Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberem e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de Março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento (Baraca) Osvaldo Vieira, outro dos momentos gratificantes da nossa viagem à pátria de Amílcar Cabral.
Vídeo (4' 52 ''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijoes
1. Escreveu George Freire (*), um antigo oficial do exército português, antecipadamente reformado como capitão, hoje engenheiro e empesário, a viver há 45 anos nos EUA (e, além disso, do mesmo curso da Escola do Exército que o meu antigo comandante de companhia, Carlos Brito) (**):
(...) "A companhia que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu ainda tenente, segundo comandante e o capitão Curto, comandante (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizá-la.
(…) Comecei em Fulacunda como tenente na Companhia 164 [julgamos tratar-se de lapso, deve ser 153], comandada pelo capitão Curto. Passados dois meses, fui promovido a capitão e segui para Bissau como comandante de uma Companhia de nativos. Daí passei para Nova Lamego (Gabu), como comandante de uma Companhia mista de nativos e tropas brancas. Nos últimos 6 meses estive em Bedanda como comandante da 4ª CCaç. Foi nessa altura que as coisas começaram a aquecer de verdade" (...).
2. Na vídeo acima apresentado, um dos homens grandes do Cantanhez conta como foram os primórdioos da luta... Infelizmente não consegui fixar o seu nome. Creio que é nalu. Entrou no mato, como ele diz, em 1962. Ou seja: passou à clandestinidade, depois de aderir ao PAIGC.
Estava convencido que a designação (actual) deste acampamento não teria nada a ver a verdade fáctica, histórica: seria apenas uma homenagem, póstuma, a um dos heróis do PAIGC (cujos restos mortais repousam na Amura, a antiga fortaleza colonial de Bissau dos Séculos XVIII-XIX, hoje transformada em panteão nacional)...
"Éramos só sete nessa altura. O comandante do grupo era o José Condição. Ficámos no mato de Caboxanque, aqui perto. Numa barraca, parecida com esta"...
E a narrativa continua: "Até que chegou à região de Tombali o capitão Curto"...
Atenção, diz o Pepito, não confundir com o outro Capitão Curto, que teria andado a espalhar o terror no chão manjaco... O Pepito devia estar a referir-se ao cap António Curto (?), comandante da CCAÇ 6, conhecida pela Companhia Manjaca de Bachile …
O Cap Curto, que terá actuado na região do Tombali era outro, mas também era dos duros, a acreditar na versão deste velho nalu. Lenda ou não, o seu nome - quarenta e cinco anos depois - é ainda lembrado no Cantanhez, por razões que não serão propriamente piedosas...
Enfim, não tive, no Cantanhez, entre 1 e 3 de Março de 2008, oportunidade de saber mais pormenores sobre eventuais métodos de trabalho da chamada contra-subversão, resultantes da colaboração entre Exército, PIDE, polícia administrativa, etc., nos anos de chumbo que antecederam a guerra e nos primeiros tempos de guerra...
Também não achei apropriado o momento, que era de festa e de reconcialição entre inimigos de outrora, para falar de homens que, a confirmarem-se os seus métodos de actuação, não podem ser tomados como representativos do exército português, e muito menos da generalidade dos militares portugueses que fizeram a guerra, entre 1961 e 1974, e onde todos nós nos incluímos....
E prossegue a narrativa, de resto muito mais extensa do que sugere a duração do nosso vídeo. Na mesma altura apareceu o 'Nino'. O tal cap Curto, de Fulacunda - que deve ser o mesmo a que refere o nosso camarada George Freire, ou seja, o comandante da CCAÇ 153 - cercou Darsalame, entrou aos tiros na tabanca, mandou toda a gente pôr as mãos na cabeça…
O 'Nino' ficou muito preocupado e quis saber o que se passava. Reuniu os camaradas, entre eles o 'Mão de Ferro', com a missão de ir a Darsalame saber o que se estava a passar e tentar ajudar o povo. Não deixou ir o José Condição. Mas, quando lá chegarm, já o grupo de combate do cap Curto tinha partido...
Foi também nessa altura que o grupo, que tinha aumentado, já não cabia em Caboxanque.
3. Pergunta do editor L. G. ao George Freire, antigo comandante da 4ª CCAÇ (Bedanda, 1963) depois de ouvir com atenção o vídeo (que foi feito por mim, na visita que fiz ao Cantanhez em 2 de Março de 2008):
(i) Confirmas que este tal cap Curto, que fez o cerco a Darsalame para identificar elementos suspeitos de serem simpatizantes ou militantes do PAIGC, era o teu camarada, comandante da CCAÇ 164 (ou da CCAÇ 153, como me parece mais correcto) ?
(ii) Estes acontecimentos serão contemporâneos da tua estadia em Bedanda, à frente da 4ª CCaç ?
(iii) Ainda te tembras de mais peripécias, no sul, em que ele (e os seus homens) tenha estado envolvido, da altura em que tu estiveste em Bedanda, à frente da 4ª CCAÇ ?
(iv) No sul, no Cantanhez, vocês faziam prisioneiros e entregavam-nos ao Batalhão. Ouviste falar desse tal cap António Curto (?) que terá actuado no chão manjaco ? Seria também do teu tempo ?
(v) O que será feito deste teu antigo camarada, que comandou a companhia em que foste tenente, que esteve em Fulacunda, e que tu dizes que é a CCAÇ 164 (confusão tua, deve tratar-se da CCAÇ 153) ? Ainda será vivo ? Tens notícia dele ?
Obrigado por nos disponibilizares o que restou do teu diário de guerra e do teu álbum fotográfico. É um valioso contributo para um melhor conhecimento do início da guerra no sul da Guiné, em pleno coração do mítico Cantanhez.
Estamos hoje em condições de falar, o mais desapaixonadamente possível, da guerra da Guiné, das suas peripécias e dos seus protagonistas, sem termos que fazer juízos de valor (moral ou outro) sobre o comportamento dos actores individuais...
Ficarei grato, eu - e os demais amigos e camaradas da Guiné -, se nos deres algumas informações e esclarecimentos adicionais sobre esta época, e os seus protagonistas, de quem temos muito poucas informações.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)
10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)
29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)
(**)Vd. poste de 29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3683: Em busca de... (60): Ex-Cap Carlos Alberto M. Brito, comandante da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (Gabriel Gonçalves)