quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7335: Kalashnikovmania (5): Passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3 (Mário Dias)



Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, João Parreira (comando da Guiné), Piedade (nfermeira pára), Miguel (pilav), Giselda (enfermeira pára), Mário Fitas (lassa) e Mário Dias (o comando e instrutor dos comandos da Guiné de 1964/66, que hoje nos dá... música, celestial!... Há 35 anos atrás, em 25 de Novembro de 1975, estava de sargento de dia, no Regimento de Comandos da Amadora... E a música era outra!).

 
Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > O Fur Mil Op Esp Benjamim Durães, do Pel Rec Inf, numa tabanca do regulado de Badora, com um milícia, junto  a uma  metralhadora ligeira Degtyarev


Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os  direitos reservados




Segundo o nosso especialista em balística e armamento, Luís Dias, trata-se de um Degtyarev DPM que teve origem no modelo DP (Degtyarev Pechotny/Degtyarev de Infantaria), desenhada na URSS depois de 1917 e que veio a ser adoptada como metralhadora ligeira  do Exército Vermelho, em 1927. Em 1943/44 veio a ser modernizada, passando a ser o modelo DPM (modernizirovannyj). Após o fim da IIª Guerra Mundial irá ser substituída, primeiro pela PK-46 e depois pela RPD. 

Estas armas (nomeadamente metralhadoras ligeiras e LGFog que eram apanhadas ao PAIGC) eram, muitas vezes, distribuídas às companhias de milícias... Já a Kalash, por ser considerada uma arma de elite, era muito disputada pela tropa especial, comandos africanos e oficiais de unidades de quadrícula...

Seria interessante pesquisar as razões desta... kalashnikov-mania que, de resto, chegou ao cinema: veja-se o filme  Lord of War / O Senhor da Guerra (2005)...


Kalashikovmania pode ser definido como uma forte atracção pelo armamento do... IN. No TO da Guiné, inclui kalash e outras armas.Trata-se de um neologismo, inventado pela Tabanca Grande, que paga direitos de autor; um dia irá figurar nos novos Dicionários da Língua Portuguesa, como muitos outros termos que usávamos na guerra: por exemplo, dila=dilagrama, LGFog=lança-granada foguete, ameixa=granada...

Curiosamente só hoje (!) dei conta que a bandeira de Moçambique [, imagem acima], na actual versão (que vem de 1983), contem uma estrela (que "representa a solidariedade entre os povos"), mas também a... AK-47 (símbolo da luta armada e da defesa do país), a par de outros símbolos sugerindo desenvolvimento (livro=educação; enxada= agricultura). É, ao que parece, a única bandeira no mundo  a ostentar uma espingarda moderna... Singularidades da lusofonia... Dessa, ao menos, livraram-se os nossos amigos guineenses. 


Lord of War, com Nicolas Cage, filme norte-americano de 2005, passou em Portugal com o título O Senhor da Guerra (no Brasil, O Senhor das Armas). Cage interpreta a personagem de Yuri Orlov, traficante de armas perseguido pela Interpol,  que no filme faz o elogio da AK 47 (confesso que não o vi):

"Of all the weapons in the vast soviet arsenal, nothing was more profitable than Avtomat Kalashnikova model of 1947. More commonly known as the AK-47, or Kalashnikov. It's the world's most popular assault rifle. A weapon all fighters love. An elegantly simple 9 pound amalgamation of forged steel and plywood. It doesn't break, jam, or overheat. It'll shoot whether it's covered in mud or filled with sand. It's so easy, even a child can use it; and they do. The Soviets put the gun on a coin. Mozambique put it on their flag. Since the end of the Cold War, the Kalashnikov has become the Russian people's greatest export. After that comes vodka, caviar, and suicidal novelists. One thing is for sure, no one was lining up to buy their cars"...

Traduzindo: "De todas as armas do vasto arsenal soviético, nada foi mais lucrativo do que o modelo Avtomat Kalashnikova de 1947, mais conhecido como AK-47 ou Kalashnikov. É a espingarda de assalto mais popular do mundo, uma arma que todos os combatentes amam. Um amálgama elegante de quatro quilos de aço e madeira prensada, que não quebra, emperra ou sobreaquece. Dispara sempre mesmo que esteja coberto de lama ou de areia. É tão fácil de usar que até uma criança é capaz de o fazer (e com frequência há crianças que o fazem). Os soviéticos cunharam uma moeda com a sua efígie; Moçambique colocou-a na sua bandeira. Desde o fim da Guerra Fria, a Kalashnikov tornou-se o maior produto de exportação dos russos. Só depois dela vem o vodka, o caviar e os romancistas suicidas. Uma coisa é certa: ninguém fazia bicha fila para comprar os carros soviéticos"...
 (LG).




1. Texto de Mário Dias, enviado em 15 de Janeiro de 2008, publicado dois a seguir sob o título Em louvor da G3. Face duelo AK 47 / G3 (e à onda de... kalashnikovmania que atingiou as NT), justifica-se a repescagem e republicação deste poste.  

O Mário Dias ou M. Roseira Dias é um Sargento Comando Reformado, membro do nosso blogue (desde a 1ª hora), e também um conceituado arranjador e compositor musical, a par de maestro de coros. No TO da Guiné, foi comando e instrutor dos primeiros comandos da Guiné (1964/66), entre os quais alguns dos nossos camaradas da Tabanca Grande, como o Virgínio Briote, o João Parreira, o Luís Raínha, o Júlio Abreu, etc.



2. Passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3

por Mário Dias [, foto à esquerda, com o Domingos Ramos, hoje herói nacional da Guiné-Bissau; foram camaradas e amigos, tendo frequentado o 1º Curso de Sargentos Milicianos, Bissau, 1959]

Foto © Mário Dias(2006). Todos os direitos reservados.


É muito vulgar e frequente tecerem-se comentários depreciativos à espingarda G3, quando comparada à AK47. Em minha opinião, nada mais errado. Analisemos, à luz das características de cada uma e da sua utilização prática, os prós e contras verificados durante a guerra em que estivemos empenhados em África:

(i) Comprimento: G3 - 1020mm; AK47 - 870mm
(ii) Peso com o carregador municiado: G3 - 5,010Kg; AK 47 – 4,8Kg
(iii) Capacidade dos carregadores: G3 – 20 cartuchos; AK47 – 30 cartuchos
(iv) Alcance máximo: G3 – 4.000m; AK47 – 1.000m
(v) Alcance eficaz (distância em que pode pôr um homem fora de combate se for atingido): G3 – 1.700m; AK47 – 600m
(vi) Alcance prático: G3 – 400m; AK 47 – 400m

Passemos então a comparar.(A) No comprimento e peso:
 A AK47 leva alguma vantagem. A capacidade dos carregadores, mais 10 cartuchos na AK47 que na G3, será realmente uma vantagem?

Se, por um lado, temos mais tiros para dar sem mudar o carregador, por outro lado esse mesmo facto leva-nos facilmente, por uma questão psicológica, a desperdiçar munições. E todos sabemos como o desperdício de munições era vulgar da nossa parte apesar de os carregadores da G3 serem de 20 cartuchos.

O usual era, infelizmente, “despejar à balda” sem saber para onde nem contra que alvo. 
Sem pretender criticar a maneira de actuar de cada um perante situações concretas, eu, durante todas as acções de combate em que participei ao longo de 4 comissões, o máximo que gastei foi um carregador e meio (cerca de 30 cartuchos). 
Por tal facto, em minha opinião, a dotação e capacidade dos carregadores da G3 é mais que suficiente, além de que os próprios carregadores são mais maneirinhos e fáceis de transportar que os compridos e curvos carregadores da AK47.(B) Quanto ao poder balístico:
Também aqui a G3 leva vantagem pois, embora na guerra em matas e florestas seja difícil visar alvos para além dos 100/200 metros, tem maior potência de impacto e perfuração sendo a propagação da onda sonora da explosão do cartucho muito mais potente na G3, o que traz uma maior confiança a quem dispara e muito mais medo a quem é visado. 
A G3 a disparar impõe muito mais respeito.


Porém, os principais motivos que me levam a preferir a G3 à AK47 (creio que a fama desta última é mais uma questão de moda) são as que a seguir vou referir ilustradas, dentro das possibilidades, com gravuras:


(C) A importância do silêncio e da rapidez de reacção

Deixem-me, então, começar a vender o meu peixe em louvor da G3. Todos sabemos a importância do silêncio e da rapidez de reacção numa guerra de guerrilha e de como o primeiro a disparar leva vantagem.

Normalmente o combatente numa situação de contacto possível em qualquer lado e a qualquer momento leva geralmente a arma com um cartucho introduzido na câmara e em posição de segurança. Eu e o meu grupo tínhamos bala na câmara e arma em posição de fogo desde a saída à porta de armas do aquartelamento até ao regresso e nunca houve um único disparo acidental. Mas, partindo do princípio que nem todos teriam o treino necessário para assim procederem, a arma iria então com bala na câmara e na posição de segurança.

Quando dois combatentes se confrontam, o mais rápido e silencioso tem mais possibilidades de êxito e, nesse aspecto, a G3 tem uma enorme vantagem sobre a AK47. Talvez poucos se tivessem dado conta dos pequenos pormenores que muitas vezes são a diferença entre a vida e a morte.



Um caso concreto:

Vou por um trilho no meio do mato e surge-me de repente um guerrilheiro. Levo a arma em segurança e tenho rapidamente de a colocar em posição de fogo. Do outro lado o guerrilheiro terá de fazer o mesmo. Em qual das armas esta operação é mais rápida e fácil? Sem dúvida alguma na G3.

Se olharmos para as gravuras observamos que na G3, levando a arma em posição de combate, à altura da anca com a mão direita segurando o punho dedo no guarda mato pronto a deslizar para o gatilho, utilizando o polegar sem tirar a mão do punho com toda a facilidade e de forma silenciosa passo a patilha de segurança para a posição de fogo e disparo.

E o portador de AK47? Sendo a alavanca de comutação de tiro do lado direito da arma e longe do alcance da mão terá que, das duas uma: ou larga a mão do punho para assim alcançar a alavanca de segurança ou então tem que ir com a mão esquerda efectuar essa manobra. Em qualquer das soluções, quando a tiver concluído já o operador da G3 terá disparado sobre ele.

Suponhamos agora que o homem da G3 vê um guerrilheiro e não é por este detectado. A passagem da posição de segurança à posição de fogo, além de rápida, é silenciosa pois a patilha de segurança é leve a não faz qualquer ruído ao ser manobrada. O guerrilheiro não se apercebe de qualquer ruído suspeito e mais facilmente será surpreendido. Ao contrário, um guerrilheiro que me veja sem que eu o veja a ele e tenha que colocar a sua AK47 em posição de fogo para me atingir, de imediato me alerta para a sua presença pois a alavanca de segurança dá muitos estalidos ao ser accionada. Assim, não é tão fácil a um portador de AK47 surpreender alguém a curta distância.



Outro caso concreto:

Todos certamente estaremos recordados de quantos vezes era necessário combinar o fogo com o movimento nas manobras de reacção a emboscadas ou na passagem de pontos sensíveis. Nessas ocasiões, em que fazíamos pequenos lanços em corrida para rapidamente atingirmos um abrigo para o qual nos teríamos de lançar de forma a ficarmos automaticamente em posição de podermos fazer fogo (a chamada queda na máscara), a G3, devido à sua configuração era de grande ajuda,  pois, não tendo partes muito salientes em relação ao punho por onde a segurávamos, (o carregador está ao mesmo nível) permitia que de imediato disparássemos com relativa eficácia.

E a AK47? Reparem bem naquele carregador tão comprido e saliente do corpo da arma. Como fazer manobra idêntica? Impossível. Mesmo colocando a arma com o carregador paralelo ao solo para facilitar a “aterragem”, isso faz com que tenhamos que perder tempo a corrigir a posição de forma a estarmos aptos a disparar. E em combate cada segundo é a diferença entre a vida e a morte.





(D) Defeitos

Um defeito geralmente apontado à G3 é que encravava facilmente com areias e em condições adversas.

Quero aqui referir que ao longo dos muitos anos da minha vida militar, tanto em combate como em instrução ou nas carreiras de tiro, tive diversas armas G3 distribuídas e nunca nenhuma se encravou. A G3 possui de facto um ponto sensível que poderá impedir o seu funcionamento se não for tomado em conta. Trata-se da câmara de explosão, onde fica introduzido o cartucho para o disparo, que tem uns sulcos longitudinais (6 salvo erro)* destinados a facilitar a extracção do invólucro.

 Acontece que se esses sulcos não estiverem limpos e livres de terra ou resíduos de pólvora não se dá a extracção porque o invólucro fica como que colado às paredes da câmara. Se houver o cuidado em manter esses sulcos sempre livres de corpos estranhos nunca a G3 encravará. Outra coisa que poderá levar a um mau funcionamento é as munições estarem sujas ou com incrustações de calcário ou verdete.

Nós tínhamos por hábito, como forma de prevenir este inconveniente, untarmos as mãos com óleo de limpeza de armamento, para esfregarmos as munições na altura de as introduzirmos nos carregadores. E resultou sempre bem.

São pequenos pormenores que deveriam ter sido ensinados na recruta mas, pelos vistos, nem sempre havia essa preocupação bem como muitas outras que foram, a meu ver, causa de algumas (muitas) mortes desnecessárias.



CONCLUSÃO

Depois de passados tantos anos sobre a guerra, continuo fã incondicional da G3. Se voltasse ao passado e as situações se repetissem, novamente preferia a G3 à AK47.


Mário Dias


[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
____________

Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P7334: Kalashnikovmania (4): O fetichismo da G3... Há amores que não se esquecem (Torcato Mendonça)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) > Fotos Falantes II > O Alf Mil Torcato Mendonça e a sua G3...


Fotos: © Torcato Mendonça (2010). Todos os direitos reservados




Olá,  Virgínio Briote.


Que bom ver-te,  vb. Sodade...sodade!




Também eu gostei da minha G3 (*). Era quase uma peça de arte, coronha de madeira polida pelo uso, ronco com mesinho na parte mais estreita, meiga e sentia-se certamente estimada. Tanto assim que respondeu sempre ao que lhe pedi.


Só para nós, vb, também passaste por aqueles momentos de solidão da emboscada montada ou a ansiedade do assalto e, nesse momento, eu e ela éramos um, falava com ela, um afago, uma palmada de carinho. Nada me dizia,  claro,  mas a resposta era dada no tiro, na rajada curta ou do empurrar do dilagrama... Disso talvez gostasse menos,  era violento e os roletes tinham maior esforço.


Há aí mais que uma foto com ela. Era a minha defesa, a minha defensora. Deixei-a em Bissau com ronco e tudo. Já aqui perguntei por ela. Certamente julgaram-me louco. Não. Há amores que se não esquecem.
Volta mais vezes. Agora um abraço do T.
___________


Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7329: Kalashnikovmania (3): A minha namorada, a G3, que me foi fiel durante toda a comissão (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P7333: Dando a mão à palmatória (26): A reparação, moral, que é possivel fazer, neste momento, aos camaradas de Copá (Virgínio Briote)

1. Mensagem do nosso querido amigo, camarada e co-editor deste blogue, Virgínio Briote (que tem estado de licença sabática) [ na foto à direita, Alf Mil Comando, Café Bento, Bissau, Maio de 1965] :

Data: 24 de Novembro de 2010 18:58
Assunto: Copá


Caros Luís, Carlos e Eduardo,
  
(...) Em relação ao caso de Copá (*) tenho, antes de mais, que referir que o Amadu Djaló é totalmente alheio às notas de rodapé. Essa foi por mim acrescentada com base na informação escrita no livro do Fernando Henrique.

Na grande maioria das notas que fiz recorri a mais do que uma fonte. Lamentavelmente não o fiz neste caso de Copá e causei danos a Camaradas de uma forma injusta. E neste momento não me é possível reparar o erro (todos os exemplares da 1ª edição foram vendidos). No caso de vir a ser feita uma 2ª edição prontifico-me a corrigir em nota de abertura. A outra possibilidade é de o fazer no próximo livro do Amadu, que está em preparação.
Da minha parte quero pedir desculpa ao António Rodrigues e a todos os Camaradas de Copá que não se revêem na forma como a nota foi, por mim, redigida.

Um abraço
vbriote

Guiné 63/74 - P7332: Agenda Cultural (91): Lançamento do livro Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 30 de Novembro de 2010 na Bertrand Picoas Plaza, Lisboa (Carlos Matos Gomes)

1. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cav COMANDO na situação reserva, com data de 24 de Novembro de 2010:

Meus caros amigos,
A Quidnovi apresenta no dia 30 de Novembro, pelas 18,30 horas, na livraria Bertrand do Centro Comercial Plaza, nas Picoas, o livro “Os Anos da Guerra Colonial”.
É o resultado, em livro, da reunião revista dos fascículos vendidos com o mesmo título pelo Correio da Manhã. Eu e o Aniceto Afonso teríamos o maior prazer em ter os nossos amigos e amigas presentes para falarmos destas coisas da nossa história.

Recebam os nossos melhores cumprimentos
Do Carlos Matos Gomes e do Aniceto Afonso


AGENDA CULTURAL

CONVITE

__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

Guiné 63/74 - P7331: Em busca de... (149): Pedido de informação sobre a naturalidade de Vitorino António Marques (José Sampaio/José Martins)


1. Em 23 de Novembro de 2010, recebemos do nosso Camarada José Martins, uma mensagem transmitindo-nos a reposta a um pedido de informação de um nosso Camarada de armas - o José Sampaio -, sobre a correcta naturalidade de um terceiro Camarada nosso morto em combate na Guiné:

2. A mensagem/pedido, com data de 22 de Novembro, era a seguinte:

Pedido de informação do José Sampaio

Caro Luís Graça

Nos meus esforços para recuperar a memória dos combatentes do concelho de Monchique/Algarve mortos em África já consegui reunir 23 nomes que irão constar no memorial que será brevemente inaugurado nesta terra, paralelamente a uma brochura e quem sabe se também a transladação de alguns corpos que por lá ficaram e que o seu blogue oportunamente tem recordado.
Este e-mail vem a propósito de o combatente Vitorino António Marques, 1.º Cabo / Pel Rec 42 / 02.07.64 / Cumbijã / Ferimentos em combate / Monchique / Cemitério de Bissau, Campa 956, Guiné.
No seu blogue diz-se que é natural de Monchique, mas no Terra Web vem como natural de Sabóia/Odemira. Como esta freguesia alentejana confina com o concelho de Monchique, será que ele moraria em Monchique?

Porque, se de facto tivesse ligação com Monchique, o seu nome constaria também no memorial, como vai acontecer com o António João Alves Manuel Sold da CCav.352/BCav.350, que embora fosse de Aljezur viveu desde criança em Marmelete/Monchique onde está enterrado.

Se me puder ajudar ficava-lhe imensamente grato.

Um abraço do José Rosa Sampaio

PS: Se gostar de História do Algarve mando-lhe o meu livro sobre a República em Monchique, lançado no dia 5 de Outubro

3. No mesmo dia 22, o nosso Camarada José Martins, a quem voltamos a agradecer a sua pronta disponibilidade para nos ajudar neste tipo de solicitações, respondeu assim ao pedido de informação do José Sampaio:

Caro José Sampaio

Em resposta ao seu pedido, ao nosso editor Luís Graça, passo a dar as informações constantes dos dados oficiais, que consta no 8º Volume - Mortos em Campanha - Tomo II Guiné - Livro 1 da Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974), na página 65, indica:

VITORINO ANTÓNIO MARQUES, 1º cabo nº 247/61, com a especialidade de AM (Apontador de Metralhadora) Panhard, mobilizado no Regimento de Cavalaria nº 8 em Castelo Branca, para integrar o Pelotão de Reconhecimento Fox nº 42, solteiro, filho de António Domingos Marques e de Maria Jacinta, natural da freguesia e concelho de Monchique. Faleceu em 2 de Julho de 1964 vitima de ferimentos em combate, numa operação em Cumbijã (Fulacunda), tendo sido inumado no cemitério de Bissau, campa nº 956.

O Pelotão de Reconhecimento nº 42 chegou a Bissau em Junho de 1962, onde se manteve até Fevereiro de 1964, altura em que foi deslocado para Ganturé até Julho de 1964, altura em que terminou a sua comissão de serviço.
Na mesma operação em que morreu o Vitorino Marques, também foi morto em combate o Soldado José Carlos Firme Pires, com a mesma especialidade e do mesmo pelotão, natural de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.

Julgando ter dado satisfação ao seu pedido,

José Martins
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

22 de Outubro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7155: Em busca de... (148): Aurino Barbosa Medeiros, ex-Fur Mil Operações Especiais/RANGER da 2ª CART do BART 6523

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7330: Humor de caserna (20): Estamos aqui ao pé de uma árvore grande! (Martins de Matos (ex-Ten Pilav da BA12, Bissalanca)


1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen PilAv Res), enviou-nos, em 23 de Novembro último, a seguinte hilariante e bem conseguida postal:
Camaradas,

Nunca contribuí para a série do "Humor de Caserna".
Numa tentativa para remediar a coisa, mando-vos uma composição que atesta das dificuldades que por vezes os aviadores encontravam.
Estamos aqui ao pé de uma árvore grande!

Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12
__________

Guiné 63/74 - P7329: Kalashnikovmania (3): A minha namorada, a G3, que me foi fiel durante toda a comissão (Virgínio Briote)





Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Fotos do álbum do Jacinto Cristina... Os nossos soldados tratavam a G3 como uma verdadeira "namorada"... Neste álbum fotográfico há meia dúzia de fotos destas... Não sei se as namoradas, de carne e osso, que ficaram para trás, não teriam ciúmes da G3... 


Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Texto do nosso co-editor Virgínio Briote (*):

Meu Caro Furriel Mário Dias,

Não é o Luís, sou eu, o Briote,  que assumo o encargo de publicar a tua (minha também) defesa da G3, essa namorada que, tanto quanto me lembre, me foi fiel durante a minha comissão na Guiné.


Não dei muitos tiros em combate. Ainda hoje me lembro que foram 22, em toda a comissão. Só que de uma vez, logo no início da comissão, quando me encontrava ainda em Cuntima, na CCAV 489, despejei o carregador até ao fim numa emboscada entre Faquina Fula e Faquina Mandinga.

Depois nos Comandos, a minha história com a G3 quase dava um romance. Na carreira de tiro que havia lá para os lados do aeroporto (lembras-te?), esvaziei um cunhete. Há quem diga que foram cinco, não acredito. Certo é que o cano, sem tapa-chamas, rachou. E o Saraiva obrigou-me a pagar a asneira.

Achei, na altura, que ela me tinha sido ingrata, pela vergonha que me fez passar. E que o Cap Saraiva era um exagerado. Troquei-a por uma FN, também sem tapa-chamas (ainda estou para saber porque é que eu as preferia assim).

Meses depois, reconciliámos-nos, fizemos as pazes e foi a minha namorada até ao fim. Custou-me tanto a liquidação da dívida que, a partir daí, passei a ser eu a tratar dela. Como tu dizes, com as mãos na massa.

Mário, foste um dos instrutores que me ensinaste a pegar nela. A pôr os meus olhos no cano, a usá-la o estritamente necessário, a trazê-la no colo, com meiguice.

Não vou aqui falar de outras coisas que me ensinaste, que a hora é de honrar a G3. Mas é sempre tempo para publicamente reconhecer que foste um instrutor que nos deixou marcas muito positivas, nomeadamente pelo teu saber e conhecimento daquela terra e daquelas gentes que, eu sei, tanto apreciavas.

vb

____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. 17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P7328: Kalashnikovmania (2): AK 47 versus G3 (Luís Dias)







Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > CCAÇ 3491 (1971/74) > "Chegada a Galomaro da CCAÇ 3491 [, pertencente ao BCAÇ 3872,]  no dia 9 de Março de 1973. No jipe podemos ver o Alf  Luís Dias, atrás o Fur Baptista,  do 1º Gr Comb,  e ao lado, a sorrir, um guerrilheiro do PAIGC que, no dia anterior, se tinha entregado a uma patrulha nossa na área do Dulombi. A arma é uma Shpagin PPSH 41, no calibre 7,62 mm Tokarev, mais conhecida por "costureirinha" e com a particularidade de ter um carregador curvo de 35 munições, em vez do habitual tambor de 71". (Foto do Luís Dias, reproduzida com a devida vénia, do seu blogue, Histórias da Guiné, 71-74:  A CCAÇ 3491, Dulombi.




1. Texto do nosso camarada  Luís Dias (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e  Galomaro, 1971/74) que, na vida civil, é  Consultor/Formador em Ciências Criminais e de Segurança (Texto organizado a partir de um comentário ao poste P7322) (*):




Caro Luís Graça


Em primeiro lugar os meu parabéns pelo artigo sobre o armamento (*).


Em relação ao diferendo entre a Kalash (**) e a G3,  devo dizer-te o seguinte: 


(i) A Kalash tem uma ergonomia fantástica e nisso bate a G3;


(ii) É uma arma simples, barata, que trabalha em más condições, possivelmente devido às folgas propositadas no material com que é feita;


(iii) Leva mais munições no carregador, como dizes (30 para 20);


(iv) Mas a cadência de tiro é semelhante (sensivelmente 600 tpm para a Kala e 600 a 700 tpm para a G3);


(v) É uma arma mais curta e portanto mais manobrável;


(vi) Não é tão fiável no tiro de precisão como a G3;


(vii) E no tiro automático (rajada) não é tão equilibrada como a G3 (isto nos modelos AK-47 e AKM, porque a partir do Modelo AK-74, a situação mudou);


(viii) A HkG3A3 era uma arma cara, de mecanismo elaborado, embora também trabalhasse em condições de pouca limpeza e muito comprida para o nosso tipo de guerra;


(ix) A nossa munição era mais poderosa, mas o 7,62mm M43 soviético possuía um filamento 
de aço no núcleo do projéctil que o tornava terrível ao entrar no corpo humano;


(x) Por fim e não menos importante, um dos pontos a favor da HK-G3, em relação à Kalash era a passagem da patilha da posição de segurança, para tiro a tiro: enquanto na G3 o movimento era de um clique (silencioso), da arma dos guerrilheiros era dois cliques (a primeira posição era a de fogo automático e só depois se passava para a posição de tiro a tiro) que não eram silenciosos,  o que na mata podia fazer toda a diferença.

No caso dos dilagramas e no meu tempo, os nossos Gr Comb  usavam-no muito porque percebemos que os rebentamentos eram mais eficazes numa reacção a uma emboscada do que propriamente os tiros de G3. 


Os elementos que transportavam os dilagramas usavam um carregador só com munições apropriadas, devidamente identificado com uma fita de cor berrante (amarelo ou vermelho) e nunca, nunca, usavam só uma munição para atirar um dila e depois tinham a seguir bala real. 


Os lançamentos eram efectuados ao ombro, com arma a 45%, e depois do disparo, contando rapidamente até 12/15, dava-se o rebentamento.


Sobre a bazooka, que nós deixámos de usar no mato (só em colunas e em defesa do aquartelamento), já tínhamos granadas energa (de ponta de mola) que eram anti-pessoaL e que davam um coice terrível, sendo normalmente atiradas com a arma apoiada à anca.


Fiquei muito satisfeito de saber que o meu poste sobre armamento foi muito lido.


Um abraço


Luís Dias


[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
___________


Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 23 de Novembro de 2010 >Guiné 63/74 - P7322: A minha CCAÇ 12 (8): O armamento do PAIGC no meu sector L1 (Bambadinca, 1969/71)


(**) Vd. poste anterior desta série > 29 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6909: Kalashnikovmania (1): Foi o Alf Graduado Comando João Uloma quem me emprestou uma Kalash (António Inverno)

Guiné 63/74 - P7327: Facebook...ando (1): O aerograma traçado de balas ou estilhaços na emboscada de 26/10/1971, na estrada Piche-Nova Lamego, e em que morreram 4 camaradas da CART 3332 (Carlos Carvalho)


O nosso camarada Carlos Carvalho, que ingressou recentemente na nossa Tabanca Grande, publicou,  no mural da nossa conta no Facebook, a seguinte mensagem que nos fez arrepiar a espinha... Achei que devia partilhar isto com o resto dos nossos amigos e camaradas da Tabanca Grande, inaugurando uma nova série, a que chamarei Facebook...ando

Este Aerograma foi-me devolvido tal como está, traçado de balas ou  estilhaços na emboscada de 26/10/1971, efectuada à Coluna  Piche-Nova Lamego, em que faleceram o Alf Mil Soares, o 1º. Cabo Cruz, o  Sold Cond Ferreira e o Sold Manuel Pereira, todos da CART 3332.

Guardo-o religiosamente comigo...

Ele, porém, não diz onde ia o aerograma... Muito provavelmente no saco do correio... Pelo que se depreende, o destinatário era um seu familiar, possivelmente a sua mãe (Rosa Maria Silva Simão Melo Rodrigues de Carvalho), que vivia em Lamego. 

Recorde-se que o Carlos Alberto Rodrigues Carvalho foi Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, é irmão da nossa amiga Júlia Neto e, portanto, cunhado do nosso saudoso Zé Neto (*). 
_______

Nota de L.G.:

(*) 5 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7227: Tabanca Grande (253): Carlos Carvalho, ex-Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, residente em Fânzeres, Gondomar, irmão da nossa querida Júlia Neto

Guiné 63/74 - P7326: Notas de leitura (176): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
Estou na 23.ª hora.
Depois ficam as saudades.
Prometo contar tudo o que vou ver e sentir.

Um abraço do
Mário


Tempo Africano: aquelas longas horas em 8 andamentos

Beja Santos

O lançamento da 4.ª edição de “Tempo Africano”, de Manuel Barão da Cunha realizou-se em 16 de Novembro, na Livraria Galeria Municipal Verney, em Oeiras.

Imagem alusiva à sessão de lançamento


Casa cheia, vários oradores intervieram para saudar o que há de novo nesta revisitação de Barão da Cunha às suas comissões em Angola e na Guiné, de 1960 a 1962 e de 1964 a 1966, respectivamente. A matriz é sempre a mesma: solidariedade com a gesta do soldado anónimo, o primeiro intento que o moveu é que esses soldados (que tanto pode ser o capelão, o enfermeiro, o ordenança ou o radiotelegrafista) saiam do anonimato neste seu registo de admiração e gratificação. Fala de guerras num tempo ainda que se combatia com catanas e espingarda Mauser. À semelhança da edição anterior, a obra aparece dividida em andamentos, momentos cronológicos estruturados em diálogos entre um veterano da guerra e um jovem ávido em perceber as experiências vividas pelo primeiro. A nova edição junta documentos e testemunhos e traz anexos sobre as diferentes operações em que Barão da Cunha participou. O autor recorre a um alter-ego, Pedro Cid, um quase mancebo que vai comandar dragões em Angola. Descrevem-se os acontecimentos de Fevereiro de 1961, depois Nambuangongo. Pedro Cid não se cansa de elogiar esses seus soldados que participam no contra-ataque na região dos Dembos. Vem depois para Portugal, tira em Lamego a Especialidade em Operações Especiais e parte para a Guiné na CCav 704. Vai ao Morés e combate na região Sul. Na documentação que anexa referente à Guiné fala de duas operações: a operação “Tornado”, que se realizou de 19 a 21 de Setembro 1964 e a operação “Base”, que teve como palco o Oio, entre 4 e 7 de Outubro de 1964.

No tocante à operação “Tornado”, o autor extrai alguns elementos da história do Batalhão de Cavalaria 705:

“A área do Cantanhez não era percorrida desde o início de 1963, pelo que as forças terrestres de Cabedu foram forçadas a limitar muito as suas surtidas, em virtude da força e organização do inimigo na região.

Esta está centrada na principal linha de reabastecimento do inimigo que daí se bifurca em direcção ao Como e a todo o resto da Província.

A população de toda a área colaborava abertamente com o IN, pelo que convinha que as nossas tropas marcassem presença na área, a fim de atingir o IN no seu percurso e permitir às forças de Cabedu um alargamento da sua zona de acção. O IN está comandado por João Bernardo Vieira, “Nino”. Como armamento, dispõe de metralhadoras pesadas e ligeiras, morteiros 82 e eventualmente lança-granadas foguete. (…)

(…) O comando do agrupamento W deslocou-se, durante a operação junto da CCav 707 (…) o major de Infantaria Vitorino Azevedo Coutinho, Oficial de Operações do Agrupamento 17 e Comandante do Agrupamento W, foi do seguinte parecer que dá bem a ideia da satisfação e entusiasmo que este oficial sentiu ao comandar forças do BCav 705:

“(…) A disciplina do seu fogo foi sempre de molde a satisfazer os seus chefes e ainda mais notável foi a sua disciplina de baixo de fogo inimigo, nomeadamente durante o desembarque da CCav 704 (…)”.

O desembarque em Catesse realizou-se pelas 7 horas do dia 20, após a Força Aérea ter comunicado que não era possível dar apoio, em virtude do “tecto” estar muito baixo. Este local de desembarque, por se encontrar a cerca de 120 metros da orla da mata mais próxima e permitir uma actuação eficaz do IN após a acostagem da lancha de desembarque, foi o único em que se previa apoio aéreo (…).

A LDM (Lancha de Desembarque Médio) 301, que transportava o Comando e os dois Grupos de Combate da CCav 707, juntamente com o Comando do Agrupamento W, encostou a um caminho que conduzia a uma mata cerrada. O caminho subia, oferecendo comandamento a quem estivesse instalado naquela, e toda a orla era constituída por tarrafo alagado.

O primeiro Grupo de Combate, que recebera a missão de estabelecer uma testa de praia, desembarcou rapidamente, tendo o resto do pessoal aguardado na LDM. A cerca de 50 metros da orla da mata, rebentou enorme tiroteio de metralhadoras, espingardas e pistolas-metralhadoras, para além de granadas de mão. O sinal que desencadeou a acção foi um tiro de pistola, o que permitiu que, quando a metralhadora abriu fogo, já todo o pessoal se encontrasse no chão. Este Grupo de Combate ficou detido pelo fogo intenso, vindo da mata, e sem possibilidades de manobra…

Conseguiu-se abater um elemento inimigo que fazia fogo em cima duma árvore e criou-se uma base de fogos na posição onde ficou detido o primeiro Grupo de Combate… em lanços sucessivos, a força de manobra conseguiu atingir a orla da mata, expulsando o inimigo (…)”.

A operação “Base” também é registada neste livro, foi uma investida à base de Mansodé, na região do Morés. Estimava-se na época que o inimigo tivesse ali mais de 650 homens. As forças saíram de Bissorã, foi violentamente atacada em Iaron por um enxame de abelhas e durante a evacuação de um sinistrado o inimigo revelou-se.

Encontrou-se um acampamento com cerca de 15 casas de mato, que foi destruído. O contingente do BCav 705 pernoitou na mata de IaronCambaju, foi emboscado, mas o inimigo foi obrigado a retirar. Mais adiante, a CCav 704 foi alvejada e registou-se um ferido. Durante a segunda noite da operação, o inimigo flagelou a força estacionada, tentou assaltá-la mas foi repelido.

“Tempo Africano” foi editado por DG Edições com o patrocínio da Câmara Municipal de Oeiras, Comissão Portuguesa de História Militar e Liga dos Combatentes.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7316: Notas de leitura (175): África Dentro, de Maria João Avillez (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7325: Parabéns a você (177): Tony Levezinho, um grande camarada, um amigo do peito (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Santa Margarida, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Luís Graça)

Tavira > CISMI > Almoço do dia do Juramento de Bandeira > Tony Levezinho de lado (elipse encarnada) e César Dias de frente (elipse azul).
Foto de César Dias


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (Julho de 1969/Março de 1971) 

Foto nº 1 > Saltinho, época das chuvas, 1969 > O Tony Levezinho na Ponte General Craveiro Lopes, inaugurada em 1955.

Foto nº 2 > Eu (de costas) e o Tony Levezinho na margem direita do Rio Corubal, no Saltinho, época das chuvas, 1969


Foto nº 3 > O Rio Corubal, magnífico, com os seus rápidos, visto da ponte do Saltinho, 1970 (?)


Foto nº 4 > Xitole,  Meados de 1970 >  O Fur Mil Enf Coelho, José Alberto Coelho, da CCS/BART 2917, mais o Arlindo Roda, o Tony Levezinho e o António Branquinho (três  Fur Mil At Inf, da CCAÇ 12),  por ocasião de mais uma coluna logística. Foto tirada junto ao monumento aos mortos da CART 2413.

Foto nº 5 > O Tony Levezinho observa o Arlindo Tê Roda a segurar um pequeno jacaré pelo rabo.... Não tenho a certeza onde foto foi tirada: em princípio num aquartelamento ou destacamento junto ao Rio Corubal (Saltinho) ou ao Geba (Xime)...



Foto nº 6 > A estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá... Em pleno coração fula (regulado de Badora),  um rebanho de vacas atravessam pachorrentamente a estrada...


 Foto nº 7 > 1970 (?) > Foto tirada nas proximidades de Bambadinca, com um bando de miúdas


Foto nº 8 > Quartel e vila de Bambadinca > População local passeando junto aos edifícios do comando e instalações de oficiais e sargentos (lado esdquerdo); capela e secretaria da CCAÇ 12, do lado direito


Foto nº 9 > Bambadinca, 1970, ao te,po do BART 2917 (1970/72) > O edifício das messes e quartos de oficiais (à esquerda) e sargentos (à direita). Em dia de chuva, meados de 1970.


Foto nº 10 > Bambadinca > Messe de sargentos > A> malta da CCAÇ 12... O Levezinho está de pé, junto ao bar; à sua frente, e sentados da direita para a esquerda, 1º Srgt Cav Fernando Aires Fragata (deixou-nos ao fim de algum tempo, para seguir o curso de oficias, em Águeda); o Joaquim A. M. Fernandes; o Arlindo Teixeira Roda;  o 2º sargento Conceição, da CCS do BCAÇ 2852 (diz o Almeida);  2º sargento Inf José Martins Rosado Piça; eu, Henriques, atrás de mim, o Fur Mil Trms, José Fernando Gonçalves Almeida Almeida; os outros dois, da ponta, não são reconhecíveis... 

Créditos fotográficos: Arlindo Teixeira Roda (Fotos nº 1, 2, 3, 4, 5 e 10) e Benjamim Durães (Fotos nº 6, 7, 8 e 9)




Algarve > Vila do Bispo > Sagres, Martinhal  > 11 de Junho de 2010 > O Tony Levezinho e o neto ... Foi uma visita tipo rapidinha que eu e a Alice fizemos ao Tony e à Isabel,  na sua acolhedora casa no barlavento algarvio. Como já aqui referi, deu apenas para matar saudades, beber um café e um digestivo e celebrar a nossa velha amizade que teve a Guiné como berço. Com promessas (e sobretudo ameaças) de lá voltar, com tempo e vagar (que é uma coisa que a gente hoje não tem e que pensa que vá ter quando se reformar...)(LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados



1. Para o Tony com um xicoração, meu, muito especial; um Alfa Bravo, também especial, do resto da malta da CCAÇ 12 que por aqui pára na Tabanca Grande; votos de parabéns dos meus co-editores e dos demais camaradas que te conhecem ou conheceram no TO da Guiné... 63 aninhos é obra, mas seis e três são nove, e fora nada ?!... Qual quê! É já uma  vida, dois terços de uma vida, bem puxada mas bem vivida...(*)

Os teus anos (cuja data que eu nunca esqueço, por razões que tu sabes e que eu já publicitei, aqui, no nosso blogue, em 24 de Novembro de 2006, quando fizeste 59...) (**) são apenas um pretexto para:  (i) reavivar as nossas memórias dos bons e maus momentos de Santa Margarida, Contuboel e Bambadinca, (ii) reforçar a nossa bela camaradagem e amizade (que já tem mais de 40 anos, e começou no Campo Militar de Santa Margarida) e, enfim, (iii) celebrar a vida e a esperança no futuro (dos nossos filhos e netos, do nosso povo, do nosso país, do nosso planeta)... 

Sei que és um "tabanqueiro" pouco assíduo, mas hoje quis-te fazer um surpresa com um conjunto de dez imagens retirados dos velhos diapositivos dos nossos camaradas Arlindo Roda (CCAÇ 12) e Benjamin Duarães (CCS/BART 2917),  convertidos para formato digital e editados por mim... É a nossa prenda, minha, do Roda  (que não vejo desde o nosso 1º encontro, em  Fão, Esposende, 1994) e do Durães (com quem tenho estado mais frequentemente, nos últimos encontros da malta de Bambadinca). E, claro, é também uma prenda do nosso blogue. 

A  última imagem (foto nº 10) está desfocada, mas também não temos muitas fotos em grupo... Naquela época, o flash era um luxo...Muitas das fotas de interiores são de má qualidade... Não quis, no entanto, de seleccionar esta imagem do nosso "bar e messe", em Bambadinca, onde dávamos de "beber" à dor, à saudade, à irreverência e à rebeldia... Voltei lá, a Bambadinca, em Março de 2008: não tive "coragem" de revisitar as nossas antigas instalações, fiquei à entrada, na parada, mas lembrei-te de ti e dos nossos restantes camaradas de Bambadinca (da CCAÇ 12, do BCAÇ 2852, do BART 2917, e subunidades adidas que lá estiverem connosco: Pel Rec Inf, Pel Rec Daimler, Pel Mort, Pel Caç Nat, Intendência, Engenharia ...).

Uma outra pequena prenda: eu sei que a nossa memória já não é o que era... Mas, mesmo assim, já reconstituímos a letra, de que tu foste o principal autor, e em que gozávamos com o 1º Sargento Brito, da CCS/BART 2917 (hoje, major, reformado, vivendo em Coimbra), e com os nossos Baldés... Aqui vão os versinhos, reconstituídos,  com a ajuda do Humberto Reis e do Gabriel Gonçalves.

Espero que gostes das nossas prendas. Que passes um belo dia com a tua Isabel, os teus filhos e o teu neto. Até à próxima, por aqui, em Lisboa, ou em Martinhal.

Brito... que és militar!

Letra: Tony Levezinho
Música: Fado "Povo que lavas no rio" 
[Música: Fado Victória; Letra: Pedro Homem de Melo; criação de Amália Rodrigues, 1961]



Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão,
(Bis)
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.
(Bis)

Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
(Bis)
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!
(Bis)

Filho da puta e sacana
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição
(Bis).
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão.
(Bis)

Mamadús,  eu vos adoro,
se for preciso eu choro,
mas Patacão... é que não!
(Bis)

________


Notas de L.G.:


(**) Vd. também  poste de 
24 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5332: Álbum fotográfico de Vitor Raposeiro (Bambadinca, 1970/71) (1): Em dia de anos do Tony Levezinho, lembrando o nosso Novembro negro (CCAÇ 12, 1969/71)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7324: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina (8): Dia de Aniversário

1. O nosso Camarada Manuel Traquina, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, enviou-nos, com data de 21 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Para que possa constar no blogue o meu dia de aniversário é o dia 5 de Junho. Aproveito para enviar este texto que consta no meu livro “Os Tempos de Guerra”que relata um “equívoco” passado na messe de Buba naquele dia 5 de Junho de 1969.
Dia de Aniversário
Naquele dia o jantar tinha terminado, a messe de sargentos de Buba estava em “festa”. Normalmente era assim, quando alguém fazia anos.
Era a minha vez, era o dia 5 de Junho de 1969, dia do meu aniversário. Completava 24 anos de idade, contava já cerca de dois anos e meio de serviço militar e, para regressar a Portugal calculava que me faltava à volta de um ano. Tinham-se bebido umas frescas cervejas e, animadamente cantava-se a canção, Senhor de Matosinhos/ Senhor da Boa hora/ Ensinai-nos o Caminho/ Para sairmos daqui para fora. Além de outras esta, pela sua letra, era a preferida.
A música vinha da viola do Cardoso da 15ª Companhia de Comandos, e do acordeon do Gonçalves da CCS do Batalhão 2834. O Furriel Henrique, (mais conhecido pelo Henrique da Burra) com a sua habitual actuação teatral, punha todos a rir. Aquela alcunha ao que parece tinha sido herdada do seu pai, que lá para os lados de Cascais, era bastante conhecido pelo “Chico da Burra”.
Naquele dia o Henrique da Burra, descalço, e com uma toalha atada á cintura, simulando uma mini-saia, tentava imitar a bonita e popular cantora inglesa Sandiechow, que tinha sido concorrente ao festival da Eurovisão.
Assistindo a esta festa estava o Dr. Franco, médico do aquartelamento de Buba, acabado de chegar de Bissau, estava visivelmente desambientado, apenas abanava a cabeça, enquanto dizia “ estão todos apanhados”, assim achou melhor retirar-se. Mas quando a “festa” atingia o seu auge, eis que se gera o pânico. Atropelando-se, todos largam a correr porta fora em busca de abrigo. Ouvira-se o que se julgou ser a “saída” de um morteiro iniciando mais um ataque. Afinal tudo não passara do bater da porta do frigorífico do bar que produzia o ruído semelhante à saída da granada do morteiro.
O Simplício, encarregado do bar, foi repreendido para não voltar a bater assim com a porta do frigorífico. É que, naquela situação de guerra em que se vivia, qualquer barulho do género era suspeito. Bem, depois de tudo acalmar beberam-se mais umas cervejas, e a festa continuou embora tivesse perdido um pouco o seu ritmo. Foi esta a festa do meu 24º aniversário que ficou para não mais ser esquecida.

Um abraço,
Manuel Traquina,
Fur Mil At Inf da CCAÇ 2382
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4327: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (7): O saxofone que não tinha sapatilhas

Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor na situação de Reforma Extraordinária, com data de 23 de Novembro de 2010:

Caro amigo,

O Coronel Pára-quedista Moura Calheiros vai lançar o livro em referência. Esta obra narra a actividade das Tropas Pára-quedistas nos três teatros de operações. É baseada em relatórios de operações e depoimentos, faz um enfoque especial aos três camaradas que ficaram para trás no cemitério de Guidage.


Um abraço
Dâmaso



AGENDA CULTURAL

CONVITE


__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6733: Parabéns a você (132): Recordando outros aniversários (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7209: Agenda Cultural (89): Lançamento dos livros Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota e Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)