10JUN2010 - António Barreto dá uma chicotada psicológica aos mais Altos Representantes de Portugal
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Confesso que não sabia que António Barreto era o responsável pela Comissão das Comemorações do 10 de Junho de 2010, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, mas foi com uma agradável surpresa que ouvi o seu discurso, quase todo virado para os ex-combatentes, preocupado em salientar o facto de não haver vários tipos de combatentes, como alguns pretendem. Existe, apenas, um tipo de combatente: aquele que em nome do seu país, serviu ou serve, em território português, ou no estrangeiro, por mandato do Estado Português. Entenda-se que as ex-colónias, hoje países estrangeiros, eram, na altura da guerra colonial, consideradas terras sob administração portuguesa...
António Barreto proferiu, no meu ponto de vista, o discurso que os ex-combatentes esperavam ouvir, há mais de 40 anos, e que nenhum político ousou dizer, talvez com o receio de ser conotado com uma ou outra força política, por concordância ou discordância da manutenção das guerras do ultramar. O desassombro e a inspiração de António Barreto merece a nossa vénia e o nosso obrigado. Ele soube definir, com tamanha clareza de espírito e evidência o que levou tantos milhares de jovens a deixar as suas terras e as suas famílias, os seus amigos, os seus empregos, para serem levados, sem vontade própria, para terras que desconheciam, sem um “bilhete de passagem” que lhes garantisse o regresso.
A tal dívida de gratidão, tantas vezes proferida por milhares de ex-combatentes e que ventos hostis nunca permitiram que chegasse aos nossos governantes, foi – graças ao António Barreto - insuflada, à força, um a um, nos ouvidos dos governantes ali presentes. A partir de hoje, nenhum deles poderá dizer que desconhece existir uma dívida de gratidão e que ela terá que ser paga, com ou sem existência de crise.
É certo que o País já possui legislação sobre algumas questões que afectavam e afectam os ex-combatentes, relacionadas, justamente, com as situações mais gritantes de injustiça social, tais como, o apoio aos deficientes e aos afectados pelo stress pós traumático
António Barreto afirmou que "Portugal não trata bem os seus antigos combatentes, sobreviventes, feridos ou mortos”, reforçando que o “esquecimento e a indiferença são superiores”, sobretudo "por omissão do Estado".
Barreto acusa o Estado de ser pouco "explícito no cumprimento desse dever", avisando que está na altura de "eliminar as diferenças entre bons e maus soldados, entre veteranos de nome e veteranos anónimos, entre recordados e esquecidos".
Um antigo combatente não pode ser tratado de "colonialista", "fascista" ou "revolucionário", mas simplesmente "soldado português",.
O dia 10 de Junho de 2010 fica marcado, também, por ter sido a primeira vez que os antigos combatentes desfilaram na cerimónia militar oficial do Dia de Portugal.
Como ex-combatente, sinto-me profundamente grato pelas palavras de António Barreto, que me tocaram o coração. Um bem-haja.
Inácio Silva
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2. Mensagem de Joaquim Mexia Alves**, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 10 de Junho de 2010:
10 de Junho de 2010
Desde há muito que vejo neste homem, (sou insuspeito na matéria, como bem sabeis, camarigos), uma pessoa integra e de vincado carácter, que pensa pela sua cabeça e não se deixa levar “em modas”.
Assim decidi ouvir o seu discurso: “mal não me faria com certeza!”
E tive a grata surpresa de pela primeira vez, desde há muitos anos, ouvir falar desassombradamente um homem, figura da política de agora, chamar “os bois pelos nomes” e colocar as coisas na devida realidade.
Assim António Barreto teve a coragem de dizer aquilo que muitos sentem, ou seja, que não há antigos combatentes de Portugal legítimos e ilegítimos, que não há combatentes “fascistas” e “democráticos”, que todos, e frisou bem todos, merecem o respeito dos Portugueses e da Nação Portuguesa.
E foi mais longe, pois teve o desplante de dizer a verdade, ou seja, que o Estado Português trata mal os seus filhos antigos combatentes das guerras travadas em nome de Portugal, independentemente dos regimes políticos que governavam e governam o País.
Não se coibiu de, (apontando para a sua matriz ideológica), afirmar que todos os antigos combatentes lhe merecem igual respeito, exceptuando logicamente aqueles que, por erro grave de conduta própria, tenham ultrapassado a sua missão, cometendo vulgares crimes, puníveis em todo o momento da história.
Senti-me bem, confesso, e respeitei ainda mais este político que disse a verdade e não teve medo de a enfrentar.
Nesse discurso, soube também, que pela primeira vez desfilaram antigos combatentes na parada do 10 de Junho!
Era tempo de se fazer justiça a todos e sobretudo à geração de sessenta e princípio de setenta, que deu a vida pela pátria Portuguesa!
Alguma coisa mudará?
Não acredito muito, porque os ouvidos do poder são moucos e de fraco entendimento, mas pelo menos pela primeira vez ouviu-se alguém dizer na cara do “poder” da Nação Portuguesa, que não há antigos combatentes de primeira e de segunda, que não há antigos combatentes justos e injustos, pois todos combateram pela mesma nação: Portugal
Hoje a minha alma Portuguesa ganhou um pouco mais de alento, e o meu coração Português alegrou-se por um tempo.
Assim saibamos unir-nos para, ajudando-nos uns aos outros, lembrarmos os vindouros que soubemos ser Portugueses em tempos bem conturbados e difíceis!
Marinha Grande, 10 de Junho de 2010
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6194: Convívios (133): Encontro comemorativo da ida da CART 2732 para a Guiné, Funchal 10 de Abril de 2010 (Inácio Silva/Carlos Vinhal)
(**) Vd. poste de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6572: 20 Anos depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (5): Sem Título 2
Link para o discurso: http://o-jacaranda.blogspot.com/2010/06/dia-de-portugal-de-camoes-e-das.html