Guiné- Bissau > Região de Oio > Farim > Março de 2008 > Cádi ou Cati, uma sobrevivente dos trágicos acontecimentos de 1 de novembro de 1965. O António Paulo Bastos conheceu-a, na Missão Católica, na altura da sua 3ª viagem à Guiné-Bissau.
Foto (e legenda): © António Paulo Bastos (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
![](https://1.bp.blogspot.com/-Y-GRwzX8sAQ/XX25I_wDl1I/AAAAAAABP4E/7tBM_0N4h2IN14VryCOpWydKnjPymkQ3gCLcBGAsYHQ/s200/Guine_Ant%25C3%25B3nio%2BBastos_foto_atual.jpg)
1. Mensagem do nosso camarada António [Paulo] Bastos (ex-1.º cabo, nº 371/64, do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Bissau, Farim, Canjambari e Jumbembem, 1964/66; esteve adido ao BCAV 790 e ao BART 733):
Data: sábado, 14/09/2019 à(s) 12:04
Assunto: 1 de Novembro 1965.
Bom dia, Luís e camaradas da Tabanca Grande:
Luís, mais uma vez vou falar sobre esse dia pois eu estava em Farim [, nesse fatídico dia 1 de novembro de 1965, pelas 21:30, estava eu de passagem por Farim esperando transporte para Canjambari], quando se deu o rebentamento... Não estava na Morcunda [ou Morocunda] mas estava à porta da caserna do Pelotão de Morteiros, claro peguei logo na arma e esperei o pior (um ataque de morteiros do Oio).(*)
Logo no outro dia, fui a Morcunda ver onde rebentou a granada, ainda se via sangue e muitas coisas pessoais pelo chão.
Também ouvia os familíares [das vítima] dizerem que "pessoal bandido não gostava de Fulas e Mandingas".
Também em 2008, quando estive novamente em Farim, ao falar com o Gibril Candé e com a Kati, onde lhe tirei as fotos, foram unânime em dizer que foi o Júlio [Pereira] da Ultramarina [, o responsável pelo atentado]. (**)
Um abraço
A. Paulo do Pelotão Caçadores 953. (***)
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1 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7205: Efemérides (54): O fatídico dia 1 de Novembro de 1965 (António Bastos)
10 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20140: Controvérsias (135): as duas noites de terror, em Farim, as de 1 e 2 de novembro de 1965, para as vítímas (mais de uma centena) do atentado terrorista, e para os indivíduos (mais de sessenta, o grosso da elite económica local) detidos e interrogados pela tropa pela PIDE, por "suspeita de cumplicidade"...
9 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20135: Controvérsias (134): os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, em 1 de novembro de 1965: a memória das vítimas e o risco de falsificação da história... Excertos de reportagem do jornal "O Democrata", Bissau, 13/11/2014
7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por entidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves
(***) Vd. poste de 18 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2060: Bibliografia de uma guerra (14) : o testemunho de Pedro Pinto Pereira. "Memórias do Colonialismo e da Guerra", de Dalila Cabrita Mateus (Virgínio Briote)
(...) Que assistira ao fabrico de uma bomba. Quando eles (PIDE) é que tinham deitado uma bomba em Farim, onde mataram muita gente,
(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a certeza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população? Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965. (...)
(...) Nota da historiadora Dalila Cabrita Mateus:
Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar [, Arquivo Oliveira Salazar, 1908-1974, Torre do Tombo], afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.
Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.
(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).
Assunto: 1 de Novembro 1965.
Bom dia, Luís e camaradas da Tabanca Grande:
Luís, mais uma vez vou falar sobre esse dia pois eu estava em Farim [, nesse fatídico dia 1 de novembro de 1965, pelas 21:30, estava eu de passagem por Farim esperando transporte para Canjambari], quando se deu o rebentamento... Não estava na Morcunda [ou Morocunda] mas estava à porta da caserna do Pelotão de Morteiros, claro peguei logo na arma e esperei o pior (um ataque de morteiros do Oio).(*)
Logo no outro dia, fui a Morcunda ver onde rebentou a granada, ainda se via sangue e muitas coisas pessoais pelo chão.
Também ouvia os familíares [das vítima] dizerem que "pessoal bandido não gostava de Fulas e Mandingas".
Também em 2008, quando estive novamente em Farim, ao falar com o Gibril Candé e com a Kati, onde lhe tirei as fotos, foram unânime em dizer que foi o Júlio [Pereira] da Ultramarina [, o responsável pelo atentado]. (**)
Também fui à1ª Companhia [, a CART 730, que estava em Nema, Farim], a ver os presos que já lá estavam onde vi o Júlio [Pereira] com a cara toda amassada e outros mais.
Tenho pena de, em Bissau, me terem queimado as fotos que eu tirei onde estavam os presos no campo vedado a arame [farpado]
Também li há dias o que o jornal 'O Democrata' dizia e não estou de acordo que tivesse sido a PIDE (***), que mandou lançar a granada, se bem que eles muito competentes de fazer isso e muito mais.
Tenho pena de, em Bissau, me terem queimado as fotos que eu tirei onde estavam os presos no campo vedado a arame [farpado]
Também li há dias o que o jornal 'O Democrata' dizia e não estou de acordo que tivesse sido a PIDE (***), que mandou lançar a granada, se bem que eles muito competentes de fazer isso e muito mais.
Um abraço
A. Paulo do Pelotão Caçadores 953. (***)
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
(*) Vd. postes de:
3 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5203: Efemérides (30): 1 de Novembro de 1965 - Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
4 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5211: Efemérides (32): 1 de Novembro de 1965 – Relatório Oficial da Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
4 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5211: Efemérides (32): 1 de Novembro de 1965 – Relatório Oficial da Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
(**) Último poste da série > 12 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20144: Controvérsias (137): Craveiro Lopes em Bolama, em visita de Estado... Era presidente da câmara municipal o Júlio [Lopes] Pereira, que passa, em dez anos, de cidadão respeitável a proscrito social... (Recorte de imprensa: "Diário Popular", Lisboa, 6 de maio de 1955)
Vd. também postes anteriores:
11 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20142: Controvérsias (136): Não consta que o Amílcar Cabral, o "pai da Pátria", tenha reivindicado a autoria (moral e política) do "atentado terrorista" de 1 de novembro de 1965, em Morocunda, Farim, e muito menos denunciado ou condenado esse ato monstruoso... Pelo contrário, até lhe convinha, para memória futura, que as criancinhas de Farim continuassem a repetir, em coro, estes anos todos, na escola, que esse ato foi obra maquiavélica e tenebrosa dos "colonialistas portugueses"...
Vd. também postes anteriores:
11 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20142: Controvérsias (136): Não consta que o Amílcar Cabral, o "pai da Pátria", tenha reivindicado a autoria (moral e política) do "atentado terrorista" de 1 de novembro de 1965, em Morocunda, Farim, e muito menos denunciado ou condenado esse ato monstruoso... Pelo contrário, até lhe convinha, para memória futura, que as criancinhas de Farim continuassem a repetir, em coro, estes anos todos, na escola, que esse ato foi obra maquiavélica e tenebrosa dos "colonialistas portugueses"...
9 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20135: Controvérsias (134): os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, em 1 de novembro de 1965: a memória das vítimas e o risco de falsificação da história... Excertos de reportagem do jornal "O Democrata", Bissau, 13/11/2014
7 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20130: Controvérsias (133): Os trágicos acontecimentos de Morocunda, Farim, de 1 de novembro de 1965, um brutal ato de terrorismo, cuja responsabilidade material e moral nunca foi apurada por entidade independente: causou sobretudo vítímas civis, que estavam num batuque: 27 mortos e 70 feridos graves
(***) Vd. poste de 18 de agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2060: Bibliografia de uma guerra (14) : o testemunho de Pedro Pinto Pereira. "Memórias do Colonialismo e da Guerra", de Dalila Cabrita Mateus (Virgínio Briote)
(...) Que assistira ao fabrico de uma bomba. Quando eles (PIDE) é que tinham deitado uma bomba em Farim, onde mataram muita gente,
(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a certeza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população? Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965. (...)
(...) Nota da historiadora Dalila Cabrita Mateus:
Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar [, Arquivo Oliveira Salazar, 1908-1974, Torre do Tombo], afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.
Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.
(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).