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domingo, 2 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10751: Tabanca Grande (370): Adriano Lima, cor inf ref, residente em Tomar, natural do Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, grã-tabanqueiro nº 590

1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, nº 590 (*), Adriano Lima, com data de 23 do mês passado:

Amigo: (...) 
Em mail anterior, respondi-lhe que é com imenso gosto que serei um tabanqueiro, ainda que nunca tenha estado na Guiné. Pois já vi que a Tabanca não tem apenas a ver com o chão guineense e com a memória de que são portadores os que lá andaram. É também um amplo espaço de encontro e partilha do que temos de mais belo e puro na nossa humanidade. Por isso, conte comigo. Desejo saber se tenho de fazer alguma coisa de concreto.


Tencionava enviar-lhe este texto sobre o espírito de solidariedade dos militares, uma vez que o seu saudoso pai é uma das suas figuras centrais (**).

Um abraço
Adriano



2. Recordo aqui o texto do Adriano Lima que publicámos no poste P9421, de 30 de janeiro p.p.:


(...) Sou Adriano Miranda Lima, coronel reformado, residente em Tomar, e nascido em Cabo Verde, S. Vicente. Não estive na Guiné, apenas em Angola e Moçambique.

Tive acesso ao seu blogue e só tenho razões para o felicitar efusivamente por esta belíssima e interessante iniciativa. Revisitar estas saudosas memórias é recolocar a história no seu devido lugar e com ela reencontrar-se num abraço fraterno em que o coração se dá inteiro.

Como servi longos anos no RI 15 [, Tomar], aliás, a minha unidade de colocação, após o termo das comissões no ex-Ultramar, acompanhei sempre o convívio dos antigos expedicionários mobilizados pelo Regimento. Algumas vezes coube aos expedicionários do RI 15 a organização do convívio, com participação dos camaradas de outros regimentos e unidades mobilizadoras. Cada "regimento" organizava o convívio de todos os que serviram em S. Vicente. 

Com o meu apoio pessoal, sendo eu então major, por duas vezes o convívio realizou-se no meu Regimento, em Tomar, e numa das vezes ele foi integrado nas comemorações do Dia da Unidade. Noutra ocasião, foi num restaurante em Tomar, e também estive presente, por simpático convite do elemento organizador, Sr. Francisco Lopes (Chico Concertina), infelizmente falecido há cerca de 4 anos. Dava-me muito bem com ele, e era sogro de um amigo meu, advogado.

Se estiver interessado em saber alguma coisa sobre o Batalhão que saiu de Tomar, terei o maior gosto em prestar informações ao blogue. Por acaso, publiquei um artigo num jornal online, sobre a memória desse batalhão.

Há um blogue chamado "Praia de Bote" (nome de um local de S. Vicente), em que tenciono publicar uns posts sobre as forças expedicionárias a Cabo Verde. Como tenho poucas fotos, queria pedir a sua autorização para me servir das que constam do seu blogue respeitantes ao BI 5, que eram do seu pai. Apenas como ilustração. Naturalmente que me refiro a fotos de carácter genérico, não pessoais.

Apraz-me também registar o afecto e a admiração com que cultiva a memória do seu pai neste Blogue. (...)



[Foto acima, à direita: Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Monte Sossego > c. 1941-1945 > "Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)" [Legenda: Adriano Miranda Lima] [Foto reproduzida aqui com a devida vénia...]
 

3. Relembro igualmente a resposta que dei na altura:

(...) "Adriano, muito obrigado pelo seu comentário, pelo seu elogio ao nosso blogue, mas também pelo seu pedido. Começando por este, disponha das fotos do meu pai, para os efeitos que julgar convenientes, citando sempre, naturalmente, o nosso blogue. Temos, aliás, mais fotos de mais outros dois expedicionários, na série Meu pai, meu velho, meu camarada, nomeadamente do Ângelo Ferreira de Sousa e do Armando Lopes [... e ainda do Feliciano Delfim dos Santos, embora este tenha não tenha estado em São Vicente, mas sim em Santiago, Santo Antão e Sal].

"Todos temos o dever de memória, deixando às gerações seguintes notícias sobre a nossa passagem por este planeta que é único, o berço da humanidade, é a nossa casa, ou é a aldeia onde todos somos vizinhos... Cabo Verde e Portugal têm uma longa história em comum, além de uma língua. Eu tenho um especial afeto por São Vicente e, em particular, pelo Mindelo que um dia destes espero poder finalmente conhecer ao vivo. (Não conheço Cabo Verde, de todo: estive apenas uma escassa hora ou duas no Sal, em paragem técnica do avião da TAP que me trouxe de férias, de Bissau a Lisboa, em 1970).

"Transmiti, este fim de semana, ao meu pai, Luís Henriques, a caminho dos 92 anos [, que não chegaria a completar por ter morrido a 8/4/2012,]  o seu interesse e o seu pedido. Até aos 80 anos, costumava ir ao convívios anuais da malta de Cabo Verde. Disse-me que nunca foi ao RI 15 (Tomar), a nenhum dos convívios dos antigos expedicionários, já que ele pertencia ao RI 5 (Caldas da Rainha). Em todo o caso, lembra-se bem das jogatanas de futebol, no Lazareto, entre uns e outros. Como também se lembra da epidemia de fome que assolou as ilhas, no tempo em que lá esteve (1941/43). O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro.

"Desejo-lhe, por fim, meu caro Adriano, a si e aos seus amigos, todo o sucesso na defesa do património daquela terra mágica, o Mindelo, berço de grandes poetas, músicos e cantores." (...)



4. Sobre o nosso novo grã-tabanqueiro, escreveu em 24/2/2012 o Manuel Amante da Rosa, também, seu patrício, nosso camarada de armas no TO da Guiné, e embaixador do seu país:

(...) Caro Luís: Não conheço o Adriano de vista mas sim do muito que tem escrito sobre Cabo Verde. Temas que também são prioritários das minhas investigaçõe: Defesa, segurança, energias renováveis, administração.

Mas somos aparentados através do meu irmão que é cunhado dele. Conheço quase todos os irmãos.
Conheci muito bem na Guiné o Tio dele Jorge de Miranda Lima e a Lurdes. O primeiro foi um entusiasta nacionalista, da primeira hora, tendo passado muitos anos preso no Tarrafal. Foi solto somente uns anos depois do Spínola ter estado na Guiné, juntamente com uns outros cinquenta presos políticos guineenses. Se o Capitão Basto Machado estiver vivo talvez possa relatar algo ou indicar algum outro camarada da sua Unidade que o possa fazer. Um forte Abraço, Manuel" (...)





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > O Paquete Mouzinho. [A foto, tipo postal, parece-me ter sido tirada no Funchal, Madeira; mas foi neste navio que o 1º cabo inf Luís Henriques e outros expedicionários do RI 5, das Caldas da Rainha, rumaram para Cabo Verde, em meados de 1941].

Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.



5. Em 7 de outubro p.p., eu já lhe tinha, ao Adriano Lima, enviado um convite para ingressar na Tabanca Grande, dado o seu manifesto interesse pela história dos nossos expedicionários em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial:

(....) "Caro camarada: Tomei a liberdade de reproduzir dois dos seus comentários (e mais alguns dos seus apontamentos publicados no blogue Praia do Bote)...


"Reitero o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande. Juntos podemos fazer força no sentido da salvaguarda do património da Ilha de São Vicente, natural e cultural, incluindo os restos da presença dos militares portugueses entre 1941/45...

"Continuo a contactar militares desse tempo ou suas famílias e a lutar pela preservação dos seus álbuns fotográficos...

"Por sua vez, Cabo Verde é já o 10º país do mundo onde o nosso blogue é mais visto... Estamos com 3500 visitas por dia, em média.

"Disponha das nossas fotos. Veja as fotos da Lia Medina. Um Alfa Bravo. Luís Graça" (...)


6. A resposta do Adriano não se fez esperar, aqui vai com data de 8/10/2012:

(...) "Caro camarada e amigo: Tem toda a liberdade para utilizar os meus textos como entender e será para mim uma honra se for em proveito do blogue Luís Graça & Camaradas. Devo dizer-lhe que tenho frequentado o vosso blogue para recolher dados e imagens que possam ser úteis para os meus textos, os 3 que já escrevi e os que tenciono continuar a escrever para publicar no blogue "Praia de Bote", cujo editor e administrador é o professor Dr. Joaquim Saial, um cabo-verdiano adoptivo. Por isso é que há uns meses pedi a sua autorização para reproduzir uma ou outra foto que pudesse servir os objectivos dos meus textos. 

"Com todo o gosto integrarei a Tabanca Grande e acredite que tanto eu como o Joaquim Saial [, criador e editor do blogue Praia de Bote,] e outros colaboradores do blogue Praia de Bote, como o Valdemar Pereira, vice-cônsul de Portugal em Tours, aposentado e o José Lopes, professor na universidade de Aveiro, os dois últimos cabo-verdianos de origem, temos vindo a terçar armas para a preservação do património da ilha de S. Vicente. Infelizmente, por ignorância ou distorcida visão do que é cultura, algum património tem vindo a ser destruído ou abandonado. E creia que a memória dos expedicionários portugueses em 1941-45 é algo que toca profundamente a minha sensibilidade, pelas razões pessoais que expus num dos textos que já publiquei. Por isso é que foi para mim uma agradável surpresa o vosso blogue. Pena é eu não ter começado há mais tempo, há 20 anos atrás pelo menos, quando tínhamos ainda muitos testemunhos vivos, como o seu pai, o Francisco Lopes, o Shultz Guimarães e outros de Tomar que a lei da vida já não permite estarem connosco. 

"Para ser mais verdadeiro, comecei, sim, mas não continuei, pois o primeiro passo consistiu apenas em actualizar o historial do RI 15 e o seu anuário, o que exigiu apenas uma sucinta narrativa. Imagine, isso foi em 1985, quando os nossos expedicionários estavam ainda em pujança de vida. Mas às vezes não nos damos conta de que o tempo voa e perdemos oportunidades irrepetíveis".(...)

7. Comentário final do editor:

O Adriano está mais que apresentado, e é já de longa data nosso leitor e colaborador. A sua presença entre nós justifica-se, não por ter feito a  guerra colonial em Angola e Moçambique, mas pelo cordão umbilical que  mantemos com Cabo Verde.

A presença histórica dos portugueses na Guiné não pode ser desligada da história passada e recente de Cabo Verde. O Adriano está a ajudar-nos também a conhecer,  preservar e divulgar a passagem dos nossos pais e nossos camaradas pelas terras de Cabo Verde, entre 1941 e 1945. Bastaria esse elo em comum. Mas temos muitos mais.

Ele conhece e aceita as nossas regras de convívio bloguístico. Daqui parta o futuro, consideramo-nos como amigos e camaradas, pelo que o tratamento por tu se impõe com toda a naturalidade... Adriano, sê bem vindo. Já tomámos boa nota do teu novo endereço de email, e já recebemos o teu texto sobre o médico militar Baptista de Sousa, resultante de uma excelente  investigação de arquivo. Será publicado oportunamente.

Em troca deste mimo, insiro aqui o link para mais um vídeo do meu velho (que infelizmente nos deixou este ano em curso) e em que ele fala do quotidiano das tropas expedicionárias  na ilha de São Vicente no seu tempo (1941/43). Foi gravado em 17/10/2009, mas só agora inserido no

You Tube, na nossa conta Nhabijoes. [Clicar aqui para aceder ao vídeo]


Luis Henriques (1920-2012)_Cabo Verde_1941_43_Histórias_2

Vídeo (9' 59''). Lourinhã, Luís Henriques (1920-2012). Ex- 1º cabo inf, mobilizado pelo RI 5 (Caldas da Rainha), expedicionário, que viria a integrar o RI 23 (Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde, 1941/43). Locais por onde andou durante 26 meses: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau... Histórias do quotidiano da tropa... Video de Luis Graça (, gravado em 17 de outubro de 2009, numa esplanada da Praia da Areia Branca). Inserido no You Tube em 18/11/2012.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)


Reprodução (parcial) do poste nº 8 da série Tropas expedicionárias portuguesas em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial, da autoria de Adriano Miranda Lima, publicado no blogue Praia de Bote


1. Já aqui falámos do blogue Praia de Bote e do nosso leitor Adriano Miranda Lima, cor inf ref, residente em Tomar, e natural de São Vicente, Cabo Verde. O cor Miranda Lima serviu, durante muitos anos, no RI 15, o prestigiado RI 15, donde saíram, ao longo da nossa história, milhares e milhares de combatentes. E tem um especial carinho não só pela sua terra de origem, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, como pelos "nossos pais" que estiveram lá, em missão de soberania durante a II Guerra Mundial... 


Sobre esses "expedicionários" ele tem vindo a escrever no blogue Praia de Bote, estando de resto autorizado a utilizar textos, vídeos e fotos do nosso blogue, e nomeadamente da série "Meu pai, meu velho, meu camarada"... Com data de ontem, 22, saiu mais um poste, que traz um sugestivo título: "Levaram na mochila o espírito de solidariedade"... Tenho pena que o "meu velho" já não esteja vivo para lhe poder ler alguns excertos... 

 Aqui vão eles, de qualquer modo, para conhecimento dos nossos leitores, enquanto ao mesmo tempo reitero o meu convite ao Adriano Miranda Lima para aceitar o meu convite para ingressar na Tabanca Grande (ambos temos no coração Cabo Verde, e esta terra está intimamente ligada à história da Guiné e da guerra colonial) (*): 

(i) (...) " Até as praças do contingente expedicionário arranjaram o seu 'impedido', glosando-se aqui, claro, o significado militar do vocábulo. E quem eram esses 'impedidos'? Nada mais que a miudagem que se acercava dos portões dos quartéis à procura de um pouco de alimentação. As praças precisavam de alguém que lhes levasse a roupa a uma lavadeira, que lhes desse um recado ou até que lhes engraxasse as botas".

(ii) (...) "Em relatos que ouvi a muitos desses ex-militares, raros são os que não conservaram para sempre na memória o triste episódio da fome que assolava o arquipélago e dizimava impiedosamente vidas humanas (cerca de 50.000 mortos entre 1943 e 1945). É por esta razão que o coração dos militares não era insensível ao espectro da fome estampado nos rostos dos rapazinhos que se abeiravam dos quartéis. Muitos reservavam um pouco da sua alimentação diária aos seus 'impedidos', quer fosse pão quer fosse comida confeccionada nos caldeiros do rancho geral. Só quem nunca sentiu a tortura da fome não imagina o valor que teria naquela altura uma simples côdea de pão ou uma tijela com uns restos de sopa". (...)




Cabo Verde, Ilha de São Vicente > "Luís Henriques, em 10 de maio de 1942. Na praia do M. [Monte] Branco, Lazareto, São Vicente". Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012). No verso, além da legenda transcrita, há  um carimbo com os dizeres: "MELO Foto. Secção de amadores. São Vicente".

 Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados



Cabo Verde, São Vicente, Mindelo (?) > "Festa em San Vicente, nosse terre. Nativos em festa. Recordação da minha estada em C. Verde, expedidição 1941-1943. Luís Henriques". Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012).

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados


(iii) (...) "De entre muitos testemunhos, vale a pena registar aqui o do antigo expedicionário 1º cabo Luís Henrique, do Batalhão de Infantaria 5, aquartelado em Lazareto, que me foi transmitido em mail pessoal pelo seu filho (,..), editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, espaço no qual o mesmo testemunho foi reportado há alguns anos, assim como factos relevantes da vida militar do seu pai em terra cabo-verdiana. 

Textualmente, transcreve-se esta seguinte passagem do citado mail: 'O meu pai lembra-se da epidemia de fome que assolou as ilhas, no tempo em que lá esteve (1941/43). O seu 'impedido', o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (cerca de 16$00), para ajudá-la nas despesas do funeral'. Luís Graça explicou que o seu pai estava na altura hospitalizado mas que acompanhou o triste episódio da morte do seu 'impedido' .(...) 

 Não há exemplo mais tocante e mais grandioso do que o daquele que dá o pouco que tem para mitigar a fome e o sofrimento do seu semelhante. Foi o caso do senhor Luís Henrique e de muitas praças dos contingentes militares expedicionários" (...).

(iv) (...) "Em narrativas anteriores, referi a importância particular que para mim reveste o Batalhão de Infantaria 15, nomeadamente a sua 3.ª Companhia de Atiradores, a que ficou em S. Vicente enquanto o grosso do Batalhão foi destacado para a ilha vizinha. Vamos ver o porquê desse meu sentimento. Essa companhia, sob o comando do capitão Fernando de Magalhães Abreu Marques e Oliveira, ficou aquartelada no centro do Mindelo (...). Aquele capitão era venerado pelos seus antigos subordinados, que o recordavam pela sua competência profissional e pelo espírito humanitário oculto atrás do seu ar sóbrio e grave. (...)

(v) (...) "Condoído com aquela dramática situação [, a fome que lavrava na ilha], o capitão Oliveira ordenou ainda a montagem de um mais organizado serviço de distribuição de sobras de rancho, autorizando que aqueles pobres civis entrassem mesmo para dentro da área militar. À certa altura, reparando que o número de necessitados crescia a olhos vistos, disse ao furriel que tinham de arranjar um processo de maximizar as sobras de alimentação de forma a responder melhor àquela situação. Perante as dúvidas do subordinado, explicou-lhe que era preciso recorrer a todas as situações administrativas e meios possíveis". (...)





" Foto pertencente à família do capitão Paiva Nunes e por ela cedida ao autor [, Adriano Miranda Lima]. Os oficiais presentes são todos capitães. (...) À frente, e da esquerda para a direita, o capitão Mário de Paiva Nunes e o capitão Fernando de Magalhães Abreu Marques e Oliveira (aos 40 anos de idade), benfeitor do povo faminto do Mindelo", assinalado com elipse a vermelho. 




(vi) (...) "Recorda-se ainda [, aquele antigo furriel,] de o seu comandante de companhia ter ido falar com o comandante do Regimento de Infantaria 23, designação da unidade que englobava os batalhões de infantaria de S. Vicente, no sentido de sugerir ao seu superior hierárquico que todas as companhias procedessem de igual forma, e dentro dos possíveis, para ajudar as pessoas carentes de alimentação. E a verdade é que o gesto humanitário do capitão Oliveira em prol dos necessitados de S. Vicente não tardou a ser seguido nas outras companhias e baterias destacadas na ilha de S. Vicente". (...)

(vii) (...) "Mas o apoio e o espírito de solidariedade das forças militares tiveram uma expressão alargada e transversal, passando por actos individuais e colectivos e por diferentes sectores das estruturas militares. Destaca-se a acção médica e medicamentosa que a população recebeu durante a permanência das tropas de uma forma sem precedentes na história colonial das ilhas, sobretudo em S. Vicente. Essa acção permitiu salvar inúmeras vidas mediante intervenções cirúrgicas e uso de meios terapêuticos que não teriam sido 
possíveis sem a presença dos militares". (...)


______________

Nota do editor:

Último poste da série > 7 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10496 Meu pai, meu velho, meu camarada (33): Mais notícias das forças expedicionárias da ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/45) (Adriano Miranda Lima, cor inf ref)


domingo, 7 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10496 Meu pai, meu velho, meu camarada (33): Mais notícias das forças expedicionárias da ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/45) (Adriano Miranda Lima, cor inf ref)


1. Comentários, ao poste P10284 (*), de Adriano Miranda Lima, nosso leitor, cor inf reformado, natural de Cabo Verde, São Vicente, antigo combatente da guerra do ultramar (Angola e Moçambique), residente em Tomar [,  foto atual à esquerda, ] , e que gostaríamos que aceitasse o nosso convite para integrar esta Tabanca Grande:

(i) Manifesto ao senhor José Martins a minha admiração pelo excelente trabalho de pesquisa que empreendeu e permitiu a publicação desta lista dos militares portugueses falecidos em Cabo Verde. O meu reparo em relação ao lapso de registo respeitante ao major Nicolau de Luizi deve-se ao conhecimento muito particular que tenho do caso. Sou militar (coronel reformado) e servi grande parte da minha carreira no RI 15, sobretudo depois de finda a guerra de África. Essa condição permite-me conhecer muito bem o historial desse regimento, que beneficiei com pesquisas, reescrevendo algumas das suas páginas.


Como sou cabo-verdiano de nascimento, toca-me também de modo muito particular o historial das tropas expedicionárias durante a II Guerra Mundial. É por isso que me atrai este blogue, cuja consulta me tem facultado alguma ajuda para poder escrever alguns textos que comecei a publicar no blogue Praia de Bote, cujo nome se deve à praia com o mesmo nome existente na cidade do Mindelo, na orla do Porto Grande.

Ainda participei em 3 convívios realizados em Tomar pelos expedicionários do RI 15, que incluíam também expedicionários de outras unidades mobilizadas, como os de Infantaria 5 e 7. O grande entusiasta e organizador desses convívios era o senhor Francisco Lopes (que era conhecido no Mindelo como o Chico da Concertina). Infelizmente, faleceu há para aí 2 anos. Estava muito lúcido e ainda vigoroso, mas bastou terem-lhe tirado a carta de condução (conduziu até idade muito avançada) para entrar numa depressão a que seguiu uma pneumonia que foi a causa da sua morte. Julgo que ele tinha 89 anos.

Fiz duas comissões, uma em Angola e outra em Moçambique, mas na Guiné nunca estive.
(ii) Consultando de novo a lista dos militares inumados em S. Vicente, atentei no seguinte caso: Ovídio de Deus da Silva Buiça - 2º Sargento nº 51-42, da Companhia de Comando do 1º Batalhão Expedicionário da Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], idade não referida, natural de Portalegre, faleceu de ferida perfurante do crâneo, por arma de fogo, em 3 de Abril de 1943 [Possivelmente, suicídio]. Inumado na 14ª campa de Rua 56, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

Confirmo que se tratou, de facto, de suicídio. Infelizmente, o sargento pôs termo à vida por irregularidades que lhe foram detectadas na administração de contas que tinha a seu cargo. Esse sargento era amigo de um familiar meu.

Visitei em Julho passado o talhão militar e não deixei de me comover com a visão das campas de dezenas de militares que morreram em terra distante longe das suas famílias. É a mesma comoção que me provoca a recordação de duas praças que deixei enterradas em Angola, por lá continuando ainda os seus restos mortais. Em Moçambique, os meus mortos foram já enviados para a metrópole, pois os enterramentos locais deixaram de se fazer. Tarde demais, quanto a mim, pois o efeito moral da situação contrária era arrasador.



2. Apontamentos do cor inf ref Adriano Miranda Lima, no blogue Praia do Bote, sobre as forças expedicionárias em São Vicente, durante a II Guerra Mundial:

(...) Vejamos agora alguns dados constantes da História do Exército Português (1910-1945), obra organizada sob a coordenação do general Arménio Nuno Ramires Oliveira, oficial que, por coincidência, serviu no comando militar de S. Vicente como capitão e major.

A organização militar, que devia ser estabelecida de acordo com o Decreto nº 29686, de 14 de Julho de 1939, acabaria por não ser efectivada em Cabo Verde. Assim, teve-se de recorrer ao envio de forças expedicionárias da metrópole para a sua defesa.

A ocupação das ilhas e a organização das forças foram sofrendo as adaptações que os efectivos iam permitindo. Uma das condicionantes foi a carência de material, em especial de artilharia. Mas em Julho de 1941 encontravam-se prontos a embarcar em Inglaterra com destino a Cabo Verde, 3 peças de artilharia 4,7", 3 jogos para plataformas e 450 munições. (Este material diz respeito à artilharia de costa). As autoridades inglesas ofereceram ainda pessoal para instruir e montar estas peças.


Em 1941, foi criada na cidade do Mindelo, em S. Vicente, uma Bateria de Artilharia de Costa. Em fins de Agosto de 1941, era transferida a título provisório, da cidade da Praia, em Santiago, para a cidade do Mindelo, em S. Vicente, a sede da Repartição Militar. A evolução da guerra mostrou a urgência de criar um dispositivo defensivo na ilha de S. Vicente, pelo que foi ordenada a mobilização das seguintes forças:

Para a Ilha de S. Vicente:

- Comando Militar de Cabo Verde, sendo comandante o brigadeiro Augusto Martins Nogueira Soares, desde Agosto de 1941 até Dezembro de 1944;
- Comando do Regimento de Infantaria 23, integrando os batalhões seguintes;- 1.º Batalhão expedicionário do Regimento de Infantaria 5 (Caldas da Rainha);
- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 7 (Leiria);
-  1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 15 (Tomar);
- Bataria de Artilharia de Costa 1;
- Bataria de Artilharia de Costa 2;
- Bataria de Artilharia Contra Aeronaves 9,4 cm;
- Bataria de Artilharia Contra Aeronaves 4 cm;
- Bataria de Referenciação;
- 2.ª Companhia de Sapadores Mineiros do Regimento de Engenharia 2;


Apoiavam estas unidades as formações dos serviços militares seguintes:

- Parque de Engenharia;
- Tribunal Militar;
- Hospital Militar Principal de Cabo Verde;
- Depósito de Subsistência e Material;
- Laboratório de Análise de Águas;
- Depósito Sanitário;
- Secção de Padaria.

O conceito de defesa da ilha de S. Vicente consistia essencialmente numa sólida ocupação e, em caso de emergência, manter a posse a todo o custo das regiões de João Ribeiro e de Morro Branco e a cidade do Mindelo. Para tal, 2 batalhões ocupavam posições de defesa e 1 batalhão, reduzido, encontrava-se em posição de reserva.

Para a ilha do Sal:

- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 2:
- 1.º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria 11;
- 3.ª Bataria de Artilharia Contra Aeronaves.
O Hospital Militar do Sal apoiava essas unidades.

O conceito de defesa da ilha do Sal, embora previsse a defesa das costas contra acções provenientes do mar, tinha como principal finalidade a defesa do aeródromo e a sua posse a todo o custo.

Na ilha de Santo Antão, a guarnição era constituída por forças destacadas da ilha de S. Vicente, normalmente uma companhia de atiradores reforçada do batalhão em reserva. Tinha por missão ocupar a povoação de Porto Novo, mantendo a posse da água de abastecimento e a vigilância do canal, em especial na zona correspondente ao Porto Grande de S. Vicente.

Na ilha de Santiago, na cidade da Praia, estava uma companhia de caçadores de praças de recrutamento local/regional, podendo eventualmente ser reforçada com meios atribuídos pelo Comando Militar de Cabo Verde, sediado em S. Vicente. Competia-lhe a defesa da cidade da Praia, como capital de Cabo Verde.

Com o fim da guerra mundial, regressaram à metrópole os efectivos expedicionários. O regresso efectuou-se progressivamente, sendo extintas as unidades, comandos e serviços ali criados. O regresso do Comandante Militar, brigadeiro Nogueira Soares, em Janeiro de 1945, e sobretudo a extinção do Comando Militar criado para o efeito, em 30 de Novembro de 1946, marcaram o final do reforço militar de Cabo Verde, embora várias comissões liquidatárias se tenham mantido pelo tempo necessário à conclusão das suas tarefas.




Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Monte Sosse > c. 1941-1945 > "Peça de 9,4 cm de uma das duas antigas baterias de artilharia anti-aérea de Monte de Sossego (Foto oferecida pelo filho de um antigo oficial que serviu, à época, em Cabo Verde)" [Legenda: Adriano Miranda Lima] [Foto reproduzida aqui com a devida vénia...]


(...) À época da segunda Guerra Mundial, a artilharia antiaérea vigiava o Porto Grande. E a nossa “Praia de Bote” estava, implicitamente, sob o chapéu protector, claro está. Que isto fique desde já assegurado, ou não tivesse a dita Praia sobrevivido até agora, vivinha da silva.

Ora, esta antiga peça de artilharia anti-aérea de calibre 9,4 cm presente nas fotos pertencia, entre outras, a uma das baterias (unidade táctica elementar de artilharia comandada por um capitão) instaladas no cimo do Monte de Sossego. 

A outra bateria era equipada com peças de 4 cm. Fazia também parte desse dispositivo artilheiro uma unidade de referenciação, constituída por projectores (holofotes), fonolocalizadores, preditores de tiro [, aparelho que calcula a posição futura do alvo aéreo,] e seguidores visuais. Desconheço se integrava também radares tácticos e de tiro. Uma vez que este conjunto integrava duas baterias, de comando de capitão, é de supor que o conjunto justificasse o comando de um major. A ser assim, aquelas duas unidades constituiriam um Grupo de Artilharia, embora reduzido nas suas componentes orgânicas, que é sempre de comando de oficial superior (major ou tenente-coronel). Mas admite-se que o conjunto pudesse estar sob o comando apenas de um capitão, já que nessa altura não havia grande abundância de oficiais superiores e o posto de capitão se mantinha até idade bem madura (mais de 40 anos), o que conferia um saber de experiência acumulada ao longo de anos.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 2006 > Monte Sossego [, ou Ponta João Ribeiro ?,]> Restos da peça de arttilharia antiaére 9,4, do tempo da II Guerra Mundial... Ao fundo, a cidade do Mindelo, o Porto Grande, o oceano, o ilhéu dos Pássaros.

Foto: © Lia Medina (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Este dispositivo e outros disseminados pela ilha de S. Vicente fazia parte das Forças Expedicionárias Portuguesas a Cabo Verde durante a Segunda Guerra Mundial (activadas entre 1941 e 1945).

Quem for ao cimo do Monte de Sossego encontra ainda quase intactas as estruturas entrincheiradas, tipo bunker, desse antigo dispositivo militar, construídas então pela engenharia militar portuguesa. E tem também oportunidade de reparar em algumas peças enferrujadas (só se mantiveram as de calibre 9,4 cm) e amputadas de alguns componentes.

Eu fui lá em 2003, e pela primeira vez na minha vida. Não estavam lá soldados nem equipamentos, à excepção das referidas peças enferrujadas. Estavam, sim, pessoas a viver no que resta daquelas instalações construídas em subsolo. Disseram-me que eram pessoas de S. Antão que chegavam a S. Vicente à procura de trabalho e não tinham outra hipótese de abrigo senão os bunkers. Mas penso que actualmente essas instalações estão desocupadas, conforme parecem demonstrar fotos de data mais recente que tive oportunidade de ver mas que não possuo. 

Tenho de dizer que me impressionou o estado deplorável em que vivia aquela gente. Cheguei ao local acompanhado de um tio e de um primo e fomos imediatamente rodeados por um rancho de crianças, que nos olhavam como se fôssemos extra-terrestres.

Como afirmei atrás, eu nunca tinha ido ao local, mas ao longo da minha meninice algumas manifestações da existência desse dispositivo artilheiro chagavam até mim de vez em quando. Sim, porque alguma coisa ainda lá se manteve depois da saída das Forças Expedicionárias. Lembro-me, nos anos da década de 1950, dos ensaios nocturnos dos projectores (holofotes). Iluminavam tudo em redor e até a distâncias consideráveis. Morava em Fonte Cónego e era uma festa, para a meninada, quando os focos de luz atingiam as casas e mesmo os nossos corpos. Interrompíamos as brincadeiras de “mangatchada” (brincar às escondidas) para nos deliciarmos com o espectáculo de luz que subitamente quebrava a rotina. (...) 
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10284: Meu pai, meu velho, meu camarada (31): Expedicionários em Cabo Verde, mortos entre 1903 e 1946 e inumados nas ilhas de São Vicente e Sal (Lia Medina / José Martins)

Último poste da série > 22 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10420: Meu pai, meu velho, meu camarada ( 32): Luís Henriques (1920-2012) evoca, em entrevista gravada em 10 de março de 2010, os sítios onde passou 26 meses, na ilha de São Vicente, em plena II Guerra Mundial: Mindelo, Lazareto, Matiota, São Pedro, Calhau...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10284: Meu pai, meu velho, meu camarada (31): Expedicionários em Cabo Verde, mortos entre 1903 e 1946 e inumados nas ilhas de São Vicente e Sal (Lia Medina / José Martins)





Mapa do arquipélago de Cabo Verde, s/d. Reproduzido, com a devida vénia, do sítio Momentos de História > Cabo Verde 1914-1918, da autoria de Carlos Lopes Alves, que cita João de Almeida ("O Porto grande de S. Vicente de Cabo Verde", 2ª ed., Lisboa, Editorial Império Lda, 1938, pp. 7-8:

(...) Na época a maior parte dos navios utilizavam carvão como combustível, o Porto de São Vicente tornou-se num dos principais depósitos de hulha negra do Atlântico Sul. Um outro factor que colocava Cabo Verde como um ponto estratégico do Atlântico Sul era o "cabo submarino", na realidade nove cabos, que se encontrava amarrado à Ilha de São Vicente, junto à localidade Mindelo, que era a base das comunicações intercontinentais do Hemisfério Sul. Tanto o depósito de carvão como o cabo submarino eram pertença de firmas inglesas que aí se tinham estabelecido.

"Portugal tinha como triângulo estratégico das bases militares navais Lisboa-Açores-Cabo Verde, que dominavam as comunicações de todo o Atlântico. Em 1911 foram efectuados estudos para a defesa militar de Cabo Verde e em particular para a criação de uma base militar e naval na Ilha de São Vicente, sobre o Porto Grande" (...).





Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > Foto do álbum de Lu+is Henriques (1920-2012), ex-1º Cabo nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5. Esteve em Cabo Verde, no Lazareto, na Ilha de São Vicente, entre 1941/43.

Legenda no verso da foto: "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (hospitalar). Luís Henriques".


Foto: © Luís Graça (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Lista de militares falecidos durante o serviço prestado em Cabo Verde, desde 1903. Pesquisa no Arquivo do Registo Civil de S. Vicente pela Drª Lia Cordeiro Lima Medina, nossa grã-tabanqueira, professora universitária, filha de mãe portuguesa e de pai caboverdiano. Listagem cedida pela Liga dos Combatentes, no âmbito da Conservação das Memórias. Elementos recolhidos pelo nosso infatigável e dedicado colaborador permanente José Martins.



1.1. INÍCIO DO SÉCULO ATÉ AO FINAL DA I GRANDE GUERRA, ENTRE 1903 E 1918  (n=25)

1903-1909 (n=6)


JOSÉ PEREIRA - Soldado nº 56 da Companhia de Infantaria da Guiné Portuguesa, idade, naturalidade e filiação não referidas, faleceu de morte natural em 8 de Janeiro de 1903. 

ANTÓNIO MARIA - Soldado nº 67 da Guarnição da Guiné, de 18 anos, solteiro, natural de Lisboa, filho de José Henriques, faleceu de morte natural, no hospital, em 2 de Março de 1903. 

ANTÓNIO MANUEL DO AMARAL - 2º Sargento da Guarnição da Guiné, de 40 anos, solteiro, filho de Francisco António, faleceu de morte natural, no hospital, em 18 de Abril de 1907. 

JOAQUIM DO ROSÁRIO CARDOSO - Soldado do Depósito de Praças Adidas da Guiné Portuguesa, de 20 anos, solteiro, natural da Metrópole, filho de João Francisco Cardoso, faleceu de morte natural em 14 de Outubro de 1908. 

JOSÉ DA CRUZ - Soldado do Depósito de Praças da Guiné, de 24 anos, casado, natural da freguesia de São Sebastião, Lisboa, filho de António da Cruz, faleceu de morte natural em 18 de Outubro de 1908. 

MANUEL DE JESUS PEREIRA - Soldado do Depósito de Praças Adidas da Guiné, de 20 anos, solteiro, natural de Trás–os-Montes, filho de Francisco Augusto Pereira, faleceu de morte natural em 25 de Julho de 1909. 

1917-1918 (n=19)

ANASTÁCIO - Soldado nº 93 da 9ª Companhia de Infantaria [do Regimento de Infantaria nº 24,  Aveiro ?], de 22 anos, natural de Pondilho [, possivelmente Pardilhó, Estarreja], filho de Joaquim Rachado e Maria Luiza, faleceu de causa não referida em 17 de Janeiro de 1917.

ANTÓNIO RODRIGUES SACRAMENTO - Soldado nº 317 da 11ª Companhia de Infantaria  [do Regimento de Infantaria nº 23,  Coimbra ?], de 24 anos, natural de Coimbra, filho da Leonor Roza, morreu de causa não referida em 24 de Novembro de 1917. Registo nº 448 do Livro 8. 

ANTÓNIO JOSÉ ALVES - Soldado nº 631 da 10ª Companhia de Infantaria  [do Regimento de Infantaria nº 29,  Braga ?], filho de Manuel João Alves e Rosa de Araújo, natural de Valdevez, não refere a causa e data de falecimento. Registo nº 289, do Livro 9 página 138. 

JOSÉ DE JESUS COELHO - Marinheiro da Armada, tripulante da Canhoneira Beira, idade não referida, casado, natural de Tavira, filho de Francisco José Coelho e Maria da Conceição, faleceu de causa não referida em 7 de Outubro de 1918. Registo nº 416, Livro 10 página 22. 

JOSÉ JOAQUIM GRAÇA - Marinheiro da Armada, tripulante da Canhoneira Beira, de 20 anos, natural da freguesia de Santa Maria, Lagos, filho de Joaquim da Costa Graça, faleceu em 10 de Outubro de 1918. Registo nº 443, Livro 10. 

ALBERTO AUGUSTO MELO - 2º Artilheiro nº 5271 da Canhoneira Beira, de 25 anos, natural da freguesia de Santa Catarina, Lisboa, filho de Samuel Gomes de Melo e Carolina Augusta da Silva, faleceu a 11 de Outubro de 1918. 

CÂNDIDO ANTÓNIO RAMOS - 2º Artilheiro da Canhoneira Beira, de 21 anos, natural da freguesia de São Sebastião, Setubal, filho de António Ramos e Maria José, faleceu em 12 de Outubro de 1918. Registo nº 506 do Livro 10. 

ANTÓNIO FORTES - 1º Grumete nº 5487 da Canhoneira Beira, de 20 anos, filho de José António Fortes, faleceu em 13 de Outubro de 1918. Registo nº 514 do Livro 10. 

JOÃO MARIA FRANCO - Posto e unidade não referenciados, de 20 anos, natural da freguesia de Santa Eulália, Elvas, filho de Manuel Maria Franco, faleceu em 15 de Outubro de 1918. 

MARCELO INÁCIO BRANCO - Soldado nº 17 da Companhia de Infantaria [ do Regimento de Infantaria nº 22,  Portalegre ?], nº 22, de 25 anos, natural de Santa Eulália, Elvas, filho de João Santos Baptista Branco e Maria Joana Paulares. Faleceu em 18 de Outubro de 1918. 

ANTÓNIO VENTURA CARDOZO - Soldado nº 6 da 10º Companhia de Infantaria [do RI nº ?], de 27 anos, natural de Elvas, filho de Ventura Manuel Cardozo, não refere a data de falecimento. Registo nº 634 do Livro 10. 

MANUEL DOS REIS CORREIA MODESTO - Tenente, de 58 anos, natural de Albufeira, filho de Francisco Correia Modesto, faleceu em 19 de Outubro de 1918. 

MANUEL JOAQUIM MOREIRA DOS SANTOS - 2º Marinheiro da Armada nº 4371, de 24 anos, natural de Paredes, [distrito do] Porto, filho de Manuel Moreira dos Santos e Ana Brito Ferreira dos Santos, faleceu em 20 de Outubro de 1918. 

GUILHERME PEREIRA ORGANISTA - 1º Grumete da Armada nº 5063, de 23 anos, natural de Vila Nova de Gaia, filho de José Pereira Organista e Maria Rodrigues da Costa, faleceu em 20 de Outubro de 1918.  

JOÃO ALVES - 2º Marinheiro da Armada nº 3655, de 24 anos, natural de Coimbra, filho de António Rodrigues Filipe Alves e Margarida de Jesus Alves, faleceu em 23 de Outubro de 1918. Registo nº 696 do Livro 10, página 162. 

JOSÉ FRANCISCO FARIA - Soldado, sem referencia à unidade, de 25 anos, casado, natural da Metrópole, filho de José Inácio Faria e Catarina da Conceição, faleceu em 24 de Outubro de 1918. Registo nº 696 do Livro 10, página 162. 

LOURENÇO BEIJAME - Artilheiro nº 5704 da Canhoneira Bengo, de 22 anos, natural da freguesia de São Lourenço de Maiorca, Alcobaça, filho de António Beijame e Francisca Maria, não consta a data do falecimento. 

JOÃO BATISTA - Cabo Artilheiro nº 2968 da Canhoneira Beira, de 39 anos, natural de Cortes, concelho de Marcos (?) [ou Macedo ?] de Cavaleiros [ou Marco de Canaveses ?], filho de Manuel António e Libânia dos Santos, faleceu em 30 de Outubro de 1918. Registo nº 733, Livro 10. 

JERÓNIMO BEMVINDO - Alferes de Infantaria, unidade não referida, de 38 anos, casado, natural do Porto, filho de Joaquina Maria Pinto Barroso, faleceu em data não indicada. Registo nº 747 do Livro 10. 




Cemitério do Mindelo, Mindelo, Ilha de São Vicente, Arquipélago de Cabo Verde > Sepulturas de soldados portugueses, expedicionários na ilha entre 1941-1946

Foto da revista 'O Combatente', nº  334 – Dezembro de 2005, reproduzida com a devida vénia. (Editada por L.G.)




1.2 DURANTE O PERIODO DA II GUERRA MUNDIAL, ENTRE 1941 E 1946 (n=40)

1941 (n=9)

JOAQUIM FRANCISCO MARGARIDA - Soldado nº 186-42 da 3ª Companhia do 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 5 [, Calda da Raínha],  de 21 anos, natural de Caldas da Rainha, filho de José Francisco Margarida e Adelina Maria de Jesus, faleceu de gripe em 13 de Outubro de 1941. 

FRANCISCO CIPRIANO SOUSA JÚNIOR - Soldado, não refere a unidade, de 20 anos, solteiro, natural de Ílhavo, filho de António Cipriano Júnior e Joaquina Martins, faleceu de broncopneumonia em 5 de Dezembro de 1941. Inumado na 4ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

JOSÉ H. FELICIANO - 1º Cabo de Engenharia, falecido em 20 de Outubro de 1941. Nada mais consta do levantamento feito no Registo Civil, Livro 50. Inumado na 1ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

SIDÓNIO PEDRO - Soldado, unidade não referenciada, de 22 anos, natural da freguesia de Vermilhão, filho de Ernesto Pedro e Manuela J. de Carvalho, faleceu de colapso cardíaco em 5 de Dezembro de 1941. Registo consta no Livro 50. Inumado na 3ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

SILVESTRE F. MOTA - Soldado nº 54, unidade, idade, filiação e naturalidade não referidas, faleceu em 6 de Dezembro de 1941. Registo consta no Livro 50. Inumado na 2ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

JANUÁRIO BATATA - Soldado, unidade não referida, de 21 anos, solteiro, natural de Almeirim, filho de Joaquim Batata e Angelina Calado, faleceu de infecção intestinal em 8 de Dezembro de 1941. Registo consta no Livro 50. Inumado na 5ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente. 

HIPÓLITO F. VEIGA - Soldado 23-38, unidade, idade, filiação e naturalidade não referidas, faleceu em 10 de Dezembro de 1941. Registo consta no Livro 50. Inumado na 6ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

JÚLIO GOMES DE CARVALHO - 1º Cabo do Exército, de 21 anos, solteiro, natural de Carvalhal, filho de Júlio Ferreira de Carvalho e Maria da Conceição Dias Torres, faleceu de infecção intestinal em 11 de Dezembro de 1941. Registo consta no Livro 50. Inumado na 7ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.  

VICENTE DE SOUSA JÚNIOR - Posto desconhecido, de 21 anos, natural de Santo Estevão, filho de Vicente de Sousa e Maria José, faleceu de infecção intestinal em 21 de Dezembro de 1941. Registo consta no Livro 50. Inumado na 8ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

1942 (n=14)

DOMINGOS MARQUES COSTA - Posto desconhecido, de 21 anos, natural da freguesia do Lumiar, Lisboa, filho deAntónio da Costa e Maria José, faleceu de infecção intestinal em 19 de Janeiro de 1942. Registo consta no Livro 50. Inumado na 12ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

JOAQUIM FREDERICO FERREIRA - Soldado 408-41 da 2ª Companhia do Regimento de Engenharia, de 21 anos, solteiro, natural da freguesia de Socorro, Lisboa, filho de Joaquim Frederico e Maria Vieira Frederico, faleceu de febre tifoide em 25 de Fevereiro de 1942. O registo consta no Livro 51. 

ANTÓNIO DA SILVA AZEVEDO - 1º Cabo nº 674-40 da 1ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário da Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], de 23 anos, solteiro, natural de Vila do Conde, filho de Emília Rosa de Azevedo, faleceu de trombose da sub-clávia esquerda-toxémia em 6 de Março de 1946. O registo consta no Livro 51. 

JOSÉ RIBEIRO MATEUS - Soldado, unidade não indicada, de 21 anos, solteiro, natural da freguesia de Santa Catarina, Caldas da Raínha, filho de Joaquim Mateus e Teresa Ribeiro, faleceu de compressão do mediastino em 25 de Fevereiro de 1942. O registo consta no Livro 51. 

MANUEL LUCAS - Soldado, unidade não referida, de 21 anos, solteiro, natural da freguesia de Soure [, concelho de Soure], filho de Francisco Ferreira Lucas e Maria de Jesus, faleceu de septicémia em 19 de Fevereiro de 1942. O registo consta no Livro 51. 

JOAQUIM MIGUEL - Soldado, unidade não referida, de 21 anos, natural da freguesia do Carvalhal [, Grãndola ?, Bombarral ?, Sertã ?, Barcelos?...], filho de José Miguel e Maria Rosa, faleceu de ferida perfurante por bala na cabeça em 21 de Fevereiro de 1942 [Possivelmente, suicído]. O registo consta no Livro 51. 

NICOLAU DE LUIZI - Major de infantaria e comandante do BI 15, de 53 anos, casado com D. Amélia da Silva Cyrylio de Luizi, natural de Vila Nova de Portimão, faleceu de septicémia-bronco-pneumonia em 9 de Março de 1942. O registo consta no Livro  51.

RAFAEL DA SILVA - Soldado nº 378-39 da Companhia de Atiradores do 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 7 [, Leiria], de 24 anos, solteiro, natural de Pombal, filho de João da Silva Júnior e Maria Ferreira, faleceu de febre tifoide e perotonite difusa em 9 de Março de 1942. O registo consta no Livro 51. 

MANUEL CARDOSO - Tenente do Exército, unidade não referida, de 58 anos, viúvo de D. Maria Luisa Esteves Cardoso, natural de Rouças [, Arcos de Valdevez ?], faleceu de cardiorrenal em 30 de Julho de 1942. O registo consta no Livro 52. 

LUIZ VIEIRA JUSTO - 1º Cabo nº 589-40 do 2º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 23 [, Coimbra], de 24 anos, natural de Mira de Aire [, concelho de Porto de Mós], filho de Manuel Francisco Justo e Maria dos Anjos Vieira Justo, faleceu de anemia generalizada em data não referida do ano de 1942. O registo consta no Livro 52. 

JOSÉ AUGUSTO PINTO - Soldado nº 71-39 da 6ª Bateria de Grupo de Artilharia Contra Aeronaves nº 1, de 25 anos, solteiro, natural da freguesia de Valença, filho de Vitor Maria Pinto e Ercelinda Teixeira, faleceu de paludismo em 11 de Agosto de 1942 (data sem confirmação). O registo consta no Livro 52. Inumado na 16ª campa de Rua 56, do Cemitério do Mindelo,  Ilha de São Vicente.  

CASIMIRO DE SOUSA TAVARES - Soldado nº 370-41 da 2ª Companhia Expedicionária do Regimento de Engenharia nº 2, de 22 anos, solteiro, natural da freguesia de Pego, concelho de Abrantes, distrito de Santarém, filho de Manuel de Sousa Tavares e Maria da Assunção Correia, faleceu de perfuração do ileo [a terceira e última parte do intestino delgado] por febre tifoide em 22 de Setembrode 1942. O registo consta no Livro 52. 

MÁRIO TAVARES - Soldado nº 94-41 do Batalhão de Telegrafistas adido à 2ª Companhia Expedicionária do Regimento de Engenharia nº 2, de 23 anos, solteiro, filho de Joaquim António Tavares e Delmira da Luz Tavares, faleceu de fractura da base do crâneo e ruptura do baço em 12 de Outubro de 1942. O registo consta no Livro 52. Inumado na 8ª campa de Rua 56, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

JOSÉ JOAQUIM - Soldado nº 135-41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [,Caldas da Rainha], de 22 anos, solteiro, natural de Caldas da Raínha, filho de Joaquim Fructuoso e Cecília Agostinho, faleceu de febre tifoide em 18 de Novembro de 1942. O registo consta no Livro 52. 

1943 (n=12)

ADELINO GOMES PRUDÊNCIO - Soldado nº 897-41 da 6ª Bataeria Expedicionária do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves, de 23 solteiro, natural de Sena do Douro, Caldas da Raínha, filho de José Prudência Júnior e Delfina Maria, faleceu de febre tifoide em 13 de Janeiro de 1943. Inumado na 11ª campa de Rua 56, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.  

ANTÓNIO SIMÕES MARTINS - 1º Cabo Miliciano nº 83-41 da 6ª Bateria Expedicionária do Grupo de Artilharia Contra Aeronaves, de 22 anos, solteiro, natural da freguesia de Santa Isabel, Lisboa, faleceu de paludismo em 21 de Janeiro de 1943. Inumado na 12ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

JOAQUIM NUNES - Soldado nº 220-41 da Companhia de Trem do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], de 22 anos, solteiro, natural da freguesia de S. Tiago, Torres Novas, filho de António Nunes e Maria Lucena, faleceu de paludismo em 8 de Fevereiro de 1943.

OVÍDIO DE DEUS DA SILVA BUÍÇA - 2º Sargento nº 51-42 da Companhia de Comando do 1º Batalhão Expedicionário da Regimento de Infantaria nº 5
 [, Caldas da Rainha], idade não referida, natural de Portalegre, faleceu de ferida perfurante do crâneo, por arma de fogo, em 3 de Abril de 1943 [Possivelmente, suicídio]. Inumado na 14ª campa de Rua 56, do Cemitério do Mindelo, Ilha de São Vicente.

MANUEL FIDALGO RODRIGUES - Soldado nº 126-40 da 1ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], de 23 anos, natural de Almeirim, faleceu em data não referida, no ano de 1943. 

JÚLIO ANTÓNIO XAVIER - Soldado nº 746-42 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 11, de 22 anos, solteiro, natural da Trafaria, Almada, filho de Manuel Francisco Xavier e Ermínia dos Anjos, faleceu de febre tifoide em 30 de Outubro de 1943. 

JOÃO ANTÓNIO - 1º Cabo nº 351-42 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 11 [, Setúbal], de 22 anos, solteiro, natural de Alenquer, filho de João António B… (?) e Glória da Conceição, faleceu de insuficiência por miocardite tífica em 6 de Novembro de 1943. 

ALBINO DE SOUSA - Soldado nº 180-41 da Companhia de Acompanhamento Regimental do Regimento de Infantaria nº 23 [, Coimbra], de 23 anos, solteiro, natural do concelho de Paredes, filho de António de Souza e Sofia da Rocha Barbosa, faleceu de febre tifoide em 30 de Novembro de 1943.

ANTÓNIO FRANCISCO - Soldado nº 378-40 do Comando e Trem do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 15, de 24 anos, solteiro, natural do concelho de Oleiros, filho de Manuel Francisco e Joaquina Maris, faleceu de síndrome infeccioso agudo em 30 de Novembro de 1943.

ANTÓNIO NOGUEIRA ROCHA - Furriel Miliciano nº 627-39 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 7 [, Leiria] , de 25 anos, solteiro, natural da freguesia de Boavista, concelho de Paredes, filho de David Ferreira Rocha e Maria Nogueira Freitas, faleceu de colite terminal em 16 de Dezembro de 1943. 


JOSÉ SALDANHA SANTOS COSTA - Aspirante do Serviço de Administração Militar, de 23 anos, casado, natural da freguesia de Monte Pedral, Lisboa, filho de Octávio Ribeiro da Costa e Albertina dos Santos Costa, faleceu de febre tifoide em 22 de Dezembro de 1943.

MIGUEL ANDRADE DE OLIVEIRA - Soldado nº 920-43 do Regimento de Infantaria nº 23 [, Copimbra], idade não referida, solteiro, natural de Montijo, filho de Carlos de Oliveira e Maria Andrade, faleceu de congestão dentro de água em 19 de Agosto de 1943. 


1944-1946 (n=5)

LIBERATO SILVA SOUSA - Soldado nº 256-44 do Regimento de Infantaria nº 23 [, Coimbra]
, de idade ignorada, solteiro, natural de Penacova, faleceu de febre tifoide em 18 de Setembro de 1944. 

ANTÓNIO DOMINGUES - Soldado nº 264-44 do Regimento de Infantaria nº 23 
[, Coimbra], de 20 anos, natural da freguesia de Monteiro, concelho de Oleiros, filho de António Domingos e Luisa de Jesus, faleceu de febre tifoide e bronco-pneumonia em 26 de Outubro de 1944. 

ARTUR B. PINHO DA S. OLIVEIRA - Soldado nº 276-44 do Batalhão Misto de Infantaria, de 22 anos, solteiro, natural da Mealhada, filho de Artur Pinho de Oliveira e Joana da Silva Elias de Oliveira, faleceu de febre tifoide-miocardite em 13 de Janeiro de 1945.

JOAQUIM PEREIRA LOURENÇO - Soldado nº 198-44 do Pelotão de Subsistência, de 21 anos, natural de Cadaval, filho de José Bernardino Lourenço e Felicidade do Rosário Pereira, faleceu de colapso cardiovascular em 25 de Janeiro de 1945.

ALBERTO SERETE MANITO - 1º Cabo nº 103-44, unidade, idade e naturalidade não referida, faleceu em 5 de Janeiro de 1946. Inumado na 13ª campa de Rua 55, do Cemitério do Mindelo, 
 Ilha de São Vicente. 





 Monumento aos soldados portugueses inumados no cemitério da Ilha do Sal. Foto da revista O Combatente, nº 345 – Setembro de 2008 (Reproduzida om a devida vénia; editada por L.G.)




1.3. Militares inumados no Cemitério de Santa Catarina, Ilha do Sal,   durante a II Guerra Mundial

1941/1944 (n=28)

ALBINO FERREIRA - soldado, falecido em 8 de Agosto de 1941

ABILIO A. DA FONSECA - 1º cabo, falecido em 22 de Agosto de 1941

JOSÉ SIMÕES VAZ - Soldado, falecido em 12 de Outubro de 1941

ÁLVARO P. BASTOS - Soldado, falecido em 19 de Outubro de 1941

BERNARDINO DA S. COVADO - Soldado, falecido em 6 de Novembro de 1941

MANUEL COSTA - 1º cabo, falecido em 12 de Novembro de 1941

CUSTÓDIO DE O. CAXO - Soldado, falecido em 17 de Novembro de 1941

JACINTO P. TEIXEIRA - Soldado, falecido em 22 de Novembro de 1941

FLORINDO NOGUEIRA - Soldado, falecido em 28 de Novembro de 1941

CARLOS MARIA DA SILVA - 1º cabo, falecido em 24 de Dezembro de 1941

ANTÓNIO DA P. GOMES - Soldado, falecido em 15 de Fevereiro de 1942

JOÃO J. DE OLIVEIRA - Soldado, falecido em 3 de Março de 1942

ADELINO DE A. MARTINS - Soldado, falecido em 22 de Abril de 1942

ÁLVARO GUERRA - 1º cabo, falecido em 9 de Maio de 1942

ABÍLIO A. R. COUTINHO - 2º Sargento, falecido em 13 de Maio de 1942

ANTÓNIO G. RATO - 1º cabo, falecido em 29 de Junho de 1942

JOSÉ M. T. MOUTINHO - Furriel, falecido em 14 de Dezembro de 1942

ARMANDO A. DOS SANTOS - Soldado, falecido em 16 de Janeiro de 1943

JOSÉ DA S. OLIVEIRA - Soldado, falecido em 2 de Abril de 1943

JOÃO DUARTE - 1º cabo, falecido em 5 de Maio de 1943

JOAQUIM ALVES FERREIRA - Soldado, falecido em 7 de Agosto de 1943

ANTÓNIO FERREIRA BARRALÉ - Soldado, falecido em 7 de Setembro de 1943

ANSELMO BAPTISTA - Soldado, falecido em 13 de Setembro de 1943

EMÍDIO DA CONCEIÇÃO FREITAS - Soldado, falecido em 11 de Março de 1944

ANDRÉ GONÇALVES - 1º cabo, falecido em 11 de Maio de 1944

JOSÉ DINIZ DE CARVALHO – Tenente, falecido em 19 deAgosto de 1944

JOSÉ TIMAS - Soldado, falecido em 23 de Novembro de 1944

AUGUSTO TERMOCEIRO - Soldado, falecido em 11 de Maio de 1944

a) José  Marcelino Martins, Maio 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9870: Meu pai, meu velho, meu camarada (29): Luís Henriques (1920-2012): Você deixou o nosso ranchinho abandonado... (Luís Graça)



Vídeo (49''):  Luís Graça (2011). Alojado em You Tube > Nhabijoes

Luis Henriques (1920-2012):  Lourinhã, Atalaia, Lar e Centro de Dia de Nossa Senhora da Guia, 8 de outubro de 2011, precisamente seis meses antes de morrer (a 8 de abril de 2012)... Trauteando, aos 91 anos,  uma das suas canções favoritas, ligada à sua memória da tropa e e da sua comissão de serviço militar no ultramar, no Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941-1943).  Mesmo debilitado pela doença (crónica) de que sofria há 5 anos, ele arranjava forças para se mostrar feliz e agradecido pelas visitas que a família (filhos e netos) lhe faziam todas as semanas...

A canção chama-se "Ranchinho Abandonado". É uma canção brasileira, sertaneja, da dupla Raul Torres e João Pacífico, composta em 1939.  Estava na moda em Portugal, quando ele, em plena II Guerra Mundial, partiu como expedicionário para a Ilha de São Vicente, Cabo Verde, indo integrar o RI 23 (*)... Acompanhamento a violino, pelo neto João Graça que tinha o bom hábito de ir anotando, sempre que estava com o avô,  os seus ditos, anedotas e historietas... 


Letra > "Ranchinho Abandonado" (Música e letra: Raul Torres e João Pacífico, 1939).


Você deixou o nosso ranchinho abandonado,
Vive tão triste, o coitado,
Que dá pena até de ver.
Quando anoitece,
Bate a lua no caminho,
E eu lá dentro, tão sozinho,
Fico pensando em você.
Pego a viola p'ra esquecer a minha mágoa 
E os meus olhos, rasos d' água,
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade,
Hoje, eu não posso cantar. 

E o ranchinho continua aqui tristonho,
Acabou-se o antigo sonho,
Veio a tristeza morar.
Em seu lugar só restou essa viola 
Que a minha dor consola
Quando, às vezes, me vê chorar.

Pego a viola p'ra esquecer a minha mágoa,
E os meus olhos, rasos d' água,
Que não cansam de chorar.
Eu vou cantando o soluço e a saudade,
Porque a felicidade,
Hoje, eu não posso cantar.



1. Meu pai, meu velho, meu camarada... Faz hoje um mês que nos deixaste... Os confrades da tua confraria da Nossa Senhora dos Anjos, na Lourinhã, mandaram-te rezar uma missa. Pela tua alma. Para que descanses em paz. Para que continues a sorrir-nos, com o teu sorriso lindo, lá da outra margem do rio invisível e intransponível que nos separa...

Tenho pena, mas não posso ir à tua missa, hoje, aí na Lourinhã... Estou a trabalhar a essa hora. Mas eu e o João (que está de férias,  na Índia) estaremos lá contigo, em espírito... Tens lá a Joana,e a Alice, as tuas filhas Graciete e Zairinha, e alguns dos teus netos, e demais família... A Béu, a tua caçoila,  também não poderá ir, está no Fundão, mas rezará por ti...

Temos muitas saudades tuas, pai. Este pequeno vídeo é uma forma de mitigar a nossa dor... Lembras-te ? Era uma das tuas canções favoritas. Estava na moda em Lisboa, quando partiste para Cabo Verde, em 1941... Sempre te a ouvi cantar pela vida fora... Você deixou o nosso ranchinho abandonado, /Vive tão triste o coitado / Que dá pena até de ver... Não, não é uma morna, é uma canção sertaneja, lá do Brasil... De João Aparício, o "poeta do sertão" que morreu em 1998, completamente esquecido...

Pois é, agora foi a tua vez de deixar o teu/nosso "ranchinho abandonado"... Sempre nos protegestes ao longo da tua vida, o melhor que sabias e podias... Agora é a nossa vez de experimentar esse estranho sentimento de orfandade que tu conheceste tão cedo, na tua vida, logo aos dois anos... Nunca soubeste, pela vida fora, o que era o doce amor de mãe... ("Quanto é doce quanto é bom / No mundo encontrar alguém / Que nos junte contra o peito / E a quem nós chamemos mãe"... cantava o poeta e músico Zeca Afonso),


  A tua, a minha avó, foi-se cedo desta vida, ceifada pela tuberculose, em 1922,  logo a seguir à epidemia da pneumónica (1918-19), de que me falavas tanto, embora ainda não fosses nascido quando foi o pico da pandemia. (Recordo-me de me dizeres que "quem se safou, era quem bebia aguardente"...).

Sabes, escrevi uma pequena nota biográfica sobre ti para o jornal da nossa terra, o "Alvorada"... Vou-ta reproduzir aqui, para os meus camaradas lerem, no blogue, de que tu eras (e continuarás a ser) membro... Eles estimavam-te e consideravam-te  como um "mais velho"...  Agora resta-nos o Armando Lopes, cabo verdiano, pai do Nelson Herbert, e que chegou a ser craque da bola na Guiné, com a alcunha de Búfalo Bil... Ainda esteve contigo no Mindelo, em 1943... É da tua idade,,, 

Publico também uma foto tua com a Maria da Graça, quando ainda estavas todo janota, aos 70 anos ... Sabes, estive este fim de semana no Lar, e pude dar-me conta de quanto ela sente a tua falta, mesmo que não já possa expressar as suas emoções... Ela sente a tua ausência, e fixou muita atentamente o artigo do jornal onde vem a vossa foto, de abril de 1991. 

Se não te importas,  nunca me despedirei de ti, vou falando contigo, à minha maneira. Assim como hoje... Entretanto, vamo-nos encontrando por aí e aqui, às vezes com uma lágrima furtiva ao canto do olho... LG

Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra


Luís Henriques, mais conhecido por Luís Sapateiro, ou simplesmente por Ti Luís:


(i) Nasceu na Lourinhã em 1920. Homem de fé, morreu no passado domingo de Páscoa, dia 8 de abril, na Atalaia, no Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, onde vivia desde 2008 com a esposa, Maria da Graça. Morreu em paz, consigo, com os seus descendentes (4 filhos, 12 netos, 5 bisnetos), com Deus e com o mundo. 

(ii) Tinha raízes, pelo lado do pai, Domingos Henriques, no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar (clã Maçarico). Sua mãe, Alvarina de Jesus, morreu jovem, em 1922, de tuberculose, fato que o marcou para toda a vida: a mãe nunca lhe pôde dar um beijo!... E nos seus três últimos dias de existência, em que eu tive o privilégio de o acompanhar no seu leito de morte, evocou o nome da mãe Alvarina, por mais de um vez. Tinha uma enorme afeição por ela.

(iii) Viveu nos primeiros anos de infância com a nova família do pai, que casou pela terceira vez. Ao todo teve uma dúzia de irmãos. Fez a instrução primária (na época quatro anos de escolaridade) na velha Escola Conde de Ferreira (demolida pelo camartelo camarário antes do 25 de abril), sob a direção Professor José António, que ainda conheci na minha infância, pai do meu conterrâneo e amigo Jorge Pedro.


(iv) O seu primeiro emprego foi como marçano, ou melhor, como “máquina registadora e de calcular”, na loja do fotógrafo e comerciante Manuel Lourenço da Luz, que veio da Praia da Vieira para a Lourinhã, na primeira ou segunda década do séc. XX, e que foi pai do fotógrafo António José da Luz (Foto Luz). A loja, na Rua Miguel Bombarda, vendia uma miscelânea de artigos fotográficos, vidraria, molduras, papelaria e bijuteria. O meu pai era muito rápido e fiável a fazer contas. [Vd. foto à esquerda, cortesia da bisneta do Manuel da Luz, a Ana Luz Pignatelli].

Terá trabalhado para o seu primeiro patrão, na Lourinhã e na Praia da Areia Branca, a troco apenas da alimentação e de algumas gorjetas, durante cerca de 4 anos. O meu pai tinha recordações muito nítidas da época balnear, na loja da praia. Além da fotografia, o negócio do Manuel da Luz incluía o comércio de equipamento para caça e pesca. À segunda feira, ia com o patrão para a caça de patos, perdizes e coelhos ao longo do rio Grande…

(v) Aos 13 anos, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco de Sousa (Fofa), músico e industrial de sapataria. Aprende o ofício de sapateiro. É criado com os seus primos António Francisco Sousa, Carlos Sousa e Milu (esta felizmente ainda viva; e todos eles com excelentes dotes musicais: o António tocava saxofone e fundou a primeira "banda de jazz" da terra, o conjunto Sol Do Ré Mi; o Carlos era um especialista em prata na banda da Lourinhã; e a Milú uma bela menina de coro).

(vi) Aos 20 anos assenta praça no RI 5, Caldas da Rainha. Em 1941 parte para Cabo Verde, como expedicionário, com o posto de 1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI 5. Tinha memórias muito vivas (incluindo registos fotográficos) dos difíceis tempos que passou no Mindelo, Ilha de São Vicente (26 meses, entre julho de 1941 e setembro de 1943; nos últimos 4 meses esteve hospitalizado, por problemas pulmonares, entre maio e agosto de 1943).

A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses, o António Correia Caxaria, o Boaventura Horta,  o Jaime Filipe, o  Leonardo, e outros - naturais da vila, da Atalaia, da Serra do Calvo... - que pertenciam à mesma unidade (RI 23, constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44) (*). 

Numa época de elevado analfabetismo, sacrificava os seus tempos livres escrevendo dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos ainda se lembrava dos números de tropa de alguns dos seus camaradas, e até das moradas para onde enviava as cartas. Em nome do Fortunato Borda d'Água, do Cercal, Azambuja, por exemplo, chegava a escrever 22 cartas por semana... O Fortunato  tinha duas namoradas, "uma que chorava ao pé da mãe dele, e outra que se ria, em plena rua"... O meu pai um dia teve que o ajudar a decidir-se:
- Ó Fortunato, afinal de quem é que tu gostas mais ? Com queres casar ? Da que se ri, na rua, ou da que chora no ombro da tua mãe ?...
- Ó Luís, claro que é da que chora...

(vii) A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que fizeram dezenas de milhares de mortos, tiveram impacto na sua consciência de bom português e bom cristão. O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreu, de fome e de doença, em meados de 1943. Comove-se ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro. Lembro-me de ele me dizer que um cabo ganhava na época  qualquer coisa como 130$00 por mês... De volta à metrópole, não terá mais do que 200$00 ou 300$00 no bolso. Para ele o dinheiro nunca foi fêmea...


(viii) Do Mindelo escreve à sua namorada, futura noiva e esposa, e minha mãe, Maria da Graça:

Maria, minha cachopa,
Não me sais do pensamento,
Tão logo eu saia da tropa,
Trataremos do casamento…


De regresso à Lourinhã, em setembro de 1943, vinha cheio de saudades… de comer uvas. "Vinte e seis meses sem comer uvas, sabes o que é ?", interpelava-me ele, nas nossas conversas sobre Cabo Verde, no Bar dos Cinco Paus, na Praia da Areia Branca...


 Faz sociedade com o seu irmão Domingos Severino, dois anos mais novo, meu padrinho de batismo, já falecido. Abrem a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda. Chegam a ter bastantes empregados. Na época ainda não havia produção industrial de calçado. 

Casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe, filha de camponeses, criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia da Areia Branca e da Lourinhã, desde tenra idade (9/10 anos). Como rapariga que era, naquela época, só tinha a 3ª classe, tirada numa professora particular, mas sabia muito bem ler, escrever e contar. Sei que houve lagosta na festa do casório, a que assistiram amigos e parentes. Na época, a festarola terá ficado por 800$00 (se a memória não me atraiçoa).

 A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. Até 1964, a Maria da Graça dará à luz  ainda mais três raparigas: Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel.


(ix) Continua a jogar futebol, como atleta amador, e ao mesmo tempo participa na vida associativa das diversas coletividades da sua terra, desde o Sporting Club Lourinhanense (SCL) até aos bombeiros, a banda de música e a misericórdia. É mordomo de festas (como a da Sra dos Anjos e de São Sebastião). Quando morreu, era de há muito o sócio nº 1 do SCL, coletividade que de resto sempre o acarinhou e o homenageou, tanto em vida como na morte. Foi treinador de gerações de miúdos, das camadas juvenis, sempre ao serviço do SCL. Comprava-lhes as sandes para o pequeno almoço e arranjava-lhes as botas e aos domingos percorria o distrito de Lisboa, nos torneios de futebol...

Era um bom lourinhanense, muito querido e estimado por toda a gente. Espirituoso, bem humorado, com jeito para o improviso poético, definia assim a sua terra:


Lourinhã, uma vila catita, 
bonita, sem vaidade,
tem montras como uma cidade. 
Mas também ninguém nos engana: 
ao fim de semana, 
sem sol, sem bola e sem missa, 
é uma terra de preguiça… 

Ou noutra variante, mais mordaz:

Lourinhã tem três entradas, 
três saídas, três igrejas, três ermidas,
três moinhos de vento 
e... ladrões em todo o tempo!

(x) Trabalhador por conta própria, deu trabalho a muita gente, numa época em que o emprego era escasso e mal remunerado… Viu muita gente (incluindo os seus empregados) partir para os EUA, o Canadá, a França, a Alemanha, nos anos 50 e 60... Tinha inúmeros clientes, quer da vila, quer das aldeias mais a norte do concelho (do Sobral a São Bartolomeu) e até fora do concelho (Bufarda, por exemplo).  Terá percorrido, na sua vida, muitas dezenas de milhares de quilómetros, de bicicleta,  levando e trazendo calçado dos seus “fregueses”, que muito o estimavam. Aos 90 anos ainda tinha um coração de atleta...

O seu negócio teve altos e baixos, e conheceu vários sócios  e vários locais.  A sua última oficina , onde esteve mais de 30 anos,  foi na Praça Cor António Maria Batista, nº 9, na Lourinhã  (junto ao beco que liga à Rua João Silva Marques). 

Daí também o seu desabafo, sob a forma de parlenda popular: 

À segunda, o trabalho abunda; 
à terça, dor de cabeça; 
à quarta, trabalho à farta; 
à quinta, dança a pelintra; 
à sexta,  o patrão é uma besta; 
ao sábado, o patrão arreliado… passa-se para o outro lado!

 (xi) Foi, além disso, um bom pai e um avô carinhoso. Tinha orgulho nos seus  filhos [, na foto, à esquerda, os dois mais velhos, Luís e Graciete, c. 1950], netos e bisnetos, os quais, por sua vez, tiveram a rara felicidade de estarem junto dele na hora, difícil, da sua partida deste mundo. 

Viveu pobre e morreu pobre. Morreu com dignidade, vítima de doença prolongada. Tinha 12 netos e 5 bisnetos.  Escreveu,por sugestão minha,  um diário (cerca de 500 páginas manuscritas) entre 2008 e 2011. 

Viveu os seus últimos quatro anos no  Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, onde encontrou uma segunda família. Em 30/10/2008 escrevia no seu diário: 

“(…) nesta nova família que nos arranjaram, fico triste pelos que se encontram piores do que eu. Não tenho culpa de ter nascido assim. Por tudo isto,  sou feliz, embora pobre, mas alegre, e gosto de conviver com todos. É esta a minha política: esquecer as minhas dores lembrando dos que se encontram  bem piores do que eu (…)”.  

(xii) Os seus familiares e amigos mais próximos lembrá-lo-ão sempre como um homem simples mas único, que irradiava alegria de viver e boa disposição. Não deixa “obra feita”, como sói dizer-se. Mas o seu exemplo de generosidade, bondade e otimismo perdura para além da morte. É o património (imaterial) que nos deixa. Para os seus filhos, netos e bisnetos, foi um privilégio tê-lo como pai e avô. Para eles, foi e será sempre o melhor pai e avô do mundo.


(xiii) Uma palavra muito especial de agradecimento é devida à direção do SCL e ao  Lar e Centro de Dia da Atalaia (na pessoa da sua diretora técnica dra. Ana Caetano, do médico dr. Rui Martins e dos demais profissionais - grandes profissionais, grandes mulheres! - que cuidaram do meu pai, até à sua morte,  com uma inexcedível competência, dedicação e humanidade). Mas também aos seus parentes, amigos, conterrâneos e vizinhos que se interessaram pelo seu estado de saúde e que o acompanharam até à sua última morada na terra. 

Por fim, um xicoração muito especial aos elementos do Coro Municipal da Lourinhã, Rui Mateus, Moura (grande companheiro do meu pai nas jogatanas de damas), Quim Zé e Ana Mateus que no cemitério cantaram para ele e para todos nós a famosa e sublime canção alpina  “Signore delle cime”, composta em 1958 pelo italiano Giuseppe de Marzi: 

Dio del cielo, Signore delle cime,
Un nostro amico hai chiesto alla montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo:
Su nel Paradiso, sul nel Paradiso
lascialo andare per le tue montagne.

Santa Maria, Signora della neve,
Copri col bianco soffice mantello,
Il nostro amico, nostro fratello,
Su nel paradiso, su nel paradiso
Lascia lo andare per le tue montagne.

Dio del cielo, l’alpino chè caduto,
Ora riposa nel cuor della montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo.
Una stell’alpina, una stell’alpina
Lascia cadere dalle tue montagne.



Lourinhã > Abril de 1991 > Maria da Graça (n. 1922) e Luís Henriques (1920-2012)




Portugal > Cadaval > Adão Lobo > 18 de junho de 1950 > Equipa de futebol do Sporting Clube Lourinhanense (SCL) no campo de jogos do Adão Lobo. O segundo da primeira fila, da esquerda para a direita, assinalado com um círculo a vermelho, é o meu pai, Luís Henriques, então com 29 anos... Esteve toda a vida ligada ao futebol, quer como jogador quer como dirigente e treinador de futebol das camadas mais jovens...

Esta foto foi tirada no dia em que o Benfica (seu clube do coração) ganhou a Taça Latina, disputada no Estádio Nacional do Jamor, um dos ícones do Estado Novo. Como dizem as crónicas da época, foi o primeiro feito internacional do S.L. Benfica, e pôs o país a vibrar de emoção: primeiro, o Benfica eliminou a Lázio nas meias-finais, por 3-0; depois empatou com o Bordéus, por 3-3,na final, em 11 de junho; e na finalíssima, uma semana depois, venceu os franceses por 2-1.

Esta foto é também uma homenagem à geração do meu pai para quem o futebol foi uma paixão... Aqui ficam os nomes dos jogadores do SCL, identificados um a um no dia em que o meu pai festejou os seus 90 anos (tinha uma memória de elefante!):

"De pé, da esquerda para a direita, o filho do Vitor Pedro, o Miranda (Alfaiate), o Jorge Tarofa (ou Jorge Serralheiro), o José Costa (que haveria de morrer em Angola), o José Miguel, o Américo Russo, o Manuel Swing, o António Serralheiro; na primeira fila, da esquerda para a direita, o Vitor Pedro, o Luís Henriques, o António Zé da Graça [, guarda-redes], o Manuel Dias (Néu), o Artur Borges, e o João Borges". E acrescenta o meu pai: "Perdemos 3 a 2. Nesse dia faltaram três ou quatro dos nossos melhores jogadores: o Gino (ou Higino), o Mário Pepe, o Manuel Ferrador, o António Costa"... 

Quase todos estes lourinhanenses já morreram, com uma exceção ou outra: o Jorge Tarofa, por exemplo, ainda está entre nós; o Jorge Borges, não tenho a certeza. 






Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Junho de 1943. Alguns internados do depósito dos convalescentes. Entre eles, estou também eu, sentado, lendo [o livro ] Os Bastidores da Grande Guerra. Luís Henriques , 1º Cabo nº 188/41, 1º Batalhão Expedicionário, R.I. nº 5. S. Vicente. C. Verde" [ O meu pai é o primeiro da 1ª primeira fila, do lado direito, assinalado com um círculo a vermelho; esteve internado cerca de 4 meses, já no final da comissão, por doença de pulmões; a morbimortalidade entre os expedicionárias era elevada; o livro em, questão podia o ser de Adolfo Coelho, Nos bastidores da grande guerra, documentário, editado em 1934, em Lisboa, pela Livaria Clássica Editora].


Texto, fotos e legendas: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados


Uma versão mais curta deste texto foi publicado no jornal Alvorada, [Lourinhã,] nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26. E pode ser lida aqui também, no blogue A Nossa Quinta de Candoz.

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9744: Meu pai, meu velho, meu camarada (28): O RI 23, (re)constituído na Ilha de S. Vicente (agosto de 1941/dezembro de 1944): a unidade a que pertenceram Luís Henriques, Ângelo Ferreira Sousa, Porfírio Dias e Armando Lopes (José Martins)