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segunda-feira, 2 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20698: (D)o outro lado do combate (55): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte II (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)



Guiné > Bisssau > Filial do BNU - Banco Nacional Ultramariono > Ofício para o Governador, na sede, em Lisboa, datado de 16 de março de 1962, em que se noticia a detenção pela PIDE, entre outros,  do funcionário,  "contínuo" do Banco,  Inácio Soares de Carvalho, por alegadamente pertencer ao clandestino  PAIGC. Cortesia do nosso colaborador permanente Mário Beja Santos (*).




Capa e contracapa do livro "Memórias da Luta Clandestina", de Inácio Soares de Carvalho. Foto: cortesia de Expesso das Ilhas, 30/1/2020. (**)

1. O  livro "Memórias da Luta Clandestina" foi lançado, no passado dia 30 de janeiro, na Praia, capital de Cabo Verde, na Biblioteca Nacional.  Dois meses antes, um dos filhos, Carlos de Carvalho, arqueólogo e historiador, que coordenou o projeto editorial, pediu-nos autorização para reproduzir uma foto do administrador Guerra Ribeiro, da autoria de Paulo Santiago (***). Autorizou-nos, ao mesmo tempo, a reproduzir alguns excertos da obra, em fase final de acabamento.

Inácio Soares de Carvalho (ISC) trabalhou no BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, até ser detido pela PIDE em 15/3/1962. Vamos continuar a publicar alguns excertos das suas memórias políticas, até há pouco inéditas, com a devida autorização do seu filho, Carlos de Carvalho.

Nasceu na Praia em 1916,  foi em criança para a Guiné com os pais. Envolveu-se na luta política, filiando-se em 1956 no  MLG – Movimento para Libertação da Guiné, e mais tarde no PAI (futuro PAIGC),  por influência do seu compadre e colega de Abílio Duarte.

Seria preso pela primeira vez em 15/3/1962. É então deportado, com outros "suspeitos",  para o Tarrafal, donde regressa em 1965. É depois colocado na ilha das Galinhas. Em 1967, é solto,  pela primeira vez. Em 1972, é de novo preso e encarcerado na 2.ª Esquadra de Bissau, sendo solto, 3 meses depois, sempre sem culpa formada. Em 1973, é de novo preso, para conhecer a liberdade definitiva com o 25 de Abril de 1974.  Nos finais de setenta, regressa a sua terra natal, Cabo Verde e afasta-se praticamente da vida política activa. Faleceu em 1994. O seu nome de guerra era "Naci Camará", mas nunca andou no mato, fazia parte do "back office" do PAIGC.

"Após incessantes insistências dos filhos, ISC resolve escrever suas 'Memorias', tendo-as dado por concluídas em 1992. Nelas o autor narra factos novos, desconhecidos da maioria dos militantes, pois, infelizmente, poucos foram os combatentes da clandestinidade, sobretudo na Guiné, que deixaram escritos sobre essa vertente da luta protagonizada pelo PAIGC." (Informações biográficas fornecidas pelo filho, Carlos de Carvalho, nascido na Guiné)


2. Excertos do livro  - Parte II

(...) Em 1956, o Sr. Abílio Duarte, que trabalhava, como eu, no Banco Ultramarino em Bissau [1], foi à minha casa levando um volume contendo uns documentos que me entregou e pediu-me que os guardasse num sítio muito seguro e com muito cuidado, porque "tem uns papéis de muita responsabilidade".

Mas, não me explicou do que se tratava. Dado ser pessoa de minha grande confiança, tomei e guardei no sítio onde penso que era um lugar bem seguro. De vez em quando, ele ia à minha casa pedir tal volume e eu o dava; puxava de uma cadeira e sentava à mesa, fazia as suas consultas e depois amarrava de novo como estava e entregava-me outra vez; eu punha de novo no lugar do costume. 

Naquela altura, eu e o Abílio já éramos compadres, porque baptizara meu filho Celso; isso foi pouco tempo antes de me ter entregado tais documentos. O Abílio de vez em quando dizia-me:

– Compadre, tenho uma coisa muito importante para lhe dizer. 

Dizia-me isso sempre no Banco porque, além de trabalharmos juntos, trabalhávamos na mesma secção. Ele era Chefe de Secção de Correspondência e eu, naquela altura, era encarregado do Arquivo. Não sei se não sentia coragem para me dizer o que queria, mas, o que é certo, repetia-me isso várias vezes. Um belo dia, após ter-me dito a mesma coisa, voltei para ele e disse-lhe:

–  Compadre,  não sente receio de me dizer nada, tanto para o bem ou para o mal, porque além de sermos compadres, o compadre já me conhece muito bem, conhece a minha maneira de ser.

Ao tempo, éramos todos novos, embora sendo eu muito mais velho do que ele.

Quando resolveu abrir comigo e contar-me o que se passava, convidou-me um dia para irmos passar uma tarde no seu quarto. Foi um sábado. Voltei para ele e disse-lhe:

 – Está bem compadre, mas tem que me esperar ir à casa almoçar e dizer a minha mulher que tenho assunto muito urgente a tratar no Banco; e então compadre espera por mim, porque se eu não chegar à casa na hora do costume, ela fica muito preocupada, porque não é hábito chegar fora de hora, sem antes lhe ter avisado.

E  assim ficamos combinados. 

Depois do almoço, descansei-me como era de costume, e depois fui ao Banco ter com ele no seu quarto. Dali então começamos a nossa conversa que foi muito prolongada, e no fim disse-me.

 – Pois,  compadre, fica a saber que existe cá, em Bissau, um movimento muito importante que é para a Independência da Guiné e Cabo Verde. O inicial deste movimento é MLGC – Movimento para Libertação da Guiné e Cabo Verde [, confusão do Naci Camará: na época era o MLG - Movimento para a Libertação da Guiné, "tout court", (LG].

Mas, na altura, não me citou nomes dos responsáveis do Movimento. E depois disse-me que é uma grande responsabilidade para todos aqueles que aderirem ao referido Movimento. E disse-me ainda mais:

 –  Compadre,  deve pensar muito bem antes de tomar a decisão que entender, porque é de muita responsabilidade, e requer grande cuidado.

Naquela altura, eu era pai de 4 filhos,  todos menores. A mais velha, que era Fátima, tinha apenas 8 anos de idade. E realmente pensei muito bem e então decidi aceitar o convite. Isso foi em 1957.

O MLGC [, ou melhor, MLG,]  foi fundado por um grupo de alguns Guineenses e Cabo-verdianos, mobilizados por Amílcar Cabral, em 1956. Mais à frente encontra-se nomes de alguns daqueles fundadores.

Quando aceitei o convite, ele disse-me que agora devo ter muito mais cuidado ainda com tais documentos. Falamos muito naquela tarde, e eu então fiquei muito entusiasmado com tudo o que ele me falou sobre a Independência da Guiné e Cabo Verde, e de mais colónias que estão sob domínio português.

Dali então continuamos a trabalhar no sentido de mobilizar pessoas, o povo para a luta pela liberdade.

Depois da sua saída, então o Sr. Rosendo, que era também empregado do Banco, entrou em contacto comigo e dali então começamos a falar muito do nosso Movimento e começou a dar-me nomes de alguns responsáveis que fazem parte do referido Movimento, como: Srs. Fernando Fortes, de S. Vicente, Inácio Semedo, de Bissau, Aristides Pereira, de Boavista, Elisé Turpin, de Bissau, João Rosa, de Bissau, Ladislau Justado Lopes, de Bolama, Epifânio Souto Amado, de Tarrafal, Júlio Almeida, de S. Vicente, José Francisco, de Calequice, Alfredo Menezes d’Alva, de S. Tomé, Rafael Barbosa, de Bissau, Luís Cabral, nascido em Bissau, mas saiu daqui muito criança, mas toda a gente o conhece, e ainda o nome do próprio fundador do nosso Movimento, Sr. Amílcar Cabral, de Geba [2]. E há muito mais que já não me lembro dos nomes.

Dali então o Sr. Rosendo deu-me a responsabilidade de mobilizar todos os meus amigos e conhecidos, mas de minha grande confiança, lembrando-me sempre da grande responsabilidade que vou assumir no seio do nosso Movimento.

O massacre de Pidjiguiti e o inicio da luta

A 3 de Agosto de 1959, aconteceu o massacre de Pidjiguiti.

O 3 de Agosto foi organizado por responsáveis do nosso Movimento, a fim de, por um lado, chamar à atenção do povo para a luta contra o colonialismo e, por outro, chamar à atenção do mundo para o facto de que os povos da Guiné e de Cabo Verde estarem sob o domínio colonial e de não aceitarem pacificamente essa condição. É nessa perspectiva que os militantes do nosso Movimento organizaram a greve e a manifestação que desembocou no grande massacre de Pidjiguiti.

[...] Com o acontecimento de 3 de Agosto, muitos guineenses e cabo-verdianos descobriram que alguma coisa estranha estava a acontecer na Guiné, o que muito nos encorajou e motivou a trabalhar com mais dedicação.

A fundação do PAIGC

No fim do mês de Setembro a Outubro de 1960, o nosso grande líder, Amílcar Cabral, decidiu mudar a denominação do Movimento de MLGC – Movimento para Libertação da Guiné e Cabo Verde,  para PAIGC  – Partido Africano para Independência da Guine e Cabo Verde. E para o efeito, mandou pedir que fosse à Dakar um dos principais responsáveis do Movimento a fim de contactar com ele, para poder trazer de lá um esclarecimento do motivo que lhe obrigou a fazer tal mudança do nome Movimento para Partido.

Para a designação do responsável que devia seguir para Dakar cumprir a missão, realizamos uma reunião de grande escala. A reunião, como não podia deixar de ser, foi presidida pelo Fernando Fortes visto ser ele o responsável máximo do Movimento que se encontrava dentro do território da Guiné-Portuguesa. Depois do Fortes ter esclarecido o motivo da reunião, ficou-se a espera da pessoa que se disponibilizaria para realizar a missão que era seguramente muito espinhosa. Depois de um largo silêncio, ninguém se oferecendo, o Rafael Barbosa levantou o braço e ofereceu-se como voluntário para ir contactar com o nosso grande líder em Dakar.

Naquele momento, todos os presentes ficaram muito contentes com o gesto do Rafael. A pedido do líder, todos deviam quotizar, conforme a possibilidade de cada um, para as despesas do Rafael na viagem à Dakar. Cumprindo as instruções de Cabral, tomamos todos o compromisso de cuidar da família do Rafael já que ele não tinha meios suficientes para manutenção da família, sendo ele um simples capataz e com um salário mísero que mal dava para aguentar a família.

Foi assim que se preparou a saída do Rafael e ele conseguiu ir à Dakar contactar com o líder do nosso Movimento.

(Continua)
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Notas de Carlos de Carvalho:

[1] ISC ingressa no BNU (Banco Nacional Ultramarino) em 1939. ISC tinha, na altura, 34 anos de idade. O BNU era das mais importantes instituições nas colónias portuguesas.

[2] As pessoas aqui referenciadas constituíram o núcleo inicial dos responsáveis do Movimento, MLGC.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19264: Notas de leitura (1128): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (63) (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série 29 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20695: (D)o outro lado do combate (54): memórias do militante do PAIGC , Inácio Soares de Carvalho, cabo-verdiano, funcionário do BNU - Banco Nacional Ultramarino, em Bissau, detido pela PIDE em 1962, em seguida deportado para o Tarrafal, donde regressa em 1965, sendo colocado na Ilha das Galinhas... Liberto em 1967, é de novo preso em 1972 e 1973... Regressa à sua terra natal, em finais de 1970, afastando-se da vida política ativa... Morreu em 1994 - Parte I (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, CV)

(***) Vd. postes de:

16 de janeiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20563: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (112): Vamos publicar, com a devida autorização da família, um excerto das memórias, ainda inéditas, de Inácio Soares de Carvalho, um nacionalista da primeira hora, militante do PAIGC, pai do nosso leitor (e futuro grã-tabanqueiro), o historiador e arqueólogo Carlos de Carvalho, cabo-verdiano, de origem guineense

15 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20559: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (67): pedido de autorização para uso de fotos de Guerra Ribeiro, em livro de memórias do "tarrafalista" Inácio Soares de Carvalho (Carlos de Carvalho, Praia, Santiago, Cabo Verde)

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19935: (De)Caras (131): Um ninho de "lacraus", em Espinho, Silvalde, fevereiro de 1969, na véspera de partida para o CTIG (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte, CART 2479 / CART 11, 1969/70)


Espinho > Silvalde > Fevereiro de 1969 >  CART 2479 / CART 11 >   IAO, Instrução de Aperfeiçoamento Operacional >  Uma "foto histórica" um "ninho" de lacraus, designação do pessoal da futura  CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche)

CART 2479 constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês. O  percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969; passou por Bissau, Contuboel, Nova Lamego,  Piche; o comandante era o cap mil art Analido Aniceto Pinto (1934- 2014) (trabalhou na Galp Energia); foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11; em maio de 1972 a CART 11 passou a designar-se CCAÇ 11. No CIM de Contuboel, no 1º e 2º trimestre de 1969l formaram-se, entre outras, as futuras CART 11 / CCAÇ 11 e CCAÇ 12-

Na foto, e graças aos contributos do Valdemar Queiroz  e do Abílio Duarte (*), podemos identificar os seguintes 1ºs cabos milicianos (futuros furriéis milicianos. "Lacraus" da CART 2479 / CART 11), da esquerda para a direita:

(i) na primeira fila, Manuel Macias (8), Pechincha (que era de operações especiais) (7), Abílio Duarte (5) e Aurélio Duarte (, de Coimbra, falecido em 2015);

(ii) na segunda fila, Canatário (que era apontador de armas pesadas) (9); o Ferreira (vaguemestre) (10);  o Cândido Cunha (3)") (**) ; e o Abílio Pinto (11);

(iii) na terceira fila,  o Vera Cruz ("este rapaz era um tratado a jogar á lerpa, bons momentos, muito stressado, mas com saída com as miúdas na Guiné"(13); e o Renato Monteiro (2):

(iv) na última fila,  o Bento (14), o Sousa (, já faelcido (4), (14) e o "indomável Valdemar Queiroz da Silva, grande contador de histórias" (1). (***)

 "Todos duma excecional colheita de bioxene", garante o Valdemar.  "Na foto faltam os restantes da colheita, os ex-fur.mil. Pais de Sousa (Mecânico), Silva (Transmissões) e Edmond (Enfermeiro).!

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine.]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

 16 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12992: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XII): O Cunha, único até hoje, o fur mil Cândido Cunha... Ou Cor mil Lukas Títio, o antitropa...

2 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14690: Cartas de amor e guerra (Renato Monteiro, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego e Piche, 1969/70; e CART 2520, Xime, 1970) (Parte II): anti-herói

(**) Vd. poste de 28 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8956: O Nosso Livro de Visitas (118): Cândido Filipe da Cunha, ex-Fur Mil da CART 11 (CART 2479) (Canquelifá)

(...) Comentário, ao poste P 12992,  de Jaime Cunha, filho de Cândido Cunha, em 9/12/2015: quando era, presumimos, soldado do Regimento de Comendos:

(...) "Poderia ler este texto sem fazerem referência a quem seria, que iria sempre reconhecer que era do meu pai de que falam.... porque até eu próprio identifico me no que vejo. É uma enorme honra saber que assim recordam o meu pai, e de que,  apesar dos anos que passaram, manteve se como o grande homem que assim é retratado.... Muitas vezes o meu pai recorda os bons momentos que passaram por lá, guardando para si os maus momentos....

"Um grande abraço também deste vosso camarada, aos verdadeiros Heróis de Portugal Jaime Cunha sold rc " (...)

(***) Último poste da série >  22 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19814: (De)Caras (106): João Crisóstomo, o luso-americano que vem de propósito de Nova Iorque para estar com os seus antigos camaradas de armas, em Monte Real, no dia 25, sábado... Entretanto, tarda o reconhecimento, público, do seu país de origem, pela seu ativismo cívico e social na diáspora lusitana...

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19924: Convívios (903): Velhos Lacraus, da CART 2479 / CART 11, juntam-se para comer uma sardinhada e recordar: Abílio Duarte, Manuel Macias, Renato Monteiro e Valdemar Queiroz... O Duarte e o Monteiro não se viam há 30 anos...


Lisboa > 20 de junho de 2019 > Quatro Lacraus, da esquerda para a direita. Renato Monteiro, Abílio Duarte, Valdemar Queiroz e Manuel Macias,  todos ex-fur mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), mais conhecidos como "Os Lacraus".


Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Mensagem de Abílio [Machado Rodrigues] Duarte :


[Abílio Duarte , foto à direita: ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70); está reformado como bancário do BNU - Banco Nacional Ultramarino]

Date: quinta, 27/06/2019 à(s) 16:15

Subject: Almoço de velhos Lacraus,   CART 2479 / CART11 (1969/70)

Olá, Luís Graça,

Tomo a liberdade de te enviar, para memória futura, e para a história da nossa Companhia, nesse Blogue, uma foto da reunião... sardinhada, de amigos e camaradas, de há 50 anos, que conviveram e andaram pelo Leste da Guiné.

Recordando muitas situações, acontecimentos, e criancices, pois éramos umas crianças, com uma G3 nos braços.

Gostei de ver o Renato Monteiro, que já não nos víamos há mais de 30 anos. O Valdemar [Queiroz] e o [Manuel]  Macias, lá nos vamos encontrando.

Agradecido pela tua atenção, grava lá mais esta foto.

Abraço, Abílio Duarte

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Nota do editor:

quarta-feira, 13 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19582: Memória dos lugares (386): Ainda a tasca do Geraldes, em Nova Lamego (conversas a cinco: Tino Neves, Valdemar Queiroz, Abílio Duarte, Virgílio Teixeira e Luís Graça)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >  A tasca do sr.  Geraldes... Pode ver-se o Geraldes, da direita para a esquerda, o 3º, de camisa aberta, ao meu lado (, eu, ao centro, ao fundo, de óculos escuros). Do outro meu lado, o Sargento Parracho (acho que era de Aveiro e tinha chegado da Madina do Boé, era da CCAÇ 1589, e lá vinha com os seus ‘autos de destruição’ para serem aprovados). Os outros comensais serão porventura civis, comerciantes.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Nova Lamego > Dezembro de 1967 >  Tasca do sr. Geraldes.  Pode ver-se o Geraldes, com um macaco-cão, bebé; e ao lado dele, um homem civil (o mesmo que se vê na foto acima, à esquerda,  em primeiro plano); de pé o sargento Parracho, da CCAÇ 1589, que estava em Madina do Boé., e ao ao centro. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 3 > Na tasca do  Geraldes [ e não do Zé Maria, como por lapso foi originalmente legendado ], petiscando com o   furriel Rocha, o "Algarvio", que não pertencia ao nosso Batalhão, mas foi lá parar ao Conselho Administrativo, caindo de paraquedas.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Na tasca do Geraldes, petiscando sozinho, talvez frango. Este estabelecimento,  conhecido como o " Geraldes", era uma espécie de restaurante-tasca, onde se podia comer e beber alguma coisa fora da ementa do rancho ou da messe do quartel.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1970 > A tasca do sr. Geraldes... Ele e a esposa eram de Setúbal. Ele provavelmente antigo militar...  Em 1970, o estabelecimento tinha já um jogo de bilhar "Sinaleiro" (**)...

Comparando as fotos, vê-se que as toalhas e o mobiliário (, nomeadamente as cadeiras) são as mesmas do tempo do Virgílio Teixeira (set 67/fev 68) e do Tino Neves (1969/71)...

Foto (e legenda): © Tino Neves (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários ao poste anterior da série (P19578) (*)

(i) Valdemar Queiroz

Viva, caro Tino Neves.

Lembras-te se o cozinheiro ou ajudante de cozinha do Geraldes ? Era um matulão,  sempre com o avental sobre o tronco nu e tinha uma motoreta!...

Afinal, nós fomos contemporâneos em Nova Lamego, eu era da CART 11, "Os Lacraus", que era a Companhia de africanos que estava no Quartel de Baixo.

Manda mais fotos.

(ii) Abílio Duarte

Também passei por lá...[, pela tasca do Geraldes].

(iii) Valdemar Queiroz

Duarte, se não me engano, julgo que estavas a jantar no Geraldes quando houve o ataque com mísseis [, foguetões de 122 mm ,]  a Nova Lamego. E tu,,, vai no gosse gosse, para o nosso Quartel. Chegaste a pagar a conta? Saúde da boa.

(iv) Abílio Duarte

Valdemar, pois é, já contei essa história, varias vezes, tinha acabado de comer um bom bife, e estava na sobremesa, a apreciar um gelado caseiro, quando começou o arraial.

Paguei o jantar, sim senhor, porque o homem conhecia-me bem.

Mas a correria, que fiz, por aquela estrada, até ao nosso aquartelamento, onde cheguei descalço, pois perdi as chinelas, pelo caminho, e enfiei-na vala que dava para o rio, foi um cagaço dos antigos.

Passei bons bocados em Nova Lamego. A passagem de ano, de 69/70, quando eu e o Cunha já estávamos, desenfiados nos nossos quartos, e o Cunha a fazer a exploração de rádio, com o cabrão do Coronel, do Batalhão, que andava a fazer a ronda em Gabu, numa autometralhadora, à nossa procura, pois devíamos estar a guardar a serração, e o Coronel, a perguntar onde é que nós estávamos, e o Cunha, na serração, dizia 'mas eu estou a ver o meu Coronel'. Que Tourada!

Noutra vez , estava a fazer a segurança, à TECNIL, que estava a alcatroar a estrada para Piche, e vim beber um gin, ao nosso quartel e, para aproveitar, praticava a condução no Unimog, coisa que fazia várias vezes,quando o meu pelotão estava a fazer esse trabalho.

Então, num desses dias, depois de estar a beber o meu gin, na messe, os soldados tinham ido dar uma volta, e fiquei de ir buscá-los ao mercado. E assim foi, quando entro na estrada alcatroada, na direcção de Piche, perto, onde estavam a construir o novo quartel de Nova Lamego, não sei se te recordas, quem é que me aparece, e me apanha a conduzir ?  O sacana do Coronel!...

O gajo fez-me uma quantidade de questões e merdas, e o major, que estava com ele, deu-me a entender que estava feito. À noite quando cheguei, e estava no nosso Bar, aparece o [capitão ]Aniceto Pinto, aos gritos, que isto e aquilo, o cabrão do 1º srgt,  que não me chupava, a rir.

Foi um arraial, que nem nos filmes do Vasco Santana.

Bons bocados. Mas o Aniceto tinha bom coração. Desenrascou-me várias vezes, de criancices, que eu fazia. Paz à sua alma.

 (v) Virgílio Teixeira

Este Blogue parece quase uma Polícia Secreta, tipo FBI, pois num instante se descobre a careca de qualquer um!

O Tino na foto 1 é o de óculos, e o outro a rir, parece que o conheço tão bem. Mas é impossível. O Batalhão do Tino, o BCAÇ 2893, não é do meu tempo, quem nos foi render em Nova Lamego foi o BCAÇ 2835, e depois terá sido rendido pelo 2893, mas já muito mais tarde, não é do meu tempo, eu sou muito velhinho, comparado com a maioria. Depois de fevereiro de 1969 nunca mais estive em Nova Lamego. Só ficaram as Memórias do Gabu.

Nem sequer havia ataques com mísseis a Nova Lamego, isso foi outra guerra! Felizmente.

Mas aquele da foto com o Tino (*) não me é estranha a sua cara, mas há muitas parecidas.

No período de 21set67 a 26fev68, quando estive em Nova Lamego, não havia nada destas coisas chiques, bilhares, etc. ! O Geraldes deve ter evoluído e rápido, com a chegada do meu Batalhão, e com as minhas visitas frequentes! Eu fui lá muitas vezes, mas não tenho fotos de todas, só de algumas.

Eu nem sequer me lembro da cara do Geraldes, sabia o nome, mas não ligava o nome à pessoa, mas penso que devo saber. Então vamos pelos Temas:

064 I PARTE: foto nº 2, acho que o Geraldes é o que tem um macaco na mão, certo?

T061 II PARTE: foto nº 2, o Geraldes é o 3º a contar da direita para a esquerda;

T063 III PARTE: foto nº 4 estou só numa mesa no Geraldes; na foto 3 eu chamo "Tasca do Zé Maria", é o que tenho escrito na foto, mas parece-me pela análise às mesas e cadeiras e ambiente, que também é no Geraldes. Tem de se rectificar, até porque não me lembro de uma casa com esse nome. Seria antes o Zé Maria Geraldes?

Eu ainda vou arranjar mais do Geraldes, é só procurar.

Grandes detetives que aqui temos!


(vi) Luís Graça

Virgílio: quando se vinha de Bafatá até Bambadinca, havia no cruzamento, à esquerda, logo no início da Rua Principal da povoação (que dava acesso ao quartel e posto administrativo, escola, CTT, etc., que ficava lá no alto, numa pequena elevação), havia a famosa "tasca do Zé Maria"...

A malta do Leste que vinha abastecer-se ao destacamento de Intendência, na margem esquerda do Rio Geba, passava lá, quase obrigatoriamente... Se calhar, um dia foste lá beber um copo...

Era famosa pelos "lagostins" do Rio Geba Estreito, que o homem nos fazia pagar caros: 50 pesos o quilo... Pescados em zona de risco... pelo barqueiro do Enxalé.

Passaste por Bambadinca, provavelmente até vieste de LDG, de Bissau a Bambadinca, em setembro de 1968... Só depois, creio que já em 1969, é que a LDG abicava no cais acostável do Xime, entretanto construído... Havia aqui um porto fluvial, importante, e um destacamento de Intendência, em Bambadinca... Vê se tens fotos de Bambadinca, do porto, da Intendência...

Deves ter vindo uma ou outra vez a Bambadinca... Seguramente no regresso, de Nova Lamego, em fevereiro de 1969, a caminho de São Domingos... Não havia outro caminho, tinha que se dar a volta ao "bilhar grande" da Guiné... A maior parte das estradas estavam interditas.

 O Zé Maria, se fosse um gajo esperto, teria chamado à tasca dele, "À Volta Cá Te Espero"... Quem lá tinha escritório era o "alfero Cabral", vizinho, ali de Fá Mandinga.

(*) Vd. poste de 11 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19573: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXV: Memórias do Gabu (IV)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19510: Fotos à procura de... uma legenda (114): O Virgílio Teixeira, num qualquer dia de novembro de 1967, quando foi a Sonaco comprar uma vaca...


Guiné > Região de Bafatá > Sonaco > Novembro de 1967 > Sinalização de trânsito: placa de confirmação de localidades e distâncias quilométricas. O fotógrafo, Virgílio Teixeira (à direita), não  se lembrava exatamente do local onde foi tirada a foto. Sabemos, pelas distâncias indicadas, que  ele estava em Sonaco, ou imediações de Sonaco, a 30 km, a nordeste de Nova Lamego. E o que é que lá foi fazer ? Comprar vacas... A tropa só ia a Sonaco, para comprar vacas... Temos escassas referêmncias a Sonaco (pouco mais de meia dúzia).

Foto  (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá) > Contuboel > Centro de Instrução Militar de Contuboel >  15 de Julho de 1969 > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71) > Da esquerda para a direita: o alferes miliciano Francisco Magalhães Moreira (1º Gr Comb), o fur mil  Tony Levezinho ( (2º Gr Comb), o o fur mil António Fernando R. Marques, o alf mil José António G. Rodrigues ( já falecido) e o fiur mil Joaquim Augusto Matos Fernandes (furriel) (estes três últimos do 4º Gr Comb), preparando-se para sair até Sonaco (a nordeste de Contuboel), local aprazível, banhado pelo rio Geba, tal com Contuboel e onde "não havia guerra" (*)


Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá) > Contuboel > "Em 10 de Julho de 1969, numa canoa no Geba a caminho de Sonaco... Reconhecem-se da esquerda para a direita o Tony Levezinho, eu, o alf Francisco Moreira, o Rocha, condutor, o alf Rodrigues, já falecido, e o djubi, manobrador da canoa, de pé", diz o Humberto Reis.

A CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) realizou os exercícios finais da instrução de especialidade dos seus soldados africanos, e a IAO, entre 6 e 12 de julho, a 10 km a norte de Contuboel. A recruta foora dada pela malta da CART 2479 / CART 11, dos nossos amigos e camaradas Valdemar Queiroz, Abílio Duarte, Renato Monteiro, etc. As praças, do recrutamento local, ainda não tinham camuflados,  envergavam a  farda nº 3 e levavam balas... de salva!... Só os graduados (metropolitanos) levavam cartucheiras, com bala... real,  não fosse o diabo  tecê-las... 

Mas Contuboel nessa altura (jun/jul de 1969) era ainda uma oásis de paz... Sonaco, por sua vez,  era um destacamento do subsetor de Contuboel, tendo em permanência um grupo de combate da unidade de quadrícula de Contuboel mais um pelotão de milícias. Não nos  consta que alguma vez tenha sido atacada ou flagelada, tal como Contuboel. 

 Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 


Guiné > Mapa geral da província  (1961)  > Escala 1/500 mil > Pormenor das regiões de Bafatá e de Gabu (Zona Leste), com indicação das distâncias quilométricas entre as principais povoações.

Bambadinca - Bafatá =  28 km
Bambadinca - Xitole = c. 35 km
Bafatá - Gabu Sará [Nova Lamego] =53 km
Contuboel - Fajonquito = 30 km
Contuboel - Sara Bacar = 39 km
Sonaco - Paunca = 49 km
Sonaco - Gabu Sará =  34 km
Gabu Sará - Bajocunda = 45 km
Gabu Sará - PIrada = 54 km
Gabu Sará -Piche = 30 km
Gabu Sará - Piche - Canquelifá = 60 km
Gabu Sará - Piche - Buruntuma = 67 km
Gabu Sará - Cabuca = 25 km
Gabu Sará - Madina do Boé = 65 km

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1. Alguns comentários ao poste P19506 (**):

Tabanca Grande Luís Graça:

Virgílio, estive a fazer as medições (a partir do mapa), e bate certo: Também estava a pensar em Sonaco, a 30/35 km de Nova Lamego...

Toda a gente ia a Sonaco comprar vacas, até eu quando fui gerente de messe em Bambadinca (por um mês, era à vez...) fui a Sonaco comprar uma vaca por 900 pesos... Mas Sonaco fazia parte da região de Bafatá, não do Gabu... Havia de facto uma estrada Sonaco - Nova Lamego, que eu nunca utilizei... Fiz Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Sonaco... e volta... Já lá tinha estado em "turismo", em junho ou julho de 1969, nessa altura estava no Centro de Instrução Militar de Contuboel... Sonaco fica(va) a nordeste (...).

Virgílio Teixeira: 

(...) Andei a ler na HU (Historia da Unidade – BCAÇ 1933) à procura do local da foto.

Também me parece que poderá ser Sonaco pois fui lá uma ou duas vezes, e não me lembro de nada, pois não havia tropa. Tinhamos um itinerário de Nova Lamego a Sonaco, e ainda Sonaco-Paunca-Pirada.

Sonaco fazia parte em 1967 (Set/Dez) e 1968 (Jan/Fev) do sector L3 sob o comando do BCAÇ 1933, ao contrário do que disse o Luís, que pertencia a Bafatá. Talvez mais tarde, tenho isso aqui na HU bem clarificado. Nesta zona durante os 5 meses de permanencia, não há referências a operações na zona de Sonaco. Daí que eu pudesse lá ter ido, relativamente à vontade, por ausência prevista do IN no itinerário.

Foto nº 13
Como o Luis disse, que foi lá comprar uma vaca, na sua escala de gerente de messe, pode ter sido isso que eu fui fazer, com um grupo, comprar uma vaca a Sonaco, que pode até ser aquela da foto nº 13 (, não publicada por falta de qualidade), no meu Poste Gabu Parte I, pelo que sugeria até, mesmo sem qualidade, que podesse ser publicada pois eu vinha a cavalgar na mesma, e é interessante, mas deixo ao cuidado do editor. (...)

Valdemar Queiroz:

(...) Julgo pelo ar descontraído [do pessoal] que seria Sonaco. Quem passava por Sonaco e aproveitava bem o lá ter passado, poderia acontecer, depois, não se lembrar de lá ter estado. ah!ah!ah! Eu que o diga, só me lembro duma rua principal e de haver uma bomba de gasolina daquelas de dar à manivela vertical. (...)

Abílio Duarte:

É verdade, Valdemar, eu acho que passei por Sónaco, umas três vezes. Lembras-te de no dia de Pascoa, de 1969, que fomos lá almoçar, e ir á praia. Praia, nem vê-la, estava o rio em baixo!!!  

O que queria comentar contigo, é o seguinte: Porque é que nunca houve tropas aquarteladas em Sonaco? Qual a tua opinião, pois sempre achei um ponto estratégico, naquela zona!

Conta-me coisas sobre esta minha questão, tu ou alguém do Blog, que entenda a minha questão,pois sempre achei estranho, aquela zona não ter conflitos. E esta,  hem ?!...como diria o velho Pessa, Abraço, e as tuas melhoras.


Valdemar Queiroz:

Duarte: Eu também fui nesse dia a Sonaco e foi a única vez. Almoçar e ir à praia em Sonaco. Inesquecível. Levamos umas latas de conservas de lulas, talvez umas 10 latas, para um civil, julgo que fula, fazer um guisado de lulas 'à la Sonaco',  já com créditos firmados.

Lembras-te que foi organizado pelo furriel da secreta, rapazinho esquisito, sempre desenfiado a conhecer 'gilas', homens grandes e toda a gente em Sonaco. Ele ia lá constantes vezes com um caçador nativo, calhando lá estariam as sua fontes de informações.

Pois, qual praia qual quê, o que houve foi um grande bioxene geral com regresso a Contuboel já de noite e furriel da secreta todo irritado.

Não faço ideia por que razão não havia tropa em Sonaco. A tabanca ainda era grande e tinha grande movimento comercial e até tinha bomba de gasolina. Não sei explicar, mas penso tratar-se de uma 'terra franca' e dar jeito a ambas as partes, mas não sei ao certo.

Um abraço e cá vou indo com os bofes atrapalhados (...).
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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17714: (De) Caras (93): O (e)terno "puto" Umaru, o Umaru Baldé (1953-2004), da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, 1969) e da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/71)... O seu maior desejo era ser... Português! (Abílio Duarte)


Foto nº 1 > Porto, s/d > Muito provavelmente na casa do ex-alf mil Pina Cabral, cmdt do 4º Pelotão da CART 2479 / CART 11: o Umaru Baldé e o Leonel (ex-1º cabo cripto


Foto nº 2 > Porto, s/d > Muito provavelmente no restaurante onde se realizou o convívio da CART 2479 / CART 11: o Umaru Baldé, de casaco e, ao peito, a sua inseparável esferográfica, tendo por detrás uma foto da zona histórica do Porto, com a ponte Dona Maria Pia (inaugurada em 1877, é uma das obras-primas do engº francês Gustave Eiffel e da sua equipa)  em primeiro plano.

Fotos do álbum do Leonel, cedidas ao Abílio Duarte.

Fotos: © Abílio Duarte  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas daa Guiné]



1. Mensagem de hoje, do Abílio Duarte [Foto à esquerda: ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70); está  reformado como bancário do BNU - Banco Nacional Ultramarino]:

Caro Luís,

Como prometi, no post P16525 (*), aqui vão as fotos, que o amigo Leonel (ex-1.º cabo cripto), me enviou, a meu pedido, que regista uma das vezes que o Umarú, Baldé esteve nos nossos convívios.

Excelente pessoa, pois na conversa que tive com ele, e ainda hoje recordo, estranho como é que alguém, que passou o que ele viveu e sentiu, fosse tão claro nos seus desejos: ser PORTUGUÊS!

O ser humano, resiste aos milhares de anos que atravessa, com uma alma que ninguém entende. O Umarú sobreviveu a muitas desventuras, que não nos passa pela cabeça, sequer entender.

Um abraço, e me desculpa por este desabafo,
Abílio Duarte

2. Comentário de L,G:

Abílio, obrigado. O Umaru Baldé (1953-2004), o "puto", está a sorrir, lá no alto do nosso poilão mágico... Ele adorava ser fotografado e rever-se nas fotos dos seus camaradas da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, março/junho de 1969) e depois da CAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)... Sempre o vi "puto", e traquinas, nunca o vi crescer... De resto, nunca mais o vi, depois do meu regresso a casa em março de 1971, mas também nunca o esqueci...

Nenhum, de nós, que lhe deu instrução., a ele e aos outros "putos", no CIM de Contuboel, era capaz de imaginar o pesadelo (e a tragédia) que lhes estava reservado, aos camaradas guineenses que vestiram a farda do exército português... O Umaru queria ser português, não sei se morreu português, aos olhos da lei...nem isso agora é relevante. Cultivaremos e honraremos a sua memória como um dos "nossos"...

Não tens, meu amigo e camarada,  que pedir desculpa pelo desabafo... Eu também não tenho, de momento, palavras para legendar as duas fotos que mandaste. Obrigado ao Leonel, Diz-lhe que o blogue também é dele, e estamos aqui para o receber de braços abertos, se for essa a sua vontade, a de integrar a nossa Tabanca Grande, como tu e o Umaru.
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(...) Comentário de Abílio Duarte:

Caro Luís: Num almoço aqui uns anos atrás, realizado em Coimbra, pelo nosso canarada Aurélio Duarte, o Umaru Baldé, esteve presente, não sei quem o levou, mas quem o trouxe para a Amadora fui eu.

Tenho algumas fotos em que ele está, mas não consegui encontrá-las, mas continuarei a procurar, caso o Valdemar tenha ou outro camarada nosso, principalmente o Alf Pina Cabral ou o 1º Cabo Cripto Leonel.
Vem este meu comentário, porque ao ler acima as tuas questões, veio-me á lembraça, a grande conversa que tivemos, os dois,  desde Coimbra.
Contou-me todas essas aventuras, que já estão relatadas, e das dezenas de vezes que tentou entrar em Portugal, segundo me disse que quando veio para Portugal , veio da Lbia, onde conheceu alguém que o levou a trabalhar para a construção civil, e que trabalhou para a SOMEC. aquando da EXPO 98.´

Pela primeira vez ouvi relatos do que aconteceu aos antigos nossos camaradas de armas, especialmente Fulas, e o assassínio de varios militares em armazén de Bambadinca.

Penso que o alferes a que ele se refere é o Alf Pina Cabral, que foi o seu comandante, durante a instrução em Contuboel, e que ele me contou, escreveu-lhe muitas cartas, foi com uma Carta de Recomendação, daquele Camarada, que ele veio para Portugal.

Naquela altura em que foi este almoço, ele já não trabalhava, estava doente e em casa, aqui na Amadora. Na altura deixou o seu NIB bancário para que o pudessem ajudar, o que felizmente alguns de nós o fizeram. 

Quando encontrar as fotos enviarei.

Agora un áparte, sobre uma conversa que tive com o ex-presidente Luís Cabral, quando este foi corrido pelo 'Nino', e veio, como outros para Portugal!!!  Ele e o Vitor Saúde Maria e mais alguns, ficaram como exilados politicos numa casa que aqui há na Amadora, para o efeito.

Um dia deu-me na tampa. O Luís Cabral era cliente do BNU, na Amadora, eu estava lá colocado, e cada vez que via o dito, dizia para mim, "porra este gajo anda sempre bem disposto e a rir, parece que a ele não aconteceu nada#. Então ele veio ter comigo, que estava a espera de uma transferência, referente a comissões de um negócio qualquer, tratei-me de informar e disse-lha o que havia, Ao despedir-se, pedi-lhe para me dar um minuto de atenção, e perguntei-lhe se achava bem o acolhimento que o Governo Português lhe estava a dar, comparado com aquilo que o PAIGC, fez aos soldados africanos PORTUGUESES, na Guiné.

A  resposta foi:  pegou-me na mão, olhou-me aom aquela cara de sorriso eternamente satisfeito, e afirmou: "a vida e a politica dão muitas voltas". E assim foi na sua paz de alma.

E nós,  a aguentar isto. Depois dele foi o 'Nino' que foi corrido, e também veio pa Portugal. Só os nossos camaradas que juraram a nossa Bandeira, é que ficaram indefezos, nas mãos destes criminosos.(...)

 26 de setembro de 2016 às 21:19

(**) Último poste da série > 27 de agosto 2017 >  Guiné 61/74 - P17704: (De)Caras (95): Abna Na Onça, cap 2ª linha, comandante de uma companhia de polícia administrativa, regedor do posto do Enxalé, prémio "Governador da Guiné" (1966), morto em combate em Bissá, em 14/4/1967, agraciado a título póstumo com a Cruz de Guerra de 1ª Classe (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68)

terça-feira, 25 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17618: (De)Caras (88): "We Want You", Manuel Maria Candeias Macias, natural de Aldeia Nova de São Bento (Serpa), presença regular na Tabanca da Linha, ex-fur mil 4º Gr Comb da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus», Contuboel, Nova Lamego, Paunca 1969/70 (Valdemar Queiroz / Manuel Resende / Abílio Duarte)


Foto nº 1 >  Tabanca da Linha > Carcavelos > 20 de julho de 2017 >O Manuel Macias, que vive em Algés,  Oeiras. É presença assídua na Tabanca da Linha.


Foto nº 2 > Tabanca da Linha > Carcavelos > 20 de julho de 2017 > Manuel Macias e Miguel Rocha


Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados. [edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 > Tabhanca da Linha > XXII Convívio > Oitavos, Cascais, 19 de novembro de 2015 > Da esquerda para a para direita, Manuel Macias, Armando Pires e Miguel Rocha

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto º 4  > Tabanca da Linha > Oitavos, Cascais > 11/9/2014 > Manuel Macias

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2014).  Todos os direitos reservados. [edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº  5 > Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > A referir nesta foto o 4º. Pelotão, com o ex-alf  mil Pina Cabral sentado, mais o Valdemar; à esquerda o ex-1º cabo at  Altino, mais o Manuel Macias, o Abílio Duarte Pinto, o Aurélio e a ainda o ex-fur  mil trms Silva-


Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foyo nº 6 > Espinho > c. 1968 > CART 2479 (futura CART 11 e depois CCAÇ 11) > IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional > Legenda:

(i) na 4ª fila, fila. de pé o Valdemar Queiroz (1) e á sua direita o Bento (4);

(ii) o Cândido Cunha está no centro da foto (3) [, "na segunda fila, de pé, facilmente identificado por ser o que se está a rir, se calhar por todos os outros estarem tão sérios";

(iii) na 3ª fila. à esquerda do Cunha, o Renato Monteiro (2);

(iv) o  segundo, a contar da direita, na 1ª fila é Abílio Duarte (5): seguido do Pechincha (6) e do Manuel Macias (7).

O Renato, o Valdemar e o Abílio são membros da nossa Tabanca Grande.  Esperemos que o próximo venha  a ser o Manuel Macias,

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.)



Foto nº 7 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz (12) ao lado do alf mil Pina Cabral (13) e o 4º.Pelotão... Restantes furriéis: Pinto (5) e Macias (9).

(...) Esta é uma grande (e enigmática) fotografia em que cada observador pode fazer ou conjecturar muitos comentários, provavelmente perguntar se o Alseine, Saliu, Camará, Mutaro, Bácar, Arfan, Macias, Bonco, Tamaiana, Silva, a ‘Judy’, Adulo, Altino, Jarga, Pinto, Lobo, Tagundé, Boi, Pina Cabral, Queiroz, Mamadu, Ussumane, Fode, Aliu e Rocha estarão vivos. Não sabemos.

O Macias, Silva, Altino, Pinto, Pina Cabral, Queiroz, Rocha e até o Boi Colubali estão vivos, os outros, agora com idades de mais de sessenta anos e até mais de setenta, não sabemos. A única coisa que sabemos é que esta fotografia existe e retrata vinte e nove jovens que estiveram na guerra da Guiné. (...)




Foto nº 8 > Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Da esquerda para a direita, furriéis Queiroz, Macias e Pinto.


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Manuel Macias, que vive em Algés, esteve comigo em Contuboel, cerca de dois meses, em junho/julho de 1969: ele era da CART 2479/CART 11 (, mais tarde, CCAÇ 11), eu da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12... Lamentavelmente não temos recordações um do outro dessa época... Ele deu instrução de recruta à malta do recrutamento local que depois foi parar à nossa subunidade,  a CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12)... Cada um foi para o seu sítio, eles para Nova Lamego, nós para Bambadinca... Reencontrámo-nos na Tabanca da Linha, há uns tempos atrás.

Voltámos a estar juntos, há dias, na Tabanca da Linha (*), e a recordar alguns nomes de malta da sua subunidade, que integram a nossa Tabanca Grande: Valdemar Queiroz, Abílio Duarte, Renato Monteiro... Ao mesmo tempo, verifico que ele, o Manuel Macias, tem sido um presença assídua na Tabanca da Linha, mas ainda não faz parte da Tabanca Grande, que é a mãe de todas as tabancas... Está na altura de o desafiar ou convidar... Fica aqui o retrato dele, feito a corpo inteiro pelo seu amigo e e camarada de pelotão, o Valdemar Queiroz. Depois deste alto elogio, o nosso convite (o meu e o do Queiroz) é irrecusável (**):


(...) Eu,  o Abílio Pinto e o Manuel Macias éramos os furriéis do 4º. Pelotão. Praticamente, por o alf. Pina Cabral ter problemas de saúde ao ponto de deixar a Companhia, eu por ser o mais velho e o Macias é que fomos os verdadeiros comandantes do Pelotão.

O Macias, Manuel Maria Candeias Macias, da Aldeia Nova de S. Bento (Serpa), é um alentejano chapado e foi a pessoa mais completa que conheci.

Era rapaz para dar mais de 20 carambolas seguidas a jogar bilhar, era um extraordinário jogador de qualquer jogo de cartas, era o melhor atirador da Companhia quer com a sua caçadeira ou com a G3, sabia jogar bem à bola e era um às aos matrecos, cantava à alentejano nos vários tons do cante, até com o acordeão do Cunha já dava uns acordes e, só reparei há tempos num nosso convívio, também dança muito bem. 

Era e deve continuar a ser um ferrenho alentejano, ao ponto de quando nós dizíamos que o Alentejo não tem praias ele dizia que na costa alentejana havia várias praias com quilómetros de areal, pois, tá bem, mas não têm vinhas, ele dizia que o maior vinhedo do país é o da zona do Redondo, pois, tá bem,  mas não têm nenhum jogador da bola de jeito, ele dizia que Vital do Lusitano d' Évora foi o guarda-redes que mais vezes jogou na selecção (era militar) e assim sucessivamente, e o Alqueva ainda não existia.

Agora, dentro deste tema de comes e bebes,  o Macias quando, em Nova Lamego, ia à caça com o Pais de Sousa trazia sempre grandes 'caçadas', galinholas, perdizes, lebres, pombos verdes, que depois o Pereira,  cozinheiro,  tratava de arranjar grandes petiscos. Ficou-lhe em débito nunca ter apanhado nenhuma gazela (pra grande contentamento do Cunha). (...) (*)

(...) O [fulano] de farto cabelo branco, óculos, camisa aos quadrados vermelhos, com uma grande 'cebola' no pulso, risonho e braços cruzados é o ex-Fur.Mil. Manuel Maria Candeias Macias, da CART 2479/CART 11, «Os Lacraus», Contuboel, Nova Lamego, Paunca e mais algumas do Leste, 1969/70. 

Exímio atirador/caçador, excelente jogador de bilhar e de todos os jogos de cartas e, acima de tudo, um grande alentejano que sabia cantar a três vozes. Quando algum de nós lisboeta ou nortenho diziam que no Alentejo não havia, por exemplo praias, ela dizia que só uma chegava para resposta, a que ia de Troia a Sines um dos maiores areais da Europa, ou que no Alentejo não havia vinho, logo respondia que na zona de Reguengos estava a maior vinhedo de Portugal, até desistirmos de arranjar outras comparações.

Mas como é que ele foi parar a esse vosso encontro? (Foto nº  4) (...)

2. Mensagem do nosso editor LG, enviada ao Manuel Macias:


Camarada Manuel Macias:

Ficas sem alibi, estás em toda a parte... Não tens desculpas...Manda lá as "duas chapas" da ordem (fotografia atual e outra de há meio século...) para o Valdemar te poder apresentar formalmente  à Tabanca Grande... (Nem isso é preciso, temos tudo)...
Passarás a ser o grã-tabanqueiro nº 749... Ou seja, tens um lugar à sombra do nosso simbólico, secular, mágico e protetor poilão... É à sua volta que partilhamos memórias e afetos...Temos mais malta da CCAÇ 12 que esteve contigo/convosco em Contuboel, alguns dos quais são da Tabanca da Linha: o Humberto Reis, o António Marques...

Espero numa próxima oportunidade falar mais tempo contigo... Tenho o teu telemóvel (...). Ficas com o meu (...) O Manuel Resende pode atualizar a base de dados da Tabanca da Linha: falta lá  a tua subunidade, localidade, período....

Eu, para além de Contuboel e da rapaziada leal e valente que tu e os demais instrutores da CART 2479 prepararam na recruta, tenho por certo mais coisas em comum contigo: Serpa, o cante, os amigos de Vila Verde de Ficalho, o fabuloso grupo de cantadores da tua terra, Aldeia Nova de São Bento, o (e)terno Alentejo... Temos um amigo comum, o José Saúde, teu conterrâneo, nosso camarada da Guiné, membro da nossa Tabanca Grande, e notável escritor, já com meia dúzia de obras publicadas (, a última das quais  "AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade", livro sob a chancela da Chiado Editora, a ser lançada  no dia 10 de setembro, 17h30, domingo, nas instalações da Editora, Avenida da Liberdade, em Lisboa; já me contactou para, nessa data, fazer a apresentação do livro, tendo eu lhe dado o meu acordo de princípio.)

Sou estremenho, da Lourinhã, vivo em Alfragide, Amadora, com 40 e tal anos de Lisboa.
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Notas do editor

(*) Vd. poste da série > 22 de julho de  2017 >  Guiné 61/74 - P17611: (De) Caras (90): Gente da "Linha", gente "magnífica"... Nos bastidores da Tabanca da Linha, Carcavelos, 32º almoço-convívio, 20 de julho de 2017 - Parte I

(**) Último poste da série >  24 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17616: (De)Caras (91): Américo Russa, ex-fur mil vagomestre, CCS/BART 3873: de Bambadinca (1972/74) a Tondela (2017)... Amigos para sempre (Jorge Araújo)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16530: (In)citações (101): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte III): E a propósito...o Umaru Baldé e o Luís Cabral que eu conheci... Eventualmente por uma diferença de alguns anos não se encontraram, no "terminal da morte" que era então o Hospital do Barro, em Torres Vedras, a vítima (Umaru Baldé, c. 1963-2004) e o carrasco (Luís Cabral, 1931-2009) (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

1. Comentário de Abílio Duarte ao poste P16525 (*)


[Foto à direita; Abílio Duarte , ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70); est+a reformado como banc+ario do BNU - Banco Nacional Ultramarino]:


Olá,  Luís,

Num almoço,  aqui uns anos atrás, realizado em Coimbra, pelo nosso canarada Aurélio Duarte, o Umaru Baldé esteve presente, não sei quem o levou, mas quem o trouxe para a Amadora fui eu.

Tenho algumas fotos em que ele está, mas não consegui encontrá-las, mas continuarei a procurar, caso o Valdemar tenha ou outro camarada nosso, principalmente o alf  [Mário] Pina Cabral ou o [1º cabo] cripto Leonel.

Vem este meu comentário, porque ao ler acima as tuas questões (*), veio-me á lembrança, a grande conversa que tivemos, os dois,  desde Coimbra.

Contou-me todas essas aventuras, que já estão relatadas, e das dezenas de vezes que tentou entrar em Portugal, segundo me disse que quando veio para Portugal, veio da Líbia, onde conheceu alguém que o levou a trabalhar para a construção civil, e que trabalhou para a SOMEC. aquando da EXPO 98.

Pela primeira vez ouvi relatos do que aconteceu aos antigos nossos camaradas de armas, especialmente Fulas, e o assassínio de vários militares em armazéns de Bambadinca.

Penso que o alferes a que ele se refere é o alf [Mário]  Pina Cabral, que foi o seu comandante, durante a instrução em Contuboel [, no CIMC - Centro de Instrução Militar de Contuboel], e a quem , pelo que ele me contou, escreveu muitas cartas. Foi com uma Carta de Recomendação, daquele Camarada, que ele veio para Portugal [, em 15/4/1999].

Naquela altura em que foi este almoço, ele já não trabalhava, estava doente e em casa, aqui na Amadora. Na altura deixou o seu NIB bancário para que o pudessem ajudar, o que felizmente alguns de nós fizeram.

Quando encontrar as fotos enviarei.

Agora um aparte, sobre uma conversa que tive com o ex-presidente Luís Cabral, quando este foi corrido pelo 'Nino', e veio, como outros, para Portugal!!!

Ele e o Vitor Saúde Maria e mais alguns, ficaram como exilados politicos numa casa que aqui há na Amadora, para o efeito.

Um dia deu-me na tampa. O Luís Cabral era cliente do BNU - Banco Nacional Ultramarino, na Amadora, eu estava lá colocado, e cada vez que via o dito, dizia para mim, "Porra, este gajo anda sempre bem disposto e a rir, parece que a ele não aconteceu nada". Então ele veio ter comigo, que estava a espera de uma transferência, referente a comissões de um negócio qualquer, tratei-me de informar e disse-lhe  o que havia... Ao despedir-se, pedi-lhe para me dar um minuto de atenção, e perguntei-lhe se achava bem o acolhimento que o Governo Português, lhe estava a dar, comparado com aquilo qque o PAIGC fez aos soldados africanos PORTUGUESES, na Guiné.

A resposta foi:  pegou-me na mão, olho-me com aquela cara de sorriso eternamente satisfeito, e afirmou: "A vida e a politica dá muitas voltas". E assim foi na sua paz de alma.

E nós a aguentar isto, depois dele foi o 'Nino' que foi corrido [do poder], e também veio para Portugal.

Só os nossos camaradas que juraram a nossa Bandeira, é que ficaram indefesos, nas mãos destes criminosos.

Por hoje um abraço.

Abílio Duarte´


Lourinhã, Vimeiro_> 25º Convívio da CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus" (Contuboel, Nova Lamego, Piche, 1969/70) > 30 de maio de 2015 > Da direita para a esquerda, o Pinheiro e o Pina Cabral.

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz & Renato Monteiro (2015). Todos os direitos rservados (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

2. Comentário do editor:

O nosso "puto" Umaru Baldé, como eu lhe chamava, levou 24 anos (!)  a chegar a Portugal [desde que, perseguido, foi forçado a sair  da sua terra natal, em 31/12/1974, governada então por Luís Cabral (1931-2009)]...

Depois da última (?) estação do calvário, a Líbia, conseguiu por fim um visto para entrar na "Pátria Portuguesa" que ele tanto amava, .... Chegou doente a Portugal... Esteve internado cerca de 10 meses, ao longo do ano 2000, nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, mesmo sem título de residência, segundo ele conta numa das suas cartas.  Acabou por sobreviver mais cinco anos,  tendo morrido, ao que sabemos, em finais de 2004 (, segundo o nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro, António Fernando Marques, ex-fur mil at inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambabinca, 1969/71. que deu em vida todo o apoio possível ao Umaru Baldé e que foi ao seu funeral).

Sabemos que o Umaru voltou à Guiné-Bissau, em 2003,  e regressou, cada vez mais doente,  a Portugal, para morrer no antigo Hospital do Barro (ou no Hospital Curry Cabral ?), onde, ironicamente, haveria também de morrer,  cinco anos mais tarde, em 30/5/2009, o antigo presidente da Guiné-Bissau,    igualmente vítima de doença prolongada, como o Umaru Baldé...

Hipoteticamente, poder-se-iam ter encontrado, no "terminal da morte" que era então o Hospital de Barro (hoje desativado), a "vítima" (Umaru Baldé) e o "carrasco" (Luís Cabral)... Há um forte simbolismo nesta eventual coincidência... De qualquermkodo, os dois passaram pelo Hospital do Barro, "terminal da morte", memso que em épocas diferentes, o Umaru Baldé, pelo menos em 2000, e o Luís Cabral, em 2008...

Não é preciso recordar  que foi no tempo de Luís Cabral.  que se assistiu à perseguição, prisão, tortura  e, em muitos casos, execução brutal, sumária, pública ou clandestina, de antigos militares guineenses que integraram as nossas NT (incluindo milícias e polícia administrativa).

Não é preciso recordar que Luís Cabral, o primeiro presidente da Guiné-Bissau independente, foi derrubado por um golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, levado a cabo pelo seu camarada  'Nino' Vieira (1939-2009).

Aberta a "caixa de Pandora" da violência revolucionária, os guerrilheiros no poder começaram, eles próprios, a matar-se uns aos outros. 'Nino' ´é cruelmente assassinado em 2/3/2009, dois meses antes da morte "natural" de Luís Cabral, exilado em Portugal e que o nosso camarada Abílio Duarte conheceu como "simples cliente" da agência do BNU na Amadora....

Enfim, ironias da História!... De resto, eu acredito mais na justiça dos homens (leia-se, da História) do que na justiça divina...  Se há um "juízo final", é o da História,  é a História que nos vai julgar a todos... (LG)

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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

27 de setembro 2016 > Guiné 63/74 - P16527: (In)citações (100): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte II): "Portugal, os portugueses e os políticos que querem esquecer os passados" (sic)... Ou a Pátria portuguesa que lhe foi madrasta...

26 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16525: (In)citações (99): As outras cartas da guerra... Do Umaru Baldé, da CART 11 e CCAÇ 12, para o Valdemar Queiroz (Parte I): "Filho único e menino, minha mãe chorou quando, em 12 de março de 1969, alferes me foi buscar a Dembataco para defender a pátria portuguesa"

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16328: Inquérito 'on line' (59) A minha faca de mato ficará associada para sempre a um acontecimento doloroso: a morte do soldado da minha secção, Aladje Silá, em 20/7/1970 (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)

1. Mensagem de Abílio Duarte [, ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)]:


Data: 24 de julho de 2016 às 21:18
Assunto: A minha faca de mato.


A minha faca era igual a todas as outras, servia para tudo e mais alguma coisa, como todos nós que por lá andamos, sabemos. Teve muito uso e útil. 

No entanto a minha teve uma utilização muito critica e dolorosa. Quando no dia 20 de Julho de 1970, como já referi neste blog, o  meu Grupo de Combate teve que ir em socorro de uma Tabanca, atacada e incendiada pelo PAIGC, e o soldado da minha Secção Aladje Silá accionou uma mina antipessoal, e veio a falecer em resultado deste triste acontecimento. (*)

Quando os ânimos se acalmaram um pouco, depois de explosão, do pó e confusão de fogo cruzado, e se verificou  que o Aladje estava caído e a lamentar-se das sequelas da explosão, o Cabo Enfermeiro, depois de me avisar que eu estava todo chamuscado, pediu-me para abrir as calças do Aladje, o que eu fiz com a minha faca de mato, mas ao tentar usá-la, quando peguei no seu pé, fiquei com o mesmo na mão, pois o mesmo se tinha separado da respectiva perna. 

Quando comecei a rasgar a calça do camuflado, foi  quando me apercebi da desgraça, que vinha a caminho. Assim a minha faca de mato ficou associada a um muito triste acontecimento, que ain
da hoje me persegue e nunca consigo esquecer. (**)

Abílio Duarte
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Notas do editor:

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16023: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte V: A FAP no Gabu


Foto nº 1 >  Uma parelha de Fiat G-91 na pista de Nova Lamego


Foto nº 2 >  O Dakota na pista de Nova Lamego


Foto  nº 3 > O Abílio Duarte junto a um T6


Foto nº 4 > O Abílio Duarte "vendo os estragos num T6", em Canquelifá

Guiné > Zona leste >  Região de Gabu> 

Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2016). Todos os direitos reservados.  


1. Continuação da publicação de fotos do Abílio Duarte [, ex-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)] (*).

Trata-se do "álbum que a minha saudosa mãe criou com fotos que eu lhe enviava".

Desta feita, apresentam-se quatro fotos relacionadas com a FAP no Gabu (**).
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15968: Fotos do álbum da minha mãe, "Honra e Glória" (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego e Paunca, 1969/70) - Parte IV: saudades de Contuboel

(**) Sobre o destacamento da FAP em Nova Lamego,. vd.  alguns dos nossos postes, escritos por camaradas da FAP

17 de fevereiro de  2011 > Guiné 63/74 – P7807: FAP (60): O destacamento de Nova Lamego ou Recordando o Tcor José Fernando de Almeida Brito (António Martins de Matos)

16 de abril de 2011 >  Guiné 63/74 - P8111: FAP (65): Falando do nosso destacamento em Nova Lamego (Gil Moutinho)