segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22597: Agenda cultural (786): Convite para a apresentação do livro "Nunca Digas Adeus às Armas (Os primeiros anos da Guerra da Guiné)", por António dos Santos Alberto Andrade e Mário Beja Santos, dia 18 de Outubro de 2021, pelas 18 horas, no Pálácio da Independência - Largo São Domingos, 11 - Lisboa

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22583: Agenda cultural (785): Apresentação do livro "Ataque a Conakry", de José Matos e Mário Matos e Lemos, dia 21 de Outubro, às 17 horas, no Palácio da Independência - Largo de São Domingos - Lisboa

Guiné 61/74 - P22596: Notas de leitura (1387): Imagens à procura de comentários: Augusto Trigo e a CART 1746 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
A folhear um acervo documental dos herdeiros do General Schulz, chamou-me a atenção a belíssima imagem de um álbum de Augusto Trigo, um artista luso-guineense a quem se faz a tremenda injustiça de não lhe conhecer a valiosa obra; e no meio daqueles dossiês e registos metodicamente organizados, saltou uma fotografia de gente que conheci, a CART 1746, por obra e graça da investigadora Lúcia Bayan aqui a faço chegar, ela é merecedora de comentários. Façamos isso em memória desse gentil camarada que foi o Capitão Vaz, é o meu pedido.

Um abraço do
Mário



Imagens à procura de comentários: Augusto Trigo e a CART 1746

Beja Santos

Sempre que me encontro com investigadores a estudar a Guiné Portuguesa, ou etnias da Guiné Portuguesa, ou estudiosos das guerras de África, não deixo de os alertar que continuamos com algumas lacunas graves no tocante a esses treze anos: a guerra da Guiné carece, e com algum grau de urgência, de uma tese de doutoramento sobre a governação de Arnaldo Schulz, nós pegamos nos manuais e não há investigador que habilidosamente circunscreva o período de 1964 a 1968 num arrazoado de linhas que não nos permite conhecer a estratégia utilizada por aquele oficial do Estado-maior quanto à ocupação da Guiné, depois das tremendas convulsões que se viveram em 1963; Portugal manteve relações diplomáticas com Cuba durante a guerra de África e não há nenhuma investigação que nos permita conhecer o que consta nos arquivos diplomáticos de Lisboa e Havana, nomeadamente quanto à participação cubana junto dos movimentos anticoloniais PAIGC e MPLA; o Estado de Israel apoiou a política colonial portuguesa, vendeu armamentos e explosivos, etc.

Em conversa com a investigadora Lúcia Bayan, que trabalho no doutoramento sobre a etnia Felupe, deu-me a saber que era depositária pelos herdeiros do general Schulz de um acervo documental e que mo gostaria de mostrar. E um dia aconteceu, folheámos um acervo impressionante de documentação de caráter institucional, vimos álbuns e recortes em doses maciças. No essencial, trata-se de documentação de utilidade subsidiária para quem estudar o Governador Schulz, são recortes de jornais, cópias dos seus discursos, álbuns com imagens à sua despedida, enfim documentação já publicada. Mas encontrei duas exceções. A lindíssima capa de um álbum fotográfico que lhe ofereceram com a cópia de um quadro de Augusto Trigo, um artista infelizmente pouco conhecido, guineense e com um trabalho apuradíssimo ao nível da banda-desenhada. Era bom que o Luís Vassalo, que tanta atenção tem dado à banda-desenhada com motivos na guerra de África, falasse da obra do Augusto Trigo.

No meio daquela caterva de documentos, saltou uma fotografia, via-se nitidamente que era uma imagem avulsa, sem nexo com tudo quanto ali aparecia organizado. Ela aqui está, refere uma viagem do General Schulz a Bissorã, à CART 1746, que esteve em Bissorã e no Xime, lembro-me perfeitamente do falecido Capitão Vaz, com quem estabeleci uma relação afetuosa, teve mesmo a gentileza de colaborar na apresentação de um livro meu. Apelo aos camaradas da CART 1746 que façam comentário desta fotografia, tão gentilmente cedida pela investigadora Lúcia Bayan. Ficamos todos a aguardar.


Capa de álbum fotográfico cedida pelos herdeiros do general Arnaldo Schulz à investigadora Lúcia Bayan, a quem se agradece a partilha. A capa do álbum reproduz um quadro a óleo de Augusto Trigo.
Augusto Trigo no seu ateliê.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22593: Notas de leitura (1386): "Um caminho de quatro passos", de António Carvalho (2021, 219 pp.): apontamentos etnográficos para o retrato da nossa geração, de antigos combatentes - Parte II (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P22595: Convite (16): Vilma e João Crisóstomo convocam as famílias Crispim & Crisóstomo, mas também amigos e camaradas, para um encontro no Mosteiro do Varatojo, Torres Vedras, domingo, dia 24/10/21, com missa às 12h30 por alma de todos os falecidos

 

Anúncio a publicar no jornal regionalista "Badaladas",  de Torres Vedras,
edição de 9 de outubro de 2021


1. Mensagem que o João Crisóstomo, a residir em Nova Iorque, e de momento de passagem por Portugal (com a Vilma, na Eslovénia), acaba de enviar a familiares, amigos e camaradas:

Caríssimo,

Conforme anúncio no "Badaladas", em anexo, este "encontro" tem uma dupla finalidade: reviver e alimentar a nossa amizade e ao mesmo tempo lembrar aqueles que nos foram/são nossos queridos e já nos deixaram.

Este será um momento para,  na celebração desta missa,  lembrarmos os Crispins e Crisóstomos; e todos os nossos amigos, especialmente aqueles com quem no passado partilhamos momentos na nossa vida em teatros de guerra ou em corredores de seminários, mas que são agora apenas saudosas memórias. 

 E em segundo lugar para aqueles com quem estamos ligados por amizades adquiridas depois ao longo das nossas vidas, podermos celebrar esta nossa amizade no claustro do nosso querido Varatojo (, convento do Varatojo ou mosteiro de Santo António, que remonta ao séc. XV, e éstá classificado como monumento nacional desde 1910).

Será um encontro/reencontro simples sem comes e bebes, mas que nos permite matar saudades causadas por longas ausências, devidas a distâncias físicas; ou, não sendo esse o caso, pelas circunstâncias da vida que, mesmo vivendo perto uns dos outros,   nos impõem separações como se estranhos fôssemos uns dos outros.

Para este reviver e alimentar amizades…esperamo-vos a todos de braços abertos. (*)

João e Vilma

2. Anterior mensagem do João Crisóstomo, dirigida ao editor do blogue:

Data - quinta, 23/09/2021, 03:14 



Assunto - Encontro no Varatojo, 24 de outubro de 2021


Caro Luís Graça,
 
Não tinha intenção de te escrever hoje, mas o decorrer do dia de hoje aconteceu ser para mim muito rico em memórias, na maioria relacionadas com a Guiné e camaradas que já nos deixaram. E por isso quase me sinto na necessidade de o fazer ainda hoje, enquanto as coisas ainda estão bem frescas 

Mas antes disso deixa-me falar-te dum encontro no Convento de Varatojo, de cuja intenção te falei há tempos.

Custar-me- ia imenso vir a Portugal e não ter possibilidade de ver/encontrar os meus familiares e amigos. É sempre essa uma das razões, senão mesmo a primeira, que me trazem a Portugal.

Mas as limitações impostas pela pandemia ainda não possibilitam fazer um encontro como tenho feito nos últimos 14 anos. Pelo que decidi desta vez cingir-me ao que fiz nas duas primeiras vezes em que reuni as minhas famílias Crisóstomo e Crispim.

 Nessas alturas pedi que fosse celebrada uma missa em que todos os membros destas duas famílias já falecidos fossem lembrados; ao mesmo tempo que dava a conhecer o evento, sugerindo que seria uma boa ocasião para um abraço entre nós, especialmente aqueles a quem eu de outra maneira não tinha tido ocasião de ver e cumprimentar.

No primeiro ano o encontro foi presidido por um padre, primo meu, e no segundo ano, na impossibilidade deste,  foi o Sr. Padre Melícias que celebrou esta missa.

Este ano vou fazer o mesmo. Será no dia 24 de Outubro, Domingo, às 12.30. Já falei com o Padre Melícias, que assumiu as funções de superior do convento depois da morte do P. Castro no ano passado. 

Depois da missa, embora sem os costumados comes e bebes, teremos ocasião de nos podermos encontrar, observando as directivas necessárias no que respeita à Covid-19. O cclaustro é grande, céu aberto, quase como se estivéssemos num grande jardim ou no meio da mata.

Além dos meus familiares falecidos eu vou incluir os meus colegas de seminário e amigos/camaradas da Guiné. 

Portanto. estão todos convidados. Até porque alguns destes estão ou pertencem a ambos grupos. Como seja o caso do Francisco Figueiredo, que foi depois da Guiné, foi comandante da TAP, ou o caso dum primo meu, natural do Sobreiro Curvo, José Carlos Vieira Martinho, cuja triste história, enviada pelo nosso saudoso Eduardo, foi contada no poste P 19824, no dia 25 de maio de 2019 (**). Sobre ela tu comentaste:

"Eduardo: uma história terrível, como muitas outras que aconteceram na Guiné. Só que esta tocou-te, e de que maneira, a avaliar pelas tuas palavras sentidas. Fizeste bem em reconstituir esta história. Também precisavas de fazer o luto... Andaste meia vida para contar, em público, esta perda trágica do teu amigo e vizinho".

Acabei, entretanto, de visitar Coimbra (incluindo o cemitério da Conchada) e o Bussaco, e isso despertou em mim um rio, irrepremível, de emoções e memórias, nomeadamemte em relação a amigos e e camaradas da Guiné, que já nos deixaram,   a cameçar pelo  Maldonado, cuja campa descobri,  mas também 
o Mano,  o Abna na Onça, o Queba Soncó, o Açoriano e outros que acabaram a sua vida nas terras da Guiné a par dos que, tendo voltado,   da lei da morte já entretanto se libertaram : o Zagalo, o Pires, o Rosales, o Eduardo… Falarei desta visita ao cemitério da Conchada, em Coimbra, em próximo poste.

É, por isso, que  o encontro em Varatojo não será só uma reunião dos meus familiares e amigos. Será antes uma "reunião familiar em sentido bem lato”, tão abrangente quanto o coração, memória e imaginação de cada um de nós o quiser fazer.

João Crisóstomo

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Notas  do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22586: Convite (15): Encontro de ex-militares milicianos e amigos que estiveram directa ou indirectamente ligados à contestação antimilitarista e anticolonialista, dia 7 de Outubro de 2021 na Casa do Alentejo

(**) Vd. poste de 25 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19824: Efemérides (302): Faz hoje 46 anos que morreu, na sequência de ferimentos em combate (, um estilhaço de RPG 7, ) o fur mil cav João Carlos Vieira Martinho, do EREC 8740/73, sediado em Bula... Era meu amigo e vizinho do Sobreiro Curvo, A dos Cunhados,Torres Vedras, e eu fui o último dos seus conhecidos a vê-lo, ainda com vida, mas já em coma profundo, no HM 241, em Bissau (Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, jan 1973 / set 1974)

domingo, 3 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22594: In Memoriam (408): Lissy Jarvik (1924-2021), de origem judia holandesa, foi salva por um visto do nosso Aristides Sousa Mendes; mais tarde, já eminente médica, especialista em psiquiatria geriátrica, tornou-se uma dos grandes paladinos da memória do cônsul português de Bordéus (João Crisóstomo, Nova Iorque, agora de passagem por Portugal)


Lissy Jarvik, em declarações à RTP, em Lisboa, em 2016: "Sem Aristides de Sousa Mendes, eu não teria vivido os últimos 76 anos"

Fonte: Fotograma do vídeo (2' 02'') da reportagem "Refugiados salvos por Aristides de Sousa Mendes em Portugal". RTP Ensina (com a devida vénia...)



1. Mensagem de João Crisóstomo dirigida aos embaixadores portugueses Domingos Fezas Vital (EUA) e Franscicsco Duarte Lopes (Nações Unidas), com conhecimento ao nosso blogue:

Data - sábado, 2/10, 23:03 (há 15 horas)
Assunto - Lissy Jarvik / Aristides de S. Mendes



Exmos Senhores Embaixadores Domingos Fezas Vital e Francisco Duarte Lopes,

Permitam-me este e mail em simultâneo, pois que honestamente não sei a quem o deva dirigir.

Estou em Portugal de momento e há dias constou-me que o Senhor Embaixador Domingos Fezas Vital nos ia deixar, o que muito lamentamos, mas creio que se nos vai deixar é porque algum valor mais alto se apresenta. Talvez neste momento “congratulações” sejam mais apropriadas do que “lamentações", mas por enquanto foi tudo o que me disseram.

Ao mesmo tempo informaram-me que o Senhor Embaixador Francisco Duarte Lopes ia deixar de ser o nosso representante nas Nações Unidas para ir representar Portugal e os portugueses em Washington. De coração a ambos as minhas felicitações e os melhores votos, sentimentos que minha esposa Vilma comunga também de coração.
 
E porque tenho sido privilegiado pelo favor da amizade de ambos, permitam-me um pedido , partilhado da mesma maneira pela minha esposa Vilma, que esta amizade que generosamente nos têm concedido continue como até aqui, na certeza de que faremos o possível para continuarmos a merecer a vossa amizade.

E agora o fim primeiro deste e-mail : Acabo de saber que a eminente Professora Dra. Lissy Jarvik, ( de 97 anos) que recebeu um visto de Aristides de Sousa Mendes, acaba de falecer. Ambos Vossas Excelências sabem tão bem ou melhor do que eu o papel que ela representou no reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes, junto do Yad Vashem - Centro Mundial de Lembrança do Holocausto, filmes /documentários em que o seu testemunho e figura foram proeminentes, as muitas conferências e trabalhos,  etc. 

Logo em 1996 quando comecei a “relançar" o reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes nos Estados Unidos - onde na altura toda a gente, incluindo os muitos Rabis e outras figuras responsáveis que contactei, pareciam ter esquecido o nosso grande humanista - , Lissy Jarvik, deu-me o seu apoio entusiasta. 

 Os apoios de Elie Viesel, Eric Saul, Baruch Tenembaum, Presidente da IRWF - International Raoul Wallenberg Foundation ( de que o Papa Francisco, António Guterres, Padre Melícias, e muitos Prémios Nobel são membros) permitiram que este reconhecimento fosse significativo. 

 Na grande Exposição "Visas for Life Exhibit" , nas Nações Unidas em Abril de 2000; no 50º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes, celebrado em 21 países, na semana de Junho de 2004, data em que em que nasceu o Projecto “Dia da Consciência", reconhecido pelo Papa Francisco em 17 de junho de 2020, Lissy Jarvik esteve sempre presente com o seu entusiástico apoio.

 E em 2010/2011 quando nasceu a Sousa Mendes Foundation US foi Lissy Jarvik a quem foi dado o cargo e responsabilidade de primeira Presidente da Fundação. Curiosamente eu e ela deixamos ambos a Direcção desta Fundação quase na mesma altura, para continuarmos depois e até hoje apenas como “advisors”  da mesma.

A família de Lissy Jarvik acaba de contactar a Sousa Mendes Foundation US  pois querem convidar o consul português em Los Angeles para estar presente no seu enterro que deve ter lugar amanhã, domingo dia 3 ou na segunda feira, dia 4; ainda não tinham ou não sabiam a data certa.

Como disse atrás,   não sei a quem me dirigir neste momento. Sei que a vossa compreensão compensará a minha ignorância. Mas peço-lhes encarecidamente que deem as vossas instruções a quem de direito nesse sentido. É o mínimo (ela merece muito mais!) que podemos fazer. Lissy Jarvik merece a nossa gratidão pelo que tem feito pelo reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes.
 
A urgência (a notícia/pedido chegou-me há momentos) leva-me a pedir o favor que tal pedido seja atendido tão cedo quanto possível. Fico aguardando o favor da vossa compreensão e ajuda.

Os meus respeitosos cumprimentos.
João Crisóstomo

crisostomo.joao2@gmail.com
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22551: In Memoriam (407): Celestino Augusto Patrício Bandeira (1946-2021), ex-Fur Mil da CCAÇ 2316/BCAÇ 2835 (Mejo, Guileje e Gadamael, 1968/69)

Guiné 61/74 - P22593: Notas de leitura (1386): "Um caminho de quatro passos", de António Carvalho (2021, 219 pp.): apontamentos etnográficos para o retrato da nossa geração, de antigos combatentes - Parte III (Luís Graça): a excursão de 4 dias, a Lisboa, em 1959


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Quinta de Candoz > Vindimas > 1979 > "De calças arregaçadas até ao joelho ou em cuecas, lá vão eles [, amigos, vizinhos e familiares do dono] pisando e repisando os cachos das uvas tintas até que a grainha comece a boiar no cimo do mosto. Às mulheres era interdita esta função: 'estragavam o mosto', diziam os antigos. Era um tabu que, a custo, só hoje foi esquecido e ultrapassado." (*) ...

No foto, vê-se, de perfil, ao canto direito, o dono da casa e da quinta, o José Carneiro (1911-1996), aos 68 anos. Está a servir canecas de vinho tinto aos homens do lagar que fazem uma pausa para comer uns peticos (ovos mexidos com salpicão mais aletria quente com canela...). Faria 110 anos, se fosse vivo, no passado dia 26 de setembro. 

O lagar já não existe, a casa, com paredes de granito de 200 anos, foi reconstruída... Os campos, em solcalcos, outrora de milho, roubados à floresta de castaheiro e carvalho, deram origem a uma moderna vinha... É hoje a sede da Tabanca de Candoz. 

E já não se produz tinto, só branco... Que este ano andou pelos habituais 13 graus... Castas principais: pedernã (arinto) e azul...Outras: loureiro, avesso, alvarinho... Subregião de Amarante...O grosso das uvas são agora entregues à Aveleda, Penafiel... A vinha dá para manter as despesas do casarão...

Mas lembro-me, em 1979, do "privilégio" que senti, por, aos 32 anos, e pela primeira vez na minha vida, ter sido convidado para ir pisar uvas (tintas) num lagar de pedra... Eu tinha chegado a (e sido aceite em) aquela casa há 3 anos atrás e já tinha dado uma neta ao dono da casa (, de resto, já avô de um bando de netos)... 

Nunca mais entrei num lagar, lugar sagrado.

Não sendo propriamente um "menino da cidade", tendo vivido numa pequena vila, Lourinhã, com avós, tios e primos ali ao lado, no campo (Nadrupe e Quinta do Bolardo), a escassos quilómetros, acompanhei até aos 10, 11, 12,  anos algumas das atividades marcantes da vida rural, como as vindimas, em setembro, ou a matança do porco, em pleno inverno,

Na região do Oeste, na altura uma das regiões do país com mais produção vitivinícola (até aos anos 60), vinham ranchos de homens e mulheres das Beiras, os "ratinhos" ou "bimbos", vindimar os milhares de hectares de vinha que havia espalhados pela Estremadura e Ribatejo... Deslocavam-se em grupo, com um capataz, e dormiam nos palheiros, como animais... Depois, os homens foram para a guerra ou a salto para França, arrancaram-se as vinhas, mecanizou-se a agricultura, a vinha e o trigo deu lugar a outras culturas mais rentáveis, primeiro os pomares de pera rocha e depois as hortícolas ...

Mais tarde, a partir de 1976, descobri as vitivinicultura Norte, na região do vinho verde, e ainda a tempo de "apanhar em andamento o passado", a vinha de enforcado, as latadas, o milho, os engenhos (moinhos), as tradições comunitárias como as "serviçadas", a matança do porco,  os carros de bois "a chiar pelos montes acima", a parceria agrícola e pecuária (formas pré-capitalistas de peodução) , as feiras de gado, as romarias, os bailes mandados, etc.... E, pela primeira vez (e única) na minha vida também ajudei a pisar a uva (tinta, sim, porque o branco faz-se "de bica aberta")...

Legenda: da esquerda para a direita, os seguintes familiares e amigos do dono: Luís Graça (genro), Gusto (genro), Quim (genro), Manel (filho), António (filho) e Fernando (amigo da família, cunhado do Manel)

Foto (e legenda) : © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Estas  tradições, ligadas a uma economia agrícola fracamente monetarizada, e ainda em grande parte de auto-subsistência (como aquela que se praticava até aos anos 50/60), hoje já se perderam, embora perdurando na memória dos "antigos"...  

Voltei a encontrá-las (e a saboreá-las) no livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" (**). Há similitudes entre Medas (Gondomar) e Candoz (Marco de Canaveses): estamos a escassos 60 quilómetros de distância, na mesma região, a de Entre Douro e Minho. 

A primeira parte do livro (e nomeadamente a reconstituição do quotiano da vida rural em Medas, Gondomar,  até aos anos 60 do séc. XX) tem inegável interesse documental (e até etnográfico).  E sociológico: muitos dos homens e mulheres da nossa geração (, a que fez guerra colonial / guerra do ultrmar, 1961/74) conheceram a dureza da vida no campo e e do trabalho agrícola, e, em muitos casos, foi vítima, "avant la lettre", da exploração do trabalho infantil.

Para além da riqueza das observações sobre as culturas e as atividades agrícolas, os apontamentos que o autor nos deixa sobre a sua infância são saborosos  pelos regionalismos ou provincianismos usados, parte dos quais  continuam por grafar nos nossos dicionários ou então são deconhecidos de muitos falantes da língua portuguesa, a começar pelos citadinos e pelos nais novos.

Há uma subcultura camponesa do Norte que está em extinção. Na realidade, quem sabe o que é uma "pipa" e sua equivalência em litros ?  E menos ainda o signifocado de "desarroar as pipas" (tirar o sarro)... "Canastro" (ou espigueiro) também é um vocábulo estranho a um lisboeta. Tal como "canistrel" (pequeno cesto de vime). Tal como "calda bordalesa", "pingue de poro"... Ou ainda "queiró, carqueja e tojo".

A "ajuda rogada" é uma expressão idiomática que me parece muito mais nortenha do que sulista. Ou mesmo se pode dizer de "carro de milho" como medida, ou o "almude" ou a "talha de barro almudeira" (onde se guardava o azeite)... 

Embora o sistema métrico tenha entrado em vigor em Portugal, por volta de 1860, com a intenção de se uniformizae o sistema de pesos e medidas (, mudança fundamental para a criação de um verdadeiro mercado e, portanto, para o desenvolvimento da economia capitalista), persiste até hoje, no campo, o uso das antigas unidade de  medidas portuguesas, como por exemplo, moio, alqueire,  quarta, oitava, maquia , etc. (medidas de capacidade para secos); ou tonel, pipa, almude,pote, canada, quartilho, etc. (medidas de capacidade para líquidos).

Há expressões deliciosas, castiças, como "à  medida que crescíamos e íamos cabendo no lagar", "tanger os bois", "guiar à soga", "o moleiro que arrochava os sacos de farinho sobre o dorso das mulas", "os dois porcos grandes, que se queriam gordos", "um terço de despacho (desembaraço)"... Enfim, vocábuos e expressões, de sabor castiço, que enriquecem a língua portuguesa, embora tendam a desparecer ou sejam cada mais de uso local ou restrito.

Por isso, volta aqui a reproduzir-se alguns excertos das primeiras páginas do livro (pp. 15-19), com a amável condescendência do autor, e como incentivo à sua leitura integral.



Capa do livro do antónio Carvalho (**)


A PISA E A DESFOLHADA

Setembro era o mês de maior azáfama, porque se juntava a colheita do milho e a vindima, não havendo um minuto de folga naqueles dias ainda grandes, mas já sem as reparadoras sestas. 

Na nossa casa [ em Medas].e nas de envergadura semelhante era sempre preciso assalariar mulheres , sobretudo na vindima, mas também na colheita do milho porque, antes que viessem as chuvas de outubro, o vinho tinha que estar nas pipas e as espigas no canastro. 

Enquanto um carro [de bois, não havia ainda ] andava no transporte das uvas, dos campos para o lagar, o outro carregava as espigas, para a eira. O lagar grande, de quatro pipas, levava dois dias a encher, mas o mais pequeno ficava lotado num só dia. Se hoje havia uma pisa , amanhã podia haver uma desfolhada. As uvas eram pisadas à noite, sempre com a ajuda rogada dos nossos vizinhos. 

Nós, os da casa, à medida que crescíamos e íamos cabendo no lagar, não tínhamos como evitar esse esforço acrescido, mesmo depois de um dia de trabalho pesado. 

É certo que, quando chegávamos ali aos treze ou catorze anos, entrar pela primeira vez no lagar era sinal de que já éramos homens e essa assunção, havia muito tempo almejada, de uma pretensa maioridade, envaidecia-nos. 

O meu avô nunca pisava, mas estava sempre presente para servir vinho e cigarros aos pisadores, ao mesmo tempo que apontava para um ou outro ponto do lagar onde a grainha ainda não tinha chegado à superfície, sinal de que era preciso ali mais pé. O meu pai, esse andava por ali a dessarroar as pipas e a apertar-lhes as aduelas ou agarrado à prensa a aproveitar os últimos litros de vinho. 

No fim de cada pisa, à ordem do meu avô, saia o primeiro pisador e só se lhe seguia o segundo depois do primeiro ter lavado as pernas, e assim sucessivamente até ao último. 

Alguns pediam aguardente para se livrarem da comichão nas pernas aproveitando para, de um só trago, engolir um pequeno copo dela, antes que todos subissem as escadas de acesso à nossa grande cozinha, onde a minha mãe e a minha tia tinham posto na mesa três travessas grandes de arroz de tomate com bacalhau frito. 

Lembro-me de me sentir grande quando já fazia parte do grupo dos pisadores, sentado ali à mesa, com os meus irmãos mais velhos e o pessoal de fora.

As desfolhadas eram feitas também à noite, ao ar livre, com a luz do luar, se fosse dia dele, com a ajuda de algumas pessoas vizinhas, das nossas boas relações, sobretudo mulheres e raparigas bem novas que se juntavam na nossa eira, a pouco mais de cem metros de casa. Alguns, ainda crianças, à medida que o folhelho se ia juntando, adormeciam cansados, debaixo dele. 

Havia sempre um dos meus irmãos a subir a escada de acesso ao canastro, onde cabiam mais de seis carros de milho, enquanto outro se ocupava a acomodar as espigas dentro das divisórias. 

Era ali que as espigas ficavam a secar, para serem debulhadas, à mediada que precisássemos do milho, em qualquer dia de céu limpo. Debulhava-se sempre para cima de um carro de cada vez, guardando-se o milho, já limpo, numa das caixas grandes que tínhamos em casa. 

E era dessa caixa, enorme aos meus olhos de criança que, todas as semanas, se enchiam dois sacos para entregar ao moleiro que os arrochava sobre o dorso das mulas.

E não era demasiado o milho que mandávamos moer, porque para além da farinha para a fornada semanal, também os dois porcos grandes, que se queriam gordos, gastavam dela.


A CULTURA DA BATATA

Logo a seguir ao milho e ao vinho,  a batata era o produto mais representativo na nossa casa de lavoura, em termos de volume e de rendimento. 

Desde a década de quarenta até à minha adolescência uma parte significativa do trabalho era dedicado ao cultivo deste tubérculo que, semeado entre março e abril, não carecia de rega, adaptando-se assim muito bem aos nossos terrenos onde a água não abundava. 

O meu avô e mais tarde o meu pai deram uma especial atenção ao incremento desta cultura e terão sido, durante duas ou três décadas, os maiores produtores de batata da freguesia. 

Em quase metade dos nossos campos, bem estrumados, semeávamo-las, ficando os restantes, aqueles que podiam ser regados, dedicados ao milho e feijão consociado. Depois de se ter coberto o terreno com uma boa camada de estrume, lavrava-se e gradava-se com os bois. 

O trabalho de que mais gostava, aí pelos meus oito ou nove anos, era de me sentar na grade, agarrado com uma das mãos a uma das travessas enquanto que, com a outra munida de uma vara, tangia os bois à ordem do meu pai ou de um irmão mais velho que os guiava à soga. 

Não me dói a consciência por , com o meu peso, exigir aos bois aquele esforço suplementar, porque, se não fosse eu a desfrutar daquele prazer, um calhau grande seria lá posto na minha vez para fazer os dentes da grade penetrar bastante na leiva.

Encontrando-se a terra bem desfeita logo se começava a semeadura. Numa ponta do campo, aproveitando a sombra de alguma árvore, à minha mãe cabia sempre o trabalho de partir as batatas de semente, o que ela fazia com uma rapidez impressionante, tendo ainda o cuidado de deixar um só galeiro para cada bocado. 

A minha avó materna também ajudava algumas vezes bem como a minha tia Quina, mas ficavam-se por um terço do despacho da minha mãe. O meu avô dirigia as operações dos homens da enxada, enquanto o meu pai já andava a lavrar outro campo. 

Havia normalmente dois ou três homens a abrir regos e meu avô, sabendo da capacidade e vontade de cada um, mandava sempre o mais lento começar no primeiro rego, deixando o último para o trabalhador melhor, forçando deste modo os mais lentos a andar da perna, antes que o mais rápido esbarrasse com ele, o que seria uma vergonha para o atropelado. 

A mim, como a qualquer um dos meus irmãos, a partir dos sete ou oito anos, estribados por uma varinha de vinte e cinco centímetros, cabia-nos a tarefa de dispor as batatas nos sulcos que os adultos iam abrindo.

Naquele tempo não se usavam herbicidas, por isso logo que as primeiras ervas daninhas afloravam à superfície recorria-se ao trabalho de mulheres que vinham fazer a sacha removendo toda a vegetação nociva. 

Entretanto era preciso pulverizar os batatais com calda bordalesa e inseticida de modo a erradicar-se o míldio e o escaravelho. Julho e agosto eram os meses da colheita e do armazenamento numa loja fresca e escura. Tínhamos batatas em barda e, como a produção excedia largamente o consumo, vendíamo-las para as mercearias da freguesia e até para o Porto onde as fazíamos chegar por barco rabão.

Os campos de batatas ficavam disponíveis para nova cultura , a partir de agosto, semeando-se então, nabos, em quase todos eles, no mês de setembro, logo que, na mudança do vento, se adivinhava a ocorrência das primeiras chuvadas outonais, aproveitando-se a generosa estrumação de que tinham beneficiado. 

A cultura do nabal era também muito rentável, até aos anos sessenta, quando vinham diariamente meia dúzia de mulheres da outra margem do rio, comprar grandes quantidades de nabos que carregavam em gigos bem acogulados, destinados à alimentação humana e à engorda de porcos.

A ÁREA BRAVIA E A  LAVRADIA

Nenhuma casa de lavoura podia ter grande expressão nem sustentabilidade se não tivesse uma área de terreno bravio proporcional ao terreno lavradio, onde os lavradores tinham as suas reservas de mato para as camas do gado. 

E a importância dos matos, constituídos fundamentalmente por queiró, carqueja e tojo,  tornou-se mesmo decisiva, quando a cultura do milho e da batata se impuseram, em detrimento da cultura do linho e dos cereais de grão miúdo, no séc. XIX, exigindo a estabulação do gado bovino para, deste modo, se obter maior quantidade de estrume. 

Ora nessa área de terreno  inculto, dispersa por várias parcelas a que os lavradores chamavam sortes, por terem sido distribuídas  por sorteio, em número proporcional à área agricultada de cada um, não crescia só o mato, mas medravam ainda o pinheiro e o eucalipto, para além das espécies autóctones, como o carvalho, o sobreiro, o castanheiro, o salgueiro e o medronheiro, estes em progressiva redução. 

Os lavradores maiores que tinham excedentes de mato,  vendiam, para os fornos do Porto, alguma carqueja e queiró, mas era na venda de lenha de eucalipto e pinho que eles, anualmente, incorporavam no seu orçamento familiar, uma verba significativa.

 Habitualmente era no fim do verão fim do verão que vendiam os seus pinheiros, reservando para consumo doméstico toda a ramagem que era empilhada ao lado das casas, perto da cozinha, numa meda proporcional ao número de pessoas de cada família. Eram essas rameiras, em vez das lenhas mais nobres, que se utilizavam nas  lareiras de quase todas as casas, antes da chegada dos fogões a gás e a eletricidade

A lenha das videiras que resultavam da poda, bem como os carolos do milho eram também combustíveis excelentes usados nas lareiras e nos fornos domésticos. As famílias que não tinham sortes pediam aos lavradores autorização para cortar uma rodada de ramos em cada pinheiro, carregando-os em feixes à cabeça, até suas casa. 

As medas de ramos de pinho feitas todos os anos, no fim do verão, à porta de cada família, faziam também parte dos monumentos rurais da minha freguesia e das vizinhas, e pelo seu tamanho também se ajuizava da pujança da casa.


O AZEITE , O ÓLEO DOURADO


Na agricultura de auto-suficiência tudo o que fosse importante para a alimentação havia de ser produzido numa casa de lavoura. 

Mas a oliveira não gosta dos ares marítimos do litoral nem dos nevoeiros, por isso dificilmente alguma casa de lavoura das Medas, por maior que fosse, produzia meia pipa de azeite [talvez cerca de 200 litros]. em anos bons, sendo que, na rigorosa gestão da nossa casa, era imperativo guardá-lo, dos anos melhores para os minguados. 

Entre novembro e dezembro  era a altura de se colher a azeitona nas oliveiras invariavelmente plantadas no bordo dos campos, para não ensombrarem as outras culturas. O povo dizia que eram aneiras, por isso nunca acreditava que a um ano farto pudesse suceder outro igual e tratava-as como parentes pobres da agricultura, sem grandes cuidados,  deixando que as copas se desenvolvessem na vertical, sempre com o propósito de  evitar que se apoderassem do solo com a sua sombra.

A colheita era quase toda feita através de escadas de pinho com passais de oliveira que os rapazes ou homens feitos escalavam, de canistrel na mão, para chegarem até onde fosse possível. Nalguns casos era mesmo imperioso varejar os ramos mais altos.

 Ultimamente estendíamos, debaixo de algumas oliveiras, um panal feito de serapilheira para a recolha da azeitona que varejávamos do chão e de cima das escadas. 

A azeitona colhida mais cedo e sempre à mão era para curtir em talhas de barro almudeiras, e era também nestas talhas grandes que se guardava o azeite, esse preciosíssimo óleo que era servido à mesa muito moderadamente e quase só em batatas cozidas, quando não fossem acompanhadas de carne gorda.

Na culinária a gordura que se usava mais frequentemente era o pingue de porco, branco como a neve, guardado em pequenas talhas para o ano.

António Carvalho

(Continua)

PS - Selecão de excertos, itálicos e negritos, da responsabilidade do editor LG.

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Fonte: António Carvalho - Um Caminho de Quatro Passos. Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 218 pp., ISBN: 978-989-731-187-1.

O livro pode ser adquirido, ao preço de 15,00 Euros (portes incluídos, no território nacional ou estrangeiro) Contactos do autor, António Carvalho, Medas, Gondomar

Email: ascarvalho7274@gmail.com | Telemóvel: 919 401 036

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

24 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21388: Manuscrito(s) (Luís Graça) (191): Quinta de Candoz: vindimas, a tradição que já não é o que era... (Augusto Pinto Soares) - Parte I

(**)  Vd. postes de:


3 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22593: Notas de leitura (1386): "Um caminho de quatro passos", de António Carvalho (2021, 219 pp.): apontamentos etnográficos para o retrato da nossa geração, de antigos combatentes - Parte II (Luís Graça)

(***) Último poste da série > 16 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P23003: Notas de leitura (1419): Prefácio do nosso camarada Adão Cruz, ex-alf mil médico, CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Caquelifá e Bigene, 1966/68) , ao livro "A Máscara (teatro)" (2015), de Alberto Bastos, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73)

Guiné 61/74 - P22592: Parabéns a você (1994): Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS - STM (Piche e Bissau, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22578: Parabéns a você (1993): António Bastos, ex-1.º Cabo At do Pel Caç Ind 953 (Cacheu, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66)

sábado, 2 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22591: Os nossos seres, saberes e lazeres (470): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (18): A Família Humana, exposição no Museu do Neorrealismo até maio de 2022 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
É uma bela oportunidade para conhecer uma coleção de fotógrafos famosos e o acervo, já hoje muito expressivo, da fotografia do Museu do Neorrealismo. O curador, Jorge Calado, delineou com enorme talento um percurso onde o humanismo faz fé e toma conta do nosso olhar, foi ambicioso e ganhou, quis revelar a universalidade da experiência humana, temos aqui inclusivamente a Lisboa de outras eras, imagens de Vila Franca e da Lezíria bem entrosadas com o mundo inteiro. Ninguém sairá daqui desiludido e muito menos a duvidar de que a fotografia, câmara escura e clara, é uma inegável dimensão do que melhor pode a arte.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (18):
A Família Humana, exposição no Museu do Neorrealismo até maio de 2022


Mário Beja Santos

O acervo de fotografia internacional no Museu do Neorrealismo já tem muito que se diga. Como escreve o curador desta exposição, Jorge Calado, a coleção “Família Humana” deste museu, conta agora com 375 fotografias de mais de 175 artistas, gente de 25 nacionalidades que fotografaram em 60 países dos 5 continentes. Ele repertoria o nome destes grandes mestres a que não faltam nomes portugueses como Carlos Relvas e Ernesto de Sousa. Devido às limitações de espaço, só é possível mostrar um terço da coleção, haverá periodicamente uma rotação das peças expostas.
A missão subjacente, continua a observar Jorge Calado, é de grande ambição: revelar a universalidade da experiência humana, à semelhança da célebre exposição de 1955 “A Família do Homem”, no Museu de Arte Moderna em Nova Iorque, que deu inclusivamente um belo livrinho, que comprei num alfarrabista que então existia na Calçada do Combro, teria eu uns 18 anos. Como o mundo encolheu, sentimos nesta deambulação fotográfica que estamos cada vez mais próximos uns dos outros, este ágape de fotografia humanista é uma grande angular, e a dita fotografia humanista que teve o seu auge nas décadas de 1930 e 1940 coincidem historicamente com movimentos e sensibilidades neorrealistas. O mesmo curador nos oferece um belo texto na folha que nos é entregue na receção:
“Somos novos e velhas mais os concebidos à espera de nascer. Somos magras e gordos; baixas e altos, morenos, ruivos e louras. A tez pode ser clara, quase branca, amarelada, rosada a virar para o avermelhado, castanha e escura até ao preto. Os olhos, azuis, garços, verdes, castanhos ou quase pretos. O cabelo varia entre o liso e o crespo e encaracolado. Os pelos mudam, e as sardas, também. Formamos todos e todas uma espécie, Homo sapiens, a Família Humana. Os cinco sentidos de comunicação, as emoções, o raciocínio – aquilo a que o povo chama o coração e a razão. O ápice glorioso da evolução”. Vamos entrar na exposição.



Diz o curador que uma exposição fotográfica forma um discurso complexo que cabe ao visitante completar e decifrar e que para facilitar a leitura, a exposição está organizada em sete secções e três núcleos, de acordo com as idades do homem e da mulher, sete como os dias da semana, as cores do arco-íris, as notas da escala musical ou os pecados mortais. Vamos contemplar facetas da religião, inevitavelmente imergir na Lezíria ribatejana, recordar como seria Lisboa durante a II Guerra Mundial. Pela itinerância, tomaremos partido sobre o que se passa pela rua, como se goza o lazer, como o trabalho é exigente e por vezes tão avassalador, como combatemos com as armas na mão. E no fim, aguarda-nos o mesmo fim, o término é igual para todos. E aqui estou, embevecido, foi o casal Roberto Rossellini, um mago do cinema, e Ingrid Bergman, uma senhora dona diva que jamais poderei esquecer. Como associamos as coisas mais estrambóticas do mundo, recordei o dia em que fui rever à Cinemateca Nacional o filme “Um Crime no Expresso do Oriente”, Albert Finney fazia de Poirot. No intervalo encontrei José-Augusto França e contei-lhe que tinha vindo ver aqueles prodigiosos seis minutos em que a Ingrid Bergman conquistou um Óscar de Atriz Secundária e ele respondeu-me que não me ficava atrás, tinha vindo rever a prodigiosa Lauren Bacall. É assim a Família Humana, Rossellini e Bergman com a filharada, pareciam bem felizes.


Aqui prefiro o anonimato, fico alheio se são católicos ou protestantes ou judeus, lembro a alegria de vermos os filhos a crescer, de lhes dar alimento, elas ou eles de perninhas tenras a alimentar-se com o nosso sorriso, é isso que me chega, o talento do fotógrafo de pôr toda a gente em movimento menos esta trindade do amor, isto me enche o coração.


A diva não precisa de apresentações, o que o fotógrafo registou e hoje caminha para a eternidade é um ambiente de bairro típico, o encontro entre a novel fadista e o guitarrista, o encontro entre a voz e as cordas, é um pátio de pedra vetusta, ou um troço de rua, o olhar daquela senhora do fado é o que mais conta, está inspirada, e a postura das mãos realça o que ela vai entoar no desassossego da sua alma naquele bairro antigo.


Foi um dos casais mais célebres da literatura universal, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, o que a fotografia capta é que estão unidos, provavelmente com os mesmos combates, distanciados pelo que se escreve ou lê, o que é de pouca importância, o resto é lenda, se eram solitários e mesmo infiéis um ao outro, legaram-nos obras sublimes, ainda hoje o teatro de Sartre me enche as medidas, seja As Troianas baseadas em Eurípedes, As Mãos Sujas ou As Moscas, dela prefiro o documento da despedida da mãe, mas não enjeito que tenha sido uma peça fulcral para o estudo da mulher, porque foi a ascensão da condição feminina um dos fenómenos determinantes do século XX.


O que o fotógrafo aqui explora não é a meditação de Arthur Miller, o famoso dramaturgo norte-americano, mas a cadeira vazia da superstar que curiosamente filmava argumento seu, Os Inadaptados, a superstar contracenava com um monstro sagrado, Clark Gable, que já preludiava o fim do seu próprio mito, mas há outra leitura possível para a cadeira vazia, tudo na vida do casal Miller/Marilyn acabou mal. A fotografia impressionou-me muito, peço desculpa ao leitor ter captado mal a imagem, escolhi ângulo errado, meti fotografia alheia no peito de Miller, besteira de amador.


Prefiro de novo o anonimato, é a celebração de membros de família que condescendem em sorrir, sabe-se lá em que circunstâncias, a criança não esteve para fazer pose e voltou-nos as costas e aquele menino crescido achou por bem que o tomassem a sério, tem a criança ao colo e aquela enorme mão estendida é manifesto do zelo protetor, e provavelmente afetivo. Uma grande beleza.


Algures, numa daquelas ruas bem estandardizadas num bairro popular de um rincão britânico, um fotógrafo ajeitou a perícia para nos dar a profundidade, uns laivos da identidade e aquela menina quer mostrar que é virtuosa no pino, exibe-se para crescidos e miúdos, o resto é vazio, é a perícia do pino que conta, o resto seguirá, de acordo com a rotina e as circunstâncias.


Quantas e quantas imagens mostram a mulher mortificada, neste caso toda a encenação é dúbia, ou o barco anda em bolandas no mar encapelado e ela pede a benevolência do Senhor ou também se pode dar o caso de que há para ali uma volumosa contenda e ela manifesta posição. É mistério à beira-mar, jamais saberemos se ela é vendedora de peixe ou trabalhava na indústria conserveira ou veio esperar membro da família. Ela ajeita o protesto talvez mesmo a dor, ponto final.


É a marca do trabalho duro no rosto, serão mineiros, será pó de carvão ou sílica, o céu parece ameaçador, o que me faz deter diante da fotografia é a dignidade destes olhares, como se estivessem a dizer “é para que vocês saibam a dureza do que fazemos para que nada vos falte”.


Ribatejo, sabemos o trabalho do forcado, mas fica sempre uma interrogação se ele chora ou limpa o suor, não nos dão mais pormenores sobre a lida, não saberemos se é cansaço ou tristeza, na praça ter-se-á passado algo em que naquele momento o touro não é importante, é o rosto escondido que nos intriga, ele até está vestido a preceito, o traje não andou a rojo, aconteceu algo, quem vê interprete como pode. Não são mais que os outros.


Um artista convidou Cruzeiro Seixas, quase centenário, a tocar em Deus, crucificado num cabide, desde que Marcel Duchamp deu outra vida aos objetos não há artista, mesmo surrealista, que não se sinta tentado a profanar o sagrado. É como se Cruzeiro Seixas pusesse Deus à nossa consideração, só ele pode manietar o gancho do cabide, dá-nos a ilusão de uma oferta personalizada. Aqui me quedei um bom tempo a saudar o fotógrafo e um grande artista que já partiu.

Amílcar Cabral, Dakar, 1969, por Uliano Lucas

Não conhecia esta fotografia de Uliano Lucas, ele terá seguramente querido reter não o líder em si mas o pensador africano, é um olhar que se estende ao infinito, há aquele braço que ajuda a meditar, o espaço é completamente nu, só o construtor de países é que conta.

Agora o leitor que se afoite, a exposição está à sua mercê até ao próximo ano, é uma boa ocasião para ir conhecer esta espantosa coleção de fotografia internacional, de sabor neorrealista mas não só.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22571: Os nossos seres, saberes e lazeres (469): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (10) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22590: (Ex)citações (394): Em cerca de 600 militares do Batalhão de Comandos da Guiné, 200 estiveram inscritos numa lista para seguir para a metrópole, com as respetivas famílias, confirma o último 2º comandante e comandante (jun/out 1974), ex-cap art 'comando' Glória Alves, de "uma das mais nobres e heróicas unidades militares portuguesas", em depoimento público de 2007, aqui transcrito (Cor art ref Morais da Silva)


Batalhão de  Comandos da Guiné

1. Reprodução de comentário do cor art ref Morais da Silva ao pposte P P22588 (*):

Não tenho dúvidas de que foi garantida a vinda para a metrópole dos militares comandos que o desejassem. Espanta-me que o depoimento PÚBLICO de um Oficial General presente na Guiné quando do fim da nossa presença, seja tratado em tom depreciativo apenas, porque sim! 

A contragosto publico o depoimento do 2ºCmdt, depois Cmdt do BatCmds/Guiné ao tempo da retirada portuguesa. Trata-se do então Capitão Comando Glória Alves que corrobora tudo o que foi afirmado pelo TenGen Sousa Pinto.
 
1 de outubro de 2021 às 22:39 


No Batalhão de Comandos da Guiné em 1974

Por Coronel Art “Cmd” Glória Alves 

Em 13 de Junho de 1974 desembarquei no aeroporto de Bissalanca, em Bissau, nomeado 2º comandante do Batalhão de Comandos da Guiné (B.Cmds/G.), que se encontrava em Brá. Acompanhava o comandante nomeado para a mesma Unidade, Major Florindo Morais.

Após a apresentação, passei a ocupar-me das funções que normalmente cabem a um 2º comandante, que eu desempenhava com o posto de capitão – administração e logística, instalação, cargas, material de guerra e de aquartelamento, etc.

Entretanto regressaram a Portugal as duas companhias de comandos do recrutamento metropolitano que lá se encontravam, o que deixou o comandante do batalhão sozinho no comando das três companhias de comandos africanos, a 1ª,a 2ª e a 3ª.

Em determinada altura recebi ordens do comando para fazer uma lista do pessoal do B.Cmds/G., que estivesse interessado em ir para a Metrópole e continuar a prestar serviço no Exército Português. As condições propostas eram as seguintes: podiam fazer-se acompanhar das respectivas famílias (alguns, muçulmanos tinham mais do que uma mulher) e seriam reintegrados no actual posto (o que no caso dos soldados era equivalente ao de cabo readmitido). 

Estas instruções foram transmitidas pela cadeia de comando do batalhão e a adesão foi média. Recordo-me que, de entre cerca de 600 militares (200 por companhia) que constituíam o batalhão, ofereceram-se para seguir para a Metrópole cerca de 200 militares. Neste sentido alertei o comando para efeitos de reserva de lugares nos meios de transporte que, na altura, várias vezes por dia escalavam o aeroporto e o porto de Bissau.

Os que permaneceram na Guiné e optaram por integrar o novo País teriam que se adaptar ao trabalho normal na sociedade civil, com direito ao pagamento dos seus vencimentos até ao final de 1974.

Paralelamente a estas actividades de desmobilização e na sua consequência, teria que ser entregue todo o armamento orgânico pertencente ao Exército Português e que se encontrava distribuído ao B.Cmds/G. Estas instruções foram, como as restantes, determinadas pelo comando legítimo, comunicadas pela cadeia hierárquica do batalhão e cumpridas na íntegra pelos militares que o constituíam.

Ainda na sequência da desmobilização do B.Cmds/G., fui nomeado presidente da Comissão Liquidatária (CL) e passei a movimentar-me entre o quartel e o Quartel-General (QG), com vista à regularização dos vários processos de carácter administrativo-logístico, que foram sendo resolvidos e arquivados, como certamente constará da documentação, entregue pela CL no BC5, em 1975.

Das diligências para providenciar transporte a quem queria ir para a Metrópole, interessa referir que, dos 200 nomes de militares interessados em fazê-lo, e que perante mim se inscreveram, fui sendo contactado individualmente no meu gabinete do Quartel por cada um dos inscritos, no sentido de riscar o seu nome, porque tinham decidido ficar. Isto até ao riscar do último nome. 

Assim, dos militares inicialmente interessados em ir para a Metrópole nenhum manteve o seu desejo. Lembro-me de ter indagado, nalguns casos, a que se devia tal decisão e de me ter sido respondido que, após pensarem melhor, tinham decidido ficar na Guiné. 

Como já referi, o material foi entregue e arrumado em contentores pelo pessoal do B.Cmds/G., nomeadamente pelos sargentos metropolitanos responsáveis pelos materiais, e embarcados para Lisboa. As instalações do batalhão mantiveram-se intocáveis e não ocupadas até à data do meu regresso à Metrópole (8-10-1974), por via aérea, tendo eu recolhido o guião do B.Cmds/G. e um saco de crachás, de que fiz entrega no R.Cmds, na Amadora. 

Resta acrescentar que a parte final foi mais acompanhada por mim, dado que fui nomeado comandante interino em Agosto de 1974 e que o comandante regressou a Lisboa no início de Setembro. Nessa fase e até sair da Guiné, estive diariamente no quartel de Brá com elementos da CL (chefe do conselho administrativo, chefe da Secção de Justiça, sargentos das companhias), tendo fechado a cancela no próprio dia em que embarquei para Portugal. 

Ao contrário do comandante, não tive quaisquer contactos directos com o PAIGC, nem na mata, nem noutro local. Deve também ser salientado que durante a presença das forças portuguesas na Guiné, não tive conhecimento oficial ou oficioso de quaisquer represálias sobre elementos ou ex-elementos do B.Cmds/G. por parte do PAIGC.

Deve também ser acrescentado que, mais do que a minha opinião, tentei cingir-me aos factos que presenciei. Mais histórias haveria para contar, mas entendi que este pequeno relato sintetiza o que de importante testemunhei durante os quase quatro meses da minha comissão omo 2º comandante do B.Cmds/G.

Para terminar, e embora não tenha anteriormente prestado serviço nesta Unidade, nem na Guiné, visto que fiz duas comissões nos “Comandos” de Moçambique, como alferes/tenente (4ªCCmds) e capitão (3ªCCmds / Moçambique), é justo referir que com o Batalhão de Comandos da Guiné se extinguiu uma das mais nobres e heróicas unidades militares portuguesas. 

Janeiro de 2007

2. Comentário do editor LG:

Por lapso, não chegou aa ser citada peli Prof Morais da Silva a fonte, que presumimos seja a mesma do texto do poste P22588 (*):

Título: Pronunciamento Militar do 25 de Abril de 1974
Sub Título: V Conferência do Núcleo Impulsionador das Conferências da Cooperativa Militar (NICCM)
Editor: NICCM
Coordenação e Revisão: Coronel António Carlos Morais da Silva | Transcrição de texto e Imagens: Ana Teresa Oliveira Marques | Design da capa: Coronel Sérgio Parreira de Campos
Impressão e Acabamento: ACD PRINT, S.A. Tiragem: 300 ex.
Depósito Legal: 375023/14 ISBN: 978-989-20-4761-4
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Nota do editorr:

Guiné 61/74 - P22589: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (16): Mais algumas fotos dos meus passeios: Bolama, junho de 2021


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > A estátua de Ulysses Grant, "ao luar"...



Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > A estátua de Ulysses Grant, vista de dia...


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 >  Guarita de um antigo quartel militar português, em ruinas  (possivelmente o do CIM - Centro de Instrução Militar)



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Outra  guarita de um antigo quartel militar portuguê, em ruínas  (possivelmente o do CIM - Centro de Instrução Militar)



Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Antigo edifício da Câmara Municipal. Em completa ruina.


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Outra vista do antigo edifício da Câmara Municipal. Em completa ruína.



Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 >  Antigo quartel, agora refeitório,  pertencente à escola da Formação de Pescadores do Ministério das Pescas.



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Escola Superior de Educação (ESE), Unidade de Ensino Amílcar Cabral 



Foto nº 8A> > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > 
Escola Superior de Educação (ESE), Unidade de Ensino Amílcar Cabral. Aqui formam-se professores.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Depósito de água



Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 >  Porto de Bolama.


Foto nº  11 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Cais do porto de Bolama, cheio de sacos de caju.
 

Foto nº  12 > Guiné-Bissau > Bolama > Junho de 2021 > Praia de Bolama de Baixo.


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Patrício Ribeiro (português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado e casado em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. XX, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; membro da nossa Tabanca Grande, com 107 referências no blogue):


Data - quinta, 30/09, 18:31

Assunto - Fotos de Bolama, junho 2021

Luís, envio mais algumas fotos, dos meus passeios.


Bolama, junho de 2021

Numa noite, no final de junho 21, em que a lua estava muito ativa, era a maior lua do ano, tirei esta foto ao Presidente Ulisses. (Foto nº 1).

A estátua tinha voltado para cima do pedestal “e com a sua cabeça” (Foto nº 2). Fiquei surpreendido… 

O busto esteve deitado durante décadas no quintal da casa do governador (perto da estátua
dos aviadores Italianos) e de lá desapareceu a cabeça. O seu desaparecimento, originou diversos problemas a algumas pessoas.

Esta questão foi muito comentada em Bolama e Bissau, no meio da comunidade portuguesa (Na última foto que tinha eu enviado de Bolama para o blog, não havia estátua, só o pedestal).


A estátua em 1964. Cortesia do blogue
Bolama Minha Terra  e do ACTD - Arquivo
Científico Tropical Digiatl
Seguem fotos da porta de armas e guaritas, de alguns antigos quarteis portugueses (Fotos nºs 3, 4 e 7).  Construídos provavelmente depois da Reunião na Presidência do Concelho em Maio de 1969, onde se passou a dar formação militar. Aqui se deu instrução ao DFZ 21 e 22 (Operação Mar Verde, António Luís Marinho)

Junto mais algumas fotos, do que era a Bela Bolama. Por onde alguns, os últimos os amantes do Império se passearam, criando emprego aos antigos subordinados, até ao fim das sua vidas. Eram os “doidos do império” (Angoche, Carlos Vaz Marques)

Como podem ver nas fotos do Palácio (Camara Municipal), já só restam as colunas, os morcegos, perderam a casa grande. Junto foto (Fotos nº 5 e 6).

A escola de formação de professores, Escola Superior da Educação, Unidade de Ensino Amílcar Cabral.  (Fotos nº 8 e 8A), continua a funcionar em pleno, mesmo com as greves de diversos meses dos funcionários públicos. Também é uma agradável surpresa, que os professores e alunos estejam tão intTeressados. A escola tem o apoio da ONG Portuguesa FEC (Fundação Fé e Cooperação). Tem aulas diurnas e noturnas.

Junto ainda fotos do depósito de água (Foto nº 9). bem como do porto de Bolama de Baixo, por onde desta vez desembarcamos em Bolama (Fotos nºs 10 e 11).

Saímos de Bissau de bote para Bolama de Baixo, foram 3,5 h de viagem, mesmo com os fatos para a chuva, tomamos banho de água salgada, chegamos à bonita praia que também é o porto (Foto nº 12). Depois seguimos de viatura até à cidade, pelo meio dos cajueiros.

A Ilha de Bolama transformou-se num grande produtor de caju. Teve influência a instalação da fábrica de descasque de caju, que o Comandante Alpoim Galvão instalou na ilha, a partir da qual exportava para todo o mundo o caju já descascado e biológico, em vácuo. Era transportado em canoas, até Bissau.

Fotos do porto de Bolama, por onde saíram milhares de toneladas de caju, que era transportado em canoas para Bissau. Este ano a Guiné, já exportou 200.000 toneladas.

Atualmente não há barco de carreira para Bolama, só para Enchudé, depois há que apanhar um camião e muito pó, até S. João,  e dali a travessia é feita de bote de madeira, para Bolama.

No regresso a Bissau, mais uma vez na canoa de transporte, 2,5h, pelo canal da Coroa de Bolama, que fica seco, com a maré baixa.

Fotos para recordar, a quem por aqui andou há 50 Anos.

Abraço,

Patrício Ribeiro
impar_bissau@hotmail.com

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Notas do editor: