sexta-feira, 31 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25589: Notas de leitura (1696): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1855 a 1856) (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Seguramente que devemos ao Governador Geral António Arrobas e ao governador da Guiné Honório Pereira Barreto as vastas referências à Guiné neste período de 1855 e 1856, Arrobas foi à Guiné, confrontado com a situação comercial confirmou em Barreto a capacidade de ele ser juiz árbitro em diferentes contendas com comerciantes; a questão do sal também deu brado, o comerciante Nicolau Macedo criou exclusivo, houve sublevação da povoação de Geba, e ficamos a saber que o posto fiscal e o destacamento de S. Belchior foram retirados nesse ano de 1855; Nicolau Monteiro de Macedo também queria o exclusivo do comércio do Corubal, a herdeira de Caetano José Nozolini, D. Leopoldina Demay, reagiu, o exclusivo foi retirado. Isto significa que a atividade económica ganhava relevo. Bem interessante é o conjunto de instruções sobre o tratamento da cólera-morbo, as suas diferentes fases, tudo explicado à luz dos conhecimentos da época, onde não faltam esfregações, sinapismos, clisteres, chás, e se o doente não vai desta para melhor e reage, também há tratamento a ter em conta...

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1855 a 1856) (5)


Mário Beja Santos

Alertei ao leitor para o facto de que a Costa da Guiné ou Senegâmbia Portuguesa ou Possessões da Guiné estar a sair do limbo do Governo Geral de Cabo Verde, a estatura da figura de Honório Pereira Barreto e as suas constantes interpelações para a vila da Praia, por exemplo, implicaram informações que podem ser hoje muito úteis para um investigador quanto à presença portuguesa na Guiné na segunda metade do século XIX. É o caso de uma portaria sobre o imposto do sal que veio publicada num Boletim Official em junho de 1855, refere-se que em 26 de março de 1847 fora estabelecido o imposto de 10% sobre o sal de Balanta que se importava de Bissau, com o fim de aumentar os rendimentos da Guiné e pagar as despesas da guerra que então existia entre os povos de Geba e Fá, que haviam fechado o rio ao comércio português. O imposto, verificou-se mais tarde, rendeu pouco, e obrigou o Estado a despender todos os anos com o posto fiscal de S. Belchior uma boa soma de dinheiro para pagar pessoal, transportes e obras. Ou seja, o imposto trouxe uma despesa quase tripla da receita e reduziu à mingua o povo de Geba, como escreveu Honório Pereira Barreto e o Governado Geral presenciou na sua visita a Geba.

O texto da portaria é bastante interessante:
“Os habitantes de Geba, para quem este sal é um objeto de primeira necessidade, porque a troco dele se abastecem dos géneros alimentícios, descem o rio em canoas até S. Belchior, onde têm de fundear, e depois descem atá ao chão dos Balantas que ocupam a margem direita do rio, desde a ilha de Bissau até umas vinte milhas; ajustam o sal, e são depois obrigados a seguir até à Praça de Bissau, onde tiram o despacho pelo sal que se põe obter, e voltam a tomá-lo no chão dos Balantas, levando-o até o ponto de S. Belchior, onde o respetivo regulamento os obriga a descarregá-lo para ser verificado, reembarcando-o depois para ser levado para Geba, e dando-se as circunstâncias de que em vez de sete dias de viagem são obrigados a gastar quinze e mais para satisfazerem absurdas exigências, e que muita canoas se perdem por causa dos maus fundeadouros de S. Belchior e de Bissau…”

O Governador Geral, considerando que este imposto ofende os princípios económicos e é contrário ao art.º 145.º da Carta Constitucional, aboliu-o, adiantando que o posto fiscal de S. Belchior será imediatamente retirado, bem como o respetivo destacamento.

Neste mesmo Boletim Official vem outra Portaria, com o número 50 que nos parece digno da maior atenção. Refere concretamente que negociantes nacionais e estrangeiros da Guiné Portuguesa, aproveitando a visita que o Governador Geral ali fizera, a ele se queixaram que o comércio está em risco de acabar, por falta de crédito e falta de numerário, reclamaram providências que levassem à ruína comercial. Mais se adianta que há ilimitada confiança que os negociantes ingleses, belgas e franceses que têm ali casa comerciais, e vendem a crédito e por largos prazos, depositando no Governador Honório Pereira Barreto tal confiança, a ponto de os escolherem para único juiz em todas as questões que possam resultar das suas negociações. Atendendo a todos estes fatores, o Governador Geral António Maria Barreiros Arrobas decidiu um conjunto de medidas de justiça arbitral, o juiz ordinário será Honório Pereira Barreto, e define-se o que resulta das decisões proferidas pelos árbitros ou pelo governador e outras medidas de caráter judicial.

Pois bem, no mesmo Boletim surge a informação de que Nicolau Macedo, negociante da Praça de Bissau propôs ao Governo Geral dois privilégios exclusivos de comércio e navegação na Guiné, isto em abril de 1852. Foram efetivamente criados os referidos privilégios, um de navegação e comércio e do rio Corubal, e outro da venda do sal que fosse importado em Bissau de navios nacionais. O dito Nicolau Macedo não assinou o contrato, propondo novas condições e fazendo exigências extraordinárias, tendo cometido a imprudência de vir a assinar um contrato que não estava em circunstâncias de sustentar. Seguiu-se depois a revolta do povo de Geba contra o exclusivo do comércio de sal, o contrato ficou sem efeito, só em vigor o da navegação e do comércio do Corubal. O régulo Mamadu Sanhá, senhor do Corubal, fez cessão daquele ponto a Caetano José Nozolini, que cedeu à Coroa Portuguesa a margem esquerda do rio, reservando para si e seus herdeiros a margem direita. Este negociante conservou sempre ali casas, lavoura e negócio, exclusivo da navegação e comércio daquele rio, administrava D. Leopoldina Demay, filha de Caetano José Nozolini, todos os bens que ali tinha possuído, como sua herdeira.

Além desta feitoria havia no Corubal outra de João Monteiro de Macedo, e um estabelecimento de João Canuto. D. Leopoldina, não aceitou o exclusivo dado a Nicolau Macedo, alegando violação da Carta Constitucional. Nicolau Macedo não se achava em condições de poder fazer face às despesas necessárias para montar um sistema de administração e fiscalização dos dois exclusivos solicitados. A assinatura de Nicolau Macedo no contrato mereceu opinião contrária do fiscal e Governador da Guiné, o contrato fez-se sem garantias para a Fazenda Pública.

A portaria anuncia todo este embrolho e Governador Geral rescindiu o contrato de privilégios no rio Corubal a Nicolau Monteiro Macedo.

Em 1856, o Boletim Official n.º 198, de 16 de outubro, traz instruções sobre o tratamento da cólera-morbo, publicada pela Junta de Saúde Pública da Província de Cabo Verde. Refere os sintomas (grande abatimento, peso de cabeça, opressão de peito, repugnância para a comida, amargores de boca, diarreia…). Propõe-se tratamento com banho aos pés muito quente com água e mostarda ou deitar o doente numa cama aquecida previamente, cobrindo-o com bons cobertores e também fricções ou esfregações secas ao longo da espinha e membros. Mas há mais, o doente deve beber chá de macela ou erva-cidreira, tomar uma colher de remédio com chá de tília, éter sulfúrico, álcool e xarope de diacódio; havendo fortes dores no ventre, o tratamento é outro; podem-se aplicar cataplasmas de linhaça ou clisteres com água, goma diluída e láudano.

A cólera-morbo começa quando a diarreia se apresenta como água de arroz mais ou menos espessa, mas também se manifesta por fraqueza, cãibras, suspensão de urina, sede, etc. Os tratamentos recomendados já anteriormente podem ser acompanhados de sinapismos, administração pela boca de remédios como óleo essencial de hortelã-pimenta, entre outros.

Havendo agravamento, isto é, quando a cólera avança para um termo fatal, quando desaparece o pulso do doente, ele tem os olhos encovados, quando o doente parece então um cadáver falante, as instruções passam por sinapismos, vários tipos de fricções, ponche, essência de hortelã e pimenta. Havendo reação positiva, ela manifesta-se por passar o frio, a diarreia e as cãibras, mas se houver delírio, dão-se instruções em bebidas, em ventosas, panos molhados em água e vinagre, clisteres de cozimento de linhaça e dieta.

Deixa-se um último apontamento retirado do Boletim Official de 6 de agosto de 1855:
“A Guiné Portuguesa, tão importante nas suas riquezas e comércio, que sob um regime regular pode por si só tornar-se uma das mais importantes Províncias Ultramarinas, apenas hoje figura como um, pouco seguro, entreposto de comércio, onde reina a mais completa desorganização, faltando todas as garantias sociais de uma administração regular".

Imagem que terá sido tirada cerca de 1925
Edição em língua portuguesa da editora norte-americana Legare Street Press, 2023
Postal ilustrado antigo do rio Geba, não se conhece editora
Imagem do que resta da antiga Ponte Marechal Carmona no rio Corubal

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 24 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25558: Notas de leitura (1694): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1853 a 1854) (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 27 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25570: Notas de leitura (1695): "Quando os Cravos Vermelhos Cruzaram o Geba", por Tony Tcheka (nome literário de António Soares Lopes Júnior); Editorial Novembro, 2022 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25588: Humor de caserna (61): A ver a tropa passar... (Rui A. Ferreira, 1943-2022)

 1. O angolano Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), ten cor inf ref, fez duas comissões no CTIG, a última como cmdt da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, jan 71 / set 72). Depois de ter feito uma última comissão, como capitão, em Angola, regressou em 1975 e  fixou residência em Viseu, onde continuou a fazer inúmeros amigos e onde escreveu três livros de  memórias....

Além de ter sido um grande operacional, gostava também de pregar as suas partidas e contar as suas cenas pícaras... Esta é mais um delas...  Fica bem, seguramente,  na série "Humor de caserna" (*)...


A ver a tropa passar...

por Rui A. Ferreira


Destacado para prestar assistência psicológica a uma companhia  que havia perdido seis elementos (**), o segundo comandante do batalhão dirigia-se, na sede desta, às forças em parada que nessa noite partiam para mais uma operação:

− Vamos fazer uma grande operação para as nossas tropas,,,

 Alguns dos presentes nem cabiam em si de espanto:

− Vamos ?!... Será que ele também vai ?!...

Mas,  apresentando-se impecável no seu camuflado, de pistola metralhadora a tiracolo, tudo parecia confirmar o dito "Vamos"... 

Mesmo assim alguns duvidavam. E se, por um lado, duvidavam bem, por outro  não cabiam em si de espanto, quando lá para as duas  da madrugada viram o dito senhor meter-se na fila e avançar para seguir  para o mato.

Só que a viagem foi curta, pois mal atingiu a abertura no arame farpadio, aí ficou... a ver a tropa passar!

Fonte: Adapt de Rui Alexandrino Ferreira - "Quebo: nos confins da Guiné". Coimbra: Palimage, 2014, pág. 347 

(Título, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25584: Humor de caserna (60): O anedotário da Spinolândia (XI): "Continua, meu rapaz, salvas-te tu para que este batalhão não seja a merda mais completa" (Um anedota contada pelo saudoso Rui A. Ferreira,1943-2022)

 

Guiné 61/74 - P25587: Viagem a Timor: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte V: um país apaixonante, cheio de contrastes... e contradições




O Toké (em Timor), ou Tokay Gecko.
Copyright (c) 1998 Richard Ling/GFDL
Fonte: Wikimedia Commons
(com a devida vénia...)
Vd. aqui áudios com as vocalizações
deste pequeno réptil
(Wikipedia, em inglês).
1. Continuação da publicação das primeiras crónicas do Rui Chamusco,  quando ele foi, pela primeira vez, a Timor-Leste (e onde permaneceu dois meses, de 5 de maio a 7 de julho de 2016) (*)

O Rui Chamusco, nosso tabanqueiro nº 886, é professor de música, do ensino secundário, reformado, natural da Malcata, Sabugal, a viver na Lourinhã. Tem-se dedicado de alma e coração a um projeto de solidariedade no longínquo território de Timor-Leste (a 3 dias de viagem, por avião, a cerca de 15 km de distância em limha reta). 

É cofundador e líder da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste. A ASTIL irá construir e inaugurar, em março de 2018, a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá (pré-escolar e 1º ciclo).

Nessa primeira viagem  exploratória,  foi decidido, pelo Rui Chamusco e pelo Gaspar Sobral, depois de identificadas as necessidades, expetativas e preferências 
da população local,   construir-se uma escola  nas montanhas de Liquiçá, em Manati / Boebau. 

Nesta viagem (e estadia de dois meses) , fez-se acompanhar do luso-timorense Gaspar Sobral, outro histórico da ASTIL, que há 38 anos não visitava a sua terra natal. Em Dili eles vão ficar na casa do Eustáquio, irmão (mais novo) do Gaspar Sobral. 

Nestas crónicas acompanhamos  o dia a dia desta família, que vive no bairro Ailoc Laran, e que durante a ocupação da indonésia viu a sua casa incendiada, tendo-se refugiado nas montanhas como tantos outros timorenses. Ficamos a saber algo mais sobre a história recente de Tim0or Leste.

Dessas crónicas de 2016, sob a forma de diário, decidimos publicar uma boa parte dos apontamentos, dado o interesse documental que nos parece ter para os nossos leitores que, tal como nós, ainda sabem pouco da história, da geografia, da cultura e dos usos e costumes dos nossos amigos e irmãos timorenses. Para além da grande generosidade humana e do talento literário do autor, são crónicas com "cor, sabor e humor", que acrescentam algo mais sobre a sociedade timorense de ontem e de hoje, incluindo pequenas histórias de vida.


Viagem a Timor: maio/julho de 2016 - Parte V:   

por Rui Chamusco (*)



Rui Camusco e Gaspar Sobral (2017).
A família Sobral tem um antepassado
comum que foi lurai, régulo,
no tempo dos portugueses.
As insígnias do poder (incluindo a espada)
estão na posse do Gaspar,
que vive em Coimbra.
Foto: LG (2017).

  • Dia 17 de junh0 de 2016, sexta feira  - Levi, o homem da estátua

Conhecer os heróis enquanto vivos é um privilégio. Aquando da visita à igreja de santo António e aos jardins de Motael tivemos a ocasião de tirar umas fotografias junto à grande estátua de homenagem aos combatentes da resistência, situada no largo da baía e Dili. 

O monumento é imponente pela sua grandeza e realidade nua e crua: dois jovens, um caído sob os disparos inclementes 
da tropa indonésia e outro que carinhosamente o tenta manter consciente para que se lhe possa prestar assistência.

Ambos sobreviveram aos ataques de Dezembro em 1991. Entretanto, Levi foi para Portugal, e em Coimbra licenciou-se em Hotelaria e Turismo e neste momento está integrado na vida ativa de Timor. Hoje teve a gentileza de vir passar grande do dia connosco, em Ailok Laran. 

Pelo que me dei conta Levi está empenhado na construção deste país, bem preparado para enfrentar os desafios de presente e de futuro. Muito interessado na consolidação de um novo partido político que amanhã vai realizar um congresso em Dili. 

Gosto especialmente da forma como aborda os assuntos: com decisão e sempre pelo caminho da não violência. Pronto para o combate de ideias e de programas que possam fazer de Timor um país melhor. 

Este monumento,  símbolo da resistência, personifica e homenageia tantos jovens anónimos que, vivos ou mortos, se sacrificaram em prol da independência de Timor e em particular representa os heróis dos acontecimentos de Montael e do Cemitério de Santa Cruz. 

Dizem que o monumento devia ser mais explícito, indicando o nome dos heróis. Mas toda a gente é unânime em reconhecer que o jovem em terra é mesmo o Levi. E eu feliz por conhecer e falar com esta história viva…

  • Dia 18 de junho de 2016, sábado - A alegria contagiante das crianças

Por mais que se escreva nada nem ninguém conseguirá expressar cabalmente o manancial de virtudes destas crianças: simples como as pombas, alegres como os passarinhos, humildes como os pobres…Sem grandes artefactos para as suas brincadeiras, qualquer coisa lhes serve e despoleta a imaginação. E de repente, num ato de recriação, vejo-me rodeado de meia dúzia de crianças que não param e cuja vivacidade despertam qualquer velho sonolento como eu. Tentam incluir-me na
brincadeira, nem que seja de uma forma passiva. Brincam com o meu cabelo, fazem os penteados que as divertem e uma delas comenta” o Ti Rui tem um cabelo muito bonitu”.

É assim que eu quero continuar a ser, com alma de criança para que possa apreciar e desfrutar da riqueza deste mundo dos pequeninos, que “pula e avança como bola colorida nas mãos duma criança”.


  • 19 de Junho de 2016, domingo- “… Somos crianças de Timor, queremos um mundo melhor.”


Faz parte do refrão da canção aprendida pelas crianças das escolas. É que hoje, domingo, realizou-se uma jornada de sensibilização ambiental na praia de Dolok Oan, uma de duas praias com areia branca da região de Dili. Crianças, pais e encarregados de educação, movimento Tasi Mos. 

E até o Secretário de Estado do Turismo participou na recolha de lixo na praia...  Munidos de sacos pretos depressa os encheram, ficando de novo o areal à disposição dos prevaricadores ambientais. 

É de pequenino que se torce o pepino, diz o ditado. Por isso acredito que estas ações tenham uma influência enorme na educação ambiental do presente e do futuro. Mas há tanta coisa a fazer neste país em vias de desenvolvimento. Quanto lixo a recolher, quantas campanhas a fazer, quantas infraestruturas a implantar! 

O preço do progresso é muito alto. As agressões e a falta de respeito para com a mãe natureza são enormes. O mundo do plástico invade todos os cantos e recantos das ruas, das ribeiras, das matas, dos mares. Muito tem a fazer o ministério do ambiente e do turismo se quiser preservar este património ambiental de que a natureza é pródiga em Timor. Não estraguemos estas belezas que Deus nos dá…


  • 20 de junho de 2016, segunda feira - Finalmente, o número de conta solidária da ASTIL!


Já não era sem tempo. As dificuldades para a abertura de uma conta solidária foram imensas mas finalmente conseguimos o que pretendíamos. O número de conta (IBAN) já pode ser publicado para que as pessoas com vontade de ajudar economicamente o possam fazer com confiança. 

Serei eu o titular, com mais três amigos timorenses que fazem parte do projeto. O controle de entradas e saídas passará por mim, tendo os outros titulares necessidade de pelo menos duas assinaturas para qualquer levantamento ou importância. Qualquer donativo ou qualquer despesa constará obrigatoriamente no dossiê do projeto, de modo a poder ser consultado por quem de direito. Tudo será transparente e devidamente documentado. Não queremos ser em qualquer circunstância objeto de desconfiança ou de más intenções. 

É um serviço humanitário que pretendemos implementar, com incidência particular na construção de uma escola em zona carenciada nas montanhas de Boebau e num programa de apadrinhamento de crianças e jovens nas zonas mais pobres de Dili. 

Muito temos ainda a fazer, mas não desistimos de fazer o bem sem olhar a quem. Ou por outra, olhando para os mais pobres, os que mais necessitam da nossa ajuda. Aceitaremos toda a boa vontade, desde o óvulo da viúva pobre ao donativo mais expressivo de quem mais pode. Que Deus nos ajude!... porque “se o Senhor não construir a casa, em vão trabalharão os seus construtores”.


  • 21 de junho de 2016, terça feira -. Informação aos amigos: Projeto de Solidariedade “ Uma Escola em Timor”

Finalmente, hoje posso anunciar que, depois de algumas dificuldades na criação da conta solidária, já temos o número de conta bem como o respetivo IBAN. A partir de agora quem achar por bem poder e querer contribuir para a edificação da escola em Boibau poderá fazê-lo depositando o seu donativo através do 

IBAN: TL 38 0020124493691000162

Code: CGDITLDI
  
(Caixa Geral de Depósitos – Sucursal Timor / BNU Timor). 
 

Por uma questão de confiança aparecerá como primeiro titular o nome de Rui Manuel Fernandes Chamusco, estando associados mais três titulares para a movimentação da conta, com regras impostas pelo sistema bancário internacional. (...)

O dia 7 de Julho estamos de volta. Até lá… Rui e Gaspar (...)


  • 23 de junho de 2016, quinta feira - O império  do zinco

Dizem que nem sempre foi assim. Mas hoje em dia, quem visita Timor ou por cá permaneça algum tempo, é impossível que não estranhe a quantidade enorme de zinco que impera nas construções. Poucas ou nenhumas casas estarão livres da sua presença, mas é evidente sobretudo nos telhados, barracões, vedações e outras coisas mais. Dá um aspeto de pobreza, de tristeza ( depressa enferruja…) , de abandono. 

É uma questão de eficácia e de custos, dizem.  O negócio foi introduzido pelos indonésios, que no início era considerado um luxo, e que progressivamente foi alastrando a tudo o que é sítio. Por isso podemos prever que este negócio está para durar, no presente e no futuro, dominado pelo império do zinco e administrado pela raínha da sucata. 

Falar a esta gente em telhados com telha de barro ou de outro material é quase uma ofensa porque exclamam logo “é muito caro!”. As pessoas com mais posses, as pessoas ricas optam por telhados tradicionais, feitos com folhas de palapeira (uma espécie de palmeira) e, claro está, com outros materiais acessórios que lhes confere outra categoria em estilo e segurança. Vejam-se por exemplo as construções turísticas. Mas em todo o lado é assim: quem o tem é que o mostra.

No entanto, custa a compreender que sendo Timor Leste um país onde o calor e a humidade tanto se fazem sentir não haja outra alternativa. Estou a pensar nas casas (barracas) normais de timorenses mais pobres e até de classe média, em que as chapas do zinco são a única cobertura, acumulando o calor já de si insuportável em quase todos os dias do ano. 
Será que ninguém do Ordenamento Territorial ou dos Diretórios Municipais estará sensível ao problema?


  • Trocas e baldrocas… um automóvel  por um bicho!

Das primeiras imagens sonoras registadas logo que chegamos a Timor está sem dúvida o “Toké!”, provocado às noites pelo réptil que lhe dá o nome. Este animal muito apreciado em Timor e na Indonésia, tem um valor patrimonial e económico incalculável. Dizem os timorenses que os indonésios chegam a oferecer um automóvel em troca deste querido bicho. 

Um negócio apetecível, não fora o governo timorense ter declarado o seu apoio à preservação desta espécie. Mesmo assim, cá como em qualquer parte do mundo, há-de haver sempre uns “fura-tudo” capazes de dar a volta à lei e aos agentes de modo a conseguirem os seus intentos. 

Cá por mim prefiro ouvir todas as noites a presença do “Tó…ke! Tó…ke!”, que por tradição traz saúde e felicidade. Uma dádiva da natureza, mais um irmão a acrescentar ao Cântico das Criaturas de Francisco de Assis – Louvado sejas meu Senhor pelo irmão lagarto que todas as noites nos anuncia os seus louvores ao som do “Tó…ke! Tó…ke”, dando-nos o exemplo de sermos agradecidos e confiantes na tua proteção. De Ti, Senhor, é a imagem da harmonia universal e da contemplação das tuas maravilhas…

 
  • Dia 25 de junho de 2016, sábado - Irra!  Outra vez?!...


Foi ele, D.Basílio do Nascimento bispo de Baucau e meu ilustre colega de trabalho na Comunidade de Imigrantes em Paris, que propôs o encontro: “dia 25, jantamos em Dili.” 

Tudo bem combinado, com contactos diretos de telemóvel, e vai daí que nem um toque de sua parte. Eu bem tentei mas umas vezes estava incomunicável (“o telefone que contactou não está disponível”), outras chamava mas ninguém atendia. 

Como até agora ainda não houve qualquer justificação sou levado a concluir que foi mais uma “mentira” do Basílio. Não sei como se irá redimir, mas cá por mim sou capaz de lhe chamar algum nome feio. O que mais nos esperará?...

  • Dia 26 de junho de 2016, domingo -  Que susto! O que se passa?...


Eram quase seis e trinta da manhã ( hora local ) quando se ouviu um enorme grito e algazarra. Mais parecia um ataque de guerra. De tal maneira que o Gaspar, muito temeroso por situações que estão a acontecer em Timor, até pensou que seria algum ataque de algum grupo. 

Felizmente eram os festejos do golo de Portugal no jogo contra a Croácia para o campeonato europeu. Como é possível tão longe sentir tanta afeição por Portugal? É verdade que é raro encontrar alguém timorense que não tenha nome ou sobrenomes portugueses, mas acreditar que laços como o futebol, as canções, os cânticos religiosos tenham tanta força e expressão só vendo para crer… 

Bem podemos onfirmar e dizer que se em todas as ex-colónias portuguesas houver tanta afeição Portugal será um país duradoiro porque está no coração destas gentes.


  • Mais prazer em dar do que em receber –  Quem dá aos pobres empresta a Deus


Quando se entra na casa de gente pobre, eles dão tudo o que têm. Tudo o que nós damos não é nada em comparação com a generosidade deles. Podem não ter dinheiro mas sente-se uma felicidade imensa quando somos integrados nos seus mundos, nos seus corações. 

Quem pode ficar indiferente aos sorrisos abertos destas crianças? Ser chamado de irmão, de Ti Rui, de Pai Rui, enaltece-me e alarga a minha família. À semelhança do “Principezinho” de Saint-Exupéry, quando somos cativados por uma amizade sincera não há dificuldades ou obstáculos que quebrem os laços estabelecidos.

Com tanta gente, tantas crianças a querer-nos bem como podemos não ser felizes? E temos o dever de ajudar os outros a serem felizes também. Olho para estas crianças que brincam sem grande soft hard de jogos e dou-me conta que o ter não é mais importante do que o ser. Qualquer coisa, qualquer objeto serve para estimular a imaginação e a alegria do jogo, com algumas regras, mas onde o exercício e o prazer de jogar são bem patentes. 

Talvez seja a velhice já a comandar-me, mas neste contexto apetece-me cantarolar um velho cântico dos meus tempos de mais jovem “ faz-me ser criança entre os irmãos”. Ou então entoar o “ecce quam bonum et quam jucundum” (em portuguªes, "como é bom, como é agradável") pois a simplicidade, a precaridade, a alegria desta gente é tão grande que transborda para os nossos corações. E se é verdade que “pobres e ricos sempre os tereis convosco”,  também é verdade que “quem dá aos pobres empresta a Deus”. 

Quem quiser acumular pontos para o julgamento definitivo é melhor começar desde já a investir em algo com garantia de sucesso. E, que se saiba, vamos todos acabar pobres. Pouco ou nada nos deixarão levar. Sejamos, portanto, sábios e prudentes, para fazermos das nossas vidas algo interessante que sirva para a construção de um mundo melhor e que nos dê a certeza de que valeu a pena passarmos por cá, rumo à pátria definitiva.

  • Que história tão rica, a da família Sobral


Hoje o Gaspar e o irmão Eustáquio foram até à montanha Boebau/Manati e chegaram carregados de muitas histórias e de uma espada, património da família materna, utilizada pelo seu bisavô (que foi liurai, régulo). Teve ocasião de ouvir e gravar os seus ascendentes e o ritual anual que está associado a este objeto ( espada). 

Segundo o relato esta espada matou quatro pessoas nas lutas dos “manuhatis” e data dos anos 1700 e qualquer coisa. Tem sido guardada religiosamente pela família e, todos os anos por altura do ano novo, é celebrado o ritual que consiste em colocar a espada em cima de uma mesa e sobre a folha metálica, são colocados quatro pequenos montinhos constituídos por arroz e carne que são exorcizados pelo chefe de família, pedindo que as culpas das suas mortes não recaiam sobre ninguém da família. Todo o material comestível é em seguida atirado para fora (não é consumido). 

Tudo isto se vem arrastando através de várias gerações. E perante a queixa de que não haveria quem pudesse continuar com esta tradição, o Gaspar aceitou ser ele o continuador deste ancestral costume. Não sei é como ele irá proceder porque trouxe a espada consigo e afirma que vai levá-la para Portugal.

Entendam-se, é o que eu mais lhes desejo. Esta “guerra” não é minha. Mas a mim faz-me confusão.

  • Quem tem cú tem medo!...

Já há muito tempo que não sentia o Gaspar com tanto medo. E aqui estão as contradições do meu amigo. Fala sem medo, diz o que ele acha que está certo (e para ele é o que deve seguir), argumenta com razões válidas ainda que para isso tenha de repetir mil e uma vezes a mesma coisa, faz críticas a quem acha que deve fazer, etc…,etc…

Mas bem lá no fundo ele tem medo de assumir funções, tem receio de viajar em determinados sítios, desconfia de movimentações controladas pelo poder. Está confuso em engajar-se neste contexto e pensa que o melhor é regressar a Portugal onde livremente poderá exercer a sua crítica. Estará ele a ser sensato e prudente em querer armar-se de “o salvador da Pátria”? 

Sei que o amigo Carlos Almeida antes de partirmos lhe disse “ Não te esqueças que deixas uma mulher e uma filha em Portugal|…” Por mim também já foi repreendido algumas vezes, mas o dom da palavra dele tenta sempre vencer-me. Agora aparece alguém, o amigo Levi, que lhe conta coisas em que acredita, e estou a sentir-lhe um nervoso miudinho, com sinais de medo. Mais vale prevenir que remediar,  lhe digo eu. 

Vamos a ver em que alhadas se mete. E estou a lembrar-me da quadra do poeta Aleixo que deve ser lema para toda a gente: “Para não fazeres ofensa / E teres dias felizes / Não digas tudo o que pensas / Mas pensa tudo o que dizes.”

Juizinho,  “pacaça”. Depois não digas que ninguém te avisou… Aliás o Gaspar, ele próprio, tem de vez em quando levos de alguma humildade comentando connosco que é uma pessoa fraca, que não consegue envolver-se neste pequeno mundo de “mafias controladas”. 

Assume que não tem estrutura física nem psíquica para enfrentar este mundo adverso. Em conclusão, vamos ter o Gaspar a lutar como o tem feito até agora pelo desenvolvimento deste país ( e não esqueçamos que ele foi dos primeiros e dos que mais se empenharam na diáspora pela libertação e independência de Timor ) com a pena, caneta, computador, redes sociais, etc… dizendo o que está bem e o que está mal neste país com já 14 anos de independência e que, em muitos campos tanto há a fazer.

Aqui, como em muitos mais países, um dos temas de que mais se fala é da corrupção. Mas fala-se baixinho que as paredes têm ouvidos… e “quem tem cú tem medo!...”


  • Questões de justiça - Os veteranos da resistência

Este é um problema delicado, com difícil resolução. Depois de 14 anos de independência, onde já muito se fez mas muito mais há para fazer, a situação dos veteranos da guerra está a preocupar (a revoltar) boa parte da povoação. 

Uns conseguiram arranjar lugar na administração territorial, encaixaram-se na estrutura estatal com trabalho bem remunerado, cujo salário contrasta com a grande maioria do trabalhador timorense: presidentes, deputados, ministros, assessores, secretários uma legião de “gente boa” ocupando lugares de relevo; outros esquecidos e abandonados à sua sorte, sem qualquer ajuda económica, a lamentarem-se do suor e sangue derramado nas batalhas, da esperança depositada em líderes e programas políticos, da condução e orientação deste país. Promove-se quem pouco ou nada fez; esquecem-se os heróis que arriscaram a vida.

O Painô, jovem dinâmico e com alguma influência no seu meio, conseguiu gravar através de um processo não muito ortodoxo, o testemunho de um ex-combatente, que reproduzo com palavras textuais: ” um caralho! Alguns em vez de combater andaram a roubar bananas e agora recebem pensões e são condecorados. Um caralho!...” 

Pois é, quando a verdade vem ao de cimo mais não resta que a revolta.

O Vitor, que foi comandante na guerrilha, é um dos habitantes de Ailoc Laran. Homem por volta dos 70 anos, tem uma grande família, ainda com crianças. Queixa-se, mas não se revolta, da injustiça a que são votados os veteranos da guerra. Prefere não receber nada que sujeitar-se a uma pensão de miséria. É uma questão de dignidade: andar direito na vida, ( e juro-vos que ele fisicamente anda direitinho) sem ter que humilhar-nos perante os poderosos.

Mas até quando se aguentará esta situação perigosa? Será que o tempo apagará esta mágoa, esta injustiça? Até onde chegarão os clamores dos pobres?!...

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor;

Último poste da série > 26 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25562: Viagem a Timor: maio/julho de 2016 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IV: um encontro, privado, com Ramos Horta, colega de escola do Gaspar Sobral

Guiné 61/74 - P25586: Parabéns a você (2277): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de Maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25581: Parabéns a você (2276): Fernando Andrade de Sousa, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 e CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25585: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (45): Há indivíduos com sorte, mesmo na guerra



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


HÁ INDIVÍDUOS COM SORTE, MESMO NA GUERRA

1) - Certa noite, estando de serviço num dos postos de vigia foi encontrado a dormir e o graduado "roubou-lhe" a G3.

2) - Numa operação, o oficial comandante do Grupo de Combate mandou parar o grupo, para os nossos soldados milícias analisarem as pegadas recentes que encontraram no trilho.
Nessa altura surgiram 2 elementos do PAIGC. Houve troca de tiros com os nossos soldados milícias e o nosso soldado "refilão" fez rajada para o local donde tinham surgido os tiros.
Atingiu e matou um dos nossos milícias e só não fez mais vítimas porque o oficial e os outros milícias gritaram para parar o tiroteio.

3) - Retiramos desse local para fazermos a evacuação de 1 guerrilheiro ferido e do nosso soldado milícia morto. Quando encontramos um local adequado para fazer as evacuações surgiu um grupo de "turras" que nos perseguia.
O "soldado refilão" viu o grupo IN aproximar-se, mas não avisou o comandante da secção dele, nem o oficial, nem os camaradas da secção. Agiu por conta própria.
Armou-se em "herói" e, sem avisar ninguém resolveu atacar o IN. Por sorte ou azar a bala não percutiu, mas fez o barulho suficiente para alertar todos os presentes - grupo do PAIGC e o nosso Grupo de Combate.
Este contacto não teve consequências para ambos os grupos.
Após a retirada do PAIGC deslocamo-nos para outro local e fizemos as evacuações.

4) - Mas um "herói lusitano" tem que continuar a ser o protagonista desta epopeia.
No dia 7 de Abril de 1971, o nosso grupo de combate estava de serviço e sofremos um ataque ao quartel.
O nosso "herói" saiu da caserna aos tiros de rajada, a caminho da vala.
Por sorte não matou nem feriu nenhum camarada.
Quando cheguei ao local os outros dois furriéis do meu grupo informaram-me que os soldados se tinham queixado das rajadas do tal camarada.
No final, quando achamos que o ataque já tinha acabado, chamei o "artista" e fiz-lhe ver as asneiras que tinha feito e que podia ter ferido ou morto algum camarada.
Quando ele veio ter comigo, pelo andar verifiquei que ele tinha álcool a mais, e ameacei-o pela asneira que ele tinha feito. Mas o álcool deu-lhe para "refilar" comigo. Preferi terminar aqui, e no dia seguinte voltarmos a falar e proceder de acordo com a reacção dele.

5) - Mas como disse atrás um "herói lusitano" tem que honrar os seus pergaminhos.
Estava se serviço ao posto das 2 às 4 horas da manhã. E o furriel de ronda às 3h45m foi à caserna acordar os soldados para render os postos e foi passar ronda aos postos da tabanca, feitos pelos milícias.
Como o "herói lusitano" não foi rendido às 4h00, fez uma rajada.
Lá veio o furriel de ronda a correr da tabanca para o posto donde tinha sido feita a rajada e encontrou os oficiais e os sargentos todos a pé, para saberem o que se passava. Eu estava de oficial de dia, também me levantei e equipei para ir ver o que se passava.
Como tudo serenou voltei a deitar-me - DEPOIS DE UM ATAQUE DE 30 MINUTOS APÓS O JANTAR, UMA RAJADA ÀS 4H15M É MUITO PERTURBADORA.

Às 6 horas da manhã, o furriel miliciano que estava de ronda informou-me que o capitão queria falar comigo, por causa desta situação.
O capitão queria que eu participasse para dar uma "porrada" ao soldado. Nessa altura já sabíamos que íamos para Nhacra e uma porrada podia originar uma transferência para uma zona de porrada.
Argumentando as consequências, convenci o capitão a não participar e darmos-lhe cabo do corpo = castigo físico.
Propus-lhe que sempre que o soldado não estivesse em serviço fosse trabalhar no heliporto, na substituição os troncos de palmeira que substituíam as valas, etc.
O capitão concordou e lá o safei duma porrada, quando na noite anterior eu estava decidido a dar-lhe um castigo pela irresponsabilidade que ele demonstrou aquando do ataque.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 23 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25554: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (44): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Sobreposição à CCAV 3378

Guiné 61/74 - P25584: Humor de caserna (60): O anedotário da Spinolândia (XI): "Continua, meu rapaz, salvas-te tu para que este batalhão não seja a merda mais completa" (Um anedota contada pelo saudoso Rui A. Ferreira,1943-2022)


1. O nosso saudoso amigo e camarada Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), ten cor inf ref, que fez duas comissões no CTIG, a última como cmdt da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, jan 71 / set 72), foi também um talentoso escritor, tendo-nos deixado três livros de memórias....Além de ter sido um grande operacional, gostava também de pregar as suas partidas e contar as suas cenas pícaras... Esta é um delas... Anedota ou não, fica bem na série "Humor de caserna"...

Vamos condensá-la e resumi-la: 


Numa visita a uma guarnição no mato (o que era frequente e de surpresa, e muitas vezes a desoras), Spínola deparou com um comandante de batalhão, "trapalhão, pouco esclarecido, desconhecendo muitas das realidadaes do seu próprio quartel", enganando-se várias vezes ao identificar "os sucessivos lugares por onde iam passando" (sic).

A gota de água que fez entornar o copo foi a visita à "casa do piquete": ao abrir-se  a porta, constatou-se que era uma sala de aulas, onde um militar ensinava a uma classe de miúdos. Enfim, tratava-se de um PEM (Posto Escolar Militar).

Atrapalhado, o professor, que não devia ter dado conta da visita do Com-chefe ao quartel, àquela hora, nem muito menos estava à espera de tão ilustre visitante, "desajeitadamente, não sabendo o que fazer, mandou levantar os alunos".

Spínola, mandou-os de imediato sentar, dizendo: "Continua, meu rapaz, salvas-te tu para que este batalhão não seja a merda mais completa.

Comenta o Rui Alexandrino : "Não sei quantos dias levou este , mas lá levar levou" (pág. 350). (Refiria-se, obviamente, ao comandante de batalhão...)

Fonte: Adapt de Rui Alexandrino Ferreira - "Quebo: nos confins da Guiné". Coimbra: Palimage, 2014, 364 pp.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25438: Humor de caserna (59): O anedotário da Spinolândia (X): Alferes, cabra de mato!... Pum, pum!!! (David Guimarães, ex-fur mil at art, MA, CART 2716, Xitole, 1970/72)

Guiné 61/74 - P25583: Fotos à procura de...uma legenda (181): Bambadinca, Natal de 1968: Hoje há leitão à Bairrada à mesa do Zé Soldado (Manuel da Costa, ex-sold maqueiro e barbeiro, CCS/BCAÇ 2852, 1968/70)




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Vésperas de Natal de 1968 > O sold maqueiro Manuel da Costa, de bata branca, finge que faz a "vistoria sanitária" aos leitões que irão à mesa natalícia... Leitões "turras", por certo comprados nas tabancas de Nhabijões, consideradas sob "duplo controlo"... Mas a legenda pode ser melhorada pelos nossos leitores (*)... Por exemplo: "o vagomestre perdeu a cabeça"... Ou: "Leitões ? Só de aviário!...". Ou ainda: "Comprados ? Os balantas não os vendiam aos 'tugas', só se fossem 'atropelados' peçlo burrinho"...

Foto (e legenda) : © Manuel da Costa (2015).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Manuel da Costa é o barbeiro mais famoso de Dalvares, Tarouca. Foi sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), pertencendo aos serviços de saúde , chefiados pelo saudoso alf mil médico David Payne. E lá também exerceu a arte de barbeiro, escanhoando caras e rapanda couros cabeludos de oficiais, sargentos e praças.

Tem uma página na Net (Nova Barbearia Costa). Foi profissionamente motorista de longo curso. Reformado, tomou conta e remodelou a barbearia do seu pai.(**)

Da sua página do Facebook (ele é também amigo da nossa página, Tabanca Grande Luís Graça),  tomámos a liberdade  de lhe pedir emprestada esta imagem, que fala por si (vd. acima): o nosso soldado maqueiro a exercer, com rigor e vigor, a autoridade de vedor das carnes que hão de ir às mesas  da Consoada (embora separadas) da Nobreza, do Clero e do Povo, em Bambadinca, 1968...

Acrescenta ele, bem humorado: 

(...) Esta foto foiu irada nas vésperas do Natal de 1968 onde estou numa brincadeira fazendo crer que estava a examinar os leitões. Chamaram-me na barbearia que era junto à cozinha e refeitório geral para os praças e cabos. O que está em tronco nu é o cabo cozinheiro Carneiro e o do camuflado era o cozinheiro Teixeira, já falecido" (...)

(...) Fiz parte da Companhia Comandos e Serviços (CCS) do Batalhão de Caçadores 2852. estava ligado à enfermagem como maqueiro, mas dado a minha profissão de barbeiro que tinha na vida civil desde 1964, comecei a desempenhar essa arte na barbearia do comando, alternando sempre que era preciso vir à enfermaria e aos domingos sempre que o ilustre e saudoso médico Dr. David Payne, já falecido, precisava, lá ia eu fazer psíco às Tabancas só para rapar os cabelos das feridas crónicas dos civis. (...).

Já em tempos o convidei a ingressar no blogue da Tabanca Grande. Ele tem hitórias para contar e mais fotos para partilhar. Não sei se tem aparecido nos convívios anuais da malta de Bambadinca (1968/71): nunca o encontrei, mas eu também sou pouco assíduo (em 28 convívios, fui a meia dúzia)... De qualquer modo, o Manuel da Costa será bem vindo ao nosso blogue. (**)

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 30 de maio de  2015 >  Guiné 63/74 - P14680: Efemérides (190): o ataque a Bambadinca foi há 46 anos, em 28/5/1969, recorda o barbeiro mais famoso de Dalvares, Tarouca, o Manuel da Costa, que foi sold maqueiro, CCS/BCAÇ 2852 (1968/70)

Guiné 61/74 - P25582: O Cancioneiro da Nossa Guerra (25): Os Gandembéis - Canto IV, Estrofes de I a XI (Fim) (CAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana e Nova Lamego, 1968/69)



Guiné > Região de Tombali >   Ponte Balana > CCAÇ 2317 (1968/69) >  Rio Balana  "O pequeno destacamento foi um bastião na defesa de uma ponte (sobre o rio Balana)n que a engenharia militar recuperaria, mas que também acabaria por ruir" > Álbum fotográfico de Idálio Reis > Foto 422 > "Aproveitando os restos da antiga ponte, davam-se belos mergulhos para banhos retemperadores"



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cansissé > CCAÇ 2317 (Gandembel, Ponte Balana, Buba e Nova Lamego, 1968/69) > Julho de 1969 > Foto do álbum de Idálio Reis: "Foi na fonte de Semba Uala, que os nossos corpos se retemperaram de energias abaladas. Também, com exasperados desejos, se buscavam encontros de encantos (...) Junto à parte oriental da povoação, situava-se a fonte de Cam-Sissé (Semba Uala), com data de construção de 1959. Era conhecida vulgarmente pela Fonte dos Fulas. (...)".




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Cansissé > CCAÇ 2317 > Julho de 1969 > Mesmo junto à parte oriental da povoação, situava-se a fonte de Cam - Sissé (Semba Uala), com data de construção de 1959. Era conhecida vulgarmente pela Fonte dos Fulas, como se constata no celebérrimo banho à fula que estas duas bajudas estão a tomar.


Fotos (e legendas): © Idálio Reis (2007).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Última parte de "Os Gandembéis", poema épico-burlesco,
 parodiando "Os Lusíadas", de autoria coletiva (mas com forte contributo do poeta João Barge, 1944-2010) (foto à esquerda): escrito em 1969,  retrata a epopeia da CCAÇ 2317 em Gandembel e Ponte Balana (*). Foi ecolhido e reproduzido pelo nosso camarada e amigo Idálio Reis, engenheiro agrónomo reformado, ex-alf mil at inf da CCAÇ 2317, no seu livro "A CCAÇ 2317 na guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana", edição de autor, s/l, 2012 (il, 250 pp.). (O livro é ilustrado por mais de meia centena de fotos dos arquivos do Idálio Reis e dos seus camaradas.) (*)


Sobre o Canto IV (úllima parte de "Os Gandembéis"), explicou-nos oportunamente  o Idálio Reis (**):


Depois de receber ordens para abandonar Gandembel, em 28 de janeiro de 1969, a CCAÇ 2317 passa por Aldeia Formosa e fixa-se em Buba, sede do COP 4 (comandado na altura pelo major Carlos Fabião). Em 14 de maio de 1969, deixa Buba e segue, de avião, para Nova Lamego, região do Gabu, onde irá terminar a sua comissão sete meses depois. Ali foram, finalmente, "gente feliz, sem lágrimas"... E ai tiveram tempo e talento para escrever Os Gandembéis.

Torna-se demasiado evidente que a Ilha dos Amores [Canto IX, Os Lusíadas, de Luís de Camões], tem nesta fase final uma emulação muito mais forte. E não poderia ser doutra forma, porquanto a nossa guerra de Nova Lamego também não tinha cotejo com a de tempos anteriores.

á uma forte razão para que entre um certo sentimento de lascívia neste poiso. A grande generalidade da Companhia, antes de chegar a Nova Lamego, não tinha visto uma qualquer mulher. A guerra tinha facetas pérfidas.

Em Gandembel, não havia população, e a visão de um rosto feminino só era propiciado aquando de alguma evacuação, onde ia sempre uma enfermeira paaquedista. Grotescamente, lembro que quando havia evacuações em que o pessoal sentia que o evacuado era um ferido ligeiro, tal até era motivo para que surgisse um maior aglomerado em torno do helicóptero, para bem visualizar a doce face da enfermeira.

Depois a tabanca de Buba era pequena, e atendendo à muita tropa que por lá andava, tudo estava sob controlo apertado. E um dia Spínola, a queixas do malogrado Carlos Fabião que lhe foi dizer que havia elementos da população que prestavam informações ao IN, o que até era verdade, fez um discurso inflamado à população traidora, e manda vir uma LDG, despachando-a rumo aos Bijagós. O nosso sueco José Belo, com mais tempo do que eu em Buba, talvez saiba melhor contar o enredo de tudo isto.

E depois a Companhia arriba a Nova Lamego, e houve forrobodó. Eu não fui com a Companhia para Nova Lamego, pois fiquei em Buba na entrega do material. Fi-lo voluntariamente, porquanto Carlos Fabião era um homem/militar excepcional; a sua conduta no PREC revela essa sua faceta humanista, e vem a acabar por ser postergado.

Fiquei talvez duas semanas em Buba, mais uma em Bissalanca nos Páras (foram as minhas férias), e quando arribo a Nova Lamego, a primeira notícia que recebo, é a seguinte:

- Meu alferes, metade da Companhia apanhou a venérea!

Os cuidados médicos lá foram sarando essas feridas. Sei de um que teve de ser evacuado para Bissau, e que de imediato foi recambiado para Lisboa. Como foi um homem que nunca mais deu notícias, não sabemos o que lhe aconteceu.

Mas Nova Lamego recuperou energias, aumentou consideravelmente a nossa autoestima, éramos gaiatos felizes. E as narrativas que impendem sobre aquela vila, tem forçosamente de conter essa situação de jovens, com pouco mais de 20 anos, a enlear-se com o sexo oposto, após 15/16 meses sem essa benesse. E, nos nossos convívios, vem sempre uma história de uma bajuda.



Canto IV - Estrofes de I a XI (Fim)

I
Deixando Buba, enfim, do doce rio
E tomando a mala já arrumada,
Fizemos desta terra certo desvio.
E para evitar qualquer cilada,
O Dakota tomámos, suave e frio,
Fazendo boa viagem e descansada:
Melhor é fazer uma viagem de avião
Que andar a pé de arma na mão.

II
Gabu se chama a terra aonde o trato
De melhor alimento mais florescia
De que tinha proveito grande e grato
O soldado que esse reino possuía.
Daqui à Metrópole, por contrato,
Não falta muito tempo à Companhia.
Por toda a parte um grito se apregoa:
“D´ora a sete meses estamos em Lisboa”.

III
Aqui, sublime, o descanso estava em cima,
Que a nenhuma parte se sustinha;
Daqui o fim da guerra sempre anima
O soldado que Nino, furtado tinha.
Logo após ele leve se sublima
A feliz mudança, que mais azinha
Tomou lugar junto do Batalhão
Mas continuamos a dormir no chão.

IV
Fulas são todos, mas parece
Que com gente melhor comunicavam:
Palavra alguma dele se conhece
Entre a linguagem sua que falavam,
E, com pano delgado, que se tece
De algodão, as cabeças apertavam;
Com outro que de várias cores se tinge,
Cada um as vergonhosas partes cinge.

V
Já néscios, já da guerra desistindo,
Uma noite, de amor prometida,
Nos aparece de longe o gesto lindo
Da negra Bajuda, única, despida.
Como doidos corremos, de longe abrindo
Os braços para aquela que era vida
Deste corpo, e começámos os olhos belos
A lhe beijar, as faces e os cabelos.

VI
Formosas são algumas e outras feias,
Segundo a qualidade for das chagas,
Que o veneno espalhado pelas veias
Curam-no às vezes ásperas triagas.
Ao pescoço e nos braços trazem cadeias
De contas feitas com sábias magas.
Elas, que vão do doce amor vencidas,
Estão a seu conselho oferecidas.

VII
Alguns, por outra parte, vão topar
Com bajudas despidas que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam.
Umas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando.

VIII
Todas de correr cansam, bajuda pura,
Rendendo-se à vontade do inimigo;
Tu de mim foges para a mata escura?
Quem te disse que eu era o que te digo?
Deixa-me ir contigo nesta aventura
E no capim vem sentar-te comigo.
Já que desta vida te concedo a palma,
Espera um corpo de quem levas a alma.

IX
Já não foge a bela bajuda tanto,
Por se dar cara ao triste que a seguia,
Como por ir ouvindo o doce canto,
As namoradas mágoas que dizia.
Volvendo o rosto já sereno e santo,
Toda banhada em riso e alegria,
Cair se deixa aos pés do vencedor,
Que todo se desfaz em puro amor.

X
Oh! Que famintos beijinhos na testa,
E que mimoso choro que suava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que amor com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.

XI
Ao fim de tanto amor e falsas guerras
Finalmente chegou a hora desejada;
Das gentes nos despedimos e destas terras
Com furiosos gritos e alegria desusada,
Por voltarmos às metropolitanas serras,
Pois temos a comissão terminada.
Não se indigne o herói nem a Pátria querida
Que, por seu nome, aqui muitos deram a VIDA.

(Revisão / fixação de texto: ID / LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25573: O Cancioneiro da Nossa Guerra (24): Os Gandembéis - Canto III, Estrofes de I a VIII (CCAÇ 2317, Gandembel, Ponte Balana e Nova Lamego, 1968/69)


(**) Vdf. poste dfe 21 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9778: O Cancioneiro de Gandembel (8): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte VIII): Nova Lamego e Cansissé, a " Ilha dos Amores" do pessoal da CCAÇ 2317 (Idálio Reis)

Guiné 61/74 - P25581: Parabéns a você (2276): Fernando Andrade de Sousa, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852 e CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)

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Nota do editor

Último post da série de 28 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25571: Parabéns a você (2275): António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV / BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (Buka e Binar, 1973/74)