segunda-feira, 13 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21166: Tabanca Grande (499): Raul Castanha, ex-alf mil PM, CPM 3335 (Bissau, jan 1971 / jan 1973): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 813


 Raul Castanha, ex-afl mil PM, CPM 3335 (Bissau, 1971/73)



Raul Castanho (2017)
1. Mensagem do nosso leitor e camarada Raul Castanha:

Data .quarta, 8/07, 09:45
Assuntio - Blog

Muito bom dia.

Sigo e consulto com frequência o seu blog e gostaria de saber como é possível enviar eventualmente comentários sobre alguns temas.

Também fui militar na Guiné Bussau e tenho algum conhecimento sobre eventos desse tempo.

Os meus agradecimentos.

Raul J.L. Castanha

2. Resposta do nosso editor na volta do correio

Caro Raul:

Temos muito gosto em que colabore, com a sua experiência, militar e humana da guerra da Guiné (1961/74), nesta comunidade virtual de antigos combatentes... Tratando-se de um blogue, a edição de textos, fotos e outros documentos tem de ser feita através da "mediação dos editores"... Pode usar o meu mail profissional: luis.graca.prof@gmail.com

A inserção de comentários é totalmente livre e instantânea; veja, na coluna (estática) do lado esquerdo do blogue como é que se pode comentar e qual é a nossa "política editorial"...

Mas o mais simples é o camarada "dar a cara" e juntar-se aos 810 [, à data de hoje, 812,] membros da nossa Tabanca Grande (tertúlia): para o efeito, basta mandar 2 fotos pessoais, uma antiga e outra atual, com duas linhas de apresentação (nome, posto, arma, unidade, locais por onde passou no CTIG, duração da comissão de serviço, etc.).

Nestes 810 [, hoje 812,]  membros (10 % dos quais infelizmente já morreram) há camaradas das 3 armas, e incluem-se nesta lista tanto antigos milicianos e militares do recrutamento local, como sargentos e oficiais do quadro.

Com 16 anos, e mais de 12 milhões de visualizações, 21 mil postes, mais de 100 mil comentários, e um espólio documental notável (mais de 100 mil imagens...), o nosso blogue é também uma valiosa fonte de informação e conhecimento. A sua missão principal é partilhar memórias...Também procuramos construir "pontes lusófonas".

Mantenhas. Um alfabravo, Luís Graça.

3. Resposta do Raul Castanham com data de 9 do corrente:

Aqui vai a informação solicitada:

(I) Nome: Raul José Lima Castanha

(ii) Posto; Alferes Miliciano PM

(iii) Arma: Cavalaria

(iv) Unidade: RL2, Lisboa e CPM 3335, Guiné

(v) Esteve em Bissau com esporádicas deslocações a Mansoa e Bula

(vi) Comissão:  desde Jan71 a Jan73

Espero que seja conforme. Saudações.
Raul Castanha

4. Comentário do editor LG:

Caro Raul, como antigos camaradas que fomos, no CTIG, tratamo-nos por tu, de acordo aliás com os usos e costumes da Tabanca Grande: Ès bem vindo à nossa tertúlia. Vais ficar sentado à sombra do poilão (mágico, simbólico, fraterno, protetor...), no lugar nº 813.

És o primeiro representante da tua CPM 3335 a integrar, formalmente, a Tabanca Grande.  De resto, a única referência que temos, no nosso blogue, a um companhia de polícia militar é a CPM 2537, cujo pessoal embarcou, comigo e os meus camaradas da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969.

E se a memória não me atraiçoa,  creio mesmo que és  primeiro oficial (miliciano) de uma companhia de polícia militar a integrar a nossa Tabanca Grande, ao fim destes anos todos.

Vejo que a CPM 3335 tem página de grupo no Facebook. criada por ti em 2013, e que estamos a seguir. Tens também página pessoal no Facebook desde 2014...

E fico a saber, a teu respeito, porque é público, que:

(i) és da colheita de 1949 (18 de maio);

(ii) és "alfacinha";

(iii) foste analista (informático) num grande banco;

(iv) tiraste gestão estratégica no ISLA - Instituto Superior de Línguas e Administração;

(v) passaste pelo Colégio Militar (Curso de 1959/66);

e, (vi) na tropa, pela EPC - Escola Prática de Cavalaria, Santarém (2º turno / 1970).

Ficas miminamente apresentado aos amgos e camaradas da Guiné. Temos muita malta do teu tempo, no CTIG. A tua comissão correspondeu a um período muito rico de acontecimentos, sendo então governador-geral e comandante-chefe o general António Spínola (1968.1973). Por certo que te cruzaste  por ele mais vezes do que eu, que sou de 1969/71, e que estava do interior do território.

Espero que te sintas bem,  entre antigos camaradas dos três ramos das Forças Armadas que passaram pelo TO da Guiné (1961/74). E que possas partilhar algunas das tuas histórias e memórias desse tempo e dos lugares que melhor conheceste (Bissau, Mansoa, Bula).

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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21164: Tabanca Grande (498): Manuel Rei Vilar, líder do projeto Kasumai, irmão do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Suzana, 1970)...Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 812

Guiné 61/74 - P21165: Notas de leitura (1293): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Desta edição de autor, com uma tiragem de 300 exemplares, e havendo tanto esquecimento de que a região Sul conheceu a subversão em força a partir do segundo semestre de 1962, conta-se uma saga que muitos desconhecem, é a história de um batalhão que permaneceu no Sul a desbravar terreno, a fundar quartéis, como os de Guileje e Mejo, a confrontar-se com forças bem posicionadas no terreno, deram luta, foram à luta, intimidaram, e tudo isto se passou numa altura em que a guerra evoluía do abatis e da possibilidade de deslocar pelotões de reconhecimento FOX e Daimler até à chegada de armamento mais sofisticado, como os canhões sem recuo e a colocação de minas anticarro por todos os itinerários.
Documento indispensável para o estudo da guerra da Guiné numa região onde tudo nos foi acontecendo desfavoravelmente, sobretudo em 1973, muitas daquelas posições foram sendo abandonadas pela lógica da concentração de recursos, a partir de Spínola.

Um abraço do
Mário


BCAÇ n.º 513, a divisa era “Ceder Nunca” (3)

Beja Santos

BC n.º 513: uma unidade militar destinada a Moçambique, desviada à última hora para a Guiné. Primeiro constituída por uma CCS a que se juntaram Companhias de Artilharia, e depois outros, como Pelotões FOX e Daimler, de artilharia, de morteiros, e algo mais. Coube-lhes o Sul, um Sul ao Deus dará, estamos em 1963, é tudo difícil em Aldeia Formosa e nos seus amplos arredores, há regiões ricas em arroz cobiçadas pelo PAIGC, em Incassol, na região de Forriá, em Campeane, na orla de Cacine, por exemplo. Lê-se esta História do Batalhão BC 513, de Artur Lagoela, edição de autor, 2000, e fica-se com muitíssimo respeito pela sua atividade operacional: reocupação do Chão Fula e captação da população civil, já ocorreu a desarticulação daquela região Sul, com subversão, com instalação de corredores, com assaltos armados às casas comerciais, uma região totalmente controlada (Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde e Campeane) abastecedora do Cantanhez. Ocupa-se Gadamael, cria-se da raiz Guileje, abrem-se itinerários, alguns em condições verdadeiramente épicas, como Cacine – Cameconde. Mas não só, montam-se emboscadas, uma delas dará brado, ocorreu na estrada Aldeia Formosa – Fulacunda no cruzamento de Buba, em Junho de 1964, afugentou-se a força inimiga e capturou-se muito material.

Instalados em condições precárias, conhecedores do modo como o PAIGC opera com agressividade, usando fornilhos e diferentes minas, procura-se intersetar transporte de material, patrulha-se Guileje – Gadamael, reconstroem-se pontões, reocupa-se Mejo, patrulha-se as estradas Mejo – Salancaur e Mejo – Bedanda. Fazendo o ponto da situação de ataques e flagelações entre Novembro de 1963 e Maio de 1965, desde a mais fustigada posição (Cameconde) até aquelas que esse momento tiveram a vida mais aliviada (como Guileje, Mejo, Gadamael-Porto, Cacoca e Colibuia) houve 53 de que resultaram 4 mortos e 15 feridos na tropa e 2 mortos e 10 feridos na população. São tempos irrepetíveis, em Maio de 1964 reage-se em Sangonhá a um ataque potentíssimo, a força atacante retira deixando material. Será assim em Cumbijã, aí viveram-se horas angustiantes. Escreveu-se no relatório: “Cercando a povoação de Cumbijã havia ainda vários grupos IN com metralhadoras e pistolas distribuídos por cerca de 10 grupos colocados na mata cerrada. O IN espalhava-se em leque desde Sul até Oeste. Cerca das 3h20 o ataque diminuíra intensidade até às 4h20. A esta hora recomeçou de novo, com maior intensidade com grandes gritos do IN dizendo: ‘É hoje que entramos, Cumbijã é nossa’. O inimigo proferiu ainda injúrias e asneiras sem fim ditas em português corretíssimo".

É um historial de flagelações, emboscadas sem descanso até ao fim da comissão, na região Sul: Guileje conhece a sua primeira grande prova de fogo de 29 para 30 de Novembro de 1964, o PAIGC ataca em Nhala, em Canturé, tem muita população aderente, como se escreve no relatório: “A população Beafada da região de Antuane desde cedo se ligou ao PAIGC e os Balantas que cultivam arroz nas bolanhas do rio Cumbijã seguiram-lhe os passos. Assim se estabeleceu e foi consolidando um grande conjunto de acampamentos na região de Antuane, apoiado logisticamente nas ricas tabancas existentes ao longo do rio Cumbijã. Tornou-se sempre muito difícil às nossas tropas atingir essas regiões, não só pelas grandes distâncias a percorrer como pela facilidade em impedir os movimentos, bloqueando o ponto de passagem obrigatória de Galo Bobola. Enquanto foi possível circular livremente as viaturas, confiou-se às unidades de reconhecimento da Cavalaria o patrulhamento destas áreas. Depois do aparecimento de minas em larga escala as tropas passaram a andar a pé. De igual forma a região Injassame – Incassol, foi ficando fora de controlo das nossas tropas por os acessos serem muito limitados e facilmente controláveis e a distância a percorrer foi sempre para cima dos 40 quilómetros, ida e volta”.

O histórico enfatiza a operação “Gira” que tinha por missão atacar as bases inimigas na região de Bantaela Silá – Bulel Samba – Dalael Balanta, seriam seguramente poderosas por requereram três colunas, decorreu entre 13 e 15 de Fevereiro de 1965. Temos meios aéreos alvejados, desde helicóptero a T6. No seu relatório o Comandante do BC 513, o Tenente-Coronel Luís Gonçalves Carneiro louva-se no notável comportamento de todos os Comandantes de Companhia, pela abnegação, sacrifício, serenidade e destemor exemplares de todos os militares. Com o BC 513 colaborou o Grupo de Comandos “Fantasmas”, numa operação deslocaram-se de Nhala para Incassol, percorreram a região de Canconté e Bojol Balanta, destruíram casas de mato e grandes depósitos de arroz.

Exerceram a ação psicossocial por intermédio das subunidades do Batalhão, com destaque para o setor de Buba, procurando dar confiança aos Fulas do Forriá, conquistar a confiança dos Nalus de Cacine e das populações dos regulados de Guileje e Gadamael, deu-se assistência a cidadãos da República da Guiné que passaram a procurar regularmente os postos de socorros de Cacoca e Sangonhá. Escreve-se no relatório que foram recuperados cerca de 580 indivíduos até Maio de 1965, estavam refugiados na República da Guiné.

Os últimos meses deste Batalhão foram passados na região de Nhacra, entre Maio e Agosto de 1965. Agradece a colaboração de muitos: às Companhias do BCAV n.º 705, na região de Buba, ao apoio dos paraquedistas em Guileje, aos comandos “Fantasmas” em Buba e Cacine. E assim termina o relatório: “Mas o BC 513 não poderia anunciar todos os êxitos que constam da sua história sem o extraordinário e valoroso auxílio que lhe foi prestado pela Força Aérea. Também as Forças Navais prestaram uma valiosa colaboração, tanto em ações de combate como nos reabastecimentos. A sua presença constante na fiscalização dos rios foi importante para se manterem as possibilidades de acesso a todas as Companhias do Batalhão, cuja ligação por terra foi durante muito tempo impossível”.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21144: Notas de leitura (1292): “BC 513 - História do Batalhão”, por Artur Lagoela, edição de autor, Junho de 2000 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21164: Tabanca Grande (498): Manuel Rei Vilar, líder do projeto Kasumai, irmão do saudoso cap cav Luís Rei Vilar (Cascais, 1941 - Suzana, 1970)...Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 812

1. Mensagem de Manuel Rei Vilar, nosso leitor e amigo, líder do projeto Kassumai, presidente da direção da Associação Anghilau:

Date: sábado, 4/07/2020 à(s) 12:38

Subject: Luís Reis Vilar (1941-1970), o Projeto Kasumai e a Tabanca Grande

Caríssimo Luís Graça:

Obrigado pelo convite [, vd. ponto 2, mensagem, de 4 do corrente, do nosso editor LG]. 

Fico muito honrado por me sentar à sombra do vosso poilão e pertencer à vossa Tabanca que também representa um fantástico acto de Paz e de confraternização entre os povos, e em especial entre os povos assombrosos da Guiné e a nossa Pátria. Contem comigo! Agradeço muito o vosso honroso convite e aceito.

Também podemos dizer que a Tabanca Grande teve um grande papel no início da nossa Ação em Suzana pois, devido ao pedido inicial que vos transmiti pedindo informações sobre o nosso irmão Luís [Rei Vilar, Cascais, 1941 - Suzana, 1970], o meu nome ficou associado ao vosso Blog. (**)

Um outro Luís, mas esse Luís Costa,  [antropólogo,] há quatro anos esteve em Suzana durante vários meses e ouviu falar do nosso irmão e da recordação que ele deixou nessa Tabanca!

Por isso, também deixo aqui o meu agradecimento à Tabanca Grande!

Neste momento estamos precisamente a preparar a ficha de inscrição na nossa nova Associação Anghilau (criança em língua felupe). Podemos transmiti-la à Tabanca Grande.

De facto, estamos a ser solicitados por novos desafios agora noutra aldeia do Cacheu, Batau, que visitámos durante a nossa viagem e onde a população precisa de arranjos na Escola e de um debulhador de arroz. (*)

Neste momento temos 35 apadrinhamentos, o que começa a ser demasiado pouco para todas as solicitações de ajuda que nos foi pedida no decurso da nossa viagem. Obras na Escola secundária de Susana, construção de uma residência para Professores etc...

Talvez a Tabanca Grande nos possa dar uma ajuda nesta nova campanha de apadrinhamento. Seria possível?

Logo que tiver uma informação mais completa, posso-vos enviar. A vossa ajuda ser-nos-ia preciosa!

Se há uma coisa que nunca nos poderemos esquecer na vida, é o investimento educacional que damos para que estas crianças da Guiné possam ser os homens e mulheres que este magnifico Pais, um dos mais pobres do Mundo, precisa para desenvolver o seu futuro.

Um grande abraço... e, na linguagem dos nossos amigos felupes,

Kassumai!
Manuel Rei Vilar




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos Rei Vilar (da esquerda para a direita, Manuel, Miguel e Duarte), em dia de homenagem ao seu irmão mais velho, o cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.



Foto ( e legenda): © Manuel Rei Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Mensagem do nosso editor LG:

Data - 04/07/2020 à 12:36,

Obrigado, Manuel, Miguel e Duarte:

publiquei e comentei no nosso blogue [os  Relatório de Atividades do Projeto Kassumai, a  constituição da Associação Anghilau, além de reportagem  da viagem dos irmãos Rei Vilar à Guiné-Bissau que se realizou no passado mês de fevereiro que teve como objetivo reinaugurar o Jardim-Escola de Suzana depois do restauro e dar a conhecer a realidade do Chão Felupe, de Suzana e também da Guiné-Bissau.] (*)

Bolas, que "inveja"!... Que grande exemplo!...

É a mais sentida e bela homenagem que uma família enlutada pode fazer a um dos seus entes queridos, vítima da insanidade mental da guerra, voltando ao "local do crime" para, através das crianças felupes, erigir um monumento à paz e à solidariedade humana, contra a estupidez, a violência gratuita, o ódio...
Luis Rei Vilar, enquanto
cadete da Academia Militar.
Foto: cortesia de cor Morais da Silva

Eu gostava que um dos irmãos, talvez o Manuel, por ser o mais velho, aceitasse o nosso convite para integrar, formalmente, a nossa Tabanca Grande, sentando-se à sombra do nosso poilão no lugar do seu saudoso irmão e nosso camarada Luís Rei Vilar... Faz todo o sentido, sendo ele para mais o presidente da nova associação Anghilau...

O nosso blogue (e a comunidade de amigos e camaradas da Guiné que o suportam) foi criado, há 16 anos, em 23/4/2004, justamente para construir pontes com uma terra e um povo que continuam no nosso coração, apesar de todos os erros e crimes ocorridos durante a nossa história comum.

Um grande abraço, Manuel, Miguel e Duarte... O vosso/nosso Luís estará sempre presente na nossa memória.

O editor Luís Graça


3. Comentário do editor LG:

Manuel, podemos tratar-nos por tu, mesmo não tendo sido camaradas de armas. Sou amigo e antigo colega de curso do teu mano mais novo. Somos académicos, eu já aposentado. Enfim, já nos conhecemos, ser pessoalmene, daqui, do blogue, desde há  uns largos anos e temos em comum o mesmo amor por aquela terra martirizada, que é a Guiné, e a mesma esperança de que o precioso sangue derramado por todos os antigos combatentes da guerra de 1961/74 não tenha sido em vão.  O teu mano Luís, que eu não conheci pessoalmente, foi meu comporâneo no CTIG, embora eu tenha estado no setor L1 (Bambadinca). 

Recordo-me bem do pedido que nos formulaste, publicado em 30/7/2007 (***):

(...) O  meu irmão foi morto em Fevereiro de 1970. Era Capitão de Cavalaria e chamava-se Luis Filipe Rei Vilar. Ele estava localizado em Susana.

Gostava de saber mais pormenores deste trágico acontecimento que a minha família viveu, além dos que nos foram transmitidos pelas vias oficiais.

Não sei quem me poderia ajudar. Pensei dirigir-me a si. Se me pudesse dar alguma informação ou então onde ou a quem me dirigir, agradecer-lhe-ia muito. Conto visitar a Guiné-Bissau para o ano e com os meus irmãos fazer uma romagem a Susana. (...)


 E a resposta que na altura eu te dei,  foi esta (***):


(...) Querido amigo e camarada, irmão de um camarada nosso: É de grande nobreza o seu gesto. Vamos seguramente ajudá-lo na pesquisa da informação que nos pede. De momento, não tenho grandes elementos na minha posse, para além da carta de Susana. É verdade que também não tem aparecido muita gente que tenha estado naquela zona do noroeste da Guiné. Mas nós temos aqui alguns especialistas na áerea do reconhecimento e informações... Seguramente que vamos encontrar alguma pista que nos leve ao conhecimento, mais detalhado, das circunstâncias em que morreu o seu irmão. Se souber qual era a sua unidade (companhia ou batalhão), melhor ainda. Até breve.(...)

Treze anos depois (!), vais-te tentar no lugar nº 812, à sombra do poilão da Tabanca Grande (****). E vais continuar a ter, tu e os teus irmãos, o nosso blogue à vossa disposição para divulgar as atividades solidárias da vossa Associação Anghilau (, criança, em felupe), e continuar a pesquisar, se for caso disso e se for essa a vossa vontade, as circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas em que morreu o vosso irmão e nosso camarada. (Estranhamente, ainda não temos nenhum camarada da CCAV 2538, a  sentar-se aqui ao nosso lado, na Tabanca Grande, à sombra do nosso poilão.)

Deixo-te aqui um link com as nossas 10 regras editoriais que todos os membros da Tabanca Grande devem conhecer, aceitar e respeitar.

4. De acordo com a sua página no Facebook, Manuel Rei Vilar é ou foi:

(i)  presidente da direção da Associação Anghilau (*);

(ii) professor auxiliar no  Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisoa;

(iii) maître de conférence na Université Paris 7 - Denis Diderot;

(iv) ingénieur de recherche na Université Paris 6 - Pierre et Marie Curie;

(v) ingénieur de recherche no  Centre national de la recherche scientifique (CNRS);

(vi) diretor na Residência André de Gouveia_Cité internationale universitaire de Paris;

(vii) engenheiro química  pelo Instituto Superior Técnico;

(viii)  estudante nos Salesianos Estoril;

(ix) natural de  Cascais, vivendo em Paris;

(x)  o seu irmão, mais velho, Luis Rei Vilar, cap cav, comandante da CCAV 2538 / BCAV 2876 (Susana, 1969/71), foi morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21138: Ser solidário (233): Viagem à Guiné-Bissau (de 15 a 28/2/2020), homenagem em Suzana ao cap cav Luis Filipe Rei Vilar (1941-1970), relatório e contas do projeto Kasumai, e a nova associação Anghilau (criança, em felupe) (Manuel Rei Vilar)


(**) Vd. postes de:


16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4962: In Memoriam (31): Cap Cav Luís Rei Vilar, meu irmão e meu herói (Miguel Vilar)


14 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6592: In Memoriam (44): A última foto do Cap Cav Luis Rei Vilar e o agradecimento da família ao blogue (Duarte Vilar)


18 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20745: Ser solidário (229): Projecto Kasumai e homenagem ao cap Luís Rei Vilar (1941-1970), em Susana, 50 anos depois da sua morte (Duarte, Manuel e Miguel Rei Vilar)

4 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20703: Ser solidário (226): Projeto Kassumai: almoço de convívio, seguido de reunião para aprovar os estatutos e eleger os órgãos sociais da nova Associação AGNHILAU: Restaurante da Quinta de Stº António, Alcabideche, Cascais, domingo, 8 de março de 2020, às 12h30 (Manuel Rei Vilar)


14 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6592: In Memoriam (44): A última foto do Cap Cav Luis Rei Vilar e o agradecimento da família ao blogue (Duarte Vilar)

Guiné 61/74 - P21163: Parabéns a você (1838): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21160: Parabéns a você (1837): António Dâmaso, SMor Paraquedista Ref das CCP 122 e CCP 123 (BCP 12 / Guiné)

domingo, 12 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21162: (Ex)citações (361): Lendas e narrativas: nós, os víquingues e os suecos (Manuel Luís Lomba / José Belo)



Mapa da expansão víquingue (séc. VIII - séc. XI), mostrando os assentamentos escandinavos nos séculos VIII (roxo), IX (vermelho), X (laranja) e XI (amarelo). O verde indica áreas sujeitas a frequentes ataques víquingues 

Fonte: Wikimedia  (com a devida vénia...)



1. Comentários aos poste P21155(*):
Manuel Luís Lomba


(i) Manuel Luís Lomba:

Enquanto amigo de portugueses "especiais", como Mário Soares e a sua malta (, Sá Carneiro preferiu a Snu), Olof Palm foi mais que adversário, foi inimigo de Portugal. Talvez por mágoa atávica dos suecos - digo eu.

No alvorecer da fundação da Nacionalidade, os suecos ou víquingues  (tanto vale o diabo como a mãe dele) começaram a desembarcar nas praias da minha região, entre as fozes do Ave e do Cávado, vinham pelas mulheres, pelo vinho e para assaltar e delapidar castelos e mosteiros. 

Esses bárbaros assaltaram Braga, mas não chegaram a assaltar Guimarães, porque a nossa trisavó e sua condessa Mumadona [Dias] se fortaleceu, com castelo, igreja e muralhas.

Descendente de celtas, gregos, fenícios, cartagineses, gregos, romanos, alanos, suevos, godos, visigodos, mouros, etc., a malta recusou mais ADN e começou a tramá-los: a pintura de preto fazia-lhes notar as suas embarcações, escondiam as mulheres, franqueavam-lhes vinho e liquidavam-nos à paulada, quando eles, cambaleantes, as procuravam. 

No referido ao feminino, evidências residuais, bem visíveis entre as Caxinas e Esposende: avantajadas, aloiradas, com sardas e de olhos azuis...

Os suecos ou víquingues arrogam-se a primeiros a vadiar as costas do Canadá, etc., com os seus barcos negros, etc, mas os louros foram para os portugueses e suas esbeltas caravelas, os fidalgos Corte-Real, um "labrador" dos Açores de nome João Fernandes e um meu conterrâneo e mestre-pedreiro, de nome Pêro de Barcelos.

No século XVIII, com o conceito (ou preconceito) do "colonialismo" ainda longe de germinar na América, os suecos começaram a vadiar as costas da Guiné, a entrar na disputa de escravos, negócio altamente rentável, para a exportação para o seu grande mercado, criado pela sua colonização económica. 

Então o rei de Bissau mandou emissários ao rei D. José: se não fizeres aqui uma fortaleza, perdemos o mercado. Foi por isso que nasceu o forte de S. José da Amura, que será o meu (nosso) primeiro quartel na Guerra da Guiné.

E se esse forte inibiu a Suécia de transaccionar escravos da futura Guiné-Bissau, as "coroas suecas" muito estimularam o PAIGC a infernizar-nos a vida.

Terão sustentado a sua libertação de Portugal, mas também terão constituído um dos factores da demora na libertação do seu Povo.

Sou recorrente em referir o insuspeito testemunho de Luís Cabral, pag. 322 do livro "Crónica da Libertação". A sua colheita de "coroas suecas" foi tão próspera que,  na viagem de regresso via Zurique, Amílcar Cabral comprou 6 relógios "Rolex", para presentear o Conselho de Guerra ou os 6 magníficos do PAIGC: o próprio, Aristides Pereira, Osvaldo Silva, Francisco Mendes, Nino Vieira e Pedro Pires - os mesmos que se dedicaram 2 anos a infernizar-nos a vida, que poderia ter decorrido tão feliz, no belo chão guineense.

J. Belo: aqui, em Barcelos os termómetros registam 36º! E muito me apraz saber que só te puseste ao fresco para a Suécia depois de teres servido na Guiné.

Abr.
Manuel Luís Lomba

José Belo
(ii) José Belo:
Interessante, e quase diria, “levíssima",  maneira de analisar “historicamente” os multifacetados Vikings [ou víquingues].


Os Vikings dos ataques às costas atlânticas e mediterrâneas eram originários das áreas geográficas da Dinamarca e actual Noruega.

Os Vikings originários da área geográfica que hoje constitui o reino da Suécia, então não existente como entidade política, faziam prioritariamente as suas razias nas costas do Mar Báltico,ou navegando os grandes rios europeus rumo ao Mar Negro.

Etnicamente as mesmas gentes, mas itinerários distintos, assim como método de actuação. 
Nalgumas costas do Báltico, e principalmente nas rotas fluviais europeias até ao Mar Negro e Turquia, os intercâmbios comerciais eram mais lucrativos do que as violentas razias.

Gostei francamente da frase “puseste ao fresco para a Suécia”.


Tem algo de verdade literal nos 40 graus negativos dos Invernos... mas pouco mais!

Depois de ter servido (com orgulho) na Guiné, tive ainda durante a minha vida militar (não tão curta como isso) as oportunidades de ter estado mobilizado para comandar um Esquadrão do Regimento de Cavalaria, de Santa Margarida para Angola, e de ter feito parte de posterior lista de embarque para Timor.

Em ambos os casos de “malas feitas” para os embarques, cancelados quase nos últimos minutos pelos responsáveis militares de então.

Terão preferido manter-me na “bagunceira “ das golpadas dos anos 74/75 ( e foram muitas!) ....que sabe um ingénuo, como eu?

Como certamente todos os portugueses , sentiria orgulho em o descobrimento do continente norte-americano ter sido efectuado por navegadores portugueses. 
Mas infelizmente o “julga-se”,”diz-se”,”pensa-se “ quando não cabalmente documentado, não chega.

Por outro lado, as fantásticas e heróicas viagens de descobrimento que realmente (!) fizemos,  são mais do que suficientes para sentirmos profundo orgulho na nossa História.

Sempre ao dispor quanto às sagas Vikings da Escandinávia; detalhes (incríveis ) quanto às golpadas dos anos de 74/75 no nosso querido Portugal; tarimba profissional nos States; criação de renas já bem dentro do Círculo Polar Arctico, (não menos as dificuldades técnicas quanto às castrações dos machos com temperaturas de dezenas de graus negativos!),e análises sexo-pedagógicas das mitológicas....suecas. (**)

Um abraço
J.Belo


[Revisão / fiixação de texto, para efeitos de edição neste blogue: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21155: Da Suécia com saudade (76): A propósito dos 'elefantes brancos' da cooperação sueca com a Guiné-Bissau: o caso do laboratório de saúde pública... (José Belo)

Vd. também poste de 6 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21145: Da Suécia com saudade (75): Pedagogias várias para proveito do macho-ibérico: as representações sociais das... suecas, "muito dadas" (José Belo)



(**) Último poste da série > 20 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21092: (Ex)citações (369): Cherno Baldé por ele mesmo: uma antologia autobiográfica, ao km 60 da picada da vida: "Quando o meu amigo, o Dias, me perguntava 'Ó Chiiico, já limpaste as minhas botas?', eu respondia de imediato: 'Sim senhor, já limpaste' e depois?".

Guiné 61/74 - P21161: Blogpoesia (685): "A coragem de escolher", "Pinhais de Melides" e "Quando me toca a mim...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana:


A coragem de escolher

Entre o sim e o não vai quase o infinito.
Ser ou não ser “eis a questão”.
Determinar o caminho.
É sempre pôr de lado outro caminho.
É chegar a outro lado.
É ganhar ou perder.
O tempo é de oiro.
Não se pode perder.
Como estaria eu agora se, lá atrás, tivesse seguido noutra direcção?
Nunca se sabe.
É um drama mesmo.
O reencontro é improvável.
Ser-se limitado é nossa natureza.
O verdadeiro sentido disto transcende infinitamente nossa condição humana.
No fundo, há Alguém a tanger nossos passos pelo caminho que nos tocou.
Essa verdade deve serenar-nos…

Ouvindo Ennio Morricone - The Best of Ennio Morricone
Ericeira, 10 de Junho de 2020
22h3m
Jlmg

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Pinhais de Melides

São verdes e extensos os pinhais de Melides.
O silêncio e o vento os agitam.
O chão é de areia revestida de musgo e feno seco.
Pelo meio, há casinhas brancas e montes ermos.
Tudo caminha calmo.
Até o burrico só se sente bem neste entardecer.
Nunca lhe falta a paparoca e isso basta.
Os fretes são poucos e não há grandes ladeiras para ele atacar de patas.
Sabe bem vir aqui visitar os nossos amigos e quebrar-lhes a quietude.
Eles ficam felizes e nós também.
Pró ano há mais…

Ericeira, 9 de julho de 2020
17h10m
Jlmg

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Quando me toca a mim…

Se o mal cai na casa alheia, se lamenta e a vida segue.
Porém, se cai sobre o meu telhado, tudo é diferente.
A percepção é outra.
Porquê a mim?
Destino ingrato.

Somos todos assim.
Só se aprende bem e certo, sentindo na pele.
Ainda bem que não se pode comprar a sorte nem o destino.
Coitados dos pobres…
Cairiam na escravidão do mal.
A insegurança geral é um freio.
Um acicate.
Morigera os costumes e dá moral ao viver.

Ouvindo melodia do filme – Lista de Schindler.
Ericeira, 6 de Julho de 2020
14h37m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21141: Blogpoesia (684): "Noite negra...", "Renascer..." e "Se, de repente...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21160: Parabéns a você (1837): António Dâmaso, SMor Paraquedista Ref das CCP 122 e CCP 123 (BCP 12 / Guiné)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21153: Parabéns a você (1836): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Meânico Auto (Guiné, 1968/70)

sábado, 11 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21159: Os nossos seres, saberes e lazeres (401): Tapada da Ajuda: Obrigatório visitar e fruir (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
A Tapada da Ajuda é uma das espetacularidades que a cidade de Lisboa oferece, situa-se num ponto cimeiro, são cerca de cem hectares com hortas, cultivo de cereais, minas de água, uma portentosa alameda de oliveiras, uma pequena aldeia, há cavalos garranos, uma pateira, pomares, um parque botânico, isto para não falar já no belíssimo edifício principal da conceção do arquiteto Adães Bermudes, o pavilhão de exposições, que data de 1884, o Observatório Astronómico de Lisboa, os jardins, e muito mais. Até temos o banco do Junot, o representante de Napoleão, ao que consta, sentava-se num determinado banco, os franceses portaram-se como aves rapinas, até levaram material que hoje se encontra no Jardim Botânico de Paris. Um jardim cheio de história, não é por acaso que ele está entalado entre o Palácio Nacional da Ajuda e Alcântara.
O conjunto intramuros da Tapada está classificado como imóvel de interesse público.

Um abraço do
Mário


Tapada da Ajuda: Obrigatório visitar e fruir (1)

Beja Santos

Entalada entre o Palácio da Ajuda e Alcântara, ocupando cerca de cem hectares, com soberbos edifícios, áreas florestais, hortícolas e agrícolas, uma flora de espécies domésticas e silvestres e com uma fauna diversificada, temos a Tapada da Ajuda onde funciona o Instituto Superior de Agronomia e onde qualquer cidadão pode percorrer um espaço admirável e respirar o ar do campo no meio da cidade de Lisboa. Era este o apelo ou convite proveniente de um artigo publicado na Revista da Universidade de Lisboa, ULisboa, número de outubro de 2019. É um espaço cheio de história e memórias. Em 1645, o rei D. João IV decretou a criação da Tapada Real de Alcântara, usada como parque de caça e de criação de gado da família real. Quando esta mudou de residência para o Alto da Ajuda, a Tapada Real de Alcântara passou a denominar-se Tapada Real da Ajuda. O ensino agrícola em Portugal foi criado em 1852, no reinado de D. Maria II. O Instituto Superior de Agronomia foi fundado em 1910 e está, desde 1917, sediado na Tapada da Ajuda. O seu edifício principal foi projetado pelo arquiteto Adães Bermudes.

Uma das escadarias do belo edifício.

Um pátio interior devidamente arborizado.

Um corredor de ligação de edifícios.

Fachada principal.

Quem por aqui passeia desfruta de plantações de citrinos, de hortas onde se inserem vários projetos de interesse para estes estudos universitários, há uma impressionante avenida das oliveiras, e muito mais. Mas além deste património natural, a Tapada possui um património edificado muito rico: o Chalé da Rainha D.ª Amélia, o Pavilhão de Exposições, o Jardim da Parada e o Jardim da Rainha.

Chalé da Rainha D.ª Amélia.



Azulejaria do Jardim da Parada, de autoria de Jorge Colaço.

Pormenor da vegetação do jardim

Busto do professor Motta Prego

Estes belíssimos dragoeiros estão implantados nas proximidades do Observatório Astronómico de Lisboa, mandado criar por D. Pedro V, meteu arquiteto francês e está hoje incorporado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência


Duas imagens do Observatório Astronómico de Lisboa

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21139: Os nossos seres, saberes e lazeres (400): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (11) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21158: Tabanca Grande (497): José Maria da Silva Valente (1946-2020), natural de São Roque, Oliveira de Azeméis, ex-fur mil, CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69): senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 811


José Maria Silva Valente (1946-2020), fur mil,
CART 1689 / BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel 
e Canquelifá, 1967/69). 
Foto: José Ferreira da Silva (2020)


1. A notícia da sua morte chegou-nos ontem, por email de um amigo e camarada de armas, o José Ferreira da Silva:

Aconteceu hoje, pelas onze horas, no Hospital de Oliveira de Azeméis. Foi um dos seus filhos gémeos quem me deu a notícia. Fiquei chocado e um pouco desorientado, com a notícia deste desfecho inesperado.

Logo ele, aquele militar que eu tanto admirei na nossa guerra da Guiné! Logo ele, cuja acção e comportamento temerário suplantavam o apelido que teve por nascimento!

Pois, é esse mesmo, o José Maria da Silva Valente que tanto se dedicava à pesca e que há 4 anos caiu na Barragem de Castelo de Bode, de onde foi preciso tirá-lo quase inconsciente. Nunca mais ficou bem, devido ao ferimento sofrido na cabeça.

Para que conste no património das minhas memórias, caracterizei-o e registei-o no segundo livro que publiquei. E é esta pequena homenagem que lhe presto, através do texto que vai junto, pois quero recordá-lo na força da vida. (*)



2. Comentário de outros camaradas (*);

(i) Alberto Branquinho:

Não posso deixar de escrever duas ou três palavras porque o Valente foi um dos dois furriéis do meu pelotão [, o 1º Gr Comb / 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel  e Canquelifá, 1967/69).

O outro, também já falecido e também lembrado aqui pelo Silva, foi o António Pedro Carneiro de Miranda.

Pois o Valente era destemido, temerário até,  e arrastava com ele, agachado e aos berros, os soldados da secção que lhe estavam mais próximos, mesmo em situações de fogo frontal.

Tive, muitas vezes, que lhe moderar os ímpetos ou chamar-lhe, depois, a atenção, porque achava que se deveria, antes, fazer uma análise mínima das situações. Por essa razão (e outras,  de comportamento) as nossas relações não eram as melhores, ao contrário do que acontecia com o furriel Miranda.

Há que referir que, quando embarcámos para a Guiné, ele tinha acabado de ser pai de dois gémeos, só com alguns meses de vida.

A pesca era para ele uma paixão e, na parte final da sua vida, um descanso e uma fuga dos muitos problemas que teve na vida empresarial.

Deixa uma lembrança muito forte e muito grande. Adeus, Valente!


(ii) José Marcelino Martins:

Condolências à família e aos amigos.

Ocupa o teu lugar no poilão, Valente, o lugat dos combatentes da Guiné, também é neste local de encontro. Até sempre. 

(ii) Hélder Sousa:

O Valente já fez a sua última caminhada entre nós. Certamente outros se seguirão, pois é esse o nosso "destino comum".

No entanto a sua memória perdurará enquanto os amigos (e familiares, naturalmente) quiserem, com a preciosa ajuda deste tipo de homenagens em que o Zé Ferreira é um bom construtor.

Que descanse em paz.




3. Em 15 de janeiro de 2011,   o Hélder Sousa havia seguinte, em comentário a esta "história boa da minha memória",do José Ferreira,  o seguinte (*):

Caro camarigo J. Ferreira da Silva

Esta tua história, que pretende homenagear a valentia do Valente, faz ressaltar também outras coisas. Por exemplo, a necessidade de se ser firme ao enfrentar os superiores e demonstrar a justeza da nossa razão, quando caso disso.


E também ressalta a importância de se ter um bom relacionamento com os comandados para a partir daí se poder ir, como escreves, 'até ao inferno'.


4. O Silva  foi talvez o camarada mais próximo do Valente: embora tendo personalides diferentes e  pertencessem a grupos de combate diferentes,  eram amigos, iam sozinhos à caça e à pesca juntos,  gostavam de fazer os seus petiscos (, um caçava, o outro pescava), andavam juntos pelas tabancas... e  sobretudo conviveram bastante nos últimos anos. 

O Silva ganhou o gosto da pesca (nos rios e albufeiras) com o Valente, e nomeadamente a pesca do achigã. Além disso, eram vizinhos: o Valente, de São Roque, Oliveira de Azeméis,  o Silva, de Fiães, Vila da Feira...

Ao telefone, o Silva confidenciou-me que o Valente era um militar, como qualidades e defeitos, como qualquer um de nós, com uma deficente instrução militar, etc., mas inegavelmente destemido e um graduado capaz de galvanizar os homens da sua secção.

Depois na vida civil, procurava destacar-se em tudo o que fazia, deste o futebol e aos negócios e até na pesca. Tinha o gosto pela competição e subestimava os riscos. Foi um pequeno empresário da indústria de calcado, com relativo sucesso até à crise de 2008/09...  Um acidente na pesca há uns quatro anos afetou-o muito, o Silva ainda o trouxe a um convívio com os seus camaradas da CART 1689. Todavia a sua morte, mesmo esperada, não deixa de ser pesarosa, para os amigos e camaradas que o estimavam.

O Silva relembra ainda o Valente nestes termos (**):

(...) Foi dos últimos a integrar a nossa Companhia. Chegou a Viana do Castelo antes duas ou três semanas de partirmos para a Guiné. Era muito franzino, branquito e sem barba. Não pesava mais de 50 quilos e teria uns 155 centímetros de altura. 

Até metia pena, pensar que aquele imberbe, também iria para a guerra. Porém, conforme se veio a verificar, a aparência não condizia com a realidade. Curiosamente, alguns dias depois, já ele tinha “presa pela beiça” uma adolescente que trabalhava na nossa Pensão. Todavia, ele demarcou-se logo e fez questão de nos comunicar que era casado e que já tinha dois gémeos, (acabados de nascer). Inicialmente não acreditámos, mas viemos a confirmar que era verdade.

Pois o Furriel Valente, oriundo de Oliveira de Azeméis, foi um militar de primeira. Cumpridor, corajoso e abnegado, ele, temerariamente, surgia na frente de combate sempre que “elas” começavam a cantar. Foram vários os combates em que ele se destacou. Por isso era muito respeitado na CArt 1689, especialmente pelos seus soldados que o seguiriam até ao inferno, caso fosse preciso. (...)


5. Por proposta do nosso editor Luís Graça, o Valente passa a sentar-se, simbolicamente, à sombra do nosso poilão no lugar nº 811. (***)

O Valente foi um dos nossos, e vai continuar a sê-lo: graças ao Zé Ferreira da Silva e ao nosso blogue, não vai ficar na vala comun do esquecimento. 

Uma das suas paixões era a pesca. Como muitos outros camaradas, não tinh email pessoal, nem página no Facebook, nem muito menos terá visitado alguma vez o nosso blogue. Como ele haverá 99 em cada 100 dos homens que passaram pelo TO da Guiné entre 1961 e 1974.

Mais uma razão para o Valente passar a ser lembrado, aqui, ao nosso lado. 

Para mais morre em plena pandemia de COVID-19, sendo o seu funeral condicionado pelas restrições em vigor, e pela vontade expressa da família, não podendo contar por isso  com a presença  dos amigos e camaradas que gostariam de poder despedir-se dele.

Esta é, em alternativa,  a maneira dos seus camaradas da Guiné lhe dizeram adeus.  Nós, bem como os seus filhos e netos, e demais amigos, vamos continuar a ter orgulho nele e a recordá-lo,

Obrigado, Zé, pela singela, mas sentida e fraterna  homenagem que fazes ao Valente, que travou ontem o seu último combate: 'Logo ele, aquele militar que eu tanto admirei na nossa guerra da Guiné! Logo ele, cuja acção e comportamento temerário suplantavam o apelido que teve por nascimento!'

Um abraço de solidariedade na dor aos filhos e demais familiares do Valente, em nome de toda a Tabanca Grande.



S/d  ], anterior a 2016] > O Grande Valente, numa “bolanha do vale do Mondego”,  prepara-se para dar mais uma aula de bem pescar ao colega, amigo e vizinho Silva, companheiros de grandes lutas pela honra e dignidade dos militares da Cart 1689. Em 2016 sofreu um acidente grave, quando pescava na albufeira da barragem de Castelo Bode (****)


S/d  [, anteriror a 2016] > O Silva com o Valente nas pescarias do rio Douro, Porto Antigo, Cinfães




Guiné > Região de Tombali > Catió > CART 1689 > Convívio “meio balanta”, na messe de sargentos. O Valente está de cachimbo.



Guiné > Região de Tombali > Catió > CART 1689 >   Messe de sargentos. O Valente   é o sorridente de camisa branca. O Valente brilhou também como o melhor gerente da messe de sargentes. Durante um mês,  comeu-se bem e do melhor (manga de bom peixe fresco, pescado à granada).


Guiné > Bissau > CART 1689 > Grupo de furriéis, no fim da comissão. O Valente é o 3º, de pé, da esquerda para a dieita.

Fotos: Cortesia do José Ferreira (2020)



Vila Nova de Gaia > Crestuma > 10 de junho de 2016 > Da esquerda para a direita, o Valente, o Zé Ferreira, o Neves  e o Jorge Portojo. Os quatro passaram por Catió.  Recordes-se que o  o nosso querido e saudoso Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017) oi vur mil  do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió (1968/70). O Neves, por sua vez, pertencia à CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69), tal como o Victor Condeço (1943-2010), furriel mecânico de armamento.  A CART 1689 também pertencia ao BART 1913.


 Foto do Jorge Teixeira (Portojo) (2016).




Vila Nova de Gaia  > Crestuma  >  17 de dezemrbo de 2016 >  Apresentação do 1º volume do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra". O Valemte, de pé.


 Vila Nova de Gaia  > Crestuma  >  17 de dezemrbo de 2016 >  Apresentação do 1º volume do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra" > O Valente, à esquerda.
As fotos são da autoria do nosso saudoso  Jorge Portojo (2016) (*****)





Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 2016 > O Valente, já debilitado junto do ex-Cap Manuel Maia (hoje General  reformado Manuel Maia), no almoço do pessoal da CART 1689.


Foto: Cortesia do José Ferreira (2020)

(***ª) Vd. poste de 9 de agosto de  2016 > Guiné 63/74 - P16374: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (25): Relatório de Operações do último almoço-convívio da CART 1689


(...) A certa altura, abeirei-me do Valente, que eu havia ido buscar a Oliveira de Azeméis e que já não pode conduzir viaturas em virtude de um acidente sofrido numa pescaria na Barragem de Castelo de Bode, e perguntei-lhe:
- Está tudo bem? Porque estás tão calado?
- Olha, Silva, desta vez estou para aqui a observar a malta e verifico que o nosso fim está próximo. Lembras-te de quantos homens tinha a nossa Companhia? 153!... Sabes quantos estão aqui? 19! A maioria são familiares e a gente nem repara. Cada vez vêm mais familiares a acompanhar-nos, e sabes porquê? Porque nos vêm trazer e amparar. Andam a dar-nos as últimas alegrias.

Logo o tentei animar:
- Deixa-te de merdas, a malta está contente, vê se pensas em coisas boas e se tratas do “isco especial”, para voltarmos a pescar. (...)