sábado, 1 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22865: Os nossos seres, saberes e lazeres (485): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (31): Lembranças sertaginenses, pedroguenses e reguengueiras (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
A pretexto de uma nova vacinação, viajou-se com pouca bússola, ao sabor de encontros originais, mesmo confrontado com matéria repetitiva. Reconheça-se que José Saramago tem carradas de razão quando escreveu na sua Viagem a Portugal que o que se vê de manhã não é o que se vê de tarde, é tudo diferente com calor ou frio, ao sabor das estações, até de quem nos acompanha e do grau de disponibilidade que temos para fruir o que já se viu e se repete com a descoberta de diferenças. Pois foi o que aconteceu, a estonteante sinfonia de cor da folhagem outonal, passar por dois espaços carregados de memória, lembrar seres amados ou um projeto devorado pelo fogo, e arribar a um local que nos dá agora tanto aprazimento e registar o fim do dia, porque há amanhãs que cantam, basta ter paz interior e alegria para viver.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (31):
Lembranças sertaginenses, pedroguenses e reguengueiras


Mário Beja Santos

Convocado por SMS para nova vacina na Sertã, decidi-me pelo improviso puro, nada de leituras prévias, de andar a bisbilhotar guias à procura de mares nunca dantes navegados, o que for soará. Após a prestimosa vacina, desce-se à Avenida da Carvalha, como resistir a este deslumbre de cor. Intercalam-se cores esmaecidas e outras quase fluorescentes, é o outono vibrátil, sim, todo este folhedo cairá por terra, será um trabalho suplementar para a limpeza autárquica, para evitar acidentes com as quedas, enquanto estão gloriosas no arvoredo enchem-nos de encanto, no chão atormentam-nos por simbolizarem o fim de vida, embora sabendo que é a podridão orgânica, tem a força de adubo, fertilizante, elemento regenerador. E por ali andei embriagado com esta visão de coloridos, indiferente ao pensamento de que toda esta cor preludia o repouso invernal.

Estou em maré de lembranças, havia uns livros para entregar na Biblioteca Municipal de Pedrógão Grande, onde se guarda memória da minha adorada filha Glória, a autarquia abraçou a minha proposta de se fazer um recanto em sua lembrança, lá o vamos nutrindo com papelada e alguns objetos de Arte que possam amenizar a vida dos leitores. Se sorte tive com o calor outonal na Sertã, aqui apanhei a luz do meio-dia, tenho a impressão que a cirurgia que fiz a uma catarata me fez recuperar tons que me pareciam neutralizados, fui tomando imagens de alguns ângulos, é um espaço que acarinho e para aqui conto caminhar até ao fim dos meus dias.
Quem está em Pedrógão Grande aproveita para nova rememoração, bem negra por sinal. Ainda não se tinha dobrado o século e aqui se adquiriu uma casa agrícola pronta para ser renovada, depois de 20 anos ao abandono. Guardo as melhores recordações do entusiasmo posto neste projeto, encontrou-se uma equipa de truz que deu resposta a espaços confortáveis, tudo renovado, e parecia seguro, aprazível, aqui se recebeu muita gente, até de vários continentes, se ouviu o rouxinol nas noites quentes, o esvoaçar dos morcegos, o piar dos mochos. Ouviam-se as vozes dos velhos agricultores e recebiam-se prendas como um lauto saco de tomate, plantou-se um belo rododendro, havia a felicidade de cultivar, plantar, estar sentado num banco a ouvir o sibilar dos eucaliptos, em contraste com o quase imobilismo dos carvalhos. Pelo adiante, houve mudança de projetos, bateu à porta um casal de professores de ginástica que se tinham afeiçoado à casa, viviam longe e trabalhavam em Figueiró dos Vinhos, por artes mágicas ficaram com a bela casa de Casal dos Matos e entregaram um andar espaçoso em Tomar, outra experiência inesquecível.
E veio aquele inferno em 2017, foi devastador, o proprietário mais recente, de que desconheço o paradeiro, parece estar a remover as marcas do cataclismo, mas ainda dói que se farta saber que se pôs tudo aquilo de pé, que se removeu o apodrecido e se reconstruiu a preceito, que se deixou outros a continuarem aquela aventura, magoa este abandono quando se pôs tanto amor na reconstrução da casa que se encheu do mais doce convívio. Para que conste.

E de Pedrógão se viaja até Reguengo Grande, concelho da Lourinhã, outro projeto sonhador, desta feita em andamento e oxalá que perdure. É mesmo dia de novembro, venho até ao terraço apreciar a paleta de cores no céu, gosto muito destas duas alterações, aquele escuro que parece que esconde as formas, embota os volumes, massifica a superfície da encosta e subitamente é aquele festival de tons ígneos que marcam a despedida do dia, e ali fico especado com o dia de calor, as recordações, os símbolos da ascensão e queda, e também aqueles sinais que vêm dos céus que o dia parte para renascer, igualmente a vida se reconstrói e os sonhos medram, frutificam de acordo com a nossa curiosidade em nos sermos prestáveis e aos outros. E deste recanto tão formoso se regressa ao espaço onde este conjunto de imagens ganha sentido, e me ponho a comunicar para quem me lembra e eu guardo na agenda do meu coração.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22842: Os nossos seres, saberes e lazeres (484): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (23): Lisboa no tempo de D. Manuel I, a cidade que ambicionava o mundo (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22864: Tabanca dos Emiratos (6): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte II (A): A Presença dos Países da CPLP: Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe... (Jorge Araújo)



“APONTAMENTOS” DA «EXPO 2020»

(DUBAI - 01Out2021 / 31Mar2022) 


Foto 1 - Vista aérea do espaço da «Expo 2020» (Dubai) com destaque para a imponente cúpula da «Praça Al Wasl» (ao centro), com os seus 130 metros de largura e 67,5 metros de altura, sendo este último valor superior à da «Torre de Pisa» (Pisa, Itália), que é de 56,7 metros na sua parte mais alta, ou ao do «Arco do Triunfo» (Paris, França), que tem 50 metros de altura. (foto da Agência de Notícias dos Emirados, com a devida vénia – in: https://www.wam.ae/pt/details/1395302987723) 


PARTE II (A)

A PRESENÇA DE PAÍSES DA CPLP 

(Guiné-Bissau / Cabo Verde / São Tomé e Príncipe / Angola / Moçambique / Timor-Leste)






Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); um homem das Arábias: (i)  doutorado pela Universidade de León (Espanha) (2009), em Ciências da Actividade Física e do Desporto; (ii) professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (iii) vive entre entre Almada e Abu Dhabi; (iv) autor, entre outras, da série "(D)o outro lado do combate"; (v) nosso coeditor, com mais de 300 referências no nosso blogue: (vi) oltou às "Arábais" em agosto de 2021, depois de passar uma parte da pandemia na terrinha natal...

Está de momento com menos disponibilidade para o nosso blogue devido a afazares acedémicos: tem, nomeadamente em mãos dois livros técnicos. Mas arranjou tempo para ir à Expo' 2020 e dar-nos um "cheirinho" do que lá se passa... Portugal e a lusofonia também lá estão... Aproveitamos para lhe mandar, a ele e à sua Maria, um "balaio" cheio de saudades, miminhos, chicorações, rabanadas e outras docinhos, com votos de um ano de 2022 cheio de realizações pessoais e profissionais.



1. - INTRODUÇÃO


Decorridos os primeiros três meses do calendário da «EXPO’2020» no Dubai, Emirados Árabes Unidos (UAE), que, como é do domínio público, teve de alterar a sua data inicial para o período de 1 de Outubro de 2021 a 31 de Março de 2022 (seis meses), devido à pandemia da COVID-19, voltamos a partilhar no Fórum da Tabanca Grande alguns “apontamentos” sobre esta “Exposição Mundial” que, segundo os entendidos no assunto, está considerado como o maior acontecimento do género até agora realizado.

Com um total de mais de duzentos pavilhões, onde estão representados cento e noventa e uma nações dos cinco continentes, estes encontram-se espalhados ao redor da «Praça Al Wasl» (foto 1) por três espaços temáticos – Sustentabilidade / Mobilidade / Oportunidade –, onde cada conceito, ou subtema da «Exposição», procura antecipar o que será (ou poderá ser) o mundo nas próximas décadas.

Durante o primeiro mês do evento (Outubro), a organização anunciou ter registado o número de 2.350.868 visitas, crescendo para 5.663.960 em 5 de Dezembro e passando para 7.167.591 em 20 de Dezembro, última cifra conhecida.

Outros números divulgados pela organização dão conta de que durante os dois primeiros meses (Outubro e Novembro) a “Exposição” foi visitada por 5.383 líderes governamentais, incluindo Presidentes, Primeiros-ministros, Chefes de Estado e Ministros. 

No mesmo período decorreram nos vários espaços do recinto 10.461 eventos. Neste dois primeiros meses foram registadas cerca de 455.000 viagens de táxis de e para a “Exposição”; 600.000 viagens de serviço gratuito de autocarros Expo-Rider e 2.2 milhões de utilizadores que se deslocaram à «EXPO» através do Metro do Dubai.

Quanto a visitas virtuais os números atingiram os 25 milhões no mesmo período, devido à grande procura do Live@Expo, aumentando para 31.6 milhões em 20 de Dezembro último, consequência das inúmeras reportagens produzidas pelo universo dos «mídia» (jornais, revistas, televisão, rádio e internet) que diariamente visitam e divulgam informações sobre o evento.

Ainda que a maioria dos visitantes residam nos UAE, são alguns milhões aqueles que viajam do exterior oriundos dos vários continentes. Por exemplo, durante o mês de Novembro, 28% dos visitantes vieram de fora dos Emirados Árabes Unidos, designadamente da Índia, França, Alemanha, Arábia Saudita, Reino Unido, entre outros.

Por outro lado, segundo julgo saber, o conjunto dos diversos meios de comunicação do nosso País (jornais e canais de televisão) têm vindo a disseminar informações sobre este grande acontecimento mundial.

Em função do parágrafo anterior, os “apontamentos” narrados nesta PARTE II dizem respeito, apenas, a imagens obtidas durante as visitas que efectuámos aos pavilhões de seis países membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), acima identificados. 

Desses países, só Angola está instalada em pavilhão próprio, enquanto os restantes cinco (certamente por falta de recursos!?) dividem os espaços com outras nações. Neste caso, cada edifício construído em alvenaria foi dividido em quatro partes, onde se observa uma autonomia na gestão do mesmo.

2. – O “PASSAPORTE ESPECIAL” COMO RECORDAÇÃO DA EXPO

Tal como vem acontecendo desde 1967, ano em decorreu a «Exposição Mundial de Montreal», (Canadá), onde surgiu pela primeira vez o “passaporte especial”, também a organização da «EXPO’2020» manteve a edição do seu exemplar.

A criação deste documento serve, desde sempre, de estímulo para os visitantes, que querem ver e acompanhar todos os pavilhões internacionais que visitam, gravarem os carimbos de cada um como lembrança, para memória futura.

Recordo aqui os dois “passaportes” que ainda guardo como lembrança, por neles ter participado: o 1.º da «EXPO’92», em Sevilha (Espanha), e o da «EXPO’98», em Lisboa (Portugal).

A versão do “passaporte” da «EXPO’2020», de cor amarela, foi inspirado na herança dos UAE, ligando o passado ao presente. Nas suas 50 páginas contém desenhos e fotos dos três Pavilhões Temáticos, bem como da Praça Central «Al Wasl» e de outros marcos da cidade do Dubai (conforme exemplos abaixo: capa e uma folha interior com os carimbos do Paquistão, Bahrain e das Honduras).



O “passaporte” é personalizável, com recursos de segurança bem pensados, com número único, uma área para incluir uma foto, tipo passe, detalhes pessoais e imagens com marca d’água colocadas em cada uma das suas páginas, garantindo que não haja dois documentos iguais.

Reprodução dos carimbos dos seis países (adaptado a moeda/medalha).



3. – FOTOGALERIA DESTE “APONTAMENTO”


Porque o espaço disponível não é ilimitado, as fotos que seguidamente se apresentam foram aquelas que me pareceram serem as melhores para enquadrar este trabalho relativo às visitas aos pavilhões dos seis países em título.  


Foto 2 – «Expo’2021». Pavilhão da Guiné-Bissau. Os responsáveis de serviço naquele dia: a Djanaina Turpin e o Júlio Sanhá, acompanhados pelo repórter.


Foto 3 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Banco oval existente na parte superior do salão, em forma de «L» invertido, enquadrado, numa das paredes, por painel de imagens da GB


Foto 4 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Painel com mais fotos e um manequim feminino vestido com traje regional.


Foto 5 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Foto ampliada retirada da imagem anterior.


Foto 6 – Pavilhão da Guiné-Bissau. Foto ampliada retirada do painel da imagem anterior.


Foto 7 – «Expo’2021». Pavilhão de Cabo Verde. Entrada principal do pavilhão.




Foto 8 – Pavilhão de Cabo Verde. Painel de promoção turística, onde a cadeira/espreguiçadeira colocada em zona frontal desempenha uma função


Foto 9 – Pavilhão de Cabo Verde.  
O mesmo painel da imagem anterior e a função da cadeira/espreguiçadeira


Foto 10 – «Expo’2021». Pavilhão de São Tomé e Príncipe. 
Expositores com vários produtos locais.

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Continua: Parte II(B), com fotos da representação de Angola, Moçambique e Timor-Leste

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22863: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missirá, mai 1969 / ago 1971) - Parte II: Até sempre, "alfero Cabral"! (Joaquim Mexia Alves, Paulo Santiago,Virgínio Briote, Valdemar Queiroz, A. Marques Lopes, Luís Graça,José Manuel Cancela, PILAO2511966, Hélder Sousa, Joaquim Costa, Mário Miguéis, António Graça de Abreu)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Jorge Cabral... Quem diria, Jorge, que seria este o nosso último encontro ?!...  Depois veio a pandemia do século... E nem ao lançamento do teu livro pudemos ir... E depois a tua doença, de que pouco ou nada falavas... E, por fim, a morte, aos 77 anos... Estamos destroçados com a tua partida, mesmo sabendo que estava já "anunciada"... Em contrapartida, soubemos, e isso deu-nos algum "consolo", que morreste em paz, de mão dada ao teu filho, de quem tinhas muito orgulho...

Deixaste a Terra da Alegria, o teu filho o teu neto, todos aqueles que te amavam e que tu amavas... Não vamos deixar-te  ser inumado na vala comum do esquecimento... Onde quer que estejas (, e nós não sabemos o trajeto exato do "barqueiro de Caronte"...) continuarás a ter muitos amigos e amigas, e muitos camaradas, muitas "almas peregrinas",  que vão querer honrar a tua memória e que vão  sentir a tua falta, nomeadamente  no seio da Tabanca Grande.  

E no domingo, dia 2,  lá iremos, à igreja do Lumiar, em Lisboa, para te  dizer o último adeus, às 15h00/15h30...  Aceita, entretanto,  estes pequenos testemunhos de homenagem, são já dezenas os que te escreveram, não cabem todos num só poste... Mas este será o primeiro do novo ano de 2022... Que nos traga esperança, o novo ano, aos que cá ficaram !... Lá no alto do poilão da Tabanca Grande sabemos que, a partir de agora, haverá mais um irã bom que vela por nós, nos protege e nos inspira!... (LG)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Jorge Cabral (1944 - 2021) > O livro das condolências (*):


(i) Joaquim Mexia Alves


Até já,  Jorge

Só agora me dei conta que já partiste para outra "aventura".

Quero lembrar as muitas histórias que nos fomos contado mutuamente, mas sobretudo o teu humor tão especial, a tua alegria de viver, a tua amizade franca e sincera.

Percorremos caminhos idênticos pela "nossa" Guiné e muito conversámos sobre isso.

És um homem bom, Jorge, e os homens bons deixam sempre um vazio que só é preenchido pela gratidão de os ter conhecido.

E eu estou muito grato por te ter conhecido e contigo ter recordado tanta coisa, até um pequeno laço familiar que nos ligava.

Este ano, mesmo antes de fechar ainda me leva mais um amigo.

Até já camarigo!

Até já Jorge!

Joaquim Mexia Alves

(ii) Paulo Santiago
 
Tinha uma especial ligação ao Cabral,talvez por ambos estarmos ligados a Pelotões de Caçadores Nativos.

Via telemóvel,fui-o acompanhando nestes meses,e ía-me falando do tormento da doença.No início,havia momentos,fugazes,em que ainda lhe saía uma piada,mas esses momentos acabaram.Nos primeiros dias de Novembro,liguei-lhe a convidá-lo para um almoço no restaurante "Estrela do Bico" em Massamá.Eu,ele,o Armando Pires,o Matos Gomes,já tínhamos ido lá umas quatro vezes,era mais uma.Disse-me que não. Na passada 5ª feira,telefonei,senti que se estava a apagar,fiquei deprimido.
Descansa em paz,Jorge Cabral.

P.Santiago

PS - O restaurante que menciono é do filho do Ten Cor. Polidoro Monteiro ao qual,o Cabral,o Armando e eu tivemos ligação na Guiné.


(iii) Virgínio Briote

Todos os dias a roda vai andando. Agora foi o Cabral.

V. Briote
28 de dezembro de 2021 às 21:13 

(iv) Valdemar Queiroz

E assim a vida, mas quem esteve na guerra da Guiné bem merecia estar por cá mais uns aninhos.

O alfero Cabral esteve na guerra da Guiné e também se encontrou com Prometeu no Jardim Constantino, local que eu bem conheci quando em criança mudei do Minho para Lisboa.
Mas o alfero Cabral não furtou o fogo divino e nem sequer arranjou planos ardilosos para enganar os deuses olímpicos. O alfero Cabral apenas nos fazia rir com o seu grande sentido de humor nas "Estórias cabralianas".

Não o conheci pessoalmente.

Sentidos pêsames
Valdemar Queiroz


(v) A. Marques Lopes

Saudades de ti, do teu espírito. Mas lá nos encontraremos (onde não sei).

28 de dezembro de 2021 às 22:35 

(vi) Tabanca Grande Luís Graça 

Cheguei a Candoz e felizmente consegui  vir aqui e já li os comentários anteriores que me sensibilizaram. Espero bem que apareçam mais. O Cabral bem merece um último adeus, mesmo daqueles que não o conheceram pessoalmente.

28 de dezembro de 2021 às 22:42 
 

(vii) Zé Manel Cancela

Até qualquer dia, Alfero Cabral.
Vamos ter saudades das tuas histórias.....
28 de dezembro de 2021 às 23:06 

(viii) PILAO2511966 

Deste Alferes de Angola, que se sente pesaroso. Nunca nos relacionámos bem, mas, demos uns bacalhaus, 2 ou 3 vezes no 10 de Junho em Belém. Seguia-te nos "post" em barrigadas de riso, fazias-me lembrar um camarada Peruano do meu tempo na Legião que se finou, também cedo demais, no Tchad.

Sit Tibi Terra Levis camarada

(ix) Hélder Sousa

Nestes tempos mais próximos a "ceifa" tem sido pródiga. Muitos dos nossos amigos e conhecidos tem partido.

Alguns da "doença da moda", outros por via do que se convencionou "doença prolongada", "doença incurável", etc.

O que é certo é que, por força de fatores que nem sempre se explicam, acabamos por interagir mais com uns do que com outros, desses amigos que nos vão deixando.

Do Jorge Cabral as suas características são tantas e tão diversas, como o Luís descreveu no artigo, que é difícil não nos identificarmos com várias delas.

Recordo alguns momentos que passei com ele, conversando como ele sabia fazer e cimentando a amizade.

Sei que este "destino" é o que nos está reservado também, mas sempre custa saber dele.
O melhor que se pode fazer é lembrar o Jorge nas suas múltiplas facetas, valorizar o bom e honrar a sua memória.

Hélder Sousa

(x) Joaquim Costa 

Não tive o grato prazer de te conhecer, meu caro Cabral, mas sinto a tua partida como de alguém que me fosse muito próximo. Não sei como explicar. Talvez a explicação esteja no facto de me deliciar com as partes do livro que li no blogue. O humor alcança mais longe…

Joaquim Costa 29 de dezembro de 2021 às 00:32 

(xi) Mário Miguéis

Não sabia da gravidade do estado de saúde do Jorge Cabral. Convenci-me de que, após a intervenção cirúrgica, estava a caminho da recuperação. Fico com muita pena pela sua partida, para mim inesperada.

Restar-me-á, agora, a recordação da sua imagem e do seu enorme talento.

(xii) António Graça de Abreu

Falei com o Jorge Cabral há uns quinze dias atrás. Pelo telefone, a voz titubeante, o desânimo, nada anunciavam de bom. Descansa em paz, meu Amigo.

Recordo um encontro a três, no Maxime, em Lisboa, há uns sete ou oito anos. Luís Graça, o Jorge Cabral e eu. Tocava a banda do João Graça, filho do Luís. O entretenimento pleno. Numa mesa ao nosso lado sentava-se a Soraya Chaves e recordo o entusiasmo do Jorge Cabral com a moçoila, então mais jovem e em ascensão. "Que mulher, que mulher!"

Um dia acabam todos os prazeres da vida. Se existe Céu, tenho a certeza que o Jorge Cabral, já se hospedou por lá, numa nuvem cintilante. Bem merece.
Saudade, meu Amigo.

António Graça de Abreu 

(Continua)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22858: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missira, mai 1969 / ago 1971) - Parte I: "Alfero Cabral", uma genial criação literária, um "alter ego" do autor, usado como arma de irrisão contra o absurdo da guerra (Luís Graça)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22862: O meu sapatinho de Natal (25): Três Natais passados em Brá, no BENG 447 (1968, 1969 e 1970) (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais)


Foto nº 2 > Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 > Natal de 1969 > Aspeto da assistência



Foto nº 1 >  Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 > Natal de 1969 > Preparando o  palco: o João Rodrigues Lobo  é o alf mil da ponta direita


Foto nº 3 >  Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 >  Natal de 1969 >  Descansando nas rachas de cibe (que seguiam para os reordenamentos...): o João Rodrigues Lobo é o da pomnta esquerda


Foto nº 4 > Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 >  O campo de jogos onde se realizavam as  festas de Natal   


Foto nº 5  > Guiné, Bissau, Brá, BENG 447 >  Aspeto do  campo de jogos onde se realizavam as festas de Natal


Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Rodrigues Lobo 

[ (i) ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971);

(ii) fez o 1º COM, no último trimestre de 1967, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa, Angola, onde viveu na sua juventude;

(iii) natural de Óbidos, vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital;

e (iv) é membro nº 841 da Tabanca Grande.]


Data - terça, 21/12, 16:10 (há 10 dias)
Assunto - O Natal na Guiné



 

Boa tarde,

Bem posso dizer Os Natais na Guiné, pois passei lá três: 1968,1969 e 1970.

Para os que estavam no BENG 447 havia um espectáculo, com os "artistas" do Batalhão que nos distraía um pouco para tentarmos não ter saudades dos nossos que estavam longe.

Os artistas eram variados e as actuações também. Como não havia dois "Géneros" os artistas convidados do "género" masculino também interpretavam o "género" feminino.

O palco e as actuações eram no campo de jogos atrás da messe.

Em anexo reenvio a foto de festa de 1969, com assistência de muita "Malta" e também das mulheres de alguns oficiais que os acompanhavam nalguns períodos e residiam em Bissau (Foto nº 1). E também do campo onde as mesmas se realizavam.(Foto nºs 4 e 5). Ajudei a preparar o palco para a festa de Natal de 1969 (Fotos nºs 1 e 3).

De mencionar que em uma das festas, não me recordo em que ano, um rapaz "marado", que tinha acabado de chegar de zona de combate, resolveu detonar uma granada ofensiva no exterior do recinto. Não houve vitimas diretas, além do grande susto. Mas em resultado do pequeno pânico que se gerou e, alguns tentando sair ao mesmo tempo pelas mesmas saídas do recinto, houve umas ligeiras esfoladelas.

Como era Natal tudo acabou em bem.
Bom Natal para todos e suas familias.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22860: O meu sapatinho de Natal (24): "Uma Santa Bênção" - Mensagem natalícia de João António Bento Soares, Maj-General Ref

Guiné 61/74 - P22861: Notas de leitura (1404): Joaquim Costa, "Memórias de guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina. Guiné: 1972/74", Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp. - Parte I: "E tudo isto, a guerra, para quê ? Não sei"...




Capa e contracapa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021,  180 pp.


Pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio),  a transferir para o seuNIB que será enviado juntamente com o livro.  Os pedidos devem ser feitos para o e-mail: jscosta68@gmail.comindicando a morada para envio.


1. Nota final, por Luís Graça (pp. 177/178)

Em boa hora o Joaquim Costa decidiu, no princípio do ano de 2021, deixar de ser um “consumidor  passivo”, um simples leitor,  do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, para se tornar um “elemento ativo”, um “autor”…  E começou logo,  ainda em plena pandemia de Covid-19, a pré-publicar alguns excertos (cerca de  2 dezenas) do livro que agora deu à estampa. Todos ficámos a ganhar, a começar por ele, que, ao  expor-se-à crítica dos leitores, muitos deles antigos combatentes, receberia em troca  cerca de 170 comentários “a quente”.

O que seguramente ajudou a melhorar a versão final deste livro que eu saúdo e agradeço: vem enriquecer o património literário e documental da Tabanca Grande, que é uma tertúlia virtual centrada na experiência de uma guerra, a guerra colonial (1961/74),  e em particular a da Guiné, sendo porventura  a maior tertúlia do género, em português, quer pelo número de visualizações do blogue (cerca de 13,2 milhões, desde 2004) quer pelo número dos seus membros registados (N=854) e ainda pelo volume de memórias partilhadas. Memórias mas também afetos. E este livro é sobretudo  um livro de afetos.

O Joaquim Costa é mais um talento literário que o nosso blogue veio revelar,  com a particularidade de, sendo um bom minhoto, a sua  prosa ter também belos nacos do português camiliano, a começar pela ironia,  o humor e até o sarcasmo, tão bem patentes na reconstituição de algumas das suas memórias de infância e na evocação da sua família, bem como na descrição de cenas da vida castrense.

Já tive ocasião de lho dizer, e agora  passo a  partilhá-lo com os seus futuros leitores: Joaquim, quisestes escrever um livro com uma parte da tua história de vida,  que é também a de muitos de nós, e que quiseste dedicá-lo aos que te amam e estimam.  A tua narrativa  tem momentos portentosos sobre a epopeia de Cumbijã e de Nhacobá, os seus bravos e as suas vítimas.  Um dia, quando fizermos uma antologia dos nossos melhores textos, o teu testemunho, na 1ª pessoa, sobre a Op Balanço Final (17-23 maio 1973), por exemplo,  terá que lá figurar, com toda a justiça.

A historiografia militar pode, em  meia dúzia de linhas secas, telegráficas, resumir aquela “guerra de baixa intensidade”, num contexto geopolítico marcado pela guerra fria e o fim dos impérios, mas que não foi feita   para “meninos de coro”, como todas as guerras... Mas faltar-lhe-á, por certo, à escrita do historiador, o nosso "sangue, suor e lágrimas", que na Guiné, no meu e no teu tempo,  não foi uma figura de retórica. E é bom que os nossos filhos e netos saibam, por fim,  que ali não fizemos só a guerra mas também a paz.

Obrigado, Joaquim,  também por dares voz a muitos combatentes, de um  lado e do outro,  que nunca tiveram nem terão  oportunidade de escrever,  e muito menos de publicar, sob  chancela editorial,  as suas “vivências” sobre aquela guerra e aquela terra (que, estranhamente, acabou por ficar no nosso coração, contagiando até os nossos filhos). E muitas memórias vão morrer connosco...

Não quero acabar esta nota sem referir os sucessivos murros no estômago que, metaforicamente falando, recebeste, a começar pelo batismo de fogo, as primeiras minas e emboscadas, o primeiro morto...   Na realidade, aqueles de nós (e fomos muitos) que passámos por essa dura, trágica, traumática experiência, sabe dar valor às tuas palavras onde há raiva e impotência mas também coragem e dignidade, quando falas do primeiro camarada que morre ao teu lado.

O batismo de fogo era  sempre uma situação-limite... O coração ficava a bater à velocidade Match 1...Depois, era como tudo: a guerra (e a morte) banalizava-se, tornava-se uma certa rotina... Mas os "embrulhanços" eram sempre temidos, de um lado e do outro... As balas e os estilhaços das granada ou o sopro das minas (antipessoais e anticarro) não tinham código postal... Era a roleta russa...

Mesmo sem quereres fazer juízos de valor sobre a legitimidade, a condução e o desfecho daquela guerra, acabas por nos mostrar, com fino mas cáustico humor, que às vezes acontecia sentirmo-nos como um bando de cegos, comandados por outros cegos, à beira de um precipício. Felizmente voltaste, “são e salvo”,  para escrever este livro e dares mais valor e força à liberdade, à justiça, à paz e à solidariedade.

Luís Graça, sociólogo, editor do Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de dezembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22859: Notas de leitura (1403): Léopold Sédar Senghor, o poeta da Negritude (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22860: O meu sapatinho de Natal (24): "Uma Santa Bênção" - Mensagem natalícia de João Afonso Bento Soares, Maj-General Ref

Mensagem de João Afonso Bento Soares, ex-Capitão Eng TRMS, STM/QG/CTIG (1968/70), hoje Maj-Gen Ref:

Caríssimo Luís Graça:
Agradecendo os votos constantes do habitual envio de mails (por parte das lides da Tabanca), quero desejar a todos os tabanqueiros a continuação de um Santo Natal, augurando um Feliz Ano Novo de 2022.

Junto uns dizeres alusivos à quadra que atravessamos:


UMA SANTA BÊNÇÃO

Vivendo o NATAL em alegria
Sentindo, viva em nós, a compaixão
É como ser Natal em qualquer dia
É ver sempre no outro um nosso irmão.

O luzeiro que a todos alumia
Entra na alma, adoça o coração,
Trazendo à vida amor e acalmia
Na vivência da graça e do perdão.

Porque tudo é devido ao Deus-Menino
Lhe vamos confiar nosso destino
Partilhando com Ele a Consoada.

Em redor da Mesa, a Família unida
Se sente deste modo enriquecida
Com a Santa Bênção que, do Alto, é dada.


João Afonso – DEZ2021
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22856: O meu sapatinho de Natal (23): Boas festas para o coletivo da Tabanca Grande, desde as "Arábias"...e ainda em tempo de pandemia de Covid-19: recordando os 50 anos da partida do BART 3873 para o CTIG, em 22/12/1971 (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P22859: Notas de leitura (1403): Léopold Sédar Senghor, o poeta da Negritude (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Um achado num alfarrabista possibilitou-me conhecer uma antologia poética do então Presidente Senghor. Note-se que tudo o que aqui se releva é o homem e a sua poesia bem antes de ser iniciada a luta armada. Senghor era profundamente estimado pelos intelectuais franceses, reconheciam que a sua poesia era uma inovação em todo o lirismo escrito em francês. Não fizeram favor nenhum em torná-lo membro da Academia Francesa. Um poeta praticamente desconhecido entre nós e que procurou intervir desde a primeira hora numa solução pacífica de transição colonial para um país independente. Também temos esse dever de memória com o extraordinário poeta que foi Léopold Senghor.

Um abraço do
Mário



Léopold Sédar Senghor, o poeta da Negritude

Beja Santos

Em 1962, a conceituada Présence Africaine dava à estampa o estudo feito por Armand Guibert da poesia de Senghor, nascido numa região acima do Casamansa conhecida por La Petite Côte, recorde-se que esta região foi altamente frequentada, nomeadamente nos séculos XVI e XVII por judeus portugueses que aqui se implantaram, caso de Joal, aqui perto Senghor passou a sua infância. Já poeta consagrado, Senghor exprimia a sua satisfação por estes lugares não longe do oceano, cheios de coqueiros. Frequentou em jovem a missão católica de Joal, onde aprendeu as primeiras letras. Deixou La Petite Côte aos dezasseis anos para fazer os seus estudos em Dacar e em 1928 parte para Paris, nos bancos do Liceu Louis–le-Grand foi colega de Paul Guth, Georges Pompidou e Thierry Maulnier, entre outros. Aqui se vai robustecer o humanismo que lhe inculcará o ideal da libertação. Faz amizade com Aimé Césaire, nome influente no pan-africanismo. A sua poesia tem influências daquilo que ele vai designar como o conjunto dos valores culturais dos africanos negros. Entretanto, ganha os seus títulos universitários, regressa a Dacar, já tem em mente a independência futura do Senegal. É um adepto da não-violência, diz repetidamente que a liberdade cultural é a condição sine qua non da libertação política. A sua devoção é África mas mantém uma lealdade crítica à França, será combatente na II Guerra, feito prisioneiro em 1940. Depois da guerra será eleito deputado do Senegal à Assembleia Constituinte, como parlamentar fará inúmeras viagens, como a Estrasburgo, a Bruxelas, a Florença, a Lisboa e a Nova Iorque. Em 1955 e 1956 será Secretário de Estado na Presidência do Conselho.

O seu pensamento já está formado, Senghor é um homem livre de qualquer complexo de inferioridade, África deverá ser independente, acredita que vários países devem tentar a unidade. Em 1960 será proclamado Presidente da República do Senegal.


Para quem estuda a Guiné Portuguesa e a Guiné-Bissau, a política de Senghor merece atenção obrigatória: viu sempre com desconfiança o sonho expansionista de Sékou Touré, procurou a moderação, ofereceu-se para o diálogo para se obter uma transição pacífica de independência para a Guiné Portuguesa. Vigiou a presença do PAIGC no seu território, nos primeiros anos da luta armada, sentiu-se coagido a cortar relações com Portugal, não se furtou a conversações com o Governo de Lisboa, encontrou-se com Spínola, propôs o cessar-fogo e defendeu uma transição até dez anos, para que a administração guineense não ficasse em roda livre, os acontecimentos militares geraram um outro curso dos acontecimentos.

Mas é bom pegar na sua poesia anterior à luta armada, uma poesia animada pelo génio africano, o fascínio pelas máscaras na diversidade de cores; mas é igualmente uma poesia que se deixa impregnar por uma certa mansuetude, a caridade cristã, sem prejuízo da sua atenção por um mundo em convulsão desde a guerra civil de Espanha, a guerra da Etiópia, a sua poesia ganha uma enorme fraternidade com aquela África submetida, redige mesmo poemas com termos jalofos e que pudessem ser recitados acompanhados por korás. Aliás, no seu relatório ao I Congresso Internacional dos Escritores e Artistas Negros, ele destacou as línguas africanas como línguas essencialmente concretas, em que as palavras aparecem associadas a imagens, possuídas pelo valor do signo, falou em imagens analogias e imagens mesmo surrealistas.

A sua formação permitiu-lhe um conhecimento aprofundado da cultura greco-romana e mesmo das culturas mediterrânicas. Muitos dos seus poemas estão estreitamente associados às culturas do Mediterrânio Oriental, possuem um veio popular e não islamizado, muito próprio dos povos nómadas e pastores, mas há também claras referências aos trovadores muçulmanos e aos guerreiros.

No final da obra Armand Guibert conversa com Senghor, começa por o interpelar sobre a sua inspiração, a tónica dos elementos da Natureza, a magia e o fascínio das civilizações de cunho negro, a que Senghor responde que procura para o Senegal uma cultura nova, assente na negritude, sem detrimento das linhas da cultura francesa em que se formou. E não nega que a sua poesia possui um equilíbrio instável entre um passado anterior à colonização, o processo da aculturação e a tomada de consciência de que os africanos deviam seguir o seu próprio rumo. Observa mesmo que escolheu uma área geográfica muito confinada para os temas fundamentais da sua poesia, La Petite Côte, está marcado pelo sol, pelos instrumentos musicais como o korá, as flautas, os tambores, sente-se atraído pela rítmica da tragédia grega e dos trovadores medievais. E responde ao seu entrevistador dizendo que no Senegal a cultura é o fim último da política. Confessa que tinha interrompido a sua atividade poética porque estava a escrever um ensaio sobre a civilização negro-africana, considerava este trabalho a sua missão mais urgente para dar à política um fundamento cultural. Concluído esse ensaio, contava ainda escrever algumas elegias, e escrever mesmo para o teatro, um teatro simbólico e lírico na tradição negro-africana.

Eis um Senghor completamente desconhecido com a imagem que dele se faz ao tempo da luta armada na Guiné, tentou para o seu país uma via democrática, sujeitando a elevado controlo a existência dos partidos políticos.

Confessava-se adepto de um socialismo democrático, repudiou todos os quadros políticos marxistas que fizeram moda no seu tempo, naquele rincão africano.

Desaparecido da cena política em África, é tido hoje como o detentor de uma lírica inultrapassável na linha do encontro entre as culturas ocidentais e da África Negra.


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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22849: Notas de leitura (1402): Memórias de um alferes, Leste da Guiné, 1967-1969: A CART 1690, uma das mais sinistradas, em toda a Guerra da Guiné (Mário Beja Santos)