quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22943: Tabanca dos Emiratos (9): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte III: O Dia de Portugal, 14 de Janeiro de 2022 (Jorge Araújo)





Foto 1 - Expo’2020 Dubai  - Identificação do Pavilhão 
 de Portugal (parede frontal ao nível do solo). 


Foto 2 - Expo’2020 Dubai - “Peça artística” (“Pinguins de Magalhães”) da autoria de Bordalo II (Artur Bordalo), feito à base de plástico reciclável, colocada à frente do Pavilhão.



Foto 3 - Expo’2020 Dubai - Os repórteres lusos na Praça Central «Al Wasl»: da RTP (Inês Carranca) e da Tabanca Grande (Jorge Araújo).


Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


“APONTAMENTOS” DA «EXPO’2020»

(DUBAI - 01OUT2021 / 31MAR2022)

Parte III  - O DIA DE PORTUGAL -

14 DE JANEIRO DE 2022 (*)




Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); nosso coeditor, a viver neste momento em Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos.



1.  – PROGRAMA DE ACTIVIDADES (13 E 14 DE JANEIRO’2022)

◙ ▬ DIA 13 DE JANEIRO DE 2022 (5.ª FEIRA)

● Na véspera do “Dia de Portugal” na Expo’2020 (Dubai - UAE), 13 de Janeiro, foram agendados três eventos para o interior do Pavilhão Nacional. O primeiro, designado por «Portugal Business Briefing», tratou-se de um seminário empresarial organizado pela AICEP Portugal Global - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, com o objectivo de apresentar o nosso País nas áreas de comércio e de investimento.

No segundo, também em parceria com a AICEP, foram comemorados os 116 anos da fundação da Livraria Lello, com sede na Rua das Camélias, no Porto, também conhecida como “A Livraria Mais Bonita do Mundo”. O propósito desta celebração do seu aniversário na Expo’2020, no Dubai, coincidiu com a publicação das primeiras traduções para árabe de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, e de “Mensagem”, escrito por Fernando Pessoa (1888-1935). Para além do tradicional “bolo de aniversário”, foram ofertados 116 livros aos primeiros visitantes do dia.

A razão de ser desta iniciativa foi explicada por Aurora Pedro Pinto, a administradora da Livraria Lello, afirmando que “como exportadores e promotores da Literatura e da Cultura portuguesas, é com grande satisfação que contribuímos para que duas obras que retratam de forma tão especial o país e o seu povo cheguem ao mundo árabe”, num tempo em que a língua árabe tem cerca de 274 milhões de falantes.

Por último, a organização do terceiro evento foi da responsabilidade dos CTT - Correios de Portugal, S.A., que se traduziu no lançamento de um “postal comemorativo” relativo à participação portuguesa na Expo’2020, edição que abaixo se reproduz (frente e verso).


Foto 4 - Expo’2020 Dubai  – Reprodução do postal comemorativo editado pelos CTT.

 

◙ ▬ DIA 14 DE JANEIRO DE 2022 (6.ª FEIRA)

► A primeira Cerimónia Oficial do “DIA DE PORTUGAL” na EXPO’2020 (Dubai), decorreu na «Praça Al Wasl», com a chegada das delegações dos dois países – os Emirados Árabes Unidos (país anfitrião) e Portugal.

● Pelas 10:30 horas, procedeu-se ao hastear da Bandeira Nacional no mastro existente entre a dos UAE e a da Expo ao som d’ “A Portuguesa” (o nosso hino), seguindo-se os discursos oficiais a cargo dos principais representantes (vidé foto abaixo).

Concluída esta Cerimónia protocolar, as comitivas realizaram visitas aos pavilhões de ambos os países.     


Foto 5 - Expo’2020 Dubai – A Bandeira Nacional hasteada na Praça Central «Al Wasl».


► Espectáculo Musical com a presença da cantora Teresa Salgueiro

Pelas 15:00 horas, de novo na Praça Central «Al Wasl», um número significativo de visitantes da Expo’2020, de entre os quais se encontravam cerca de quatro centenas de portugueses, foram presenteados com um espectáculo musical de grande nível, onde actuaram a fadista Teresa Salgueiro, acompanhada por António Chainho, o nosso magno da guitarra portuguesa, com 84 anos, e por Marta Pereira da Costa, a primeira e única mulher guitarrista profissional de fado a nível mundial.

Foi, de facto, muito bom... e um grande orgulho para a diáspora lusa que teve o privilégio de a ele assistir.


Foto 6 - Expo’2020 Dubai – Actuação da fadista Teresa Salgueiro na Praça Central «Al Wasl», perante uma vasta plateia de convidados, com a repórter da RTP (Inês Carranca) em momento de gravação e transmissão para a redacção da RTP.


Pelas 17:00 horas, teve lugar a cerimónia de acolhimento da comunidade portuguesa, junto ao Pavilhão de Portugal, com o hastear da Bandeira ao som do hino Nacional, onde aconteceram diversas intervenções por parte dos responsáveis da Missão, seguido do visionamento da mensagem do Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, que não pôde comparecer aos “actos oficiais” devido à situação pandémica do momento.






Fotos 7 e 8 - Expo’2020 Dubai – Cerimónia protocolar diante do Pavilhão de Portugal.


2 – MENSAGEM DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

         ▬ Professor Marcelo Rebelo de Sousa



Foto 9 - Expo’2020 Dubai – A mensagem “virtual”, enviada pelo Presidente da República, para assinalar o “DIA DE PORTUGAL” na Expo’2020.


Eis algumas passagens da sua intervenção, gravada a partir do Palácio de Belém, em Lisboa, e que foi divulgada no sítio oficial da Presidência da República.

(…) Considera que “a “Expo’2020 Dubai” é a primeira exposição universal realizada no Médio Oriente, o que reflecte o crescente dinamismo dessa região, bem como o seu empenho em cada vez mais se assumir como plataforma de intercâmbio e de diálogo político, económico, científico, tecnológico e cultural, que não são mais do que os princípios e valores das exposições mundiais desde a sua origem”.

São estes também os princípios e valores que inspiram a participação de Portugal nesta “Expo’2020 Dubai”, sob o mote «Portugal, um mundo num país» ”.

Deste modo, “marca o regresso do nosso país às grandes exposições mundiais. Quero, por isso, sublinhar como foi significativa esta presença nacional num acontecimento mundial, que foi um verdadeiro encontro entre culturas, países, formas de ver a vida, e que nos permite promover e projectar Portugal, a nossa história, a nossa cultura, a nossa economia, as nossas empresas, a nossa gastronomia, a nossa geografia e o nosso povo”. (…)

Termina a sua mensagem com três “vivas”: “viva o Dubai, vivam os Emirados Árabes Unidos, viva o nosso Portugal”… seguido por uma salva de palmas por parte dos presentes na cerimónia.

De seguida, a Organização procedeu à oferta de algumas lembranças, nomeadamente “Galos de Barcelos” em louça (miniaturas) com as cores da Bandeira: vermelhos, verdes e amarelos, e um íman de lapela com a designação “Portugal”.



Momentos depois, em dois balcões distintos [fotos 10 e 11], foram oferecidos aos visitantes, nacionais e estrangeiros, centenas de “pastéis de nata” e uma garrafa de água, e, ainda, pastéis de “carne”, “bacalhau” e “peixe” (uma unidade de cada), tipo “almôndega”, servidos numa pequena embalagem de papel de alumínio, confeccionados no Restaurante do Pavilhão «Al-Lusitano», dirigido pelo Chef Chakall.



Foto 10 - Expo’2020 Dubai - Filas para recepcionar os “doces” da gastronomia portuguesa. No balcão da esquerda, os “pastéis de nata” e a água, no da direita, “os bolinhos” de carne, bacalhau e peixe… Tudo foi acontecendo de forma ordeira, aliás, como se pode comprovar pelas imagens.



Foto 11 - Expo’2020 Dubai - idem do referido na foto anterior.


Pelas 18:00 horas, como constava no programa, deu-se início ao «AL QANTARA SHOW», designação dada ao espectáculo de música e multimédia concebido exclusivamente para esse momento, considerado como o “ponto alto” de encerramento do “DIA DE PORTUGAL” na «Expo’2020.

O espectáculo teve lugar num dos palcos principais do recinto – o JUBILEE STAGE – onde actuaram o “Grupo de Percussão Retimbrar”, de Espinho, seguindo-se a actuação da cantora Teresa Salgueiro, acompanhada pelos guitarristas António Chaínho e Marta Pereira da Costa, e o Músico Fred Ferreira.

Foram noventa minutos de muitas emoções, com a diáspora lusa, a oito mil quilómetros de distância, a sentir-se em “casa” e onde os estrangeiros, no final, não regatearam os seus aplausos aos artistas lusos.



Foto 12 - Expo’2020 Dubai - O palco «Jubilee Stage» onde decorreu o espectáculo de encerramento do “Dia de Portugal” na Expo’2020. 



Foto 13 - Expo’2020 Dubai - Actuação da fadista Teresa Salgueiro durante o espectáculo, em português, na Expo’2020.



Postal (montagem) dos três músicos portugueses que acompanharam a fadista Teresa Salgueiro no espectáculo de encerramento do “Dia de Portugal”, na Expo’2020.



Foto 14 - Expo’2020 Dubai  – Panorâmica do palco «Jubilee Stage» e da plateia que assistiu ao espectáculo de encerramento do “Dia de Portugal”, na Expo’2020, e onde se falou e ouviu a língua de Camões.

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Foi uma “reportagem curta”. Mas, mesmo assim, espero que tenha sido do vosso agrado… pois o espaço não é ilimitado. (**)

(Continua)

 

Votos de um óptimo ANO de 2022, com muita saúde.

Com um forte abraço de amizade.

Jorge Araújo.

23Jan2022

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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 14 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22904: Tabanca dos Emiratos (8): O nosso blogue em números: os seguidores nas "Arábias" (Jorge Araújo)

(**) Vd. postes de:


1 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22864: Tabanca dos Emiratos (6): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte II (A): A Presença dos Países da CPLP: Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe... (Jorge Araújo)

2 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22869: Tabanca dos Emiratos (7): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte II (B): A Presença dos Países da CPLP: Angola, Moçambique e Timor-Leste (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P22942: O que é feito de ti, camarada ? (15): Abel Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (Fá, Enxalé, Bissá, Porto Gole, 1967/68), autor do livro, "Entre paraíso e inferno, de Fá a Bissá, memórias da Guiné, 1967/68... O João Crisóstomo manda-te um "hello", de Nova Iorque



O Abel Rei, foto atual  da sua página no Facebook.



Abel de Jesus Carreira Rei – Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/1968. Prefácio do ten gen Júlio Faria de Oliveira. Edição de autor. 2002. 171 pp. (Execução gráfica: Tipografia Lousanense, Lousã. 2002).



O Abel Rei autografando o seu livro (, presume-se que pro volta de 2002, numa sessão de lançamento). Foto da sua página no Facebook.



Almeirim > 10 de maio de 2014 > XXIII Encontro do pessoal da CCAÇ 1439, Pel Caç Nat 52, Pel Caç Nat 54, e Pel Mort 1028, que passaram pelo Enxalé (1965/67). 

 O Abel Rei é o primero da primeira fila, do lado direito. Alguns camaradas nossos conhecidos (e membros ds Tabanca Grande): Henrique Matos (Pel Caç Nat 52), José António Viegas (Pel Caç Nat 54), Júlio Pereira (CÇAÇ 1439). 

O "Mafra" é a alcunha do Manuel Calhanda Leitão, também já convidado para integrar a Tabanca Grande: foi o organizador do último encontro do pessoal em 18 de maio de 2019, na Ericeira... 

Em 2010, houve um encontro histórico, deste pessoal, o 19º Encontro, onde estiveram presentes, entre outros, o Henrique Matos, o Mário Beja Santos, o Jorge Rosales, o João Crisóstomo, o madeirense António Freitas (um dos quatro alferes da CCAÇ 1439), o João Neto Vaz, o Luís Cunha, e outros.

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo (ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439, 1965/67; a viver em Nova Iorque, desde 1977):

Data - sábado, 22/01, 17:01 (há 4 dias)
Assunto - Contacto do Abel Rei


Meus caros Luis Graca e Carlos Vinhal,

Numa das vezes que estive em Portugal num dos encontros/convívios em que tive oportunidade de estar presente ( deve ter sido em Monte Real, mas não tenho a certeza) deparei com o Abel Rei que na altura até me autografou o seu livro “Entre o Paraíso e o Inferno”. 

 Quando cheguei arrumei o livro com intenção de o ler logo que oportunidade surgisse mas o tempo foi passando e o livro acabou mesmo por ficar esquecido no meio de muitos, alguns deles esperando que tempo e ocasião se proporcionassem. 

Tenho quase vergonha do meu lapso mas a verdade é que, tendo várias vezes ouvido e lido das duas memórias me esqueci completamente que tinha o livro dele comigo. E ontem ao procurar algo na estante deparei com o livro dele. Comecei logo a lê-lo e já vou quase a meio.

Procurei mas o nome do Abel Rei não consta na lista que o Carlos Vinhal fez o favor de me enviar em Julho do ano passado. Talvez vocês ou algum outro camarada tenha essa informação. Se for o caso podem-me ajudar?

Embora tarde quero-o contactar; não só para o felicitar pelo seu livro, como para lhe pedir desculpa de só agora o fazer. Foi falta grande da minha parte, "mea culpa mea culpa”, mas... antes tarde do que nunca! 

 Até porque ao ler o livro verifico que nos meses de Fevereiro e Março de 1967 andamos pelos mesmos sítios: eu ainda estava na Guiné, quase de saída; e ele, ainda periquito descreve as suas primeiras impressões de Enxalé, Finete, Porto Gole, Mato Cão… escrevendo :” fiz a mais dura viagem… numa estrada com quase trinta quilómetros… cheia de buracos…com perto de um metro de fundo…"

Nas páginas 38 e 39 descreve uma saída, que já eu tinha esquecido, mas que ao ler o livro me veio à memória com muita nitidez. Porque na zona de Bissá havia muito gado bovino era lá que a nossa companhia “ se abastecia” … Recordo bem que nessas saídas ao mato, procurando víveres,   nunca faltava o nosso furriel/enfermeiro Geraldes que a si mesmo tinha chamado o cargo de cuidar das vacas e bezerras,( o que deu azo a muitas peripécias de morrer a rir, que agora me vêm à lembrança.

Eu fiz parte dessa saída que o Abel Rei menciona e que me parece merecer ser descrita: ”Saímos a pé, por uma enorme bolanha, toda coberta de capim com mais de dois metros de altura, pelas três e meia da madrugada, com destino a Bissá, onde chegámos às sete meia, para fim, quase exclusivamente, de compra de gado bovino.”

Lembro bem que o capitão Pires ( da nossa CCaç 1439) fazia questão de ser sempre ele mesmo a fazer essas negociações, como muito bem descreve o Abel Rei : 

”Instalámo-nos em redor das tabancas, para montar segurança ao capitão da CCaç 1439 ( ele diz Cart nº 1439) enquanto (este) negociava com os nativos , vistos os mesmos tanto nos venderem a nós, como aos nossos inimigos. “ (...).  “foram mais de cindo horas, de aldeia em aldeia"… “o calor era intenso”…” e com imenso desgaste de energias até à exaustão”. 

E o Abel Rei, então ainda periquito, pergunta-se e pondera:” hoje pude avaliar quão grandes teriam sido as dificuldades que os nossos antecessores sofreram, e eu ainda terei de sofrer(?)”…" bebia-se todo o líquido que nos aparecia, quer nas poças do terreno, ou nos poucos cursos de água, fosse ela da cor que fosse”...

Nas páginas 55 do seu livro menciona:  “...a 26 de Março ( 1967) esta companhia passou do aquartelamento de Fá para o de Enxalé a fim de render a CCaç 1439….”

 Ora eu lembro-me ter partido/saido de Missirá onde estive estacionado nos últimos dias antes do regresso; portanto não estava em Enxalé quando ele chegou, com a Companhia dele,  para render a CCaç 1439. Por isso não recordo ter feito conhecimento com ele na altura . Mas gostava mesmo de o chamar pelo telefone; e se não for pelo telefone será mesmo por E-mail...( talvez ele me forneça depois o número dele ).

(...) Se tiverem não se esqueçam do contacto do Abel Rei, OK?

Aos dois, e às vossas melhores metades, e demais queridos um grande abraço
João e Vilma


 2. Comentário do editor LG:

João, o Carlos Vinhal já te forneceu o endereço de email do Abel Rei. Não temos o seu número de telemóvel. Sabemos que mora na Marinha Grande, mas o nosso camarada Joaquim Mexia Alves, seu vizinho,  também não tem notícias dele. Faz anos a 30 de março, mas não tem feito a competente "prova de vida"... 

A sua página no Facebook está inativa desde 31 de março de 2021, o que pode não ser bom sinal...  Nessa altura agradeceu os parabéns que lhe deram amigos  e camaradas, incluindo o José António Viegas, do Pel Caç Nat 54, e o Henrique Matos, do Pel Caç Nat 52.

O Abel de Jesus Carreira Rei, ex-1º cabo, CART 1661 (1967/68), ou simplesmente Abel Rei, tem 17 referências no blogue, é amigo da página do Facebook da Tabanca Grande, é autor de um livro de memórias sobre a sua passagem na Guiné, já participou num dos nossos encontros nacionais, o IV, em Ortigosa, Monte Real, Leiria, em 2009. Mas, por lapso nosso, só foi registado formalmente como membro da Tabanc Grande em 2019 (**)


3. Mensagem do João Crisóstomo dirigida ao Abel Rei:

Data - domingo, 23/01/2022, 14:13  
Assunto - Hello de Nova Iorque



Caro Abel Rei,

Estou em dívida para contigo. Num encontro passado tive a oportunidade de te cumprimentar e na altura até me autografaste o teu livro diário sobre a tua experiência na Guiné. Tinha intenção de o ler logo que chegasse, pois várias vezes tinha ouvido falar de ti; mas não o fiz logo e…mea culpa mea culpa, o tempo foi passando. 

Ontem ao vascular prateleiras deparei com ele. Peguei-o e comecei a ler. Só interrompi a leitura porque tinha de ir a Nova Iorque. Mas quando voltei peguei nele de novo e foi de uma assentada até à ùltima página. 

Verifico que calcorreamos muitos lugares comuns, novidade para mim. Foi uma enxurrada de emoções. Mas sobre estas coisas não dá para falar muito por E mail. Na próxima oportunidade que estiver em Portugal , dentro de alguns meses, espero, temos de nos encontrar, pode ser? Entretanto, se não te importas, dá-me o teu contacto telefónico e eu ligo para ti.

Quero-te dizer pessoalmente da minha admiração, quase inveja , pela tua ideia de ires escrevendo as tuas impressões e experiências na Guiné quando as ias vivendo. Ao fazê-lo enriqueceste a tua vida e a de muitos outros , como a minha agora. Obrigado.
Um grande abraço com muita amizade

João Crisóstomo, Queens, Nova Iorque 

[ Seguem na mensagem os contactos e a morada do nosso camarada luso-americano, que não publicamos por razões de privacidade e segurança, embora ele se nos autorize a sua divulgação ]

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Notas do editor:
 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22941: Historiografia da presença portuguesa em África (300): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Março de 2021:

Queridos amigos,
É indubitável que Senna Barcelos investigou a sério estes subsídios da História de Cabo Verde e não é por puro acaso que os estudiosos ainda hoje a ele recorrem. Estou à vontade para dizer que assim é, descreve fomes, sublevações, melhoramentos, penúria, corrupções, com minúcia, são textos intencionais, vê-se perfeitamente que ele deposita ali a sua alma de cabo-verdiano. É muito mais parcimonioso com a Guiné, o que também dá para entender, mas de modo algum se coíbe de falar nas sublevações, roubalheiras e atos afins. Chegámos ao tempo da guerra civil entre liberais e absolutistas e ele destaca perfeitamente a ocupação de Bolama e a cessão da Ilha das Galinhas, a Guiné continua totalmente dependente das decisões de Cabo Verde, e o leitor que se prepare, Honório Pereira Barreto vai entrar em cena e Senna Barcelos vai-nos dar com todo o pormenor a entrada dos franceses no Casamansa.

Um abraço do
Mário



Um oficial da Armada que muito contribuiu para fazer a primeira História da Guiné (5)

Mário Beja Santos

São três volumes, sempre intitulados "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, a parte III, de que ainda nos ocupamos, em 1905; o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada, oficial distinto, condecorado com a Torre e Espada pelos seus feitos brilhantes no período de sufocação de sublevações em 1907-1908, no leste da Guiné. O levantamento exaustivo a que procede Senna Barcelos é de relevante importância e não há nenhum excesso em dizer que em muito contribuiu para abrir portas à historiografia guineense.

Estamos num período de transição, faleceu D. João VI em 10 de Março de 1826 e o período que se perfila no horizonte é de extrema convulsão, abarca a Guerra Civil e vamos assistir às administrações liberais. A questão de Bolama começa a ganhar contornos. O Governador de Cabo Verde, Caetano Procópio, encarregou Joaquim António de Matos, Coronel de Milícias da ilha de Santiago, do novo estabelecimento de Bolama. Matos chega a Bissau em 20 de Abril de 1830 e reuniu com os reis de Canhambaque e Rio Grande, pediu a confirmação da concordata feita em 1828 com o então Governador Muacho, a confirmação foi dada, e seguirão todos para Bolama para a tomada de posse. Em Junho, Joaquim António de Matos foi nomeado Governador da Praça de Bissau e Diretor do Estabelecimento de Bolama. Neste período fundou-se o presídio de Bolor. Matos, incansável, pretendia influenciar a presença portuguesa. Foi à Ilha das Galinhas onde fez saber que obtivera do rei Damião, da ilha de Canhabaque, uma ilha denominada das Galinhas, tendo mandado construir casas, cortar mato e fazer sementeiras, alegando que era importante mostrar aos ingleses, que tinham estabelecimentos próximos, que era ali que a bandeira portuguesa plantava. Não queria tomar conta da ilha das Galinhas sem licença do rei Damião. Este fez a doação da ilha ao Coronel Matos que pronto a cedeu à Coroa de Portugal. O coronel, então das milícias, requereu a patente de Coronel de Primeira Linha, e garantia que iria estudar os domínios de Portugal na Guiné. O Conselho Ultramarino emitiu parecer favorável aos pedidos do Coronel Matos que o rei deferiu.

Mas a instabilidade nas Praças e Presídios era permanente. Damos a palavra a Senna Barcelos:
“Em Maio de 1826, parte dos soldados da guarnição do presídio de Cacheu sublevou-se, desobedecendo ao comandante e insultando os oficiais, sendo mais ofendido o major António Tavares da Veiga Santos. Restabelecida a ordem, efetuaram-se algumas prisões, e pelo inquérito a que se procedeu, apurou-se serem 15 os soldados culpados, que foram remetidos para a Praia; nesta inquirição ficou culpado o tenente-coronel Paulo Xavier Crato, governador da Praça, acusado de ser o iniciador e consentidor do tumulto. O governador Procópio de Vasconcelos, de posse do processo ao Conselho de Averiguação, teve dúvidas se este conselho seria o bastante para os culpados responderem a Conselho de Guerra, ou se seria preciso fazer-se pela Ouvidoria-Geral uma devassa; igualmente sobre o tenente-coronel Crato encontrava dificuldades para responder a conselho, por falta de um general, como determinava o regulamento de 1763. Consultou o ministro que lhe respondeu que esperasse até que houvesse ouvidor-geral nas ilhas para fazer a devassa, pois esta era indispensável para os culpados responderem a conselho de guerra. O ouvidor nomeado não passara às ilhas e o tenente-coronel faleceu em janeiro de 1830 sem ser julgado”.
Podíamos continuar, mas neste caso a culpa morreu solteira.

Em 1827, cedeu-se à Coroa de Portugal os terrenos de Fá, no rio Geba. Já estamos no período em que há combates renhidos em vários pontos do país entre os partidários de D. Miguel e os de D. Pedro. A infanta-regente D. Isabel Maria entregou a regência a D. Miguel em 26 de Fevereiro de 1828. D. Pedro, que havia confiado a regência a seu irmão D. Miguel, arrependeu-se, o Senado de Lisboa proclamava D. Miguel rei e os partidários deste, muitas vezes à pancada, faziam assinar às pessoas que encontravam uma representação em que se pedia a D. Miguel que cingisse a Coroa. O resto é bem conhecido de todos, D. Pedro abdicou em junho de 1831 à Coroa do Brasil e com o simples título de Duque de Bragança pôs-se à frente de uma expedição que partiu dos Açores em 23 de Junho de 1832. A guerra é fratricida concluirá com a Convenção de Évora-Monte, em 26 de Maio de 1834, seguindo-se o exílio de D. Miguel.

Voltando à Guiné, é nomeado em 1827 Governador de Bissau o Primeiro Tenente da Armada Francisco José Muacho. Em Julho do ano seguinte, conseguiu este governador dos reis de Canhabaque e de Beafadas a cessão da ilha de Bolama para a Coroa de Portugal, nos seguintes termos que constam do relatório que o governador produziu:
“Neste dia – 11 de Julho de 1828 – veio o rei de Canhabaque à casa da residência do Governo, e tratando com ele sobre o estabelecimento dos portugueses na ilha de Bolama, e confirmando com o aperto de mão e abraço, que ele só quer que os portugueses ali se estabeleçam, pois que só os portugueses ama por estar aparentado com eles, e que mesmo, se outra qualquer nação pretendesse obter dele licença para se estabelecer na dita ilha, não consentiria sem permissão do Governador de Bissau, em quem delegava a sua autoridade a este respeito. Que não vende nem cede nenhum dos seus terrenos nem aos portugueses nem a outra qualquer nação (e o mesmo diz o rei de Beafada), porque os seus maiores nunca venderam nem cederam possessão alguma do que lhes pertencia a recebendo o presente que lhe fiz e aos seus grandes se retirou contente”.

Entramos agora na parte IV dos Subsídios da História de Cabo Verde e Guiné, o volume foi editado em 1910 e o primeiro período em análise refere-se a 1833 até 1842. Senna Barcelos desenvolve abundantemente as consequências das lutas entre liberais e absolutistas em Cabo Verde, descreve as fomes terríveis do arquipélago e dá-nos uma lista impressionante de deportações de opositores políticos de D. Miguel quer para as ilhas de Cabo Verde quer para Bissau e Cacheu. Os direitos alfandegários continuavam a ser tema dominante, Cabo Verde insistia em centraliza-los não dando qualquer autonomia à Guiné. Comprova-o o regulamento para a alfândega da Guiné aprovado nesta época que diz coisas como estas:
- O Delegado fará imediatamente constar por editais que a Fazenda Pública na Guiné tem um regulamento uniforme com o resto da Província, que não receberá direitos de alfândega nem outro tributo em géneros, mas sim em moeda-corrente nas ilhas de Cabo Verde e que para o futuro serão reguladas as alfândegas da Guiné pela mesma pauta que se adaptar às ilhas de Cabo Verde;
- Qualquer navio português ou estrangeiro que aportar em Bissau, Cacheu, Ziguinchor ou Bolor entregará na respetiva alfândega os papéis do navio que depois de examinados serão depositados num cofre para lhe serem entregues depois de ter satisfeito todas as obrigações com a mesma alfândega.

Um dado curioso que apraz registar é o tipo administrativo que então se usava, neste caso o de Prefeito: o Prefeito da Província de Cabo Verde e Costa da Guiné.

E de seguida Senna Barcelos, depois de nos dar um retrato de Honório Pereira Barreto detalha ao pormenor a crescente presença francesa no Casamansa perante a indiferença das autoridades de Lisboa.

(continua)


Pormenor da Fortaleza de Cacheu
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22919: Historiografia da presença portuguesa em África (299): "Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné", as partes I e II foram editadas em 1899, o seu autor foi Cristiano José de Senna Barcelos, Capitão-Tenente da Armada (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22940: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XVI: brutal ataque ao destacamento e tabanca de Missirá na véspera do Natal de 1966


Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > Malan Soncó, Régulo de Missirá com o Alferes Crisóstomo




Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > 
O Régulo de Missirá e os homens grandes da tabanca de Missirá com o “novo” alferes de pé entre ele e o seu irmão; com os homens grandes estão os 3 furriéis do 2º pelotão : Agostinho Neiva, de pé à direita, o furriel Lopes no meio e no lado esquerdo o furriel Bonifácio.




Foto nº 3 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > 
Esta foto com as bajudas de Missirá evidencia o bom relacionamento existente.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > Mesmo  num destacamento havia momentos de descontracção. Não sei qual a ocasião . Na foto estou com o novo médico do BCAÇ 1888, Paulo Patracki que substituiu o medico Francisco Pinho da Costa que tinha sido evacuado para Bissau e daí para Lisboa, vítima duma mina em 21 de Agosto de 1966.


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


A CCAÇ 1439 teve como unidade mobilizadora o BII 19 (Funchal), partiu para o CTIG em 2/8/1965 e regressou a 18/4/1967, tendo passado por Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá, Fá Mandinga. O comandante era o cap mil inf Amândio Manuel Pires, já falecido. Alferes (milicianos): Freitas (Funchal, Madeira), Crisóstomo (Torres Vedras, hoje a viver em Nova Iorque), Sousa (Vila Nova de Famalicão), Zagalo (Lisboa, ator de teatro, já falecido).






João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)
(a viver em Nova Iorque desde 1977,
depois de ter passado por Inglaterra e Brasil)


I. Continuação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1439 (1965/67)


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


Parte XVI: Dia 23 de Dezembro de 1966 : Ataque ao destacamento e tabanca de Missirá



1. O ataque a Missirá foi um choque para todos. O Régulo de Missirá (Foto nº 1)  era como um amigo para todos e isso refletia-se na população com quem tínhamos um relacionamento muito bom, direi quase de família (Fotos nºs 2 e 3).

Virei a saber que,  depois de termos ido embora,  o mesmo relacionamento continuou como tive o prazer de ler nos escritos e livros de Beja Santos, especialmente no seu “Diário da Guiné, em Terras de Soncó.” As fotos que acima de reproduzem, tiradas antes do ataque,  ilustram bem este bom relacionamento

Embora o destacamento de Missirá nesta data ainda estivesse sob a responsabilidade da CCaç 1439 no Enxalé, o destacamento de Missirá já tinha recebido nesta altura, como já tinha sucedido em Porto Gole, o reforço de um pelotão de nativos, (o Pel Caç Nat 54, segundo me informaram) devidamente treinados pelas NF, comandado pelo Alferes Marchand. Isto dava mais flexibilidade e possibilidades à CCaç  1439 para outras “tarefas”.



Foto nº 5 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá >  Aspeto geral da tabanca



Foto nº 6 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá > O sold trms Júlio Martins Pereira.

Estas duas fotos (nº 5 e 6) são da autoria de Júlio Pereira : a 1ª mostra parte da tabanca; na 2ª foto o Júlio Pereira e o seu rádio de transmissões no largo dessa tabanca

Fotos (e legendas): ©  Júlio Martins Pereira  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





Foto nº 7 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá  > O 
Alferes Marchand, cmdt do Pel Caç Nat 54, no dia do ataque do IN a Missirá.



Foto nº 8 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá  > O alf mil Freitas.



Foto nº 9 >
 Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 1439 (1965/67) > Destacamento de Missirá >  Sob o comando do Alferes Freitas (foto nº 8)  veio uma coluna do Enxalé, na qual me incorporei. Nesta foto, aqui estou eu,   “sem poder acreditar”, olhando os resultados do ataque.  O ex-fur mil José António Viegas, do Pel Caç Nat 54. tem também excelenets fotos do dia seguinte ao ataque a Missirá: vd. postes  P2105 e 2107 (**).


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



2. No dia 23 de Dezembro de 1966,  o IN atacou em grande força o destacamento de Missirá com efectivo muito numeroso, cercou toda a tabanca, tendo utilizado morteiro 82, canhão sem recuo, metrelhadoras pesadas 12.7 e toda a espécie de armamento automático.

"As NF reagiram convenientemente pelo fogo e com calma, não permitindo,  apesar do incêndio declarado na tabanca em consequência do fogo IN e do grande volume da forca atacante,  qualquer desmoralização nas nossas fileiras. 

"O ataque que durou cerca de 75 minutos alertou as forcas aquarteladas em Enxalé que,  não tendo ligação rápida com o destacamento de Missirá, decidiram ir em seu auxílio. Devido à distância Enxalé-Missirá, as forças idas do Enxalé quando chegaram à região de Missirá não encontraram já os elementos atacantes,  tendo-se verificado que os mesmos tinham dispersado para N por vários itinerários."

Resultados: f
eita uma batida a toda a zona  em volta de Missirá foi encontradomo seguinte material:

  • 1 granada de mão defensiva REGD-5;
  • 1 cunhete de granadas para canhão sem recuo;
  • vários invólucros de calibre 12,7 e 7,62 e uma fita de met 12,7.

O IN sofreu baixas confirmadas em número não estimado. Não houve baixas nas NT. A população civil, por seu turno,   sofreu 4 mortos e três feridos,  os quais foram evacuados para Bissau.

Do incêndio resultaram avultados prejuízos materiais- quer em material de querra e aquartelamento, quer em artigos de cantina e rancho em virtude de terem ardido 3 casas pertencentes à tropa e 5 à população civil.

Diversos - Foi salientado na acção o seguinte pessoal:

  • Régulo de Missirá, Malan Soncó;
  • Soldado Cond Auto  nº 5406064, António dos Santos Campos;
  • Soldado At nº 820 27666, Armando Félix Dionf, do Pel  Caç Nat 54.

Todos estes elementos foram louvados pelo Exmo Comandante Militar.

Referência apreciativa do Agrupamento 24:

"Comunico a V.Excia que causou a melhor impressão, neste Comando, a decisão tomada pelo Comandante da CCaç 1439 e medidas que pôs em prática para interceptar o IN, atacá-lo e aniquilá-lo se possível.

Gorou-se o esforço dispendido por falta de contacto mas o poder de determinaçnao daquele comandante, sua capaciade para montar uma operação, espírito de sacrifício e combatividade de suas tropas ficou bem vincado, o que me apraz registar.”

(Continua)
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Notas do editor:


(**) Vd. postes de:

14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22939: Blogoterapia (300): O tempo passa, mas as suas marcas ficam (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)

1. Mais um artigo do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) para a nossa série Blogoterapia, enviado ao nosso Blogue em mensagem de 24 de Janeiro de 2022:


O tempo passa, mas as suas marcas ficam

Foi no dia 24 de janeiro do ano de 1972, faz hoje meio século, que fiz a minha primeira viagem de avião rumo à Guiné, depois de na condição de militar ter passado um ano menos um dia na metrópole.

As voltas a que a vida tantas vezes nos obriga!
Na madrugada do dia 22 fui levar a minha esposa à maternidade do hospital da Nazaré, onde naquela manhã nasceu o meu filho. À tarde fui lá vê-los… sem me ter despedido… na manhã do dia seguinte apanhei o autocarro que me levou até Lisboa, onde ao início da tarde eu me fui apresentar no DGA, enquanto eles continuavam na maternidade.

No dia 24, a manhã ainda vinha longe quando o avião em que viajei levantou voo do aeroporto militar de Figo Maduro. Depois de uma viagem lenta… chegamos a Cabo Verde.
Em Lisboa, quando embarcamos, a temperatura era de cerca de quatro graus, quando chegamos ao aeroporto dos Espargos, na Ilha do Sal, estavam trinta.
Depois de lá termos estado durante algum tempo, não muito, voltamos a levantar voo para concluir a viagem até ao aeroporto de Bissalanca, na Guiné. Se eu já ia completamente baralhado… quando lá cheguei fiquei ainda mais, o que talvez fosse normal… Para mim tudo aquilo era novo, começando pela minha primeira viagem de avião (logo a caminho da guerra…) onde seguia também uma senhora envergando traje militar, soube depois que era uma enfermeira paraquedista, alguém disse que ela estava a regressar depois de ter ido acompanhar um ferido.
Eu desconhecia que existiam enfermeiras nas forças armadas…

Desde que saí do aeroporto de Bissalanca até chegar aos Adidos, para mim, era como se tudo fosse um mundo novo… tal era o excesso da minha ignorância em relação aquilo com que ali estava a ser confrontado.
Depois de ter passado quase um mês nos Adidos, uma nova viagem de avião, agora até Bafatá, e nova surpresa, o Dacota em que viajei tinha os bancos em madeira, iguais aos das viaturas. Depois de termos chegado a Bafatá, eu e mais alguns que tinham viajado comigo, seguimos um novo rumo - agora em viatura para Bambadinca, a que se seguiu mais uma viagem no mesmo dia até Mansambo, onde, junto com os velhinhos, já se encontrava a Companhia que eu fui integrar.

Daquilo que fiz ontem, algumas dessas coisas, hoje, eu já não tenho a certeza. Mas estas continuam a manter-se vivas na minha mente. Ainda que há já muito tempo as tenha arrumado… só as visito quando eu entendo necessário.
Para alguns dos mais novos, e mesmo de outros menos velhos, talvez pensem que nós éramos tontos, ou atrasados, por termos seguido por aqueles trilhos… Mas os tempos eram outros. Aconteceu a alguns que estavam no estrangeiro, quando chegava o seu tempo regressavam ao nosso país para cumprir o serviço militar. Não porque gostassem de lutar contra alguém, muito menos sabendo que iam para a guerra. Mas sim porque gostavam da sua terra e dos seus.

Alguns tinham saído clandestinamente do nosso país, no início da guerra, e gostavam de poder regressar para estar algum tempo junto da família e dos amigos, mas não podiam… Porque se voltassem, alguém que não desejavam se podia encontrar com eles.

Era assim naquele tempo!...

António Eduardo Ferreira

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22427: Blogoterapia (299): Ter muita gente por perto não significa sempre estar-se acompanhado (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493)