segunda-feira, 23 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2977: Recortes de imprensa (6): a cidadã portuguesa, Cristina Silva, expulsa da Embaixada de Portugal em Bissau no 10 de Junho

1. Com a devida vénia: Correio da Manhã, 21 Junho 2008

Guiné-Bissau: Embaixador português ‘retaliou’
Expulsa por não cumprimentar


Uma cidadã luso-guineense foi expulsa da embaixada de Portugal na Guiné-Bissau pelo embaixador José Manuel Paes Moreira durante a cerimónia de 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, por não o ter cumprimentado, alegou o diplomata.

A visada enviou uma carta de protesto ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, e outra para o Parlamento português.

Em declarações ao Correio da Manhã, Cristina Silva, a vítima, manifestou-se indignada com a atitude do embaixador. "Fui chamada, por um segurança, para falar com o embaixador. Ele volta-se para mim e diz-me para abandonar a embaixada porque não o cumprimentei. Quando tentei explicar o que se passou, deu-me ordem de expulsão".

Cristina, casada com um professor de português que lecciona em Bissau, alega que chegou tarde à cerimónia. "Quando cheguei já tinham terminado os cumprimentos e não vi o embaixador. Isto não é caso para expulsão".

O gabinete de Luís Amado confirmou a recepção da carta e adiantou que a mesma "foi encaminhada para a secretaria-geral do Ministério para averiguar o que se passou". Recorde-se que, em Março último, as autoridades guineenses pediram a Lisboa a substituição do cônsul Eduardo Rafael acusado de "tratamento indigno" a guineenses.

Carlos Menezes


2. Nota do editor L.G. sobre a cidadã portuguesa em causa:

Nome completo: Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva, guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.

Tem 35, é licenciada em biologia marinha. Trabalha no IBAP- Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies.

Sobre a pessoa do embaixador de Portugal, que é posta aqui em causa (1), o nosso camarada e amigo J. L. Vacas de Carvalho não acredita tratar-se da mesma pessoa:

Luís e Pepito: Continuo a achar estranho. O nosso Embaixador na Guiné chama-se José Manuel Paes Moreira. Tem cerca de 60 anos e cerca de 60 Kg, usa bigode e é casado com uma amiga minha, que diz ser um indivíduo tímido mas muito educado.

Gostaria que me esclarecessem se é da mesma pessoa que estamos a falar.

Um abraço
Zé Luís

Resposta de L.G.:
Meu caro Zé: O teu amigo, ou o marido da tua amiga, como pessoa e como cidadão tem direito ao bom nome. Lamento o caso, por ti, por todos nós. Ninguém aqui vai fazer nenhum assassinato de carácter. Porém, como figura pública que é, está muito mais exposto, em termos mediáticos, à crítica da sua conduta pública. Além disso, é um funcionário público. E, para mais, é pressuposto representar-nos, a nós, portugueses e a ao nosso país, Portugal. Ora todos esperamos que os nossos diplomatas nos representem condignamente. A embaixada de Portugal em Bisssau é, para os guineenses (e para os portugueses que lá vivem ou que por por lá passam, em turismo, negócios, cooperação...), a montra ou o espelho de Portugal. É ou devia ser.
As notícias que nos chegam de Bissau, não parecem abonar algumas das condutas públicas do senhor embaixador. Não tudo o que se escreve ou diz, merece credibilidade, nem vou alimentar o blogue com este incidente (preferia chamar-lhe assim...). Acontece que o caso com a Cristina foi apenas a gota de água, ou é apenas a ponta do iceberg. Os numerosos portugueses que estiveram em Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008) ficaram furiosos com a atitude dele, na altura. Foram ignorados olimpicamente por ele. Ser tímido é uma coisa, mal educado é outra.
Infelizmente, há coisas mais graves e muito mais importantes, para o futuro dos nossos dois povos, do que o eventual mau humor do senhor embaixador e a sua postura pouco ou nada institucional. Se ele for uma pessoa educada, dá-nos pelo menos a sua versão dos factos e, no caso de se ter excedido, pode (e deve) apresentar publicamente as suas desculpas. Errar é humano, diz o nosso povo. Mas também diz: Quem não se sente, não é filho de boa gente. É assim que as coisas funcionam entre pessoas civilizadas e, para mais, entre lusófonos.
Estamos solidários com a Cristina mas também com o Carlos Schwarz e a Isabel Miranda, da AD - Acção para o Desenvolvimento, que foram deliberada e ostensivamente postos na lista negra, não tendo sido convidados este ano - ao fim de 33 anos ! - para a festa de Portugal e dos portugueses, por razões que, não sendo de Estado, só podem ser pessoais e pequeninas (pequeno é uma palavra que vem latim parvulu, parvu, parvo, pequeno...).
Zé Luís: espero, ao menos por ti, que não estejamos a falar da mesma pessoa e, por todos nós, amigos e camaradas da Guiné, que não estejamos em vão a gastar o nosso precioso latim...
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. poste de 18 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios e pateadas vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)

Guiné 63/74 - P2976: Fórum Guileje (16): Como está a lusofonia em Bissau ? (António Rosinha / Luís Graça)


1. Mensagem do António Rosinha, com data de 15 de Abril de 2008. Recorde-se que o Rosinha foi Furriel Miliciano em Angola (1961) e, como civil, trabalhou na Guiné-Bissau, entre 1979/84, como topógrafo da TECNIL (1):



Assunto - O SIMPÓSIO DE GUILEJE E O QUASE DESAPARECIMENTO DO PORTUGUÊS E DO CRIOULO, DE UM PAÍS LUSÓFONO (2)


Luís, co-editores e co-tertulianos,

Penso que, ao lermos e vermos as reportagens sobre a referida viagem à Guiné [,por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008,], uma das coisas que mais chama à nossa atenção é o facto de quase não ouvirmos guineenses a falar a nossa língua.

E, eu digo, até o próprio crioulo está muitíssimo rarefeito.

Escreveu o Luís Graça, que o Presidente Nino falou em professores que Portugal podia enviar...

Agora não vai ser o politicamente correto que vai-me limitar a relatar aquilo que eu assisti, durante vários anos, que levou ao lento desaparecimento da língua portuguesa, da terra onde havia imensos guineenses, lusoguineenses, suecos, soviéticos, etc. que falavam a nossa língua tão corretamente como qualquer um de nós.

A primeira razão foi aparecer o que o IN resolveu chamar as "zonas libertadas". Na realidade não eram libertadas, mas sim pura e simplesmente abandonadas, não só pelo exército português, como pelo PAIGC, isto ao ponto de passados 20 anos após a independência em Madina do Boé, reconhecida na ONU, para dar um exemplo, toda aquela região nunca mais teve escolas, médicos... E as visitas dos governantes eram muito raras, isto entre a jangada de Ché-Ché, Boé e toda aquela região fronteiriça.

A segunda razão foi a fuga de imensos falantes de um português correcto, entre eles, professores, funcionários, comerciantes, etc., logo após o 25 de Abril. Muitos vieram para Portugal, outros para Caboverde, outros para a França, e até para os países vizinhos. Com receio a qual IN? Pergunto, mas não respondo.

A terceira razão foi a fuga de imensos falantes de um português correcto, entre eles, professores, funcionários, comerciantes, etc., logo após o 14 de Novembro de 1980. Muitos vieram para Portugal, por exemplo Luís, o irmão de Amílcar, outros para Caboverde, França, e até para países vizinhos. Com receio a qual IN? Pergunto, mas não dou resposta.

A quarta razão foi a fuga de imensos falantes de um português correcto, entre eles, professores, funcionários, comerciantes, treinadores de futebol e jogadores, militares, em 1998, em que Bissau esteve ocupado pelo exército senegalês, e a nossa Marinha acompanhou de perto e nós em Portugal tivemos ocasião de assistir pela TV ao desembarque de muita daquela gente em Lisboa. Fugiram a qual IN?

Existem outras razões para o desaparecimento do português/crioulo, por exemplo, imensos doutores que foram, alguns ainda durante a luta com 10 anos de idade, subtraídos aos pais, enviados para a então URSS, e vieram com 24/25 anos, sem domínio do portugês nem crioulo. E mesmo, dos muitos guineenses formados que nos países do leste, os desprotegidos, como os que se formaram no ocidente, os protegidos, nem sempre regressam à Guiné. Porquê?

E as fábulas de donativos de ONG e de vários países que, quer durante a luta como durante muitos anos seguintes, continuaram a dar quer para a educação como para a saúde, mas que por azar não se notou nada no desenvolvimento daquele país. Porquê?

Termino por aqui, apenas para dizer algo que se deu comigo directamente: Foi-me exigido, no meu currículo para um determinado trabalho na Guiné, falar francês.

Penso que ao abordar este assunto não é intrometer-me nos assuntos da Guiné, mas apenas dar uma ajuda para compreender um ponto de vista da nossa guerra.

Um abraço
António Rosinha

2. Comentário de L.G.:

António:

Regressaste, da Guiné-Bissau, há 24 anos... É muito tempo. Não sei se lá voltaste. De qualquer modo a situação da lusofonia não terá piorado, como tu afirmas. Os guineenses, com quem eu lido em Portugal (nomeadamente, profissionais de saúde, médicos, etc.), mesmo quando estudaram na China, em Cuba, ou nos ex-países comunistas da Europa Leste, dominam o português, escrito e falado, e muitas vezes muito melhor que a generalidade da população portuguesa. Dirás que têm essa obrigação, já que pertencem a uma elite escolarizada, com formação universitária, etc. Organizações não-governamentais como a AD - Acção para o Desenvolvimento e que empregam dezenas de quadros e colaboradores (alguns dos melhores quadros da Guiné-Bissau) têm o português e o crioulo como línguas de trabalho. Os seus relatórios são em português, e de bom português. No contacto diário com as populações interiores utilizam, naturalmente, o crioulo. Durante o Simpósio contactei com um parte deles, e sempre falámos em português, em bom português.

Em Bissau, na semana do Simpósio Internacionald e Guileje, tivémos duas audiências, uma com o primeiro ministro e outra com o Presidente da República: a única língua que se falou foi o português. O próprio Simpósio Internacional de Guileje foi em português, embora tenha havido algumas intervenções em crioulo por parte de antigos guerrilheiros.

Há excelente gente, na Guiné-Bissau, a escrever excelente português... a fazer teatro, a fazer música, a fazer cinema, a fazer jornalismo... Em português e em crioulo (este mais falado do que escrito). E aqui, justiça seja feita, cabe também um papel de relevo ao Centro Cultural Português (CCP), que é dirigido pelo Frederico Silva, o diplomata português que nos acompanhou na visita ao sul da Guiné-Bissau, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje.

Por exemplo, recentemente realizou-se, em Abril passado, o Encontro do Teatro da Guiné-Bissau 2008, com o apoio do CCP (mas também dos nossos amigos e parceiros da AD - Acção para o Desenvolvimento). E sobre esta iniciativa, pode-se ler-se no sítio Oficinas em Movimento - Oficinas em Língua Portuguesa do PASEG (Programa de Apoio ao Sistema Educativo da Guiné-Bissau)

(...) "O Encontro de Teatro da Guiné-Bissau 2008 contou com a participação de 13 grupos de teatro guineenses (dois deles do interior da Guiné-Bissau), com a realização de três ateliers na área do teatro (cada um com uma média de 25 formandos), dirigidos aos actores dos 13 grupos participantes, e com um debate final, no dia do encerramento, sobre o Teatro na Guiné-Bissau. Durante a semana do Encontro esteve ainda patente no Centro Cultural Português uma exposição permanente de fotografias, textos dramáticos, cartazes e históricos dos 13 grupos de teatro participantes.

(...) "O público foi incansável e, a cada dia, ia enchendo mais o Centro Cultural Português, onde cada grupo foi apresentando as suas peças de teatro. Nos dois últimos dias as actuações contaram com lotação esgotada! As apresentações do último dia, resultantes dos ateliers, foram de tal maneira enérgicas que o público permaneceu de pé a aplaudir actores e formadores. Foi difícil concentrar novamente os participantes na realização do debate sobre o Teatro na Guiné-Bissau, mas passada a euforia, os representantes dos grupos de teatro e o público trocaram ideias interessantes e capazes de inicar uma movimentação enriquecedora do teatro na Guiné-Bissau. No final, o PASEG ofereceu um Buffet a todos os presentes" (...).

Eu sei que a Guiné-Bissau não é o campeão da lusofonia, e está cercada por francófonos de todos os lados. Eu sei que a Guiné é uma frágil economia e está à beira de um garvce crise, devido à escalada e à escassez de bens essenciais, como o gasóleo e o arroz. Eu sei que os melhores fiulhos da Guiné-Bissau são hoje obrigados a emigrar. Eu sei que os sucessivos governos portugueses, depois do 25 de Abril, se calhar não têm feito, como é(era) esperado que o façam, o trabalho de casa, como deve ser, em matéria de cooperação com os países africanos de expressão oficial portuguesa... De qualquer modo, a escolha do português como língua oficial não foi imposta por nós, é uma opção livre e consciente dos guineenses! E isso é um motivo de orgulho para todos nós, lusófonos, e uma oportunidade de enriquecimento cultural mútuo. Implica também, naturalmente, direitos e deveres, de um lado e de outro.

Meu caro Rosinha, não podemos fazer da língua uma arma de arremesso, nem muito menos um instrumento de políticas neocolonilistas, ou um factor de divisão nas relações entre os nossos dois povos... Pelo contrário, deve ser um traço de união, uma ponte, entre nós... Por outro lado, nós, portugueses, não somos donos da língua portuguesa.... Às vezes comportamo-nos como se o fôssemos. Se não tivéssemos sido conquistados e colonizados pelos romanos, nunca Camões teria escrito os Lusíadas, nem Amílcar Cabral teria escrito em português: Mamãi Velha, venha ouvir comigo / o bater da chuva lá no seu portão... A chuva amiga já falou mantenha / e bate dentro do meu coração. Nem o Manuel Lopes ou o Pepetela ou o Mia Couto ou o Hondjaki ou a Paulina Chiziane teriam existido como escritores lusófonos.

Tudo isto parta te lembrar que os guineenses são também nossos parceiros na aventura da língua... Parceiros, pares, de igual estatuto, é bom não esquecê-lo!

E a propósito da lusofonia, vejam-se algumas citações constantes do sítio Portugal em Linha:

"A Lusofonia é o meu Bilhete de Identidade. Exibo-o (com orgulho, pois claro!) em Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. A Lusofonia é, enfim, o ar puro que respiro onde quer que vá. A Lusofonia é a música com a qual exprimo os meus sentimentos. Canto-a alto e bom. A Lusofonia é a minha mátria, não largo os seus panos. O amor que nutro por ela é puro, verdadeiro. Por isso recuso-me a cultivar outra fonia que não a lusa" (Jorge Eurico).

"Por esse Mundo fora, literalmente, há mais de 200 milhões que se expressam através da Língua Portuguesa. Portugal em Linha consegue manter os cinco continentes unidos há 12 anos e o contributo desse esforço continuado é, muito provavelmente, mais relevante do que o trabalho desenvolvido por algumas instituições de designação sonora" (Paulo Silva).

"Porque partilhamos os mesmos valores, porque somos África e somos Europa, somos Mundo, é importante comunicar com Portugal…em linha" (Liliana Castro).

"A língua portuguesa é o principal veículo de comunicação de cerca de 200 milhões de falantes oficiais matizada pelas características impares de cada um dos 8 países e 1 região que a conjugam. E para isso conta com a ajuda inestimável do Portugal em Linha!" (Eugénio Almeida).

Não estou por dentro da situação do ensino do português na Guiné-Bissau, nem sequer acompanho com a atenção que devia, a actualidade política, social, económica e cultural da Guiné-Bissau. De vez em quando espreito os portais, as notícias, oiço a rádio e a televisão.... Mas tenho ideia que há hoje um maior empenhamento, por parte de Portugal, do Brasil, de Angola e de outros países lusófonos, em reforçar a lusofonia na Guiné-Bissau. Senti que o próprio Nino Vieira é hoje um dos paladinos da lusofonia, por razões estratégicas tanto internas como externas. O apelo que ele nos fez, pareceu-me sincero e sem complexos: mandem-nos professores de português, vocês que têm gente desempregada, e que aqui [, na Guiné-Bissau,] seriam preciosos!

Sei que a situação, à partida, é má. Já era muito má, no final dos anos 50, no início da guerra: vejam-se as conhecidas denúncias do fundador e líder histórico do PAIGC, um lusófono de grande nível intelectual, e que se orgulhava do português como língua, que escrevia em (e falava) um excelente português, e que impôs o português como língua (estrangeira) aos povos da Guiné que ele queria libertar...

Era o português que era ensinado nas escolas das tais regiões libertadas ou nas bases da rectaguarda, na Guiné-Bissau e no Senegal. Os manuais escolares do PAIGC, impressos na Suécia, eram escritos em português (e o primeiro foi em 1964)... O Amílcar Cabral podia ter escolhido o francês, para se libertar, mental, psicológica e culturalmente, pelo menos, da opressão dos colonizadores portugueses: porque não o fez ? ... Por que era um homem extremamente inteligente e culto, porque era uma estratego clarividente, porque era amigo do povo português, e porque o português foi a sua língua materna ou paterna (o pai, pelo menos, era professor pimário...). Este e outros factos não podem ser ignorados, escamoteados ou branqueados...

Sendo historicamente escassa a nossa presença humana no território da Guiné-Bissau, a situação da língua portuguesa também não melhorou excepcionalmente com a presença de algumas dezenas de milhares de soldados metropolitanos durante a guerra do ultramar / guerra colonial(1963/74). Houve alguns progressos, mas tardios. Recordo que, na altura em que eu estive na Guiné (1969/71), já sob o consulado de Spínola, os homens que faziam parte da minha companhia, a CCAÇ 12 (que nós fomos formar em Contuboel), não falavam nem escreviam português. Eram fulas, eram analfabetos (embora alguns soubessem algum árabe e algum francês), e por isso mesmo classificados e tratados como soldados de 2ª classe!!! Aprenderam a falar português comigo e com os outros camaradas, oriundos da metrópole... E alguns chegaram a graduados, depois de terem, com êxito, frequentado as nossas escolas militares e feito o exame da então 4ª classe, com manuais feitos em Lisboa, para as crianças portuguesas da Metrópole...

Rosinha: Há outras questões que levantas, e que eu agradeço, mas que não têm uma resposta fácil. De qualquer modo, nesta como noutras matérias, de natureza cultural, não me interessa tanto o passado, como sobretudo o que podemos fazer juntos, hoje e no futuro. Por que queremos justamente continuar a comunicar, mais e melhor, com os nossos amigos guineeenses, em português, em bom português. É por essa razão que eu não partilho, inteiramente, do teu pessimismo, mesmo sabendo que tens um grande carinho pelas gentes da Guiné, e que queres o melhor para elas.

Um grande abraço. Mantenhas. Luís Graça.
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Notas de L.G.

(1) Vd. postes de:

29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1358: Nostalgias (1): No cais do Xime, dois velhos Unimog pedindo boleia a algum barco (António Rosinha, ex-topógrafo da TECNIL)

14 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2178: Efemérides (6): 24 de Setembro de 1973... Quo Vadis, querida Guiné ? (António Rosinha / Leopoldo Amado)

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2201: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (2): Eu estava lá em 1961 e lá fiquei até 1975 (António Rosinha)

17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2274: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (6): Luís Cabral, os assimilados e os indígenas (António Rosinha)

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2420: Notas de leitura (6): Amílcar Cabral, um lusófono fazedor de utopias (António Rosinha)

(2) 13 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2754: Fórum Guileje (15): Há ainda muita gente do PAIGC calada... Por medo ? Por falta de domínio da língua de Camões ? (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P2975: Ser Solidário (11): Sugestões de colaboração (José Teixeira)


José Teixeira
ex-1.º Cabo Enfermeiro
CCAÇ 2381
Buba, Quebo, Mampatá e Empada ,
1968/70



1. Em 5 de Junho de 2008, o nosso camarada José Teixeira enviou-nos esta mensagem com sugestões de colaboração. Deixamo-la à consideração de todos os nossos leitores.

Luís:_ Saúde, paz e felicidade, para ti, tua esposa e familia e, colaboradores no Blogue e bloguistas.

No Encontro da Tabanca Grande em Monte Real, a tua esposa e querida amiga levantou-me esta questão: Como ajudar aquela gente a sair da situação difícil em que se encontra?

Deixou-me a pensar e agora aí estou eu - o chato do costume - a provocar mais um desafio.

Gostava de te pedir para colocares no blogue os indicativos das Associações, na sua maioria criadas por antigos combatentes, e que estão a juntar-se outras gentes, mais novas, mas sensíveis. Segue também uma carta, desafio, que pedia para ser publicada, se assim o entenderes.

Fraternal abraço para udo djenti da Tabanca Garandi

2. Caros tertulianos.

A Guiné Bissau, que nós tão bem conhecemos e onde deixámos um pouco do nosso coração, tem actualmente profundas carências nas mais diversas áreas. Políticas mal orientadas, como a de trocar a produção do arroz pela produção da castanha de cajú, aconselhada pelo Banco mundial, aliadas à falta de experiência politica dos seus governantes e outras, têm conduzido aqueles povos a uma miséria extrema, da qual é preciso retirá-los.

Creio que, com a nossa ajuda, por mais pequena que seja, pode ser uma alavanca de crescimento nas áreas do ensino, cultura, saúde, economia, etc.

Desafiei-vos há algum tempo a lançarmos uma campanha de recolha de sementes em atendimento ao griiiiiiiiito das mulheres de Cabedú, na inauguração do seu fontenário, na qual eu tive imenso prazer em estar presente juntamente com outros antigos combatentes e comungar da sua enorme alegria.

Pretendi dar seguimento ao apelo do Zé Carioca, antigo combatente em Guileje, que comigo viveu o acto e mais que eu se comoveu com o pedido daquelas mulheres. Ele já está a trabalhar nesse projecto. Possivelmente, sentir-se-á muito sozinho, pois ninguém de nós deu sinais de querer ajudar.

Outros desafios se nos põem: A Associação dos Padrinhos de África - http://www.padrinhosdeafrica.org/ - tem um projecto em desenvolvimento de apoio escolar para crianças sem pais, ou pobres para que tenham condições de estudar.

Eu estou em ligação com este projecto e posso dar orientações a quem estiver interessado.

Deixai-me apresentar uma proposta às vossas esposas e filhos para que assumam o apradrinhamento de uma criança da Guiné. Pede-se por mínimo de 60,00€ por ano, mais 12,00€ de filiação na Associação. Acham muito?

Outros desafios:

i - http://saude-alerta.blogspot.com/.
Um dos projectos actuais é melhorar as condições do Centro de Saúde de Buba.

"O CS-Buba, recebe diariamente problemas com a saúde infantil, desde diarreias, problemas gástricos, paludismo, problemas respiratórios, etc. A população não tem culpa, de uma saúde doente e em colapso na Guiné. Ao passarmos por esta vila, em 20 de Fevereiro de 2008, 5 mil pessoas sairam à rua implorando-nos ajuda. Levámos roupa, calçado, brinquedos, livros e manuais escolares, dicionários e gramáticas, material de apoio à escola, mas... não imaginávamos que algo mais grave e preocupante estava ali diante dos nossos olhos.
Uma gente carinhosa, respeitadora, afável e hospitaleira. Este povo de Buba, merece um pouco da nossa atenção".




ii - http://humanitarius.roxer.com/.

"Em Outubro de 2007, produzimos uma campanha nacional, para levar à Guiné, especialmente ao seu interior, o produto da recolha de material escolar, entre muitos outros donativos, que foram chegando para essa campanha. Em Fevereiro, a expedição partiu rumo à Guiné, atravessando o sul de Espanha, Marrocos, Sahara Ocidental, Mauritânia, Senegal e finalmente a Guiné. Uma viagem de 6 dias que permitiu a este grupo de expedicionários conhecer outras culturas e, sobretudo, outras realidades distanciadas do europeísmo, e sua forma de vida. A expedição humanitária levou consigo 3 projectos de expressiva relevância: o "Ler e Conhecer" com Vanda Germano e Jorge Baptista; o "Teatro vai à Escola" com João Bota e Tania Nascimento, do TIPO (Teatro Infantil de Portimão); e o "Escola para todos" com João Almeida, Helena Duarte, António Camilo, e Artur Cruz.
Roupas, brinquedos, 3 cadeiras de rodas, material ortopédico, calçado, mochilas, bolas e camas para bebé, que fizemos chegar a instituições várias, como a Missão de Nhouma, e Casa Emanuel um dos prestigiados orfanatos da Guiné-Bissau.
Por 16 escolas de Tabancas (aldeias) distantes da capital, entregámos o mais diverso material escolar, sendo que algumas dessas escolas receberam dos nossos voluntários, roupa e calçado, e alguns equipamentos desportivos.
No Hospital Simão Mendes, em Bissau, entregámos ao serviço de pediatria, muitos brinquedos que fizeram por certo aquelas crianças mais felizes. No mesmo hospital, foram entregues ao Administrador e médico Dr. Agostinho Semedo, duas (2) cadeiras de rodas, que foram doadas à associação, pelos Rotários de Loulé e Karting de Almancil. Uma das três cadeiras, ficou justamente na Cooperação Portuguesa em Bissau, para que este equipamento possa, caso seja necessário, servir os cooperantes portugueses em serviço na Guiné.
Excedentes desta campanha, foram ainda destinados a Bubaque, uma das 88 ilhas que compõem o arquipélago dos Bijagós, onde são notórias as dificuldades a todos os níveis, especialmente no sector da educação

iii - Associação Humanitária Memórias e Gentes




"O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores"
(Paulo Quintana)




Associação sem fins lucrativos/Matriculada na C.R.C. de Coimbra NIPC 508 343 461, Parceiro especializado da Liga dos Combatentes para acções humanitárias.

Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt / Telem 96 402 80 40

Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2531: Ser solidário (4): Coimbra encaixotou o maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau

3. Caros tertulianos, um desafio novo vos apresento - Tenhamos a coragem de ajudar a Guiné.

Peço aos gestores para colocarem na página do Blogue estes endereços para que todos nós possamos consultar sempre que desejarmos.

Na esperança de que se abram os vossos corações.
O camarada
José Teixeira

domingo, 22 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2974: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (12): Mais algumas fotos ao acaso (Mário Fitas)

Por ordem aleatória, aqui ficam mais umas fotos do nosso Encontro Nacional no dia 17 de Maio, em Montereal, enviadas pelo nosso camarada Mário Fitas, ou Mário Vicente, autor de Pami Na Dondo, A Guerrilheira.

Nesta mesa pontuam, Carlos Santos, sempre presente nos nossos Encontros, mas que teima em não aderir à nossa Tabanca Grande; António Santos; Fernando Franco, ao telemóvel, as pessoas importantes são assim; o seu inseparável amigo António Baia, e o meu capitão Jorge Picado.
De pé, David Guimarães; eu e o Silvério Lobo, que conheci pessoalmente só em Montereal, apesar de morar em Matosinhos.


França Sores conversa com um camarada que não consigo identificar e, à sua esquerda, Vasco Ferreira acompanhado de sua esposa. Mais três senhoras completam este grupo.


Estes três camaradas vieram juntos ao Encontro. O nosso Ten Cor Ref Rui Alexandrino Ferreira, autor do livro Rumo a Fulacunda; Martins Julião e Carlos Santos.


Rui Alexandrino Ferreira, Idálio Reis, Virgínio Briote e Delfim Rodrigues escutam atentamente o António Batista (ao centro) o nosso morto-vivo do Quirafo.


Mais um grupo de bons camaradadas. Raúl Albino; Vacas de Carvalho; Henrique Matos; Mário Beja Santos, autor do livro Diário da Guiné 1969-1969, Na Terra dos Soncó e, por último, mas não menos importante, Paulo Santiago. O último camarada, lamentavelmente, não consigo identificar.


O ex-Cap Mil Jorge Picado em amena conversa com o nosso camarada França Soares.


Na penumbra, conspirando, Henrique Matos, Torcato Mendonça e Jorge Cabral. Salientemos a colaboração destes dois últimos camaradas que animam o nosso Blogue com as suas intervenções, Histórias de Mansambo e Estórias Cabralianas.


Atentos aos fadunchos brilhantemente interpretados pelos artistas da casa, estão o António Baia (de pé) e o Fernando Franco (sentado). Encoberto pela senhora que está em primeiro plano, adivinha-se o nosso camarada António Santos.


Neste grupo de camaradas estão: o nosso médico Vitor Junqueira; um camarada que lamento não identificar (quem me ajuda?); António Graça de Abreu, autor do livro Diário da Guiné Lama, Sangue e Água Pura; Delfim Rodrigues; Maurício Esparteiro e Vacas de Carvalho.


Nesta foto, Carlos Marques Santos está acompanhado da senhora dona Irene e de sua filha dona Maria Irene, respectivamente, sogra e esposa do nosso camarada Virgínio Briote.


Este grupo é composto por António Barroso; Francisco Silva e esposa; Álvaro Basto e esposa, à sua direita.

Fotos: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

Selecção das fotos e legendas da responsabilidade do editor

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Nota de CV:

(1) Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Fase da construção da estrada, quando a mesma passava em frente à escola de Mampatá

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Descanso e meditação em Nhacobá após missão para os lados do rio Cumbijã. Fur Vieira, Fur José Manuel, ao centro, o Fur José Pedro Rosa, o homem do apoio com os obuses, o Fur Gomes do Pel Caç Nat e o Cap Mil Luis Marcelino" [da CART 6250].

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Segurança a uma coluna de abastecimento que, partindo de Buba, levava de tudo um pouco até Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa".

Fotos, poema e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

Não se morre só uma vez (1)
se eu morrer
vive no meu lugar
se eu chorar
ri por mim sem parar
quando um amigo cai
algo de nós também vai
morremos quando sofremos
morremos quando perdemos
morremos quando calamos
a razão dentro de nós
e se alguém morrer de vez
vive por ele a dobrar
não vale a pena chorar
riam riam
riam sempre sem parar.

Nhacobá 1973
josema
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes da série:

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

Guiné 63/74 - P2972: Blogoterapia (56): Porra, também somos gente, camaradas! (Mário Fitas)




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > "Foto do Gibi Baldé a quem cortaram as mãos, entre dois brancos, eu e o falecido Sargento-Mor Luís Tavares de Melo, natural dos Açores" (MF).

Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem do Mário Fitas (ex-Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66)


Assunto - A Guerra estava militarmente perdida? Pedido de publicação urgente


Como dimensão do tempo, prolongando-se do passado ao presente, o Futuro não é pontual mas linear.O Futuro orienta-se e existe como uma prospectiva, planificação e previsão. O presente projecta-se sobre o Futuro enquanto houver capacidade real de o realizar.Nasce assim a ciência da futurologia. Assim sendo, o Futuro está consubstanciado na literatura de ficção científica, mitologias e utopias. A futurologia solicita à mente humana uma conversão do Tempo, o por-vir.

A Prudência, como correctora de toda a liberdade do homem, sendo uma virtude de razão prática contendo o conhecimento necessário para gerir a conduta humana no meio das suas próprias humanas contingências. Deve ser não só de apanágio de aplicação no ser humano.

Tudo isto começou com o P2706 do camarada Beja Santos sobre um livro do Cor Amaro Bernardo. Pelo P2711 respondi e formulei questões ao camarada Beja Santos, o qual resolveu não responder muito bem! Está no seu direito! Também nada disse sobre o P2713 do Cor Amaro Bernardo. Preferiu o P2760 do Graça Abreu.

Iria escrever um texto que julgaria interessante, mas verificando o P2966: A Guerra estava militarmente perdida? Comentário de um Guineense (Anónimo), editado pelo Virgínio Briote.
Com a Nota: Escreva Sempre...

Recuso-me! Não aceito entrar num Blogue onde haja Anónimos! Não aceito que se ofenda o mais insignificante soldado Português! Recuso-me a entrar em jogos destes! Não estou ao nível deste Anónimo.

Luís, as minhas desculpas, mas tenho direito a uma explicação no Blogue a tudo isto. Junto envio foto do Gibi Baldé, a qum cortaram as mãos, entre dois brancos, eu e o falecido Sargento-Mor Luís Tavares de Melo, natural dos Açores.

Embora o meu estado de espírito...

O abraço de Sempre do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Mário Fitas, ou melhor, Mário Vicente, o aclamado criador da Pami Na Dondo, a guerrilheira... Recorde-se que ele foi Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, os Lassas de Cufar (1965/66). É natural de Elvas e ainda tem muitas histórias para contar. O pai e o avô viveram, intensamente, as repercussões da guerra civil espanhola, ali às portas de casa. Como qualquer bom alentejano, o Mário é um excelente contador de histórias.


Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


2. Comentário do editor L.G.:

Mário: Tens razão (ou até podes ter razão...) mas tens de controlar as tuas emoções... Ficaste visivelmente perturbado. E e eu entendo. Mas não podemos reagir assim. Aliás, na frente de batalha, não reagíamos assim. Felizmente que, em geral, as NT (e o nosso IN, na época) não regíam assim. Díziamos: calma, rapaz, está com a cabeça grande...



O VB decidiu, bem ou mal, publicar o comentário de um jovem guineense da diáspora... Ele, como editor, convidado por mim e com provas dadas de isenção, ponderação, bom senso, sensibilidade, experiência, cultura e um notável currículo (profissional e... operacional), tem autonomia para o fazer. Naturalmente isso não o isenta de possíveis críticas. Os editores do blogue não estão acima do resto do pessoal da Tabanca Grande...

Mário: Em princípio, não publicamos comentários anónimos (ou não devíamos)... Mas é tão raro aparecer um guineense que escreva razoavelmente o português (que é a língua materna de apenas 5% dos guineenses!)... O VB entendeu, e bem, que este comentário do tal guineense do exterior, mesmo anónimo, podia e devia ter mais visibilidade...

Deve tratar-se de um jovem quadro, que vive no exterior, e deve ter sido formado/formatado no exterior (talvez em Cuba, nos países de leste; ou porque não em Portugal ?)... Alguns deles, por terem crescido, vivido estudado em países onde não havia o pluralismo democrático (tal como não havia no Portugal dos anos quarenta/cinquenta em que nascemos...), tendem a ter uma visão ideológica, rígida, pouco crítica, do passado...



Por outro lado, alguns destes quadros guineenses (médicos, engenheiros, juristas, jornalistas, professores, etc.) que vivem no exterior, poderão ter (ou experimental) algum desconforto ou sentimento de culpa por isso mesmo, por serem relativamente privilegiados em relação ao seus irmãos que lá vivem, na miséria de Bissau ou das tabancas do interior, ao mesmo tempo que precisam de ter algum orgulho na geração dos seus pais, dos pais (e mães) fundadores da nacionalidade, de Amílcar Cabral a Pansau Na Isna, de Nino Vieira a Carmen Pereira.

Atenção: é um povo, nosso amigo, nosso irmão, que está a construir a sua identidade !... E que precisa de um mão amiga e fraterna... Vamos recusá-la ? Vamos amputá-la ?

Mário: não vamos dar muito importância a uma ou outra expressão mais excessiva... Vamos manter a cabeça fria. Não vamos puxar de novo pelas G3 e pelas Kalash... Sabes muito bem até onde, até que é tragédia, podem levar as questões de honra, de valores, de peito feito à balas...

Esquece, por favor, um ou outra expressão mais dura, mais agressiva (contra a missionação católica, por exemplo)... Não vamos responder taco a taco... Não vamos contar as cabeças cortadas... Põe-te na pele de um guineense e atravessa os últimos cinco séculos da história da Senegâmbia (onde se incluía a actual Guiné-Bissau, o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Conacri...) cujas fronteiras foram desenhadas a régua e esquadro pelas potências coloniais europeias, do domínio dos mandingas até à "pacificação militar" feita por homens como o Capitão Diabo (1913-1915), da subjugação dos mandingas e demais povos guineenses pelos fulas, da derrota dos fulas aos pés dos tugas, da guerra colonial ao ajuste de contas pós-independência... E já agora fala-nos do teu amigo Gibi Baldé e das atrocidades de que foi vítima, a seguir à independência, segundo presumo.

A Guiné-Bissau, tal como Portugal e os demais estados, tanto os mais antigos como os mais jovens, foi parida na dor, na violência, na conquista, na luta fraticida... Eu sei que há tabus, de que não falamos aqui, até porque sabemos pouco do que lá se passou... Quem não tem esqueletos nos armários ? Eu também gostaria de saber melhor o que se passou em Cassacá, no 1º Congresso do PAIGC, em Fevereiro de 1964, enquanto mais a sul as NT procuravam afirmar a soberania portuguesa sobre a Ilha de Como. Mas isso passou-se no seio de um movimento revolucionário, de que nemhum de nós era membro, militante ou partidário... Espero que os historiadores possam um dia contar-nos a história, sem ser por testemunhos enviesados, por portas e travessas...

O VB aproveitou entretanto para esclarer a origem deste comentário (a um poste do António Graça de Abreu) , o que no princípio não era claro... Volto a publicá-lo a seguir. Recebe um abraço do Luís, do Virgínio e do Carlos, os três mosqueteiros (ou melhor, bombeiros voluntários...).


3. Caro Guineense Anónimo no exterior:

Registamos o seu artigo, escrito sem complexos, e é sem complexos que o publicamos. E aceitamos o seu desafio: preservar a fraternidade entre os dois Povos. Escreva sempre. Mas, de preferência, dê a cara e identifique-se. Presumo que não esteve registado no Google, razão por que o seu nome não aparece no comentário. Vejo, por outro lado, que é mais jovem do que os homens e as mulheres que outrora lutaram, uns contra os outros, e que hoje se respeitam e são capazes até de se abraçar.

Por norma, não publicamos postes anónimos. Recuperámos o seu comentário, na esperança de que mais guineenses, da terra ou da diáspora, da sua geração e da geração dos seus pais, participem, com serenidade e fraternidade, neste desejável e necessário diálogo sobre o passado, o presente e o futuro dos nossos povos.

Caro amigo guineense da diáspora: Não sei onde vive. Há muito que enterrámos as lanças de combate. Não vamos agora abrir feridas cicatrizadas. Respeitemos a memória daqueles de nós, de um lado e de outro, que morreram na guerra do ultramar/guerra colonial/luta de libertação. Mesmo entre nós, portugueses, há ainda questões que nos fracturam e dividem.

Não é fácil nem confortável fazer o balanço das nossas relações históricas. Por nós, como sabe, recusamos o princípio (monstruoso) da responsabilidade colectiva dos povos... Aplicado à Guiné-Bissau isso iria novamente lançar povos contra outros povos: os mandingas contra os fulas, os fulas contra os balantas, os guineenses que colaboram com o esclavagismo e o colonialismo contra as suas vítimas, e por aí fora... Aprendamos a ler a história, aprendamos com a história, não cometamos os mesmos erros das nossas elites do passado...

Mantenhas. O editor Virgínio Briote.

4. Comentário final, com data de hoje, do Mário Fitas:

Luís, tens absoluta razão em tudo o que dizes, mas também somos gente, e talvez colonizados de uma maneira mais cruel, que é de nos levarem (como País) a baixarmos as calças a tudo quanto é grande.

Não há muito, escrevi e assumo-o para um jornal: Depois de D. João II e de Camões, o pouco que nos resta, é actualidade de Eça de Queiroz e a eternidade da 'Porca' do Bordalo Pinheiro.

Há coisas injustas, na Guiné nós trabalhámos a argila, o Barro. Na Guiné, não havia colonos brancos... Os militares que lá estiveram? É verdade que poderiam ter fugido para França, Alemanha, etc. para toda a Europa! Mas como?...No entanto, ensinaram a ler e deram de comer e alegrias aos Guineenses.

Daquilo que eu iria escrever, constava a autorização do Pansau para o pessoal [da Ilha]do Como ir vender arroz a Catió, para poder ter alguns proventos. Isto porque o Nino se tinha ausentado do Cantanhez para Conacri. Sensibilidades diferentes, e que fazem parte da História dos nossos Povos. Como sabes, e para quem não sabia aqui fica a informação, toda a produção de arroz era obrigatóriamente entregue para o Cantanhez.

Eu não deveria escrever isto, porque não estive na Guiné! Mas, como um fantasma que por lá passou entre 1965 e 1966 me contou, olha aí vai como foi a Pami na Dondo. É que, por vezes, não damos atenção ao que se escreve no Blogue. Mas lá consta da herança de Spínola, em 1968. Os cinco anos para trás, foram excursões de férias!

Tenho pena de não ter o recorte fino do Alberto Branquinho, com palavras simples (e fotos) ele vai demonstrando tudo, com uma postura extraordinária, não mostrando o seu âmbigo.

Luís, as minhas desculpas, eu sei que tu e os dois homens que te acompanham são pessoas com uma extrema sensibilidade e cultura, não tendo culpa em nada do que se está a passar. Mas há gente que pensa que somos... mentecaptos.

Como calculas que se encontrarão o homem extraordinário que é o Mexia Alves, e o homem da escrita Graça de Abreu ?

Mais uma vez as minhas desculpas, e solicito, é para publicar no blogue, pode este escrito também ser agregado. Sou Alentejano de coluna direita, assumo tudo o que escrevo e falo.

Como sempre e extensivo a toda a Tabanca Grande o velho e forte Abraço do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas

sábado, 21 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2971: O 10 de Junho visto pelo Cor Manuel Amaro Bernardo

A Raça e o Sangue no Dia de Portugal

Por Cor. Manuel Amaro Bernardo

(…) Hoje já não há o sangue que o regime nos pede, pela guerra. O sangue que hoje há é aquele que nós pedimos ao regime pelo aborto. E esse sangue não nos fala de dever. (…)

Discurso de João César das Neves, no Encontro de Combatentes (Restelo), em 10-6-2008

O ocorrido no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, neste ano de 2008, pautou pela imponência das bem organizadas cerimónias, em Viana do Castelo e Lisboa, mas também pela originalidade das intervenções.

Logo na véspera o Presidente da República, interpelado pelos jornalistas, afirmou que estávamos a comemorar o Dia da Raça, com vista ao projecto comum deste Portugal com 600 anos de História, dando assim o alento para suplantar a crise actual e as que se avizinham.

Poderia parecer que estava a recuperar a terminologia do Estado Novo salazarista e caetanista, como foi lembrado por partidos, como o PCP e o Bloco de Esquerda (até exigiram publicamente uma retratação do Presidente, que os ignorou), mas, na opinião generalizada dos portugueses, não foi isso que sucedeu.

Para alguns políticos foi uma gaffe, enquanto que para outros, onde me incluo, tratou-se de um apelo à "raça portuguesa" nestes tempos tão difíceis e bastante complexos, que atravessamos.

Curiosamente o pressuroso comentador de "serviço" Rui Tavares (julgo que professor universitário ou historiador) viria logo fazer afirmações deste tipo (“Público” de 11-6-2008): (…)

Onde estava a raça? No aniversário da morte de Camões, que morreu abandonado”.
É questão para lembrar a este e outros senhores que a raça lusitana esteve bem visível nos grandes feitos dos Portugueses, nos Descobrimentos, cantados por Luís de Camões, nos Lusíadas. Ou não será?

O Encontro de Combatentes, cada vez mais pujante e com maior participação, voltou a realizar-se nos Jerónimos e junto do Monumento aos Combatentes do Ultramar (Restelo). Nele tenho participado desde o início, onde, na Comissão Executiva, se incluíam militares, como o José Pais (querido amigo já falecido) e os “Comandos” Caçorino Dias, Vítor Ribeiro e Francisco Van Úden. Eles têm continuado imperturbáveis com o seu esquema alternante de ser, em cada ano, um distinto oficial general de cada um dos três Ramos das Forças Armadas, a organizar a cerimónia.

Desta vez esmeraram-se na organização com a realização, na véspera, pela primeira vez, de um colóquio na Fundação Gulbenkian, para onde foram convidados conceituados conferencistas, como Adriano Moreira, João Ferreira do Amaral, Joaquim Aguiar, Jaime Nogueira Pinto e Vítor Bento, além dos militares General Espírito Santo e Almirante Vieira Matias.

O tema “Os Valores da Nação e o Papel das Forças Armadas nas Sociedades Desenvolvidas”, foi apreciado e desenvolvido sob as diferentes perspectivas dos participantes. Vários deles concluíram que continua a faltar um projecto estratégico para Portugal, com as inevitáveis nefastas repercussões nas Forças Armadas.

No dia 10 de Junho, e tendo sido conseguida a participação do Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, na presidência da Missa no Mosteiro dos Jerónimos, com vários padres coadjutores, como um vindo de Damão e outro africano, levou a que, também pela primeira vez, esta monumental Igreja se enchesse de público e de combatentes do Ultramar.

A afluência junto do Monumento aos Combatentes do Ultramar, no Restelo, também excedeu as expectativas. Lá fui encontrar o meu amigo Coronel Jaime Neves, ainda em convalescença de um acidente de viação ocorrido há alguns meses e a grande maioria dos restantes militares condecorados com a Ordem da Torre Espada, postados em local de honra.

O Presidente da República enviou uma mensagem, que foi lida pelo locutor de serviço, o Coronel Piloto Aviador António Lobato.


Um sanguinário discurso


Para destoar do sucesso destas cerimónias, numa altura em existe uma grande desmotivação cívica para empreendimentos deste género, acabaria por surgir um discurso despropositado, que ninguém (nem eu) esperava da parte da entidade convidada, o Prof. universitário João César das Neves.

Já o tinha ouvido numa palestra feita na Associação de Comandos, sobre temas da economia nacional e internacional, o que me satisfez plenamente.

No texto deste discurso, que tive ocasião de apreciar posteriormente num blog, acabou por fazer, na minha opinião, uma autêntica provocação aos combatentes do Ultramar, em vez de homenagear os seus mortos, como julgo devia ter sido a sua obrigação.

No meio do bulício de amigos e camaradas de armas, eu e outros já tínhamos reparado que aquilo tinha "sangue a mais". Esta palavra foi repetida até à exaustão – cerca de 100 vezes, acrescentando termos como o “sangue da violência”, o “sangue de multidão” e afirmando a certa altura:

“Será que o sangue nos fala de coragem? De valor? De heroísmo? Algum, sem dúvida! Mas muito dele, não! A maior parte certamente, não. Algum deste sangue foi derramado em feitos notáveis, actos valorosos, gestos memoráveis. Mas a maior parte não.”
E acrescentou: A maior parte, certamente, foi sangue que não queria ser derramado, que não concordava com aquela guerra, que não compreendia bem porque estava ali, que não desejava estar ali. (…)

Este discurso do tipo pacifista, não devia ter sido feito naquele local, e onde significativamente não foram dirigidas as palavras devidas de homenagem aos que tombaram pela Pátria. Não é falando no "sangue das multidões", que, como refere, agora é "sangue escondido", que essa homenagem seria feita.

À semelhança de António Barreto e de Pacheco Pereira, que não compreendem devidamente o sucedido na Guerra de África, nas décadas de 60 e 70 do século passado, e também pouco conhecedores das relações humanas e sociais neste continente, sempre desgastado por guerras tribais, César das Neves não devia ter generalizado o ocorrido na guerra na primeira metade com o da segunda. Dada a sua idade, percebe-se que seja maior conhecedor em relação à parte final, quando os seus amigos e conhecidos procediam à conhecida contestação académica.

Apenas quem passou por acções de combate poderá melhor avaliar como ocorrem os actos valorosos, quer no cumprimento da missão, quer na defesa dos camaradas que combatem ao seu lado.

Quantos, arriscando a vida, não tiveram um arranque notável para ajudar a salvar um amigo, que antes caíra numa mina ou armadilha, ou tinha sido alvo de uma rajada de tiros? E isto não tem nada a ver com a defesa do regime, do colonialismo ou de qualquer ideologia. Tem a ver com a solidariedade, a amizade e a camaradagem bem característica dos elementos que constituem as Forças Armadas.

A Guerra não é uma figura de retórica…

Dos 8290 elementos do Exército, oriundos do Continente e dos territórios africanos, que a Comissão de História Militar diz terem morrido na Guerra do Ultramar (Angola Moçambique e Guiné), desde 1961 e até à sua independência, 48% (3.947) foram considerados como falecidos em combate.

Os restantes terão sido motivados por acidentes com arma de fogo, acidentes de viação, doença, etc. Todos os seus nomes foram colocados no paredes do Forte do Bom Sucesso, junto ao Monumento. Também lá está (contra a vontade do então CEME, General Martins Barrento), o do Ten-Coronel Maggiolo Gouveia, fuzilado pela FRETILIN, nas vésperas do Natal de 1975, enquanto decorria a guerra civil em Timor.

A Associação de Comandos, com o apoio do actual CEME, General Silva Ramalho pretende que os nomes dos 53 combatentes guineenses (20 oficiais, 29 sargentos e quatro praças) fuzilados pelo PAIGC, por terem combatido do nosso lado, também lá sejam colocados, como já o foram junto ao Monumento ao Esforço Comando, recentemente transferido da Amadora para o recém-constituído Centro de Instrução de Tropas Comando, na Serra da Carregueira.

Por isso, juntamente com as flores, lá colocaram um painel com a relação desses militares para lembrar à Liga dos Combatentes que tal acto de homenagem, a quem deu a vida por Portugal, continua por fazer.

Recordo, com emoção, a presença, nesta cerimónia, de Regina Djaló, viúva do fuzilado Furriel “Comando” Demba Seca, que me cedeu um pequeno ramo das suas flores brancas; dividi-as com o meu amigo invisual Coronel Caçorino Dias, antes de as colocarmos no Monumento.

Chegando aqui, poderá perguntar-se qual é actualmente a essência da Forças Armadas, de Portugal e de qualquer outro país civilizado.É que nos nossos dias, apesar de não ser tão visível ou destacado pela Comunicação Social, a questão continua a passar pelo combate e pela luta a travar no terreno, e pela sua preparação para estarem prontas para o fazer. É isso que actualmente fazem os “Comandos” no Afeganistão e onde for necessário.

O risco de guerras localizadas continua a estar na ordem do dia, face às situações de crise que se avizinham. E nesse aspecto, África continua infelizmente a ser um palco possível e provável, além do Médio Oriente.

Agora, se me permitem, queria dar um conselho a este professor universitário. Assista a uma cerimónia de homenagem aos Mortos “Comando”.

Vai ocorrer uma já no próximo dia 29 de Junho, “Dia do Comando”.
Pode ter a certeza que ficará deveras impressionado, como eu fico sempre que tenho ocasião de estar presente num cerimonial desse tipo. Enquanto um oficial, um sargento e um soldado, marcham em passo cadenciado, em direcção ao mastro da Bandeira Nacional, transportando uma Espingarda G3 e uma boina “comando”, o locutor de serviço afirma:

Caíram …, no campo da Honra …, no cumprimento do Dever …, pela Pátria …, e pelos “Comandos”. Oficiais (presente) …, Sargentos (presente) …, e Praças (presente).

Lisboa, 15 de Junho de 2008
Manuel Amaro Bernardo
__________

1. Os nossos agradecimentos ao Cor Manuel Amaro Bernardo pelo envio do texto.

2. Fixação e adaptação da responsabilidade de vb.

3. Artigos relacionados em

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2713: Notas de leitura (7): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros: Resposta a um Combatente (M. Amaro Bernardo)

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2711: Notas de leitura (6): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de M. Amaro Bernardo (Mário Fitas)

31 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2706: Notas de leitura (5): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo (Mário Beja Santos)

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2318: Notas de leitura (4): Na apresentação de Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80 (Virgínio Briote)

28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2308: Notas de leitura (3): Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné, de Manuel Amaro Bernardo (Jorge Santos)

19 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P886: Terceiro e último grupo de ex-combatentes fuzilados (João Parreira)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)

27 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCVI: O colaboracionismo sempre teve uma paga (6) (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

6 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIX: Salazar Saliú Queta, degolado pelos homens do PAIGC em Canjadude (José Martins)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)


Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > 1964 > CCAÇ 557 (1963/64) > Quartel do Cachil > "Seguem estas fotos: como era norma nesse tempo, numa estou eu na barbearia; e noutra, todo impecável, também estou eu o posto rádio fixo que era meu posto de trabalho. Todos os dias tinha 12 horas de serviço e o meu camarada Dias outras 12. Este posto rádio, como se pode vêr era protegido por terra pelos camaradas de armas e pelo ar por todas as estrelas do céu" (JC).

Fotos e legendas: ©
Jose Colaço. Direitos reservados


1. Texto do José Colaço, ex-Soldado de Trans, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá1963/65), recentemente entrado para a nossa Tabanca Grande (1).


Assunto - Operação Tridente

Resumir um texto tão vasto como o tema Operação Tridente (2), é difícil, para que fique no mínimo compreensível. Vou tentar o desafio e passar o mais possível ao lado da estada no Cachil.

Li com muito apreço o relato correcto que o camarada Mário Dias escreve sobre a Operação Tridente, em Cauane - a que nós que estávamos no Cachil chamávamos a Praia - , os desmentidos a João de Melo e a José Freire Antunes. OK, nós, companhia de caçadores 557, também lá tínhamos um pelotão que era uma força activa às ordens do Tenente-coronel Fernando Cavaleiro.

Parece que o Mário desconhece este facto, pelo menos não li nada em que o Mário fizesse referência a esses homens.

As declarações que o Coronel Fernando Cavaleiro faz ao programa A Guerra, de Joaquim Furtado, são de uma veracidade a toda a prova embora, como se compreende, bastante resumidas. Os meus parabéns a ambos.

Conclusões, em relação ao que diz o Mário Dias no poste de 17 Dezembro 2005 Guiné 63/74-CCCLXXX. (Ilha do Como) 1964:IIIParte (Mário Dias)

Pós operação pontos 1,2 e principalmente o nº 3.V amos fazer uma análise também resumida. Camarada Mário, entrar na mata do Cassaca através da mata do Cachil, nunca nenhuma das nossas tropas o conseguiram entre 23/01/1964 e 27/11/1964. E no Cachil estiveram forças como o destacamento de fuzileiros do tenente Alpoim Galvão.

Porque aquela clareira entre a grande mata do Cachil e a mata do Cassaca era uma autêntica passagem para a morte.

E digo-te mais, terminada a Operação Tridente, não posso precisar o dia mas foi no princípio do mês de Abril de 1964, foi determinado pelo Comando Operacional da Guiné enviar uma força militar para fazer limpeza (penso eu, destruição total) das tabancas da mata do Cassaca.

Nessa noite a artilharia de Catió, os chamados obuses, actuou como era normal durante a operação, bombardeou com os dois obuses durante cerca de 30 a 45 minutos a mata do Cassaca. A seguir veio o avião PV25 largou as suas bombas, de manhã logo ao nascer do sol, dois F86 metralharam a mata. Após os F86 retirarem, entraram na grande mata do Cachil as forças terrestres, não me lembro se era um ou dois destacamentos de fuzileiros e um pelotão de comandos ou pára-quedistas, a quase totalidade da 557, apoiados por dois aviões TC que entretanto chegaram.

Com aquele arsenal todo, assim que tentámos a passagem na tal clareira para a mata do Cassaca, as nossas forças foram atacadas com fogo de armas ligeiras, pesadas e morteiro. O recuo foi inevitável. Nesse dia não houve baixas nas nossas forças, mas feridos cerca de dez, o que eu sei é: Mal o helicóptero levantava já eu estava a enviar nova mensagem para mais uma evacuação. Posso-te dizer que nem atingimos o ponto onde no dia anterior um simples pelotão tinha feito o reconhecimento a toda a mata do Cachil.

Mais uma conclusão errada, nós até pensávamos que o inimigo tinha abandonado a mata. Na parte da tarde as forças especiais regressaram às suas bases.

Por tudo isto tirar conclusões: neste caso deve-se conhecer bem o durante e o após, para não ferir quem ainda vive e sofreu na pele todo aquele passado.
E também não adulterar a história.

No teu caso, conheces sem sombra de dúvidas o durante, mas o após Op Tridente ?...

E as batidas ou reconhecimentos a mata do Cassaca ficaram-se por aqui. Neste ponto fica a interrogação: a Operação Tridente foi um êxito? Pelo que vi e citei após aquela gorada ida à mata do Cassaca, penso que havia mais algo a fazer. (Ou esta gorada limpeza à mata do Cassaca foi apagada da história).

Mário: nós estávamos aquartelados na pequena mata do Cachil, o que tu baptizas por fortaleza de troncos de palmeiras. Mas digo que a grande mata do Cachil durante o dia era território nosso. Com frequência fazíamos reconhecimentos mas à noite era como quase todas as matas do interior da Guiné, nunca se sabia o perigo que se podia encontrar e o inimigo, quer queiras ou não, tinha uma grande vantagem nessas deslocações em relação a nós.

Já falei ao telefone com um camarada da companhia que nos rendeu, a 728, e confirma praticamente o que cito neste pequeno resumo.

O dia a dia no Cachil era sempre uma incerteza: ora atacavam as nossas tropas ora atacava o inimigo.

Vestígios, no Cachil, de Manuel Pinho Brandão só o que vi: Próximo do rio uns pilares, o que parecia ter sido um pequeno armazém sem qualquer telha porta ou janela e lá dentro o esqueleto de uma balança decimal que possivelmente teria sido usada no comércio do arroz.

Nota: sem margem para erros. A minha estada e a quase totalidade da 557 no Cachil foi de 23/01/64 27/11/64

Um abraço, a todos os camaradas da Guiné

Colaço

________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 2 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

(2) Vd. postes de:

28 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2892: A verdade e a ficção (2): Ilha do Como, Op Tridente: Queres vender a tua água ? Dou-te 100, dou-te 200 pesos (Anónimo)

27 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2889: A verdade e a ficção (1): Op Tridente, Ilha do Como, Jan / Mar 1964 (Mário Dias)

23 de Maio de 2008 >
Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira, CCAV 489/BCAV 490)

15 de Janeiro de 2006 >
Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

23 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2375: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (8): A Batalha do Como (Mário Dias / Santos Oliveira)

17 de Novembro 2005 >
Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

1 de Julho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

17 de Novembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias

17 de Novembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P2969: Com os páras da CCP 122 / BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (6): O grande comandante Araújo e Sá (Manuel Rebocho)

1. Mensagem do Manuel Rebocho, com data de 14 de Maio:


Camarada e amigo Luís Graça

Acabo de ler as tuas duas mensagens, sendo indiferente a qual delas respondo.

Estou em Bissau, onde me desloquei, como tinha prometido, num mail que te enviei, com pedido de publicação, o que não aconteceu.

Vim para me certificar do ponto em que se encontravam as transladações das ossadas dos meus camaradas de Guidaje, já que algo me dizia que nem tudo estava a dar certo. As conclusões que tirei foram duas:

(i) Não irá ossada nenhuma para Portugal;

(ii) O assunto vai degenerar numa enorme confusão diplomática.

Não tenho nada com o assunto. Eu desloquei-me, o ano passado à Guiné-Bissau, tendo então feito, em nome pessoal, um pedido às autoridades guineenses, que o aceitaram. Não pedi a intervenção de ninguém, se houve autoridades portuguesas que se envolveram, fizeram-no por única decisão e responsabilidades suas.

Eu disse aos Generais Pára-Quedistas, numa reunião em Cantanhede, que eles não eram, pelas razões que lhe apontei, as pessoas indicadas para conduzirem um processo deste melindre diplomático. Não entenderam assim, e têm toda a legitimidade para julgarem pela sua própria cabeça, mas esperemos, tranquilamente, pelos resultados.

Se faço esta referência, numa mensagem que aparentemente, nada tem com a questão que me colocas, é porque as considero muito ligadas e tem a ver com a maneira como interpretamos o mundo à nossa volta e nos integramos nele.

Sou amigo do Carmo Vicente há muitos anos, sabia que ele tinha publicado o livro em questão, não o li, como não li o anexo que me enviaste (1). Tenho uma visão da Guerra de África, que é a minha. Os valores não podem ser espezinhados a troco de quaisquer lentilhas de ocasião.

O meu camarada Carmo Vicente tem todo o direito à sua opinião, muito embora eu a não acompanhe.

O então Comandante dos Pára-Quedistas, Tenente-Coronel Jorge Rendeiro de Araújo e Sá (2), era um homem duro, extremamente exigente, mas um Comandante de eleição, tendo atingido níveis de competência que eu nunca vi em nenhum outro Oficial Superior.

No dia 15 de Maio de 1973, quando Jamberém estava sem abastecimentos e uma Companhia de Pára-Quedistas tivera 1 morto e 11 feridos, na tentativa de lhe fornecer alimentos, este homem, que alguns se esforçam por criticar, determinou a deslocação da minha Companhia, de Caboxanque para Cadique, com o objectivo de romper o possível cerco, já que hoje todos falam de cerco, sem ninguém os ter visto. A operação, planeada pelo Grande Comandante Araújo e Sá, previu tudo até ao mais infimo pormenor. Tudo se fez, sem tão pouco um arranhão.

Quando foi colocado a comandar Gadamael-Porto alterou todo o sistema e acabou-se a confusão. Os males de que se fala de Gadamael-Porto, montam aos dias anteriores à sua chegada àquele Comando.

Mas tinha outros defeitos, de que te dou dois exemplos que me envolveram:

Quando estava em Caboxanque, tanto eu como o então Segundo Sargento Joaquim Manuel Delgadinho Rodrigues tínhamos que ir a Bissau fazer exames, no Liceu. O Capitão chamou os dois e disse-nos:
- Eu não assumo a responsabilidade da deslocação, dos dois, no mesmo dia a Bissau, um dos dois tem que ficar na Companhia, pode haver um problema grave e um dos dois tem que o resolver.

Eu disse que ia o Rodrigues, ficava eu. Só que as coisas não ficaram por aqui: o Rodrigues quando chegou a Cufar, onde o Comandante se encontrava, foi falar com ele, no que foi proibido pelo então Segundo Comandante Major José Alberto de Moura Calheiros, que alguns querem hoje santificar. Só que os factos entraram em fase de descontrolo, e o Rodrigues não lhe obedeceu. O Comandante Tenente-Coronel Araújo e Sá desautorizou o seu Segundo Comandante e recebeu o Rodrigues de imediato.

O Rodrigues protestou pelo facto de eu não poder ir fazer exame, elegando que com tanta gente no Cantanhez não se compreendia a impossobilidade de um homem se afastar. Araújo e Sá disse-lhe que compreendia a posição dele, mas infelizmente as coisas eram assim.

Num outro momento, houve um Tenente que me disse qualquer coisa de que não gostei e eu chamei-lhe "filha da puta", frase de que não me orgulho, mas saiu e não há volta a dar-lhe. O Tenente correu para o Gabinete do Comandante, fazendo queixas de mim. O Comandante, na minha frente, porque segui atrás do Tenente, mandou-o sair, dizendo que os "Pára-Quedistas não eram uma casa de meninas".

Era um Comandante de quem os bons militares tinham tudo, como se comprova; os outros, bem os outros têm opiniões diferentes, que eu respeito e conheço, mas, como é natural, eu vivo no meu mundo e não nem nunca no mundo alheio.

Este homem, que comandou os Pára-Quedistas, no Cantanhez e foi enviado para Gadamael, que ninguém "desenrolava" foi, no fim da sua comissão, na Guiné, condecorado com a medalha regularmente atribuída aos Chefes de Secretaria, quando todos esperávamos que lhe fosse atribuída a medalha de Torre e Espada.

Ficou entre ele e os spinolistas, grupo que integrava, se é que não integra, os melhores Oficiais do Exército português de então, o relacionamento que se pode compreender.

Quando da preparação dos acontecimentos de 11 de Março de 1975, os spinolistas necessitaram das capacidades de Araújo e Sá, já que os preparadores da tentativa de golpe de estado não se revelaram muito capazes. Araújo e Sá não os apoiou, ficou indiferente e a seguir mal com todos.

Muita gente tenta hoje chamar a si decisões que foram de Araújo e Sá, e eu vou "comprando umas brigas", pois não aceito mentiras.

A última tentativa é a de atribuírem a outro Oficial o comando da operação de resgate do Tenente Piloto Aviador Pessoa. Eu estive na operação, sei que falei com Araújo e Sá, via rádio, que me transmitiu as instruções que na altura eram apropriadas, para além de que possuo fotocópia do relatório da operação.

Meu caro camarada e amigo Luís Graça, todos os homens de grande valor são controversos, e podem ser observados segundo vários ângulos, pelo que o modo como os observamos acaba por nos caracterizar mais a nós do que a eles.

Já me alonguei e podia estar aqui uma semana a escrever que nunca terminava. Publica o que entenderes, faz a tua própria leitura, escolhe o teu próprio ângulo de observação. Reconheço, como já disse, a existência de várias posições e, quem me conhece já me conhece.

Um grande abraço

Manuel Rebocho
~
Ex-sargento pára-quedista,
CCP 123 / BCP 12
(Guiné, Maio de 1972/Julho de 1974),
hoje Sargento-Mor Pára-quedista, na Reserva,
e doutorado pela Universidade de Évora
em Sociologia da Paz e dos Conflitos
(tese de doutoramento:
"A formação das elites militares portuguesas
entre 1900 e 1975")

__________

Notas de L.G.:

(1) 1) Vd. postes de:



4 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2915: Com os páras da CCP 122/ BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (1): Aquilo parecia um filme do Vietname

5 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2917: Com os páras da CCP 122/BCP 12 no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (2): Quase meia centena de mortos... Para quê e porquê ?


(2) O Ten Cor PQ Sílvio Jorge Rendeiro de Araújo e Sá foi comandante do BCP 12 de 14 de Dezembro de 1971 a 20 de Janeiro de 1974

Vd. também o poste de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)



(...) "Louvor ao Batalhão de Paraquedistas 12


O Comandante Operacional das Forças Terrestres Tenente-Coronel Paraquedista Araújo e Sá, no Relatório de Operações, fez uma destacada citação às tropas participantes não pertencentes ao BCP 12, designadamente às duas Companhias de Comandos Africanos e às Companhias de Caçadores 3477, 3399 e CCAÇ 18 pelo seu espírito de missão, assim como aos Pilotos da Força Aérea com saliência para o Alferes Trindade Mota, Piloto de Helicanhão.


"Também relacionado com a Operação Muralha Quimérica, o Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné concedeu ao Batalhão de Paraquedistas um Louvor que relevava a forma valorosa como, uma vez mais, as Tropas Paraquedistas do BCP 12 se tinham batido neste Teatro de Operações.Findo este período as nossas forças regressaram em LDG ao BCP 12 para retemperar forças e preparar-se para novas missões" (....).