Cartaz de propaganda da República Popular da China pormenor): o "grande timoneiro", o presidente Mao Zedong ou Mao-Tsé-Tung (1893-1976)
1. Mais um excerto do "diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983", do nosso camarada do António [José] Graça de Abreu. (*)
[ Recorde-se que ele viveu na China, em Pequim e en Xangai, entre 1977 e 1983; foi professor de Português em Pequim (Beijing) e tradutor nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. Na altura, ainda era, segundo sabemos, simpatisante ou militante do Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), o PC de P (m-l), fação Vilar (Eduímno Gomes), alegadamente o único reconhecido pela República Popular da China.
Ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), é membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com 236 referências. Compulsivo viajante, tem "morança" em Cascais. É um cidadão do mundo, poeta, escritor e reputado sinólogo. Nasceu no Porto em 1947. É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro.]
Pequim, 5 de Dezembro de 1977
Os chineses com quem trabalhamos levam-nos frequentemente numa espécie de visitas de estudo aos mais diversos lugares de Pequim e arredores. São fábricas, comunas populares, templos, lugares turísticos, até quartéis.
Hoje calhou em sorte ir ver a tropa chinesa. Fui cirandar pelo campo militar de Fangshun, divisão 196 do exército chinês, nos subúrbios norte de Pequim, junto às montanhas, não muito longe da Grande Muralha da China.
Na minha vida recente, apanhado pela roda da História, cumpri três anos e sete meses (de Outubro de 1970 a Abril de 1974) de serviço militar obrigatório no exército português, levei com quase dois anos de imersão numa guerra sem tréguas, como alferes num Comando de Operações, no norte, centro e sul da Guiné.[1] Os conflitos bélicos infelizmente não me são estranhos.
Foi agora o tempo de voltar aos fuzis, ao cheiro a pólvora, de conhecer uma grande unidade militar made in China.
Eis-me chegado ao que me dizem ser um destacamento armado do povo que passou de pequeno e débil a grande e poderoso, com raízes na guerrilha anti-japonesa, depois na luta anti-Chiang Kai-shek, antes da “libertação” comunista, em 1949. Esta unidade militar participou também na Guerra da Coreia e dizem-me que aniquilou 38.000 soldados inimigos, a maioria militares norte-americanos.
Falam-me do exército como sendo uma grande escola e também um destacamento de combate, trabalho e produção. Os militares devem aprender com os camponeses e com os operários, dedicarem-se à agricultura e ter pequenas fábricas. Devem-se estreitar as relações entre o exército e o povo, estar ao lado do povo, servir o povo. Devem privilegiar a igualdade entre oficiais e soldados, devem colocar-se sob a direcção dos comités do Partido, devem respeitar a disciplina e seguir as justas advertências do Presidente Mao Zedong.
Hoje a educação política gira em volta da crítica ao “bando dos quatro” que considerava que dedicar-se à produção equivalia a fomentar “rabos de capitalismo.”
Levaram-me a dar uma volta pela unidade militar, a conhecer os alojamentos dos oficiais e dos soldados. Tudo limpo, instalações espartanas, mas funcionais.
No fim da visita fomos para uma espécie de carreira de tiro assistir às habilidades das tropas, disparando excelentemente as Kalashnikovs e outras armas que não identifiquei.
Fiquei a saber que o serviço militar não é obrigatório, mas todos os anos cerca de 5 ou 6 milhões de chineses, sobretudo oriundos do campo, oferecem-se como voluntários para as forças armadas, durante um período de quatro anos. Só 1 ou 2 milhões são aceites. A experiência na tropa garantir-lhes-á um futuro emprego, dar-lhes-á importância nas terras onde nasceram e a promoção a quadros do Partido.
Levaram-me a dar uma volta pela unidade militar, a conhecer os alojamentos dos oficiais e dos soldados. Tudo limpo, instalações espartanas, mas funcionais.
No fim da visita fomos para uma espécie de carreira de tiro assistir às habilidades das tropas, disparando excelentemente as Kalashnikovs e outras armas que não identifiquei.
Fiquei a saber que o serviço militar não é obrigatório, mas todos os anos cerca de 5 ou 6 milhões de chineses, sobretudo oriundos do campo, oferecem-se como voluntários para as forças armadas, durante um período de quatro anos. Só 1 ou 2 milhões são aceites. A experiência na tropa garantir-lhes-á um futuro emprego, dar-lhes-á importância nas terras onde nasceram e a promoção a quadros do Partido.
[1] Ver o meu Diário da Guiné, 1972/74, Lisboa, Guerra e Paz Ed., 2007. [Imagem da capa, à direita]
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 5 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19861: Os nossos seres, saberes e lazeres (330): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte IX: Huhehot, Mongólia Interior, 10 de Julho de 1981: visita ao túmulo de uma das mais belas e famosas mulheres da China clássica, Wang Zhaojun (76 a.C.-33 a.C.)
Último poste da série > 29 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19928: Os nossos seres, saberes e lazeres (334): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (3) (Mário Beja Santos)