PARABÉNS A VOCÊ
04 DE ABRIL DE 2011
JOSÉ EDUARDO REIS OLIVEIRA (JERO)
A quem desejamos um dia de aniversário cheio de alegria junto daqueles que são a razão da sua vida, esposa, filhos e netos, demais familiares e amigos.
Postal de parabéns do nosso camarada Miguel Pessoa
![](http://4.bp.blogspot.com/-QMzliv7DZcE/TZhyvh_LzWI/AAAAAAAAQhU/g5qUrFXMxTM/s1600/Jos%25C3%25A9+Eduardo+Oliveira-2.jpg)
Para quem não sabe, o JERO é Jornalista encartado e colabora há muito no jornal "O ALCOA" publicado na sua terra natal, Alcobaça. Não se estranha por isso a publicação de um livro de sua autoria, "Golpes de Mão´s, Memórias de Guerra", onde é descrita a actividade operacional da sua Unidade enquanto tropa de quadrícula. Do seu blogue pessoal (JERO - Histórias e Memórias Pessoais), tomamos a liberdade de retirar um poste recente, com data de 28 de Março último. Entretanto, deixemo-lo apresentar-se a si próprio:
Fui militar e orgulho-me disso. Fiz parte da CCaç 675 – que esteve no Norte da Guiné até fins de Abril de 1966. Fui Enfermeiro e fui louvado e condecorado. Estive em todas ou quase! Fui ainda o “cronista” da CCaç 675 escrevendo um “Diário” de 280 pgs - 250 exemplares. Escrevi e editei em Maio de 2009 o meu 2º. livro.Golpes de Mãos. 500 exemplares.
Apesar de reformado tento manter-me vivo... Vou a todas (ou quase…)! Na Universidade da Vida cursei “cidadania” e participo activamente nas “coisas” da minha terra. Já estive na direcção de variadas instituições. Profissionalmente estive ligado ao M.J. (1958 a 1962 nos Tribunais da Covilhã e Alcobaça),ao Banco Pinto Sotto Maior de 1966 a 1968) e à SPAL-Porcelanas de Alcobaça,SA. Na SPAL estive 34 anos, tendo tido a responsabilidade de Director Comercial-M.Local.
O artigo I do “regulamento” dizia que o Congresso realizar-se-á na cidade do Porto nos dias 1, 2 e 3 de Junho 1973.
O artigo II tinha várias alíneas e diversos considerandos. Os que mais me sensibilizaram e me levaram a viajar até ao Porto tinham a ver com «…reatar e manter os laços de camaradagem…celebrar os serviços prestados e…procurar resolver os problemas relativos à integração social do combatente.»
Dia 3 de Junho de 1973.Eu estive lá. No Palácio de Cristal.
38 anos depois… o que retive.
Saí de Alcobaça acompanhado de minha mulher num Citroen de 2 cavalos, que ainda cheirava a novo.
Sempre que a Pátria decreta, vem-nos de Deus o recado. *
Fomos de véspera para estarmos no domingo no Palácio de Cristal. Pernoitámos num Hotel na Baixa do Porto.
Na manhã do dia 3 seguimos para o Palácio de Cristal.
Encontrei-me com o Rainho (Angola), com o Freitas ( Guiné) e com o Alves.
E veste-se cada poeta, de soldado.*
Quanto entrei no enorme espaço já encontrei uma multidão de ex-combatentes e vi na mesa de honra uma cara conhecida. Fiz questão de ir cumprimentar o Capitão José Caçorino Dias, que “conhecia” por interposta pessoa. Um seu irmão, que era a sua cara chapada e com quem tinha trabalhado na Sede do BP & SM, em Lisboa . Caçorino Dias era uma figura mítica. Tinha ficado cego devido a uma mina em Angola mas mantinha um porte impressionante.
Sob o signo do sangue todo o céu se descerra *
Ao meio dia foi hasteada a bandeira nacional. Seguiu-se a missa. Por volta da uma da tarde cantou-se o hino nacional. Guardo desse momento a lembrança mais forte. Uma recordação inesquecível.
O Hino Nacional. Um coro de mais de 10.000 ex-combatentes. Estávamos de pé junto às mesas .
Cantámos a plenos pulmões. «Contra os canhões marchar, marchar…». Quando acabei de cantar senti uma emoção tremenda. Fiquei silencioso. Julgo que por alguns minutos.
O almoço começou a ser servido. Os criados de mesa saiam em fila indiana de uma cozinha distante e iam servindo a sopa. Caldo verde. Lembra-me do meu parceiro da frente, que devia estar cheio de fome, ter comido a primeira colher de sopa com uma mão e ter limpo as lágrimas que lhe corriam cara abaixo com a outra mão.
Nunca mais esqueci aquele gesto simultâneo de emoção e controle. Eu tive que esperar mais algum tempo até conseguir engolir a primeira colher de sopa. Tinha um nó na garganta que tive que engolir …antes da sopa.
Ó povo incessante, fardado, mal ferido!... É preciso adiar o enterro da terra, Ir ao centro do Sol de certezas vestido.*
Seguiu-se um convívio de que guardo uma memória confusa. A meio da tarde iniciei o regresso a Alcobaça. Que estava bem longe.
No passagem por Coimbra cometi um engano grave. Entrei em sentido contrário numa rua que pensei que desse acesso à ponte. Fui mandado parar por um agente da P.S.P.
- Como é que você faz uma coisas destas?
Reconheci de imediato o meu erro e disse-lhe que conhecia mal Coimbra. Vinha do Porto do Congresso dos Combatentes do Ultramar. Trazia na cabeça o meu “quico”do camuflado e conservava ainda na camisa o crachá identificativo do Congresso. Ainda me lembro do sorriso cúmplice do polícia quando me mandou seguir em paz. Ele também tinha andado por lá…
Mas a cena das lágrimas é que nunca mais esqueci. Porquê? Não sei bem explicar. Uma mão para limpar as lágrimas silenciosas, que escorriam pela cara abaixo, e a outra para levar de imediato a boca, a colher de sopa.
Foi o Alves. Filho de um Sargento da GNR, que tinha cumprido serviço militar em São Tomé e Príncipe. Durante 36 meses.
- A nossa geração, senhores, anda na guerra. Por isso a paz que traz terá sentido.*
Eu estive lá. No Palácio de Cristal-Porto. Em 3 de Junho de 1973. Passaram quase 38 anos.
- A nossa geração, senhores, andou na guerra.
Cumprimos um rito. Por isso a paz que incessantemente procuramos continua a ter sentido.
JERO
*”Vestiram-se os poetas de soldados”, antologia seleccionada e prefaciada por Rodrigo Emílio, expressamente compilada para o 1º. Congresso Nacional dos Combatentes.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8041: Parabéns a você (235): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72; António Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852 e Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2851 (Tertúlia / Editores)
O artigo I do “regulamento” dizia que o Congresso realizar-se-á na cidade do Porto nos dias 1, 2 e 3 de Junho 1973.
O artigo II tinha várias alíneas e diversos considerandos. Os que mais me sensibilizaram e me levaram a viajar até ao Porto tinham a ver com «…reatar e manter os laços de camaradagem…celebrar os serviços prestados e…procurar resolver os problemas relativos à integração social do combatente.»
Dia 3 de Junho de 1973.Eu estive lá. No Palácio de Cristal.
38 anos depois… o que retive.
Saí de Alcobaça acompanhado de minha mulher num Citroen de 2 cavalos, que ainda cheirava a novo.
Sempre que a Pátria decreta, vem-nos de Deus o recado. *
Fomos de véspera para estarmos no domingo no Palácio de Cristal. Pernoitámos num Hotel na Baixa do Porto.
Na manhã do dia 3 seguimos para o Palácio de Cristal.
Encontrei-me com o Rainho (Angola), com o Freitas ( Guiné) e com o Alves.
E veste-se cada poeta, de soldado.*
Quanto entrei no enorme espaço já encontrei uma multidão de ex-combatentes e vi na mesa de honra uma cara conhecida. Fiz questão de ir cumprimentar o Capitão José Caçorino Dias, que “conhecia” por interposta pessoa. Um seu irmão, que era a sua cara chapada e com quem tinha trabalhado na Sede do BP & SM, em Lisboa . Caçorino Dias era uma figura mítica. Tinha ficado cego devido a uma mina em Angola mas mantinha um porte impressionante.
Sob o signo do sangue todo o céu se descerra *
Ao meio dia foi hasteada a bandeira nacional. Seguiu-se a missa. Por volta da uma da tarde cantou-se o hino nacional. Guardo desse momento a lembrança mais forte. Uma recordação inesquecível.
O Hino Nacional. Um coro de mais de 10.000 ex-combatentes. Estávamos de pé junto às mesas .
Cantámos a plenos pulmões. «Contra os canhões marchar, marchar…». Quando acabei de cantar senti uma emoção tremenda. Fiquei silencioso. Julgo que por alguns minutos.
O almoço começou a ser servido. Os criados de mesa saiam em fila indiana de uma cozinha distante e iam servindo a sopa. Caldo verde. Lembra-me do meu parceiro da frente, que devia estar cheio de fome, ter comido a primeira colher de sopa com uma mão e ter limpo as lágrimas que lhe corriam cara abaixo com a outra mão.
Nunca mais esqueci aquele gesto simultâneo de emoção e controle. Eu tive que esperar mais algum tempo até conseguir engolir a primeira colher de sopa. Tinha um nó na garganta que tive que engolir …antes da sopa.
Ó povo incessante, fardado, mal ferido!... É preciso adiar o enterro da terra, Ir ao centro do Sol de certezas vestido.*
Seguiu-se um convívio de que guardo uma memória confusa. A meio da tarde iniciei o regresso a Alcobaça. Que estava bem longe.
No passagem por Coimbra cometi um engano grave. Entrei em sentido contrário numa rua que pensei que desse acesso à ponte. Fui mandado parar por um agente da P.S.P.
- Como é que você faz uma coisas destas?
Reconheci de imediato o meu erro e disse-lhe que conhecia mal Coimbra. Vinha do Porto do Congresso dos Combatentes do Ultramar. Trazia na cabeça o meu “quico”do camuflado e conservava ainda na camisa o crachá identificativo do Congresso. Ainda me lembro do sorriso cúmplice do polícia quando me mandou seguir em paz. Ele também tinha andado por lá…
Mas a cena das lágrimas é que nunca mais esqueci. Porquê? Não sei bem explicar. Uma mão para limpar as lágrimas silenciosas, que escorriam pela cara abaixo, e a outra para levar de imediato a boca, a colher de sopa.
Foi o Alves. Filho de um Sargento da GNR, que tinha cumprido serviço militar em São Tomé e Príncipe. Durante 36 meses.
- A nossa geração, senhores, anda na guerra. Por isso a paz que traz terá sentido.*
Eu estive lá. No Palácio de Cristal-Porto. Em 3 de Junho de 1973. Passaram quase 38 anos.
- A nossa geração, senhores, andou na guerra.
Cumprimos um rito. Por isso a paz que incessantemente procuramos continua a ter sentido.
JERO
*”Vestiram-se os poetas de soldados”, antologia seleccionada e prefaciada por Rodrigo Emílio, expressamente compilada para o 1º. Congresso Nacional dos Combatentes.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8041: Parabéns a você (235): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72; António Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852 e Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2851 (Tertúlia / Editores)