sexta-feira, 20 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1976: Tabanca Grande (27): Carlos Silva, mais um 'apanhado do clima' (CCAÇ 2548, Jumbembem, 1969/71)

Guiné-Bissau > Região de Baftá > Bambadinca > Março de 2007 > A chegada do Carlos Silva, de jipe, ao centro de Bambadinca. Em frente a capela e, ao lado direito, a antiga secretaria da CCAÇ 2590/CCAÇ 12m, a que eu pertenci (1969/71). (LG).

Guiné-Bissau > Região de Baftá > Bambadinca > Março de 2007 > O anterior da capela onde, entre outros, rezava missa o Alf Mil Capelão Puim (1970/71). Eu nunca lá entrava a não ser em caso de velório, quando funcionava como capela mortuária (LG).

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > Março de 2007 > As antigas instalações para sargentos, que faziam parte do edifício (integrado) onde estava instalados o comando do Batalhão do Sector L1 (No meu tempo, BCAÇ 2852, 1968/70 e BART 2917, 1970/71). (LG)

Guiné-Bissau > Região de Baftá > Bambadinca > Março de 2007 > Ruínas do nosso antigo aquartelamento. Tenho dificuldade em identificar o(s) edifício(s), pelo que peço ajuda aos meus ex-camaradas de Bambadinca (LG) .

Foto: : © Carlos Silva (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil At Armas Pesada, CCAÇ 2548 (Jumbembem, 1969/71)

Caro Camarada [ d’armas]:

O meu nome é Carlos Silva. Também fui combatente na Guiné em 1969/71. Sou da CCAÇ 2548 do BCAÇ 2879 que estava instalado no Sector 02, em Farim. A minha Companhia ficou no subsector de Jumbembem, próximo da fronteira com Senegal.

Fui Furriel e também com a especialidade de armas pesadas. Talvez estivéssemos estado juntos em Tavira. Pois foi lá que tirei a aspecialidade de Março/Junho de 1969, tendo pertencido à 2ª Companhia.

Depois de vir da Guiné, tal como o meu Amigo, embora noutra área, tirei o curso de Direito e também fui funcionário público na área da Segurança Social e Obras Públicas. Há 2 anos que estou aposentado com assessor principal de topo, com um corte radical de 19%, apesar da minha carreira contributiva ser de 39 anos.

Enfim, isto, só para dizer que praticamente termos um percurso da vida, não como dizemos, em direito, mutatis mutandis, mas de certa forma com muitos pontos comuns.

Posto isto, vamos ao objecto deste mail. Tenho visitado e lido o espectacular site sobre a guerra colonial, no que se refere à Guiné e, tal como o Amigo, ex-camarada, interesso-me por esta matéria, porque continuo apanhado do clima.

Tenho bastante bibliografia sobre o território e sobre a guerra colonial em particular sobre a Guiné, bem como tenho um escrito, não publicado, com cerca de 500 páginas. Tenho visitado a Guiné várias vezes e tenho percorrido todo o Território. Tenho os mapas do sector, que também foi necessário pedir autorização à embaixada da Guiné para os adquirir, tal como refere, apesar de serem nossos e de nós termos dado cabo do coiro por aquelas terras.

Tenho milhares de fotos da nossa época a preto e branco e a cores, porque, entretanto, passei os slides para fotografia, bem como tenho milhares de fotos contemporâneas e bastantes do vosso Sector. Ainda recentemente, em Março passado, fiz uma viagem de jipe até à Guiné. Portanto, já posso dizer que fui para lá barco, obrigado, de avião e de carro. Via marítima, aérea e terrestre.

Por este motivo, vendo as suas fotos, e comparando-as com as actuais, bem como, sentindo o seu entusiasmo e prazer que tem no trabalho que tem com a construção e manutenção do site, tal como eu sinto, aproveito para enviar-lhe agora algumas fotos, da terra que lhe roubou muitas horas de sono, para juntar à sua vasta colecção e no futuro enviarei mais.

Receba ou recebe um abraço do ex-camarada e amigo

Carlos Silva

2. Comentário do editor LG:

Carlos:

Recebe, fica melhor. Se em Tavira, e depois na Guiné, éramos camaradas, então vamos continuar a sê-lo para o resto da vida. Em boa hora chegas ao nosso blogue. E, pelo, que deduzo das tuas palavras, queres pura e simplesmente ficar entre nós. Pois então entra e acomoda-te.

Vi, com emoção, as fotos de Bambadinca, que eu não chamo minha por que não gosto dos adjectivos possessivos... A nossa Bambadinca! As nossas instalações (ali justamente onde dormi muitas noites, fora as que dormi no mato, em tabancas, em bolanhas, em muitos outros sítios do Sector L1 e de outros sectores da Zona leste...). A nossa capela (onde só entrava para velar os mortos)! E, ao lado, a nossa secretaria, a da CCAÇ 12 (anteriormente, CCAÇ 2590)!... Obrigado, Carlos!

Quanto a Tavira, não sei se não te terás enganado na data (1969 ou 1968?) : eu tenho ideia de ter passado por lá no 3º trimestre de 1968 (Mas eu não sou bom em datas). Fui mobilizado para a Guiné no 1º trimestre de 1969, quando já estava em Castelo Branco a dar instrução. Fiz o IAO em Santa Margarida, juntamente com os meus camaradas da CCAÇ 2590, uma companhia independente (mais nova que a tua, a CCAÇ 2548), constituída só por oficiais, sargentos, cabos e especialistas (mecânicos, condutores, operadores de transmissões, enfermeiros, etc.).

Chegados a Bissau, no Niassa, partimos a 2 de Junho de 1969, Rio Geba acima, a caminho de Contuboel onde fomos dar a instrução de especialidade aos nossos futuros praças, todos eles de origem africana... Não sendo uma unidade de quadrícula, tendo sido afectada à zona leste como unidade de intervenção, e não possuindo por isso armas pesadas, deram-me uma G-3 e promoveram-me a atirador de infantaria...

De qualquer modo, és capaz de ser o primeiro Furriel Miliciano Atirador de Armas Pesadas que aparece aqui no nosso blogue. Fico feliz por isso (eu que nunca pus em prática os conhecimentos de armas pesadas que recebi em Tavira, nunca tendo disparado, felizmente, o morteiro e o canhão sem recuo no TO da Guiné!).

E agora que estás reformado (os meus parabéns por teres continuado a estudar e tirado o curso de direito, apesar das dificuldades que isso representava para muitos ex-combatentes da Guiné, muito afectados física e psicologicamente depois de passar à peluda!), espero que continues a ter um tempinho para dedicar ao nosso blogue. Já percebi que tens uma arreigado amor àquela terra e àquela gente. Peço-te, pois, para pores o teu conhecimento e experiência ao serviço ou ao alcance dos camaradas que, por uma razão ou outra, nunca mais lá voltaram ou voltarão.Tens, além disso, o nosso blogue para publicares, no todo ou em parte, os teus escritos.

Vou-te apresentar ao resto da malta, que já instalada na nossa Tabanca Grande! Um Alfa Bravo para ti.

Guiné 63/74 - P1975: Álbum das Glórias (19): Eu e o Zé Manel [Medeiros Ferreira], duas baixas da CCAÇ 2402 (Beja Santos)

Amadora > Regimento de Infantaria nº 1 > 1968 > Pessoal da CCAÇ 2402, em formação. Esta unidade irá embarcar para a Guiné no Uíge, em finais de Julho, integrada no BCAÇ 2851 (, Mansabá, Olossato, 1968/70). AS duas primerias baixas são dois oficiais milicianos, hoje conhecidos do país: Mário Beja Santos e José Manuel Medeiros Ferreira. Estão juntos, na foto, assinalados com um rectânguloa a amarelo (1).

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Beja Santos:

Afinal, sempre existia uma fotografia em que apareço ao lado do Medeiros Ferreira! (C/C ao Raul Albino, para que conste da história... da CCAÇ 2402).

Fomos sempre muito amigos, o Zé Manel ( sempre o tratei assim) ajudou-me imenso no auto de averiguações em que se procurava incriminar-me como agente subversivo ou "moralmente inapto para a guerra de contra-guerrilha, mormente no Ultramar Português".

Já perdoei tudo ao desgraçado autor (moral) destas calúnias, que propalou ou mandar propalar estas calúnias...

__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts sobre a história da CCAÇ 2402:

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador

28 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có

Guiné 63/74 - P1974: Tugas da diáspora (1): Tony Tavares (CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72): De Zlin, República Checa, com amor

Guiné-Bissau > Novembro de 2000 > Saltinho > Perspectiva sobre o Rio Corubal e a sua ponte, obra do Estado Novo (1955/56).


Guiné-Bissau > Novembro de 2000 > Saltinho > A estrada, agora alcatroada, Saltinho- Quebo (Aldeia Formosa), atrevessando a ponte sobre o Rio Corubal.

Guiné-Bissau > Novembro de 2000 > Saltinho > Antigo aquartelamento das NT transformado em unidade hoteleira. O Rio Corubal e a ponte, ao fundo.


Guiné-Bissau > Novembro de 2000 > Saltinho > Tabanca > Cenas do quotidiano.


Guiné-Bissau > Novembro de 2000 > Saltinho > "Por aqui passou a CCAÇ 2701 (1970/72) do Tony Tavares".


Fotos: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.


1. Amigos e camaradas:

Tudo começou com uma mensagem do Henrique Matos, de 27 de Junho passado:


Caros tertulianos:

Para ilustrar quando se costuma dizer que o mundo é pequeno.

Numa viagem recente à República Checa, mais propriamente a Zlin que fica a cerca de 300 km de Praga, onde a minha filha fazia o Erasmus, fui encontrar um português bem instalado com uma vinoteca, que além de bons vinhos portugueses também tem presuntos, queijos e outros petiscos.

Chama-se Tony Tavares, é da Lourosa e fez serviço militar na Guiné, na CCAÇ 2701, do Cap Clemente, quarto pelotão, que esteve no Saltinho, de 1970/72.

Como se deve perceber, foi manga de conversa e uns copitos à maneira. O Tony gostaria de contactar elementos da companhia, nomeadamente o Conceição, de Torres Vedras, o Miquelino, do Algarve, o Simão e o Alegria que são de Lisboa e o Toureiro, de Vila Franca de Xira, que eram do seu pelotão.

Fica satisfeito o seu pedido e, se alguém for a Zlin, não se esqueça de visitar o Tony porque vale a pena.

Tem como email: krocilova@vinoportugal.cz
Abraços

Henrique Matos (1)


2. Mensagem do editor do blogue para a tertúlia:


Para o Julião, o Carlos e outra malta da CCAÇ 2701 (Saltinho,1970/72)...Tragam o rapaz, o Tony Tavares (há portugas por tudo o que é canto do mundo!)...Obrigado, Henrique, diz-lhe que temos cá gente da 2701... LG

3. Aproveitei para dar conhecimento ao nosso emigra, da existência da nossa Tabanca Grande:

Tony: Temos uma casa (portuguesa) à tua espera. Luís Graça
Luís Graça & Camaradas da Guiné


4. O Paulo Santiago, por sua vez, mandou uma mensagem para Zlin, em 8 de Julho:

Camarada Tony:

Acabei de ver uma msg do Henrique Matos,enviada para a Tertúlia,à qual também dou
conhecimento deste mail que envio.

Não sei se te lembras de mim, sou o Santiago, na altura em que estiveste na Guiné e
Saltinho, eu comandava o Pel Caç Nat 53 (2) . Um dos Fur Mil do teu pelotão, o Mário Rui,do qual neste momento perdi o contacto,ficou comigo no 53,quando vocês regressaram em fim de comissão.

Após o vosso regresso,o Saltinho que tu conheceste,transformou-se num inferno,graças à incompetência do Capitão proveta, comandante da companhia que vos rendeu. Aconteceram várias mortes e era muito complicado viver naquele quartel,tanto assim que, por imcompatibilidade com o dito Cap, nós os quadros do 53, do teu tempo só o Mário Rui e os primeiros Cabos Cosme e Pina, os outros eram novos, fomos viver para o Reordenamento de Contabane.

Histórias dessa altura podes encontrá-las no blogue, o Henrique deve ter falado dele: www.blogueforanadaevaotres.blogspot.com, o qual te aconselho a visitar.

Há vários anos houve um almoço da CCAÇ 2701 (3) a que fui. Apareceu bastante malta, mas, como deves compreender, não sei a que pelotões pertenciam. Parece, segundo
informação do ex-Fur Mil Carlos Santos, irão fazer um almoço da Companhia em Setembro
próximo.

O Simão, do qual gostavas de saber notícias,penso que te referes ao Escrita, morreu há já bastantes anos. Do Miquelino e do Toureiro - era o homem da bazooka? - não te sei dizer nada neste momento. O teu comandante de pelotão, o Valentim Oliveira, tirou Arquitetura, após regresso da Guiné, autor do projecto da minha casa, morreu faz este mês dez anos,com um maldito cancro nos intestinos. Há pouco tempo morreu também o Dr. Faria (4). E o 1º Sargento Picado também já não está entre nós.

Encontro-me muitas vezes com o Clemente, hoje Coronel na reforma, com o Julião (penso
que tem um conterrâneo que era do teu pelotão), com o Mota, o Carlos Santos, o Sargaço,
1º Cabo Cripto.

Em 12 de Maio passado, houve um almoço em casa do Belarmino, o vaguemestre, onde esteve bastante malta, não estive presente, encontrava-me em França a participar num Torneio de Rugby de Veteranos. Como sou o que anda todos os dias a navegar na Net, vou entrar em contacto com eles, a ver se me sabem dizer algo sobre malta do teu pelotão.

Em Fevereiro de 2005, estive na Guiné (5) , dormindo uma noite no quartel do Saltinho, onde agora funciona uma estalagem de caça. Mando-te 2 fotos.

Falando de vinhos, tenho duas primas na Gerência das Caves S.João, produzem o Frei João e o Poço Lobo, entre outras marcas. Se precisares de alguma coisa de mim, sobre isto, apita.

Recebe um abraço do
Santiago


5. Houve, do lado de lá, em Zlin, na República Checa, uma senhora, de nome Katerina Krocilová, que respondeu o seguinte em nome do seu tuga Tony (É uma ternura, como se pode aprender uma língua estrangeira por amor!):

Caro Paulo,

Nao te preocupes, ele anda a procura de documentos, esta todos os dias agarrado o computadore como seja o novo brinquedo.

A procura das suas origens. Estamos digitalizar as photografias que ele tem e muito em breve daremos noticias. Ele regressou a dias de umas ferias no Adriatico e nao consegiu abrir os emails que lhe mandaste. Porque ele pressentia que havia algo que ele nao queria saber antes de ir de ferias.

Portanto tudu esta Ok.

Dentro em breve entrarei encontacto com nosso blog a dar noticias mais detalhadas. Comprimentos a toda a malta especialmente o Luis Graca e Enrique Matos por me dar conhecimentos deste grande bloque. Abracos. Tony Tavares e Katerina Krocilova.


__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

(2)Vd. post de 3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1812: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (10): As mulheres dos meus homens eram minhas irmãs

(3) 13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)

(4) Vd. post de 12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1838: Camaradas que já nos deixaram (3): O Ex-Alferes Médico Martins Faria, da CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/71 (Paulo Santiago)

(5) Vd. posts de:

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P914: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (1): Bissau

29 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P923: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (2): Bambadinca

30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane

5 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P938: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (4): branco com coração negro no Rio Corubal

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P955: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (5): O pesadelo da terrível emboscada de 17 de Abril de 1972

13 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P957: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (6): De volta ao Saltinho, Bambadinca e Bissau

20 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P975: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (7): ainda as trágicas recordações do dia 17 de Abril de 1972

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1973: Gandembel/Ponte Balana: homenagem aos bravos combatentes de um lado e doutro (Idálio Reis)




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Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > No comments! (As grandes fotografias dispensam legendas)

Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.

Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

1. Mensagem do Idálio Reis, com data de 9 de Julho de 2007:


Meu caro Luís,

As palavras encomiásticas que me endereçaste, causaram-me um profundo embevecimento enternecedor, que o devo partilhar com os companheiros da Tertúlia, em que tenho de encimar o José Teixeira, que foi quem me estimulou a entrar adentro da nossa Caserna.

Propus-lhe então intentar narrar o historial da minha Companhia (1) e o inverosímil cerco que foi o nosso pouso em mais de metade da comissão - Gandembel/Ponte Balana.

Embora os elementos oficiais que o País fez arquivar, sejam penosamente tão exíguos, procurei dar às palavras o sentido devido, que melhor pudessem reflectir um mundo de vivências inusitadas, e esses ecos do passado jamais poderiam ter uma tão distinta e nobre difusão, que não fosse o sítio apropriado, que tu Luís, num lampejo de homem-bom, em boa hora ousaste criar.

Eu tão-só participei com um capítulo de um volumoso e reactivo livro, editado de forma inexcedível, exemplar. Um parco tributo para um exemplar único.

E só assim, essa relevância comum em que (sobre)vivemos já não pode cair no olvido. A gesta de Gandembel/Ponte Balana é um marco de soturnos contornos na evocação da guerra colonial travada na Guiné, naquele período, e tentar sequer minimizá-la seria de uma negligência lesiva, provocatória. O votar ao esquecimento é ignóbil vilipêndio.

Como testemunha privilegiada, reconheci que deveria fazer algo para recuperar o que inexoravelmente a voragem dos tempos iria sumir. E aí está o meu singelo contributo, modesto é certo, mas contextualizado num acrisolado apego aos que comigo tiveram que atravessar essa tormentosa odisseia.

Para que tal fosse possível, acompanhei em permanência todos os dias da Companhia, já que não me foi dada oportunidade para uma mínima folga. Por felicidade, não fui ferido, nem sofri de qualquer maleita de agravo que impossibilitasse a minha presença. Até me aconteceu ser objecto de ultraje ao ser punido com 8 dias de prisão simples, que continuam por cumprir, mas que me impediram de gozar férias. Talvez tivesse sido então um dos oficiais do Exército com um castigo mais pesado, de uma perversa injustiça, e que até hoje não consigo perdoar. Porventura, as vicissitudes de uma guerra forte com comando fraco.

Estive lá, sempre, e isso será uma das minhas glórias pessoais, que julgo ter sabido partilhar com os demais elementos da Companhia. Tanto esforço para vã glória.

Caro Luís, envolve-se-me um frémito de emoção, quando propões a colocação de um ramo de flores a fim de perpetuar todos os heróicos combatentes dos dois contendores.

O Pepito vai-me enviando algumas fotos mais recentes. E já lhe frisei, que gostaria de estar presente em Guileje, com uma ida a Gandembel e Ponte Balana. E, se física e psiquicamente andar bem, lá estarei.


E muito certamente, as sombras do passado já longínquo continuem ainda à minha espera, no encanto remansoso das águas do Balana. E a doce melopeia que então entoei, continue maviosamente, em sussurro dolente e canoro, a distinguir-se na sonoridade da floresta, no alvor da madrugada.

Um apertado abraço, extensivo a toda a Tertúlia, do Idálio Reis.

2. Comentário:

Idálio, além de um grande escritor, és também um bom fotógrafo! Não falo do resto, como ser humano, como oficial miliciano, como camarada... A imagem que tu me mandaste, e que eu editei, é já quanto a mim uma das fotos-ícones da guerra da Guiné. Tem uma tremenda força dramática! Está lá tudo: o homem-toupeira, o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, também tinha alma de poeta e sabia transformar a pá do trolha em viola de baladeiro, ou guitarra de fadista! Não sei se és tu, se é outro camarada da tua companhia ou do teu grupo de combate... Mas estamos lá todos nesta fotografia de um camarada, sózinho, no palco da guerra, no cu do mundo, enrodilhado num manta, dedilhando a sua viola ou a sua guitarra e cantando para um público imaginário as suas alegrias, as suas tristezas, a sua coragem, a sua solidão, as suas esperança, os seus medos, os seus ssonhos... Imagino-o no meio de um dos 372 ataques e flagelações a que vocês foram submetidos, entre 8 de Abril de 1968 até 28 de Janeiro de 1969, os nove meses em que, em tempo-recorde, construiram um aquartelamento, defenderam-no e receberam ordens para o abandonar!...
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. dois últimos posts:

19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis): 28 de Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

Guiné 63/74 - P1972: Prisioneiros de Conacri: Jacinto Madeira Barradas (Alter do Chão) e José Vieira Lauro (Leiria) (Benito Neves)

1. Mensagem do Benito Neves, ex-Fur Mil CCAV 1484, Guiné 1965/67 (Nhacra e intervenção ao Sector de Catió de 8/6/66 a finais de Julho/67), residente actualmente em Abrantes (1):

Camaradas:

Relativamente ao assunto a que se refere o Post 1967 sobre os prisioneiros de Conacri (2), posso informar que tenho tido alguns contactos com um deles, o Jacinto Madeira Barradas que é proprietário de um restaurante e café em Alter do Chão, com o nº. telef 245 612 442.

Passe a publicidade (não é essa a intenção), já lá me deliciei com a boa cozinha alentejana (3). É um homem franco, leal, aberto, com uma vivência de histórias vividas na prisão, cuja narração dá gosto ouvir e avaliar o sofrimento que por lá passaram.

Embora o camarada Barradas mo tenha dito, já não recordo a que unidade pertencia ou qual o seu aquartelamento, mas estou certo tê-lo ouvido dizer que foi aprisionado na região do Tombali [, no sul].

O último contacto que tivémos também estava presente o Victor Condeço que, no fim, me confidenciou:
- Que belas histórias para o blogue!.

Um outro camarada ex-prisioneiros de Conacri foi o José Vieira Lauro, que já era prisioneiro em Conacri quando o Jacinto Barradas lá chegou (4).

Foi um dos que mais tempo esteve aprisionado e, na prisão, cabia-lhe a tarefa de distribuir a comida pelos restantes prisioneiros. Na maior parte das vezes (segundo o Jacinto Barradas) apenas era distribuído arroz porque, das poucas vezes em que a refeição trazia alguma carne de galinha, esta era roubada pelos guardas.

O José Vieira Lauro vive na região de Leiria - telef. 244 881 695; telem. 919 086 150.

Quantas histórias, quanta privação, quanto sofrimento. Pergunto-me se valerá a pena, agora, voltar a agitar fantasmas. Julgo que o Jacinto Barradas me informou que os ex-prisioneiros de Conacri se reunem todos os anos.

Esta é a ajuda que posso dar.

Um abraço a todos os tertulianos

Benito Neves

2. Comentário de L.G.:

É uma ajuda preciosa, Benito! A odisseia destes camaradas também nos interessa. Sabemos que é sempre doloroso (para eles e para todos nós) remexer o passado, o nosso passado. Mas eles foram protagonistas de uma situação única. Foram prisioneiros do PAIGC, conheceram Amílcar Cabral, foram libertados no decurso da Op Mar Verde, comandada por Alpoím Galvão...

Uma boa parte deles fizeram parte de unidades que estão representadas na nossa tertúlia: por exemplo, a CART 1690, do ex-Alf Mil A. Marques Lopes (hoje coronel DFA, na reforma). E a propósito é bom não esquecer que nem todos regressaram, sãos e salvos a casa: é preciso contabilizar os que morreram ou despareceram no cativeiro (5)... De qualquer modo, muitos nós também sofremos por eles e vivemos o seu cativeiro...

Se algum deles - o Barradas, o Lauro... - estiver disposto a dar a cara e sobretudo em partilhar connosco as suas memórias, as boas e as más, será acolhido de braços abertos. A Tabanca Grande irá engalanar-se para os receber. Não é por voyeurismo ou miserabilismo da nossa parte. É por solidariedade e camaradagem. Mas é também pelo dever de dar o nosso testemunho... É por que não queremos esquecer... É por que nesta guerra também houve prisões, de um lado e de outro, também houve prisioneiros, também houve sofrimento, privações, humilhações, por detrás das grades, e dos belos discursos, para não falar dos crimes que cometemos, de um lado e de outro, em silêncio, impunemente, contra prisioneiros de guerra, indefesos (6)... (LG)

___________

Notas de L.G.:

(1) 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

(2) 18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1967: Prisioneiros em Conacri, capa da Revista do Expresso, 29 de Novembro de 1997: o que é hoje feito deles ? (Henrique Matos)

(3) Informação turística disponível na Internet, no sítio da Câmara Municipal de Alter do Chão:

LAREIRA ALENTEJANA > Jacinto Madeira Barradas
Estrada Nacional 369, Bloco 2
7 440-999 Alter do Chão
Tel. 245 612 442/ 245 612 010

Lotação: 90 pessoas. Almoços, jantares, banquetes, baptizados e casamentos.Encerra à 2ª Feira. Especialidades da casa: Borrego com arroz amarelo(prato regional de Alter do Chão); Lombo de vitela assada no forno; Lombo de porco com ananás; Perna de Porco à Lareira; Bacalhau à Jacinto; Bacalhau à Lareira; Espetadas de Javali; Espetadas de veado; Lebre com couve; Lebre com feijão branco; Perdiz estufada

(4) Encontrei uma referência ao Lauro, num artigo publicado na Revista do Expresso, de 19/10/2002:

Rito Alcântara, «Monsieur» Cruz Vermelha

Amigo de Amílcar Cabral e de Senghor, o cabo-verdiano Rito Alcântara foi vice-presidente da Cruz Vermelha Internacional durante 12 anos e ajudou à libertação de vários prisioneiros de guerra portugueses

Texto de José Pedro Castanheira, enviado a Dacar

(...) Em 15 de Março de 1968, Cabral voltou a Dacar, com três soldados portugueses capturados pelo PAIGC. Eram eles Eduardo Dias Vieira, José Vieira Lauro e Manuel Fragata Francisco. Os dois primeiros vinham das prisões da República da Guiné; o terceiro, ferido com gravidade, fora tratado no hospital do PAIGC em Ziguinchor, no Sul do Senegal, e levado para Dacar. «A cerimónia de entrega foi na sede da Cruz Vermelha do Senegal. O Amílcar apareceu lá com imensos jornalistas - era realmente um grande político!» (...)

(5) Vd. post de 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

(6) Vd. post de 1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Janeiro de 1969

Foto 415 > "Uns dias antes do abandono de Gandembel/Balana [, em 28 de Janeiro de 1969,]Spínola também viria cá despedir-se".

Foto 414 > "Já o PAIGC utilizava o morteiro 120, quando nos foi enviado um exemplar idêntico"

Os homens da Companhia, essencialmente oriundos do Norte e do distrito do Porto, professavam o catolicismo com muita crença e fervor Foto 409 > "Uma missa rezada em Gandembel"


Foto 410 > "Um local de oração em Ponte Balana"

Alguns aspectos demonstrativos de determinadas facetas que os homens de Gandembel viveram

Foto 411 > "Os furriéis Vasco Ferreira e António Nabais, no Hospital em Bissau, em cura dos efeitos de estilhaços"

Foto 412> "Eu e os meus furriéis, Mário Goulart e Viriato Veiga, a tentarem desenhar o emblema da Companhia"


Foto 413 > "O grupo da ferrugem, com os condutores e os mecânicos, sob a tutela do pesado furriel Jorge Pinho

E em 28 de Janeiro, nos despedimos definitivamente de Gandembel e Ponte Balana



Foto 416 > "A ligação Gandembel a Ponte Balana, pela estrada velha (a do Balanazinho), também deixava de ser utilizada"

Foto 417 > "Do mesmo modo, a picada que nos levava à água no rio Balana e que fazia a ligação a Ponte Balana"

Foto 418 > "E também a placa indicativa, já não se tornava necessária"

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados..


IX Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 28 de Fevereiro de 200. Continuação (1).



Visita do Spínola, do Bispo de Madarsuma e das Senhoras do MNF e do jornalista César da Silva no Natal de 68

Seria uma lembrança do Natal, que se aproximava? Não o foi, pois que até lá não recordo qualquer confronto, mínimo que seja. Pelo Natal, dada a solenidade do dia, chegam 2 helicópteros: um trazendo o bispo de Madarsuma, vigário castrense das Forças Armadas e um repórter do extinto Diário Popular, de nome César da Silva; outro, com Spínola e elementos do Movimento Nacional Feminino.

Após a saudação de Spínola e algumas ofertas de aerogramas e esferográficas por parte das senhoras do MNF, o seu helicóptero descola com menos carga, pois o Pai Natal deixara um saco de bacalhau e alguns frescos.

O prelado celebra a missa. No entanto, mal a finaliza, também o PAIGC o sauda em baptismo de fogo, através de uma série de morteiradas. Atónito com este desenlace, o bispo vê-se agarrado por um soldado que o empurra para dentro de uma caserna. E em breve, também se despede de Gandembel.

O dia de Natal teve a sua consoada ao almoço, com um rancho melhorado, que o Comandante-Chefe tivera a gentileza de ofertar.

E o ano de 1968 finalizava, tantos meses passados em Gandembel/Ponte Balana, tantos doentes com paludismo e outras enfermidades, e que me recorde, só por 2 vezes, tivemos a visita de um médico. Os homens qualificados para tratar as maleitas do corpo e da alma, ficavam empatados.

E no aspecto dos cuidados de saúde, com inteiro mérito, é justo salientar o trabalho empenhado e abnegado dos nossos 2 enfermeiros: o Pires Costa e o José Maria Carneiro (este passou algum tempo em Bissau, na recuperação de ferimentos de alguma gravidade em resultado de uma coluna de reabastecimentos).


Que destino, para o Novo Ano de 1969 ? ... A notícia do abandono!


E 1969 despontava, sem nada conhecermos quanto ao destino que nos estava reservado. O PAIGC, felizmente para nós, também se parecia alhear da nossa presença, a não ser de uma forma muito fugaz, como os dias 9 e 14, com envio de mais um conjunto de morteiradas, não mais que meia centena, em cada vez.

E num relance tudo se altera. É dado a conhecer aos subalternos, a decisão do Comandante-Chefe de abandonar Gandembel e Ponte Balana, em data que não seria precisa e que o nosso destino seria muito provavelmente a província de Cabo Verde. Na antevéspera chegou-nos a confirmação que o abandono havia de ter lugar na madrugada do dia 28 de Janeiro, e o destino imediato seria Aldeia Formosa.

Como é fácil reconhecer, o que nunca faltou em Gandembel, foi um paiol bem fortalecido. E tornava-se necessário dar destino a inúmeros caixotes de munições, uma vez que não se dispunham de suficientes viaturas para os transportar de volta.

Reconheço hoje, que optámos pela pior solução. Em vez de se enterrarem todas as munições, como foi o caso dos caixotes das armas ligeiras e pesadas, decidiu-se, com excepção das granadas defensivas, e por premência de muitos soldados, que as granadas de morteiros e dos rockets serem gastas em fazer fogo, a esmo, como também as granadas ofensivas.


Na véspera da despedida, temos a 9ª e última baixa mortal´


Porventura, pela felicidade de abandonar aquele local tão aterrador, os ânimos exaltaram-se, sentimentos que se toldaram, perdeu-se serenidade e sangue-frio, a presença de espírito arredou-se.

Embora se se pedisse a melhor das atenções, no desperdiçar das granadas ofensivas, que não molestam o atirador desde que este se protegesse, na véspera da despedida, perde a vida por imprevidência, em acidente com arma de fogo, o 9º e último elemento da Companhia, o soldado António Moreira, de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão.

Logo que se toma conhecimento deste infausto acontecimento, tudo parou e as restantes munições ficaram por lá espalhadas. Houve ainda tempo, para se proceder à sua evacuação para Bissau.

À alvorada do dia 28, o armamento pesado é desactivado, a bandeira nacional é arriada, o gerador é colocado num Unimog, e eis que partimos em definitivo de Gandembel, passámos por Ponte Balana (ali ao lado) a buscar o grupo que aí estava e seguimos para Aldeia Formosa.


As prováveis razões de Spínola

Em definitivo, Spínola resolvera arquivar o dossiê de Gandembel/Ponte Balana. Mas, que razões o terão levado a tomar este propósito, de mandar evacuar estes postos militares, quando a situação geral tinha melhorado substancialmente nos últimos tempos?

Tento entrevê-las, ler-lhes o significado para poder emitir o meu juízo, obviamente muito subjectivo.

Spínola sempre julgou que a construção daquele aquartelamento, naquele tempo e naquelas condições, fora um colossal erro estratégico. Gandembel, fora o grande palco da guerra a que a Guiné no ano de 1968 esteve sujeita, e sempre na lista negra das más notícias.

Não se conseguiu travar ou mesmo minimizar as acções que o PAIGC mantinha no interior da Província, mesmo nas regiões do Oeste, o que comprova que o abastecimento oriundo da Guiné-Conacri continuou a processar-se sem grandes constrangimentos.

Fez acirrar ódios nas zonas envolventes a Aldeia Formosa, levando o PAIGC a agir de forma violenta e brutal, semeando o pavor nas populações indígenas que povoavam esses chãos. E, para tornar estas áreas mais sossegadas, é obrigado a fazer uso de tropa de elite, um bem demasiado escasso e tão necessário na vastidão da Província.

Em suma, Spínola julga que, de todo, Gandembel/Ponte Balana, não são garantes para a estratégia que urdira para a Guiné. De modo, que aproveita-se um pouco da situação de maior alívio, conquistada recentemente, e prefere sair sem o amargo travo da humilhação, mas com um pequena dose de honra e glória.

Utilizou os estratagemas que estavam à sua mão. E decidiu, porventura angustiado, por que não desejava que houvesse outros maus exemplos, apesar de sentir que a evolução da guerra crescia de forma exponencial.

Foi uma decisão acertada? Se se atender aos factos que ocorreram posteriormente, claramente julgo que não. O PAIGC fica quase inteiramente livre, e amplifica o seu arco de actuação, de modo retumbante, com uma forte actuação nas zonas de Buba, Aldeia Formosa e Guileje. Os casos mais conhecidos nos tempos imediatos, como o brutal desastre de Madina do Boé, a morte dos 3 majores, o aprisionamento do capitão cubano Peralta, a odisseia que foi a construção da estrada de Buba−Aldeia Formosa, são bastante paradigmáticos.

Spínola, ao aperceber-se da situação de desastre a que a Companhia estava votada, do forte poder bélico que o PAIGC demonstrava, seria mais ousado na antecipação da retirada. E evitaria as perdas sofridas de muitos militares.

Na qualidade de ex-militar que viveu todos os dias de Gandembel/Ponte Balana, sinto que, os homens desta Companhia foram uns meros joguetes de uma estratégia macabra, hedionda, vergonhosa. Jamais teve, até à chegada dos paraquedistas, o apoio que merecia. E tenho de reconhecer em Spínola, um militar de uma enorme dimensão, pois que se não fora a sua persuasão, talvez poucos homens desta Companhia restariam.

E talvez por isso, reconheço que havia felicidade estampada nos nossos rostos quando deixámos Gandembel, não o nego. Mas, para trás, ficava definitivamente um palco infernal, e já bastava de tanto castigo.

Mas o abandono não foi da nossa laia. E hoje, ao escrever estas linhas, perpassa algum frémito de emoção, porquanto os momentos dramáticos foram tantos e tão intensos quanto as marcas profundas de sofrimento ou as incontornáveis mazelas taciturnas e dolentes. As violências pessoais, só contaram para o inventário de nós mesmos.

Resistimos sem vacilações ou soçobros, mas tudo parece ter-se volatilizado num ápice, quando o que ocorreu se prolongou por quase 11 meses. E talvez por isto, porque não sei descrever de outro modo, por lá restaram as nossas sombras ou mesmo os fantasmas que tantas vezes ainda nos assolam.

De todo, a odisseia de Gandembel/Ponte Balana ficava encerrada, e cabe-vos agora a vez de lerem a transcrição de uma parte da reportagem do Diário Popular:

A fixação em Gandembel não foi, de modo algum, obra fácil. Pelo contrário, exigiu esforços e sacrifícios indizíveis. Para que o leitor possa fazer uma ideia aproximada, dir-lhe-emos apenas o seguinte; Gandembel tem a superfície de 40 decâmetros quadrados e está toda minada de valas e cercada de arame farpado com espaços armadilhados; os soldados vivem em abrigos fortificados, construídos com milhares de toneladas de toros de árvores, pedra e terra removida. Pois tudo isso foi feito a braços, visto que os nossos rapazes só dispunham de uma moto-serra e duas viaturas. No gigantesco trabalho participaram todos os soldados, com a respectiva arma numa das mãos e, na outra, uma pá, um machado, uma picareta ou, simplesmente, nada!. Trabalharam continuamente, de dia e de noite, mas apenas nos intervalos dos combates que eram obrigados a travar ou que eles procuravam por força das circunstâncias, pois Gandembel nunca deixou de constituir alvo permanente para o inimigo, que contra ele ainda hoje dirige brutais ataques, quase sempre apoiados por armas pesadas.

No conjunto das fotografias que consegui obter, e que vou enviando, faço ressair uma que efectivamente é bastante elucidativa do que intentei dar-vos nota: Gandembel, entre pequenos e grandes, de maior ou menor duração, mais ou menos sofridos, sofreu 372 ataques.

Desejaria, ao terminar esta descrição sobre Gandembel/Ponte Balana, tão-só confirmar que o rio Balana e o seu pequeno Balanazinho, (nas partes que me foi dado conhecer), formavam uma paisagem de uma rara e extasiante beleza, com um tipo de vegetação arbórea e arbustiva muito rica e diferenciada. A fauna era abundante e muito variada, e tantas vezes nas suas margens, no rumorejar das águas, ainda continuo a ouvir o mavioso cacarejo de bandos de galinhas do mato, que por ali abundavam placidamente.

E o que foram as colunas de reabastecimento para Gandembel?

Até breve. Um cordial abraço do Idálio Reis.

(Continua)

_____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1970: Stresse pós-traumático de guerra: o caso do ex-Alf Mil, sem abrigo, de Faro, e o serviço de apoio da ADFA (Luís Nabais / Lusa)


1. Mensagem do nosso Camarada Luís Nabais,

Meus caros:

Apareceu já hoje, na ADFA, um ex-combatente, para consulta de stresse de guerra.
A ver se conseguimos fazer isto andar com os tais 10, e que assim se crie uma frente, que permita, num futuro breve, receber mais.

A possibilidade de alguns virem a ser considerados ADFA não é excluida, segundo conversa havida com o José Arruda.

Infelizmente tudo é lento neste País, mas o primeiro passo está dado.
Vamos dar as mãos.

Abraço
Luis Nabais


2. Segunda mensagem do Luís Nabais:

Foi publicado hoje no Correio da Manhã [ vd. recorte que se junta]. Sem comentários, a não ser: não poderá haver inter-ajuda?


3. Comentário do co-editor V.B.:

Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho, o Luís Nabais não se reformou, trata dos nossos Camaradas em situação de fragilidade. Como se vê pela notícia do Correio da Manhã, os efeitos da guerra colonial só vão deixar de sentir-se quando já não houver ninguém para contar a vida que eles viveram.
vb
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Sem-abrigo de Faro > Ex-alferes recupera

Henrique Vieira, sem-abrigo de Faro, chegou ontem com um sorriso rasgado e lágrimas nos olhos ao Centro de Reinserção Social da Comunidade Vida e Paz, em Sobral de Monte Agraço, para aí receber tratamentos.

Este ex-alferes na guerra de Angola (70/73), de 56 anos, paralisado e numa cadeira de rodas, não consegue extrair da memória as imagens da guerra.

"A guerra não estava a terminar porque não sonhávamos com o 25 de Abril, confessa à Lusa".

A pressão emocional, devido ao stresse de guerra, tê-lo-á conduzido ao consumo de liamba e de bebidas alcoólicas, deixando-o num "estado de nervos", que o levava "a correr com os filhos e a mulher de casa", motivando o divórcio, que o separou para sempre da esposa.

Henrique Vieira é o primeiro sem-abrigo ex-combatente a ser recebido num centro de acolhimento, no âmbito de um acordo estabelecido entre a Liga dos Combatentes e a Associação dos Combatentes para apoiar antigos veteranos de guerra.

O ex-alferes conta que permaneceu em Angola até 1991, por altura da guerra civil, quando decidiu vir para Portugal, onde passou a residir com a mãe, levando uma vida de boémia e arrastando-se até "altas horas da madrugada pelas ruas".

Do levantamento efectuado só nos três centros de reinserção social da Comunidade Vida e Paz existem 22 utentes que são ex-combatentes das guerras do ultramar.

Lusa

Fonte: Correio da Manhã, 18 de Julho de 2007.

Guiné 63/74 - P1969: Tabanca Grande (26): Mansoa, 33 anos depois (Germano Santos / Amílcar Mendes)

1. Mensagem de Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832, dirigida ao Amílcar Mendes (ex-1º Cabo da 38.ª CCmds, Brá, 1972/74

Amílcar:

Quando te escrevi no outro dia, não duvidava minimamente que tu eras quem eu pensava. Porém, a prudência aconselhou-me a entrar com alguma reserva.

Devemos ao blogue este reencontro, 33 anos depois. É deveras excepcional o que a Internet hoje em dia nos permite, mas sempre com a interacção dos homens, neste caso do Luís Graça.

Conheci-te através da tua irmã Celeste, cujo conhecimento, para o caso de não saberes ou não te lembrares, nasceu nas colunas do extinto Diário Popular. Eu era amante da filatelia, e a propósito de trocas de selos acabei por estabelecer contacto com a tua irmã. Teria eu cerca de 16 anos: Como o tempo passa!...

Após ter-te escrito no outro dia, comecei a pensar na tua família, nos teus pais e nas tuas irmãs. Tentei recordar-me de nomes e encontrei estes, confirma-me se estou certo. Dos teus pais não me lembro os nomes, mas das tuas irmãs lembro-me da Mila, Bia e Céu. Falta-me uma, mas não me lembro.

Como estão todos ?

A francesa era portuguesa, vivia, porém, em Paris. Estou divorciado dela, mas temos um filho em comum, hoje com 33 anos de idade.

Já não me recordo como chegaste a Mansoa vindo de Guidaje, mas lembro-me quando chegaste a Mansoa - periquito -, pois eu já estava lá há uns tempos. Lembro-me que no dia em que vocês chegaram terá morrido um camarada teu que estava na caserna a limpar a arma. Eu estava na enfermaria e ouvi um tiro na caserna onde vocês foram colocados; quando lá cheguei vi a cena final, ele esqueceu-se de tirar a bala da câmara. Recordas-te disto ?

Vais, então, escrever sobre o terrível Morés. Nunca lá fui dentro, mas sei de cenas lá ocorridas que são quase que indescritíveis. Tenho alguma relutância em contá-las.

Espero que não leves a mal o envio de cópia deste mail para o Luis Graça, mas não é todos os dias que dois amigos se encontram ao fim de 33 anos, e ele é o responsável por isso.

Hoje fico-me por aqui. Responde-me e continuaremos o rol das saudades.

Diz-me como estás de saúde e o mais que queiras.

Um abraço grande

Germano Santos

2. Mensagem anterior do A. Mendes, enviada ao camarada Germano Santos:

Sou o Amilcar Mendes, ex-1º cabo da 38ª Companhia de Comandos. Estivemos juntos em Mansoa. Vou te avivar a memória: sou irmão da Celeste e casaste com a francesa com quem nos correspondíamos os dois. Lembras-te como eu cheguei a Mansoa quando vim de Guidaje?

Um grande abraço do Amílcar Mendes

PS - Estou no blogue desde o seu início. Um dia destes vou escrever sobre o Morés.

3. Comentário de L.G.:


Germano e Amílcar: Afinal, a blogosfera é mesmo uma tabanca grande... Eu acho que vocês estavam condenados a (re)encontrar-se. Fico feliz, ficamos felizes, por tal ser possível através do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Quem disse que isto era uma caixa de Pandora, donde só poderiam sair fantasmas, pesadelos, diabos e diabretes ? Pelo contrário, tem sido uma caixa de grandes surpresas e emoções para todos nós...

PS - Desculpem se infrigi uma regra, que é a do respeito pela privacidade de cada um de vós, de cada um de nós. Mas esta estória (como todas as estórias com final feliz, como são as dos reencontros) merece ser partilhada na nossa caserna, entre todos. Entendi que o Germano me dei luz verde, e que o Amílcar não se opunha. Se mudarem de ideias, digam, que a gente num minuto desmonta a tenda.

Guiné 63/74 - P1968: Cusa di nos terra (2): O Embondeiro, aliás, Poilão, de Mansoa (Germano Santos)

Guiné > Região do Óio > Mansoa > c. 1972 > O Germano Santos junto a um enorme embondeiro

Foto: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Germano Santos, ex-operador cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, 1971/73)(1)

Caro Luís,

Creio que uma das fotos que te enviei oportunamente, aquela que tem o nº. 19, é de um embondeiro.

Neste caso, pena é que o fotógrafo se tenha preocupado mais comigo do que com o embondeiro (2).

Este embondeiro está em Mansoa e, pelo que me lembro, é enormíssimo.

Um abraço.

Germano Santos

2. C omentário dos editores:

O Henrique Matos vem dizer, e tem razão, que o teu Embondeiro é um Poilão.

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. posts de:

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos

11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)

(2) Vd. post de 18 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Emdondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)

Guiné 63/74 - P1967: Prisioneiros em Conacri, capa da Revista do Expresso, 29 de Novembro de 1997: o que é feito deles ? (Henrique Matos)



Capa da Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997. Uma notável reportagem do jornalista José Manuel Saraiva (1), que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses, presos em Conacri, às ordens do PAIGC, e libertados na sequência da Operação Mar Verde, em 22 de Novembro de 1970. Trata-se, sem dúvida, de um documento para a história.

Imagem: Digitalização feita por Henrique Matos, da capa da revista, a partir de um exemplar, pessoal, que ele comprou e guardou no seu arquivo. Foi através desta já famosa capa que ele localizou o seu antigo Fur Mil Jão Neto Vaz, do Pel Caç Nat 52. Neste grupo de dezasseis, está também o o António Lobato (que nos parece ser o último dsa segunda fila, à esuerda,  de cabelo branco).

1. Mensagem do Henrique Matos:

Caro Luís e co-editores:

A pergunta que ficou no Post 1468 - Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes) - de 28 de Janeiro de 2007 ("Será que alguém é capaz de reconhecer estes rostos?" ) (2), levou-me a procurar a Revista do Expresso, de 29 de Novembro de 1997, que guardei por ter sido através dela que reencontrei o Fur Mil João Neto Vaz , militar esse que fez parte da formação do Pel Caç Nat 52 que, como já referi, comandei na sua fase inicial (3).

A revista tem uma reportagem de José Manuel Saraiva que conseguiu juntar em Lisboa 16 dos 25 militares portugueses libertados durante a Operação Mar Verde, passados 27 anos da data da operação (22 de Novembro de 1970).

É um trabalho excelente sobre esta parte escondida da guerra, com relatos das capturas e vivências na prisão, dos sofrimentos das famílias que recebiam comunicados a informar que tinham desaparecido em combate, tentativas de fuga, etc. , a começar pelo mais antigo na prisão, sargento piloto aviador António Lobato, que fora capturado em 1963. Escreveu o livro Liberdade ou Evasão.

Continua-se, porém, sem saber o que se passou com os outros militares que estiveram nas prisões do PAIGC. Uma pista seria recorrer à memória dos elementos envolvidos nesta reportagem, que me parece não será dificil obter o contacto.

Digitalizei a capa da revista (não sei se é preciso autorização para isto) que vai em anexo, assinalando o Fur Mil Vaz com um seta [vd. imagem acima].

Como sempre, aquele abraço

Henrique Matos

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Notas dos editores:

(1) Jornalista e romancista, José Manuel Saraiva publicou os livros As lágrimas de Aquiles (2001) e Rosa Brava (2005) - este último baseado na vida de Leonor Teles de Menezes. É autor de dois documentários da SIC sobre a guerra colonial: "Madina do Boé - A Retirada" e "De Guileje a Gadamael - O corredor da morte".

Enquanto jornalista trabalhou com frequência para O Diário, Diário de Lisboa, Grande Reportagem e Expresso, e mais esporadicamente colaborou com outros jornais e revistas. Hoje é um free-lancer.

Há uma referência no nosso blogue sobre ele: vd. post de 17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)

(2) Vd. post 28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1468: Mortos que o Império teceu e não contabilizou (A. Marques Lopes)

(3) Vd. posts de:

30 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1901: O Pel Caç Nat 52 que eu comandei em 1966 (Bolama, Enxalé, Porto Gole) (Henrique Matos)

28 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1896: Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54, 55 e 56 (Henrique Matos)

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1879: Henrique Matos Francisco, brindo à tua chegada e à memória do nosso Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

Guiné 63/74 - P1966: Uma carecada para ... (1): O blogue A Arca do Bué

1. Carecada: termo da gíria de caserna; castigo disciplinar, imposto pelo superior hierárquico, e que consistia no corte de cabelo à máquina zero...

Na blogosfera, significa assobio, pateada, vaia, reprovação por um comportamento menos digno, como por exemplo, o plágio, a pirataria, o não respeito pelos direitos de autor, o insulto, a acusação gratuita, a recusão do direito de resposta, etc.

2. E a primeira carecada, imposta pelos nossos editores, vai para... o blogue A Arca do Bué... Por que publicou um estória cabraliana, um conto do nosso amigo e camarada Jorge Cabral, além de uma imagem, sem citação da fonte nem autorização do autor e do editor. Além de ter permitido a publicação de comentários, anónimos, insultuosos, sobre o nosso camarada, que é advogado e professor da Universidade Lusófona.

Mandámos ao webmaster de A Arca do Bué (que não dá a cara) uma mensagem, a qual até agora caíu em saco roto (foi apenas inserida como comentário ao post em questão) (1):

Caro webmaster:

Este texto (1), original, foi publicado no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, e tem direitos de autor:

23 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1689: Estórias cabralianas (3): O básico apaixonado (Jorge Cabral)

No mínimo, não é bonito a sua publicação em A Arca do Bué (1), sem autorização do autor e do editor do blogue. O mesmo se passa com a foto. Peço-lhe que faça as devidas correcções, citando as fontes e pondo um link para o nosso blogue. A blogosfera só ganhará com isso.

Cibersaudações

Luís Graça
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Julho de 2004 > A Arca do Bué > 2007/06/20 > Grande Cabral

Guiné 63/74 - P1965: Cusa di nos terra (1): Embondeiro (cabaceira) e poilão (Paulo Santigo / Leopoldo Amado)


Guiné > Zona Leste > Galomaro > c. 1972 > Poilão atingido por um raio. 

 Foto: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados. 



  1. Mensagem do Paulo Santiago, em reposta a um e-mail meu (1): 

 Não sou grande especialista em Silvicultura,mas também penso que o embondeiro é diferente do poilão. Julgo ver,na minha memória, um embondeiro, árvore com um tronco mais ovalizado e não tão esguio como o do poilão. 

O mais célebre deve ser o de Brá, perto do qual se encontravam, há dois anos, carcaças de viaturas militares senegalesas, destruídas quando da guerra de 1098/99. O Pepito, pela sua formação académica [ é engenheiro agrónomo pelo ISA, de Lisboa],é que poderá dissipar esta dúvida. 

 Junto, possivelmente já a tens, foto de um poilão, em Galomaro, atingido por um ou mais raios.  

Abraço Paulo Santiago 

  2. Comentário do Leopoldo Amado: 

 Caros amigos: Embondeiro (cabaceira) e poilão são duas coisas diferentes, pese embora serem ambas árvores milenares e gigantescas (sobretudo o primeiro). Embondeiro dá fruto, denominado cabaceira na Guiné e múcua em Angola. No caso da Guiné, tanto a árvore como o fruto possuem o mesmo nome. Actualmente, a maior quantidade do sumo que se faz da Guiné é justamente do fruto do embondeiro, ou seja, da cabaceira. Guiné-Bissau exporta muita cabaceira, seja para o Senegal, seja para Cabo-Verde, países esses onde é sobretudo utilizado como ingrediente principal para sumos e sorvetes.

 Curiosamente, no Senegal, embondeiro denomina-se baobab e o seu sumo bissap de baobab. Em Cabo-Verde, onde essa árvore rareia ou é mesmo inexistente, é chamado sumo de fresquinha ou gelado de fresquinha, no caso de sorvete. 

  3. Comentário de L.G.: 

Aquela terra também foi nossa... Não nos acusem de imperialistas, colonialistas, saudosistas... Foi nossa porque amámo-lo... Porque continuamos a manter uma certa relação (quase umbilical) com a Guiné-Bissau e o seu povo... Tínhamos 20 anos e uma enorme capacidade de deslumbramento... Pepito, Leopoldo, Mussá Biai, Sadibo Dabo e tantos outros amigos da Guiné: não nos interpretem mal... 

Cusa di nos terra, coisas da nossa terra, é isso mesmo! 

A terra é só uma e não tem dono, não deveria ter dono. Há um pedacinho do planeta, Portugal e a Guiné-Bissau, de que nós gostamos com um carinho especial, que nós amamos com um amor especial...  
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 Notas de L.G.: 

 (1) E-mail enviado para todo o pessoal da Tabanca Grande: 

 Amigos e camaradas: Leiam o belo poema do nosso Palmeirim de Catió sobre o "embondeiro do Cachil" (Ilha de Caiar)... E depois mandem-me fotos vossas de embondeiros da Guiné... Do que eu me recordo é dos poilões. Há quem diga que é a mesma coisa, mas não é (do meu ponto de vista de leigo)... Fotos de poilões serão também vindas, que é para comparar... O mais fotografado dos poilões deve ser o de Maqué. Uma das maravilhas da Guiné... Mas o poeta é que sabe (2)... 

Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

Poema, envidao em 8 de Jukho último, dedicado aos ex-Combatentes, em especial aos da Guiné, com cumprimentos amigos do PIRA de Mansoa, o Magalhães Ribeirio, autor do Cancioneiro de Mansoa.


O COMBATENTE.
por Magalhães Ribeiro


Aquém ou Além... em Terra, na Água ou no Ar
Onde a sua amada Pátria lho requer...
Com um congénito, raro e intrépido senso
Que deram pelo nome de cumprimento do dever...
Arraigado pelo Povo, pela Bandeira, pela Pátria,
Por sua Honra e por sua Dignificação,
Seja nas catacumbas das trincheiras em França ou
Nas insondáveis e místicas picadas d’África.
Nas veias um pleno de História deste Portugal,
De Heróis que rasgaram mares então medonhos,
E de bravos Guerreiros ousados e destemidos,
Que s’agigantaram na opulência das façanhas,
Cravando, pelo mundo, marcos de universal memória,
Selados, ad eternum, pelo sangue dos nossos Mortos...
Qu’isto é tal orgulho qu’extravaza a pena do poeta
Ali… onde o azar canta, a sorte se devaneia delirante,
E as brisas empestam a doce acre da pólvora queimada
Onde as noites são infindas, os dias por demais longos
E as insónias provocam o êxtase do irreal;
Onde infernizam quer a chuva quer o calor ardente
E a lama e o suor se mesclam com o sarro e os parasitas;
Onde tudo definha entre laivos de pesadelo e loucura,
E o estridente som das bombardas petrifica;
Onde o sibilar dos estilhaços e das balas buscam as carnes,
E em salpicos e retalhos as vidas se esvaem;
Onde o pensamento mesmo que escasso bloqueia,
E o terror e a agonia dobram o aço mais duro;
Onde o Apocalipse assenta arraiais Dantescos,
Com tais cenários que Maquiavel abominaria o repasto;
Onde se fere, se mata, a morte baila sobre a barbárie
E as filosofias s’anulam na tragédia e no drama,
Tão tremendo que só um irmão d’armas o interpreta
Nos seus medos, nos seus rasgos, no seu íntimo...
Nos seus anseios, nos seus projectos, nas suas migalhas
Está um Ser... um Sobrevivente... um Lutador,
Um Sonhador... um Senhor... um Herói...
Um Patriota... uma Excelência… Um Português...
Um Combatente!

Magalhães Ribeiro

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:


1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal (Magalhães Ribeiro)

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá

7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...

10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª

3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade

terça-feira, 17 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

Angola > Na estrada do sul, em frente ao Mussulo > 26 de Setembro de 2004 > Lá está o embondeiro que tem muito para contar.

Foto: © Luís Graça (2004). Direitos reservados

Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > O secular poilão, local de paragem obrigatória para tirar uma foto. No meio do grupo, o nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur MIl da CCAÇ 13 (Os Leões Negros).

O poilão é uma árvore sagrada para os guineenses, habitada pelos irãs ou espíritos superiores, sendo um elemento de grande importância para a compreensão do papel do pensamento mágico na vida e na cultura, ainda hoje, dos nossos amigos da Guiné. Espero que eles saibam defender e preservar os seus belos poilões, verdadeiros monumentos vivos, do mundo vegetal, que nos fascinaram, quando lá chegámos... Não imagino a Guiné, as suas tabancas, sem os seus frondosos poilões... Oxalá os guineenses saibam defender o seu país e o seu património, as suas raízes, a sua identidade, dos novos colonialistas, internos e externos, que, quais predadores, farejam o lucro imediato e fácil que é o abate das árvores de grande porte... Não sei se é o caso do poilão. De qualquer modo, é preciso sensibilizar os guineenses mais jovens para a importância decisiva que tem já o ambiente para o futuro de todos nós, a começar pelos guineenses, hoje teoricamente donos do seu destino... (LG)

Foto: © Carlos Fortunato (2007). Direitos reservados.


1. Texto do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviado em 5 de Abril de 2007:

Caríssimo Luís: Acabaram-se as crónicas (1)... Aqui vai mais um texto para publicares, se o entenderes. J.L. Mendes Gomes

Comentário de L.G.: Um ternura! Volta, temos saudades das tuas crónicas! E já agora esclarece a minha dúvida: embondeiro (termo que não se usava na Guiné no meu tempo, sim em Angola e em Moçambique) ou poilão ?


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O Embondeiro do Cachil (2)


Havia um embondeiro (3)
no quartel dos Palmeirins,
erguido bem a prumo,
naquela ilha de ninguém.

Era um gigante,
eterno,
verdadeiro,
tão velho
como o mundo.

Tronco largo,
de mil nervuras,
fazia capelas,
em ogivas grossas.

Um enxame de raízes
agarrava-o firme
à terra,
ora seca
ou enlameada.

Uma floresta,
ramalhuda,
de toucado,
e mil grinaldas,
no chapéu.

Batia-lhe forte
o sol,
todo o dia,
mas não entrava.

Que majestoso paraíso
prós imponentes jagudis,
que em bandos multicores,
lhe poisavam
serenos,
em voo planado.

Um enxame de passaredo,
buliçoso e chilreante
acordava alegre,
cada manhã,
sua majestade,
aquele gigante.

À sombra perene
dos seus pés
três tendas
se ergueram:

Uma para escrita
do Primeiro...

outra pró bar
dos sargentos
e oficiais

e uma enfermaria
para os demais.

Índa fazia de catedral
prá missa de Natal,
p´rás folias
e noitadas
do fado e cavaqueira...

Não morreu...
desapareceu
de noite,
inteiro,
com a metralha da canalha...
que não queria bem
aos Palmeirins!

Que saudades
do embondeiro!...

J.L. Mendes Gomes~


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Notas de L.G.:


(1) Vd. posts de:

5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-
Feira


8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar


1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

(2) Uma dúvida para o poeta esclarecer: Já tenho visto confundir-se o embondeiro com o poilão. Dois exemplos:

(i) "Poilão - Correspondente do Imbondeiro, mas na Guiné-Bissau. Também pode significar mangalho, utilizado para não assustar as catorzinhas: Anda cá, põe-te à sombra do meu poilão!". In: DICIONÁRIO D'O BAZONGA DA KILUMBA.

(ii) (...) "Três homens [manjacos], munidos dumas estranhas vestes, uma faca enorme e outros apetrechos para mim desconhecidos, irrompem no meio da pequena multidão, transportando, um deles, um porco. Ao passarem, apercebo-me de grande borborinho…é que as mulheres deveriam voltar as costas aos sacerdotes daquele estranho cerimonial, pois seria mau presságio elas visualizarem aquele misterioso cenário. Lá se dirigem ao poilão, aquilo que nós designamos de embondeiro, e sacrificam o animal. Fazem mais uns gestos esquisitíssimos, para mim, e deixam lá o porco já sem vida. Mais tarde, será saboreado pelos homens da família. O importante, para o defunto, estava feito: o sangue derramado pelo animal iria libertar a alma e levá-la à glória! Será bom lembrar que talvez a maioria dos Guineenses é animista… mesmo os Cristãos e Islâmicos vivem sob o universo dos Irãs (uma espécie de intermediários entre os homens e Deus), num mundo povoado de sacrifícios constantes, no mato grande" (...).

In: Fundação Evangelização e Culturas > 19 de Maio de 2005 > Fátima Rodrigues > Rituais

(iii) Saboreado o (belo) poema do Mendes Gomes, deixem-te também meter a minha colherada no caldo de cultura... Eu, que não sou especialista de botânica nem de línguas africanas, limito-me a consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de que sou fã. Ora estes dois termos existem, estão lá, e pelo que percebo são termos comuns para árvores de espécies diferentes, embora aparentadas (vd. portal EcoPort).

Poilão - Designação comum, na Guiné-Bissau, a algumas árvores da família das bombacáceas. O mesmo que Sumaúma (Ceiba pentandra). Há diversos nomes comuns em português: ceba, mafuma, mafumeira, ocá, paina lisa, poilão, poilão de sumaúma, poilão forro, sumaúma, sumaúma da várzea... O português é a língua que tem mais nomes comuns para esta árvore.

Embondeiro - Árvore com comprimento até 20 m (Adansonia digitata), da família das bombacáceas, com tronco gigantesco, erecto, madeira branca, mole e porosa, etc. Nativa de regiões tropicais de África, pode viver mais de dois mil anos, e o seu tronco alcançar mais de 1 metros de diâmetro. As folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm diversas aplicações medicinais. Tem vários nomes comuns, como baobá.

Na Guiné-Bissau, os nalus também fazem a distição entre o poilão (n´kauuê) e o embondeiro, segundo a etnóloga Amélia Frazão-Moreira. Como nunca estive na Ilha de Caiar, também nunca vi o embondeiro do Cachil. Resta-me a consolação da sua evocação poética... Em Angola, vi alguns, esquelécticos e moribundos, nos musseques de Luanda... Outros, mais viris e portentosos, na região do Mussulo...Dizem que pode armazenar água até 120 litros de água dentro do seu bojo...