segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23545: Memória dos lugares (443): Cacine e a "autoestrada" do rio Cacine que, na preia-mar, era um rio azul digno de um qualquer cartaz turístico daqueles locais chamados de sonho (Armindo Batata, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 51, Guileje e Cufar, 1969/70)

 

Guiné > Região de Tombali > Cacine > CCAÇ 1620 > 1967>  O fur mil Manuel Cibrão Guimarães, frente à capela militar de Nª Sra. de Fátima, construída ao tempo da CART 496, em 13/5/1964 e provavelmente completada pela CCAÇ 799, um ano depois (10/6/1965)... O Cibrão Guimarães está vestida com uma "sabadora" (peça principal do traje masculino dos muçulmanos) e um gorro, fula, na cabeça... A peça do vestuário tem a particularidade de ser feita com sacos de farinha de panificação ("ofício" a que sempre esteve ligado: o pai era industrial de panificação; e ele daria continuidade ao negócio até se reformar; natural de Avintes, Vila Nova de Gaia, mora em Rio Tinto, Gondomar; é pai de duas filhas, a esposa, licenciada em farmácia e professsora do ensino secundário, também está reformada). (*)

Foto (e legenda): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > De Cacine, a caminho de Gadamael > c. 1970 > O alf mil médico Amaral Bernardo esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72). Amaral Bernardo pertencia  à CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), e passou cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6).(**)

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2011) . Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Cacine > Pel Caç Nat 51 > Dezembro de 1969 > Local do nosso desembarque em Cacine, com LDM (à esquerda) e uma AML  à direita [Junto à AML, o alf mil Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 51].

Guiné > Região de Tombali > Cacine  >   Pel Caç Nat 51 > Dezembro de 1969 >A ponte cais ao fundo e a messe e bar de sargentos à direita. A messe, bar e alojamentos dos oficiais era do lado opsto,  donde tirei a fotografia. O acesso à ponte cais, era uma agradável avenida ladeada de palmeiras.


Guiné > Região de Tombali > Cacine  > Pel Caç Nat 51 > Dezembro de 1969 >  Praia a jusante da ponte cais onde desembarcámos das LDM, durante a noite, vindos de Gadamael Porto, (***)

Foto (e legenda): © Armindo Batata (2007) . Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Por aqui passou a CART 1692... Esta tosca placa em cimento, delicioso vestígio arqueológico dos "tugas", diz-nos que em dois dias, de 16 (início) a 18 de Abril de 1968 (término), foi construído este abrigo, em tempo seguramente recorde, a avaliar pelas "60 bebedeiras neste priúdo (sic)... Trabalho Rápido". Estão também gravados dois topónimos portugueses, Nisa e Alenquer, afinal alcunhas de dois militares da CART 1692 que, nas horas vagas, eram trolhas, segundo informação do cor art ref António J. Pereira da Costa, que conheceu estas paragens como ninguém: esteve lá como ex-alf art,  CART 1692/BART 1914, Cacine, Sangonhá, Cameconde, 1968/69, antes de voltar ao CTIG como capitão ) em 1972/74) (***)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de março de 2008  >  Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau,  1-7 março de 2008) > O Silvério Lobo junto a uma "bunker", construído pelas NT em cimento armado (seguramente pelo BENG  447). (****)


Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > Os tugas de volta a Cacine, outrora um importante baluarte no sistema de defesa do Rio Cacine contra as infiltrações e ataques do PAIGC. Foi sede do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22.  

Cacine era, em 2008, uma terra com ar desolado e decadente. Tímhamos partido,  de Cananima, do outro lado do rio, num barco de pesca, depois de um belíssimo almoço onde não faltou o saboroso e fresquíssimo peixe local. Embarcados, éramos um grupo de 30 participantes do Simpósio. O Pepito, o nosso "capitão de mar-e-guerra",  ficou em terra a planear as eventuais operações de socorros a náufragos. Regresso ao barco, depois de uma duas horas em Cacine: em primeiro plano, o jornalista do Correia da Manhã, o único jornalista português presente no SimpósioInternacional de Guileje, José Marques Lopes, seguido da Júlia, esposa do coronel art ref Nuno Rubim , e da jornalista e cineasta Diana Andringa, os dois últimos, membros da nossa Tabanca Grande.(****)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008) . Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Sobre a sua curta estadia em Cacine, em dezembro de 1969 e janeiro de 1970, em trânsito para Cufar, escreveu o ex-alf mil Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (tem 18 referências no nosso blogue):

(...) Os Pel Caç Nat 51 e 67, este de comando do alf mil Esteves, passaram por Cacine  (*****) em Dezembro 1969/Janeiro 1970, em trânsito para Cufar. O Pel Caç Nat 67 tinha guarnecido o destacamento do Mejo até à evacuação desta posição em janeiro de 1969.

O deslocamento de Guileje para Cufar teve um primeiro troço em coluna de Guileje para Gadamael Porto. Prosseguiu em LDM para Cacine onde aguardámos a formação de um comboio fluvial. Chegámos a Cacine já a noite tinha caído. Desembarcámos na praia,  a jusante da ponte cais, com 1 ou 2 AML a fazerem a segurança e iluminados por viaturas.

Os militares nativos "espalharam-se" com as familias e haveres pelas tabancas de acordo com as respectivas etnias. Nessa noite dormi num quarto com aspecto de quarto, que até tinha mesa de cabeceira e, paredes meias, uma casa de banho que, para meu grande espanto, tinha um autoclismo, daqueles de puxar uma corrente; que maravilha tecnológica!.

Ficámos uns dias, não me lembro quantos, mas deu para eu ir a Cameconde, numa das colunas que se efectuavam diariamente (?). Tenho de Cameconde a imagem de uma fortaleza em betão, daquelas fortalezas dos livros da escola, a que só faltavam as ameias. Quem por lá andou me corrija por favor esta imagem, se for caso disso.

Deu também para umas passeatas no rio Cacine. Mas só na preia-mar, quando era um rio azul digno de um qualquer cartaz turístico daqueles locais chamados de sonho. Depois vinha a baixa-mar e o cartaz turístico ficava cinzento. E naquele tempo era quase sempre baixa-mar.

Num fim de tarde, as marés a isso obrigaram, embarcámos nas LDM e ficámos fundeados a meio do rio Cacine em companhia do NRP Alvor, que nos iria comboiar até Catió. O 2º tenente da RN, comandante do NRP Alvor, convidou-nos, a mim e ao alferes Esteves, para bordo e entre umas (muitas) cervejas e não menos ostras, passámos a noite. A hospitalidade habitual da Marinha.

As embarcações suspenderam o ferro com o nascer do sol (exigências da maré) e lá seguimos para Catió. No último troço da viagem, já o rio era mais estreito, portanto já não era o Cacine, fomos acompanhados por T6 no ar e fuzileiros em zebros a vasculharem o rio, já que tinha havido, recentemente, um qualquer "conflito" entre uma embarcação e uma mina. Nada se passou, e o fogo de reconhecimento para as margens, a partir das LDM, não teve resposta.

Não houve incidente algum portanto, mas a viagem foi um bocado complicada, em termos logísticos. Um pelotão de nativos integra as familias dos militares, os seus haveres e animais domésticos. Família, haveres e animais domésticos que afinal eram o triplo ou quádruplo do inicialmente inventariado. Nos animais domésticos estão incluídos os porcos dos não islamizados, que terão que viajar separados dos islamizados. E a aguardente de cana. E o ... e a mulher do ... e o "alferes desculpa mas não pode ser". Em coluna auto lá se arranjam, mas em LDM não foi fácil. Valeu a paciência dos furrieis, um deles de nome Neves e do 2º sargento (...).

Catió tinha uma estação de correios com telefone para a metrópole, um restaurante daqueles em que se come e no fim se pede a conta e se paga. E pessoas brancas sem serem militares. Um espanto!

O plano inicial era os dois pelotões deslocarem-se por estrada de Catió para Cufar. Esse percurso já não era utilizado há bastante tempo (meses?) e foi considerado de risco muito elevado. Não me lembro dos argumentos avançados, mas acabámos por ir para Cufar por rio (LDM com desembarque em Impugueda no rio Cumbijã ou sintex/zebro com desembarque em Cantone? - não tenho a certeza, pode ser que alguém de mais fresca memória se lembre). (...)

Armindo Batata (Excerto) (****) 

[ Revisão / fixação de texto: LG ]


Guiné > Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Mejo, Guileje, Gadamael Porto, Cacine, rio Cacine, rio Cumbijã, Catió e Cufar, na egião de Tombali, na parte sudeste da Guiné, que faz fronteira com a Guiné-Conacri. Foi este o percurso, por terra e rio, que fizeram em dezembro de 1960 e janeiro de 1970, os Pel Caç Nat 51 e 67. (Vd. texto acima, do Armindo Batata).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022).
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Notas do editor:



(***) Vd. poste de 27 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10582: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (9): Ainda a curta estadia em  Cacine, a caminho de Cufar,  em dez 69 e jan 70


(*****) Último poste da série > 20 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23540: Memória dos lugares (442): Rio Cacine, Cafal, Cananima, ontem e hoje

Guiné 61/74 - P23544: Notas de leitura (1477): "A Guerra de Bissau, 7 de Junho de 98", por Samba Bari, um guineense diplomado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada; Sinapis Editores, 2018 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
É meritória a iniciativa de Samba Bari, coligindo e tratando de notícias que ele guardou, vivia no estrangeiro quando eclodiu o conflito político-militar. Claro que a bibliografia do conflito é hoje apreciável, mas é sempre estimulante acolher novos olhares. Pode haver poucas novidades, mas toda esta reportagem tem um fundo de melancolia, um anúncio de desaire, era inevitável que toda aquela destruição, o reacender de ódios entre velhos camaradas iria forçosamente apresentar uma dolorosa fatura que se chama de trauma. E não houve uma personalidade política capaz de conclamar a reconciliação e o andar para a frente, dentro de um estado de sincero perdão. Samba Bari fez bem em também socorrer-se da história oral, atenda-se ao depoimento que colheu a Hélder Vaz, hoje embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, pleno de patriotismo e apegado ao bom relacionamento luso-guineense.

Um abraço do
Mário



Um guineense usa a reportagem para contar o conflito político-militar de 1998-99 (1)

Beja Santos

A obra intitula-se "A Guerra de Bissau, 7 de Junho de 98", o seu autor é Samba Bari, um guineense diplomado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada que vive em Manchester, Sinapis Editores, 2018. Trata-se de mais um contributo sobre o conflito político-militar que devastou a Guiné-Bissau por cerca de onze meses. Sobre este conflito, Samba Bari entendeu socorrer-se dos órgãos de comunicação social, e baseado em todo este acervo noticiarista escreve um livro que é uma autêntica reportagem. Para o leitor interessado, lembramos que há obras literárias sobre o conflito, caso do esplêndido relato "Comandante Hussi", por Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira, Clube do Autor, 2011, Jardim Botânico, um romance de Luís Naves, Quetzal Editores, 2011 e vários relatos como "Bissau em chamas", de Alexandre Reis Rodrigues e Américo Silva Santos, Casa das Letras, Lisboa, 2007, "Crónica dos (des)Feitos da Guiné", por Francisco Henriques da Silva, Almedina, 2012, o "Conflito Político-militar na Guiné Bissau", por Guilherme Rodrigues Zeferino, IPAD, 2003, "Guiné – 24 anos de Independência, 1974-1988", por José Zamora Induta, Hugin Editores, 2001 e o estudo científico "Colapso e Reconstrução Política na Guiné-Bissau (1998-2000)", Lars Rudebeck, Uppsala, 2011 (versão portuguesa), isto para não esquecer "História(s) da Guiné-Bissau", de que sou autor, Edições Húmus, 2016.

O pretexto da reportagem tem a ver com o facto de Samba Bari ter vivido no estrangeiro esta guerra de pendor fratricida, pegou nos textos dos jornais guardados, recorreu à história oral e dá-nos o seu ponto de vista, sem alardes. Até 7 de junho de 1998, a Guiné-Bissau podia orgulhar-se, a despeito de se poder considerar ter um regime despótico, não ter sofrido de uma guerra devastadora, tudo ficara circunscrito, em 1980, a um golpe de Estado que afastou um conjunto de cabo-verdianos da cúspide do PAIGC, acontecimento que conduziu à separação da Guiné de Cabo Verde. O que começou em 7 de junho terminou em 7 de maio do ano seguinte, quando a Junta Militar, dirigida por Ansumane Mané chegou a Bissau e Nino Vieira, após se ter refugiado na embaixada portuguesa, partiu para o exílio. Conflito devastador do princípio ao fim, na derradeira batalha viam-se dezenas de corpos caídos por terra enquanto o palácio presidencial foi saqueado e incendiado. A violência não acabou nesse dia, Ansumane Mané terá sido executado em novembro de 2000, a cerca de trinta quilómetros de Bissau, outros elementos da Junta irão ser mortos, posteriormente.

Samba Bari elenca algumas das causas remotas e próximas que conduziram a um conflito que teve caraterísticas muito especiais: iniciados os tiroteios que marcaram a revolta, consciente de que à volta de Ansumane Mané estava a nata de todos aqueles que tinham lutado pela independência, Nino Vieira pediu apoio internacional ao Senegal e à Guiné-Conacri, jamais terá pensado que o armamento destes países e os respetivos militares irão personificar a sua derrota. O presidente, outrora carismático, ficou circunscrito a Bissau; a Junta Militar só lhe deixou saída para o mar e as principais estradas foram bloqueadas e o aeroporto tomado. Em poucos dias a capital esvaziou-se, o corpo diplomático fugiu, com exceção do embaixador português, os tiroteios iam destruindo infraestruturas, os hospitais não escaparam.

Samba Bari procura dar-nos o retrato do ditador, do seu círculo de fiéis, da ganância dos seus negócios, dos seus ódios de estimação, do trauma que provocou quando mandou executar Paulo Correia, 1.º Vice-Presidente do Conselho de Estado, Viriato Pã, Procurador-Geral da República, à frente de um rol de mais 44 acusados. A política externa de Nino era completamente errática, umas vezes do lado da China Popular, outras da Formosa, umas vezes com Israel e a Indonésia, o que criava mal-estar no seio da Organização da Unidade Africana e Portugal, no caso da Indonésia era inaceitável este estreitamento de relações quando Timor estava ocupado. Ao longo dos últimos anos o relacionamento com a chefia das Forças Armadas deteriorara-se. A causa próxima tinha a ver com o tráfico de armas para o Casamansa, uma região em permanente conflito com Dacar, um conflito étnico aparentemente insolúvel. Nino acusava Ansumane de ser o responsável pela venda clandestina de armas aos revoltosos, Ansumane dizia literalmente o oposto. E não havia grandes dúvidas de que nas primeiras eleições democráticas de 1994 a vitória de Nino sobre o seu adversário Kumba Yalá estava envolta de bastante batota. Ao destituir Ansumane Mané do cargo de Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Nino incendiou as Forças Armadas. No início desse dia 7 de junho, a casa do brigadeiro Ansumane Mané foi atacada a tiro, o brigadeiro Bric-Brac (seu nome de guerra) não estava lá, tinha ido convocar os seus fiéis homens de armas. Horas depois três fiéis de Nino caíram numa emboscada na estrada que liga o aeroporto ao centro da capital. Começaram os tiroteios, Nino desistiu de uma viagem ao estrangeiro, barricou-se no Palácio Presidencial.

O descontentamento nas Forças Armadas não podia ser maior, com salários em atraso, tinha havido o abandono das fileiras de centenas de militares, Ansumane foi à procura dos mais resistentes e operacionais. No interior, a população militar era flutuante. Por exemplo, o quartel de Gabú, poucos dias antes da guerra, tinha apenas um militar e o de Bafatá três. A Junta Militar recrutou todos os descontentes, muitos deles esperavam uma oportunidade para obterem o estatuto semelhante aos designados “Combatentes da Liberdade da Pátria”, que eram todos aqueles que tinham combatido o colonialismo português.

Samba Bari recorda o procedimento de António Guterres, da CPLP, do Comandante Hélder Costa, do “Ponta de Sagres”, que correndo os maiores riscos atracou no cais de Bissau para recolher os fugitivos; o comportamento do embaixador português que se recusou a partir e que se revelará um destacado chefe de missão, tentando que as conversações diplomáticas chegassem a bom porto; a tentativa da Gâmbia para um cessar-fogo, que falhou; uma entrevista a Hélder Vaz, então presidente do grupo parlamentar do Movimento Bâ-fata (e hoje embaixador da Guiné-Bissau em Portugal) sobre as razões da crise; o estado calamitoso das multidões em fuga, a criação de fundos humanitários, a propaganda de um lado e do outro, a tentativa do bispo de Bissau, D. Artur Septímio Ferrazzeta, que tentou improficuamente o diálogo entre as partes; a raiva que se ia apoderando dos revoltosos com a duplicidade da política francesa; a tentativa de mediação da CPLP que conduziu ao memorando de entendimento que foi rubricado em 23 de julho de 1998 a bordo da Fragata “Corte Real” e a desilusão posterior; e a oposição guineense a querer ver os senegaleses fora da Guiné. Entretanto, prosseguiram outras conversações, há a esperança de se ter chegado a um cessar-fogo. Esperança de pouca dura.

(continua)

Tanque abandonado, imagem da guerra civil de 1998-99
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23539: Notas de leitura (1476): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (2) (Mário Beja Santos)

domingo, 21 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23543: In Memoriam (449): Gratas recordações do confrade António Júlio Emerenciano Estácio (1947-2022) (2): Uma viagem a Bissau para saber mais sobre a mítica Nha Carlota (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de hoje, 19 de Agosto de 2022 do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):

Queridos amigos,
Antes do António Estácio partir em 2006 para Bissau, numa daquelas conversas espúrias em voz baixa num recanto da biblioteca da Sociedade de Geografia, fiquei a saber quem era Nha Carlota, nem ela a conheceu pessoalmente nem me foi referenciada nas minhas passagens por Bissau. Reli empolgado a sua inquirição em vários lugares da Guiné onde foi encontrar testemunhos sobre esta negociante que se distinguia por receber em sua casa, em Nhacra, quem quer que lhe batesse à porta, ao cheiro dos seus petiscos, tudo gratuíto, os amesendados só pagavam as bebidas. Uma longa história de negócios e como nos romances mantém-se no mais completo dos segredos a sua vida privada desde que chegou à Guiné, em 1911, até ter casado em finais de 1936, com um antigo empregado, companheiro até ao fim dos seus dias. Um nome que se tornou uma lenda, pela generosidade e afabilidade, leem-se os testemunhos de quem a conheceu e não é difícil perceber a reverência pela Senhora de Nhacra. Que bonito gesto, o do António Estácio, deixar cinzelado no seu tão belo testemunho, a história desta mulher.

Um abraço do
Mário



Gratas recordações do confrade António Estácio:
Uma viagem a Bissau para saber mais sobre a mítica Nha Carlota


Mário Beja Santos

Não sei exatamente se foi em 2005 ou no princípio de 2006 que a subir a escada que dá acesso à Biblioteca da Sociedade de Geografia o António Estácio dá-me a seguinte notícia: imagina que vou a Bissau, recebi apoio para investigar um pouco mais sobre a Nha Carlota. Surpreso, perguntei-lhe quem era a dita. “Nunca foste comer a canja de ostra a Nhacra, em casa da Nha Carlota? Havia ali a melhor cozinha da Guiné, era a senhora mais conceituada da região, com grandes negócios, era ela quem arrematava tudo, o marido ficava atrás, era lendária a sua generosidade”. Ficámos por aqui, cada um foi à sua vida, uns bons meses depois voltou e disse-me que se entregava de alma e coração a pôr todos os seus apontamentos em forma de livro. E em 2010 ofereceu-me Nha Carlota, Carlota Lima Leite Pires, edição sua. Como oportunamente escrevi em recensão aqui feita, era mais uma prova do deslumbramento do António Estácio por pessoas devotadas à sua terra natal e que se tinham distinguido por praticar o bem. Ele replicava escrevendo uma narrativa em sua memória. E esta é digna de pedra mármore.

Muita investigação, bateu à porta de muita gente, foi bem acolhido no essencial, e deixa-nos uma Nha Carlota a roçar a intemporalidade. Não esconde a profunda admiração pela biografada: “É bem o arquétipo de alguém que, oriunda de Cabo Verde e moldada pela dura escola da vida, atingiu invulgar notoriedade na Guiné, onde viveu cerca de seis décadas.” Era conhecida por Nha (Senhora) Carlota do Cumeré ou de Nhacra, visto ter tido negócios em ambas as povoações. Sabe-se que faleceu no Hospital da Parede em setembro de 1970, fica por apurar de que tipo de fratura foi ali tratar, segundo o médico terá sido de fratura do colo do fémur, que obriga à imobilidade e suscita problemas cardíacos.

Já estaria casada com João José Pires em finais de 1936, mas teve uma filha e um filho antes do casamento com este seu antigo empregado. É suposto que tenha nascido em 1889, o António Estácio visitou o cemitério de Bissau e lá fez as suas deduções para chegar a esta data. Era natural de Santo Antão, terá chegado à Guiné em 1911, ela teria então 21 ou 22 anos. E descreve-a: “Alta e de tez clara, constituía uma bela figura, direi mesmo imponente, cujo resoluto olhar irradiava uma grande determinação. A opinião pública é unânime em realçar-lhe a simplicidade no convívio e a hospitalidade, bem patente na lhaneza do seu trato com que a todos recebia.” Era uma admiradora incondicional de Salazar, havia no seu espaço íntimo uma fotografia do ditador, poucos se atreviam a chacotear o seu nome, e em casos tais ela pedia para as pessoas não voltarem. Altruísta, pródiga a ajudar quem precisava, célere a interceder em benefício de terceiros.

E vamos acompanhando a investigação testemunhal, sempre que necessário o António Estácio pôs-se ao caminho para ouvir depoimentos de quem com ela fez negócios, conviveu, recebeu conselhos ou era seu afilhado, deixou-os em grande quantidade. E há a ternura das imagens, naquela viagem de 2006 fez o possível e o impossível para obter imagens de Nha Carlota, que dá à estampa na sua bela narrativa. Quando chegou a luta armada, a sua vida social foi sujeita a grandes alterações, apoiava primordialmente os militares sediados em Nhacra, continuava a abastecer-se em Bissau, viajava através do Impernal na maré-baixa, sempre acompanhada por dois guardiões balantas, a sua sombra, mas nunca ninguém a molestou.

Limito-me a discorrer sobre este texto que vim propositadamente reler à mesa onde ele se sentava, outra homenagem inequívoca não lhe sei prestar, mas seria impensável findar este punhado de recordações sem citar o final do seu livro:
“A ingratidão dos homens e a inexorável voragem dos anos tardam em prestar a merecida distinção. A postura assumida e reconhecida, permitiram-lhe ombrear com grandes vultos da sociedade guineense, pelo que a sua evocação se me afigura ser de elementar justiça. E, embora nunca com ela tenha privado, esta foi a forma que encontrei para lhe tributar o meu reconhecimento, lamentando não ter tido o engenho e arte suficientes para a enaltecer como merecia.”

Como estás enganado, António Estácio, o que há de mais cativante nessa viagem de 2006 foi este processo de enaltecimento completamente desinteressado a uma mulher de boa vontade, que parecia destinada a ficar exclusivamente na memória da tradição oral africana. E nesta secretária em que tanto labutaste já estão mais três livros para te referenciar, tu és credor de todo o nosso agradecimento.

Carlota Lima Leite Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23536: In Memoriam (448): Gratas recordações do confrade António Júlio Emerenciano Estácio (1947-2022) (1): Um homem bom, um estudioso que ligou a China à Guiné, sua terra natal (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23542: Blogpoesia (782): "O ar fresco da tristeza" e "A grávida mais linda que já vi", poemas ilustrados por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


O AR FRESCO DA TRISTEZA

A vida havia-lhe ensinado
que o mais belo poema
se faz de gestos e palavras simples
quando dois corpos amantes se unem
como a clara e a gema.
Fora da jaula e com a ponte ao longe
sentia-se voar
e dizia que o ar fresco da liberdade
acendia nela o desejo ardente
de fugir e não voltar.
O céu abria-se dentro de casa
quando ele a via frente ao espelho
provando a blusa que lhe trouxera de fora.
Tocar ao de leve a sua pele de seda
coberta apenas pela blusa que vestia
sentir nos dedos a maciez do sexo
que à luz dos olhos se oferecia
era um poema…
que em versos de fogo se fundia.
Para lá da beleza e da lacrimosa melancolia
era a ternura da infelicidade
o que mais lhe prendia aos olhos
aquele corpo de sonho e magia.
Os seus beijos
não tanto pela sensualidade
como pela necessidade de fuga
para um qualquer lugar de paz e segurança
tornavam mais dolorosa
a hora que viria a seguir sem ela
e sem esperança.
A alegria que tinha ao vê-la entrar era tão grande
quanto a tristeza que sentia ao vê-la sair
contando-lhe os passos.
Era como se o mundo caísse ao chão e se partisse
e não houvesse forma de unir os pedaços.


adão cruz


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© ADÃO CRUZ


A grávida mais linda que já vi

Foi a grávida mais linda que já vi.
Tinha olhos aguados de ternura
olhos mansos de sonho e distância
olhos de sexo infinito.
Tinha estrelas pequeninas nas maçãs do rosto
e os lábios frutavam de carnudos
com gosto a sol e a sal.
A grávida mais linda que já vi
dormia no ventre da serra-mãe
entre asas e desejos
cabelos mortais sonhados de horizonte
hálitos de feno e maresia
que o sol acordava no acordar de cada dia.
O seu corpo nascia das ondas eternas
e ondeava como seara madura.
A grávida mais linda que já vi
na paisagem lisa e amarga do tempo
dormia na areia branca
e tinha flores brancas
na raiz branca das coxas
dos beijos da espuma branca
que do mar sobrava.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23524: Blogpoesia (781): "Na Foz do Douro" e "Uma andorinha do Arctíco", poemas ilustrados da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

sábado, 20 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23541: Os nossos seres, saberes e lazeres (519): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (64): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Junho de 2022:

Queridos amigos,
Confrontado pela situação deplorável de que as exposições patentes incluíam estranhíssimas instalações, pedregulhos, fiadas de metal, umas telas a lembrar Jackson Pollock, decidi-me pelos clássicos, e comecei pela minha Capela Sistina, René Magritte, uma profunda admiração que leva décadas, inextinguível. Quando hoje ouvimos tanta pregação sobre o direito à diferença, a igualdade de género, o respeito pela diversidade, encontro em Magritte um prato de substância que devia ser oferecido às novas gerações, está aqui o vigor da liberdade de pensamento, a possibilidade de torcer e distorcer formas e conteúdos até que tudo fique claro, como festa da cultura, a necessidade inevitável de procurar chegar ao Outro, porque nada é exatamente como vemos, temos direito à busca de sentido. Assim se passou uma belíssima tarde que antecedeu a viagem até Namur, como aqui se irá contar.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (64):
Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia – 2


Mário Beja Santos

A tarde é reservada a visitar cuidadosamente um santo do meu culto, René Magritte, o maior expoente do surrealismo belga, um dos nomes maiores de todo o movimento, à escala mundial. Quando passei a visitar Bruxelas, Magritte ocupava uma grande sala no Museu de Arte Moderna, na generalidade dos casos os quadros expostos eram uma doação da viúva, Georgette Berger, nome de solteira. O acervo aumentou e Magritte passou a ter direito ao seu próprio museu (2009), independente do Museu de Arte Moderna, é a maior coleção existente de obras do artista. Como era próprio da época, os Magritte iniciaram a sua vida com orçamento apertado, ele trabalhou em artes gráficas, fez publicidade, a sua arte foi evoluindo, nós temos essa perfeita perceção nas primeiras salas do museu. Georgette vendia materiais para artistas no centro da cidade, a dois passos da Grand Place, enquanto Magritte trabalhava na cabana ao fundo do jardim da casa nos seus cartazes. As obras desse período são pintadas na sala de jantar e armazenadas na mansarda. Os seus primeiros quadros são figurativos, aliás toda a sua arte surrealista é sempre figurativa. Expõe pela primeira vez em 1927, 4 anos depois no Palácio das Belas Artes, em 1933 é já um número sonante da arte belga. Existe um Museu Magritte numa rua em Bruxelas, para os aficionados deste génio não ficarão dececionados com a visita, a história dos Magritte conta-se à medida das divisões, vê-se a correspondência, fotografias, objetos e obras, toma-se conhecimento das afinidades eletivas deste homem de costumes sóbrios e chapéu de coco nascido em 1898 e falecido na comuna de Schaerbeek em 1967.
A viagem ao santo do meu culto decorre no interior de um edifício neoclássico assinado Alphonse Balat, é um espaço de 2500 m2 em 5 andares, cerca de 200 obras, as influências, as tertúlias, a singularidade do seu génio, tudo nos é acessível ao longo destas salas, tudo suficientemente bem organizado para ser Magritte quem nos interroga, pondo em causa ordem e ideias feitas, como se nos estivesse a convidar a entender o vigor do seu olhar através da pintura, de fotografias e filmes. E começa a viagem.

O primeiro Magritte, ainda condicionado pelo seu labor nas artes gráficas e pela corrente modernista
Chegámos à liberdade do olhar, o título da obra parece estar sempre em discordância com o que estamos a ver, tantas vezes uma leitura em antinomia, sente-se que Magritte nunca se condicionou a quaisquer regras da cor, tratou sempre livremente a ocupação do espaço, devia divertir-se imenso com a surpresa permanente que toda a sua obra motivou (e motiva), é um voo de pássaro liberto de peias, de exigências académicas e até mesmo de cedências ao grande público. Mal sabia ele que alguns dos seus quadros iriam ser objeto de reproduções que se podem encontrar em todos os continentes, é essa a força do diálogo das culturas.
Não vale a pena estar a pontificar, não terei mais aprazimento do que o leitor ir até à biblioteca ou comprar livros sobre Magritte, este homem tinha pensamento, deixou um cem número de intervenções, algumas delas de elogio a artistas que estimou profundamente, como Georges Braque, James Ensor, Francis Picabia, ou Paul Delvaux. A sua inspiração para a sua pintura revolucionário terá sido acicatada quando lhe conheceu quadros de Giorgio de Chirico. Magritte era muito sensível a um verso de Paul Éluard, “Nos olhos mais sombrios fecham-se os mais claros. A consigna estava lançada, toda esta arte é destinada a refletir, a fazer-nos perder o fôlego, a exigir uma leitura do que se pode e deve ver para além das aparentes contradições.
Uma escultura, cujos elementos podemos igualmente encontrar na pintura
O impossível para o pensamento possível, é uma arte assente na liberdade do pensamento, são signos materiais dessa liberdade. O sentido é o impossível para o pensamento possível. Pensar no sentido significa, para o pensamento, libertar-se dos estados que o caracterizam habitualmente. O pensamento possível é um meio, que não pode aprisionar o pensamento livre. Magritte dixit.
Conheceram-se num jardim, amaram-se toda a vida, ele representou-a profundamente, divertiram-se imenso e ela acreditava piamente na arte de Magritte.
Todos estes quadros seriam calorosamente recebidos nos principais museus de Arte Moderna. Esta última intitula-se “O Império das Luzes”, é um desafio ao olhar, ultrapassar a ideia do contraditório entre uma paisagem noturna e um céu que poderia ser do meio dia. Magritte escreveu que esta última interpretação tem a ver com o poder de nos surpreendermo-nos e de nos encantarmo-nos, é um poder que se chama a poesia, não se trata de um jogo de discordâncias ou dissidências, é um modo de sentirmos em nós a força dessa poesia, a leitura do nosso olhar que acompanha o propósito do pintor.
Também tenho direito a intervir, encontro esta fresta sobre o Monte das Artes, vejo lá ao fundo a altíssima flecha do edifício medieval que é a autarquia na Grand Place, lugar icónico dos turistas, embeveço-me com este céu de Magritte (salvo seja), sabe-se lá porquê depois de comungar nesta arte genial sinto-me mais livre, mais amante desta Europa, este artista legou-nos a força avassalador da liberdade, de pensar para ver o mundo de outra maneira, bem podem dizer que a Europa está decadente mas é aqui que temos mais democracia por m2, e este santo do meu culto é um perfeito acólito que transportou para a arte as imagens do livre pensamento. E é a matutar nestes resultados que vou fazer compras para o jantar, prevejo amanhã um dia excecional, vamos a Namur, começamos em Saint Marc e haverá passeio pelo Meuse. Irei contar.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23521: Os nossos seres, saberes e lazeres (518): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (63): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 1 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23540: Memória dos lugares (442): Rio Cacine, Cafal, Cananima, ontem e hoje

 

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine, em frente a a vila de Cacine. (*)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine,  Canoas.(*)


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Praia fluvial e aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do rio Cacine, Construção de canoas. (*)

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio > Rio Cacine, perto do cais de Cacine: Tarrafo...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Era domingo, para nós, participantes (a maior parte estrangeiros...) do Simpósio Internacional de Guiledje, de visita ao sul do país... mas não para o pescador, que precisa de remendar as redes e ir à pesca..


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A simpatiquíssima Cadidjatu Candé (infelizmemte já falecida, segundo informação do Zé Teixeira), da comissão organizadora do Simpósio Internacional de Guileje e colaborada da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, servindo um fabuloso arroz com filetes de peixe do Cacine e óleo de palma local, que tem fama de ser o mais saboroso do país, devido à qualidade da matéria-prima e às técnicas e condições de produção (artesanal). Na imagem, um diplomata português, o nº 2 da Embaixada Portuguesa, que integrou a nossa caravana (e cujo nome, por lapso, não registei, lapso de que peço desculpa).

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Um dos pratos que foi servido no almoço de domingo, aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje, foi peixe de chabéu, do Rio Cacine, do melhor que comi em África... Durante a guerra colonial, na zona leste, em Bambadinca, só conheci conhecíamos o desgraçado peixe da bolanha..


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Depois de um belíssimo almoço em praia fluvial e porto piscatório de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, houve um grupo de cerca de 30 valentões (e valentonas) que se meteram numa canoa senegalesa, motorizada, de um pescador local, e aproveitaram a tarde para visitar a mítica Cacine.  Sem coletes salva-vidas!... A distância entre as as duas margens ainda é grande... A canoa a motor, carregada de pessoal, terá levado meia hora a fazer a travessia...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > O nosso amigo, o saudoso  Leopoldo Amado (1960-2021) , historiador, um dos organizadores do Simpós
o e conferencista, veio encontrar aqui um antigo condiscípulo de liceu, hoje administrador de Cacine (sector de Quitafine).


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Está na hora do regresso a Cananima... O pessoal deixa Cacine, já ao fim da tarde, de sapatos na mão, para tomar o seu lugar na canoa... Em primeiro plano, a Maria Alice Carneiro e o antigo embaixador cubano, na Guiné-Conacri, Oscar Oramas (estava lá, quando foi assassinado, em 1973, o fundador e dirigente histórico do PAIGC)..

Fotos  (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima >  9 de Dezembro de 2009 > c. 18h >  Pescador e canoa da aldeia piscatória de Cananima, na margem direita do Rio Cacine, frente a Cacine. (**)

Foto  (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tomvali > Rio Cacine > Praia de Cafal, na margem direita do rio > 2022 > De costas, em primeiro plano, o padre Carlos, dos missionários  Oblatos da Maria Imaculada, que chegaram aqui há 10 anos, acrescentando  Cacine às duas missões ja existentes, a de Antula, Bissau, e a de Farim. Em Cacine têm duas escolas, uma em Cafal e outra em Quitafine  (que tem 270 alunos). O padre Costa conversa com os mototaxistas, que são o único transporte motorizado que aqui existe (para além das canoas)...


Guiné-Bissau > Região de Tomvali > Rio Cacine > Praia de Cafal, na margem direita do rio > 2022 > Um dos mototaxistas com uma T-shirt "made in China"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2022 > Uma loja de roupa

Fotos (e legendas) de Andre Cuminatto (2022), "Além-Mar" (revista dos Missionários Combonianos), abril 2022, pp. 44-45 (com a devida vénia)


1. Estivemos aqui há 12 anos, andámos por aqui (e comemos, ao almoço o belíssimo peixe do rio Cacine, um fabuloso chabéu de peixe), por altura  de uma visita ao Cantanhez, em 2 de março de 2008, no âmbito do Simpósium Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008). E escrevemos (*):

(...) A região de Tombali, com pouco mais de 3700 km2 (o que representa cerca de 10,3% do território da Guiné) e pouco mais de 90 mil habitantes (7,1% do total) tem grandes potencialidades, devido ao seu património ambiental e cultural, ainda insuficientemente conhecido e valorizado pelos próprios guineenses. A jóia da coroa é o massiço florestal do Cantanhez e os dois rios principais que o atravessam, o Cumbijã e o Cacine. (...)

(...) Cananima é uma praia fluvial e um aldeia piscatória. Gente de vários pontos, desde os Bijagós até à Guiné-Conacri, vêm para aqui trabalhar na actividade piscatória. No entanto, é preciso saber gerir os recursos do rio e do mar com sabedoria... A sobre-exploração de certas espécies pode ser um desastre... Por outro lado, as infra-estrututuras de apoio à pesca são precárias ou inexistentes. (...)

(...) No estaleiro naval artesanal, de Cananima, também se constroem barcos, segundo os modelos tradicionais. A matéria-prima, a madeira, é abundante. Abate-se uma árvore centenária para fazer uma piroga. Felizmente, as pirogas não são feitas em série. E hoje há, também felizmente, restrições ao abate de árvores no Cantanhez. O problema são, muitas vezes, os projectos megalómanos e inconsistentes, que acabam por morrer na praia, como estas embarcações senegalesas que viemos aqui encontrar. (...)

(...) Em frente, do outro aldo do rio, fica Cacine, que tem muito que contar, aos nossos camaradas do exército e da marinha... Alguns deles ficaram por aqui, enterrados e abandonados... A guerra e as suas memórias estão por todo o lado, não nos largam. (...)

(...) A areia não é fina, as águas não são azuis, nem a paisagem é a mais bela do mundo, mas tudo depende dos olhos com que se olha, dos ouvidos com que se ouvem, das emoções com que se capta o instante, o efémero, o diferente (..).

(...) É preciso salvar o Cantanhez, dando uma chance às crianças de Tombali. Projectos como o ecoturismo, ou o turismo de natureza, podem vir a ser um factor dinamizador de mudanças, a nível local e regional. (...)

(..) A diversidade étnico-linguística e cultural da Guiné-Bissau, em geral, e do Tombai, em particular, não deve ser vista como uma obstáculo, mas sim como um factor potenciador da cidadania e do desenvolvimento... Os demónios étnicos não podem é dormir descansados na Caixinha de Pandora... Combatem-se com as armas da saúde, da educação, da democracia, da integração, do desenvolvimento económico, social e cultural... (...)


2. Há dias lemos na revista "Além-Mar" um interessante artigo, "Evangelho e promoção social na Guiné-Bissau: Cacine, Missão Escolar", edição de abril de 2022 (pp. 43-45)... Tomamos a liberdade de reproduzir aqui este excerto do viajante e jornalista italano, Andrea Cuminatto.

(...) Na orla, entre as vacas que lambem o sal deixado pela maré alta, há também, um grupo de pescadores. Um é da Serra Leoa, outro da Libéria e ainda outro do Gana. Vêm da vizinha Guiné: sairam de Conacri,  com dois barcos de pesca e foram vistos a pescar, surpreendidos sem autorização nas águas da Guiné-Bissau. Há doze dias que estão à espera no pequeno cais de cimento que o seu chefe envie o dinheiro para pagar a multa do resgaste e poder zarpar. 

Até para os pescadores locais não é fácil tirar algo destas águas. Desde que os Coreanos compraram os direitos de pesca, a maior parte da captura é congelada  e enviada para a Ásia. E assim as pirogas,  feitas de madeira muito leve de ' fromager', tão ágeis nestas águas plácidas, descansam na areia, carregando pouquíssimos peixes nas panelas de Cacine. Estamos satisfeitos com o arroz, pelo menos não falta" (...) 

A vila de Cacine tem hoje 2 mil habitantes. E já nada é como dantes... (***)
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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23539: Notas de leitura (1476): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
Prossegue a narrativa deste batalhão que congregava diferentes armas, companhias e pelotões. Estava sediado em Buba, a área de atuação era extensa, competia-lhe reocupar povoações abandonadas onde o PAIGC estava convencido de uma total segurança e incapacidade de reação das nossas forças armadas. As bases de apoio eram muitas, aqui residia a apetecível cultura do arroz e daí a intensidade da vigilância, como aliás iremos ver noutros pontos da Guiné, caso do Poidon, junto da Ponta do Inglês, ricos arrozais indispensáveis para a segurança alimentar de quem estava do lado da guerrilha. Reocupou-se o chão Fula e vamos ouvir falar constantemente em Aldeia Formosa, Guilege, Cacine, Gadamael, Mampatá, Cacoca, Sangonhá, Ganturé, Cameconde, Cantanhez. Pergunto-me se teria sido possível doutra maneira, e com menos sacrifício e com maior efetividade, obter-se o resultado de enfrentar as arremetidas do PAIGC. E vou reforçando a convicção de que está por reparar (e não sei se alguma vez se reparará) a tremenda injustiça de dizer que os dois oficiais generais que precederam Spínola não revelaram uma enorme capacidade para confrontar o adversário, com os meios disponíveis ao seu alcance. Foram pouco mediáticos estes dois oficiais generais e pagou-se-lhes com a fatura do esquecimento ou da ignorância (que muitas vezes é útil na historiografia de caráter manipulador).

Um abraço do
Mário



Um documento eloquente, peça de historiografia: A história do BC 513 (2)

Mário Beja Santos

Por que motivo atribuo tanto relevo a este documento? Publicado em 2000, numa verdadeira edição para amigos, a História do BC 513, da autoria de Artur Lagoela, abre luz sobre o primeiro ano da guerra, o estado do conflito na região Sul, os colonos já tinham desaparecido e as populações, espavoridas ou rapidamente afetas ou constrangidas, com maior ou menor brutalidade, pelo PAIGC, tinham-se disseminado pelas pequenas vilas à sombra das tropas portuguesas, ou nas matas ou na República da Guiné. Este batalhão cumpre as instruções do Comando-Chefe, vai procurar ocupar posições que permitam travar a penetração da guerrilha, derrotá-la no Interior, dar segurança a quem fica à sombra da soberania portuguesa. Os Fulas da região são colaborativos, vão mesmo combater com as tropas metropolitanas.

Em 17 de dezembro de 1963, ocupa-se Gadamael, veio primeiro um destacamento de fuzileiros, segue-se a CART 494, o PAIGC oferece pouca resistência; de 4 a 8 de fevereiro de 1964 ocupa-se Guilege e no dia 20 do mesmo mês abre-se o itinerário Guilege – Gadamael, dias depois ocupa-se Ganturé, patrulha-se os itinerários Aldeia Formosa – Gadamael, Guilege – Mejo e os acessos à fronteira. O PAIGC embosca e provoca vítimas mortais; em maio abre-se o itinerário Gadamael – Sangonhá e ocupa-se Sangonhá, os paraquedistas ajudam. Concluída a abertura do itinerário Aldeia Formosa – Cacoca, inicia-se um esforço no melhoramento das defesas, a pensar nas populações dos regulados de Guilege, Gadamael e Cacine; e faz-se o reconhecimento aonde a CART 496 irá instalar o futuro destacamento de Cameconde. Concluía-se assim a abertura do itinerário Cacine – Cacoca – Guilege – Mampatá – Aldeia Formosa – Buba.

Já se referiu que este documento agrega um conjunto de relatórios que abrem luz sobre o desencravamento na região Sul, como se procurava suster a presença do PAIGC ocupando posições e dando segurança às populações que a reclamavam. Ainda não chegaram as minas anticarro, os pelotões Fox e Daimler dão uma ajuda excecional, os documentos evidenciam essa realidade com a abertura do troço Cacoca – Cacine, Cacoca – Cameconde e Cacoca – Cameconde – Cacine.
E escreve-se:
“O IN levava a efeito inúmeras emboscadas ao longo de todos os itinerários controlados pelas NT em especial no de Buba – Aldeia Formosa e Rio Balana – Gadamael. Era sua preocupação dominar os itinerários que utilizavam para os seus reabastecimentos de material. Na estrada Buba – Aldeia Formosa, designadamente junto ao cruzamento de Buba e à bifurcação de Sinchã Cherno, implantou minas e montou emboscadas às nossas colunas, estas muitas vezes conjugadas com o rebentamento de fornilhos. Empenhou-se ainda na destruição de principais pontes e pontões no setor. Na totalidade, o IN implantou 66 minas anticarro, das quais foram detetadas e levantadas 46; o IN, acossado pelas NT ao longo da fronteira e no rio Cacine e afluente, decidiu-se usar a penetrante de Guilege para fazer passar a maioria dos seus reabastecimentos”.

Não menos interessante é um relatório assinado pelo Alferes Miliciano Ivo Januário Dias, de 11 de junho de 1964, referente a uma emboscada na estrada Aldeia Formosa – Fulacunda, no cruzamento de Buba, uma ação com dois pelotões.
E escreve o seguinte:
“O IN vinha escalonado: um explorador; cerca de dez metros atrás dois indivíduos (provavelmente); mais dez metros atrás um grupo inferior a dez homens e dois ou três metros depois o grosso da coluna bastante numeroso de cerca de cem homens. Naturalmente metidos no mato, caminhavam dos dois lados da estrada exploradores laterais que, no entanto, vinham atrasados em relação à vanguarda. Cerca das 20 horas, foram ouvidos os primeiros passos em marcha acelerada na estrada, distinguindo-se vagamente que era um homem que avançava no sentido Aldeia Formosa – Fulacunda. Logo a seguir foram ouvidos mais passos. Uns segundos depois voltaram-se a ouvir mais passos, desta vez de um grupo numeroso que caminhava mais lentamente. Nesta altura apercebi-me que este último grupo era o que devia transportar material, pelo que desencadeei emboscada. O fogo prolongou-se durante uns três minutos de parte a parte”.
Os guerrilheiros terão tentado o envolvimento, foi repelido, seja como for não deixou de abrir fogo do lado Norte do cruzamento de Buba e à retaguarda das forças emboscadas. Foi feita uma batida, recolheu-se material, que é inumerado.

Seguem-se outros relatórios referentes a patrulhamentos, emboscadas e operações. O relatório da Operação Marcela, em novembro de 1964, revela-se também uma peça de muito interesse. O PAIGC procurava manobras de diversão para percorrer o corredor de Guilege na mesma altura em que flagelava quartéis. O Alferes Miliciano João Pedro Mendes parte de Guilege e embosca na região de Balana, perto de Chinchim Dari. É tratada uma coluna, desencadeia-se o fogo das NT secundado com arremesso de granadas, o que provocou vários mortos ao IN. E o documento continuará a descrever patrulhamentos, reconstrução de pontões, operações, emboscadas, mas o PAIGC reage, o relatório fala de ataques IN aos aquartelamentos do setor, destaca-se Cameconde, vinte e quatro vezes flagelada entre 3 de novembro de 1963 e 27 de maio de 1965. O PAIGC ataca Cumbijã, a resistência é heroica, a seguir à letra tudo quanto se escreve no documento é uma façanha invulgar, tão poucos homens a suportar, valorosamente, uma arremetida de um enorme grupo.

Convém não esquecer que o BCAÇ 513 não atua sozinho, tem vários pelotões de reconhecimento, outras unidades militares e por vezes vêm forças especiais dar uma mãozinha. Lê-se que era dado como certo e seguro ter havido uma desarticulação da organização IN no setor, cuja superfície é assim descrita:
“O setor confiado à responsabilidade do BC 513 compreendia, além da extensa e pouco profunda zona fronteiriça, uma área interior correspondente ao antigo posto administrativo de Buba, abrangendo a Norte a região de Injassane – Incassol – Canconté, na margem esquerda do rio Corubal, e a Sudoeste a importante região de Bantael Silá – Unal, na margem direita do rio Cumbijã. Especialmente esta última é uma das mais ricas regiões de arroz da Guiné. A população Beafada da região de Antuane desde o início se ligou ao PAIGC e os Balantas que cultivavam arroz nas bolanhas do rio Cumbijã seguiram-lhes os passos após um fácil e rápido período de aliciamento. Assim se estabeleceu e foi consolidando um grande conjunto de acampamentos na região de Antuane, apoiado logisticamente nas ricas tabancas existentes ao longo do rio Cumbijã. Nestas procurou logo o IN estabelecer as suas estruturas político-administrativas, convencendo a população de que a tropa não iria ali mais e de que aquela região já estava libertada. De facto, tornou-se sempre muito difícil às NT atingir essas regiões, não só pelas grandes distâncias a percorrer como pela facilidade em impedir os movimentos, bloqueando o ponto de passagem obrigatória de Galo Bobola. Enquanto foi possível circular livremente as viaturas, confiou-se às unidades de reconhecimento da Cavalaria o patrulhamento destas áreas. Depois do aparecimento de minas em larga escala, as tropas passaram a andar a pé e então deixou de ser possível aparecer nessas tabancas com a regularidade necessária. De igual forma a região de Injassame – Incassol foi ficando fora do controlo das NT por os acessos serem muito limitados e facilmente controláveis e a distância a percorrer ser sempre para cima dos 40 km, ida e volta”.

Segue-se a descrição do modo como o BC 513 tentou desarticular as posições do PAIGC.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23526: Notas de leitura (1475): BC 513 - História do Batalhão, por Artur Lagoela, execução gráfica no Jornal de Matosinhos, 2000 (1) (Mário Beja Santos)