terça-feira, 20 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6198: O 6º aniversário do nosso blogue (11): Selecção dos melhores dos primeiros cem postes publicados na I Série do nosso blogue (Os editores)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Região do Xime > 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/ Março de 1971) , deslocando-se numa bolanha em zona controlada pela guerrilha do PAIGC... Na foto, é visível, em 5º lugar, o nosso camarada e amigo Humberto Reis, que era furriel miliciano de operações especiais, e comandava um das secções daquele Gr Comb.

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.



1.  Selecção dos melhores dos  primeiros cem postes publicados no nosso blogue, I Série, cujo início remonta a 23 de Abril de 2004. Nesse ano publicaram-se apenas 4 (quatro!) postesm sob a rúbrica Guiné 69/71 (mais tarde, Guiné 63/74)... Um ano depois, em 22 de Abril de 2005 apareceu o Sousa de Castro (técnico fabril dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, que tinha estado no Xime e em Mansambo, entre 1972 e 1974)... A seguir começou a aparecer mais malta:  o Humberto Reis, o A. Marques Lopes, o David Guimarães... O Sousa de Castro desafiou, por sua vez, camaradas de trabalho que também tinham estado na Guiné. No final do ano de 2005  tínhamos publicado cerca de 400 postes... Nos próximos cinco meses, até final de Maio de 2006, publicaríamos mais outro tanto (425)... 

A partir de 1 de Junho de 2006, 5ª feira, mudávamos de instalações... Contados as cabeças, éramos já 100, mas ainda menos que uma companhia... O poste nº 825 dava início à II Série do nosso blogue, com novas funcionalidades e muito mais espaço de arquivamento... A foto acima reproduzida ilustrava o poste inaugural, onde se podia ler:




Quinta-feira, 1 de Junho de 2006 


Amigos & Camaradas:

Por razões de espaço e de tráfego, tivemos que mudar de instalações. O nosso senhorio, o Blogger.com, só nos dá 300 MB para alojar o nosso álbum de fotografias, o que é pouco para tanta gente. De facto, ao fim de um ano já estamos na casa da centena de amigos & camaradas.

O blogue passa a chamar-se simplesmente Luís Graça & Camaradas da Guiné, dando continuidade ao Blogue-fora-nada. Continuará a ser o sítio (virtual) onde nos encontramos, sempre que quisermos e pudermos. É um blogue colectivo que tem por missão ajudar a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, como queiram) na Guiné, nos anos quentes de 1963 a 1974.

Já publicámos, noutro sítio, as regras (mínimas) da nossa tertúlia:

Fazemos uma pequena distinção, meramente circunstancial, entre: (i) amigos (como é o caso do José Carlos, do Leopoldo Amado, do Pepito ou de outros guinéus, não combatentes; como é o caso das nossas companheiras ou dos nossos filhos); e (ii) camaradas (que dormimos no mesmo chão, que fomos mordidos pelos mesmos mosquitos, que comemos as mesmas rações, que vertemos sangue, suor e lágrimas nos mesmos rios, lalas, bolanhas, matas, buracos e tabancas, que apanhámos a mesma porrada, independentemente da bandeira por que nos batemos, que nos insultámos mutuamente, enfim, todos aqueles de nós que fomos tugas, nharros e turras)...

O nosso comportamento, agora como… tertulianos (alguém inventou uma palavra nova em português), deve apenas pautar-se por critérios éticos ou valores tais como (...)

E seguiam as nossas dez regras de convívio, que fizeram história e doutrina... Nessa época, ainda não estava enraizado o saudável hábito de fazer comentários aos postes, embora essa funcionalidade já existisse... Simplesmente havia um mecanismo de moderação dos comentários, uma leitura e avaliação prévia por parte do  editor... Em boa hora acabámos com essa maçada, e abrimos as portas e as janelas a todos os comentários de todos os homens e mulheres de boa vontade que nos visitavam... O resultado tem sido deveras surpreendente e compensador, aumentando o nível de participação tantos dos membros (inscritos) do nosso blogue como dos simples leitores... 

E a propósitos de portas e janelas abertas, fica aqui  uma sugestão: continuemos  a celebrar o nosso 6º aniversário (*), procurando sobretudo surpreendermo-nos uns aos outros, aos amigos e camaradas da Guiné, bem como às muitas centenas de leitores, anónimos, que nos visitam diariamente, com os nossos textos, as nossos documentos, as nossas fotos, as nossas histórias...
____________________


Guiné 69/71 - I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (23.04.04) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - II: Excertos do diário de um tuga (1) (25.04.04) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - III: Excertos do diário de um tuga (2) (28.04.04) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - IV: Um Natal Tropical (07.12.04) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão (22.04.05) (Sousa de Castro)
Guiné 69/71 - XV: No Xime também havia crianças felizes (1) (09.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XVI: No Xime também havia crianças felizes (2) (10.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XVIII: A malta do triângulo do Xime-Bambadinca-Xitole (5) (14.05.05) (A. Marques Lopes e outros)
Guiné 69/71 - XX: Foi você que pediu uma kalash ?  (17.05.05) (David J. Guimarães)
Guiné 69/71 - XXIII: Os anjos da morte (21.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XXIV: O ataque ao destacamento de Banjara (1968) 25.05.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XXV: Aerogramas de amigos e camaradas (1)) (25.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XXVI: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (6) (26.05.05) (David J. Guimarães e outros)
Guiné 69/71 - XXVIII: Um ataque a Sare Banda (1968)  (28.05.05)  (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XXIX: Um ataque a Sare Ganá (1968) (28.05.05) (A.M arques Lopes)
Guiné 69/71 - XXXI: Sare Ganá, a última tabanca de Joladu (30.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XXXII: As aldeias fulas em autodefesa (30.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XXXIII: A morte no caminho para Banjara (30.05.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XXXVI: Na bolanha dá para pensar... (30.05.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XXXVII: Afinal onde ficava Geba ? (31.05.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XXXIX: Sinchã Jobel II e III (03.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XL: Sinchã Jobel IV, V e V (03.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XLI: A região do Xitole, por onde andou o Nino (03.06.05) (David J. Guimarães)
Guiné 69/71 - XLIII: Antologia (1): o que era ser periquito... (04.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - XLV: Sinchã Jobel VII (05.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos do Geba (05.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XLVIII: Samba Culo I (06.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XLIX: Samba Culo II (06.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - L: Mancarra, a semente do diabo (07.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - LI: Mesa-redonda: Afinal, a guerra não estava (quase) ganha? (08.06.05) (Luís Carvalhido e outros)
Guiné 69/71 - LIV: Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro (15.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LV: Notícias do Cacheu (1) (13.06.05) (Afonso Sousa / A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LVI: Notícias da CCAÇ 12 (Xime, 1973/74) (15.06.05) (Luís Cravalhido / Humberto Reis)
Guiné 69/71 - LIX: Esquecer a Guiné...por uma noite! (16.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - LX: Cabral ka mori? (16.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - LXIII: Tertúlia dos ex-combatentes da Guiné (1963/74) (17.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - LXV: Os momentos do fim (Junho de 1974) (19.06.05) (Américo Marques)
Guiné 69/71 - LXVI: Vasculhando os meus papéis (20.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LXIX: Fotomemória(s) (21.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LXXII: Contuboel, Sonaco, Gabu (22.06.05) (Humberto Reis)
Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (23.06.05) (A. Marques Lopes )
Guiné 69/71 - LXXV: Minas e armadilhas (23.06.05) (David J. Guimarães)
Guiné 69/71 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau (23.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - LXXIX: Nome di bó ? Terça, simplesmente Terça! (24.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LXXXII: CCAÇ 1426 (Geba, 1965/67): Presente! (26.06.05) (Belmiro Vaqueiro / A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LXXXVI: No 'oásis de paz' de Contuboel (1969) (28.06.05) (Luís Graça)
Guiné 69/71 - LXXXVII: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (28.06.05) (A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - LXXXIX: Recordando Geba, Banjara, Camamudo, Cantacunda, Bafatá (CCAÇ 1426) (30.06.05) (Fernando Chapouto / A. Marques Lopes)
Guiné 69/71 - XC: Quem não tinha um pouco de poeta e de louco? (01.07.05) (A. Marques Lopers)
Guiné 69/71 - XCIII: Barro, trinta anos depois (1968-1998) (02.07.05) (Afonso Sousa)
Guiné 69/71 - XCIV: Um alfa bravo para os nossos Op TRMS (1) (02.07.05) (Afonso Sousa e outros)
Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna (07.07.05) (Jorge Santos)
Guiné 69/71 - XCVIII: Um Alfa Bravo para os nossos Op TRMS (2) (09.07.05) (Sousa de Castro)

____________

Nota de L.G.:



(*) Vd. último poste desta série > 17 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6008: O 6º aniversário do nosso blogue (10): 40 anos depois do meu regresso, a 9 de Abril de 1968, volto à Guiné, a Bambadinca... E tudo isto, por culpa do nosso blogue (Jaime Machado)


(...) No dia exacto em que se completam 40 anos do meu regresso da Guiné (9 de Abril de 1968) parto de novo para lá, se tudo correr conforme o previsto.

Já o disse e repito.  A “culpa” de tudo isto é do Luís.  Sim, do Camarada e Amigo Luís Graça.

Há anos atrás, numa noite de insónia, resolvi escrever, no Goole, a palavra BAMBADINCA.  A partir daí nunca mais parei.  A leitura do Blogue do Luís e mais recentemente do Blogue da Tabanca de Matosinhos passaram a ser tarefa diária obrigatória.

Sucederam-se almoços e jantares, uns atrás dos outros, sempre com ex-camaradas que, como eu, permaneceram cerca de dois anos da nossa juventude na Guiné.  (...)



Vd. postes anteriores:



 17 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6006: O 6º aniversário do nosso Blogue (9): O Blogue, o futuro, os nossos encontros, os dias em que não me sinto fora de prazo... (Juvenal Amado)


(...) Nestes dias cinzentos e chuvosos pensamos no que fomos, no que somos e no que poderíamos ter sido.
A vida de cada um é um acto único, em que só alguns têm aquele quê especial, que os faz vir à boca de cena várias vezes.

Diz-se que os actores agradecem os aplausos do público. Por que razão se desvirtua esse momento, dizendo que os actores vieram diversas vezes agradecer ao público e não o contrário e legitimo? O público é que deve agradecer.

Assim somos nós todos, depois de tudo darmos, temos de agradecer que o nos é devido. Depois de uma vida inteira de trabalho produtivo em prol da sociedade, eis que nos encontramos de repente sós. Olhamos para as mãos, o que vamos fazer com elas? (...)


Guiné 63/74 - P6197: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (5): Mentes com dúvidas

1. Mensagem de Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69), com data de 10 de Abril de 2010:

Caros Editores
Há bastante tempo que nada vos envio. Escritos tendes vós, certamente para dar e vender.
Acontece que hoje voltei a ver, noutra revista, a G3 na mão de militares em preparação. Talvez mais em pose para a fotografia.

Li um post relacionado com o livro, melhor com a apresentação da biografia do Marechal Spínola.
Fiz breve comentário a pedir a correcção da data do falecimento. Falei igualmente no Tenente Coronel Pimentel Bastos. E porquê? Somente porque ambos foram meus comandantes; um de certo modo afastado pois era o ComChefe na Guiné e o outro o Cmdt de um dos Batalhões (2852) a que pertenci. Ambos eram, muitas vezes tratados, sem grande mal por "nom de guerre". Por eu não usar esses nomes ou outros como: tugas, turras etc (em combate e não só chamava pelo In não só de turras mas ofendia as esposas, pais e mães etc aliviando tensões e incentivando outras coisas), não quer dizer que outros não os usem.

Nada escreverei sobre o Marechal; aparece num ou em mais escritos meus e, recentemente em comentário, creio que quando do poste da apresentação da biografia. Não sei bem e só indo ver e não vale a pena.
Certo é que quer com o Marechal Spínola quer com a G3 e não só mais adensam algumas dúvidas que se me apresentam.

Assim sendo envio dois escritos de alguns que por aqui andam.
Agradecia, mais ao Carlos Vinhal, que acusassem a recepção.

Farão deles (dos escritos claro) o que entenderem.

Bom fim de semana e um tri abraço do,
Torcato


AO CORRER DA BOLHA - V

MENTES COM DÚVIDAS


São já muitos e tão diversos os escritos, depoimentos, comentários lidos e relidos na vã tentativa de os compreender e posteriormente analisar, mesmo de forma simplista. Simplista claro e que não me seja pedida uma análise mais profunda ou os deuses de um Olimpo qualquer entravam em polvorosa.

Nesse ler e, mesmo relendo, assaltam-me dúvidas, assaltam-me muitas – ia dizer resmas ou montes – incertezas. Paro e não sei qual a realidade. Será a que eu vivi ali ou lá e senti aquilo? Não, não tenho disso recordação.

Dispo-me, desnudo mesmo a mente, procurando assim limpar o pensamento, a memória de outrora, e só então pergunto a mim: - onde estiveste? Na Guiné não certamente pois nunca por tal passaste. Sinto haver nomes, assuntos, temas, tomadas de posição que não compreendo. Mente fraca ou perturbada a minha. Porque pode ser essa a causa ou talvez não.

Porquê tantos contra a guerra, tantos a não darem tiros, tantos do contra lá, e mesmo agora cá, a enalteceram o feito e o acto dos que outrora contra nós se bateram? Sim, como se disso eles necessitassem e nós algo, de mau ou menos próprio, tivéssemos outrora praticado e a ser, hoje, projectado em vergonha.

Guerra justa, guerra injusta ou só guerra e, se só guerra é sempre o mal, o ódio, o desumano a estar presente. Mas praticado por quem? Por todos, ou não? Haverá, disfarçado claro, algum saudosismo desse passado? Não tanto.

Eu estive lá, levaram-me para lá em viagem só de ida e de possível vinda e vi, senti em somatório de vivências fortes a deixarem marcas indeléveis, recordações a desaparecerem e, sem saber como, a virarem, uma ou outra vez, presente, a serem confirmadas por cicatrizes na carne ou na mente. Procuro transformá-las em memórias que se esfumem. Difícil? Muito mesmo e, pior ainda, o não saber esquecer e perdoar. O passado, de quando em vez aparece assim quase presente, o passado onde a vida por vezes se vivia toda num minuto, naquele breve instante, entre a vida e a morte, ou, porque não, entre o azar e a sorte.

Sorte! Que sorte? A de estar vivo, a de ali me arrastar por picadas de morte, debaixo de sol de fogo, caminhando em quase esgotamento, arrastando-me por automatismos e só levando da vida um sopro. O sopro ou o instante da sorte? Agora leio, e releio a descrição do lugar, do fulano ou o tal combatente da liberdade, que a nós montou a emboscada, aquela onde n camaradas nossos encontraram, por azar ou falta de sorte, a morte.

Leio, releio e ainda hoje sinto o silêncio da morte, o cheiro a vir e a entranhar-se por todos nós, a revolta ainda hoje a ser quase a de ontem.

Leio, releio e já nem certeza tenho. Estarei assim tão só?

Haveria assim tantos que outrora pensavam ser a guerra injusta, serem contra impérios de opressões e estarem lá como usurpadores, continuadores do secular e injustificado ou errado conceito de propagar fé e civilização? Não, não pensavam assim. Só minoria, pequena minoria que se sentia humilhada e ofendida, a crescer é certo á medida que a guerra se prolongava. Mas só hoje, só hoje é maioria. Será? Ontem, outrora, não certamente. Outrora a maioria aceitava no espalhar a fé e a civilização, no desrespeito pela cultura, pelo ser e saberes de outros povos.

Leio, releio e tenho dúvida na análise; mesmo simplista claro.

Ah o império, o império. Um dia foi embrulhado cuidadosamente e veio debaixo de um braço.

Fico por aqui e irei ler aqui ou acolá. Certamente irei encontrar os feitos dos outrora inimigos. Curioso eles andarem sempre desavindos e nós, melhor eu, não perdoando ou esquecendo aceitar e pugnar, em silêncio e de forma comedida, pela paz. Curioso.

«««

Fiz bem em esperar. Fiz bem em colocar o escrito em letargia, em meio arquivo. Surge agora um outro escrito no blogue. Alguém, um camarada evidentemente, pede ajuda para perceber o que diz não entender.

Tento a ligação entre o que atrás disse e agora leio. Assumo a responsabilidade. São textos diferentes e em comum têm só a dúvida.

Certo é que, em comentários de diversidade opinativa, própria de um site plural, se tenta o esclarecimento. Não vou agora comentar ou falar no interessante poste. Relevo só, em alguns comentários uma certa confusão, talvez termo excessivo, entre politica e partidos políticos. Aqui não se fala abertamente em política. Só que ao opinar estou a fazer política, a tomar posição política. Nada tem a ver com o partido seja ele qual for, a não ser que tente encaixar essa tomada de posição com uma determinada ideologia partidária. Difícil ou sempre passível de contestação e divergência.

Mas, se assim fosse que mal teria isso? Felizmente temos partidos políticos, políticos e vivência democrática.

Nada mais acrescento aqui e agora ou, a faze-lo, iria infringir “as regras” do blog.

Atrevo-me somente a dar um exemplo: - há quem diga guerra do ultramar, guerra colonial, guerra de libertação.

Implícito está uma tomada de posição política. Ou não?

Claro que está. Claro que não afecta o blog como tal, mas pode interessar aos tertulianos que assim classificam a guerra. É que o todo é feito de partes e estas não são iguais ou seria um desastre.

Parece-me ter mais interesse a guerra ter acabado e hoje, independentemente das designações, se falar de paz. E tanto necessita aquela terra por onde andamos. Transcende-nos o pugnar hoje abertamente pela paz. Poderia parecer sobranceria ou ilegítima interferência. Podemos, contudo, tentar ajudar sem interferir. A nossa História, a história de séculos do nosso País não pode ser feita sem a história daqueles novos Países. Temos séculos de história comum, uma língua só e muito mais que convém aprofundar e será sempre indissociável.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: O Spínola que eu conheci (14): Sempre vi naquele homem, trinta e quatro anos mais velho do que eu, o Chefe Militar (Torcato Mendonça)

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6002: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (4): Os apontamentos de Amílcar Cabral

Guiné 63/74 - P6196: Notas de leitura (96): Aquelas Longas Horas, de Manuel Barão da Cunha (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:

Queridos amigos,
Peço encarecidamente aos tertulianos que me ajudem a concluir o levantamento dos escritos dos anos 60, referentes à Guiné: quem mais, além do Armor Pires Mota, Álvaro Guerra, Amândio César e Barão da Cunha, escreveu nessa década?
Conhecem mais alguém? Se conhecem, por favor, indiquem-me.
E quanto aos anos 70, quem mais para além do José Martins Garcia?
Sei muito bem que o pior está para vir, no dobrar do século.
Mas até lá, seria bom que se deixasse para a posteridade um inventário asseado.

Um abraço do
Mário


Nós precisamos que não nos tratem com indiferença

Beja Santos

Manuel Barão da Cunha publicou “Aquelas Longas Horas – Narrativas sobre a actual epopeia africana” em 1968, no serviço de publicações da Mocidade Portuguesa, com capa e ilustrações de Neves e Sousa. Que o autor não teve ilusões sobre a datação da obra e os condicionalismos da escrita temos a prova na adaptação que fez a este e outro livro (“A Flor e a Guerra”) recriando as atmosferas no seu livro mais recente “Tempo Africano”, de que já se fez recensão no blogue.

Trata-se de uma narrativa épica, uma exaltação da gesta que os portugueses estavam a viver no continente africano. Barão da Cunha escreve para recordar o heroísmo, a generosidade e até a dádiva da vida dos soldados anónimos. Escreve com orgulho, apela à compreensão e ao respeito, como a exigir que nada caia no esquecimento: os desembarques no tarrafo, em que o soldado cai, levanta-se, torna a cair para de novo se levantar, caminha para o objectivo e mesmo com o equipamento destroçado segue destemido no cumprimento do dever; aqueles que na emboscada reagem a peito descoberto; denunciando os comportamentos daqueles que na metrópole se pavoneiam, indiferentes àqueles que combatem destemidamente; exaltando os portugueses de todas as cores que combatem o terrorismo; tirando do anonimato o capelão que reza junto do moribundo e que se segue estoicamente em todas as colunas para levar a fé aos combatentes nos lugares mais ermos; engrandecendo os soldados africanos que à sombra de bandeira portuguesa invadem os santuários do Morés.

O livro de Manuel Barão da Cunha é produto de quem esteve em Angola de 1961 a 1963 e na Guiné de 1964 a 1966. É um livro de moralidade, feito para sobressaltar os indiferentes e comodistas, lá longe, ignorando a dureza da vida do combatente, praticamente ignorado pelos órgãos de comunicação social. É um livro de solidariedade com os soldados anónimos, condenados ao esquecimento, com destaque para os africanos, mais também o enfermeiro, o condutor, o ordenança, o guarda-costas. Manuel Barão da Cunha vai ocupar o lugar do oficial do quadro permanente que se junta aos milicianos (Armor Pires Mota e Álvaro Guerra) e aos jornalistas de intervenção (destaque para Amândio César) ainda na década de 60. São soldados armados de Mauser, são operações efectuadas com poucos meios de transmissões, são soldados carregados com burros, são soldados de consciência tranquila, dispostos a derramar o sangue pela Pátria. São soldados que deixaram obra, permitindo que a bandeira verde-rubra continue a flutuar ao vento. São soldados que no fim da comissão estão alegres por terem cumprido a sua missão. Estes soldados tinham nascido de novo para a vida, libertados do medo, ligados àquela terra de combates tão castigadores. “A obra ficava, o homem partia. A obra ficava para outros homens e o homem partia para outras obras”. Não foi exactamente isso que aconteceu, como se sabe, mas Barão da Cunha destacara a transformação de uma geração implicada nesse esforço de guerra. É esse dever de memória que estamos a reter. E a saudar.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6181: Notas de leitura (95): Até Hoje (Memória de Cão), de Álamo Oliveira (Beja Santos)