Fotos: © Giselda Pessoa (2009). Direitos reservados.
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As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4) > UMA ENFERMEIRA CIVIL NA TROPA (*)
A minha formação como enfermeira foi iniciada na Escola de Enfermagem do Hospital de S. João, no Porto, em 1966. Ida de S. Martinho de Anta (**), perto de Vila Real, o Porto era o local mais lógico para tirar o curso. E por lá continuei em 1968, como enfermeira, tendo sido logo colocada no Serviço de Urgência do S.João, onde se trabalhava muito mas também se aprendia mais, e depressa.
Por essa altura ia tendo notícias da minha irmã Antonieta, também enfermeira, então integrada na Força Aérea como enfermeira paraquedista. Das suas deambulações por África ia-me dando notícias, mas não criou necessariamente em mim a vontade de lhe seguir as pisadas.
Foi um pouco por acaso que numa deslocação a Lisboa à Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea, alguns dos presentes me incentivaram a inscrever-me no novo curso que estava em preparação. Acabei por concorrer pois, no fundo, entusiasmava-me a possibilidade de desenvolver a actividade que tinha, num ambiente ainda mais exigente, e agradavam-me igualmente as características da vida militar.
Assim, em 1970, acabei por frequentar o curso de paraquedismo na Base Escola em Tancos, o 7º constituído por enfermeiras civis. Das nove que constituíam o curso acabaram oito, iniciando nós então um rodopio entre a base-mãe, os Açores, Guiné, Angola e Moçambique.
No meu caso pessoal, fui inicialmente colocada em Moçambique durante todo o ano de 1971, onde se pode dizer que tive um período de férias razoável, pois para além de curtos períodos em Nacala e Nampula, estive essencialmente baseada em Lourenço Marques. Aí prestava apoio no serviço de saúde, o que incluía deslocações periódicas a Lisboa, acompanhando e apoiando os militares evacuados, inicialmente no DC-6, mais tarde nos Boeing 707.
Deve dizer-se que em Lourenço Marques ainda se sentia menos a guerra do que em Lisboa e que este período não foi representativo para a minha formação militar, desgostando-me mesmo certos comportamentos que pude observar localmente, quer em alguma da população branca, quer em alguns militares mais acomodados a uma vida fácil e pouco arriscada.
Foi por isso com alguma expectativa que no início de 1972 me mudei, "com armas e bagagens", para a província da Guiné. Aí, finalmente, respirava-se um ambiente muito mais operacional, onde a solidariedade e a camaradagem eram bem visíveis e o trabalho puxado nos fazia sentir mais realizadas.
O contacto diário com as tripulações, as deslocações aos aquartelamentos perdidos no meio do mato, a sensação de se fazer algo de útil por quem precisava, deixaram-me até hoje recordações que dificilmente desaparecerão.
Ao longo dos anos têm surgido, aqui e ali, manifestações de carinho por parte de militares que socorri num momento extremamente delicado da sua vida e que se recordam ainda da enfermeira que os acompanhou e tentou minorar o seu sofrimento. São situações como essas, assim como o convívio que tenho tentado manter com pessoal que passou pelo mesmo no território da Guiné - pára-quedistas, pilotos e pessoal Especialista da Força Aérea, militares do Exército e da Marinha - que me fazem pensar que valeram bem a pena os anos que dediquei à Força Aérea como enfermeira paraquedista.
Giselda Pessoa
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)
28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)
(**) São Martinho de Anta, freguesia e vila do concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real. O seu filho mais ilustre é Miguel Torga, pseudónimo literário de Adolfo Correia Rocha (1907-1995), médico e um dos grandes escritores portugueses do Séc. XX. E, mais ao lado, já no concelho vizinho de Peso da Régua, tempos o miradouro, de cortar respiração, de São Leonardo de Galafura, que Miguel Torga celebrizou e é um dos mais falabusos miradouros de Portugal, com vista com o Rio Douro e os vinhedos da Região Demarcada do Douro.
Também é obrigatório saber que Sabrosa é a terra natal do primeiro homem que fez a primeira viagem de circum-navegação (1519-1521), Fernão de Magalhães (1480-1521). Morreu em combate nas Filipinas.
Estive há tempos em Sabrosa, onde descobri uma Rua Coronel Jaime Neves, atribuída em vida ao antigo capitão dos comandos que teve um papel-chave no 25 de Novembro de 1975 e que é um trasmontano dos sete costados, natural de Sabrosa....
Espero que da próxima vez que lá passe, encontre também uma rua com o nome das enfermeiras pára-quedistas, irmãs, Antonieta e Giselda Antunes, naturais de Sabrosa. Sr. presidente da Câmara de Sabrosa, José Marques, não perca essa oportunidade de homenagear todas as mulheres trasmontanas através destas duas suas conterrâneas que - não há muitas - foram os nossos 'anjos da guarda' na guerra colonial (1961/74).