a semente / enquanto a vida se curva no chicomo / e o grande sol de África / vem amaurecer tudo / com o seu enorme calor de revelação (...).
Vídeo (1' 13''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes


1. Mensagem do Cor na Ref Matos Gomes (*), com data de 21 de Setembro de 2008:

Assunto - Um pedido de ajuda (**)

Olá, Luís, mais uma vez parabéns pelo excelente local de convívio e memória que tu e os “camaradas” criaram. Aproveito-o para um pedido de ajuda.

Eu e o Aniceto Afonso estamos a ultimar uma colecção de livros sobre a história contemporânea de Portugal que se centra nos “Anos da Guerra”. Algo que contribua para conhecermos melhor este período recente da nossa vida colectiva. Vamos incluir os factos que consideramos mais importantes para a compreensão do que se passou em cada um dos territórios, em Portugal e no mundo e cheguei a uma dúvida: o nosso comum amigo Josep Cervelló, que é, mais uma vez, nosso colaborador, inclui um facto que não consigo confirmar.

Escreve o Josep Cervelló nos factos relevantes de 1970:

Dia 21 de Dezembro de 1970, ataque do PAIGC ao aquartelamento português de Sedengal, que causou onze mortos.

Alguém, entre os tertulianos, pode confirmar, ou dar alguma informação relativa a este ataque, ou a ataques a Sedengal? Ficaria muito grato por esta ajuda.

Entretanto, quando a obra tiver data de saída informarei a tertúlia. Recebam os melhores desejos de felicidades, de continuação de êxito e de sã camaradagem que tenho tido a oportunidade de verificar nas minhas frequentes e sempre proveitosas visitas ao site.

Carlos Matos Gomes

2. Comentário de L.G.:

Carlos: Obrigado pelas tuas palavras de apreço e de encorajamento que diriges ao nosso blogue e ao nosso projecto, que tem tido algum sucesso, de criar uma Tabanca Grande, virtual, plural, onde possam caber todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram partilhar, uns com os outros, e com os demais falantes da língua portuguesa, as suas memórias da guerra colonial / guerra do ultramar / luta de libertação, naquele território, que tu de resto tão bem conheces e onde estivemos os dois juntos, ainda recentemente, numa semana inesquecível (de 29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008)...

Quanto ao teu pedido de ajuda, desde já fica aqui registado: estou certo que haverá alguém, dentro ou fora da nossa Tabanca Grande (termo mais forte, simbólica e afectivamente, do que tertúlia) que poderá confirmar ou informar o alegado facto a que aludes, e que teria ocorrido em Sedengal, na fronteira norte, junto ao Senegal: ataque do PAIGC, em 21 de Dezembro de 1970, ao aquartelamento português, de que terão resultado 11 mortos (de ambos os lados ? do lado das NT ? do lado do PAIGC ?)...

Pessoalmente não tenho informação de todo para te confirmar ou informar a notícia. Desconheço a eventual fonte do nosso querido amigo comum, Josep Cervelló. Pode ser que, entretanto, apareça alguém que tenha estado nessa época em Sedengal ou por ali perto (Ingoré, por exemplo) ou noutra parte da região do Cacheu. Estou certo que os nossos camaradas vão tentar ajudar-te (e ajudar-nos) na elucidação desta questão. Temos poucas referências sobre Sedengal. Mas julgo que na época que referes deveria estar em Sedengal um pelotão da CCAÇ 2540 / BCAV 2876 (1969/71). Um dos nossos camaradas que passou por essa unidade foi o ex-Fur Mil SAM, João Manuel Félix Dias, que mora hoje em Alchochete. Boa sorte nas tuas (e nossas) pesquisas. Bom sucesso para o vosso, teu e do Aniceto, projecto editorial.

Um grande abraço. Luís

________

Notas de L.G.

(*) Vd.
Curriculum Vitae do Carlos Matos Gomes:

(i) Nasceu a 24 de Julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha.

(ii) Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Alvares de Tomar e o curso de Cavalaria da Academia Militar.

(iii) Fez três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné, nas tropas comando.

(iv) Foi ferido e condecorado, participou em grandes e pequenas operações de guerra um pouco por toda a parte.

(v) É actualmente coronel na situação de reserva.

(vi) Paralelamente à carreira militar tem desenvolvido desde 1983, data da edição do romance «Nó Cego», uma continuada actividade literária.

Como romancista, com o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, publicou, além do referido "Nó Cego", os romances «ASP - De Passo Trocado», «Soldadó», «Os Lobos Não Usam Coleira», adaptado ao cinema pelo realizador António-Pedro de Vasconcelos com o título «Os Imortais», «O Livro das Maravilhas» e «Flamingos Dourados». Tem prestes a ser editado um novo romance «Fala-me de África».

Tem sido editado pelas editoras Bertrand, Nova Nórdica, Circulo de Leitores, Editorial Notícias e Casa das Letras. A sua obra consta das antologias de literatura portuguesa organizadas por João de Melo e foi tema da tese de doutoramento do Professor Rui Teixeira na Universidade de Colónia.

(vii) No cinema foi autor do argumento do filme «Portugal SA» do realizador Ruy Guerra, foi colaborador de Maria de Medeiros no filme «Capitães de Abril» e de Joaquim Leitão nos filmes «Inferno» e «20.13 – Purgatório».

(viii) Escreveu para a RTP a série «Regresso a Sizalinda», baseada no romance «Fala-me de África», a exibir proximamente e que é a primeira co-produção entre as televisões públicas de Portugal e de Angola na área de ficção.

(ix) Participou ainda na área dos áudio visual na ficção «Conta-me Uma História» de João Botelho.

(x) No âmbito da história contemporânea é co-autor, com Aniceto Afonso, das obras «Guerra Colonial» e «Portugal e a I Grande Guerra» editadas em fascículos pelo Diário de Notícias.

(xi) É co-autor, com Fernando Farinha, da obra «Repórter de Guerra», da Editorial Notícias.

(xii) É autor da obra «Nó Górdio – Moçambique 1970», da Colecção Batalhas de Portugal editada pela Tribuna da História.

(xiii) É autor de textos para a História de Portugal dirigida por João Medina para o Ediclube e da História Militar Portuguesa, dirigida por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira para o Circulo de Leitores.

(xiv) Foi consultor da série de três documentários para televisão «Isto Aconteceu» produzidos por Pedro Efe e da série a “Guerra” de Joaquim Furtado.

(xv) Participou nas séries documentais da SIC e da RTP sobre o Século XX.

Título da comunicação (no Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1-7 de Março de 2008):

Guiné 1973: Quando os portugueses perceberam que chegara o fim > Sinopse da comunicação:

Em 1973 a situação das forças portuguesas na Guiné fê-los perceber que a guerra chegara ao fim.
Spínola perdera as ilusões quanto ao apoio de Marcelo Caetano para uma solução negociada e ouvira da boca do chefe do governo que preferia uma derrota militar a negociar, as forças armadas portuguesas perderam a supremacia aérea e, sem ela, a guerra estava perdida.

O estado-maior português considerava que as forças do PAIGC tinham capacidade militar para isolarem e ocuparem uma guarnição na fronteira de escalão Batalhão ou duas de companhia, sem que existisse capacidade para o impedir e, menos ainda para as reocupar.

O PAIGC declara a independência e obtivera uma importante vitória política.

A comunicação será uma tentativa de explicação de como haviam os portugueses e os guineenses chegado aqui.


(**) Vd. último poste desta série > 12 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3250: Bibliografia de uma guerra (34): Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu (José Martins)

A propósito da conferência do nosso camarada António Graça de Abreu, aqui vai uma pequena contribuição.

Um abraço
ex-Fur Mil Trms,
CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos


Canjadude, 1968/70
__________

Bissau, 23 de Junho de 1972


Ruma à Guiné, o velho DC-6 ainda confortável e funcional, levantou da Portela de norte para sul e voou através da noite de Lisboa, as quatro hélices cortando o ar em cem milhões de pedaços. As luzes frias da cidade despedindo-se, o rio num abraço escuro, depois o vazio sobre rolos e rolos de nuvens.

Estas são as palavras por que começa o livro do António Graça de Abreu, Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura [publicado em 2007].

É um diário, e como tal seria um documento único e privado. Porém, há diários colectivos e que são, naturalmente, pertença de muitos. É o caso.

Mas o diário não se comenta. Lê-se, medita-se, recorda-se. Lê-se, muitas vezes através de uma ténue névoa que teima em chegar e manter-se, contra a nossa vontade, turvando-nos os olhos, apesar de tudo à volta estar claro. Quanto mais a queremos afastar, mais se adensa.

Medita-se, no que poderia ter sido o início e o fim desta aventura, ou desventura, secular a que foram sujeitos, no início dos anos sessenta do século XX, cerca de um milhão de homens, acabados de o ser.

Recorda-se, cada um dos que por lá passamos, aquilo que vivemos e sofremos, no dia-a-dia, desde a partida até à chegada. Recordamos, muito especialmente, com tristeza e saudade, aqueles que ao nosso lado viverem, sorriram e choraram e, por ironia do destino não tiveram regresso ou que chegaram, sem honra nem glória, “acomodados numa caixa de pinho” e desembarcados durante o silêncio da noite, quando tinham partido, à luz do dia, ao som de marchas triunfantes.

Mas não há sempre um regresso?<>
Bissau, 16 de Abril de 1974

Os papéis foram deferidos, a viagem está marcada para 20 de Abril, no voo dos TAM (Transportes Aéreos Militares), com chegada à Portela, ao Figo Maduro por volta das sete horas da tarde.

A Guiné acabou, mas só acredito quando o avião começar a descer sobre Lisboa.



São vinte e três meses de memórias, são muitos dias e muitos minutos, e cada um de nós viveu e sofreu, e agora recorda com alguma saudade (porque não com nostalgia) daquela que é a nossa segunda pátria?... Mas com a certeza do dever cumprido, e, sobretudo, com a esperança de que os nossos filhos e netos nunca tenham de pegar em armas

Bissau, 17 de Abril de 1974

Dividimos almas, afectos, o calor do sangue, ideias, desígnios, promessas de futuro.







Locais e coordenadas dos locais onde esteve o CAOP 1> Canchungo/Teixeira Pinto 12º 06’ N – 16º03 W; Mansoa 12º 03’ N – 15º 19’ W; Cufar 12º 01’ – 15º 18’ W
Fonte: Google Earth


Comando de Agrupamento Operacional

Comando de Agrupamento Operacional Oeste
Comando de Agrupamento Operacional nº 1
Identificação: CAOP / CAOP Oeste / CAOP 1


Comandantes:

Coronel Pára-quedista Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro
Coronel de Artilharia Gaspar Pinto de Carvalho Freitas do Amaral
Coronel Pára-quedista Rafael Ferreira Durão
Tenente-coronel de Infantaria Pedro Henriques
Coronel Pára-quedista João José Curado Leitão

Chefes do Estado-Maior:

Major CEM Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos
Major CEM Luís Alberto Santiago Inocentes
Major de Artilharia João António de Gusmão Pimentel da Fonseca
Major de Infantaria Carlos Diamantino Bacelar Pires
Major de Artilharia João Augusto Fernandes Bastos

Inicio: 08 de Janeiro de 1968
Extinção: 01 de Julho de 1974


Síntese da Actividade Operacional

O agrupamento foi organizado e constituído com carácter permanente e com pessoal de nomeação individual, sendo inicialmente orientada para intensificar esforço de aniquilamento sistemático dos grupos inimigos que exerciam pressão directa sobre o "Chão Manjaco", na região de Pecau-Churo-Coboiana-Pelundo-Jol. Para o efeito foram-lhe atribuídas todas as forças localizadas naquela zona de acção, nos sectores de Teixeira Pinto e Bula e outras forças de intervenção, fuzileiros especiais, pára-quedistas, comandos e um batalhão de cavalaria.

A partir de 27Jan69, o CAOP instalou-se em Teixeira pinto, iniciando a sua actividade em 06Fev69 com a série de operações “Aquiles” e desenvolvendo intensa actividade operacional de patrulhamentos, emboscadas, batidas e acções apeadas e helitransportadas, de que se destacam as operações “Jovem Zagal”, “Lobo Bravo”, “Giboia Verde”, “Com Taça”, “Grande Vela”, “Joeirada”, “Gavião Satélite” e “Bafo Quente”, entre outras.

A partir de 12Mar69, a sua zona de acção foi alargada ao subsector de Có e em 05Set69 ao subsector de Cacheu; em 01Jul69, após reformulação dos limites dos sectores, foi ainda criado p Sector 07, em Pelundo.

De 04Jun69 a 28Jun69, o CAOP estabeleceu um comando avançado em Buba e planeou, comandou e coordenou a operação “Grande Salto”, com vista à prossecução dos trabalhos da estrada Buba-Aldeia Formosa e ao aniquilamento dos grupos inimigos Nafo-Unal.

De 6Mar70 a 30Mar70, a sua responsabilidade foi alargada ao sector de Bissorã e de 20Mai71 a 29Jun71, cedeu os sectores de Bula e Bissorã ao Comando de Agrupamento Temporário (CAT), entretanto criado nesse período, para actuar naquela zona.

Em 01Ago70, com a criação de um segundo CAOP, tomou a designação de CAOP Oeste e, em 22Ago70, de CAOP 1.

Em 21Abr71, na sequência de tentativa para conversações de paz no “Chão Manjaco”, foram assassinados na região Pelundo-Jolmete três majores e outro pessoal do CAOP 1.


Em 28Jan71, assumiu o comando directo dos subsectores de Cacheu e Bachile, então retirados à responsabilidade do B.Caç. 2905.

Em 01Fev73, foi transferido para Mansoa, assumindo a responsabilidade de comando operacional dos sectores de Bissorã (O1), Mansoa (O4), Bula (O1-A) e Nhacra (COP 8), este só até 21Mar73, orientando o esforço de contenção da guerrilha para as regiões do Oio, Changalana e Sara, planeando e comandando várias operações, de que se destacam as operações “Empresa Titânica”, “Gente Valorosa” e “Jogada”, entre outras.

Em 21Mar73, destacou vários elementos para organização do CAOP 3, até que, rendido em Mansoa pelo COT 9, foi colocado em Cufar em 02Jan73, assumindo a responsabilidade dos sectores de Aldeia Formosa (S2), Catió (S2), Cadique (S4) e Gadamael COP %) e orientando o seu esforço para a contenção da luta armada na zona Sul e para os trabalhos de construção e asfaltagem de itinerários naquela região.

Em 01Jul74, já na fase de retracção do dispositivo, foi extinto e recolheu a Bissau.

José Martins

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Nota de vb: artigo relacionado em

Guiné 63/74 - P3249: Bibliografia de uma guerra (33): Memórias literárias da Guerra Colonial: Na 5ª feira, todos com o nosso António Graça de Abreu

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CAOP 1 > Março de 1973 > O Alf MIl Graça de Abreu junto ao obus 14.


No próximo dia 2 de Outubro, 5ª feira, às 19H00, na Biblioteca-Museu República e Resistência/Grandella , o António Graça de Abreu, membro da nossa Tabanca Grande e nosso querido camarada, apresenta o seu livro Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura.

O livro, publicado pela Guerra e Paz Editores, em 2007, foi escrito a partir das notas do seu diário e dos seus aerogramas.

O nosso blogue convida todos os amigos e camaradas da Guiné, e em especial os que residem na área da Grande Lisboa, a participar, festivamente, neste evento. É também um pretexto para nos encontrarmos e matarmos saudades.

O António Graça de Abreu foi Alf Mil, no CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).

(i) Regressou a Portugal nas vésperas do 25 de Abril de 1974.

(ii) Viveu na China vários anos. Entre 1977 e 1983 leccionou Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai.

(iii) Natural do Porto, é casado com uma médica chinesa, de quem tem um filho.

(iv) É professor do ensino secundário em Mafra.

(v) Leccionou Sinologia na Faculdade de Ciências Sociais Universidade Nova de Lisboa (FCS/UNL) e no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS).

(vi) Vive no concelho de Cascais.

(vii) Tem uma dúzia de livros publicados na área da Sinologia, da poesia e dos estudos luso-chineses. É um reputado tradutor de chinês-português.


República Popular da China > Pequim > s/d > O António Graça de Abreu na praça Tianamen

Fotos: © António Graça de Abreu (2008). Direitos reservados.

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Notas de vb:


Artigo relacionado em:

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3235 Bibliografia de uma guerra (31): Memórias literárias da Guerra Colonial em Angola

Vd. alguns postes recenets do António Graça de Abreu, publicados no nosso blogue:

9 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3188: A guerra estava militarmente perdida ? (28): René Pélissier, uma crítica, uma adenda, um ponto final (António Graça de Abreu)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

O António é membro da nossa Tabanca Grande e activo colaborador do nosso blogue desde Fevereiro de 2007:

5 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1498: Novo membro da nossa tertúlia: António Graça de Abreu... Da China com Amor

6 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1499: A guerra em directo em Cufar: 'Porra, estamos a embrulhar' (António Graça de Abreu)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo)

27 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1552: Lançamento do livro 'Diário da Guiné, sangue, lama e água pura' (António Graça de Abreu)

16 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1601: Dois anos depois: relembrando os três majores do CAOP 1, assassinados pelo PAIGC em 1970 (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

1 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1807: António Graça de Abreu na Feira do Livro para autografar o seu Diário: Porto, dia 2 de Junho; Lisboa, dia 10

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2414: Notas de leitura (5): Diário da Guiné, de António Graça de Abreu (Virgínio Briote)

domingo, 28 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)


Ílhavo > Costa Nova > 25 de Agosto de 2008 > Eu e o nosso ex-Cap Mil Jorge Picado (*), numa esplanada local. Falando naturalmente da nossa Guiné e das nossas desvairadas vidas. O Jorge, que já está reformado, há uns largos anos, da função pública (foi engenheiro agronómo dos Serviços Regionais do Ministério da Agricultura), sofreu há meses, em Novembro passado, um duro golpe com a morte, aos 69 anos, da sua companheira, esposa e mãe dos seus quatro filhos (Ana Constança, Jorge Manuel, João e José Senos da Fonseca Picado). Maria José de Senos da Fonseca Picado, carinhosamente conhecida na Costa Nova como D. Zeca, foi uma das fundadoras e a grande líder da mais importante instituição privada de solidariedade social da região, o CASCI - Centro de Acção Social do Concelho de Ílhavo, fundado em 1980. Figura ilhavense muito conhecida e respeitada, era "uma força da natureza" - dizem os seus amigos e admiradores. 

 O Jorge é uma figura afável e um grande conversador, um verdadeiro tertuliano. Neste texto, que dá início a uma nova série ("Eu, capitão miliciano, me confesso"), conta aqui as suas peripécias como capitão à força no TO da Guiné... Ilhavense, é um talvez dos raros da terra que não fez a "tropa do bacalhau"... 

Nesta esplanada, havia vários amigos dele e do meu amigo, Zé António, ligados ao mar e às marinhas (mercante e de guerra), incluindo o comandante na reforma e antigo professor da Escola Naval, José Armando Leite, por sinal compadre de outro amigo meu, ilhavense, o Dr. João Sena Vizinho, especialista em medicina do trabalho... Na Costa Nova, que pertence ao concelho de Ílhavo, o mar faz parte, de resto, do ADN de (quase) todo o mundo (**)... 

Leia-se, a propósito, o blogue de Ana Maria Lopes, Marintimidades. A Ana Maria Lopes é a antiga directora do notável Museu Marítimo de Ilhavo, que é de visita obrigatória, para quem passar por aquelas bandas... (Tive o privilégio de ter, este ano, um guia excepcional, na pessoa do Arq José António Paradela, que é um ilhavense de razão e coração, e que aos 16 anos passou pela duríssima experiência da pesca do bacalhau na Terra Nova).


Costa Nova > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > Um amigo comum, meu e do Jorge Picado, o Arquitecto José António Boia Paradela (pseudónimo literário, Ábio de Lápara).

Costa Nova > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > A Alice e o Zé António atolados no "tarrafo" da ria... De repente, vi-me transplantado para as margens do Geba Estreito, nas proximidades de Mato Cão, quarenta anos atrás...

Costa Nova > 26 de Agosto de 2008 > c. 8h50 > Caminho pedonal entre as dunas, que vem da Praia da Barra... Um magnífico passeio. Parabéns aos ilhavenses e à Câmara Municipal de Ílhavo pelo seu contributo para a defesa e preservação das dunas desta costa fabulosa, líndíssima...

Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > Um tradicional barco moliceiro, hoje transformado em meio de transporte de turistas... Tradicionalmente, os moliceiro têm (ou tinham...) dois paineis de proa e dois de popa, de pintura naïve... Cada painel consta de um desenho policromado, com uma cena mais ou menos pícara, relacionada com o quotidiano dos pescadores ou dos camponeses da ria, enquadrada por cercaduras de flores ou figuras geométricas. Há sempre, na base, uma legenda-comentário, escrita às vezes em mau português, e com um segundo sentido (como no caso da imagem acima: "Mete as batatas no rego"...).

Costa Nova > Ria de Aveiro > Agosto de 2006 > A embarcação tradicional que fazia, até há pouco tempo, a travessia entre as duas margens, a Costa Nova e Ílhavo, cidade e sede do concelho... Parece que a carreira foi extinta... 

 Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

 1. Mensagem do nosso amigo e camarada Jorge Picado (*) com data de 26 de Setembro último: 

 Assunto - CPC/QC 

 Caríssimos Luís e restantes editores: 

 Acordei depois de regressar da belíssima Praia da Costa Nova, onde voltarei hoje para passar o fim de semana da tradicional Festa da Sra da Saúde, apesar de já não se assemelhar ao que era antigamente, mas que por tradição encerrava a época [balnear] e lembrei-me de escrever umas coisas que, se julgarem de interesse e oportunas publiquem. Se as meterem no cesto de papeis, não fico ofendido, podem crer, porque ás vezes dá-me a maluqueira e sou um pouco inconveniente. Abraços do Jorge Picado 

2. Na última década (?) de Agosto, na maravilhosa praia da Costa Nova do Prado onde passava o período estival, tive o grato prazer de rever, infelizmente por pouco tempo, o nosso Chefe da Tabanca Luís Graça, acompanhado de sua Esposa. Só não foi uma surpresa, porque o meu conterrâneo e amigo comum – Arq Paradela – que ele iria visitar, na véspera à noite, tinha-me avisado da sua passagem, a caminho da sua “Quinta” no Douro para uns dias de férias. 

 Foi com grande satisfação que (falámos abordámos) troquei [impressões com ele], Conversámos talvez durante uma hora, se tanto, sobre várias coisas vários assuntos…a minha terra… a profissão - até porque a mulher também era do Ministério da Agricultura … E, como não podia deixar de ser, veio também à baila a temática da Guiné e a minha “repescagem” para o serviço militar. 

Ao contar-lhe, muito superficialmente como e quando as coisas se passaram, fiquei com a ideia que manifestava um certo espanto. Não sei se foi impressão minha ou se na verdade o Luís ainda não se tinha inteirado bem da situação de como “apareceram” certos Cap Mil já um tanto “entradotes” na idade. Isto levou-me a pensar se não seria de deixar o meu testemunho sobre tal facto, até para que muitos possam compreender e ajuizar de certas situações vividas nos TO por quem conviveu com alguns desses “militares”. 

 Evidentemente que sobre esse assunto falo apenas por mim, mas tenho a certeza que das muitas dezenas de camaradas que como eu foram “obrigados” a ser Capitães, não teriam sido poucos os que apenas queriam era ver o tempo passar rapidamente e tudo fazer para preservar as suas vidas se possível de boa saúde, sem carrearem problemas de consciência pela vida dos jovens (que não tinham culpa alguma) obrigados a servir sob as suas ordens. 

OS CURSOS DE PROMOÇÃO A CAPITÃO DO QUADRO COMPLEMENTAR 

 Não sei se antes (do início da Guerra Colonial) já existiam destes cursos, mas quero apenas referir-me àqueles que passaram a existir quando a falta de Oficiais Subalternos para comandarem Companhias (sim, porque a verdade nua e crua sobre muitas vocações militares evaporou-se quando esta profissão teve de enfrentar armas a sério!!!), colocou o Governo de então na situação de lançar mão do expediente de repescarem os Oficiais Milicianos dos anos anteriores ao início da Guerra Colonial e antes de atingirem os 35 anos de idade, interrompendo-lhes as suas actividades profissionais e “subtraindo-os” até aos seus compromissos familiares, independentemente da sua vocação… 

 Faço aqui um parênteses para dizer que houve igualmente o caso dos Médicos que, até com mais idade pois alguns foram como Majores, mas estes iam exercer a sua profissão-especialidade e não comandar jovens em operações militares. Por isso não iam para CPCs ou afins. Começaram por conseguinte a convocar pelos COM que englobavam “os mancebos” no limite daquela idade e foram prosseguindo… até que este “filão” esgotou… e tiveram que “inventar” aqueles que o muito prezado Tertuliano Cor Rui Alexandrino denomina de “Capitães Proveta”, ainda que eu, apesar da idade com que fui chamado, também me considere como “um proveta”, dada a nula vocação militar (se a tivesse, após o 7.º ano liceal teria ido para a Academia Militar, pois que até era bom desportista e a prova disso é que fui o 2.º classificado do meu COM de AAA, graças claro às boas notas dos testes e da parte física que nunca pelo chamado “brio militar” que deixava muito a desejar…) e os fracos conhecimentos militares entretanto adquiridos… 

 Aproveito esta oportunidade, não para me desculpar que nada me pesa na consciência para que o tenha de fazer. Cumpri sempre as ordens que me foram dadas militarmente – em tempo de paz e na guerra – seguindo no entanto sempre aquela velha máxima de caserna mais ou menos assim: “na tropa, voluntário nem para descascar batatas”. Mas faço-o um tanto ou quanto espicaçado pelas duras, e porque não dizê-lo oportunas “críticas”, que o citado Rui faz no seu Rumo a Fulacunda, que aqui aproveito para elogiar e dizer que li (e hei-de reler) com enorme satisfação, não só por relembrar terrenos que pisei (e alguns também calcorreei), mas sobretudo por terem ficado tão “seguros” para mim, graças ao seu (ainda que outros também tivessem colaborado) profícuo labor e enorme capacidade e competência militar. Para o Rui e todos os outros, o meu agradecimento. 

 Depois destas divagações, que considero úteis para que possam compreender e então ajuizar certas situações vividas nos TO por quem conviveu com alguns desses “militares”, acrescento mais alguns pressupostos. Argumentariam talvez os defensores daquela época: “O País estava em guerra…era um dever Nacional que todos tinham por obrigação cumprir…”. Mas a verdade é que nem todos os dos COM eram chamados para estes Cursos. Apenas os que permaneceram nas Armas de Artilharia, Cavalaria e Infantaria, o foram. Ou seja, uns tinham mais obrigações do que outros! “Os de Engenharia não eram precisos, porque as necessidades desta Arma não existiam. Afinal só precisavam de Caçadores”, dir-se-ia. Mas se os Artilheiros (de AA e Costa) foram transformados em Caçadores, porque não transformaram também os Engenheiros? E porque é que alguns que tinham feito os COM naquelas Armas, foram depois, uma vez obtido um Curso de Engenharia, reclassificados (a seu pedido?) precisamente para não serem “apanhados”? E porque nem todos os Cursos de Engenharia permitiam tal reclassificação? 

Enfim, questões que naquela época não podiam ser afloradas, mas que nunca digeri, dado o meu ressaiboamento com a instituição militar (ou talvez fosse mais correcto com o Governo de então) que se foi gerando a partir da passagem a Aspirante Miliciano. Mas antes de prosseguir, como agora é corrente dizer-se quando se apresentam certas ideias, vou fazer a minha declaração de interesses. 

 Não tenho nada contra: (i) a Instituição Militar em si; (ii) todos aqueles que optaram pela carreira militar por convicção; (iii) todos os combatentes que se bateram nos diversos TO e o tenham feito por convicção ou sem ela (como no meu caso). Sou um pacifista, não daqueles folclóricos que empunhavam os cartazes Make love, not war, pois não sou tão ingénuo que julgue possível a resolução de todos os conflitos pelo diálogo, daí admitir a existência de Forças Armadas, é bom que se entenda. Mas ir para a guerra, quando não se optou por essa carreira, é preciso ter razões para tal…para bom entendedor… 

 Por isso após esta declaração de interesses, vou prosseguir com o assunto que me propus expor, mas as minhas queixas contra “o meu serviço militar” não são só as já afloradas. Cheguemos então ao CPC/QC que me transformou em Capitão, não de qualquer navio como as dezenas de conterrâneos meus, mas do Exército. Aquilo porque esperava há mais de um ano, aconteceu nos finais de Junho de 1969, quando recebi a convocatória para “frequentar o CPC/QC-2.º T.º/69, com início em 25/8/69, na EPI, nos termos da nota n.º18211-P.ºHC, de 27/6/69, da 2.ªSec. da RO/DSP/ME”. 

 Tinha: (i) 32 anos; (ii) cumprido o serviço militar obrigatório há 9; (iii) feito o 5.º ano do ISA [ Instituto Superior de Agromomia] há 10; (iv) sido convocado para prestar novamente serviço militar de 30/8/61 a 6/2/62 e de 18/8/62 a 17/10/62 duas situações que me inutilizaram 2 anos de ensaios de campo necessários para o meu trabalho de final de curso tendo como consequência apenas ter defendido a minha Tese do Final de Curso em Julho de 1963 (então já sem arriscar mais ensaios de campo), quando todos os meus colegas de curso já tinham 1 ou 2 anos de exercício profissional; (v) casado (até este acto esteve quase para ser impedido pela Instituição Militar) há 8; (vi) 4 filhos e (vii) trabalhava na Direcção Geral dos Serviços Agrícolas [DGSA] , mais exactamente com sede em Aveiro.

 No meio desta “desgraça”, felizmente que, no início de 1968, quando duma deslocação a Lisboa para reuniões de trabalho nos serviços da especialidade, fui alertado que o Covas Lima – de que já falei em história anterior – tinha sido convocado (ou estaria já?) para o CPC, pois era de COM anterior e, que se aproximava a vez doutro e também a minha - que era de COM posterior - de sofrermos a mesma sorte, pelo que tínhamos de tratar da nossa vida profissional visto que ambos estávamos ligados aos Serviços Agrícolas por contrato que, uma vez interrompido, nos fazia perder o vínculo à Função Pública, mesmo que a interrupção fosse motivada por convocatória militar. 

 Devo confessar que na “parvónia”, i. e. fora de Lisboa, estava completamente a leste destes conhecimentos e só por esta coincidência é que não fui apanhado desprevenido tendo, conjuntamente com essoutro colega, dado os passos necessários para que os Responsáveis da então DGSA salvaguardassem a nossa situação de forma a assegurarem-nos os postos de trabalho no caso de sobrevivermos. 

 Desculpem mais este à parte (ainda poderia acrescentar pelo menos outro), mas esta era a forma como nos tratavam então. Apresentámo-nos na EPI em Mafra no dia 25 de Agosto pelas 8H(?), devidamente fardados como constava das normas e de imediato, num dos corredores do Claustro bem perto da Porta de Armas(?), procedeu-se à formatura onde foi feita a chamada – para conhecimento dos possíveis desertores, que creio não ter havido – tendo sido dada a voz – pelo Ten do QP que nos comandava – de “apresentação a doentes(?)”, com a respectivamente formatura uns passos em frente. Para meu espanto – não sei qual foi a reacção dos restantes – logo se adiantaram alguns que, creio, seguiram quase de imediato para a consulta externa em Lisboa. 

Não sei quantos se safaram ou quantos regressaram, mas sempre guardei a imagem dum, que deve ter sido um bom actor – pelo menos amador no teatro da Academia de Coimbra – cuja face mais parecia ter sido revestida por “uma máscara de desvairado”. Uma coisa é certa, obteve os resultados que queria na Psiquiatria, pois livrou-se de tais sacrifícios pela Pátria. Estou a falar dum tal… oriundo da Figueira da Foz e mais não digo… Não posso precisar se fui o único – logo o 1.º – do meu COM de ART, mas creio que sim e apenas citarei os nomes daqueles de que me lembro. 

 Começarei logicamente pelos 3 colegas Agrónomos, que tivemos o mesmo TO por destino:

- O Ilídio Moreira, do curso de agronomia anterior ao meu, foi Cmdt duma CCaç (Geba) dum BCaç sedeado em Babadinca de 1970-72; 

 - O José Maria Queiroga (o tal que estava nas mesmas condições quanto ao emprego), do meu curso, foi chefiar a EAFB (Serviços Agrícolas) de 1970-72;

 - O António Clemente da Costa Santos, igualmente do meu curso, na REPACAP do COMCHEFE de 1970-72; 

 - O João Cupido, de Mira, e que passou a ser meu colega nas viagens a casa aos fins-de-semana, deixando-o à sua porta e apanhando-o lá ao Domingo à noite no regresso a Mafra, cujo destino também foi a Guiné como Cmdt da CCaç 2753 , onde teve um brilhante Alf Mil que conheci nas margens do RCacheu e não mais me esqueci (mesmo desconhecendo o seu nome, até ao encontro de Monte Real. Gratas recordações, podes crer, Victor Junqueiro); 

 - Tenho uma vaga ideia de que havia um Morais, assim para o gordinho e ar e espírito bonacheirão que teria desertado já em Moçambique (?). 

 - Um Ten MIL que tinha continuado na vida militar e vinha do Quartel da GNR que existia perto das Janelas Verdes, cujo destino desconheci; 

 - Os 3 jovens Alf Mil (ou graduados em Ten?) já com uma comissão e voluntários para seguir a carreira, respectivamente Fernandes (o Cap da famosa expressão do “Verão Quente”, “as armas estão em boas mãos”), Caimoto que também foi para a Guiné e um 3º de que não sei o nome; - Havia ainda um Nascimento que, creio, usava óculos. 

 Pronto, são estas as minhas recordações concretizáveis dos camaradas do CPC. A esta distância, sem qualquer elemento de referência, nem sei quantos éramos, mas o sentimento que guardo sobre a disposição, o (des)interesse, a resistência manifestada à execução da preparação militar que nos era ministrada (analisado agora até me parece que era ou foi um contra-senso) e a quezilência para com os instrutores, posso afirmar que era maioritária. 

Quanto aos instrutores: 

 - Havia um Major, mais para o baixo do que alto, talvez o Cmdt do curso e que nos ministrava uma das disciplinas teóricas, mas já nem sem qual. 

 - Um Cap ou ainda Ten do QC, com uma comissão pelo menos em Angola, que nos ministrava assuntos de Manutenção Militar, de que recordo conscientemente as vezes com que nos chamava a atenção para o cuidado e atenção que devíamos dispensar ao controlo administrativo da Companhia, para que no final da comissão não sofrêssemos qualquer dissabor. Repetiu-nos estes conselhos vezes sem conta, dando-nos exemplos concretos de camaradas “apanhados”, no final das comissões, nas malhas “de outras guerras” que a maioria das pessoas, e com certeza até muitos dos camaradas, desconhecem. 

 Devo confessar que na altura achava toda aquela conversa um tanto ou quanto estranha. Afinal estavam-nos a preparar para comandar soldados numa guerra ou para chefiar uma qualquer repartição administrativa (até uns mapas impressos numas folhas muito compridas me faziam lembrar os existentes nas Repartições de Finanças, que conhecia fruto do meu contacto por ter pertencido à Comissão de Avaliação dos Prédios Rústicos de Ilhavo)? A verdade é que também ia sendo “tramado” nessa outra guerra da MM. Se tiver disposição ainda contarei esse episódio. 

 Não sei quantos Ten do QP nos ministravam outras matérias incluindo as propriamente militares, desde a ordem unida, passando pela aplicação militar, tácticas, provas de campo, etc. Os últimos dias foram considerados como estágio complementar que constou dumas visitas a outras Forças com quem poderíamos ter de actuar, tais como: Fuzileiros; Força Aérea em Tancos e Operações Especiais em Lamego, onde terminámos no CIOE o estágio complementar do CPC no dia 20DEZ, data em que garbosamente fomos promovidos automaticamente a Capitães! E era assim que em 118 dias (não úteis), se transformavam simples paisanos (a maioria, pelo menos, sem motivação e naqueles anos já não apoiantes de tal guerra) de 32-33 anos em “brilhantes” Capitães, que eram dados como aptos para comandar tropas numa guerra daquela natureza? Por isso caros camaradas pergunto. Ainda se admiram de situações menos correctas de certos Cmdt de Companhia? Era assim que queriam ganhar a Guerra? 

 Desculpem, mas tenho por mim que muito fizeram eles. E com estas condições até me admiro como não houve mais mortos devido à sua inexperiência militar. No dia 21 de Dezembro passámos à situação de licença registada, ficando a aguardar (mesmo que tivessem perdido o emprego) o resultado, não do totoloto ou do euro milhões que ainda não existiam, mas do “bilhete premiado” na lotaria dos TO e Unidades. 

 _________ 

 Nota de L.G.: 







Guiné 63/74 - P3247: O Nosso Livro de Visitas (30): José Augusto de Araújo, 1.º Cabo At Cav, CCav 2639, Binar, Bula...(1970/73)

Apresenta-se o José Augusto de Araújo, ex-1º Cabo Cav, CCAÇ 2639




Caros amigos ex-combatentes, daqui vos envio as minhas saudações para todos quantos fazem parte desta Tabanca Grande, e não só! Mas passemos ao que interessa.

Eu gostaria de fazer parte da vossa já longa lista de ex-combatentes, motivo pelo qual vos estou a contactar! Passo portanto a apresentar-me:



Nome: José Augusto de Araújo

Posto/especialidade: 1º cabo Atirador de Cavalaria

Unidade mobilizadora: Reg. de Cav. 7

Companhia Cav 2639

Grupo de combate: 4º pelotão

Local: Guiné

Zonas de acção: Binar, Bula, destacamentos de Pete, Ponta Consolação, Capunga,e Bissum-Naga.


Junto as duas fotos necessárias para o vosso ficheiro/arquivo:





Com os meus agradecimentos

José Augusto de Araújo

__________


Notas:


1. Caro Camarada José Augusto:

Estás apresentado com as honras que te são devidas. Ficamos agora a aguardar a tua Memória.

vb

2. artigos relacionados em

sábado, 27 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3246: Simpósio Internacional de Guileje: Joseph Turpin, um histórico do PAIGC, saúda António Lobato, ex-prisioneiro (Luís Graça)

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje > 7 de Março de 2008 >

Depoimento gravado por Luís Graça, em Bissau, no Hotel no dia 7 de Março, por voltas 13h11, no último dia do encerramento do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008). 

As condições de luz eram más e a máquina era uma digital, de fotografia e não de vídeo. Joseph Turpin era um dos históricos do PAIGC, juntamente com Carmen Pereira e Carlos Correia, que estiveram presentes no Simpósio. Pediu-me para mandar uma mensagem para o António Lobato, o antigo sargento piloto aviador portuguesa, cujo T 6 foi abatido em 1963, na Ilha do Como (*). 

 Feito prisioneiro pelo PAIGC, o Lobato foi levado para Conacri, onde permaneceu sete longos anos de cativeiro, até à libertação em 22 de Novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde. 

"Ó Lobato, depois da tempestade, depois de tantos anos, não sei se te vais lembrar de mim..." - são as primeiras palavras deste representant do PAIGC, na altura a viver em Conacri, sendo então membro do Conselho Superior da Luta. 

 Neste curto vídeo, o Turpin recorda os momentos em que, por diversas vezes, visitou o nosso camarada na prisão. Não esconde que foram momentos difíceis, para ambos, mas ao mesmo tempo emocionantes: dois inimigos que revelaram o melhor da nossa humanidade... 

"Eu compreendia, estavas desmoralizado...Havia animosidade"... 

Joseph Turpin agradece ao Lobato as palavras de apreço com ele se referiu à sua pessoa, ao evocar há tempos, em entrevista à rádio, a sua experiência de cativeiro. Agradece o exemplar do livro que o Lobato lhe mandou e que ele leu, com interesse. Diz que ficou sensibilizado com as palavras e o gesto do Lobato. 

"Mas tudo isso hoje faz parte da história...Seria bom que viesses a Bissau" - são as últimas palavras, deste homem afável, dirigidas ao teu antigo prisioneiro português que ele trata por camarada... 

 O Joseph Turpin insistiu comigo para entregar pessoalmente ao António Lobato esta mensagem. Infelizmente só agora tive oportunidade de o divulgar no nosso blogue (*), esperando que ele acabe por chegar ao conhecimento do seu destinatário. 

Não tenho, por outro lado, nenhum contacto pessoal com o António Lobato, que só vi uma vez, por ocasião da estreia do filme-documentário As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes. Espero, ao menos, que  alguém possa garantir, ao Joseph, em Bissau, que "a carta chegou a Garcia".

Para o António Lobato vai, da nossa parte, da minha e dos meus editores, bem como de toda a nossa Tabanca Grande, uma palavra de respeito, camaradagem, solidariedade e apreço.

Entretanto, da conversa que tive em Bissau, com o Joseph Turpin, recordo-me de ele me ter dito o seguinte: 

(i) O Élisée Turpin era seu tio e fundador do PAIGC (**); 

(ii) O Amílcar Cabral ficava originalmente em casa do pai do Joseph em Conacri; 

(iii) Eles eram uma família de comerciantes; 

(iv) Não falavam português, mas francês - o próprio Joseph aprendeu o português mais tarde... 

 Vídeo (1' 36''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes.

__________ 

 Notas de L.G.: 

 (*) Vd. poste de 26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3244: Bibliografia de uma guerra (32): Liberdade ou Evasão (Carlos Vinhal) 

 (**) Vd. poste de 12 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXV: Antologia (24): Elisée Turpin, co-fundador do PAIGC (Élisée Turpin)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

1. Mensagem, de 22 de Setembro do corrente, do José Nunes (*), ex-1.º Cabo Mec Elect de Centrais, do BENG 447 (1968/70).

Um dia tenho de me deslocar em serviço para Bissum-Naga, pelas 7 da manhã. Sou colocado na base do gabinete de transportes. Não estava pessoal nenhum. Passados uns momentos aproxima-se um indivíduo mestiço, com quase dois metros, pistola pelo joelho, tipo cowboy:

- Então, pessoal, vamos viajar, eu sou o Honório.

Na minha frente o mítico piloto que quase ninguém conhecia e todos suspiravam de alívio quando o motor do seu avião roncava nos céus da Guiné. Era norma entregar os carregadores da arma ao piloto e ele verificar se não havia munição na câmara. O Honório vira-se para e diz:

- Alguém me quer matar? Então vamos lá.

Dirigimo-nos para a DO:

- Engenheiro, tu vens prá frente.

A DO só tinha dois assentos à frente, a caixa de carga era onde a malta viajava. Levantamos, diz o piloto:

- Como temos aí amigos que andam pela primeira vez de avião, temos de fazer disto um passeio...

Voámos sempre por cima da estrada da base até João Landim. Todas as curvas da estrada foram feitas como se fôssemos de automóvel. Dirigia-se para Bula uma GMC carregada de pessoal, descia em direcção à jangada no rio, o amigo Honório ao ver a GMC dá uma gargalhada e diz:

- Ah!, vocês vão aí?!

Pica a DO direito à GMC e eu só vejo pessoal a saltar da viatura em andamento. O avião levantou e ele ria , ria...
Ao aproximar-nos de Bula numa bolanha lá andava pessoal a trabalhar e ele novamenta pica o avião direito ao pessoal, e eu cada vez mais mal disposto com as manobras bruscas do avião:

- Engenheiro, olha em frente, não o obstáculo, vê-se pelo canto do olho...

Antes de aterrarmos em Bula, demos duas voltas a indicar que íamos aterrar, o avião faz-se à pista de terra e fica um soldado de braços no ar petrificado a ver o avião aproximar-se. A aterragem teve de ser abortada, voltámos, nova volta e aterrámos. Ao aterrarmos, o Honório foi logo procurar o soldado e galhofar com o medo que apanhara.

Entretanto, aproxima-se um Tenente-Coronel:

- Honório, eu vou para Bissum.

- Não vai, não, o engenheiro têm prioridade, e os dois artilheiros fazem falta em Bissum... ou não ? - replicou o piloto.

- O senhor é que sabe! Vou na próxima semana - respondeu o oficial superior e e afastou-se.

Levantámos para Bissum, e assim que o avião aterra, o piloto desaparece.
Mais tarde vim a saber que o piloto gostava de ser mimado com uns bons petiscos. Rolas não faltavam naquelas bandas, e como ele gostava de passarinhos fritos, na semana seguinte dia de avião era sinónimo de frescos e pescada congelada...

Quando vinha, lá ia ele pró petisco. Quando volta, o avião está carregado, ele aproxima-se e diz:

- Senhor Tenente-Coronel, quantos quilos de carga temos ?

- Não sei.

- Então descarregue tudo e diga-me o peso! Se esta merda não levanta e bate nas palmeiras, lá dizem que o Honório é maluco, mas não é, sabe o que faz.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Um Dornier, DO 27, na pista, de terra batida, do aquartelamento. Foto do saudoso Cap Ref José Neto (1927-2006).

Viajei com o Honório mais uma vez, mas via-o no Hotel Portugal normalmente a jantar com um capitão operacional, sempre que este vinha a Bissau comer bife com ovo a cavalo e beber uma garrafa de Antiquary.
Quando conheci o Honório estava ele nos Transportes. Dizia-se que tinha ido deixar umas encomendas numa base aérea no Senegal, até houve bronca na ONU. Fez de tudo nos céus da Guiné, Fiat, T6, DO (**).

Faz bem recordar camaradas que com abnegação tudo deram sem nada pedir em troca. Ao ler o post sobre Honório (***), veio-me à memória as viagens que fiz com ele. Onde quer que estejas a minha singela homenagem.
___________

Nota de CV:

(*) Vd. postes de:

13 de Setembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3202: Estórias avulsas (22): Missão Católica ou Missão Heróica? (José Nunes)

22 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

(...) "Apresenta-se na Tabanca [Grande] o 1.º Cabo Mec Electricista de Centrais, do BENG 447, José Silvério Correia Nunes. Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 de Janeiro de 1970. Para regressar, paguei a passagem de avião na TAP, pois só em Março deveria haver barco de regresso. Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga" (...).

(**) Salvaguarda-se a afirmação do José Nunes que parece não corresponder à realidade, uma vez que o Honório não terá pilotado Fiat.

(***) Vd. postes de:

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3224: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (7): Honório, o aviador...

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3232: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (2): O Honório, meu amigo (Torcato Mendonça / Alberto Branquinho)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3234: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (3): O Honório que eu conheci... em Luanda (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P3244: Bibliografia de uma guerra (32): Liberdade ou Evasão, de António Lobato (Carlos Vinhal)

1. Ao falarmos do livro Liberdade ou Evasão , do então (1995) Tenente Piloto da FAP António Lobato (hoje Major), mais não queremos que prestar a nossa homenagem ao militar que, nos limites da impotência, escolheu a prisão em troca da liberdade, que lhe era concedida se traísse os seus princípios e os seus camaradas que lutavam nos céus, nos rios e nos diversos chãos da Guiné.



Liberdade ou evasão: O mais longo cativeiro da guerra
Autor: António Lobato
Colecção: Memória do Tempo
Editor: Rui Rodrigues
Editora: Erasmos
Local: Amadora
Ano: 1995
Nº páginas: [6], 187, [27]

Foto da capa: © ERASMOS e António Lobato

2. No dia 22 de Maio de 1963, houve uma colisão entre dois aviões da FAP, quando em missão de ataque ao solo, na ilha do Como, e após um deles ter sido atingido por fogo IN.

 Depois do toque, um dos aviões despenha-se em plena selva, tendo morrido o piloto e o outro faz uma aterragem de emergência numa bolanha, tendo o piloto sido capturado e maltratado por elementos do PAIGG.

O sobrevivente, o Sargento Pil Av Lobato, é levado, ferido, para a Guiné Conacri onde lhe é dada a hipótese de escolha entre a deserção da Força Aérea Portuguesa ou a prisão nas cadeias dos PAIGC.

Quem é este homem ?

António Lobato, minhoto, natural de Melgaço, foi um dos percursores da Força Aérea na Guiné:

(i) Iniciou o seu curso de pilotagem em Setembro de 1957, em S. Jacinto, Aveiro;

(ii) Embarcou para a Guiné em Julho de 1961, onde nem sequer havia infraestruturas para a Força Aérea;

(iii) Depois de muito trabalho, sem condições, em Setembro do mesmo ano acaba-se de montar o primeiro T6, que descola da pista de Bissalanca, tendo aos comandos o António Lobato.

Foi este o início da sua guerra, nas sua próprias palavras.


Guiné> Vista aérea da Base Aérea 12> Bissalanca

Um DC6 no Aeroporto de Bissalanca.

Fotos retiradas do Blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1967/74, com a devida vénia


A Missão, o acidente e a captura

Depois de inúmeras operações nos céus da Guiné, no dia 22 de Maio de 1963, aconteceu o acidente durante uma missão na Ilha do Como.

Após a queda do avião, acidente de que saiu praticamente ileso, mal pôs os pés em terra foi atacado e ferido com gravidade por cerca de duas dezenas de naturais, armados com catanas.

Começa assim o seu calvário. É levado de acampamento em acampamento até chegar à presença de um jovem guerrilheiro da Zona Sul, Nino Vieira, que o informa de que o seu destino será Conacri.

Já neste país, desembarca em Sansalé onde os seus ferimentos são tratados. Embarcado no navio Bandim, recentemente capturado aos portugueses, segue viagem até Victória onde é desembarcado, seguindo depois por terra até Boké e daqui finalmente para Conacri.

Aqui é-lhe proposto que faça uma declaração à rádio contra a política ultramarina de Salazar, comprometendo-se a nunca mais combater em África pelas Forças Armadas Portuguesas, tendo como contrapartida a liberdade em qualquer país do Leste para trabalhar ou estudar. Como recusasse a proposta foi encarcerado na Maison de Force de Kindia, em condições no mínimo desumanas. Estava-se entretanto no dia 17 de Junho, decorridos 27 dias sobre o acidente.

Muitos anos de cativeiro e três tentativas de fuga, a última das quais proporcionando uma semana de liberdade.Recapturado, António Lobato e os companheiros de fuga são reconduzidos à prisão, de onde saem finalmente, e em definitivo, no dia 22 de Novembro de 1970, libertados durante a Operação Mar Verde, planeada e conduzida pelo Comandante Alpoim Calvão.

São muitas as peripécias vividas e descritas, assim como o susto que apanharam no dia em que lhes é servido frango assado ao almoço e lhes é franqueada a porta para o recreio. Saem receosos de ter chegado a hora da execução, mas afinal era para serem fotografados pelo célebre fotógrafo húngaro, Bara István.


Guiné-Conacri > Conacri > Instalações do PAIGC > 1970 > Prisioneiros portugueses, fotografados pelo fotógrafo húngaro Bara István (nascido em 1942).

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)


Vou transcrever parte da página 168, onde António Lobato compara dois tipos de comportamentos entre os seus sequestradores.

Referindo-se ao chefe dos sentinelas da Maison de Force de Kindia, o Koda, apelida-o de racista e como tendo um ódio de morte aos prisioneiros, cuja sorte são as ordens emanadas pelos dirigentes do PAIGC, para que a vida lhes seja poupada.

Diz então António Lobato:

- O comportamento deste homem não pode servir de exemplo para qualificar os outros guerrilheiros do PAIGC e muito menos uma parte dos seus responsáveis. De entre estes, merecem especial referência, Fidelis Cabral, Aristides Pereira, Joseph Turpin e o 'Tio Lourenço', não só pela sua moderação, sensatez e sabedoria, mas sobretudo, pela força do humanismo que deles emana e se repercute em quantos, por razões comuns ou mesmo contrárias, se encontram à mercê das suas decisões. São os homens bons do presente, mas sem dúvida também os do futuro.

Mas, para se ter uma ideia mais precisa do que passou em cativeiro o Tenente António Lobato, nada melhor que ler o seu livro. A descrição dos longos dias de caminhadas pelo mato da Guiné, após a sua captura, das tentativas de fuga, das condições de vida na prisão, em cubículos de dimensões reduzidas, e do poder da resistência física e mental que ele conseguiu manter naquelas condições adversas, resistindo estoicamente durante sete anos e meio, tocam o leitor até à última página.

Obra quase no limite da ficção, até pela odisseia em que se transformou a libertação colectiva dos prisioneiros portugueses em Conacri.

Sendo a Operação Mar Verde um segredo de Estado, António Lobato é obrigado a assinar um documento onde se compromete a não revelar a verdade e, em entrevista à Televisão (previamente gravada), transforma a sua libertação numa fuga individual bem sucedida. Por que o fez, poderão saber no livro.


Foto do Tenente Lobato quando, no passado dia 31 de Maio de 2008, os Especialistas da Força Aérea, que serviram na Guiné, o homenagearam com o respeito que ele nos merece. Junto e ladeando-o estão o Victor Barata e o Carlos Wilson, organizadores deste evento.

Guiné 63/74 - P3243: Blogpoesia (26): 35 anos de Guiné-Bissau: A minha contribuição para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da Semana > 27 de Abril de 2008 > "Esta foto será legendada muito em breve. Aos nossos visitantes pedimos desculpas pelo atraso"...

Querido Pepito, queridos amigos da AD e da Guiné-Bissau, irmãos e irmãs: para quê mais palavras, se esta imagem vale por mil palavras ? Metaforicamente falando, está aqui a tua Guiné, a vossa Guiné, a nossa Guiné, a aprender a andar, a cair e a pôr-se de pé, como jovem nação que é...

É a minha leitura, ou sugestão de leitura, se mo permitem: sem cinismos, sem paternalismos, com a com + paixão com que eu, à distância de milhares de quilómetros, vos vejo, e às vossas boas obras...

Força, amiga, força, irmã!... Que o caminho se faz caminhando, parafraseando o grande poeta espanhol António Machado ("Caminante no hay camino, se hace camino al andar", poema popularizado pelo cantor catalão Joan Manel Serrat)


Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento. Direitos reservados (Com a devida vénia...)


35 anos de Guiné-Bissau:
A minha contribuição
para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)
(*)

Dedicatória:

A todos os que morreram na guerra colonial,
guerra do ultramar
ou luta de libertação,
na Guiné...
Para que o sacrifício das suas vidas
não tenha sido gratuito
nem em vão.
E para que nós próprios possamos,
no nosso dia, na nossa hora,
morrer finalmente em paz...



Há quem diga, cinicamente,
que a única coisa que os guineenses ganharam,
com a independência,
foi um hino,
uma bandeira
e uma pátria…
O que já não era pouco,
não é pouco.
Mas eu acho que ganharam muito mais:
ganharam também o direito de serem homens,
citando o Amílcar Cabral,
meu inimigo, meu irmão.
Ganharam o direito de serem eles mesmos.
De escolherem o caminho,
a picada,
a estrada,
o trilho do futuro.
O direito de escolher
e, por conseguinte,
o direito também de errar.

A independência não se conquista,
constrói-se.
Portugal, que é uma velha nação da Europa,
com uma identidade já milenar,
é um bom exemplo disso.

Convenhamos
que o balanço destes 35 anos,
de independência,
da tua independência,
podia ter sido mais exaltante…
Onde está o homem novo,
onde estão os amanhãs que cantam,
as palavras de ordem da cartilha marxista-leninista
que te ensinaram ?
Mas 35 anos é um lapso de tempo
que não é nada na história de um povo,
na história dos teus povos
na história da tua África,
na história da nossa humanidade…
E muito menos na cronologia da vida na terra…
Não nos compete, a nós, velhos tugas,
fazer esse balanço
substituindo-nos aos nossos amigos guineenses
que hoje comemoram,
sem pompa
nem circunstância,
os 35 anos em que o PAIGC,
sem pedir autorização a ninguém,
e muito menos ao Governo português de então,
declarou unilateralmente a independência,
nas matas do Boé…

Fizemos as pazes,
reconhecendo formalmente,
um ano depois,
a independência do novo país lusófono.
Só tenho pena que Amílcar Cabral,
o preto mais português de África,
já não fosse vivo.
É que não foi só um hino,
uma bandeira
e uma pátria
que os guineenses ganharam.
Ganharam também uma língua que os une,
do Cacheu ao Tombali…
E essa não é mais a língua dos estrangeiros
e dos colonizadores…
É a língua, viva, de uma comunidade de irmãos,
crescidos,
que foram à vida,
que estão espalhados pelos vários continentes,
mas que mantêm entre si uma rede
de afectos,
de interesses,
de valores,
de códigos,
de signos,
de idiossincrasias,
de cumplicidades,
de memórias,
de sabores,
de cheiros,
de encontros
e de desencontros,
de velhos ódios
e de novos amores...

Não, não vou chorar por ti, Guiné-Bissau (***).
Estamos também aqui para festejar o teu dia,
o teu parto…
Violento, doloroso, distócico ?
Meu irmão, minha irmã:
o nosso não o foi menos…
Agora vamos lá aumentar a tua esperança de vida
e melhorar, pouco a pouco,
a tua qualidade de vida…
Guiné, o teu povo,
valente, afável e valoroso,
hospitaleiro e generoso,
bem o merece.
O melhor do teu povo,
as tuas crianças,
bem o merecem.
Faz isso por ti,
por elas,
por todos nós.

Luís Graça

Portugal, 24 de Setembro de 2008

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)

(**) Vd. poste anterior > 24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3236: Efemérides (10): 35.º Aniversário da declaração unilateral da Independência da República da Guiné-Bissau (V. Briote)

(***) 31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2704: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (12): Que o Nhinte-Camatchol te proteja, Guiné-Bissau