sábado, 11 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25507: 20º aniversário do nosso blogue (15): E lá vamos blogando... e rindo!

 

Fonte: logo do antig0 blogue-fora-nada capturado pelo Arquivo.pt em 29 de março de 2005, às 23:52

https://arquivo.pt/wayback/20050319235244/http://blogueforanada.blogspot.com/


1. Continuamos a celebrar, por esta primavera dentro, 
os vinte anos de existência do nosso blogue (*). A data de batismo é 23 de abril de 2004. Em boa verdade, tudo começou com o "Blogue-fora-nada", criado uns meses antes, em 5 de outubro de 2003, praticamente no início da blogosfera... 

"Blogue-fora-nada" foi a expressão que me ocorreu, como título,  ao pensar, nos tempos em que não havia máquinas de calcular, e os meninos e meninas da escola primária, separados pelo "muro da vergonha", aprendiam a tabuada recitando em voz alto, memorizando e levando de vez em quando umas reguadas valentes (a "teoria da dor" era a pedagogia que estava então em vigor na escolinha)... E depois nas contas, sobretudo na adição e na multiplicação, tinha-se que se saber fazer a "prova dos noves"  ou a "prova dos noves fora nada"...

Foi assim que cheguei ao nome do blog (vocábulo que eu aportuguesei logo, e que o Priberam define, apropriada e sinteticamente,como "página de Internet com características de diário, actualizada regularmente" (Fonte: "blogues", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/blogues.)

A descrição do conteúdo do "blogue.fora-nada" era de tal maneira "abstrusa" que deve ter afugentado logo os primeiros curiosos destas novidades da Net...

 Começava por   "homo socius ergo blogus [sum ]" , o que em latinório macarrónico queria dizer: "sou um ser social logo blogo ou sou blogador"... 

E seguia-se o resto da cantilena: "em sociologuês nos entendemos. socioblogia. saúde & segurança do trabalho. o port[ug]al dos portugas. a prova dos blogue-fora-nada. o  humor nosso de cada dia nos dai hoje. no ano da graça de 2003. lisboa.  aqui tão longe. aqui tão perto. lá vamos blogando e rindo. desde 8 de outubro. luis graca".

Já tinha, criado, entretanto, quatro anos antes a página pessoal e profissional "Luís Graça: saúde e trabalho", alojada no servidor da ENSP/NOVA.

Em 23 de abril de 2024, criei, dentro do "blogue-fora-nada",  a série "Guiné 63/74" e publiquei o poste P1, com o título: "Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)... 

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné nasce aqui... E depois deu origem a uma tertúlia, que mais tarde se irá chamar Tabanca Grande...

Vinte anos depois queremos continuar a ser a Tabanca Grande, "a mãe de todas as tabancas" dos amigos e camaradas da Guiné:

  • um espaço de partilha de memórias (e de afetos), 
  • um lugar de (re)encontros,  
  • um espaço, na Net, "onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa", 
  • tendo por base a tolerância, o respeito mútuo ,  o pluralismo, a verdade, a boa fé, a camaradagem, a liberdade e a responsabilidade.

Vamos revisitar, por isso, o  "Proverbiário" (vocábulo que ainda não foi grafado nos nossos dicionários): mais do que  uma simples coleção de provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa, é:

  • um apanhado  das nossas "frases feitas",
  • uma antologia do nosso anedotário,
  • "títulos de caixa alta do nosso blogue", 
  • "títulos dos nossos livros e séries",  
  • "bocarras de tabanqueiro", 
  • "tiradas de humor de caserna" (às vezes negro, sem conotação racista), 
  • "expressões idiomáticas usadas no nosso blogue", umas mais efémeras do que outras, 
  • enfim, frases, comentários, máximas, etc., umas mais ligadas ao nosso Livro de Estilo, outras que despertaram a nossa atenção enquanto tabanqueiros... 

Muitas outras nos têm escapado ao longo destes vinte anos a blogar, dos mais de 25 mil postes (ou postagens) publicados, e dos mais de 100 mil comentários... De vez em quando, lá vamos repescando um ou outro "provérbio" que ficou para trás... 

Ficamos sempre à espera que os  nossos leitores que acrescentem o que bem entenderem, desde que tenha relação, direta ou indireta, com o nosso blogue, o nosso fraterno e são convívio, as  nossas tabancas, a tropa e a guerra, enfim, a Guiné do nosso tempo e o blogue da Tabanca Grande...
 
Da 5ª edição, revista e aumentrada em 2023, selecionamos alguns dos melhores. (**).


O NOSSO PROVERBIÁRIO

A blogar é a que a gente... se entende.

A nossa Guinezinha, dizia a Cilinha

A tropa vai fazer de ti... um homem!

Adeus, e até à... próstata!

Aerograma, bate-estrada ou corta-capim!

Água de Lisboa, "manga di sabi".

Alferes, cabra de mato!?...Atira-lhe!... Ah! rico tiro, pum, pum!

Alfero Cabral cá mori!

Ao luar, entre nevões, até as renas parecem pavões! (Zé Belo dixit)

Aponta, Bruno! (uma das muitas alcunha do nosso Com-Chefe, o gen Spinola)

A
s vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião (Salgueiro Maia dixit)

Até aos cem, ainda se aguenta, depois dos cem, só com água benta.
 

Bandos: a frase, no mínino infeliz, de um general...

Beber a água do Geba.

Boa continuação da viagem pela picada da vida!... 
Cuidado com as minas e armadilhas!

Bom amigo, melhor camarada.


Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

Cabrito pé de rocha [macaco] , "manga di sabi". 

Camarada e amigo... é camarigo!

Camarada é na tropa, companheiro é à mesa e colega é nas p...tas

Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme contigo, 
no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.
 
Com a sua licença, meu general, a merda... que a gente come!

Combatente um vez, combatente para sempre!

Como camaradas que fomos (e continuamos a ser), tratamo-nos por tu!


Dão-se lições de artilharia para infantes.

Deportados para a Guiné... sem culpa formada!

Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

Desarmados, jubilados, reformados, aposentados mas não... arrumados.

Dia de São Patacão.

E depois da peluda... a luta continua
 

E também lá vamos facebook...ando e andando.

E viva a Pátria! E viva o nosso General!... Puuum!!! [Gasparinho dixit]

É bom ter um padrinho, mas ainda melhor um paizinho!

Eh, pá... a guerra, pá...

Entra e senta-te à sombra do nosso poilão.

Exorcizar os nossos fantasmas.

F... idos e mal pagos.

Fomos ver, eram os nossos amigos turras a dar-nos os bons dias! (Zé Cuidado dixit)

For the Portuguese Armed Forces from Scotland with love... 
[Da Escócia com amor, para as Forças Armadas Portuguesas.]

 
Guerra do Ultramar, guerra de África, guerra colonial
(como se queira, ao gosto do freguês).


Guiné, terra de desterro e de encarceramento.

Guiné, terra verde-rubra.

Guiné? ... Não era pior nem melhor, era diferente.

Guiné?... Não, nunca ouvi falar!


Há comentadores e comentadores: alguns são como o peixe e o hóspede, ao fim de três dias fedem...

Havia os desertores, os refratários, os faltosos... e nós.

Honras de Tabanca Grande.

Humor com humor se (a)paga.


In Memoriam: para que não fiques, camarada, 
na vala comum do esquecimento.

Intchallah, Oxalá, Enxalé !

Já estás com o bioxene, já estás com os copos, já estás! ()[Valdemar Queiroz dixit]

João Crisóstomo, o nosso cônsul em Nova Iorque


Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, 
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

Lá vamos contando (e cantando) os quilómetros pela picada da vida fora!
 
Lugares ao sol, não temos... Só à sombra, do nosso poilão!
 
Máfrica:  muita chuva, muito vento, muita merda e,,, um convento!

Mais peixeiro do que carneiro... mais facebook...eiro do que blogueiro.. 

Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas.

Mais vale um camarada vivo do que um herói... morto!

Melhor que as bajudas, era a 'água de Lisboa' que nos fazia esquecer as bajudas.

Meu pai, meu velho, meu camarada...

Miguel & Giselda, o casal mais 'strelado' do mundo.

Muita saúde e longa vida, porque tu, camarada, mereces tudo.


Não deixes que o teu espólio de memórias 
vá parar à Feira da Ladra ou ao OLX.

Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande.

Não fazemos a História com H grande, mas a História não se fará 
sem a nossa... pequena história.

Não há tabanca sem poilão.

Nem mais um soldado... para as colónias!  

Ninguém leva a mal: em cima o camarada, em baixo o general.

Nós saímos da Guiné, mas a Guiné não sai de nós.


O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

 
O nosso maior inimigo: o Alzheimer (de que Deus nos livre!)...

Ó mãe, o nosso vizinho Jorge lerpou, vai já no próximo barco!... Ó filho, vê se lerpas também, para vires mais cedo!

Ó Pimbas, não tenhas medo!

O sapador só se engana três vezes: é a primeira, a única e a última (Tó Zé dixit)
 
O seu a seu dono: respeita os direitos de autor.
 
O último a morrer, que feche a tampa... do caixão.

Olhe que não, sr. general, olhe que não!

Os bravos não se medem aos palmos.

Os bu...rakos em que vivemos.

Os camaradas tratam-se por tu.

Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga.

Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

Oxalá, Intchallah, Enxalé !
 

Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné? Guerra do Ultramar? Guerra Colonial? 
Não, nunca ouvi falar!"...

Parabéns, parabéns, parabéns ! (à moda de Santa Maria)

Partilhamos memórias e afetos.

Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" em Bissau.

Periquito, salta p'ró blogue, que a velhice já cá está!

P'rós insultos, não há contemplações nem indultos.

Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!

Quem não faz 69, não chega... aos 100!

Quem não tem poilão, acolhe-se à sombra do chaparro.

Quem não tem "turpeça", senta-se no chão... e quem "turpeça" também cai.

Rapa o fundo ao teu baú da memória.

Recordar é viver duas vezes.


Saber resolver os nossos diferendos, os nossos conflitos... 
sem puxar da G3!

Santo António de Bissau, / Bravo, meu bem, / De todos o mais casmurro,/ Quer do preto fazer branco, / Bravo, meu bem, / E do branco fazer burro.

Saudades sem conto.

Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando.

Siga a Marinha!

Só há três coisas de que aqui não falamos: futebol, política e religião.

Soubemos fazer a guerra e a paz.

Spinolândia, sim, Guiné, não.

Tabanca Grande: a mãe de todas as tabancas.

Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une 
e até com aquilo que nos separa.

Tabanca Grande: onde não há portas nem janelas  
nem arame farpado   nem cavalos de frisa

Tuga, que Deus te livre da doença do... Alemão.

T/T Niassa, Uíge, Ana Rita, Angra do Heroísmo... Os cruzeiros das nossas vidas.


Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude (René Pélissier dixit).

Uma geração que soube fazer a guerra e a paz.

Uma guerra... a petróleo! (Tó Zé dixit)

Uma noite nos braços de Vénus, três semanas por conta de Mercúrio.  

Vamos à guerra, que a morte é certa.

Vê-cês-cês (velhinhos comó c...)
 
Vinte anos a blogar... são dez comissões na Guiné!

Volta, Zé Belo, estás perdoado! (disseram  os "sámi" ao régulo que queria "desertar" da Tabanca da Lapónia).

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 28 de novembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24895: O nosso livro de estilo (14): Proverbiário da Tabanca Grande, 5ª edição, revista e aumentada: "Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados"

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25506: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (25): O José Casimiro de Carvalho, ex-fur mil op esp, CCACV 8350 (1972/74) esteve lá... em abril de 2010, com o Camisa Mara e com o e filho, guardiões e guis locais

 








Guiné-Bissau > Região de Tombali >  Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Abril 2010 > Visita do J. Casimiro Carvalho, que deixou algumas lembranças dos "Piratas de Guileje",  a CCAV 8350, a última subunidade de quadrícula que guarneceu o lendário aquartelamento de Guileje, junto à fronteira, no sul, com a Guiné-Conacri. A Fundação Mário Soares deu umi importante apoio técnico na montagem deste núcleo museológico.

Fotos:: © J. Casimiro Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A propósito do guardião (e guia local) do Núcleo Museológico Memória de Guiledje, Camisa Mara,  juntam-se algumas fotos de uma visita, feita no já longínquo mês de abril de 2010, pelo José Casimiro de Carvalho, e mais um grupo de 10 camaradas, na sua maioria do Norte, que foram à Guiné-Bissau, em abril de 2010,  e visitaram quase tudo o que era visitável, e nomeadamente a região de Tombali. (O grupo original, que veio de Portugal, era de 16, mas depois subdividiu-se,  conforme os locais a visitar.)

O J. Casimiro de Carvalho, ex-fur mil op esp / ranger, CCAV 8350, "Piratas da Guileje" (1972/74),  já não se lembra dos nomes das pessoas que receberam os visitantes, no Núcleo Museológico Memória de Guiledje (e que aparecem nas fotos acima),  mas tem ideia que eram pai e filho. 

Se assim é, o mais velho deverá ser o Camisa Mara, que teria 15/16 anos, aquando dos acontecimentos de Guileje (abandono das instalações pelas NT, em 22 de maio de 1973).

Obrigado ao J. Casimro Carvalho, por nos ter agora disponibilizado, tão prontamente,  estas fotos do seu álbum. Ele é um dos primeiros camaradas a integrar a Tabanca Grande, é, portanto, um "hstórico" do nosso blogue (tem cerca de uma centena de referências). Foi também um dos participantes do nosso I Encontro Nacional, na Ameira, Momtemor-o-Novo, em outubro de 2006.
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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 8 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25497: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (24): Recuperando, para a história, o programa do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008)

(**) Vd. poste de 11 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7765: Recortes de imprensa (39) "Não queria morrer sem voltar à Guiné... E já voltei" (J. Casimiro de Caravlho, JN - Jornal de Notícias, 6/2/2011)

Guiné 61/74 - P25505: Consultório Militar do José Martins (83): Revolta de 16 de Março de 1974 passou pelo Concelho de Loures


1. Transcrição de um trabalho do nosso camarada José Martins, publicado em "Loures História Local, Abril/Newsletter n.º 45/2024", sobre o 16 de Março em Loures:


O 16 de Março na Área de Loures

Às 04H00 do dia 16 de Março de 1974 uma coluna auto transportada, de cerca de 200 militares comandada pelo Capitão Piedade Faria, sai do quartel das Caldas da Rainha, a caminho de Lisboa, com a missão de ocupar o aeroporto[1].
A Região Militar de Lisboa, avisada do facto, entra em estado de prevenção reforçada.

Esta situação não apanha de surpresa, quer o Governo quer as autoridades militares. Desde o dia 9 de Março, iniciam-se nos quartéis, por ordem do Comando-Chefe das Forças Armadas, o estado de Prevenção Rigorosa. Esta situação não se verificava desde 1961, há treze anos, portanto. Essa ordem foi dirigida aos Serviços de Informação dos 3 Ramos das Forças Armadas, assim como à 1.ª e 2.ª Repartições e à Secretaria-Geral da Defesa Nacional.

Foi uma semana em que houve vários acontecimentos: prisão de capitães do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA), e seu internamento no Forte da Trafaria; aprovada a politica colonial do governo, pela Assembleia Nacional; manifestação dos Oficiais-Generais, em apoio ao Presidente do Conselho e da sua politica; a demissão de Costa Gomes e António de Spínola, dos altos cargos que ocupavam; reuniões de elementos do MOFA, face às reacções de solidariedade de Capitães e outros oficiais subalternos, que manifestam as suas posições junto dos respectivos comandantes; e tudo isto acompanhado por variação de “estados de Alerta” com “estados de Prevenção Rigorosa”, situação reflectida no relatório do Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7 (Leiria), em que refere, na análise crítica: «Dos extractos da “Fita do Tempo” pode concluir-se ter havido um certo «à-vontade» da minha parte, pois poderia ter mandado armar, equipar e municiar a Companhia de Caçadores logo após a ordem de prevenção rigorosa. Não o fiz, como já disse, por razões que julguei convenientes na altura: a semana anterior tinha sido fértil em altas e baixas nos estados de emergência».

As notícias, a principio vagas, mas depois tornam-se mais alarmantes, apesar de especulativas. Mencionavam o movimento de várias unidades, do Norte, em direcção à capital, o que não se verificava. Como as Regiões Militares dispunham, à época, em cada Regimento e/ou Instituição da sua competência, de subunidades às suas ordens, normalmente uma companhia de caçadores (infantaria), baterias de bocas de fogo (artilharia) ou esquadrões de carros de combate e reconhecimento (cavalaria); e nas unidades de serviços e nas escolas práticas de companhias de caçadores, o Quartel-General da Região, a Região Militar de Lisboa, manda deslocar as seguintes forças, sob comando do Chefe do Estado-Maior do Exército, General João Paiva Brandão.

A Escola Prática de Infantaria (EPI), em Mafra, tendo parte do pessoal empenhado na semana de campo, do Curso de Oficiais Milicianos, com o pessoal e as viaturas disponíveis, inicia o patrulhamento da Zona Oeste, onde se encontra aquartelado. Para suster qualquer força não detectada, envia a Escola Prática de Administração Militar (EPAM), do Lumiar, para a Ponte de Frielas. Para a Zona Norte, às portas da cidade, onde terminava o troço da A1 (outras fontes indicam que foi na Rotunda da Encarnação), foram chamados o Regimento de Lanceiros n.º 2/Policia Militar (RL 2/PM) e o Regimento de Cavalaria n.º 7 (RC 7), da Ajuda: o Batalhão de Caçadores n.º 5 (BC 5), de Campolide; o Regimento de Infantaria n.º 1 (RI 1), da Amadora; o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 (RAL 1), de Moscavide; e a Escola Prática do Serviço de Material (EPSM), de Sacavém. Para o mesmo local foram enviadas forças da Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana (Infantaria e Esquadrão de Reconhecimento), além de elementos, à civil, da Direcção Geral de Segurança e da Legião Portuguesa.

O ajuntamento destas forças, por volta das 06H00 de um sábado que à época era dia normal de trabalho, fez juntar os populares que se deslocavam para o seu trabalho, em Lisboa, e cujo trajecto obrigava a passar por aquele local, transformando-se em “mirones”. Todo aquele aparato prometia conversa, não só para aquela altura, mas também para o Domingo, e sabe-se se não se prolongaria pela semana fora, quando se aguardasse a hora do jantar.

Se por qualquer circunstância, mesmo que não tivesse havido troca de tiros, como não houve, bastava um disparo inopinado, para poder gerar confusão na fuga de civis, procurando abrigar-se, para poder ter havido um certo número de feridos, entre estes.

Apesar de, na prática, esta insurreição ter acontecido no Regimento de Infantaria n.º 5, onde era ministrado o primeiro ciclo do CSM - Curso de Sargentos Milicianos, não ter originado no país qualquer alteração, na realidade, teve implicação em duas localidades: Caldas da Rainha, o palco principal dos acontecimentos, e Loures, nomeadamente Sacavém, onde se instalaram as forças leais ao governo. Noutras localidades do percurso utilizado, houve maior ou menor impacto devido à movimentação das forças militares e paramilitares, mas todo o país seguiu os acontecimentos desse dia, pelo menos através das notícias que iam sendo divulgadas.

Loures, pela sua localização geográfica seria, necessariamente, um ponto de passagem, quer utilizando a EN 1, ou a EN 8 mais a Oeste, para se dirigiram ao Aeroporto da Portela, seu objectivo. Da A1, na altura, só existia o troço Sacavém - Vila Franca de Xira e, a autoestrada A8, ainda nem sequer fora pensada.

Não consegui obter os relatórios que, necessariamente, foram elaborados pelas unidades envolvidas na zona da Grande Lisboa, pelo que irei seguir o que relataram os documentos elaborados pelo Comando-Geral e pelo Batalhão n.º 2 da Guarda Nacional Republicana:
Cerca das 06H50, a coluna que tinha saído das Caldas da Rainha pelas 04H00, estava parada, na A1, a 3 km da Portagem de Sacavém. No relatório, do Comando-Geral da GNR, consta que à mesma hora, 06H50, é avistada uma viatura militar no sentido Cacém - Sintra, de que se desconhece a missão. O mesmo relatório relata que, às 08H05, a viatura MG-63-23 da Região Militar de Lisboa, com pessoal armado, é localizada em Tercena deslocando-se de Sintra para Cacém.

Pelas 07h15, na A1 por cima do rio Trancão, os Majores Luís Casanova Ferreira e Manuel Soares Monge que saíram de Lisboa, encontram-se com a coluna e avisam de que deve regressar a Caldas da Rainha, por ser a única unidade que se tinha sublevado, estando um dispositivo militar preparado para a defrontar, à entrada da cidade. Do relatório do Batalhão n.º 2 da GNR consta que, pelas 07H15, dois jeep saíram da EPI e seguiram pala estrada Paz - Torres Vedras, onde à 07H40 passaram nesta localidade. Num dos jeeps mencionados seguia o Comandante, Coronel Freitas, dirigindo-se para os lados da localidade de Ramalhal.

Sem apoio de outras forças, resolvem regressar ao quartel e, utilizando uma abertura no separador central da auto-estrada, mudam de faixa e iniciam o regresso. São interpelados à saída de Vila Franca de Xira, cerca das 08H30, por um efectivo de 10 elementos, comandados por um tenente. Das últimas viaturas ouviu-se um tiro inopinado. O problema foi sanado e a coluna segue sem mais incidentes.

Às 08H45, refere o mesmo relatório, que o Coronel Freitas passou novamente em Torres Vedras, regressando à EPI. Comunicou ter mandado levantar o "Destacamento de Cadetes COM" instalado numa quinta em Pai-Correia, Ramalhal e que, devido a carência de viaturas, o retorno se processaria por fases e a partir das 10H30. Mais solicitou que, a GNR o informasse de quaisquer outros movimentos de tropas naquela área, que se não relacionassem com o regresso dos cadetes ao quartel.

O Relatório do Comando-Geral da GNR refere que, pelas 09H30, uma coluna de viaturas passou frente ao Posto da GNR da Malveira, dirigindo-se para Loures. O Batalhão n.º 2 da GNR relata que a coluna auto que passou na Malveira, pelas 11H50 se encontrava a 1 quilómetro da Venda do Pinheiro, seguindo na direcção de Bucelas.

Às 10H20 o Comando-Geral da GNR solicita a informação, ao Comandante-Geral da Segurança Interna (CGSI), de quem é a competência de comando das força instaladas entre Sacavém e a Encarnação. O CGSI informa que a competência é do Quartel-General da Região Militar de Lisboa

Com o retrocesso da coluna sublevada, pelas 10H22, o Batalhão de Caçadores n.º 5 recebe instruções para retirar as suas forças. No local mantêm-se as do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1, cujo quartel ficava perto do local. Não há referência às outras unidades do Exército, que foram enviadas para o local e referidas anteriormente.

O Chefe do Estado-Maior da GNR dá instruções, pelas 10H25, para retirar o Pelotão de Reconhecimento/GNR e, às 10H27, a companhia do Batalhão n.º 2/GNR.

No relatório do Batalhão n.º 2 da GNR consta que, às 12H10, o Comandante do posto da Malveira, transmitiu que lhe havia sido comunicado, pelo posto de Bucelas, a apresentação de um Tenente-Coronel avisando do estacionamento de uma força à saída desta localidade, para o lado de Bemposta, que se encontrava em missão de reconhecimento. Entretanto, soube-se que tal força era comandada pelo Capitão Sousa Santos e que recebeu ordens para recolher à EPI.

A coluna do Regimento de Infantaria n.º 5, pelas 10H30, dá entrada no quartel, onde já se encontravam os Majores Monge e Casanova Ferreira, que os tinham abordado quando estavam entre Vila Franca de Xira e Sacavém.

Seriam estes oficiais superiores que negociariam a rendição, dos revoltosos, ao Brigadeiro Pedro Serrano, 2.º comandante da Região Militar de Tomar.

Depois de, cerca de três horas e trinta minutos, as forças rendem-se. São abertos os portões e a unidade é ocupada pelas forças sitiantes.

Pelas 22H00, os oficiais do Quadro Permanente detidos no RI 5, foram transferidos para o Regimento de Artilharia Ligeira 1 (Moscavide), escoltados pela Policia Militar e Policia de Segurança Pública. Uns ficaram na enfermaria do RAL 1, enquanto outros foram transferidos para a Casa de Reclusão Militar de Lisboa, no Forte da Trafaria.

Trinta e cinco Aspirantes a Oficial Miliciano, além de Sargentos, Furriéis e Cabos Milicianos, foram conduzidos, sob detenção, para o Campo Militar de Santa Margarida, às 03h00, acusados de participação nos acontecimentos de 16 de Março, onde seriam depois interrogados pelo Tenente-Coronel Andrade e Sousa.

No dia 17 de Março de 1974 pelas 14H30, por determinação superior, todas as unidades passam à Situação de Alerta e, a partir das 15H00, a Prevenção Simples.

Cerca de quarenta dias depois, sem que o MOFA tenha baixado os braços, mas passando a ser mais discreto, é marcado o “dia D” para 25 de Abril. Das unidades que foram mencionadas no presente texto e que intervieram do lado do governo vigente, qual teria sido a sua actuação nesse dia? Vejamos quais as missões mais importantes, atribuídas a cada uma delas, no intuito de manter os objectivos, na posse dos sublevados, já intitulados “Movimento das Forças Armadas”:

À Escola Prática de Infantaria, foi atribuída a ocupação e defesa, do Aeroporto da Portela, hoje Aeroporto Humberto Delgado.

À Escola Prática de Administração Militar é atribuída a missão de tomar os Estúdios do Lumiar da RTP, e pugnar para que a emissão continuasse no ar.

Do Regimento de Lanceiros n.º 2 – Policia Militar, uma força sob o comando de um Tenente, contacta com as forças que cercam o QG-RML. Depois de uma conversa com o comandante das forças sitiantes, retira em direcção à Praça de Espanha.

O Regimento de Cavalaria n.º 7 não adere ao MFA, vindo a constituir a única unidade que, comandada pelo Brigadeiro 2.º Comandante da Região Militar de Lisboa, tenta enfrentar as forças do Capitão Salgueiro Maia, na Ribeira das Naus e Rua do Arsenal. Muitos militares desta força passam, quase de imediato para o Movimento.

Ao Batalhão de Caçadores n.º 5, foi atribuído cerco e entrada no Quartel-General da Região Militar de Lisboa, mantendo a defesa da área.

Ao Regimento de Infantaria n.º 1, com duas Companhias de Caçadores, deslocaria uma para o Forte de Caxias e, com a outra Companhia, teria a missão de proteger a residência do General Spínola.

No Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 tinha sido colocado, como reforço, um Pelotão de Polícia Militar, que rodava todos os dias, variando os comandantes do mesmo e, contactados não se mostraram receptivos. O Comando não aderiu, pelo que se ficaram pela neutralidade. Com a chegada ao quartel do Agrupamento November, com tropas vindas de Viseu, Aveiro e Figueira da Foz, aderiram ao MFA pelas 18 horas.

Na Escola Prática do Serviço de Material estavam, desde data não mencionada, dois carros de Combate M-47, sob o controlo directo do Ministro do Exército. Os militares da EPSM conseguiram que a neutralidade fosse garantida.

As forças da Policia de Segurança Pública e da Legião Portuguesa, não localizei qualquer actuação, mantendo-se pela “neutralidade”.

A Guarda Nacional Republicana recebeu instruções para actuar em duas situações: primeiro vindo do lado da estação de Santa Apolónia, aguardava ordens para actuar na área do Terreiro do Paço e, mais tarde, tentando cercar as forças que se encontravam no Largo do Carmo, mas retrocederam a quartéis.

A Direcção Geral de Segurança acabou por ser neutralizada pela Força de Fuzileiros do Continente, depois de ter reagido, abrindo fogo, sobre a multidão.

Odivelas, 29 de Março de 2024
José Marcelino Martins

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Nota do editor

[1] - Sobre o levantamento das Caldas em 16 de Março de 1974, vd. posts de José Martins de:


12 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25378: Consultório Militar do José Martins (76): Dia 16 de Março de 1974 - Antes do dia - Parte I

13 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25381: Consultório Militar do José Martins (77): Dia 16 de Março de 1974 - Antes do dia - Parte II

14 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25385: Consultório Militar do José Martins (78): Dia 16 de Março de 1974 - Parte III - O dia

15 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25392: Consultório Militar do José Martins (79): Dia 16 de Março de 1974 - Parte IV - O dia

16 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25395: Consultório Militar do José Martins (80): Dia 16 de Março de 1974 - Parte V - O dia

17 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25402: Consultório Militar do José Martins (81): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VI - O dia

e
18 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25408: Consultório Militar do José Martins (82): Dia 16 de Março de 1974 - Parte VII (e última) - Os dias depois

Guiné 61/74 - P25504: Notas de leitura (1690): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 a 1853) (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Até ao momento o Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde não nos trouxe nada de retumbante ou, pelo menos, de inédito, sobre a Costa da Guiné, Possessões da Guiné ou Estabelecimentos de Cacheu e Bissau; é um Boletim Oficial que hoje seria inadmissível, tem noticiário jornalístico, folhetins românticos, artigos de cultura geral, tudo à mistura com receitas alfandegárias, nomeações no arquipélago, o papel dos padres, nomeações e aposentações. Já estamos em 1853, vivemos numa atmosfera de Regeneração, o Duque de Saldanha já expulsou do Governo Costa Cabral, entrou em funções Fontes Pereira de Melo; aqui se fala da criação do Governador da Guiné (dependente do Governo Geral de Cabo Verde), este Governador-Geral visitou a Costa da Guiné e parece que veio de lá muito satisfeito, temos informações sobre escravos que não podem ir de Farim para Cabo Verde, há um pedido de isenção de direitos da Casa Nozolini Júnior & C.ª; um aspeto que não deixa também de chamar à atenção é o pedido (certamente formulado pelo Rei D. Fernando II) de exemplares zoológicos, mineralógicos e botânicos da Guiné para serem incorporados nos Museus do Reino. E vamos continuar a pesquisar.

Um abraço do
Mário


Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 a 1853) (2)


Mário Beja Santos

Dando continuidade à leitura do Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, procurou-se informações sobre a Costa da Guiné ou os Estabelecimentos de Cacheu e Bissau nos anos 1852 e 1853. Reina em Portugal Dona Maria II por Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, Daquém e Além-mar em África, Senhora da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Pérsia, Arábia, e da Índia, etc. Não é demais salientar que as notícias alusivas ao que chamamos Guiné são residuais, avultam as receitas alfandegárias, é um Boletim Oficial que insere folhetins amorosos, a viagem de Dona Maria II e família ao Minho, calorosamente recebidos e poupados por um incêndio devastador, há artigos de erudição sobre a temperança, o que se cultiva na Sibéria, o valor das florestas, ficamos inclusivamente a saber que a Rainha Vitória foi agredida à porta da residência por um alferes que lhe deu uma paulada, a monarca escapou por um triz, graças ao chapéu. A leitura promete, folheia-se com paciência a ver quando a Guiné entra em cena.

Permito-me ir um pouco atrás, estamos a 18 de maio de 1850, ficamos a saber que a Rainha pretende incorporar nos museus do Reino alguns exemplares zoológicos, mineralógicos e botânicos que se possam encontrar nas Possessões da Guiné, bem como em Cabo Verde. E manda criar nas Praças de Bissau e Cacheu comissões que procedam a tal levantamento, no caso de Bissau a comissão era constituída pelo Governador, Carlos Maximiliano de Sousa, acompanhado por três vogais, o cirurgião António Joaquim Ferreira e Caetano José Nozolini e João Severiano Duarte Ferreira; quanto a Cacheu, a comissão era constituída pelo Governador, José Xavier Crato, e por três vogais, um deles Honório Pereira Barreto. Eram dadas instruções para a colheita, acondicionamento e transporte dos produtos e exemplares dos três reinos da natureza, tudo muito bem explicadinho, como se exemplifica: Os minerais podem ser em pó, ou em fragmentos, que facilmente se estorroam e desfazem, como certas argilas, alguns gessos, etc.; ou podem ser cristalizados, ou sem forma regular e duros, ou finalmente impressões, ou pedaços de impressão, a que vulgarmente se chamam petrificações de substâncias animais e vegetais.

Em 9 de novembro desse mesmo ano de 1850 vamos ter referências a escravos e à escravatura. João Bento Rodrigues Fernandes dirigira-se à Rainha pedindo para transportar para Cabo Verde novos escravos que herdara em Farim do seu falecido filho, alegava que o filho vivera cinco anos em Farim, e que ele estava habilitado para trazer os ditos escravos, de acordo com a lei; mas que tendo sido objeto tratado em Conselho de Governo, este fora de parecer que se bem que o suplicante herdasse os bens do seu filho não podia herdar a faculdade que este tinha como colono para gozar o benefício da lei. Era por esta razão que o governador-geral pedia instruções; a Augusta Senhora mandou que o assunto fosse tratado na Secretaria de Estado respetiva, e dava-se agora a informação que o dito João Bento Rodrigues Fernandes não gozava da faculdade de transportar quaisquer escravos de Guiné para o arquipélago, a lei não permite bem como o tratado celebrado com a Grã-Bretanha, pretende-se acautelar o tráfico ilícito de escravatura.

Assunto curioso que prendeu a atenção, um pedido endereçado pela empresa Nozolini Júnior & C.ª, pretende-se isenção de diretos sobre máquina que possam ser importadas na Praça de S. José de Bissau para uso na agricultura, caso de um moinho para descascar arroz que tem de ser construído na Bélgica; mas pedia-se outras isenções, caso da telha de barro portuguesa. O Governador determinou que até a monarca decidir o contrário que se podia importar estes materiais estrangeiros, e estabelecia-se mesmo que se pagariam direitos de acordo com uma determinada fórmula.

Estamos agora em dezembro de 1852, o Boletim Official publica o decreto em que cria o lugar de Governador da Guiné para dar maior regularidade ao serviço administrativo da Possessão, reprimir abusos, para que possa prontamente mandar os convenientes socorros a qualquer ponto que os precise ou repelir ataques dos povos vizinhos. O Governador da Guiné Portuguesa gozará de uma autoridade que se estenderá a todas as Possessões portuguesas da região, ficando sujeito ao Governador-Geral da Província de Cabo Verde; o Governador residirá habitualmente na Praça de Bissau, mas deverá visitar a Praça de Cacheu não menos de duas vezes no ano; na falta, ausência ou impedimento do Governador da Guiné tomará o Governo da Guiné o Governador da Praça de Cacheu. Ficamos a saber, também em dezembro de 1852, que o Governador-Geral de Cabo Verde regressou da Praça de S. José de Bissau. “Durante a sua estada, depois de ouvidos os principais negociantes dela, e o Comendador Honório Pereira Barreto, que o mesmo Ex.mo Sr. mandou ir de Cacheu, tomou várias medidas tendentes à segurança de Bissau, à proteção do comércio e à organização da alfândega, que se achava reduzida a um único empregado, e esse mesmo doente. Teve a satisfação de ver em grande estado de adiantamento o belo edifício destinado para quartel dos oficiais da guarnição, e recebeu propostas para a construção da casa da alfândega, de uma casa para ampliar o Hospital Militar da Praça, e do prolongamento ou conservação do cais ou ponte de madeira já ali existente, sem que a Fazenda Pública tenha de adiantar algum dinheiro, nem sofra gravame dos seus rendimentos. A reparação do Forte de S. Belchior, que domina a navegação do rio Geba, pelo qual se faz quase todo o comércio da praça, ficou também em grande estado de adiantamento, e sua Ex.ª ordenou que finda a subscrição feita para a mesma reparação, se continue a obra com dinheiro da Fazenda; assim como se proceda o quanto antes aos consertos de que careciam os Fortes do Pidjiquiti, a tabanca e a paliçada que defende a população. Para Cacheu autorizou S. Ex.ª a construção imediata de uma muralha de pedra e cal, que substitua a dispendiosa paliçada que unia dois dos redutos da Praça, a fim de que a Guarnição e os habitantes se possam considerar seguros. Aprovou a pronta construção das obras do Quartel Militar. O Sr. Governador-Geral veio extremamente penhorado da nobre dedicação que achou nos sobreditos negociantes, nos quais reconheceu o maior desejo de auxiliar o Governo da Província, na sua gostosa tarefa de levantar aquele Estabelecimento do estado de abatimento em que tem estado até agora.”

Encontramos no Boletim Oficial, com data de 24 de janeiro de 1853, o apelo a donativos para socorrer os necessitados habitantes da ilha da Madeira. E com data de 10 de fevereiro desse ano está criado o lugar de Governador da Guiné.

Vista antiga de Cacheu
Rainha Vitória com o marido, o Príncipe Alberto, e alguns filhos
Estátua de Honório Pereira Barreto na Bissau colonial
Imagem do século XIX de Vila da Praia
(continua)
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Notas do editor:

Primeiro post de 3 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25474: Notas de leitura (1688): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 6 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25487: Notas de leitura (1689): Não há tesouro literário como este na Guiné-Bissau: uma criança, uma guerra, uma bicicleta (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25503: Parabéns a você (2270): Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

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Nota do editor

8 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25492: Parabéns a você (2269): Arsénio Puim, ex-Alf Graduado Capelão da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)

Guiné 61/74 - P25502: Tabanca Grande (556): o malae Rui Chamusco, cofundador e líder histórico da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 886

Lourinhã > Porto Dinheiro > Tabanca de Porto Dinheiro > Convívio anual > 18 de agosto de 2017 > O novo membro da Tabanca de Porto Dinheiro: natural de Malcata, Sabugal, vive parte do ano na Lourinhã, professor de Educação Musical no ensino oficial, reformado,  e de Português, Filosofia e Latim no ensino Particular. ativista da causa de Timor-Leste (lidera um projeto de construção de escolas nas montanhas de Timor Lorosae e apadrinhamento de crianças)... E a partir de agora, 10 de maio de 2024, novo membro da Tabanca Grande, nº 886.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escreveu o nosso editor LG (*):

Rui, "I want you for the Portuguese Armed Forces"... Não cometeste nenhum crime (nem sequer um pequeno delito) mas estás "desterrado" (por uma boa causa...) em terra que outrora foi de "desterro e encarceramento" , Timor-Leste, a ponta mais extrema, no sudoeste asiático, do nosso ex-glorioso império... (Terra de desterro e encarceramento desde, pelo menos, o séc. XVIII, o nosso século barroco e extravagante, até à II Guerra Mundial.)...Àparte o "humor negro de caserna" (negro, sem conotação racista), decidi dar-te "honras de Tabanca Grande"... Passas a ser o nosso grão-tabanqueiro nº 886 (**).

Afinal, faltava cá um "lince" da serra da Malcata... e um "cônsul em Dili"... Morreu o império, viva Timor e as demais novas nações lusófonas, filhas também do 25 de Abril de 1974.

Já cá tens amigos: estou eu, o João (que é o "cônsul de Nova Iorque" e o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófono), o Eduardo (que é agora, infelizmente a contragosto e tristeza de todos nós, o nosso "assessor junto de São Pedro", faz-nos muita falta cá em baixo)... Tens outros "lourinhanenses": o Pinto Carvalho, o Jaime Silva, o Carlos Silvério...

Contigo, encaminhamo-nos para os cerca de 900 "amigos e camaradas da Guiné"... que se sentam, os vivos e os mortos, à sombra de um mágico, secular, simbólico, fraterno poilão (a árvore sagrada da Guiné-Bissau, de presença obrigatória em qualquer tabanca).

Já sei, pelo teu "padrinho" João, que aceitas o meu convite... Não são "honras de Panteão" (bolas, felizmente estás vivo!, e para o Panteão, na pior das hipóteses, só daqui a duas décadas depois de comeres o teu primeiro, único e último cogumelo venenoso da serra da Malcata)...

Não é o Panteão, é ainda muito melhor: afinal, "o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!"...

Tu não nos lês, estás longe com Net limitada nas montanhas de Liquiçá, mas ficas a saber que tenho publicado excertos das tuas crónicas, de que sou fã (*) ...

E vou fazendo figas para que não venhas desta vez com as mãos a abanar...(isto é, resolvas de vez o momentoso e aflitivo problema da falta de professores na tua/ vossa escola de São Francisco de Assis.


(Lourinhã, Vimeiro, 1952- Torres Vedras, 2019).




Nova Iorque > 6 de outubro de 2019 > João Crisóstomo (1) e Vilma Kracun (Crisóstomo, por casamento) (2) recebem na sua casa em Queens a embaixadora de Timor nas Nações Unidas, Milena Pires (3) e o embaixador de Portugal nas Nações Unidas, Francisco Duarte Lopes (7), bem como o nosso amigo e agora membro da Tabanca Grande Rui Chamusco (5) e ainda Graça Dinis (4) e Rosa Henriques (6).

Foto (e legenda): Edgar João, página pessoal do Facebook (2019), com a devida vénia...[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Fundadores: Rui Chamusco,
Glória Sobral e Gaspar Sobral
2. Rui, contigo fica melhor composta a nossa Tabanca Grande... 

Aprendi, na escolinha do Conde de Ferreira da Lourinhã, que o meu Portugal ia do Minho (onde nunca tinha ido antes do 25 de Abril) a Timor (que eu não sabia nem era capaz de imaginar que ficava a 14 mil km de distância da minha casa...).

Ora, embora este blogue tenha um especial enfoque na Guiné-Bissau (e na partilha da experiência da guerra colonial / guerra do ultramar), nada nem ninguém nos impede de falar das outras terras do planeta onde houve e há presença de Portugal e dos Portugueses. E depois ainda sabemos pouco da história 
(mas também da geografia e da cultura) de Timor-Leste, hoje país independente, membro da CPLP.

Por outro lado, e como podes ver, temos publicitado a vossa (da ASTIL) conta solidária nos "teus" postes... Já te pedi o nº fiscal da ASTIL para, ainda até ao final de Junho, alguém de boa vontade e retardatário poder transferir os 0,5% do IRS para a ASTIL. (Mas, se bem me lembro, dado o estatuto da ASTIL, vocês não podiam, ou ainda não podem,  aproveitar esse benefício fiscal, o que é pena. )


 Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > Escola de  São Francisco de Assis (ESFA), obra da ASTIL  e da comunidade local.
 
Foto (e legenda): © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


No nosso blogue (que já fez 20 anos) procuramos ajudar algumas ONGD, com sede em Portugal,  que fazem trabalho sério e solidário na Guiné-Bissau, e prestam contas, como a Ajuda Amiga ou a Afectos Com Letras...

Tu, que sempre foste "paisano", há uns anos atrás, dizias-me que eras um "malae", um estrangeiro (em tétum), para mais branco e de cabelos brancos (não é o que te chamam os putos em Dili e em Liquiçá ? )

Querias dizer um "malae" em relação à tropa, à guerra, à Guiné... Mas isso é superável. E já tens mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue. Afinal, pelo menos deste 2017 que colaboras connosco e fazias parte da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, quando o Eduardo Jorge Ferreira , estava vivo e era o régulo. E sempre gostaste de lá ir aos nossos convívios (***).

Foi aí que nasceu, da nossa comum amizade com o Eduardo Jorge e o João Crisóstomo, o nosso interesse por (e o  nosso apoio a) o trabalho que tu e a ASTIL estão a fazer "por mor das crianças timorenses mas também da língua que nos serve de traço de união".   

Pessoas como tu e a famila luso-timorense Sobral são um exemplotter para todos, portugueses. E, no teu caso,  com os teus 77 anos, fazes-me "inveja":  estás em Timor pela 5a. vez, desde 2018. São pelo menos 150 mil km feitos de avião, fora as horas, dias e semanas a calcorrear Timor , de carro, moto ou a pé, montanha acima, montanha abaixo...

Em suma, estás apresentado à Tabanca Grande, não digas mais que és um "malae", um estranho, um estrangeiro,  no blogue dos "amigos e camaradas da Guiné".

E aproveito para te desejar boas notícias e bom regresso, por estes dias, à "casinha lusitana".
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Observações: Malae, s. Estrangeiro, pessoa que não pertence à "raça" parda ou malaia; malae mutin, branco, europeu, português; malae sina, chinês; malae metan, africano, holandês; adj. estrangeiro, importado, que não é nativo; cf. timur.

Fonte: Adapt. de Mendes, Manuel Patrício,  e Laranjeira, Manuel Mendes (1935). Dicionário Tétum-Português. Macau: N.T. Fernandes & Filhos. (Para os interessados: há um dicionário de Português. Tétum e de  Tétum - Português, da Porto Editira, 2017, 416 pp.)

PS - O Rui nasceu em 2 de janeiro de 1947. E tem página no Facebook.

(...) Antes de mais quero agradecer-te o agradável encontro de tabanqueiros em Porto Dinheiro.

(...) Estar convosco foi um privilégio, que lembrarei para sempre. É a segunda vez que participo em encontros de camaradas de guerra colonial (por sinal o primeiro também perto daqui, no restaurante "O Pardal", com um batalhão que combateu em Moçambique), e desde então admiro e respeito, com conhecimento de causa, os valores de camaradagem que estes encontros transmitem. Obrigado por me terem incluído no vosso ambiente.

Como me foi pedido, deixo aqui o IBAN da conta aberta na CGD - agência do Sabugal - com destino à angariação de fundos para o Projeto de Solidariedade "Uma Escola em Timor Lorosa'e" e apadrinhamento de crianças em bairros pobres de Dili. (...)


Vd. também postes de: 


(****) Vd. postes de 


Guiné 61/74 - P25501: Facebook..ando (54): as lindas e gentis mulheres Tandas, de Imberém, Cantanhez: foto da semana de 20 de junho de 2011, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento

 

Guiné-Bissau > Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 20 de junho de 2011> 


"Um grupo de 'caltambas' acompanha as mulheres Tandas na sua colheita de arroz, manifestando a sua alegria pela boa produção obtida e dando coragem para que o trabalho se faça com sucesso. 

"O 'caltamba'representa a força da natureza que promove uma boa lavoura e produção, fazendo com que chova bem, haja paz e que as doenças sejam afastadas. As suas danças e especialmente as vestes baseadas na utilização de produtos da floresta como casca de árvores e folhas, são muito bonitas".

(https://www.facebook.com/adbissau)


Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) > 2 de Março de 2008 >

O Zé Teixeira, no tchon nalu, em pleno Cantanhez, no meio de duas mulheres da população local, e etnia tanda. Belíssimas, gentis e vistosas ("todas bem  produzidas", diria o nortenho do Zé Teixeira), de porte altivo e de grande dignidade. (Na carta de Cacine, a toponomia é Jemberem, a norte de Madina de Cantanhez... Hoje todo o mundo diz e escreve Iemberém. De resto, um dos afluentes do Rio Cacine é o Rio Iemberem... Será que terá havido um erro dos nossos cartógrafos ou uma gralha tipográfica ?...Não, o mesmo topónimo, mas o povo é que fa< a língua... Iemberém foi o local onde a comitiva do Simpósio Internacional de Guileje pernoitou dois dias... Fica em plemo coração do Parque Nacional do Cantanhez.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quem os Tandas, de Iemberém ?

É um minoria que habita o Cantanhez, "chão nalu", a que se juntaram outros povos (fulas, balantas, sossos, etc.)-

Escreveu o Pepito em 2008 (**):

(...) "Relatos orais dão os Tandas como originários de Kindou, na região de Tambacunda, Senegal oriental, de onde se terão deslocado inicialmente para Badjar, região de Koundura, atual Guiné-Conacri, à procura de bons solos para a prática da agricultura. 

"Mais tarde foram para Kakalidi, zona de Boké, onde começaram a negociar com os Nalús a concessão de terras, tendo-lhes sido atribuído uma área onde fundaram a sua primeira tabanca na Guiné-Conacri: Madina.

"Na atual Guiné-Bissau, Cassimo Camará criou a primeira tabanca que foi designada de Lamoi, na área de Quitafine. Seguiu-se Cambraz, fundada por Danim Marena, igualmente em Quitafine. Já em Cubucaré, Adulai Cumpon criou Bomani, a que se seguiu Madina, na área de Guileje, por Umarú Nangacum. Caboxanque Tanda, em Quitafine é fundada por Umarú Galissa.

"Acabam finalmente por chegar a Iemberém, em 1930, através de um grupo de seis pessoas, constituído por Umarú Camará, Pedjedibi Camará (pai de Umarú), Issufo Galissa, Mutaro Galissa, Mamadú Nhabali e Alfa Galisssa. 

"Por último, Umarú Galissa funda a tabanca de Cambeque, na linda mata com o mesmo nome.

"De todas estas tabancas apenas existem atualmente quatro: três em Cubucaré (Iemberém, Cambeque e Cambraz) e uma em Quitafine (Caboxanque Tanda).

"No seu seio os Tandas têm seis sub-grupos: Aiendja, Aban, Abangar, Assóssó, Aiés, Abucul e Adjar." (**)

A  "foto da semana" de "20 de junho de 2011" já a conhecímos, do poste P10108 (***). Afinal, a página do Facebook da  ONG AD continua "on line" e já tinha sido criada no tempo do Pepito.  Em 12 de julho de 2012, escrevia-nos o seguinte:


(...) Há oito anos atrás, a AD inaugurava a sua presença na Internet, através do seu site institucional. Temos procurado, aos poucos, fazer mais e melhor e, recentemente, atingimos dois objectivos há muito desejados: por um lado, conseguimos que o site já seja integralmente dinamizado e alimentado por quadros guineenses da AD; por outro, começámos a apostar nas redes sociais (Facebook) e explorado como podemos usar estas plataformas para dar voz aos nossos parceiros e colaboradores. " (...).

Sobre a legenda da foto da semana, acresecente-se que as palavra "caltamba"  e "tanda" não estão grafadas nos nossos dicionários, pelo menos no que está mais à mão, o Priberam. O que é lamentável, sendo o português língua oificial da Guiné-Bissau. Os semhores lexicógrafos da Porto Editora deviam visitar mais vezes o nosso blogue...

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >7 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25351: Facebook...ando (53): Joaquim Garrett procura camaradas que andaram com ele na EINAT n.º 2052 (1968/70)

(**) Vd. poste de 18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito)

(***) Vd. poste de 3 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10108: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (24): questionário de opinião sobre o seu sítio na Net (que tem 8 anos) e sobre a sua página no Facebook (que tem 2 anos)

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25500: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (42): Os meus pedidos aos soldados do meu 4.º Grupo de Combate



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


OS MEUS PEDIDOS AOS SOLDADOS DO MEU 4.º GRUPO DE COMBATE

A CCAV 2721 chegou à Guiné no dia 11 de Abril de 1970 e chegou ao Olossato em 13 do mesmo mês.

Em 31 de Maio, durante a "Operação JAGUAR VERMELHO" sofreu as baixas do capitão Moura Borges, comandante da Companhia e do alferes Silva, comandante do nosso 4.º grupo de combate.

Na falta do alferes, passei a comandar o meu 4.º Grupo de Combate, por ser o furriel mais antigo do grupo e da Companhia.

Nessa altura falei com o Grupo de Combate sobre a nova situação e para levarmos mais munições para morteiro 60, bazuca, HK-21, etc.

Esse acréscimo seria distribuído por todos, eu incluído, porque preferia irmos e virmos carregados do que precisar de munições e não as ter. O pessoal concordou e excluiu-me da sobrecarga para me poder deslocar mais facilmente por todo o Grupo de Combate.

Pedi-lhes também concentração e responsabilidade porque no fim da comissão queria que viéssemos os mesmos 28 elementos do grupo que levei do Regimento de Cavalaria 4, de Santa Margarida.

Também lhes pedi que não abusassem do álcool, porque os efeitos eram mais gravosos do que na metrópole.

Além disso, deviam ter especial atenção ao álcool nos dias de segurança ao quartel e nos dias de saída para o mato. Nestes dias deviam reduzir o consumo do álcool.

Se alguma vez, tivessem algo a festejar deviam guardar para o dia de trabalhos ao quartel, mas preferencialmente não abusarem da bebida.

E FELIZMENTE VIEMOS OS MESMOS 28 MILITARES QUE TINHAM SAÍDO DE SANTA MARGARIDA.

(continua)

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Nota do editor

Post anterior de 2 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25470: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (41): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: População recuperada ao PAIGC

Guiné 61/74 - P25499: S(C)em Comentários (36): Os 50 anos do 25 de Abril foram bem celebrados neste canto do mundo, Timor-Leste , onde quase ninguém fala o português, mas que tem um grande carinho e afeição com os portugueses, com Portugal (Rui Chamuco)


1. Destaque da última crónica de Rui Chamusco (*):

(...)  Embora muito longe de Portugal, a celebração dos 50 anos da Revolução de Abril não me é indiferente.  Até por que em 1974 tinha eu 27 anos, com vivências e episódios em que o anterior regime deixou marcas inesquecíveis.

 (...) Apraz-me registar que também aqui, em Timor-Leste, em Dili, os 50 anos são bem celebrados. Primeiro através da visita do Presidente Ramos Horta a Portugal para participar nas celebrações. Depois com um programa de atividades que se estende desde o dia 13 de abril a 4 de maio, e que tem como lema “Democracia e Liberdade pautam as comemorações do 25 de Abril".

(...) Os 50 anos são bem celebrados neste canto do mundo, onde quase ninguém fala o português, mas que tem um grande carinho e afeição com os portugueses, com Portugal.

(...) Mas o que me emocionou até verter algumas lágrimas, foi ver como noutras paragens, por exemplo na Galiza, em Paris, em Timor-Leste e muitas mais, tanta gente cantava, com alma e coração, as canções de antes e depois, como que a agradecer a revolução dos cravos. 

E ouvir cantar “Grândola, Vila Morena” por tantas vozes empolgadas pelo entusiasmo e a emoção, deixa-nos extasiados, sem palavras, com os olhos embaciados de lágrimas. Quem viveu o antes e o depois de Abril, não pode ficar indiferente à forma como o 50º aniversário foi vivido. (...) (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25498: De volta às montanhas de Liquiçá, Timor Leste, por mor da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau (5.ª estadia, 2024): crónicas de Rui Chamusco (ASTIL) (excertos) - Parte V

(**) Último poste da série > 3 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25475: S(C)em Comentários (35): "Barrigas de meia", no gíria do PAIGC (Cherno Baldé, Bissau)