domingo, 23 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17272: Blogpoesia (507): "Canção da terra..."; "A riqueza das palavras..." e "O nada...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Foto: © Carlos Vinhal


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Canção da terra...

Acordei enlevado.
Fui à janela.
Que linda melodia
Envolvia a terra.
Não se via donde vinha.

Acordes luminosos
Vibravam leves,
Na suave brisa
Que exalava fresca
Do mar ao pé.

Havia trinados frenéticos
Da passarada.
Vinham da mata.

E poisadas no topo dos postes,
Arrulhavam pombas
Como tenores divinos,
Tão afinados
Do alvorecer.

Até os sinos,
Do Convento ao longe,
Maravilhados, assomaram ufanos,
Entoando hinos
De extasiar.

Que linda festa,
Em apoteose,
Decorreu gratuita
Para quem quis ouvir...

Bar "Caracol" arredores de Mafra,
19 de Abril de 2017
9h30m
Jlmg

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A riqueza das palavras...

Não são uma soma de letras mortas ou adormecidas.
Têm alma.
Irradiam calor e vida.
Tanto aquecem como brasas
e refrescam as ideias
mais escaldantes.
Se atraem umas às outras
segundo leis ocultas
e imperceptíveis.
Têm cor e exalam perfumes.
como se fossem madressilvas.
São sonoras
com o encanto inebriante das sereias sedutoras.
Têm peso
e calam fundo,
quanto mais leves.
Pintam quadros
e contam histórias.
e, tão ciosas,
guardam os segredos
mais profundos.
São geométricas.
Rigorosas.
Se encaixam
em perfeitas simetrias.
Vestem tons,
de variadas cores,
em harmonia.
Dos mais claros
aos mais escuros.
Pintam a beleza em quadros belos.
Sempre prontas.
Tão afinadas,
emocionam.
Fazem rir e fazem chorar,
como, no palco,
as melhores actrizes.
Que seria da humanidade,
um dia só,
sem as palavras!...

Mafra, 21 de Abril de 2015
19h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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O nada...

Tudo desaparece.
Deixa de ser real
Na escuridão total.

Até os holofotes possantes
Que tudo iluminam.

Se o sol vai,
Vem a noite com seu manto
E num instante,
Aparece o negro.
Fica só o reflexo
Na nossa mente.

A memória esquece.
Derramando esquecimento Como uma glândula.
Feroz e inclemente.

Vão-se todas as résteas de luz.
E o deserto avança.
Frio. Seco.
Sepulcro profundo.
Devorador.
Chegam os vermes.
Tudo mastigam
Reduzindo a nada.
Vai-se a fome.
E germina a ausência
Potente e eterna.
Nada germina.
É o fim.
Inclemente e cego.
Nem há fumo
Que se eleve no ar.
Até o cheiro seca.
Desfeito em cal.
Não há bem
Nem mal.
É o nada com toda a força.

Só um milagre
O fará reviver.

Mafra, 20 de Abril de 2014
21h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17254: Blogpoesia (506): "Mata da paz..."; "Deus é brincalhão..." e "De nada serve me armar até aos dentes", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17271: Recortes de imprensa (86): Artigo de opinião de Fátima Ascensão, no DN Madeira, de hoje, intitulado Obrigada, ex-Combatentes


Alertados pelo nosso camarada Carlos Pinheiro, lemos, e reproduzimos aqui no blogue, com a devida vénia, um artigo de opinião da jornalista Fátima Ascensão, inserto no Diário de Notícias Madeira de hoje:

Obrigada, ex-combatentes

Esta gente continua a ter no seu ADN a garra e o espírito lutador que ganharam na sua juventude

Fátima Ascensão
23 Abr 2017

A dois dias de se comemorar o 25 de Abril, dei por mim a pensar no legado que os nossos ex-combatentes nos deixaram. Homens extraordinários que viveram cenários de guerra em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau e optaram por fazer uma revolução tranquila, sem armas e sem guerra civil.

Homens que aprenderam bem cedo o que realmente é importante e tiveram a garra necessária para mudar o que era preciso mudar. Não se deixaram levar pela manipulação dos discursos e, sem grande instrução escolar, sabiam o que queriam para o futuro de Portugal.

Transformaram o país e deram os primeiros passos para a criação de um sistema democrático no nosso país. Enfrentaram um regime autoritário com mais de 40 anos que governava em ditadura e fazia uso de todos os meios ao seu alcance para reprimir as tentativas de transição para um estado de direito democrático, numa época em que ter liberdade era um sonho e não uma realidade.

Sempre que se fala no 25 de Abril, a maioria das pessoas pensa nos Capitães de Abril como os grandes mentores da revolução, mas sem o apoio dos militares de patentes inferiores, o chamado soldado raso, os líderes da revolução nada teriam conseguido.

O treino militar de então, dado aos portugueses para prepará-los para o que iriam enfrentar em campo de batalha, treinaram a sua mente para avaliar o risco e dotaram-lhes de um espírito de sobrevivência e de luta.

Os sobreviventes desta guerra voltaram para Portugal com muitos traumas. Viram os seus colegas de campanha morrer e viram o horror do conflito. Alguns foram feridos em combate, deixando mazelas para o resto da vida e todos vieram afetados psicologicamente. Se não fosse o papel das famílias que os acolheram e apoiaram no regresso a uma vida civil, não sei o que seria destas pessoas.

Face ao que fizeram pela pátria, em minha opinião, o Estado Português nunca os tratou com o devido respeito e consideração. Ainda hoje, muitos dos sobreviventes desta guerra que estão entre os 65 a 75 anos, recebem reformas miseráveis, resultado de trabalhos mal remunerados, e sem qualquer proteção face às inúmeras políticas que se vão legislando. Estão esquecidos numa sociedade que só os homenageia com flores. Preferiam uma proteção social maior...

Mas atenção, esta gente continua a ter no seu ADN a garra e o espírito lutador que ganharam na sua juventude. Einstein dizia “A mente que abre uma nova ideia, jamais retorna ao seu tamanho original”. A sorte deste país é que a sua gente prefere a paz à guerra.

O mais interessante de toda esta dinâmica no fenómeno do 25 de Abril é que estes simples cidadãos influenciaram toda uma sociedade na pressão sobre as instituições para tornar Portugal um país livre.

A acrescer a tudo isto, a pobreza, a fome e a falta de oportunidades para um futuro melhor, frutos do isolamento a que o país estava votado há décadas, provocaram um fluxo de emigração que agravava, cada vez mais, as fracas condições da economia nacional.

Fartos do abuso de autoridade, a sociedade uniu-se para fazer a mudança em Portugal. Foram as pessoas simples, os simples soldados, os heróis sem cara, que mudaram Portugal. Mudaram as organizações governativas. Mostraram-nos que quem muda as organizações são as pessoas e não os planos per si.

Por isso, muito obrigada ex-combatentes pela herança que nos deixaram de um Portugal livre e por terem proporcionado os alicerces de uma sociedade baseada numa democracia. É esta a principal missão de qualquer geração – criar condições para melhorar a sociedade em que as gerações vindouras viverão. Todos vós cumpristes a vossa missão.

A minha geração tem muito a aprender convosco. Aprender que o coração da mudança somos todos nós porque toda e qualquer mudança resulta do nosso sentimento de quer mudar. E são as pessoas que mudam as organizações e não o contrário.

Nada pode ser imposto. Tem de ser um processo natural, partilhando o que está errado, os perigos de determinadas decisões, as mentiras instaladas e partilhando o que se quer para futuro. Ouvir e ouvir. Todas as pessoas mudam. As transformações do mundo assim o exigem.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17048: Recortes de imprensa (85): O nosso camarada Armor Pires Mota no lançamento do livro da investigadora Sílvia Torres ("O jornaliismo português e a guerra colonial", Lisboa, Guerra & Paz, 2016, 432 pp.) na sua terra natal: Anadia, 2 de julho de 2016 (Excerto do "Correio do Vouga")

Guiné 61/74 - P17270: Inquérito 'online' (107): Camarada, não sejas "dinossauro", responde à nossa pergunta: "Este ano vou ao nosso encontro, em Monte Real, em 29 de abril"... As 53 primeiras respostas: mais de metade dos respondentes (58,5%) este ano não vai ou não pode ir


Lourinhã > 22 de abril de 2017 > Frente à igreja do convento de Santo António (séc. XVI), uma réplica de "Stegosaurus" (7 m de comprimento, 3,4 de altura)... Este e outros dinossauros da Lourinhã sabemos, de certeza, que não vão ao XII Encontro Nacional da Tabanca Grande em Monte Real, no próximo sábado, dia 29... porque foram extintos há muitos e muitos milhões de anos (cerca de 150)... (Este bicho passeava-se entre a Lourinhã e Nova Iorque quando ainda não havia o oceano Atlântico a "separar-nos")... Também à geração vai acontecer-nos o mesmo, devendo por isso aproveitarmos os anos que nos restam para nos encontrarmo-nos, de vez em quando, à sombra do nosso "poilão"...




Lourinhã > 22 de abril de 2017 > Frente ao edifício da Câmara Municipal da Lourinhã > ... E quem não responder apanha com um dentada do temível "Tyrannossaurus Rex" (13 m de comprimento, 4,2 de altura)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:


"ESTE ANO VOU AO NOSSO ENCONTRO, EM MONTE REAL, EM 29 DE ABRIL..."



As 53 primeiras respostas (até à meia noite de ontem):


Sim, vou = 20  (37,7 %)
Não, não vou = 31 (58,5 %
Indeciso = 2 (3,8 %)
Total = 53 (100,0 %)


Razões invocadas para não ir (n=31):


(i) Não vou, porque tenho outra festa 
ou convívio nesse dia  > 9 (17,0%)

(ii) Não vou, por razões de saúde  > 3 (5,7%)

(iii) Não vou, porque é uma despesa grande  > 5 (9,4%)

(iv) Não vou, por falta de transporte  > 1 (1,9%)

(v) Não vou, por falta de interesse  > 2 (3,8%)

(vi)  Não vou, por outras razões  > 11 (20,7%)

Total > 31 (58,5%) 


II.  O inquérito termina no dia 25 de abril, às 23h40.

A resposta ao inquérito deve ser dada, "on line", diretamente, no canto superior esquerdo do deste blogue. E é importante que os nossos leitores respondam:  queremos saber: (i) se vão  ao XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, no próximo sábado, dia 29; e (ii) se não vão, porque razões não vão...

Em mais de metade dos casos (31 em 53), sabemos que os respondentes não vão ou não podem ir ao encontro, a Monte Real, fundamentalmente pelas seguintes razões: 

conflito de agendas (17,0%);
despesa elevada e falta de transporte (11,3%);
razões de saúde (5,7%);
falta de interesse (3,8 %);
outras razões (20,7 %).


O inquérito também ajuda a promover a nossa festa anual. Recorde-se que este ano celebramos os nossos 14 anos de existência enquanto blogue. O nº total de membros da Tabanca Grande, registados, é de 742 (dos quais, infelizmente, 54 já morreram).


Este ano só pudemos utilizar o  blogue e a nossa página do Facebook para divulgar o nosso encontro anual, que se tem realizado todos os anos, desde 2006. Não utilizámos o email.

Recorde-se que o prazo de inscrição no XII Encontro Nacional da Tabanca Grande termina hoje, domingo, no final do dia. (**).

Estávamos,  ao fim do dia de ontem, com 129 inscritos, ainda longe do pleno: a lotação da sala de almoço, no Palace Hotel Monte Real, são 200 lugares.

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Notas do editor

(*) Último poste da série > 20 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17264: Inquérito 'online' (107): "Este ano vou ao nosso encontro, em Monte Real, em 29 de abril"... As 35 primeiras respostas: 60% não vai este ano...


(**) Vd. poste de 7 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17112: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (2): Abertura das inscrições que terminam: (i) a 23 de abril; ou (ii) ou quando se atingir a lotação da sala (200 lugares)

sábado, 22 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17269: Agenda cultural (554): 500 fotos, algumas das quais para a História... Exposição de Alfredo Cunha, o nosso grande fotojornalista, na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até 3.ª feira, 25 de abril, entrada livre



Lisboa > Cordoaria Nacional > 5 de março de 2017 > Exposição de fotografia de Alfredo Cunha > Algumas das célebres fotos do dia 25 de Abril de 1974. O autor doou a coleção à Fundação Mário Soares.Podem ser aqui visualizadas, no portal Casa Comum > Arquivos > Alfredo Cunha / Fotografias 25 de Abril... São um total de 75, com legendas do jornalista Adelino Gomes.



Lisboa > Cordoaria Nacional > 5 de março de 2017 > Exposição de fotografia de Alfredo Cunha >  Um dos trabalhos mais recentes de Alfredo Cunha, na Guiné-Bissau (2013)


Lisboa > Cordoaria Nacional > 5 de março de 2017 > Exposição de fotografia de Alfredo Cunha > O fotógrafo é também um notável retratista: há retratos de múltiplas personalidades, de Salgueiro Maia a Spínola

Fotos: Luís Graça (2017)

TEMPO DEPOIS DO TEMPO

Fotografias de Alfredo Cunha 1970-2017


Data: de 3 mar a 25 abr/17
Horário: Terça a sexta, das 10h às 18h | 
sábado e domingo, das 14h às 18h


1. A Galeria Torreão Nascente vai estar aberta, a título excecional,  nos próximos dias 24 e 25 de Abril (segunda e terça-Feira) e encerrará no horário habitual. Entrada livre.

Alfredo Cunha é um dos maiores fotojornalistas da atualidade, foi o fotógrafo da nossa geração... Muitas das imagens que ele captou, vão ficar para a história da nossa terra. Foi ele que esteve, tal como Eduardo Gageiro, num momento único e irrepetível, da manhã de 25 de Abril de 1974, no Terreiro do Paço, quando o nosso camarada Salgueiro Maia enfrentou os tanques de Cavalaria 7 e um famigerado brigadeiro da "brigada do reumático", Junqueira Reis, que, histérico,  gritou em vão aa um pobre 1º cabo  apontador do M47, o José Alves Costa,   para disparar  sobre os revoltosos ... Recorde-se aqui, a propósito,  o livro "Os Rapazes dos Tanques" (Porto Editora, 2014), de que são autores Alfredo Cunha (fotos)  e Adelino Gomes (texto).

Ao longo de 47 anos, desde 1970, Alfredo Cunha (que tinha 20 anos no 25 de abril)  não só fixou grandes momentos históricos (o 25 de abril, a descolonização, a queda do ditador romeno Nicolae Ceauşescu, na Roménia, a guerra no Iraque, etc.) mas como também o rosto de homens e de mulheres sem história, mas sem os quais nunca se fará a História com H grande. Por que são eles a humanidade, de Portugal à Guiné-Bissau.

É uma exposição a não perder: são cerca 5 centenas de fotografias, a preto e branco, que tem levado milhares de pessoas à Cordoaria Nacional.

Intitulada "Tempo depois do tempo. Fotografias de Alfredo Cunha 1970-2017", é uma grande retrospetiva (a primeira do fotógrafo, agora reformado, mas que em 2012 tornou-se fotojornalista freelancer, tendo participado no projeto comemorativo dos 30 anos da AMI - Assistência Médica Internacional “Três Décadas de Esperança”, que o levou a percorrer países como o Níger, a Roménia, o Bangladexe, a Índia, o Haiti, o Sri Lanka, a Guiné-Bissau e o Nepal).

Grande parte das fotografias expostas, em formato grande, são inéditas, sobretudo as do séc. XXI.


2. Recorde-se, em traços largos, o CV  de Alfredo Cunha:

(i) nasceu em 1953, em Celorico de Basto, filho e neto de fotógrafos;

(ii) começou sua carreira profissional em fotografia publicitária,  em 1970, e como fotojornalista no jornal "Notícias da Amadora" em 1971;

(iii) trabalhou no jornal "O Século" e n'O Século Ilustrado (1972), na ANOP - Agência Noticiosa Portuguesa (1977) e nas agências de notícias Notícias de Portugal (1982) e Lusa (1987);

(iv) foi fotógrafo e editor-chefe no Público entre 1989 e 1997;

(v) em 1997, ingressou no grupo Edipresse como fotógrafo-chefe;

(vi) em 2000, começou a trabalhar na revista Focus;

(vii) 3m 2002, colaborou com Ana Sousa Dias no programa “Por Outro Lado”, da RTP2;

(viii) foi o fotógrafo e editor-chefe do "Jornal de Notícias" entre 2003 e 2009 e diretor fotográfico da Global Imagens entre 2010 a 2012;

(ix) a partir de então passou a  trabalhar como freelancer e está a desenvolver vários projetos editoriais;

(x) fotografou o 25 de Abril de 1974 em Portugal e, pouco depois, viajou por Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, S. Tomé, Timor-Leste e Cabo Verde, fotografando a descolonização portuguesa;

(xi) publicou diversos livros de  de fotografia: Raízes da Nossa Força (1972), Vidas Alheias (1975), Disparos (1976), Naquele Tempo (1995), O Melhor Café (1996) Porto de Mar (1998), 77 Fotografias e um Retrato (1999), Cidade das Pontes (2001), Cuidado com as crianças (2003), Cortina dos Dias (2012), O Grande Incêndio do Chiado (2013) e Os Rapazes dos Tanques (2014).
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Nota do editor:

ÚLtimo poste da série> 10 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17230: Agenda cultural (553): Convite para sessão de apresentaação do livro "Exílios: testemunhos de exilados e desertores portugueses na Europa (1961-1974)". Lisboa, Museu do Aljube, 3ª feira, dia 11, às 18h00. Apresentação de Carlos Matos Gomes, e intervenções de 2 dos 21 autores. (Confirmar presença.para info@museudoaljube.pt)´roui

Guiné 61/74 - P17268: Notas de leitura (949): “As minhas aventuras no país dos sovietes”, por José Milhazes, Oficina do Livro, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Por uso e costume, coligo todos os textos, declarações, referências, comentários, etc, que tenham a ver com a Guiné-Bissau, seja em que contexto for.
A obra de José Milhazes é um livro de memórias de alguém que partiu da Póvoa de Varzim, em 1977, com uma bolsa de estudos, ali se graduou, constituiu família e foi durante décadas tradutor e jornalista. Ao encontrar impressivas e dolorosas notas sobre a vida dos estudantes na Guiné-Bissau já na era Putin, entendi que elas tinham aqui pleno cabimento, importa não esquecer que depois estes licenciados virão a ser altos funcionários e até dirigentes políticos no seu país.

Um abraço do
Mário


Os estudantes da Guiné-Bissau 
na época pós-URSS

Beja Santos

“As minhas aventuras no país dos sovietes”, Oficina do Livro, 2017, é o livro de memórias de José Milhazes em que nos fala das suas vivências entre 1977 e a quase atualidade. Relato de infância e juventude em torno da Póvoa do Varzim, uma bolsa de estudos leva-o até Moscovo, em 1977, aprende russo e a conviver numa sociedade multicultural, passa férias na Polónia e descobre o anticomunismo mais virulento, repertoria os factos políticos com a minúcia de quem tem créditos firmados no jornalismo como ele, dá-nos imagens impressivas de alguma vida quotidiana, da constituição de família, colige laboriosamente os factos até assistirmos à dissolução do império soviético, a deriva de Boris Ieltsin em que se passou de um feroz estatismo para a mais espetacular bacanal da venda de um país a retalho, assim se chegando a Putin e à sua mão de ferro. 

É no contexto destes fragmentos de memória e da recolha documental que José Milhazes nos conta várias histórias africanas em Moscovo, e é nesse contexto que aparecem os estudantes da Guiné-Bissau. Vejamos o que ele escreve, a partir da página 291:

“Devido à instabilidade no país, os estudantes da Guiné-Bissau eram os mais afetados pela falta de meios. A situação chegou a um ponto em que eles ocuparam a embaixada do seu país em Moscovo. No dia 25 de Janeiro de 2005, recebi um telefonema de um dos dirigentes da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau na Rússia, que me informou de que tinham feito refém o embaixador Rogério Herbert, a sua família e mais dois diplomatas, frisando que só os libertariam quando as autoridades guineenses pagassem as bolsas de estudo em atraso.

Dirigi-me para a embaixada, que estava instalada num duplex numa das zonas periféricas de Moscovo, por cima da representação diplomática da Somália. Quando cheguei, encontrei as salas cheias de estudantes: uns estavam sentados em sofás, cadeiras e mesas a conversar, outros dormiam onde podiam. Eram várias dezenas de jovens sem dinheiro e a passar fome.

Um dos dirigentes estudantis foi entrevistado para a SIC Notícias e ameaçou que os seus colegas poderiam atirar o embaixador da janela abaixo se não fossem ouvidos. Ora, o duplex ficava situado no décimo andar do edifício.

Eu já conhecia o embaixador e sabia que ele não vivia muito melhor do que os estudantes, porque o seu país lhe enviava poucos meios, que, muitas vezes, não chegavam para pagar a água e a luz. Fui encontrá-lo fechado na casa de banho. Os estudantes tinham-lhe tirado as chaves do automóvel e o telemóvel, mas foi sempre tratado com respeito. Depois, conversei com os estudantes e aconselhei-os a não recorrerem a ameaças nas suas declarações, pois isso podia levar a uma dura reação das autoridades russas. À noite, bateram à porta três homens à paisana, perguntaram se tudo estava calmo. Tratava-se de três agentes do Serviço de Segurança da Rússia.

Com a ajuda de funcionários do Consulado de Portugal na capital russa, conseguimos arranjar alguns meios financeiros e fomos comprar comida para os estudantes.
Esta situação continuou durante mais de uma semana e as autoridades de Bissau transferiram algum dinheiro para resolver o problema, mas apenas temporariamente. A 27 de Agosto de 2012, 22 finalistas guineenses voltaram a ocupar a representação diplomática do seu país, dessa vez porque Bissau não lhes pagava o bilhete de regresso, como tinha sido prometido. Carfa Mané, porta-voz dos estudantes guineenses, disse-me então: ‘A Rússia tem de exigir ao governo de Bissau garantias de que os estudantes que terminem os seus cursos neste país tenham bilhetes para regressar à Guiné. Estamos aqui abandonados, vivemos ilegalmente, a monte, e as nossas autoridades não cumprem o que prometem. As autoridades russas têm que pôr fim a esta tragédia humanitária, não permitir a sua repetição”. Foram precisamente estes processos que me levaram a dedicar uma maior atenção à História das relações entre a URSS/Rússia e os PALOP, sobre as quais escrevi vários livros”.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17266: Notas de leitura (948): A Revista Panorama, editada pelo SNI – Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, dedicou o número 5/6, II Série, de 1952, à Africa Portuguesa (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17267: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (15): Tabancas de Cufar e Matofarroba


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Bajuda balanta


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Pilão do arroz


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > O al ff mil imf Luís Mourato Oliveira e o alf mil médico em visita ao reordenamento feito pelas NT


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > > Tabanca > 1973 > Aspeto parcial



Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Cufar >  Tabanca > 1973 > Aspeto parcial com o fontenário à direita

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar,  1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começamos hoje a publicar.

Sobre esta subunidade, açoriana, mobilizada pelo BI 17,  há uma página na Net, criada pelo ex-furmil mec auto Mário [Fernando Lima de] Oliveira, podendo a sua história ser consultada aqui.

Sabemos, por exemplo, que em janeiro de 1973, o "alferes mil 01876771, Luís Fernando Mourato de Oliveira, substitui o alferes mil 18029168, Mário José Correia Salsinha, nomeado para as unidades africanas: CCAC 13".

Esta companhia, comandada pelo cap mil inf João Gaspar Dias da Silva teve 9 (nove!) alferes milicianos e 19 sargentos (, a maioria, furriéis milicianos). O pessoal partiu para o CTIG, em 21/6/1972, num Boeing 707 dos TAM. 

Em 22/7/1972 seguiu, em LDG, para Cufar onde, em sobreposição, realizou a rendição da CCAÇ 2797. Um mês depois assumiu a responsabilidade do subsetor. A 23/12/1972, Cufar sobreu uma flagelação com 9 mísseis ou foguetões 122 mm (os famosos Katiusha).

Em 11 de Julho de 1974 passou o último dos 690 dias passados em Cufar. No dia seguinte chega, transportada em LDM, a CCAÇ 4152/73 , ao porto de Impundega, para substituir a CCAÇ 4740.

Em 3/8/1974, chegou o finalmente a "peluda"... A CCAÇ 4740 regressa a casa: o Boeing dos TAM, com destino ao aeroporto de Figo Maduro, faz escala no aeroporto das Lajes, em Angra do Heroísmo, desembarcando aqui os militares açorianos.

2. Reuniões de convívio do pessoal da CCAÇ 4740:

1 de Dezembro de 2007 -1º Encontro Continental

21 de Junho de 2008 - 2º Encontro Continental,

10 a 14 de Junho de 2009 - 1º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

19 de Junho de 2010 - 3º Encontro Continental,

3 a 9 de Julho de 2010 - 2º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

18 de Junho de 2011 - 4º Encontro Continental,

16 de Junho de 2012 - 5º Encontro Continental,

15 de Junho de 2013 - 6º Encontro Continental,

21 de Junho de 2014 - 7º Encontro Continental,

20 de Junho de 2015 - 8º Encontro Continental,

18 de Junho de 2016 - 9º Encontro Continental,

17 de Junho de 2016 - 10º Encontro Continental.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

Guiné 61/74 - P17266: Notas de leitura (948): A Revista Panorama, editada pelo SNI – Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, dedicou o número 5/6, II Série, de 1952, à Africa Portuguesa (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
A revista Panorama, como é de todos sabido, era uma publicação pró-regime e muitas vezes nela apareciam artigos referentes ao Império.
Este número é dedicado à África Portuguesa e prendia-se com um acontecimento turístico, o IV Congresso Internacional de Turismo Africano, que se realizou em Lourenço Marques. O artigo referente à Guiné mostra-nos uma paisagem de Canhabaque (Bijagós), vemos habitação de Manjacos, embarcação dos Bijagós, cavaleiros Fulas do Boé e o jazigo dos régulos dos Mancanhas, em Bula.
Texto apologético para quem gostasse de safaris ou se sentisse atraído por certos prodígios da natureza, que aqui se deixam registados.

Um abraço do
Mário


A Guiné na Revista Panorama, 1952

Beja Santos

A revista Panorama era editada pelo SNI – Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo. O seu número 5/6, II Série, de 1952, foi dedicado à África Portuguesa. A Guiné foi credora de quatro páginas. Importa esclarecer que este número sobre África Portuguesa privilegiava o turismo, tudo quanto se vai ler é para o potencial turista da época.

Primeiro, o acesso. Para o articulista, é fácil e cómodo: as grandes linhas aéreas da Europa e da América do Norte para a África do Sul, e da Europa para o Brasil e Argentina, têm ponto obrigatório de aterragem em Dakar – e uma carreira semanal de aviões liga Dakar a Bissau e outra, via Ziguinchor permite a comunicação aérea com Dakar e o resto do mundo. No meu livro “Mulher Grande”, foi o itinerário que organizei para Benedita Estevão, viajou de Lisboa até Dakar, Albano Toscano foi esperá-la a Ziguinchor, dali seguiram para Susana, onde casarão.

Mas o turista também podia optar pela via marítima, havia uma carreira quinzenal direta a Bissau, regressando pela Praia e por S. Vicente, podia também passar pela Madeira.

Segundo, o leitor prepare-se para ler o incrível. “As estradas de bom piso sulcam o território em todos os sentidos, assegurando o trânsito em qualquer época, com chuvas ou bom tempo”. Nunca há empecilhos: pontes a substituir as jangadas, garantindo segurança e rapidez.


Terceiro, chegámos à exuberância da fauna e da flora: “Certas zonas são ricas de caça, aves de plumagem desvairada e berrante, antílopes, por vezes o leopardo (onça) e o búfalo, por toda a parte as formações geométricas dos patos bravos evolucionando ou descansado nos pântanos e charcos, as pintadas e pesadonas galinhas-do-mato, enormes perdizes, lebres e caçapos”. O autor, Vieira Ferreira, entusiasma-se na sua escrita mexida e remexida, é assim que ele gosta de imprimir a vivacidade às coisas: “E a teoria infindável dos monos, nas árvores, em multidão nas estradas, brincalhotando ou renhindo, baloiçando-se, pinchando acrobacias, arremedando macaquices”. Segue-se outra forma de exuberância: “Depois, a presença dos rios, canais, bolanhas e lalas, esmalta a paisagem de superfícies espelhentas, suas largas faixas lisas lentamente deslizando, em curvas longas, marginadas de compactas muralhas verdes de arvoredo altíssimo e camalhões inextrincáveis de arbustos emaranhados; e regulares bacias, onde a pauta dos regos do cultivo do arroz ondula os fundos, em pequenas dunas paralelas e longíssimas, regulares e submersas; tufos de mangal e nódoas floridas de lotos, mal escondendo esverdinhadas estagnações de águas paradas – é sempre um inesperado acompanhamento líquido, quebrando a continuidade da floresta, irrompendo por todos os lados”.


Viu-se que o articulista consultou ou seus contemporâneos, repescou uma síntese de M. Marques Mano que é de grande beleza, a propósito da influência absorvente das marés na zona litoral: “… o mar, duas vezes por dia, arremessa contra a terra, em toda a largura da costa, massas de água de 6,5 metros de altura. O volume colossal desta maré enche as bacias hidrográficas até transbordar; mas logo se escoa até as deixar esgotadas; e outra vez é arremessado com uma energia portentosa”.
“Os estuários da colónia, poderia dizer-se, são alimentados só pelo mar: não o são pelos afluentes, muito poucos e escassos. Os estuários, por sua vez, alimentam as bacias hidrográficas. Acima do nível da baixa-mar não há rios: há leitos lodosos, abertos e enxutos, que circulam entre bandas verdes de mangal no eixo das lezírias. A enchente jorra pela boca daqueles labirintos de fossos de lodo e, seis horas depois, fluem rios majestosos, amplos, abertos ao sol, em altos corredores de verdura tão sagrada que através ela se não veem as margens, em percursos tão longos que as velas levam dias a subi-los. Seis horas depois, como por encanto, os rios desaparecem e, no lugar deles, deixam uma vastíssima rede de valas lobregas. Seis horas mais tarde, os rios renascem em toda a majestade; de novo se esgotam e de novo renascem” (Visita à Guiné, no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume 2, 1947, n.º 6).

E temos igualmente o fenómeno do macaréu, mais um prodígio para aguçar o apetite do turista: “A corrente que desce, comprime a onda imensa da maré que quer subir, provocando a acumulação das águas na embocadura; depois, o mar acaba por vencer o rio, e a vaga salgada, ruidosa, indomável, altíssima, em rolo espumante, galga a superfície do rio, rugindo, alagando, invencível e brutal, de maior, descomunal volume nas marés vivas”.

Jazigo dos régulos dos Mancanhas, Bula

Muitas orientações são sugeridas ao turista, a quem se recorda que existe o tornado, pitorescas casas circulares, cada uma das etnias tem formas próprias de agrinaldar os exteriores e interiores. Há os costumes guerreiros ou pacíficos, há batuques e cerimónias, o turista que esteja atento ao vestuário e atitudes de cada um, pois são dissimilantes os de Felupe com o Balanta, O Bijagó com o Fula, há muçulmanos solenes, Bijagós com saiotes de ráfia, os Papéis mais europeizados, há alfanges e punhais. Enfim, a paisagem humana completa a paisagem natural e faz de uma visita à Guiné um raro prazer turístico. E temos a moderna Bissau com os seus pequenos hotéis, o Bissau velho ao lado da Amura. Que o leitor não abstraia de que estávamos no início da década de 1950, propõe-se ao turista que estivesse atento ao que tinha para ver: estádio, museu-biblioteca, palácio do governo, bairros residenciais, burgo comercial, avenidas de arvoredo florido e, a poucos quilómetros, o magnífico aeroporto em acabamento. E dirige-nos uma nota para aquele rincão que muito tocou: “É em Bolama – a melancólica cidade morrente – que reside o supremo encanto das povoações que os brancos ergueram nestas partes. Antiga capital, ainda hoje mostra os restos das sua senhorial grandeza, em edifícios públicos, praça do conjunto, carateres de negros e mestiços; e uma nostalgia tão doce, um tal conformismo amargo e suave com a decadência e a morte, uma atmosfera de saudade e triste resignação que nos penetra e emociona”.

Qual seria o leitor que iria resistir a tantas atrações, a tanto feitiço africano?
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17250: Notas de leitura (947): "Em Tempos de Inocência", por António Pinto da França, Prefácio, 2006 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17265: Parabéns a você (1242): António Branquinho, ex-Fur Mil Inf do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17257: Parabéns a você (1241): Augusto Vilaça, ex-Fur Mil Art da CART 1692 (Guiné, 1967/69); Leão Varela, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1566 (Guiné, 1966/68) e Victor Barata, ex-1.º Cabo Especialista MMA - DO 27 da BA 12 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17264: Inquérito 'online' (107): "Este ano vou ao nosso encontro, em Monte Real, em 29 de abril"... As 35 primeiras respostas: 60% não vai este ano...


Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > 16 de Abril de 2016 > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande...

Foto de família © Miguel Pessoa


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"ESTE ANO VOU AO NOSSO ENCONTRO, EM MONTE REAL, EM 29 DE ABRIL..."


As 35 primeiras respostas (*):


Sim, vou  > 12 (34,3%)
Não vou > 21 (60,0%)
Ainda estou indeciso > 2 (5,7%)

Total > 35 (100,0%)



Razões invocadas para não ir (n=21):


(i) ter outra festa ou convívio nesse dia  > 6 (17,1%)

(ii) razões de saúde  > 2 (5,7%)

(iii)  ser uma despesa grande  > 2 (5,7%)

(iv) falta de interesse  > 2 (5,7%)

(v) falta de transporte  > 1 (2,9%)

(vi)  outras razões  > 8 (22,9%)


II. O inquérito termina no dia 25 de abril, às 23h40.

Queremos conhecer a intenção dos amigos e camaradas da Guiné relativamente à ida (ou não) ao XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, no próximo sábado, dia 29.

A resposta ao inquérito deve ser dada, "on line", diretamente, no canto superior esquerdo do blogue.

Como acontece todos os anos, há camaradas que se inscrevem pela primeira vez, e serão recebidos, como sempre, de braços abertos... Outros não costumam falhar, mas este ano têm conflitos de agenda, ou problemas de saúde ou outros motivos para não poder ir. Outros haverá ainda que não tiveram conhecimento do realização do encontro... Por fim, há sempre os indecisos e os que guardam a inscrição para a última hora...

A lotação da sala de almoço, no Palace Hotel Monte Real, são 200 lugares.

O inquérito também ajuda a promover a nossa festa anual. Recorde-se que este ano celebramos os nossos 14 anos de existência enquanto bloguue. O nº total de membros da Tabanca Grande, registados, é de 742 (dos quais, infelizmente, 54 já morreram).



Convém informar os nossos leitores que deixámos de poder contactar por email, em BBC, todos os membros, registados, da nossa Tabanca Grande... Os servidores de email (Gmail, Outlook...) consideram essas mensagens como SPAM (publicidade indevida e correio indesejável), e corremos o risco de nos cancelarem as contas.

Recorde-se que o prazo de inscrição no XII Encontro Nacional da Tabanca Grande termina no final do dia 23, domingo. (**). 


Estamos, no dia de hoje, ao fim da tarde, com 124 inscritos, ainda longe do pleno (200 lugares).
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Guiné 61/74 - P17263: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (28): Gostaria de lhe chamar pai, autoriza?

1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 7 de Abril de 2017 enviou-nos, desta feita, uma memória bem recente para integrar as suas outras memórias da guerra.


Outras memórias da minha guerra

27 - Gostaria de lhe chamar pai. Autoriza?

Há uns meses fui contactado por uma senhora, através de mensagem no Facebook:
- O Senhor Ferreira esteve na guerra do Ultramar?
- Sim, nos anos de 67 a 69. Estive na Guiné - respondi.
- Desculpe, eu procuro o senhor A. Ferreira que esteve em Machava, Moçambique, como Chefe de Cozinha da Marinha, nos anos de 66 a 68. Por acaso, não o conheceu?
- Não. Tive e tenho poucos contactos com malta da Marinha.
- Gostaria tanto de o encontrar. Por favor, veja se consegue ajudar-me a localizá-lo. Eu sei que é muito difícil, mas ficaria muito agradecida.

Fez-se minha amiga virtual, através do Facebook, por onde fomos dando sinais de vida. Aconselhei-a a insistir na procura, junto das entidades oficiais. Pensei que ela haveria de conseguir. Mas, por outro lado, fiquei com a ideia de que ela poderia estar a tentar fazer esse contacto apenas para alimentar alguma ligação saudosista à presença portuguesa em África. Porém, mais tarde, noutro contacto, por altura do seu aniversário, em que ela me pareceu um pouco incrédula, acabei por lhe prometer que brevemente a iria contactar, para a ajudar. Nessa altura, já eu estava a pensar que talvez conseguisse uma ampla divulgação do assunto, através dos vários grupos de ex-Combatentes que proliferam no Facebook.

O tempo correu rapidamente, enquanto eu esperava arranjar maneira de a ajudar (de verdade!), partindo do princípio de que o assunto ainda não estava suficientemente explorado pelo lado dos ex-Combatentes.

Recentemente, pelo meu aniversário, recebi dela uma mensagem:
- Muitas Felicidades para o Avô e Pai que nunca tive.

Agradeci normalmente, tal como o fizera a várias centenas de mensagens.

Passados uns dias, após algumas tentativas infrutíferas de novo contacto, li esta mensagem:
- Gostaria de lhe chamar pai. Autoriza?

Não agradeci nem respondi. Fiquei preocupado. É que eu tenho a certeza de que não deixei descendência em África. E acredito que a minha família também tenha essa certeza. (Ora, já viram o que seria quando “topassem” que alguém estranho me chamava pai?).

Propositadamente, deixei de responder a qualquer trivial cumprimento, apesar de várias tentativas. Até que hoje, pelas 17H00, fiz questão em atender, pela primeira vez, a voz da Maria do Carmo.
E ela logo perguntou:
- A sua saúde, está melhor?
- Sim. Obrigado. De onde está a falar?
- Eu sou de Moçambique, mas vivo na África do Sul.

Sem mais rodeios, acrescentei:
- Estou em falta consigo, porque prometi ajudá-la e ainda nada fiz.

E continuei:
- Por favor diga-me o que quer verdadeiramente.

Ela respondeu pausadamente e de forma bem explícita:
- Chamo-me Maria do Carmo Ferreira e procuro o meu pai A. Ferreira, que foi Chefe dos cozinheiros na Capitania Rádio Azul da Machava, Moçambique, nos anos de 66 a 68. Deve ter ido em finais de Dezembro de 1968. Nasci dois meses antes de ele regressar a Portugal. A minha mãe, Maria Teresa, dizia que ele queria que eu tivesse o nome de sua mãe, M. do C. Ferreira. Também dizia que ele me queria perfilhar e levar-me para Portugal. Ela chegou a esconder-me porque teve medo que eu fosse raptada. Minha mãe faleceu quando eu tinha 13 anos. Sempre quis conhecer a minha família de Portugal. Já procurei em vários organismos oficiais e sempre esbarro no facto de não ter documentos. Também me disseram que ele não consta como militar, que devia ser civil. Estou casada e tenho quatro filhos e dois netos. Nós seremos sempre de sangue português.

Sem ser interrompida, continuou:
- Não quero pedir outro tipo de ajuda. Vivo sem carências de maior. Mas assim nunca poderei ser feliz. Tenho 48 anos e vivo com esta amargura permanente de nunca ter conhecido o meu pai nem a minha família de Portugal.

Maria do Carmo Ferreira

Um dos filhos da Maria do Carmo

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Nota final:
O texto que acabaram de ler, embora pareça, não pretende fazer humor nem minimizar o estado de espírito da senhora que me contactou, até porque, agora, é o próprio filho (engenheiro químico) que me contacta também para os ajudar a localizar pai e avô.
Se algum de vós puder dar alguma informação que possa levar a esse camarada que prestou serviço em Moçambique, coloque-a em comentário a este post ou contacte os editores deste blogue.
O autor teve o azar (melhor, a sorte!) de se chamar “Ferreira”…
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17146: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (27): Controlo sanitário

Guiné 61/74 - P17262: Convívios (794): XV Encontro do pessoal da CART 2520, dia 20 de Maio de 2017, em Almeirim (José Nascimento, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 19 de Abril de 2017:

Caro camarada Carlos Vinhal, 
A CART 2520 vai realizar o seu 15.º convívio no dia 20 de Maio em Almeirim. 
No intuito da convocatória chegar ao máximo número de combatentes desta Companhia, agradeço a divulgação da mesma na nossa Tabanca Grande. 

Um grande abraço do 
José Nascimento


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Nota do editor

Último poste da série de 11 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17232: Convívios (793): XXII Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, dia 20 de Maio de 2017, em Coimbra (César Dias, ex-Fur Mil Sapador)

Guiné 61/74 - P17261: (In)citações (106): Macau e Guiné-Bissau, dois pesos e duas medidas... Deu-se a nacionalidade portuguesa a cerca de 100 mil macaenses, a grande maioria incapaz de trocar meia dúzia de frases na língua de Camões... Em contrapartida, milhares e milhares de guineenses que lutaram (e muitos morreram ou ficaram feridos), nas fileiras do exército português durante a guerra colonial, foram votados a um destino cruel... (Manuel Amante da Rosa, cabo-verdiano, diplomata, ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau, 1973/74)

1. Do nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro, 
ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74, Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália desde 16/1/2013, e agora também em Malta [, foto, acima, de 2013; cortesia da RTC - Radiotelevisão Caboverdiana]



Data: 13 de abril de 2017 às 12:23
Assunto: Público-2017/04/13 (*)


Meus Caros,

Um desabafo estritamente pessoal, que não seja somente a de partilhar convosco esta reflexão, bem fora do âmbito de qualquer polémica ou publicação.

Há muito que venho seguindo este sistema de "dois pesos, duas medidas" usados pelas autoridades lusas ao tempo da descolonização. O diário português "Público", de hoje, trás nas suas páginas 12 e 13, no quadro do 30º Aniversário da transferência de Macau à China, o tratamento diferenciado dado aos africanos e, mais tarde, os dados aos residentes chineses daquele diminuto território asiático.

Curtos onze anos após as negociações para a Independência das Colónias africanas, foram concedidos nacionalidade portuguesa a cerca de uma centena de milhar de pessoas residentes em Macau. Por iniciativa negocial e visão acertada dos negociadores lusos em confronto directo com o estatuído na lei chinesa.

80% ou mais deste contingente que era visado nem a primeira estrofe do Hino Nacional de Portugal conheciam para não dizer cumprimentar e/ou trocar algumas frases na língua de Camões.

E ainda hoje, para aqueles que permaneceram na RAEM [ Região Autónoma Especial de Macau], este desconhecimento é total.

A língua portuguesa, apesar dos onerosos montantes alocados pelo Executivo macaense, continua como francamente residual e raramente usado fora das repartições e do núcleo da comunidade lusa.

Este assunto, da atribuição pertinente e massiva da nacionalidade portuguesa, foi seguido por mim com especial interesse e interrogações por ter sido militar do exército português, no seu último ano e meio e ter convivido com a violenta guerra, desde criança, porque tudo se relacionava a ela, ao fim e ao cabo. Não havia como se estar à margem do ambiente bélico.

De uma maneira geral, em todas as colónias havia forte contingente de nativos/indígenas, integrados em pelotões independentes e companhias, enquadrados por graduados e oficiais oriundos da metrópole. Mas para além das forças militares regulares, de recrutamento obrigatório, haviam ainda, numa base de voluntariado, os contingentes das forças especiais, das milícias locais, organizadas em unidades auxiliares nas unidades militares, outras constituídas em auto-defesa, contigentes de cipaios e forças para-militares (unidades de polícias).


Na Guiné, pela sua pequena dimensão territorial e humana, a contribuição dada ao exército português foi relevante em todas as frentes de combate, nas patrulhas e operações de grandes envergaduras, nas defesas dos quartéis, construções de estradas e outras infra-estruturas e até nas forças especiais.

Lógico que milhares sofressem ferimentos em combate e acidentes, outros encontrassem a morte ou e ainda outros milhares ficassem com sequelas de guerra, uns estropiados e outros com stress pós-traumático.

Mas que outros milhares fossem distinguidos com cruzes de guerra, louvados, condecorados, citados em ordens do dia, premiados e levados
para a ex-metrópole em gozo de férias.

É consabido (e conheço casos) que soldados africanos se tenham  sacrificado, tenham salvo a vida ou ajudado os seus camaradas brancos  nos confrontos da contra-guerrilha.E vice-versa, está claro!

Raros, muito raros, foram aqueles que não acabassem o período de 3 anos de serviço militar sem saberem entender ou se exprimir em português. Era de cariz obrigatório a alfabetização no exército, até  pelo menos a quarta classe. Pelo menos na Guiné. Assim como conhecer  rudimentos da história de Portugal e cantar o Hino Nacional.

Quando tenho a oportunidade de retornar à Guiné e encontro, em todo o lado, esses idosos e valorosos militares das forças armadas  portuguesas, abandonados à pressa e à sua sorte e me vem ainda ao  pensamento os milhares que acabaram fuzilados, após a guerra, sempre  me pergunto porque raio de circunstâncias o destino lhes traçou esse
nefasto rumo.


E, se por força do esforço pessoal e determinação, conseguem chegar a  Lisboa, para se radicarem ou tratarem da saúde e das sequelas da  guerra, vale-lhes mais a solidariedade, camaradagem e memórias dos
antigos oficiais ou camaradas para calcorrearem a via crucis… do que  qualquer outra instituição a que com garbo e sacrifício pertenceram. (**)

Abraços

Manuel Amante

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Notas do editor

(*) Vd. Bárbara Reis > Há 30 anos, Portugal surpreendeu a China nas negociações de Macau > Públicio, 13 de abril de 2017

(...) As negociações sobre a transferência de Macau duraram nove meses e, para Augusto Santos Silva, são “um marco na história diplomática de Portugal”. E ajudaram, 30 anos depois, a eleger António Guterres secretário-geral das Nações Unidas.(...)


quarta-feira, 19 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17260: Os nossos seres, saberes e lazeres (208): Tavira fenícia, árabe, portuguesa; a cidade e a água (2) (Mário Beja Santos)

Tavira - Quartel da Atalaia


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 12 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Desta feita o passeio é por monumentos portugueses, já se registou o que foi fenício e almóada, o viandante não foi a Balsa, e bem gostaria de ter ido, fica par a próxima, o que aqui se mostra são traços do renascimento tavirense e a presença militar, uma constante, Tavira foi frequentada por muitos sargentos milicianos que aqui se prepararam para marchar para a guerra. A memória é por vezes labiríntica e enquanto o viandante percorria o exterior do quartel da Atalaia lembrou-se de uma conversa havida em Missirá, na noite de 4 de Agosto de 1968, com o furriel Zacarias Saiegh, que lhe disse que tinha passado por Tavira, inolvidável era a sua lembrança daquela cidade diretamente a beijar a ria e o oceano, lembrava-se dos passeios pela serra inóspita, maior contraste não podia haver. Certo e seguro, Saiegh não voltou a Tavira, partiu para os Comandos Africanos e foi fuzilado em Porto Gole, em Dezembro de 1977, ao que parece nunca se saberá porquê, no mundo dos ajustes de contas haverá vácuos na História, para o viandante este vácuo é dor pelas perdas humanos que sofreu.

Um abraço do
Mário


Tavira, a cidade e o quartel (2)

Beja Santos 

Tavira é uma cidade de muitas igrejas, conventos, ermidas e capelas, espaços ajardinados, pontes, muralhas, um espaço público de enlevo que é a Biblioteca Álvaro de Campos, uma reconversão da antiga cadeia civil, projeto do arquiteto Carilho da Graça, é bom cirandar pela cidade, ver as suas portas com caráter, resquícios do manuelino, visitar o Palácio da Galeria, que será o futuro museu da cidade e passar pelo imponente quartel, um expoente da arquitetura pombalina, aqui foram formados muitos sargentos milicianos que deram com os costados nos teatros da guerra.





Subindo a colina de Santa Maria, observa-se a interseção de diferentes estilos desde o gótico ao renascentista e barroco. Convém recordar que Tavira, logo no primeiro quartel do século XVI, era o mais próspero centro urbano do Algarve, beneficiava da situação estratégica no contexto da expansão portuguesa, funcionava como a retaguarda das praças do Norte de África. Não há viandante que não se impressione com os vestígios arquitetónicos góticos, as portas de arco quebrado até chegar ao sóbrio portal da Igreja de Santa Maria do Castelo que, segundo a tradição, foi construída sobre a antiga Mesquita Maior. Na igreja restam algumas capelas góticas. O viandante embevece-se com a porta principal, com quatro arquivoltas com arco quebrado, capitéis com temas vegetalistas, que beleza dentro dos cânones da sobriedade.




 O período renascentista, é esta a modesta opinião do viandante, tem duas jóias preciosas em Tavira: a Igreja de Misericórdia e a Loggia do Palácio da Galeria, o tal onde se podem observar poços rituais fenícios. Neste tempo distinguiu-se um arquiteto local, André Pilarte, que já trazia pergaminhos do seu trabalho no Mosteiro dos Jerónimos. É ele que projeta e dirige a construção da Igreja da Misericórdia, em meados do século XVI. A igreja é de uma enorme riqueza, tem azulejaria preciosa, um esplendoroso altar-mor, um belo órgão, aqui assistiu a um concerto com o soprano finlandês Olga Heikkilä, cantou Puccini, Strauss, o das valsas, Franz Lehár, Sibelius, Grieg e muito mais.


As recordações militares são muito intensas em Tavira. Logo a evocação dos combatentes, em ponto central da cidade. No exterior, impressiona o que resta do forte de Santo António de Tavira, também conhecido por forte do Rato ou forte da ilha das Lebres, na foz do rio Gilão, junto à barra da cidade de Tavira. Destinava-se a proteger a entrada da barra, isto no reinado de D. Sebastião. Acontece que houve alterações profundas na linha de costa, perdeu utilidade. Na Guerra da Restauração foi sujeito a remodelação. Perdeu função militar em 1840. Consta que vai ser concessionado, bom seria que não se perdesse este belo património.



Muito estranhou o viandante quando viu a referência ao Regimento de Infantaria n.º 1, assentou praça como aspirante em Queluz, em 1968, assim se designava. À cautela, depois de andar ali às voltas, e sabendo que daquelas instalações partiram inúmeros sargentos milicianos para a guerra, consultou a Wikipédia. Quanto ao Regimento de Infantaria n.º 1 a sua origem remonta a 1648, foi conhecido como Regimento de Infantaria de Lippe, homenagem ao organizador do exército português. Conheceu muitas danças e contradanças, o Regimento foi transferido em 2015 para a cidade de Beja. Aqui é o quartel da Atalaia, é imponente, durante a guerra colonial deu outra vivacidade ao burgo, o militar foi homenageado num ponto certo, tem estátua junto da estação ferroviária, agradece-se o que fez pela Pátria, o seu zelo e dedicação continuados, para todo o sempre.




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17239: Os nossos seres, saberes e lazeres (207): Tavira fenícia, árabe, portuguesa; a cidade e a água (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17259: Inquérito 'online' (106): "Este ano vou ao nosso encontro, em Monte Real, em 29 de abril"... SIM ou NÃO ?... Resposta até 25 de abril, às 23h40



Infogravura: Miguel Pessoa (2017)


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:


"ESTE ANO VOU AO NOSSO ENCONTRO, EM MONTE REAL, EM 29 DE ABRIL..."

Oito hipóteses de resposta:


1. Sim, vou 

2. Não vou, porque tenho outra festa ou convívio nesse dia 

3. Não vou, por razões de saúde 

4. Não vou, porque é uma despesa grande 

5. Não vou, por falta de transporte 

6. Não vou, por falta de interesse 

7. Não vou, por outras razões 

8. Ainda estou indeciso 




 II. O inquérito termina no dia 25 de abril, às 23h40. Queremos conhecer a intenção dos amigos e camaradas da Guiné relativamente à ida (ou não) ao XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, no próximo sábado, dia 29.

A resposta ao inquérito deve ser dada, "on line", diretamente, no canto superior esquerdo do blogue.

Sabemos que há camaradas que se inscrevem pela primeira vez, e serão recebidos, como sempre, de braços abertos... Outros não costumam falhar, mas este ano têm conflitos de agenda,  ou problemas de saúde. Outros haverá ainda que não tiveram conhecimento do realização do encontro... Por fim, há sempre os indecisos e os que guardam a inscrição para a última hora...

A lotação da sala de almoço, no Palace Hotel Monte Real, são 200 lugares.

O inquérito também ajuda a promover a nossa festa anual. 

O prazo de inscrição no encontro termina no final do dia 23, domingo. (**)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de fevereiro de  2017 > Guiné 61/74 - P17035: Inquérito 'online' (105): "Estás reformado? E sentes-te bem?"... Total de respostas: 114. Resultados: 93% (n=106) estão reformados; e destes, cerca de 38% (n=40) sente-se "muito bem" e cerca de 45% (n=51) sente-se "bem"...

(**) Vd. poste de  7 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17112: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (2): Abertura das inscrições que terminam: (i) a 23 de abril; ou (ii) ou quando se atingir a lotação da sala (200 lugares)