quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12680: Em busca de... (237): Joaquim Sotero Bravo, ex-Soldado atirador da CART 2520, (Xime e Quinhamel, 1969/71) procura os seus camaradas

1. Mensagem de Guida Bravo, jornalista e filha do nosso camarada  Joaquim Bravo, com data de 31 de Janeiro de 2014:

Caro Sr. Luís Graça,
Sei que não me conhece.. e que concerteza se pergunta, "Quem é esta criança? O que quer de nós? Antigos lutadores cheios de lembranças..."

Eu sou jornalista da Celorico da Beira TV. Vivi muitos anos da minha vida em Lisboa, e hoje... por questões de trabalho estou no Distrito da Guarda.

Estou a contactá-lo porque no âmbito de um trabalho que eu e os meus colegas de equipa estamos a fazer "Histórias de Vida", me dei conta que o meu pai tem algum material da sua estadia na Guiné, entre os anos de 1969 e 1971.
Decidi então... e nada melhor que isso pedir ao meu pai, Joaquim Sotero Bravo que revelasse a sua experiência no Ultramar... pesquisei imenso... mas realmente informação sobre a companhia de artilharia 2025 não há muita coisa! De maneira que eu acho que o vosso grupo estará interessado em ver essa reportagem quando ela sair... o Sr. Joaquim Sotero Bravo, vai sentar-se à frente de uma câmara e falar... dos bons e dos maus momentos... porque "vocês" merecem distinção pelos perigos passados em terras desconhecidas. E isso no meu entender deve acontecer enquanto são vivos.
A geração moderna não se dá conta dos sacrifícios passados e da adolescência e vidas perdidas... Por isso é que entrei em contacto consigo... e única forma de o meu pai saber que existem mais como ele... neste momento sou eu! Porque ele não mexe em qualquer tipo de tecnologia a não ser o telemóvel.

Encontrei uma foto postada por si em que ele aparece! O meu pai nem acreditava... já se passou tanto tempo!!! Isto trouxe-lhe uma doce lembrança... mas ao mesmo tempo ele nunca gostou de falar do que aconteceu na Guiné aos filhos e à mulher... De maneira que eu estou esperançosa de que vamos conseguir fazer uma boa reportagem, óbvio não irá fazer frente a tudo que passaram mas que concerteza é mais uma lembrança que ficará gravada para a eternidade.

Muito obrigada pelo seu bocado e peço desculpa pelo testamento, mas fiquei empolgada ao estudar e pesquisar o vosso passado.
Podemos combinar a partilha de fotos... não são muitas... mas as que tenho eu adoro!

Para qualquer assunto agradeço que me contacte.
Guida Bravo


2. No dia 4 de Fevereiro foi endereçada mensagem à nossa amiga Guida Bravo:

Cara amiga Guida Sofia
Estou a responder em nome do nosso Editor Luís Graça.
Tem de perguntar ao pai qual foi exactamente a Unidade em que foi para a Guiné porque não encontramos nenhuma CART 2025, seja como Companhia independente, seja como integrada em Batalhão.
Precisava que ele nos dissesse onde formou Companhia (ou Batalhão), datas aproximadas de ida e volta da Guiné, e locais onde esteve a cumprir a comissão. Só com estes elementos poderemos dizer alguma coisa de concreto. Em relação aos seus dados pessoais, indique-nos o seu antigo posto e a especialidade. Pode e deve mandar as fotos do pai para publicação, se possível com as legendas à parte.
Ficamos ao vosso dispor.
Receba um abraço e transmita outro ao senhor seu pai e nosso camarada
Carlos Vinhal


3. No mesmo dia recebemos esta resposta:

Caro Carlos Esteves
O meu pai diz que fez parte da companhia de Artilharia 2025 que esteve a prestar serviço em Xime, chama-se Joaquim Sotero Bravo.
Ele diz que esteve em Santa Margarida. E diz que pertencia a Torres Vedras.
Esteve em Guiné entre 1969 e 1971. Se não me engano era atirador, segundo li na caderneta militar. Tendo terminado o serviço no último ano em Bissau, como vigia da estrada que dava para o aeroporto. Tinha como capitão o Senhor António dos Santos Maltez.
Não sei se estou a conseguir ajudar... mas pouco sei... e ele pouco me diz!
Junto lhe envio algumas fotos...









Fotos: © Joaquim Sotero Bravo / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


4. Nova mensagem enviada à nossa amiga:

Cara amiga Guida Sofia
O pai fez parte da CART 2520 (não 2025) e foi mobilizado em Torres Novas (não Torres Vedras).
Verdades: esteve no Xime, o seu comandante foi o Cap Maltez e esteve na Guiné de 1969 a 1971. 
Não sei se me vai enviar mais fotos para publicar, além destas, mas pedia-lhe para já o favor de perguntar ao pai onde estas foram tiradas. Aquela do autocarro deve ter sido tirada muito perto de Bissau.
Se o pai quiser através de si contar algumas histórias ou memórias e/ou enviar mais fotos para publicar no nosso blogue, talvez fosse melhor aderir formalmente à nossa tertúlia. Não lhe traz nenhuma obrigação especial.
Se o pai quiser com a sua ajuda pesquisar coisa da CART 2520 tem este link: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/CART%202520
Sobre o Xime, tem este:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Xime
Podemos também publicar um post se o seu pai quiser tentar encontrar os seus camaradas. Não sei se se tem encontrado com eles em convívios.

Fico por aqui ao vosso dispor
Abraços
Carlos Vinhal


5. Finalmente a mensagem que recebemos hoje:

Muito Obrigada.
Eu vou tentar reunir melhor a informação junto dele, para que não haja trocas como houve, e peço desculpa por isso.
Tenho mais fotos sim. E eu teria imenso prazer de conseguir reunir o meu pai com os seus antigos colegas... acho que seria bom para ele conviver um pouco para além do dia-a-dia.
O único contacto que tenho é de Carlos Macedo... e foi porque o vi na internet. Tirando isso não me recordo de alguma vez o meu pai ter ido a algum encontro desde que sou nascida.

Muito obrigada pela colaboração,
Guida Bravo
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Notas do editor:

Eventuais pistas sobre contactos dos camaradas de Joaquim Bravo podem ser dadas directamente através do seu telemóvel n.º 960 308 378

Último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12667: Em busca de... (236): Pessoal da madeirense CCAÇ 4945/73, mobilizada no BII 19 do Funchal (Bernardino Laureano)

Guiné 63/74 - P12679: Direito à indignação (11): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Belarmino Sardinha / Cândido Morais)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 6 de Dezembro de 2009 > O menino de Iemberém 

Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74):

Meus Caros Editores,
Desculpem se tenho andado ausente e de repente apareço sem mais nem porquê, mas há coisas que, mesmo não sendo engraçadas têm a sua piada, mesmo falando de guerra…

Leitor diário do blogue, nem sempre lhe dou a devida atenção e reconheço que isso leva-me a deixar para trás algumas coisas sobre as quais podia comentar ou até falar, mas está tudo dito e bem, para quê chover no molhado, mas sobre o P12669 achei que me apetecia dizer alguma coisa, por isso, se acharem bem podem publicar, garanto que é verdade e nada mais que a verdade tudo o que aqui escrevo.
Também quero que os meus filhos e os filhos dos outros se regozijem deste pai de família. Sempre achei que este espaço deveria servir para deixarmos um testemunho sério e verdadeiro, relatos dos acontecimentos marcantes de várias gerações de sacrificados pela luta com armas, mas o P12669 explica muita coisa, nunca pensei ter feito parte de um Western Hollywoodesco de Cowboys (o estrangeirismo fica sempre mais bonito na escrita) se escrevesse cinema do oeste português e rapaz das vacas poderiam pensar que estava a falar de alguma casa de alterne.

Tudo parece ter ocorrido em Outubro do ano da graça de 1968, tinha eu então dezoito anitos, mas se não foi em Outubro, foi nesse ano. Não sei se conseguirei escrever tudo que gostava ou quero, só agora me debrucei mais atentamente sobre as intervenções neste blogue e confesso-me de cara-à-banda. Estou feliz finalmente, descobri a razão da minha mobilização para a Guiné em 1972, sei agora, sem margem para dúvidas que foi para limpar a porcaria que lá ficou pelos milhares de mortos inimigos feitos num só dia, por pouco quando lá cheguei já não havia para mim.

Caíam como todos, abanávam as árvores e caíam pelo efeito do shelltox (mata que se farta, passe a publicidade). Lembrei-me até que um deles, meu amigo, ficou cego de uma vista, estava a espreitar num buraco de uma árvore, veio de lá o chefe da família do Pica-pau Amarelo e deu-lhe uma bicada num olho, chamava-se Luiz Vaz de Camões, mais tarde escreveu um livro muito apreciado chamado Lusíadas. 
Desculpem mas estou tão “emulsionado” que vou parar aqui este escrito. Acreditem em mim, ainda ando a bater mal pois conhecia-os a todos, de um e outro lado e até tinha os seus contactos de telemóvel.
Aos que ainda restam e por cá andam, são e vão continuar a serem penalizados, pois além das pensões, se chegaram a este ponto da leitura já levaram comigo, para todos, aqueles que vão escrevendo a história dos acontecimentos e aos que não são maus rapazes, os progenitores é que não deviam ter nascido, o meu abraço.

BS

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1. Mensagem do nosso camarada Cândido Morais (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71):

Caro amigo
Considero também que estas iniciativas locais ("recolher história" sobre a guerra colonial), não deveriam ser levadas a cabo de qualquer maneira.
Como militar, estive também na Guiné, na zona leste (Piche, Buruntuma, Canquelifá, Bajocunda, Copá, Tabassai, Amedalai...) e revoltam-me comentários como aquele que tive oportunidade de ler: "despachamos milhares de inimigos"...

Hoje, dada a convivência que recordo ter mantido com a gente das tabancas que o arame farpado e os postos avançados dos quartéis protegiam das incursões do IN, sinto até uma certa repugnância pelos termos em foi descrita uma pseudo-acção militar, algures no território do Senegal. Aliás, mesmo quando refiro algumas das minhas memórias do tempo da guerra colonial, eu confesso que me custa escrever a palavra "inimigo", e quase sempre encontro forma de contornar esse obstáculo, às vezes utilizando o termo "IN".
Eu acho que nós, ex-combatentes, temos um enorme manancial de histórias para contar, mas nem precisamos sair do âmbito das lições de humanidade, de entreajuda, de amizade... que vivemos no teatro da guerra. O soldado português, penso eu, tinha uma inigualável capacidade para se fundir com as populações locais, com quem se confundiria se conseguisse mudar a cor da pele... Violência? Morte? Infelizmente existem em todas as guerras, mas não fomos nós que as inventámos. No entanto, existe na guerra uma quantidade tal de exemplos de grandeza e de elevação, que facilmente fazem esquecer as maiores vicissitudes e os maiores erros.

Sugiro que se recomende ao Sr. Presidente da Câmara um maior cuidado na recolha de relatos da guerra colonial. Primeiro, porque já passou muito tempo e as coisas podem ser deturpadas, depois, porque existem espíritos inquietos que não se preocupam com a exigível fiabilidade dos seus relatos, depois ainda, há quem pense que "matar gente" é a grande missão de um soldado.
Que diabo, por que é que nós, últimos soldados de um Império grandioso que a nossa História descreve e se ufana, mormente quando fala nos Descobrimentos, continuamos a ser massacrados de mil e uma formas?

Penso que, para quem não sabe, há sempre instituições credíveis que podem ler e avaliar textos que farão parte de uma qualquer memória futura. É preciso muito cuidado, e é preciso que prevaleça a verdade.

Um grande abraço
Cândido Morais

PS: - Estive na Guiné em 70/71, e passei o meu último mês de comissão em Bafatá (em merecidas férias com o meu pelotão) e a população ainda ouvia com espanto alguns rebentamentos a quilómetros de distância (a Guiné é plana e ajuda nisso), e por isso eu concluo que por ali não havia memórias perceptíveis de guerra. Quanto a Bissau, ouvi falar de um qualquer acontecimento, uma flagelação à distância...
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Nota do editor:

Último poste da série de 4 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12677: Direito à indignação (10): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Luís Graça / Carlos Pinheiro / Sousa de Castro / José A. Câmara)

Guiné 63/74 - P12678: Manuscrito(s) (Luís Graça) (19): Gostei de voltar a Tavira (Parte II): O quartel da Atalaia (ex-CISMI -Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria)


Foto nº 85



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Foto nº 106



Foto nº 91


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Foto nº 199


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Foto nº 81



Foto nº 324

Tavira, 1 de fevereiro de 2014  > Quartel da Atalaia > Regimento de Infantaria nº 1 (desde 2008)


Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados

1. Viagem de regresso ao passado...  Fiz, no quartel da Atalaia,  o 2º Ciclo do CSM - Curso  de Sargentos Milicianos,  no CISMI -  Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria. Hoje está aqui sediado o Regimento de Infantaria nº 1 (RI 1). O CISMI, criado em 1939, foi extinto em 1975.

Diz o meu "cadastro militar" que (i) fui alistado em 17/6/1967; (ii) passei pelo RI 5 (Caldas da Raínha) (15/7/1968), CISMI (Tavira) (29/9/1968),  BC6 (Castelo Branco) (6/1/1969) e RI2 (Abrantes/Santa Margarida) (4/3/1969); antes de (iii) partir para a Guiné, em 24/5/1969, no T/T Niassa...

Desembarquei em Bissau em 30/5/1969. Regressei a casa a 17/3/1971. Desembarquei em Lisboa a 22/3/1969... Enfim, passei, à "peluda" em 16/4/1971... Tudo contado, estive por conta do exército quase três anos da minha vida...

Terminei aqui a especialidade de armas pesadas de infantaria, em 14 de dezembro, com a classificação de 13,41 valores...  Fui um instruendo mediano nas provas físicas e na carreira de tiro, safei-me melhor nos testes escritos: recordo-me que se fazia a prova de conhecimentos, na parada, sentados no chão... Eram testes de conhecimentos, de tipo americano: uma pergunta, quatro hipóteses de resposta, onde só uma estava correta...

Passei as férias de Natal na minha terra, Lourinhã., antes de marchar para Castelo Branco. Aí fui promovido a 1º cabo miliciano, a 6 de janeiro, e submetido às praxes da ordem...Nesse inverno beirão passei o maior frio da minha  vida... E apanhei o

Fiz questão de visitar o meu antigo quartel, na parte alta de Tavira, no que fui acompanhado pela Alice e pelos meus cunhados Nitas e Gusto. Uma jovem tenente, natural de Terras do Bouro, estava de oficial de dia e, gentilmente, acedeu ao meu pedido para dar uma volta pela parada... Achei o quartel muito mais pequeno do que no meu tempo. Hoje alberga 50 militares, no meu tempo tinha algunas centenas, de tal maneira que não cabíamos lá todos... Muita gente na cidade vivia de serviços prestados à tropa, como por exemplo o aluguer de quartos...

Por muito que eu me esforçasse,  não consegui reviver os dois meses e meio que aqui passei... Não consegui chamar até mim os fantasmas de alguns instrutores e comandantes de companhia, como o Robles, o Trotil e o Esteves que nos metiam muito respeitinho...  Eram heróis, cacimbados,  da guerra de Angola, dizia-se... Do Esteves, que foi meu comandante, e tinha o poste de tenente, recordo-me da sua única frase de antologia: "Vocês são a fina flor da Nação"... E a malta repetia, baixinho: ... "fina flor do entulho", da merda da feira do gado, da merda das salinas (foto nº 324)...

Na foto nº 97, consta a lista dos militares do RI 1 mortos no TO da Guiné... Há um monumento aos mortos, no final da parada... Na placa, em bronze, dos mortos na Guiiné, constam dois alferes: o Adelino Costa Duarte,  morto em conbate em 23/11/65; e o Carlos Santos Dias, que morreu também em combate, em 6/10/66... Mais 3 furriéis, 5 primeiros cabos e 30 soldados...

A foto nº 199 diz respeito ao antigo quartel da Graça, hoje transformado em pousada. Não tenho ideia de alguna vez lá ter entrado, E naw fotow nº 80 e  81 podemos ver a velha fonte que nos matava a sede, e que ficava a caminho do quartel da Atalaia...

Dois meses e meio, em Tavira, na tropa, em finais de 1968, não davam para viver nem muito menos guardar na memória grandes peripécias, paixões, amizades, acontecimentos galvanizantes, figuras marcantes, lugares...  A instrução era puxada, e o corpinho ressentia-se...

Afinal de que é que lembro de Tavira do final dos anos 60, para além da ponte romana sobre o Rio Gilão, do mercado,  do polvo, do jardim do coreto, das esplanadas, das Quatro Águas e de Santa Luzia? Muito pouco, tirando as peripécias da tropa (por ex., as altifalantes na parada no quartel da Atalaia, as marchas forçadas, as salinas, o tiro real na Ria Formosa com o morteiro, a bazuca e o canhão s/r)...

Lembro-me, mal,  do quartel da Atalaia, e das míseras condições das nossas casernas e outros espaços coletivos como o refeitório... Éramos sardinha em lata, num edfício de finais do séc. XVIII... Três ou quatro companhias de instruendos das várias epsecialidades (armas pesadasm, transmissões, sapadores...).

Lembro-me isso, sim, de um safado de um alferes instrutor, dos vellhinhos, com sotaque algarvio, que nos humilhava, obrigando-nos a chafurdar na merda da feira do gado, enquanto namorava, à janela,  uma fulana lá  da terra...

Lembro-me do comandante do CISMI (major, tenente coronel ou coronel, já não sei, daqueles oficiais velhinhos, do tempo da guerra do Solnado...) que nos proibiu a inauguração de uma exposição (documental) sobre a a II Guerra Mundial com o argumento, idiota, de que "para guerra já bastava a nossa, lá no ultramar"...

Lembro-me da velha e anafada prostituta, andaluza, de olho azul, que morava perto do quartel da Atalaia, e que tirava os três aos infantes...

Lembro-me da amázia (?) de um sorja ou de um tenente qualquer que nos acompanhava nos exercícios de campo, vendendo-nos sandochas e bebidas, em regime de monopólio... Acho que tinha uma carroça, puxada por um macho...

Tavira era triste como era triste o meu/nosso país em 1968... Não sei se lá chorei, mas devo ter rangido os dentes, algumas vezes. De raiva...

Dos "casamentos na parada", de que fala o Henrique Cerqueira (em comentário ao poste P12673) (*),  ouvi falar, mas não sei se era lenda... Nunca assisti a nenhum, ou então nunca liguei... A verdade é que aquelas miúdas, de sangue fenício, romano, bérbere e africano, eram verdadeiros "lança-chamas"...

Concordo com o juízo do Henrique Cerqueira: os nossos instrutores, na tropa, na época, estavam longe de ser as melhores pessoas do mundo... Acho que merecíamos muito mais e melhor, aqueles de nós a quem calhou, na rifa, a fava da Guiné... Alguns eram mesmo uns pobres diabos, sádicos, prepotentes, mesquinhos, fanfarrões, boçais, incultos... que nem para soldados básicos eu os queria na Guiné... De qualquer modo, nada do que aprendi em Tavira me foi útil na Guiné: à falta de armas pesadas de artilharia, deram-me uma G3 e um punhado de bravos soldados fulas que não sabiam onde ficava Portugal e muito menos falavam português...

Em contrapartida, parece haver alguma saudade do tempo dos "milicianos" por parte da população mais velha de Tavira... Foi o meu sentimento,  pelos esporádicos contactos que estabeleci neste fim de semana de "regresso ao passado"... LG

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Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12673: Manuscrito(s) (Luís Graça) (18): Gostei de voltar a Tavira (Parte I): A estação da CP

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12677: Direito à indignação (10): Por favor, respeitem a verdade dos factos... E, sobretudo, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra! (Luís Graça / Carlos Pinheiro / Sousa de Castro / José A. Câmara)



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > 19 de abril de 2006 > 15º dia da viagem Porto-Bissau >  Foto nº 15_80


Guiné-Bissau > Região do Oio > Jumbembem > 17 de abril de 2006 > 13º dia da viagem Porto-Bissau > Foto nº 13_314

 Fotos do álbum dio Hugo Costa, filho do Albano Costa, dois dos nossos grã-tabanqueiros. É caso para perguntar: o que  é que estamos a contar às criancinhas, em Portugal, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, sobre a guerra do passado, de "guerra de libertação", para uns, "guerra do ultramar/guerra colonial", para outros ?

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legenda: L.G.]


1. Mais comentários ao poste P12669 (*):

(i) Luís Graça (**)


A. Com  a devida vénia reproduz-se o texto introdutório sobre o "Museu da Guerra Colonial", inserida na respetiva página, a qual integra o portal do Munícipio de Vila Nova de Famalicão:

(...) A história do Museu da Guerra Colonial começou a desenhar-se durante o ano lectivo de 1989/90, quando trinta alunos oriundos de várias freguesias dos concelhos de Vila Nova de Famalicão, Barcelos e Braga participaram num projecto pedagógico-didático conjunto a que chamaram "Guerra Colonial, uma história por contar". 

Através da metodologia da história contada oralmente, os alunos recolheram o espólio dos combatentes das suas áreas de residência. Surgiram então vários documentos como processos de morte e de ferido, correspondência, [relatórios] de companhia, diários pessoais, diários de acção social e psicológica, relatos e processos confidenciais, objectos de arte, fotografias, bibliografias, objectos religiosos, fardamento e armamento, enfim um manancial de fontes que permitiu, entre outras coisas, organizar uma exposição e nela reconstruir o "itinerário" do combatente português na guerra colonial.

Em 1992, iniciou-se um trabalho de colaboração com a Delegação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas de Vila Nova de Famalicão, em que foram efectuados novos estudos regionais com base nos arquivos e membros desta instituição, bem como foi ampliada a exposição com a integração de novos estudos e materiais. Como resultado desta colaboração, a exposição percorreu vários eventos culturais e várias localidades.

Finalmente, em Maio de 1998, foi celebrado um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Delegação da ADFA de Famalicão e Externato D. Henrique de Ruilhe de Braga, que serviu de acto solene e formal para a criação do Museu da Guerra Colonial.


O Museu rege-se pela recolha, preservação e divulgação de fontes e estudos, reformulação técnica da exposição permanente, constituição de um centro documental e o alargamento de novos estudos na região. (...)

B. Meu caro Mário::

Cito a tua nota de leitura (que apreciei e mais uma vez agradeço):

(...) “O terceiro inquirido refere que atacaram uma base inimiga junto ao Senegal e que despacharam milhares de inimigos. Como é evidente, num trabalho desta natureza um professor não pode confrontar a verdade das afirmações, se se ia fazer um quartel em S. João, se houve um ataque à base aérea de Bissalanca. Mas, creio eu, não pode ficar insensível à afirmação de “despachámos milhares de inimigos”, coisa que nunca aconteceu em nenhum teatro de operações nem podia acontecer, atendendo à natureza daquela guerra. Vamos supor que ninguém deu pela barbaridade ou aceitou a informação como plausível. É de questionar como tal declaração é percecionada pela opinião pública e os preconceitos que pode suscitar a patranha ou farronca de quem, entrevistado por gente inocente, se julga à vontade para proferir pesporrência. Vamos admitir que se trata de um caso isolado. Mas ninguém leu esta brochura que foi distribuída por uma autarquia, ninguém reagiu, ninguém se consternou com a gravidade da declaração ofensiva?” (...)

Mário, meu amigo e camarada da zona leste da Guiné: tens toda a razão. A Guiné e todos nós, que por lá passámos, ficamos mal na fotografia se algum dos nossos filhos, netos e bisnetos um dia folhear o livrinho (48 páginas, ilustradas), editado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão…

Dos três depoimentos sobre a Guiné, o terceiro, acima reproduzido, é de fato o mais hilariante…

Tens razão, quando dizes que já não basta indignarmo-nos. Eu sei que ainda estamos, felizmente, vivos e capazes de nos indignarmo-nos. E podemos e devemos fazê-lo aqui, no nosso blogue, exercendo o  elementar e saudável  direito à indignação.

Mas a indignação não chega, como temos visto e sentido nestes últimos anos, tantas ou tão poucas são as tropelias e sacanices a que nós, os combatentes, temos sido sujeitos, desde a demagogia das promessas vãs às tentativa de instrumentalização das associações de veteranos, à discriminação dos combatentes no 10 de junho, etc.

As muitas centenas de combatentes, dos 3 ramos das Forças Armadas Portuguesas, que por aqui já passaram, no blogue, e que viram publicadas as suas fotografias (dezenas de milhares) e os seus textos (já perto de 12700) no espaço de menos de 10 anos, têm todas as razões para se sentirem insultados e indignados pela inqualificável aldradice e pela miserável fanfarronice de um suposto combatente de Vila Nova de Famalicão (ou de um concelho vizinho, Braga, Barcelos…) que, no TO da Guiné, "chegou, viu e venceu", como se aquela guerra fosse uma alegre "coboiada" em que os sete magníficos trucidam os
maus da fita, os índios, aos milhares...

Em Bissau, este tipo de patranhas contavam-se despudoradamente na famigerada 5ª Rep, alcunha do Café Bento...

Às vezes a ânsia de protagonismo de alguns (, aliada à alarve ignorância de outros) pode levar a resultados, infelizes, como estes... É uma pena que esta nódoa, numa publicação como a "Guerra Colonial: uma história por contar", acabe por manchar o bom nome e a boa imagem do Externato Infante D. Henrique e do seu corpo docente, bem como do município de Vila Nova de Famalicão e dos seus eleitos, sem esquecer a delegação local da ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas, três entidades que estão na origem deste “Museu da Guerra Colonial”.

De acordo com a Porbase – Base Nacional de Dados Bibliográficos, a brochura que tu recenseaste, não é um obscuro opúsculo, condenado ao pó das gavetas, não!... É uma publicação formal, com depósito legal na Biblioteca Nacional, onde foi catalogada da seguinte maneira:

Título: Guerra colonial: uma história por contar... / Org. Externato Infante D. Henrique
Autor(es): Externato Infante Dom Henrique, co-autor
Publicação: Vila Nova de Famalicão : Câmara Municipal, 1992
Descr. Física: 48 p. : il. ; 30 cm
Dep. Legal: PT -- 61549/92. CDU: 355.48 (6=690)
355.48(547).

Uma louvável iniciativa didático-pedagógica deu origem a um livro, de múltiplos autores, em que falhou redondamente o papel do editor literário (presumivelmente, o professor da disciplina de Antropologia Cultural do Externato).

Regras tão elementares como o bom senso, o bom gosto, o uso do contraditório, a confirmação da veracidade dos factos (topónimos, datas, unidades militares, números de baixas, etc.), saturação da informação, triangulação das fontes... foram puramente e simplesmente esquecidas ou escamoteadas....

Mário: eu para já sugiro que se exponham aqui os nossos pontos de vista... Afinal, somos parte intereesada nesta "história por contar"... E este o cantinho do "ciberespaço" onde nos fazemos ouvir...

Não sei se valerá a pena publicar uma "carta aberta" ao representante da autarquia, de contestação e de protesto, exigindo aos autores (ou editor literário) que façam uma adenda… “pedagógico.didática” ao tal livrinho...
De qualquer modo, o que ocorre para já dizer, é: "Por favor, respeitem, os mortos e os vivos… de um lado e do outro da guerra!"...

(ii) Carlos Pinheiro

Acho que estas faltas de cuidado devem ser comentadas e desmontadas as “originais “ invenções de alguém. Por isso aqui estou a dar a minha melhor colaboração para o esclarecimento da verdade dos factos

Refiro-me somente ao caso do ataque à BA 12, Bissalanca. Segundo o autor desconhecido (mas que disse trabalhar no Centro de Mensagens do Q.G.),  a determinada altura, dado o ataque à Base de Bissalanca, ele dirigiu-se a outra Base para prestarem o apoio aéreo que Bafatá pedia.

Mas que outra Base? Onde? Por amor de Deus!

A publicação de livros, e muito especialmente livros publicados com dinheiros públicos, como foi o caso em análise, deveria, sempre, pautar-se pela verdade dos acontecimentos. Não foi o caso e foi pena.

(iii) Sousa de Castro

Para mim,  este trabalho publicado em Famalicão é de facto muito infeliz. O Operador de MSG contou algo que lhe contaram, o chamado jornal de caserna é o "diz que disse";  por outro lado não há, em TRMS, msg "muito urgentes",  há 4 tipos de msg, Relâmpago (Z),  Imediato (O),  U rgente (P) e  Rotina (R), para além doutros procedimentos.

(iv) José A. Câmara:

Caros amigos e camarada,

Acabei de enviar correio electrónco ao Sr. Presdidente da Câmara de Vila Nova deFamalicão. Julgo que é o mínimo que posso fazer nas circunstâncias. Mas há mais formas de de demonstrarmos o nosso desagrado. Neste e em tantos outros casos de lesa verdade.

"Senhor Paulo Cunha,
Presidente da Câmara Municipal de
Vila Nova de Famalicão

Sr. Presidente,

Abaixo encontrará as devidas hiperligações para o assunto em epígrafe. A verdade dos factos tem que ser resposta. Compete-lhe a si, como Presidente da Edilidade, tomar os devidos passos para que assim seja.

Os Famalicenses e toda uma sacrificada geração que serviu na Guerra do Ultramar merecem que a verdade dos factos, nada mais que isso, tenha o seu lugar na divulgação da história.
Os jovens alunos de hoje, homens de amanhã, não devem ser confrontados com o facto da sua Câmara Municipal e a sua escola lhes terem mentido. Porque é disso que se trata, na medida em que a responsabilidade da publicação desta patranha é da sua responsabilidade.Sem outro assunto, apresento-lhe cumprimentos.

José A Câmara
Furriel Mil
CCaç 3327/BII17
 Comissão: Guiné, 1971/1973"
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Notas do editor:

(*) Vd.  Vd., poste de 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

(...) Queridos amigos, é de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada. O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.

A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto. (...)

(**) Último poste da série >  4 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12675: Direito à indignação (9): A (des)propósito do livro "Guerra Colonial: uma história por contar"...que esteve na origem da criação do Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famalicão (Beja Santos / Carlos Vinhal / José Manuel M. Dinis / José Martins / A. Eduardo Ferreira / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Alberto Branquinho / C. Martins)

Guiné 63/74 - P12676: Os nossos médicos (72): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (5): Arquipélago dos Bijagós

1. Enviada por mensagem de 3 de Fevereiro de 2014 do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem mais uma vez agradecemos, chegou até nós esta memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), dedicada ao belo Arquipélago dos Bijagós:

Caros camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro,
As minhas cordiais saudações e votos de saúde.
Junto mais um texto, que vai intitulado, BIJAGÓS, autoria do nosso tabanqueiro nº 624 - Dr. Rui Vieira Coelho, ex. Alf. Mil. Médico do BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, Guiné.
Se houver alguma deficiência de envio, solicito a vossa indicação para mim, pois como sabem, faço um pouco de retransmissor.

Um abraço de amizade.
Mário Vasconcelos




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Notas do editor

Último poste do dr. Rui Vieira Coelho de 14 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12037: Os nossos médicos (68): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (4): Bacar

Último poste da série de 24 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12082: Os nossos médicos (71): Guiões, brasões e crachás das unidades em que prestou serviço o alf mil méd Amaral Bernardo: BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e BART 2924 (Tite, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12675: Direito à indignação (9): A (des)propósito do livro "Guerra Colonial: uma história por contar"...que esteve na origem da criação do Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famalicão (Beja Santos / Carlos Vinhal / José Manuel M. Dinis / José Martins / A. Eduardo Ferreira / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Alberto Branquinho / C. Martins)



Foto nº15_120


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Guiné-Bissau > região de Quínara > Empada > 19 Abril de 200 6 > 15º dia da viagem Porto-Bissau >   Visita a uma escola de ensino básico > Fotos do álbum dio Hugo Costa, filho do  Albano Costa, dois dos nossos grã-tabanqueiros. É caso para perguntar:  (i) o que contam os guineenses (pais e professores) aos seus filhos,  netos e bisnetos  sobre a história da "guerra de libertação" ?, e (ii) e nós, pais, encarregados de educação e professores, aqui em Portugal, o que contamos aos nossos  filhos, netos e bisnetos sobre o que foi a "guerra do ultramar/guerra colonial" ?

Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legenda: L.G.]


1. Comentários ao poste P12669 (*),  e a (des)propósito do livrinho "Guerra Colonial: uma história por contar"...


(i) Carlos Esteves Vinhal:

Fiz algumas pesquisas na internete, inclusive na página dos Especialistas da BA12, encontrando apenas leves referências a um ataque à Base Aérea em 19 de Fevereiro de 1968. Não encontrei registos de vítimas, o que não quer dizer que não houvesse, mas por não serem do Exército não fazem parte Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, editada pelo Estado-Maior.

Que eu tenha conhecimento, houve mais dois ataques a Bissau, um em 9 de Junho de 1971 e outro em Março de 1972.

Agradece-se toda e qualquer colaboração para completo esclarecimento do ataque a Bissalanca, ocorrido em 19 de Fevereiro de 1968. Quantos mortos e de que Arma.

Carlos Vinhal, co-editor

(ii) José Manuel Matos Dinis

Aqui temos um bom exemplo de irresponsabilidade. Um determinado presidente de uma Câmara Municipal decide patrocinar um folheto informativo sobre "estórias" da guerra colonial, para memória colectiva dos feitos portugueses. 

Um professor, sabe-se lá com que formação, recolhe os testemunhos que os pais dos alunos lhe apresentaram, sem cuidar de confirmar os relatos, e os pais das crianças, quais heróis de bancada, vão de se candidatar à admiração pública com relatos que dificilmente traduzem realidades (com excepção do acidente com a granada), ou são mentirosos na dimensão relatada (como o do ataque à base IN, já que o do relato da entrega da mensagem noutra base aérea revela alguma baralhação).

Isto é do piorio que pode acontecer a uma sociedade, e questiono, se os relatos foram para traumatizar as criancinhas? as mães e mulheres de antigos combatentes? ou para suavizar a imagem de um alucinado, ou prepotente autarca? Sobre o professor, nossa senhora, deve entrar rapidamente em retiro espiritual pelo mal que ajuda a causar à Nação.

Abraços fraternos, JD

(iii) José Marcelino Martins

Muito provavelmente, este "autor" inspirou-se nas histórias que o Correio da Manhã deu ou dá à estampa (em pelo menos deixei de ler), na revista domingueira.

Não sei se ainda continua a publicar. Eu deixei de ler porque tinha de, no caso da Guiné, corrigir muitas das "verdades adquiridas" e publicadas.

Conto apenas um caso: o General Spinola deslocou-se, em heli, a um aquartelamento no interior para, no dia seguinre a uma operação, condecorar com a Medalha da Cruz de Guerra, um militar que se havia notabilizado na operação do dia anterior.

Este episódio passou-se em 1967 quando o ComChefe ainda não tinha sido nomeado para a Guiné, o que aonteceu em Abril ou Maio 1968.

(iv)  António Eduardo Ferreira:

Se não fosse esta estória existir numa biblioteca onde seria suposto encontrar informação fidedigna, dava vontade de rir...
-Junto ao Senegal, num quartel general, um pelotão da nossa tropa despachou milhares de inimigos.


(v)  Fernando Gouveia:


Continuam a dar crédito a irresponsáveis da escrita.
Nessas datas não houve ataques a Bissalanca e muito menos à "minha" Bafata.

 (vi) António J. Pereira da Costa:

Olá, Camaradas:

Agora é que é caso para dizer "milhares de mortos" feitos por um só pelotão... F***-se! Caganda vitória!
Desculpem, mas passei-me dos carretos.
Um Ab.
 
(vii) Alberto Branquinho:


Póis é!!!

Há heróis do caraças!!
Que seja pelas alminhas do purgatório!
Muitas destas e... está feita HISTÓRIA!


(viii) C. Martins

Quando os gajos do IN souberam que eu tinha chegado à Guiné... ficaram todos "borrados".

Uma vez com um só tiro de obus "limpei" 4000 "turras", 30 gazelas,50 macacos, 3 rinocerontes e uma vaca que andava a monte, julgo que sofria de melancolia.

Levei uma "porrada" por tal feito... e fui avisado para não repetir a gracinha porque assim não só acabava com a guerra em três tempos como dizimava a fauna autóctone.

O que escrevi merece a mesma credibilidade da "história por contar"..

O mundo está cheio de "mentirosos compulsivos" e imbecis que infelizmente existem entre ex-combatentes ou pseudo-combatentes e normalmente são estes que dão esta triste imagem. Lamentável. (**)

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Notas do editor:

(*)  Vd., poste de 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

(...) Queridos amigos, é de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada. O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.
A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto. (...)

(**) Ver postes anteriores da série:

24 de outubro de  2009 >  Guiné 63/74 - P5149: Direito à indignação (8): Fomos forçados como presidiários a cumprir pena no degredo (Jorge Teixeira/Portojo)

(...) Tropa, quer dizer Forças Armadas Portuguesas. E cada vez me repugna mais dizer ou escrever estas palavras "Forças Armadas Portuguesas". (...)


(...) Coincidindo com o mês de pagamento do Acréscimo Vitalício de Pensão, bem como do Suplemento Especial de Pensão, a todos os antigos combatentes que estiveram em condições especiais de dificuldade ou perigo, a quase totalidade dos combatentes mobilizados para a Guiné, verificou ser afectada em parte daqueles pagamentos. Mas não só, outros combatentes estão privados de qualquer daquelas verbas. (...)

18 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5129: Direito à indignação (6): As míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair (Jorge Picado)

(...) Sobre o tema corrente das míseras migalhas que os comensais da mesa estatal deixam cair, a uns pobres diabos que teimam em não deixar este mundo, o que muito aliviaria as suas (desses comensais subentenda-se) consciências, resultantes dessa obra prima que foi a excelsa Lei n.º 9/2002, eis algumas considerações que resolvi exprimir tendo por base o meu caso. (...)

16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5115: Direito à indignação (5): O CEP foi transformado em SEP... e os ex-combatentes da Guiné recebem cada vez menos (Júlio Ferreira)

(...) Conforme a nova lei, aprovada em Janeiro último, o Complemento Especial de Pensão (CEP), previsto na Lei 9/2002 de 11 de Fevereiro, foi transformado pela Lei 3/2009 de 13 de Janeiro, em Suplemento Especial de Pensão (SEP). Ou seja mudaram o nome, para nos escamotearem mais alguns Euros. (...)

15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5108: Direito à Indignação (4): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Fernando Chapouto)

(...) Pessoalmente, considero que todos fomos Heróis, pois, da melhor ou da pior maneira, conseguimos ultrapassar os sacrifícios que nos foram impostos, por vezes em condições adversas inimagináveis. Acima de tudo sobrevivemos, apesar de muitos de nós ainda hoje sofrerem de subsequentes terríveis mazelas. (...)

13 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5103: Direito à Indignação (3): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Eduardo Campos)

(...) Estou chocado, mas não surpreendido, pois nós, os ex-Combatentes, sempre fomos tratados abaixo de cão pelos governantes deste país. Estou reformado à 4 anos e o primeiro valor que recebi do Suplemento Especial de Pensão - Antigos Combatentes foi de 168,00 €, em 2008 a quantia subiu uns Euros para 176,49 € (ver carta em anexo) e em 2009 (carta também em anexo) desceu para uns míseros 150,00 €. (...)

10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5093: Direito à indignação (2): Quem se preocupa com a situação dos antigos combatentes? (Liga dos Combatentes / Magalhães Ribeiro)

(...) Camaradas, é com o título em epígrafe, que a revista “Combatente”, Edição 349 de Setembro de 2009, propriedade da Liga de Combatentes, em completa página 5, revela uma carta que foi endereçada a todos os partidos políticos nacionais. (...)

7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5072: Direito à indignação (1): Abaixo de cão, isto é uma vergonha! (Mário Pinto)

(...) Acabo de receber uma carta da Segurança Social, que me informa sobre o suplemento especial de pensão, que mereço como ex-Combatente desta Lusa Pátria. Fiquei estupefacto pelo modo de cálculo para a sua atribuição, dado que o mesmo me corta, e creio que a todos os Camaradas em geral, em relação ao ano anterior, cerca de 50% do valor recebido. Isto é uma injustiça indigna e revoltante de todo o tamanho, que nos é prestada pelos nossos (des)governantes em relação a nós - Veteranos de Guerra. (...)

Guiné 63/74 - P12674: Parabéns a você (687): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12665: Parabéns a você (686): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12673: Manuscrito(s) (Luís Graça) (18): Gostei de voltar a Tavira (Parte I): A estação da CP














Tavira > 2 de fevereiro de 2014 > Estação da CP


1. Julgo que não  mudou muito, a estação da CP, no Largo de Santo Amaro, a escassas centenas de metros do quartel da Atalaia (onnde ficava o CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos)... Lá está o velho relógio para mostrar que o comboio nunca chega(va) à tabela, os azulejos, os bancos de madeira... Os carris são novos... Ronceiro é o comboio, ronceira era a vida da gente...

Levávamos um dia a chegar até aqui... Quem vinha da Oeste estremenho, como eu, das Caldas da Rainha, do Bombarral ou de Torres Vedras,  apanhava a linha do Oeste, até Lisboa, estação do Rossio; depois um "cacilheiro" até ao Barreiro, linha do Alentejo, linha do sul, linha do Algarve... Não me perguntem as estações: sabia-lhas de cor e salteado quando fiz o exame da 4ª classe, na Lourinhã, e depois o exame de admissão ao liceu, em Lisboa ... As estações do caminho de ferro, os rios e os seus afluentes... O que eu já não me lembrava era do Rio Séqua  que muda de nome para Rio Gilão ao chegar à ponte romana da cidade deTavira. Vem lá  Serra do Caldeirão... Sabia, isso sim, que o Gilão desagua na Ria Formosa,  no sítio das Quatro Águas, para onde fui/fomos  muitas vezes em marchas forçadas, para chafurdar nas salinas, como parte do programa de instrução militar de qualquer valoroso e brioso miliciano, com altíssima probabilidade de ir molhar os "cueiros" às bolanhdas da Guiné...

O interior da estação tem um ar mais lavado, um painel de azulejos, pintados à mão,  com a mítica ponta romana sobre o Rio Gilão cujo empredado também ajudámos a polir, e em segundo plano a bela Tavira do casario branco e das torres das igrejas... Destaque para a torre sineira  da Igreja de Santa Maria do Castelo, construída no séc. XIII, no local da primitiva mesquita, no recinto amuralhado do velho castelo... Não tenho a certeza, mas paraceu-me que o gigantesco relógio, quando por lá passei, no largo do Abu-Otmane, estava parado desde esse longínquo dia em que deixei Tavira, a caminho de Castelo Branco, no BC6, já com o posto de 1º cabo miliciano, nos princípios do ano de 1969...

Lá fora, à saída da estação, um conjunto escultórico, em bronze, em forma de dois "cata-ventos": ele, o militar que diz adeus, talvez definitivo e com um nó na garganta; e  ela, a linda morena de Tavira que ficava, em terra, e quem sabe,,, com uma sofrida história de amor para contar, 40 anos depois aos seus netos...

O trabalho artístico data de 2001 e é da autoria do artista belga Francis Tondeur. É uma homenagem do município de Tavira à "memória militar" da cidade cuja origem se perde nos tempos em que fenícios,  e depois romanos, e depois mouros, e depois cristãos lhe deram corpo e alma... É uma belíssima e sentida homenagem ao "passado militar [mais recente] da cidade, embelezando com os cata-ventos que marcam o movimento, a luz e a dinâmica dos contactos desta terra"...

A Alice Carneiro e os meus cunhados Nitas (irmã da Alice) e Gusto acompanharam-me neste fim de semana de "regresso ao passado", às minhas já desfocadas  recordações do tempo de tropa que aqui passei. Fiz, no quartel da Atalaia, no CISMI, a especialidade de armas pesadas de infantaria, no último trimestre de 1968...  Fiz questão de redescobrir e revisitar o trajeto e os lugares...

Em Tavira já tinha passado algumas, em férias, como apressado turista, mas nunca com a intenção de revisitar os lugares da minha memória de miliciano...  São memórias (manuscritas) que ficam para os próximos postes... 

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor: