segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20361: Notas de leitura (1237): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (2): “Tiago Veiga”; Publicações Dom Quixote, 2011 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Novembro de 2019:

Queridos amigos,
Mário Cláudio apresenta-se sempre como ficcionista, mas estreou-se na poesia antes de rumar para Bissau onde foi jurista no Quartel-General, como se deu notícia no texto anterior a propósito do seu livro autobiográfico "Astronomia". Nesta mesma obra ele refere o prazer de vasculhar em livrarias de segunda mão, onde encontrara uma publicação referente à doença do sono. Que a leu, demonstradamente ficamos a saber, quando se lê esta pretensa biografia de um intelectual imaginário chamado Tiago Veiga que vai até à Guiné, pasme-se, era Governador Carvalho Viegas, estamos no início da década de 1930, procura-se caraterizar a doença do sono.
Quando conversei telefonicamente com o Mário Cláudio para o associar ao nosso blogue, ele sugeriu-me a leitura destas duas obras, já lhe escrevi para saber se há mais, e havendo, aqui se fará o competente registo.

Um abraço do
Mário


Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária:
Um notável escritor que é nosso camarada da Guiné (2)

Beja Santos

Mário Cláudio
Em “Astronomia”, Mário Cláudio fala das visitas aos alfarrabistas e refere explicitamente a compra de uma publicação sobre saúde na Guiné. Em “Tiago Veiga, uma biografia”, Publicações Dom Quixote, 2011, sentir-se-á atraído por um universo anterior aos tempos da guerra, como iremos ver.
Esta obra de ficção aproxima-se das oitocentas páginas, é uma biografia imaginária de um bisneto de Camilo Castelo Branco, que ele trata como um caso singular na literatura portuguesa, um interlocutor de grandes criadores artísticos como Fernando Pessoa, Jean Cocteau, W. D. Yeats ou Benedetto Croce. Tiago Veiga viaja para a colónia da Guiné em abril de 1932 a bordo do paquete Serpa Pinto. Acompanha o Dr. Fontoura de Sequeira, chefe da missão que consistia em avaliar a existência da doença do sono e das particularidades que apresentava. Fonseca de Sequeira entregará mais tarde às autoridades competentes o relatório da sua missão. “O caráter não oficial da participação de Tiago Veiga, e de uma outra personalidade, Jerónimo Paiva de Lima Sagres, explicava que a sua identidade fosse excluída do documento de Fontoura de Sequeira (…). A brigada minúscula ficaria alojada no melhor hotel de Bolama, um estabelecimento que apenas se distinguia de uma pensão qualquer em Fornos de Algodres pelo criado de mesa, um balanta que servia de luvas brancas os camarões grelhados, seguidos da papaia às fatias. O Governador da colónia, Luís António de Carvalho Viegas, receberia Fontoura de Sequeira, e na formal preleção com que o brindaria iria ele reiterar aquilo que constituía o cerne das suas convicções em matéria de política sanitária”.

É o momento propício para Mário Cláudio investir na caraterização da orografia:
“O território guineense surgiria a Veiga como uma espécie de grande bolacha verde, mergulhada em águas lodosas e paradas, e que aos poucos amolecia, terminando por inteiramente se esboroar, a construir ilhas e enseadas, penínsulas e cabos, e aquilo a que se chama ‘a bolanha’, e que não conformava mais do que a infinidade dos pântanos, tornada responsável na imaginação europeia por todos os males deste mundo”. E tem uma palavra para os colonos: “Receosos de que se concretizasse a transferência da capital da colónia, de Bolama para Bissau, pareciam eles optar por uma letargia paradoxal, favorecidos pelo argumento da prostração a que o clima os condenava. Amarelentos e aparentemente subnutridos, associavam-se em grupelhos emborcadores de aguardente de cana.” E traça-se a natureza da missão: “No mapa que estenderam diante do nosso homem, e através da lembrança de que não se esquecesse da dose semanal de quinino, delineava-se a área da incidência da profilaxia da enfermidade do sono. Ela ia de Compiana no Sul a Varela no Norte, e de Bolama no Oeste a Cam Queifá no Leste”.

Afinal de contas, o que andava Tiago Veiga a fazer por aquelas bandas? Mário Cláudio responde:
“Cedendo a esse fatalismo que transforma os salvadores do corpo e alma dos homens em predadores das restantes espécies, Fontoura de Sequeira dedicava à caça o tempo que lhe sobejava das canseiras do serviço, mas Tiago, tendo disparado um ou dois tiros experimentais, reveladores da mais completa inépcia venatória, logo se remetera a ocupações bem menos voluntaristas. Cobriam eles o território com uma celeridade incompatível com qualquer reflexão aturada sobre aquela doença que tão só cinco anos antes se apurara existir na Guiné Portuguesa. Montavam as tendas, arrebanhavam as populações, executavam as análises, desmontavam as tendas, e abalavam na manhã seguinte em direção a mais uma das localidades assinaladas no mapa de que se socorriam. A tarefa de Veiga consistia em anotar em fichas o nome dos infetados, a sua idade e sexo e morada, e qualquer observação pertinente. E não demoraria muito a que se familiarizasse o nosso biografado com uma terminologia que, não sendo científica, não deixava incluir o seu grão de carga poética, suscetível de desencadear um que outro surto de escrita pelo menos mental. (…) E os voos da fantasia de Tiago Veiga obtinham estimulante alimento da observação das preparações microscópicas a que o chefe da missão o convidava. A insídia com que o agente patogénico se manifestava, a selecionar as águas, conforme fossem doces, ou salgadas, e a vegetação, consoante fosse lisa, ou viscosa, denunciava a presença desse mistério do comportamento animal”.

É nisto que Baltasar entra na vida de Tiago Veiga, acontecimento inesperado, com grande carga emotiva:
“Na localidade de Bigina aconteceria aquilo que iria alterar-lhe a normal cadência do coração. Um garotinho dos seus três anos e pico, Mamadu Baldé, mas que os missionários haviam batizado de Baltasar por ter nascido pelos Santos Reis, achegou-se a Tiago. Completamente nu, mas com um colarzito de missangas ao pescoço, e mal atingindo o tampo da mesa que servia de secretária ao nosso homem, deitou-se a mirá-lo com os grandes olhos redondos. O nosso poeta não se deu por achado, a fim de analisar a atitude que o miúdo assumiria. Obstinado a partir daqui, e ao longo dos vinte dias em que a brigada estacionara naquelas paragens, em não se apartar das vizinhanças do nosso biografado, Baltasar não o largava, nem por um instante. E Tiago esforçava-se por aproveitar tal circunstância para distinguir o papel que lhe caberia, e aos seus companheiros, na correção de uma natureza porventura dependente da ausência do branco para fixar os seus equilíbrios intemporais. Essas ameaças, e eram muitíssimas, que rodeavam as incertezas passadas pelo cachopinho, a anemia, a caquexia, e o febrão remitente, tudo isso de caráter palustre, e mais a disenteria, e mais as febres, biliosa e perniciosa, ou a doença do sono, estariam ali talvez para que a terra continuasse como esponja empapada de lamas, insuscetível de conter em cada momento um número de vivos superior ao necessário para compensar o desfalque dos que tinham morrido. Veiga reparava então nos olhitos aguados de Baltasar, dirigia-lhe palavras que nada significavam, e que bem sabia que ficariam sem resposta, e consentia ao garoto que o procurasse à noite, que se insinuasse pelos dentros do mosquiteiro, que se estendesse a seus pés, e que desatando a chuchar no polegar direito, adormecesse como um anjo até os galos cantarem”.
E de seguida Tiago Veiga é sacudido por um ataque de paludismo, e há uma história de lendas da Guiné para contar, como adiante se verá.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 11 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20333: Notas de leitura (1235): Mário Cláudio, nos cinquenta anos da sua obra literária (1): “Astronomia”; Publicações Dom Quixote, 2015 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 15 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20347: Notas de leitura (1236): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (32) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20360: Parabéns a você (1711): António Mateus, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20350: Parabéns a você (1109): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68) e TCor Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Furriel de Artilharia do 9.º Pel Art (Guiné, 1970/72)

domingo, 17 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20359: Tabanca Grande (487): Leonel Teixeira, natural da Madeira, luso-americano, Vice-Cônsul, Vice-Consulado de Portugal em Providence, Conselheiro da Diáspora Madeirense para os EUA, ex-alf mil, CCAV 3364 (Ingoré e Cumeré, 1971/73)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 799.




Guiné > Região de Cacheu > Sedengal > CCAV 3364 > Na foto, a partir da esquerda: capitão Saraiva, comandante da CCAV 3364 (, a companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço [1]; major Sampaio, oficial de operações [2] ; major (tenente-coronel?) Mateus [3]; com barba, alf il Ribeiro,  da CCAV 3364 [4]; de frente, alf mil trms  Almeida 5]; com o copo na mão, alf mil Agostinho Miranda [6]; o oficial de óculos não foi identificado [entre o 6 e o 7];  alf mil art Vasco Pires [7]; o último à direita é o tenente Nobre da CCS [8]; de costas, alf mil Teixeira (?),  da CCAV 3364 [9].


1. Mensagem do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), nosso camarada da diáspora, a viver desde 1975 em Nova Iorque, conhecido ativista social (de causas como as Gravuras de Foz Coa, Timor Leste ou Aristides Sousa Mendes), recentemente promovido a régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona (que é tão grande como o mundo):

Data - domingo, 10/11, 10:28

Assunto -  Camarada Leonel Teixeira



Caro Luis Graça, e demais camaradas, 

É com muito orgulho que vos apresento um novo camarada, Leonel Teixeira, um amigo que tenho o privilégio de conhecer há muitos anos, mas que em algumas coisas apenas "vim a conhecer melhor” há dias, quando me disse ser madeirense e ter estado na Guiné. 

 Imediatamente o convidei para membro da nova "Tabanca da Diáspora Lusófona ”e da Tabanca Grande (, com o nº 799),  o que, para grande satisfação minha e de todos nós evidentemente, aceitou.
É uma grande honra para nós, ( entre outras coisa já foi agraciado com a Ordem do Infante D. Henrique!) como podem ver por algumas palavras de apresentação que recebi há momentos. (São agora 04.27 da manhã… e eu tenho a infeliz mania de dormir muito pouco.). Como faço frequentemente a primeira coisa que fiz foi consultar o computador para ver os emails. E deparei com uma mensagem do Leonel Teixeira que com a devida vénia copio:



José Leonel Rodrigues Teixeira,  conselheiro da Diáspora Madeirense para os EUA. Nomeado em 2016, conforme resolução, de 4 de agosto, do Governo Regional da Madeira.  


Caro João Crisostomo,

Já conhecia o blog em boa hora criado pelo Luís Graça. Duas surpresas que vieram logo que comecei a ler:


Na foto, a partir da esquerda: Capitão Saraiva, Comandante da CCAV 3364 (a Companhia do Carlos Nóvoa) e presente no almoço; Major Sampaio, Oficial de Operações; Major (Tenente-Coronel?) Mateus; com barba, Alf Mil Ribeiro da CCAV 3364; de frente, Alf Mil de Transmissões Almeida; com o copo na mão, Alf Mil Agostinho Miranda; o Oficial de óculos não foi identificado; Alf Mil Vasco Pires; o último à direita é o Tenente Nobre da CCS; de costas, Alf Mil Teixeira (?) da CCAV 3364.

É verdade, 
sou eu. Leonel Teixeira,  que estou de costas. Era no aquartelamento do Sedengal onde a CCAV 3364 tinha 2 pelotões e os outros dois estavam na sede em Ingoré. O Capitão Saraiva foi o segundo comandante da companhia,  depois do primeiro (esqueço o nome) ter sido punido e foi transferido para algures na Guiné. 

O Capitão Saraiva depois de alguns meses, creio que foram 6, foi também transferido e fiquei o resto da comissão, cerca de 7 meses, a comandar a companhia em Ingoré. 

Antes de vir para os EUA, em 1980, participei em 3 jantares do Batalhão que eram organizados pelo capelão. Uma vez nos EUA,  nunca tive oportunidade de conviver com os camaradas,  acrescido que de Lisboa seguia quase de imediato para a Madeira donde sou natural e tenho família. 

Na semana passada estive em Lisboa alguns dias,  participando num convívio com os meus colegas do 7º ano (o ano passado celebramos os 50 anos) e consegui, graças a camaradas que vivem em Lisboa, reunir num almoço. Foram 11 e quem organizou foi o Carlos Nóvoa (Xina). A minha mulher também esteve presente. No final, de um longo e saudável almoço, concordamos que possivelmente já nos havíamos cruzado mas nem eu nem eles nos reconheciamo-nos.

Desde 1980 que exerço funções no Consulado de Portugal em Providence e, quando foi transformado em Vice-Consulado,  fui nomeado titular do Posto, em 2009, cargo que deixei quando decidi passar à aposentação em 2014. 

Ainda nesse ano, por ocasião do Dia de Portugal, no 10 de Junho de 2014, fui agraciado pelo Sr. Presidente da República com o grau Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.  Em jeito de brincadeira entre amigos, costumo dizer que jogo na mesma equipa do meu conterrâneo Cristiano Ronaldo, porquanto ele foi também agraciado com a Ordem do Infante, gau Grande Oficial. Presentemente, e já há alguns anos, sou o Conselheiro da Diáspora Madeirense para os EUA

Um muito obrigado e um grande abraço desde o mais pequeno Estado dos EUA.

Leonel Teixeira


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Não preciso de dizer mais. Peço-vos o favor do "trabalho da papelada”, que sei vai ser um prazer para vocês.
Como ele me mencionou já ter conhecimento do nosso blogue,  fui logo procurar essa foto e a mencionada info que encontrei num post de 23 de Março de 2013, ( que junto a seguir só para vos poupar tempo, aliás seria mesmo "estar ensinar o padre nosso ao vigário”) (*)

Agradeço me incluam em cc , está bem?

João Crisóstomo

2. Comentário do editor LG:

Meu caro João: mais uma vez podemos repetir o aforismo: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!"... Em boa hora, trouxeste.nos o Leonel Teixeira, que se reconheceu numa foto, tirada m Ingoré ou Sedengal... Enfim, estás a fazer o teu trabalho como régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona (e não apenas lusitana, já que temos camaradas, que estiveram connosco no TO da Guiné, e que têm hoje outras nacionalidades: guineenses, cabo-verdianos, angolanos, moçambicanos, são tomenses, timorenses, chineses de Macau, luso-americanos, etc.). 

Meu caro Leonel Teixeira: tratamo-nos por tu, sem cerimónias, independentemente dos antigos e atuais títulos... A Guiné é  nosso traço de união. E este blogue foi criado, em 2004, justamente para a gente se ir reunindo debaixo de um simbólico poilão de uma Tabanca Grande virtual onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar... As nossas regras de convívio são simples e estão aqui disponiveis "on line".

Passas a sentar-te no lugar nº 799. à sombra do nosso poilão. Há mais de um mês que não entrava "sangue novo" (**)... Bem hajas!... E ficas desde já convidado para para nos mandares, por email, para efeitos de publicação (, tarefa que cabe aos editores,) memórias, histórias e fotos da tua comissão de serviço na Guiné.

Infelizmente temos poucos representantes do teu batalhão. E da tua companhia, és o primeiro a dar a cara... Vejo que conheceste o Vasco Pires, infelizmente já falecido no Brasil, em 2016.... Da tua companhia, só temos até agora 4 referências no nosso blogue... Do batalhão temos mais, cercade 3 dezenas.

Para tua / nossa informação, o BCAV 3846,  além da  CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré), era composto pela CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré) e CCAC 3366 (Susana, Cumeré). A unidade mobilizadora foi o RC 3. O Comando e a CCS ficaram em Ingoré, o cmdt do batalhão era o ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães. O pessoal do teu batalhão partiu para o TO da Guiné em 8/4/1971, no T/T Angra do Heroísmo, regressou a casa em 8/3/1973, exceto o da CCAV 3365 que embarcou mais tarde (17/3/1973). Tens aqui fotos dessa viagem para o CTIG.

CCAV 3364 teve, de facto,  3 comandantes, como tu dizes: (i) cap mil cav Rodrigo José Afreixo Ferreira; (ii) cap  cav José Rafael Lopes Saraiva; e (iii) tu próprio, alf mil inf José Leonel Rodrigues Teixeira, novo membro,  nº 799, da Tabanca Grande.

Fico duplamente feliz por já conheceres o nosso blogue e agora poderes passar a partilhar também, através dele, as tuas memórias, e, por outro lado,  por seres um madeirense e um português do mundo, com um bela força de serviços prestados à Pátria... Deixa-me dizer-te que tenho lá, na região autónoma da Madeira, alguns bons amigos (e também alguns camaradas), e acabo de ter uma neta, de mãe madeirense...

Quando puderes, arranjas-nos uma foto do teu tempo da Guiné, de preferência tipo passe. A foto atual que publico acima, fui pedi-la emprestada ao sítio do Centro das Comunidades Madeirenses e Migrações. Não hesites em escrever-nos e em "recrutar" para a Tabanca Grande mais camaradas da diáspora lusófona, a viver nos EUA, em particular madeirenses e açorianos, que estão aqui subrerrepresentados.

 Boa sorte para as tuas novas funções como conselheiro da Diáspora Madeirense nos EUA.
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Notas do editor:
(...) Em mensagem do dia 20 de Março de 2013, o nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), dá-nos conta dos resultados da investigação que lhe deu a certeza de não ter passado os seus últimos tempo de comissão em S. Domingos, como pensava, mas em Ingoré.

Colaboraram nesta pesquisa os camaradas Delfim Rodrigues e Carlos Nóvoa.

Caro Carlos,


Encerrando o assunto "São Domingos ?"... Em primeiro lugar quero agradecer a tua ajuda nesta busca, para encontrar o local dos últimos meses da minha comissão.

No P10525, fiz um resumo desses três meses, e sempre que via as os fotos desse tempo, o nome que vinha à minha memória era São Domingos, contudo, li mais tarde neste blogue, que São Dominngos não era sede de Batalhão.

No P11262 coloquei a dúvida, apesar de ser São Domingos o nome que assomava à minha memória. No dia em que publicaste a minha dúvida, coincidentemente, foi publicado o Convívio do BCAV 3846; o camarada Delfim Rodrigues, organizador do Convívio a quem recorreste, não pôde ajudar na confirmação de que os oficiais da foto eram desse BCAV, pois a sua CCAV esteve estacionada em Suzana e Varela. Forneceu o e-mail do Carlos Nóvoa, que tinha servido na sede do BCAV, e que levou a foto para o almoço em Estremoz.

E realmente o Mundo é Pequeno ...e a nossa Tabanca é Grande. O Major Sampaio, presente no almoço, se identificou e a quase todos os Oficiais da foto [, vd. foto acima, e respetiva legenda].
(...) Sim, os últimos meses da minha comissão foram em Ingoré, todavia, essa palavra continua "adormecida' no meu inconsciente... Vai saber...!!! (...)

(**) Último poste da serie > 8 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20216: Tabanca Grande (486): Manuel Viegas, algarvio de Faro, ex-fur mil, CCAÇ 1587 (Cachil, Empada, Bolama e Bissau, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 798. Padrinho: José António Viegas, régulo da Tabanca do Algarve.

Guiné 61/74 - P20358: Recortes de imprensa (105): A vivência traumátca da guerra no último livro de Jaime Froufe de Andrade, "Os manuscritos de R." (Sílvia Torres, "Diário de Coimbra", 15/11/2019)







"Diário de Coimbra", 15 de novembro de 2019 > Opinião > Sílvia Torres >  A guerra não é um 'morto-definitivo



1. Texto enviado pela nossa amiga e grã-tabanqueira Sílvia Torres que tem uma coluna de opinião no  "Diário de Coimbra", "órgão regionalista das Beiras"  (, fundado em 24 de maio de 1930 por Adriano Viegas da Cunha Lucas (1883-1950),  afirma-se  como um jornal republicano, independente, de orientação liberal, defensor da democracia pluralista).

2. Do blogue Tarrenego! (com a devida vénia...)

sexta-feira, 4 de outubro de 2019 > Os Manuscritos de R., de Jaime Froufe Andrade

Jaime Froufe Andrade volta à guerra em "Os Manuscritos de R.", livro da colecção Palavras Transitivas da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. São noventa e duas páginas que se leem num suspiro, "pedacito de prosa desarticulada e fantasmática," no dizer do autor. Froufe Andrade é jornalista, foi alferes ranger em Moçambique e publicou "Não Sabes Como Vais Morrer".

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20026: Recortes de imprensa (104): O 10 de Junho de 1970 na Revista Guerrilha, edição do Movimento Nacional Feminino, dirigida por Cecília Supico Pinto (2) (Mário Migueis da Silva)

Guiné 61/74 - P20357: Blogues da nossa blogosfera (114): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (30): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

A MARIA

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


Os olhos vindos do outro lado do mundo, fundos de ausência, casavam o branco e o negro para dizerem o que a boca não conseguia.
O nariz afilava de um só traço o rosto magro, e os cabelos errantes fugiam da testa cada pedaço para seu lado.
A pele transluzia uma imagem por detrás dos vidros, imagem baça do avesso da vida.
Uma dor subtil desenhava os lábios maduros, finamente trémulos, como se estivessem prestes a chorar.
Nunca alguma lágrima por eles correu ou voou algum beijo, apenas o cigarro acendia e consumia a sua virgindade.
A Maria olhava-me sempre fixamente, olhos cravados nos meus, como que a dizer: tu entendes-me tu és capaz de me compreender.
Ela percebia o sim do meu silêncio por baixo dos olhos vencidos.
Conheci duas mulheres iguais à Maria, fotocópias da Maria, ambas se chamavam Maria, uma brasileira e outra francesa, uma pisava o teatro outra o anfiteatro.
Inquilina de soleiras e vãos, a Maria pisava a grande cidade da noite.
As mulheres da fama e da ciência derivavam a vida por entre a lanugem dos cardos e a tangência do sentimento, a mulher da vida era vertical e secante como folha de piteira.
A Maria mijona não tinha idade nem tempo, nem antes nem depois, era apenas instante.
Nunca se sentara na mesa do canto fugindo de si mesma, escolhia sempre a mesa central, desafiando os olhares e vidrando o espaço em seu redor.
Comia a sopa, o prato de sempre, como quem tocava violino.
Apesar da mão trémula, nem um pingo deixava cair no desbotado regaço, sumido de cores pelo uso e abuso.
Se moedas cresciam da sopa, não dispensava o brande, sua única bebida.
Por detrás do corpo sujo de Maria mordiscava uma beleza intrigante, tivesse ela banheira e emergiria da espuma como sereia das águas.
Penso que nunca vi a Maria fora deste retrato, para cá da sombra.
Por outro lado, tenho a certeza de que já dormi com ela... ou terá sido um sonho?
A Maria nunca mais apareceu.
A última vez que a vi não tinha olhos nem boca nem cigarro, não tinha sopa nem brande, apenas falta de ar. Engolira o violino, e a música era uma dispneia sibilante, cântico fúnebre gemido pelas entranhas.
Toquei-lhe no ombro e ela percebeu que eu queria levá-la.
Levantou a ponta de um sorriso e esboçou um gesto negativo com a mão.
Afastei-me, com a sensação de que tinha profanado um sacrário.
A Maria nunca mais apareceu.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20308: Blogues da nossa blogosfera (113): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (29): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20356: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte II


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº  31


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº  23 

Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  26



Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  21


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº   22


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  30


 Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  27


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  24


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº 25


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº   28


 Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº 20


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos, na posse do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69). 

Foram-lhe enviadas, sem legendas,  por um português, das suas relações,  empresário do setor hoteleira, que ele de momento não está autorizado a identificar. São fotos, muitas delas aéreas, com interesse documental para aqueles, como nós, que conheceram Bissau, que continuam a lá ir ou querem ainda lá ir.  As fotos devem ter sido tiradas no início da década de 2010, e algumas serão mais antigas. Mas são de alguém que ama muito a cidade de Bissau...onde vive. E onde a gente vive é a nossa terra!...

É de recordar aqui, a propósito das fotos de Bissau de hoje e de outros lugares da Guiné-Bissau, o que escreveu a nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, quando lá voltou em novembro de 2015: 

"Gostaria de te contar uma conversa que tive com um colega do meu filho de Bambadinca - ele diz que os poucos turistas que vão à Guiné, gostam de tirar fotos ao que há de mais desagradável, explorando a imagem do lixo, da pobreza, etc. Pelo respeito que tenho a esta gente, pelo amor que tenho a esta terra, pelo sonho de lá voltar, não esperem de mim tais imagens. Eu sou assim!!!!"...

Legendas (da responsabilidade do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Nº 20 - À esquerda, o edifício do Hospital Nacional Simão Mendes, na  Rua Eduardo Mondlane, que vai ter ao cemitério municipal.

Nº 21 - Bissau Velho, praça do Pindjiguiti, instalações portuárias,

Nº 22 - Em primeiro plano, o Hotel Coimbra, nas traseiras da Catedral... (Era o antigo edifício do estabelecimento Nunes & Irmão Lda).

Nº 23 - Baixa, com duas grandes artérias: a Av Amílcar Cabral (que desce até ao porto) e Rua Eduardo Mondlane (a antiga Rua Eng Sá Carneiro) que a interceta; em primeiro plano, reconhece-se a Catedral, com o recinto bem delimitado por um muro branco; e antes o edifício Coimbra Hotel e Spa (em forma de U).

Nº ´24, 25, 27 - O edifício dos Correios, Telégrafos e Telefones. O projeto de arquitetura do edifício, foi desenhado por Lucínio Cruz (Gabinete de Urbanização Colonial ) em 1950, tendo o mesmo arquiteto elaborado o projeto definitivo em 1955. Fica localizado na Av Amílcar Cabral, frente à Catedral.

Nº 26 - O cais do Pindjiguiti, o porto, as instalações portuárias, a marginal (Av 3 de Agosto), Bissau Velha, o Geba, o ilhéu de Rei... A Av Amílcar Cabral desemboca na Praça Pindjiguiti, onde se monumento com o busto do "pai da Pátria", Amílcar Cabral... Na altura em que a foto foi tirada, ainda não existiria o monumento Mon di Timba ou Sinku Dedus, no lado direito da praça do Pindjiguiti.

Nº 28 -  O  edifício do Hotel Coimbra, na Av Amílcar Cabral, 1082, à direits de quem sobe. O sítio Kalma Soul, guia turístico sobre a Guiné-Bissau, diz o seguinte ssobre este conceituado hotel de 3 estrelas:



Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Foto do estabelecimento de Nunes & Irmão Lda, hoje Hotel Coimbra. Cortesia da página do Facebook de Hotel Coimbra
"Um hotel no centro da cidade, junto a Catedral de Bissau. Oferece aos hóspedes um espaço com piscina, ginásio, spa e também sala de reuniões para os hóspedes em viagem de negócios. O restaurante do hotel tem um buffet variado e segundo os hóspedes, muito saboroso. O pequeno almoço é servido num bonito e bem tratado jardim. O hotel fica a poucos metros de locais que merecem a sua visita, como por exemplo, o do Porto de Bissau, a zona mais antiga da cidade, Bissau Bedjo e a Praça dos Mártires de Pindjiguiti."

Tem também uma livraria, a livraria Coimbra. O Hotel está instalado no antigo estabelecimento, um dos mais importantes ds época colonial, Nunes & Irmão Lda.  O negócio continua na família há 3 gerações.

Nº 30 - Troço da Av Amílcar Cabral

Nº 31 - Av Amílcar Cabral (antiga Av República), Baixa, Porto de Bissau, Amura (à esquerda), Catedral (Torres) (em primeiro plano)



Guiné-Bissau > Bissau >  3/11/2015 > Praça dos Mártires de Pindjiguiti (acabada de  inaugurar em  em 3/8/2015, depois de um a polémica requalificação)... O grupo escultórico também é conhecido por  Mom di Tima ou Sunku Dedus.  Os nomes de cerca de 6 dezenas de marinheiros e outros trabalhadores portuários, que foram mortos na sequência da repressão da greve de 3 de agosto de 1959, foram gravados no monumento, por iniciativa da CM de Bissau.

Foto: © Adelaide Barata Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados.[ Edição e legendagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.




Cortesia de Vd. Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização Colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [Disponível aqui em pdf ]  


Guiné 61/74 - P20355: Blogpoesia (646): "Pé-ante-pé sobre o mar...", "Páginas inúteis" e "Brincando com as formas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Pé-ante-pé sobre o mar…

Fui pé-ante-pé sobre o mar.
Silencioso e aventureiro.
Sem receio do Adamastor.
Quis chegar ao outro lado, curioso de ver como seria.
Arribei à praia de Vera Cruz.
Lá estava a Cruz da primeira Missa.
Onde chegaram nossos heróis.
Enseada ampla e bela.
Tudo estava em estado virgem.
Descendentes dos mesmos indígenas, muito ciosos de sua história.
A Mãe-Natureza os cuida bem.
Têm os mesmos traços as casas e igrejas que os portugueses deixaram.
Dali, de tão longe, olhei o Portugal, do outro lado.
Donde vem o Sol.

Senti orgulho…

Berlim, 10 de Novembro de 2019
20h00m
Noite cerrada
Jlmg

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Páginas inúteis

Páginas em branco.
Antecedem a história.
Folhas inúteis.
Folhas caídas.
Nem presente nem passado.
Órfãos.
Sem pai nem mãe.
Sempre à espera de quem os adopte.

Espaços brancos de assinatura.
Quem lhes dera a sorte de verdejar de vida.
Para contarem a outra história.
Cada olhar tem sua mirada.
Cada mirada uma fracção.
Ouvir de todos para se julgar bem.
Espaços em branco de nada servem e falseiam a conclusão.
E, muitas vezes, o que vem antes é a porta do que virá depois…

Berlim, 12 de Novembro de 2019
10h56m
Jlmg

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Brincando com as formas

Pega dum seixo cravado no chão,
Crava-lhe os olhos, procurando bem fundo, sua alma imortal.
Define-lhe o busto.
A cabeça e o tronco.
Alisa-lhe as faces.
Desenha-lhe os olhos.
O sobrolho suave.
Rasga-lhe a boca, de lábios carnudos.
Esboçando um sorriso.
Lhe alonga o nariz, um nada adunco.
Sugere-lhe os cabelos escorrendo para os ombros.
As orelhas espreitando ariscas.
Alonga-lhe o colo.
Lhe lembra Adónis.
Prende-lhe uns braços roliços que terminam nas mãos.
Atribui-lhe uns dedos com minúcia de arte.
Parece um artista atento, frente a um piano.
Só falta a canção…

Ouvindo Pyotr Tchaikovsky - Swan Lake
Berlim, 16 de Novembro de 2019
11h40m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20330: Blogpoesia (645): "Afinar as cordas", "Cavalos selvagens" e "Suavemente...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 16 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20354: Tabanca dos Emiratos (1): Cacei aqui, a 8 mil quilómetros de distância, às 16h02 (12h02, daí), mais um número redondo, o 9,7 milhões de visualizações do nosso blogue... Um forte abraço desde Abu Dhabi (Jorge Araújo)


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 1


Foto nº 2

Emiratos Àrabes Unidos > Abu Dhabi > Novembro de 2019 > Jorge Araújo, o régulo da Tabanca dos Emiratos,  no Bairro de Al Bateen

Legendas das fotos: A 1.ª identifica o nome do Bairro e a entrada no recinto da Festa. A 2.ª dá uma ideia, original, como se pode aproveitar uma lambreta para outros fins. A 3.ª, no exterior do recinto, junto ao mar, vendo-se ao fundo alguns dos edifícios (Torres) que referimos acima. A 4.ª, e última por hoje, as mesmas Torres, agora de tamanho ampliado, de estilo arquitectónico modernista e sofisticado (futurista).

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e coeditor Jorge Araújo;

Data - 16 de novembro de 2019, 12h29

Assunto - Notícias da "Tabanca dos Emiratos"

Caríssimo Camarada Luís,
Bom tarde, desde Abu Dhabi.

Ao ter conhecimento das boas notícias do P20338, relacionadas com o nascimento de uma bebé, de nome Clarinha (neta), não podia deixar de reservar as primeiras palavras para te enviar os nossos Parabéns, extensivos aos restantes membros da família Graça, pelo novo e importante papel na sociedade - o de avô.

Trata-se de uma outra responsabilidade democrática, por permitir partilhar muitos saberes e outras tantas experiências acumuladas ao longo da vida - a dos avós.

Que assim seja, por muitos e longos anos, em completa harmonia e felicidade de todos.

Em segundo lugar, a integração nesta nova experiência nos «Emirates» está a processar-se dentro do que era expectável. A vida tem desta coisas: "comissões (missões) de serviço"... umas aqui, outras ali e outras mais além, pois estamos sempre em movimento, como resposta aos vários apelos...

Por cá, quase tudo é em (à) grande. Habitações na vertical (Torres), algumas com mais de sessenta andares, com duas dezenas de apartamentos por andar. Estradas com (até) seis faixas de rodagem. Altas temperaturas durante o dia. Contexto sociocultural particular, onde interagem sujeitos dos cinco continentes. Cidade considerada a mais segura do planeta nos últimos dois anos. É, de facto, outro mundo... outra realidade.

Os dias de trabalho semanal vão de domingo a 5.ª feira, sendo a 6.ª feira e o sábado, os dias de descanso. Ontem (15.11), a meio da tarde, fomos até ao Bairro de Al Bateen assistir/participar num evento popular, com actividades de animação para todas as idades, abertas a nacionais e estrangeiros, prática tradicional aos fins-de-semana.

Junto quatro fotos alusivas. A 1.ª identifica o nome do Bairro e a entrada no recinto da Festa. A 2.ª dá uma ideia, original, como se pode aproveitar uma lambreta para outros fins. A 3.ª, no exterior do recinto, junto ao mar, vendo-se ao fundo alguns dos edifícios (Torres) que referimos acima. A 4.ª, e última por hoje, as mesmas Torres, agora de tamanho ampliado, de estilo arquitectónico modernista e sofisticado (futurista).


Finalmente, antecedendo a saída para Al Bateen, em visita ao blogue para actualização de conteúdos, conseguimos "caçar mais um número redondo" - o 9.700.000 (nove milhões e setecentos mil - eram 16h02 (aqui) ou 12h02 (aí, a cerca de oito mil quilómetros de distância). Esta cifra ficará, também, para memória futura.

Termino, desejando-vos um óptimo fim-de-semana, como muita saúde e felicidade.
Com um forte abraço, desde Abu Dhabi,
Jorge Araújo.


2. Comentário do editor LG:

Acompanhando a esposa, que está a trabalhar na Zaed University, , o nosso coeditor Jorge Araújo vai estar, pelo menos neste ano letivo de 2019/20, em Abu Dhabi... Passa a ser o nosso "português das Arábias"... Os ingleses tem o Lawrence, e nós temos o Araújo.

Os camaradas e amigos da Guiné  que por lá passarem, em Abu Dhabi, podem contar com a sua hospitalidade...dele e da doutora Maria João Figueiras.

Aproveito para dar os parabéns à nossa amiga Maria João e desejar-lhe boa sorte para a sua carreira internacional como professora e investigadora na área da pscologia da saúde, onde já tem um brilhante currículo, sendo até ao passado ano letivo exercido funções como professora associada no Instituto Piaget, Monte da Caparica, Almada. Maria João Figueira é doutorada em psicologia da saúde pelo Kings College, University of London (2000).

Tínhamos, de resto, intenção de a convidar para integrar a nossa Tabanca Grande, já que ela tem acompanhado ao longo dos anos o nosso blogue e participado, por diversas vezes,  nos nossos encontros nacionais, em Monte Real. Vamos formalizar, oportunamente, esse convite.

O Jorge Araújo em véspera de partir para Abu Dhabi, no passado dia 3 escreveu-nos esta simpática mensagem: "Ainda que a distância, entre nós, passará a ser significativa, vou tentar acompanhar a publicação dos textos no blogue, com a ajuda dos instrumentos tecnológicos ao nosso dispor. Mesmo com um novo quotidiano, que será diferente do de cá, prometo dar seguimento às minhas narrativas, enviando-as daquela região do globo. Estás, desde já, convidado a visitar-nos. Entretanto, faço votos para que continues a recuperar (bem!) das tuas maleitas." (...)

Aberta uma nova tabanca, a dos Emiratos, fica desde nomeado como régulo o Jorge Araújo, até por uma razão simples: o nosso blogue tem horror ao vazio e a nossa missão, civilizadora,  é "criar uma, duas, três, muitas tabancas"...

Ao Jorge e à Maria João só podemos desejar o melhor do mundo, porque eles merecem tudo. E agradeço, em meu nome e da minha família, os vossos parabéns pelo nascimento da Clara Klut da Graça, filha do João Graça e da Catarina Klut, que também são "psis". A menina e a mãe estão bem. E o pai, naturalmente, anda radiante... O avô, esse, anda a tirar um curso intensivo para tentar ser um bom avô... A avô, essa, já lhe leva a dianteira...
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Guiné 61/74 - P20353: Os nossos seres, saberes e lazeres (364): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Aí por 1630, o Vale das Furnas teve forte sacudidela, fugiu gente aterrorizada, depois a vida retomou a sua normalidade, os capitães donatários puseram a economia a funcionar. A ter-se em conta o que escreve o fidalgo Senna de Freitas em "Uma Viagem ao Vale das Furnas em Junho de 1840", gente abastada aqui tinha os seus bens, caso do Conde da Ribeira, o Brigadeiro Pacheco de Castro, o Barão das Laranjeiras, entre outros.
Por essa época havia mais de 600 vacas, centenas de cabras e ovelhas poucas. E o Fidalgo da Casa Real dava pormenores da vida turística de então:  
"As pessoas que vão ao Vale das Furnas fazem excursões em burrinhos à vila da Povoação, à Ribeira Quente, ao Pico da Vara (que é o mais alto da ilha), à Achada das Furnas, ao Pico da Vigia, à Lagoa, às matas d'Alegria, à cascata da Briosa, à cascata das Camarinhas".
As águas tinham fama como termais, saúde, lazer e ambiente edénico concorreram para que o Vale das Furnas se tenham tornado num dos locais mais procurados pelos seus jardins, panorâmicas, lagoas, piscinas e o espetacular território das furnas, não há nada de parecido em Portugal e arredores.

Um abraço do
Mário


A minha ilha é um cofre de Atlântidas (6)

Beja Santos

Vale das Furnas equivale a dizer: furnas ferventes, matas-jardins, lagoa, uma porta para o paraíso. O viandante acoitou-se no Parque Terra Nostra, a sua origem remonta a 1775, o então cônsul dos EUA, Thomas Hickling, fez aqui construir a sua residência de verão, a Yankee Hall. Dois séculos depois, aquilo que era uma área inicial de dois hectares, expandiu-se com jardins de água, alamedas sombrias, canteiros de flores, vieram especialistas portugueses e ingleses para ordenar o jardim, chegaram igualmente árvores de todo o mundo. Quando surgiu o hotel, o parque era o complemento natural, o espaço de lazer para contemplar mais de três mil árvores e espécies arbustivas, com um jardim de camélias sem igual. Mas voltemos ao livro “Uma Viagem ao Vale das Furnas em Junho de 1840”, do Fidalgo e Comendador da Ordem de Cristo Bernardino José de Senna Freitas. Estes geiseres são impressionantes, ninguém lhes pode ficar insensível. O fidalgo descreve minuciosamente as caldeiras uma a uma, aqui fica um exemplo:  
“Em distância, talvez de trinta passos da caldeira grande, uma outra atrai a nossa admiração. Esta caldeira está em posição cavernosa; em remotos tempos era denominada caldeira do polme, e hoje caldeira de Pedro Botelho: com impetuosidade estrondosa, que atemoriza as pessoas que observam, se eleva acima do seu nível de água lodosa, ou espécie de lava, muito quente, com espesso fumo envolto naquele polme, tornando-se difícil ver-se a sua horríssona boca, ou cratera: esta espécie de lava, que aquela furna expele, segundo alguns viajantes, é semelhante à do Vesúvio”.




Então, não é que saindo do Vale logo nos abeiramos de jardins onde, fruto da estação, despontam as azáleas. O viandante ajoelha-se para ver se entende aquele brilho metalizado que irradia das pétalas, será dos minérios da terra, da luz do céu destapado? Não tem resposta, mas que não há azáleas como estas está certo e seguro que não há, em qualquer outro ponto do mundo.


Voltamos à panorâmica da casa do cônsul Hickling e das transformações posteriores. A piscina de água férrea é de visita obrigatória, toma-se banho a qualquer hora do dia ou da noite, está sempre quentinha. Depois convém limpar bem para não vir para o duche carregado de “ferrugem”, pode ter consequências desagradáveis para a roupa do dia-a-dia. Consolado com este banho, e pensando que o fidalgo Senna de Freitas diz que são muito boas estas águas para as dores reumáticas e outras maleitas, segue-se um passeio pelo Parque Terra Nostra.



Para captar as cores do paraíso há que esperar por uma certa luz, e depois embrenhamo-nos pela Alameda Ginkgo Biloba, pelo caminho podemos dar com fetos, dálias, verónica, begónias e lobélias, pressente-se que as hortênsias vão rebentar dentro de pouco tempo. O património florestal tem-se desenvolvido aqui, temos agora jardins com plantas endémicas, de fetos e de cycas, o jardim de flores e plantas anuais, isto para já não falar no prodigioso jardim das camélias.




Há monumentos dentro do parque, desde bustos à ”Memória aos Viscondes da Praia”. Sempre que aqui vem, o viandante embeiça-se pelo Mirante “O Açucareiro”, está marcado pelo romantismo, a vista é um desfrute, se está bom tempo até é aprazível estar aqui a ler uma revista ou um livro antes de retomar a marcha.




E aqui nos detemos, não há visita em que não se venha saudar este vetusto metrosidero, estes grandes proprietários micaelenses como o Visconde da Praia ou José do Canto rivalizaram em trazer estas espécies exóticas, tiveram sucesso, medraram e são pontos de encanto nos respetivos jardins. Espera-se que tenham gostado. E espera-se igualmente que o leitor nos acompanhe no passeio pela Lagoa das Furnas e na Mata-jardim José do Canto.
É já a seguir.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20327: Os nossos seres, saberes e lazeres (363): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (5) (Mário Beja Santos)