Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 4 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13689: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (7): 3 de Agosto de 1969
1. Publicação da sétima parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 3 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13684: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (6): 4 de Setembro de 1968
Guiné 63/74 - P13688: Fotos à procura de... uma legenda (36): Uma vacada... no Cachil (Victor Neto / José Colaço, CCAÇ 557, 1963/65)
Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (,Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > "Tourada no Cachil... uns camaradas a demonstrar os seu dotes de Pedrito de Portugal... A malta dava largas à imaginação para se distrair"...
Fotos (e legenda): © Victor Neto / José Colaço (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
1. São fotos falantes, diz o José Colaço. E, se são falantes, não precisam de legenda... Mas comentários serão bem vindos... E o tema, tauromático, presta-se a isso...
Uma ajuda: as fotos são do álbum do ex-fur mil Victor Neto, camarada do José Colaço (CCAÇ 557, Cachil, 1963/65) Já cá estão (estas e outras) desde, pelo menos, 22 de agosto último...
Eis p que ele me escreveu, na sequência do poste P13188 (*):
"Caro amigo Luís, procurando satisfazer em parte o teu pedido, tentei abordar o tema com alguns camaradas da CCAÇ 557 mas só o camarada ex-furriel Victor Neto disponibilizou o seu álbum genuíno com fotos do Cachil,
"O Neto já na altura era um apaixonado pela fotografia, uma certa altura o Neto com a sua Yashica
"No meio de uma emboscada surge o alferes comandante de pelotão:
- Ó Neto, porra, porra!... estamos na guerra ou em reportagem fotográfica!?" (**).
_____________________
_____________________
Notas do editor:
(ª) 24 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13188: Memória dos lugares (266): Cachil, o meu suplício de Sísifo durante 30 dias (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)
Guiné 63/74 - P13687: Parabéns a você (794): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont Armas Pesadas da CART 2732 (Guiné, 1970/72)
____________
Nota do editor
Último poste da série de Guiné 63/74 - P13682: Parabéns a você (793): Carlos Alberto Prata, Coronel Ref (Guiné, 1973/74) e Hélder Valério Sousa, ex-Fur Mil TRMS (Guiné, 1970/72)
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13686: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XII: janeiro de 1973: Amílcar Cabral é assassinado em Conacri, em 20/1/1973... "A população sob nosso controlo mostrou regozijo"... Por outro lado, "a ocupação de lugares de chefia por naturais de Cabo Verde nos quadros da Administração Civil não é vista com agrado" (sic)...
Amílcar Cabral (1924-1973) era natural da Guiné... Nasceu em Bafatá, de pais caboverdianos; (i) Juvenal António Lopes da Costa Cabral, 1889-1951, natural de Santiago, onde também foi morrer, tendo sido professor primário na Guiné. em Cacine, Buba, Bambadinca e Bafatá; e (ii) Iva Pinhel Évora (Santiago, 1893-Bissau, 1977)... Aos olhos dos fulas, era um "caboverdiano", e na história do BART dá-se a entender que terá aumentado o sentimento anticaboverdiano após o seu assassinato, em 20/1/1973...
[Foto, acima, do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... A primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.]
Janeiro de 1973: com o assassinato de Amílcar Cabral (1924-1973), cresce o sentimento anticaboverdiano entre os fulas do setor L1...
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].
O grande destaque do mês de janeiro de 1973 vai o assassinato, em Conacri, do secretáriop-geral do PAIGC, Amílcar Cabral (1924-1973). A história do BART 3873 faz-se eco do sentimento anticaboverdiano da população fula do setor L1... Espontâneo ou explorado ? Era legítimo um comando de batalhão põr "portugueses" da Guiné contra "portugueses" de Cabo Verde ?
Destaque ainda para o elogio à lealdade das populações islamizadas e para o papel das escolas regimenis, de que a da CCAÇ 12 seria um exemplo, como "ótimo instrumento de instrução e de portugalização dos africanos" (sic).
_______________
Nota do editor;
Último poste da série > 24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13645: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XI: dezembro de 1972: (i) talvez a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN; (ii) por outro lado, o comandante 'Nino' Vieira vem pessoalmente à frente Bafatá-Xitole para censurar e punir maus tratos infligidos às populações locais pelos seus guerrilheiros
Último poste da série > 24 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13645: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XI: dezembro de 1972: (i) talvez a primeira quadra festiva do Natal e Ano Novo passada, no setor L1, sem ataques nem flagelações do IN; (ii) por outro lado, o comandante 'Nino' Vieira vem pessoalmente à frente Bafatá-Xitole para censurar e punir maus tratos infligidos às populações locais pelos seus guerrilheiros
Guiné 63/74 - P13685: Notas de leitura (637): “Do Outro Lado das Coisas", do Embaixador João Rosa Lã (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Outubro de 2014:
Queridos amigos,
O embaixador João Rosa Lã descreve no seu volumoso livro de memórias, recentemente publicado, a sua missão na Guiné ao longo de praticamente dois anos.
É um testemunho importante, acompanha as eleições, é um observador atento do relacionamento tenso entre Nino e a cúspide das Forças Armadas.
Procura estreitar a cooperação entre Portugal e Guiné, é por vezes implacável com a elite política e a subsidiodependência. Sente-se subjugado pelas qualidades do ser humano local, homenageando-o assim nas suas últimas palavras: “Só haverá um país em que a beleza das suas paisagens será ultrapassada pela graça e simpatia do seu povo, a Guiné-Bissau”.
Um abraço do
Mário
Embaixador João Rosa Lã na Guiné-Bissau (1)
Beja Santos
“Do Outro Lado das Coisas”, é o título do livro de memórias do embaixador João Rosa Lã, recentemente publicado pela Gradiva Publicações. Este embaixador desempenhou funções em Genebra, Marrocos, Venezuela, Bruxelas, Washington, Guiné-Bissau, Haia, Viena, Madrid, Paris e Rabat. Em Lisboa, desempenhou funções de conselheiro diplomático do primeiro-ministro Cavaco Silva, foi assessor diplomático do ministro da República para os Açores general Rocha Vieira e diretor-geral dos Assuntos Multilaterais do MNE.
O livro começou a ser badalado por dar informação importante sobre a tentativa desesperada de Marcello Caetano de promover uma independência unilateral de Angola. A este propósito, o diplomata, na altura colocado em Caracas, mantinha conversas com o engenheiro Santos e Castro, antigo governador-geral de Angola, que resolveu desvendar-lhe um segredo. Santos e Castro confessou que deixara de manter relações próximas com Marcello Caetano por considerar o principal responsável pelo 25 de Abril. E contou ao diplomata que nos primeiros dias de 1974, durante um fim de semana, fora chamado secretamente a Lisboa pelo Presidente do Conselho. Foi uma conversa em que deambularam toda a tarde num carro privado entre Lisboa Cascais e Sintra, “Marcello Caetano traçou um cenário muito negro da situação do país e da política ultramarina. Sob o ponto de vista militar, a Guiné estaria perdida a prazo, uma vez que as forças do PAIGC passaram a deter mísseis que anulavam a ação da Força Aérea. Moçambique estava a atravessar uma gravíssima crise económica e estaria em vias de deixar de ser suportável pela metrópole. No plano interno, a situação tinha-se tornado insustentável, com o Presidente da República de um lado e o general Spínola por outro, a minar, ainda mais, a já difícil posição do governo e da sua política. Felizmente, a situação em Angola era diferente, com o MPLA quase aniquilado militarmente, a UNITA controlava e as finanças sólidas devido ao aumento do preço do petróleo. Marcello confessou já não dispor de qualquer capacidade de manobra para alterar a situação nas províncias ultramarinas, sobretudo a dos portugueses que lá viviam. Havia, no entanto, que se tentar salvar o que fosse possível. Santos e Castro deveria começar a tomar todas as providências para que fosse preparada uma declaração unilateral da independência do território. Seria criado um Estado soberano, multirracial e multicultural, com o concurso de todas as forças que aceitassem a declaração da independência. Santos e Castro ficaria interinamente à frente do novo país, com um governo presidido por uma personalidade negra, muito provavelmente Jonas Savimbi, se este aceitasse, mantendo-se todos os funcionários da administração da província que desejassem ficar. O mesmo aconteceria às tropas da metrópole destacadas no território. O governo português não aceitaria, pelo menos de imediato, nem reconheceria a Declaração de Independência e retiraria todas as suas forças do terreno”.
Esta confissão vem abonar o que o professor Fernando Rosas várias vezes referiu sobre as derivas dos últimos meses do regime de Marcello Caetano, havia uma imagem exterior de uma atitude irredutível na defesa do Ultramar, enquanto se promoviam contactos com os diferentes movimentos de libertação, Jorge Jardim sentiu que chegara a hora da independência branca em Moçambique, um diplomata português foi procurar negociar um cessar-fogo com dirigentes do PAIGC em Londres e havia esta proposta delirante para Angola.
O embaixador Rosa Lã foi nomeado embaixador na Guiné-Bissau, segundo escreve para ajudar a promover e a organizar as primeiras eleições livres e democráticas no país. Ali permaneceu entre 1993 e 1994.
O país era o pior dos destinos para um diplomata, recebeu a incumbência em estado de choque. Durão Barroso pediu-lhe que lhe transmitisse sempre a sua opinião pessoal. As eleições livres, uma maior eficácia para a cooperação e o incremento do ensino da língua portuguesa eram os principais desafios da sua missão. Ao longo do relato da sua missão a Guiné-Bissau, descreve episódios rocambolescos, situações de gritante penúria, a evolução dos projetos e não disfarça a sua profunda rendição à graça e simpatia dos guineenses.
É brejeiro, mordaz e observador implacável: “As dificuldades financeiras do ministério dos Negócios Estrangeiros eram tantas que nem dinheiro havia para a gasolina da viatura oficial, pelo que me via obrigado a adiantar uns pesos guineenses para que os escassos metros que separam a Embaixada do Palácio presidencial fossem percorridos dentro da maior dignidade possível. À chegada tinha uma meia dúzia de militares, mais ou menos fardados, que me apresentaram armas. Dentro do Palácio tudo parecia estar como o general Spínola e o seu sucessor o terão deixado. Os tapetes, Beiriz, tipicamente portugueses, apresentavam aqui e ali alguns buracos e as cortinas e os cortinados das janelas já tinham conhecido mais limpeza e melhores dias. Nino Vieira causou-me desde logo uma forte impressão. Deu-me sinais imediatos de uma grande perspicácia e inteligência natural, sabendo-se comportar e falar, embora exprimindo-se num português básico. Ostentando sinais exteriores de poder e riqueza, tão necessários naquelas terras, usava um grande e pesado relógio, tinha nos dedos vistosos anéis e exibia uma grossa pulseira, em forma de cadeia, tudo em ouro brilhante e reluzente. Os seus olhos, vivos e irrequietos, a sua própria postura física, parecendo sempre pronto a atacar, deixavam adivinhar uma forte personalidade. Via-se nele, ou por detrás dele, um homem implacável, decidido e sem disponibilidade para ser contrariado. Mas que sabia sorrir, quando necessário”.
Nino Vieira pretendia que se enchesse a Guiné de professores portugueses. A situação do ensino do português não era brilhante se bem que o número de falantes portugueses tivesse aumentado e o Centro Cultural Português tivesse envidado esforços para fazer crescer o número de estudantes. Rosa Lã enceta conversações com todos os partidos existentes, animando-os a fazerem pressão para a realização de eleições democráticas. Apercebe-se do emaranhado da teia no relacionamento de Nino Vieira com as Forças Armadas e deplora o desaparecimento do coronel Cassamá e a sua substituição por Ansumane Mané, sente que os antigos companheiros de Nino, com o próprio Ansumane e Saturnino Costa estão desapontados com o presidente. E dedica toda a sua atenção ao apoio que Portugal podia dar às eleições na Guiné-Bissau.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13664: Notas de leitura (636): “Adeus, Bissau!", A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
O embaixador João Rosa Lã descreve no seu volumoso livro de memórias, recentemente publicado, a sua missão na Guiné ao longo de praticamente dois anos.
É um testemunho importante, acompanha as eleições, é um observador atento do relacionamento tenso entre Nino e a cúspide das Forças Armadas.
Procura estreitar a cooperação entre Portugal e Guiné, é por vezes implacável com a elite política e a subsidiodependência. Sente-se subjugado pelas qualidades do ser humano local, homenageando-o assim nas suas últimas palavras: “Só haverá um país em que a beleza das suas paisagens será ultrapassada pela graça e simpatia do seu povo, a Guiné-Bissau”.
Um abraço do
Mário
Embaixador João Rosa Lã na Guiné-Bissau (1)
Beja Santos
“Do Outro Lado das Coisas”, é o título do livro de memórias do embaixador João Rosa Lã, recentemente publicado pela Gradiva Publicações. Este embaixador desempenhou funções em Genebra, Marrocos, Venezuela, Bruxelas, Washington, Guiné-Bissau, Haia, Viena, Madrid, Paris e Rabat. Em Lisboa, desempenhou funções de conselheiro diplomático do primeiro-ministro Cavaco Silva, foi assessor diplomático do ministro da República para os Açores general Rocha Vieira e diretor-geral dos Assuntos Multilaterais do MNE.
O livro começou a ser badalado por dar informação importante sobre a tentativa desesperada de Marcello Caetano de promover uma independência unilateral de Angola. A este propósito, o diplomata, na altura colocado em Caracas, mantinha conversas com o engenheiro Santos e Castro, antigo governador-geral de Angola, que resolveu desvendar-lhe um segredo. Santos e Castro confessou que deixara de manter relações próximas com Marcello Caetano por considerar o principal responsável pelo 25 de Abril. E contou ao diplomata que nos primeiros dias de 1974, durante um fim de semana, fora chamado secretamente a Lisboa pelo Presidente do Conselho. Foi uma conversa em que deambularam toda a tarde num carro privado entre Lisboa Cascais e Sintra, “Marcello Caetano traçou um cenário muito negro da situação do país e da política ultramarina. Sob o ponto de vista militar, a Guiné estaria perdida a prazo, uma vez que as forças do PAIGC passaram a deter mísseis que anulavam a ação da Força Aérea. Moçambique estava a atravessar uma gravíssima crise económica e estaria em vias de deixar de ser suportável pela metrópole. No plano interno, a situação tinha-se tornado insustentável, com o Presidente da República de um lado e o general Spínola por outro, a minar, ainda mais, a já difícil posição do governo e da sua política. Felizmente, a situação em Angola era diferente, com o MPLA quase aniquilado militarmente, a UNITA controlava e as finanças sólidas devido ao aumento do preço do petróleo. Marcello confessou já não dispor de qualquer capacidade de manobra para alterar a situação nas províncias ultramarinas, sobretudo a dos portugueses que lá viviam. Havia, no entanto, que se tentar salvar o que fosse possível. Santos e Castro deveria começar a tomar todas as providências para que fosse preparada uma declaração unilateral da independência do território. Seria criado um Estado soberano, multirracial e multicultural, com o concurso de todas as forças que aceitassem a declaração da independência. Santos e Castro ficaria interinamente à frente do novo país, com um governo presidido por uma personalidade negra, muito provavelmente Jonas Savimbi, se este aceitasse, mantendo-se todos os funcionários da administração da província que desejassem ficar. O mesmo aconteceria às tropas da metrópole destacadas no território. O governo português não aceitaria, pelo menos de imediato, nem reconheceria a Declaração de Independência e retiraria todas as suas forças do terreno”.
Esta confissão vem abonar o que o professor Fernando Rosas várias vezes referiu sobre as derivas dos últimos meses do regime de Marcello Caetano, havia uma imagem exterior de uma atitude irredutível na defesa do Ultramar, enquanto se promoviam contactos com os diferentes movimentos de libertação, Jorge Jardim sentiu que chegara a hora da independência branca em Moçambique, um diplomata português foi procurar negociar um cessar-fogo com dirigentes do PAIGC em Londres e havia esta proposta delirante para Angola.
O embaixador Rosa Lã foi nomeado embaixador na Guiné-Bissau, segundo escreve para ajudar a promover e a organizar as primeiras eleições livres e democráticas no país. Ali permaneceu entre 1993 e 1994.
O país era o pior dos destinos para um diplomata, recebeu a incumbência em estado de choque. Durão Barroso pediu-lhe que lhe transmitisse sempre a sua opinião pessoal. As eleições livres, uma maior eficácia para a cooperação e o incremento do ensino da língua portuguesa eram os principais desafios da sua missão. Ao longo do relato da sua missão a Guiné-Bissau, descreve episódios rocambolescos, situações de gritante penúria, a evolução dos projetos e não disfarça a sua profunda rendição à graça e simpatia dos guineenses.
É brejeiro, mordaz e observador implacável: “As dificuldades financeiras do ministério dos Negócios Estrangeiros eram tantas que nem dinheiro havia para a gasolina da viatura oficial, pelo que me via obrigado a adiantar uns pesos guineenses para que os escassos metros que separam a Embaixada do Palácio presidencial fossem percorridos dentro da maior dignidade possível. À chegada tinha uma meia dúzia de militares, mais ou menos fardados, que me apresentaram armas. Dentro do Palácio tudo parecia estar como o general Spínola e o seu sucessor o terão deixado. Os tapetes, Beiriz, tipicamente portugueses, apresentavam aqui e ali alguns buracos e as cortinas e os cortinados das janelas já tinham conhecido mais limpeza e melhores dias. Nino Vieira causou-me desde logo uma forte impressão. Deu-me sinais imediatos de uma grande perspicácia e inteligência natural, sabendo-se comportar e falar, embora exprimindo-se num português básico. Ostentando sinais exteriores de poder e riqueza, tão necessários naquelas terras, usava um grande e pesado relógio, tinha nos dedos vistosos anéis e exibia uma grossa pulseira, em forma de cadeia, tudo em ouro brilhante e reluzente. Os seus olhos, vivos e irrequietos, a sua própria postura física, parecendo sempre pronto a atacar, deixavam adivinhar uma forte personalidade. Via-se nele, ou por detrás dele, um homem implacável, decidido e sem disponibilidade para ser contrariado. Mas que sabia sorrir, quando necessário”.
Nino Vieira pretendia que se enchesse a Guiné de professores portugueses. A situação do ensino do português não era brilhante se bem que o número de falantes portugueses tivesse aumentado e o Centro Cultural Português tivesse envidado esforços para fazer crescer o número de estudantes. Rosa Lã enceta conversações com todos os partidos existentes, animando-os a fazerem pressão para a realização de eleições democráticas. Apercebe-se do emaranhado da teia no relacionamento de Nino Vieira com as Forças Armadas e deplora o desaparecimento do coronel Cassamá e a sua substituição por Ansumane Mané, sente que os antigos companheiros de Nino, com o próprio Ansumane e Saturnino Costa estão desapontados com o presidente. E dedica toda a sua atenção ao apoio que Portugal podia dar às eleições na Guiné-Bissau.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13664: Notas de leitura (636): “Adeus, Bissau!", A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999 (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13684: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (6): 4 de Setembro de 1968
1. Publicação da sexta parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13678: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (5): 23 de Dezembro de 1964
Guiné 63/74 - P13683: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (4): "Vem à minha tabanca" e "Música que foi cantada", dois poemas de Atanásio Miranda, guineense, à época funcionário das alfândegas, pp. 12/14
Guiné > Bissau > Sede da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau > c. 1962/64. Foto do nosso camarada açoriano Durval Faria (ex-fur mil da CCAÇ 274, Fulacunda, jan 1962/ jan 64)
Foto: © Durval Faria / Blogue Luís Graça > Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados.
Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.
1. Dois poemas de Atanásio Miranda, filho da Guiné, funcionário aduaneiro na época (1973/74). São escassas as referências a este poeta, de quem não sabemos se continuou, depois da independência do seu país, a cultivar a poesia. Vem nesta antologia nas pp. 12/14.
Por ter o título truncado, pedimos ao Albano de Matos que nos substitísse a pag. 14 ("Música que foi cantada"). O outro poema ("Vem à minha tabamca", pp. 12/13) foi menção honrosa nos jogos florais da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau,, em 1972.
Recorde-se que esta antologia da poesia guineense (ao que parece, a primeira a ser publicada em português) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: o Aguinaldo de Almeida, funcionário do BNU, e o nosso camarada Albano Mendes de Matos [, hoje ten cor art ref, esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [Foto à esquerda, em Bissau, então tenente]
14
1. Dois poemas de Atanásio Miranda, filho da Guiné, funcionário aduaneiro na época (1973/74). São escassas as referências a este poeta, de quem não sabemos se continuou, depois da independência do seu país, a cultivar a poesia. Vem nesta antologia nas pp. 12/14.
Por ter o título truncado, pedimos ao Albano de Matos que nos substitísse a pag. 14 ("Música que foi cantada"). O outro poema ("Vem à minha tabamca", pp. 12/13) foi menção honrosa nos jogos florais da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau,, em 1972.
Recorde-se que esta antologia da poesia guineense (ao que parece, a primeira a ser publicada em português) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: o Aguinaldo de Almeida, funcionário do BNU, e o nosso camarada Albano Mendes de Matos [, hoje ten cor art ref, esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo] [Foto à esquerda, em Bissau, então tenente]
Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que ele nos mandou,.
Temos também a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.
Temos também a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.
Num próximo poste publicaremos as respostas que o Albano de Matos nos deu em relação alguns questões sobre o "making of" desta antologia e os autores selecionados, com destaque para o Pascoal d'Artagnan (1938-1991), sem dúvida o grande poeta guineense da sua geração, na opinião do Albano de Matos. Era filho de pai italiano e de mãe balanta,
____________
Nota do editor:
27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11
27 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11
Guiné 63/74 - P13682: Parabéns a você (793): Carlos Alberto Prata, Coronel Ref (Guiné, 1973/74) e Hélder Valério Sousa, ex-Fur Mil TRMS (Guiné, 1970/72)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13662: Parabéns a você (792): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)
Subscrever:
Mensagens (Atom)