CART 2479 (futura CART 11) (1969/70) > > Jantar-convívio dos furrieis milicianos e sargentos em Espinho, dias antes do embarque , que será em 18 de fevereiro de 1969, no T/T Timor. O Valdemar Queiroz está ao centro, todo aperaltado, de gravata e casaco de xadrez...
Ordem de serviço 274/RPA 3/ 22Nov68 (Excerto) Nomeação do fur mil 02086066 José V[aldemar] R Q[ueiroz] Silva para o CTIG, integrado na CART 2479 / BART 2866...
T/T Timor... Navio, misto (carga e passageiros), de 2 hélices, construído em 1950, em Inglaterra (e abatido em 1974), com o comprimento de 131, 48 m; arqueação bruta de 7,656 mil toneladas;: velocidade normal de 14,5 nós; tripulação: 120 elementos; lojamentos para 4 em classe de luxo, 60 em primeira classe, 25 em terceira e 298 em terceira suplementar, num total de 387 passageiros... Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa (Fonte: Navios Mercantes Portugueses > Timor)
A bordo do T/T Timor > Fevereiro de 1969 >CART 2479 (1969/70) > Da esquerda para a direita, os fur mil Pechinca, Valdemar Queiroz e Abílio Duarte
T/T Timor > Viagem Lisboa-Bissau > De 19 a 26 de fevereiro de 1969 > Rádio, leitor e gravador, de marca Bigston ("Bigston FM/AM Radio Cassette Tape Recorder"), comprado a bordo... Um pequeno luxo, para a época...
Guiné > Bissau > Estádio Sarmento Rodrigues > 26 de fevereiro de 1969 > CART 2479 (1969/70) > Desfile dos futuros Lacraus... O Valdemara Queiroz está assinalado com uma seta...
Guiné > Bissau > Finais de fevereiro ou princípios de março de 1969 > CART 2479 (1969/70) > O Queiroz na avenida principal, tendo ao fundo a catedral de Bissau.
Guiné > Bissau > Finais de fevereiro ou princípios de março de 1969 > CART 2479 (1969/70) > O Queiroz na Solmar
Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]
1. Texto e fotos enviadas, em 9 do corrente, pelo Valdemar Queiroz, nosso novo tabanqueiro, nº 648 [, foto atual à esquerda]
Partida, chegada e os primeiros meses na Guiné (Parte I)
Inesquecível. Dramático. Gritos, principalmente das mulheres, no Cais de Alcântara, antes e depois de ouvido o Hino Nacional, com o afastamento do ‘Timor’. Gritos de despedida e lenços a acenar aos que partiam e nós a acenar aos que ficavam, no cais, aos gritos, e o Renato Monteiro sempre a acenar com um lenço vermelho à namorada, até à barra do Tejo, com Lisboa ao longe, numa manhã fria de terça-feira de Carnaval (18 de fevereiro de 1969).
Inesquecível. Indesejável situação tão dramática, para os que ficavam e para aqueles jovens que partiam para a guerra na Guiné. (Infelizmente continuou o mesmo espectáculo por mais uns anos).
E lá fomos, com paragem, por umas horas, na barra (já não vamos?), devido a avaria, seguindo para a Madeira, já com grandes enjoos e desejosos de lá chegar.
Chegamos à Madeira, de madrugada, ainda com as ruas iluminadas, que vista do mar poucos conhecem, ficando ao largo a ver o ‘presépio’ e a curar os enjôos da viagem, sem desembarcar.
Continuamos viagem, agora com todo o ‘comércio’ em exposição, até então escondido, que deu para comprar telefonias, gravadores, máquinas fotográficas, etc., a jogar à lerpa, a fazer exercícios e simulacros, a ver peixes-voadores e, à noite, deitados no tombadilho, de barriga para o ar, a ver o céu estrelado, passando os dias de enjôos até aparecerem os pilotos de barra, muito pretos e a falar (crioulo?) sem se perceber o que diziam, e o Alferes Pina Cabral a dizer-me 'Queiroz, agora é que chegamos à Guiné'.
Chegamos à Guiné. Terra vermelha. Bissau, sem colinas, céu cinzento, calor pesado, mosquitos e crianças a pedir ‘parte um peso’, (crianças que nós passamos a chamar jubis, mas jubi em crioulo quer dizer ‘olha’, ‘estás a ver’, ‘repara’, - bu ka na jubi riba / sem olhar para cima -, do verbo djubi = ver), tropa por tudo o que é sítio, com as camisas suadas, a dizerem-nos ‘salta, periquito’, ‘periquito, vai pró mato’, mas também muita gente à civil, europeus e naturais, muito pretos, e nós desejosos de uma cerveja fresca, fomos encaminhados para umas tendas em Brá, em que alguns tiveram os primeiros encontros com lacraus e todos com um discurso empolgante de Spínola que nos visitou.
Passamos uns dias em Bissau com muito calor, do que não estávamos habituados. Desfile no Estádio Sarmento Rodrigues, com mais um discurso empolgante do Spínola. Passeios pela cidade. Tardes na esplanada da Solmar a beber umas cervejolas 2M (MacMahon) ou uns whiskies com água Perrier, que era mais cara que o whisky, acompanhado com mancarra vendida, pelas bajudas, a meio peso, a observarmos os abutres em cima do telhado do mercado e a ‘deitar abaixo’ umas travessas de ostras, na esplanada do Nacional.
E lá fomos, com paragem, por umas horas, na barra (já não vamos?), devido a avaria, seguindo para a Madeira, já com grandes enjoos e desejosos de lá chegar.
Chegamos à Madeira, de madrugada, ainda com as ruas iluminadas, que vista do mar poucos conhecem, ficando ao largo a ver o ‘presépio’ e a curar os enjôos da viagem, sem desembarcar.
Continuamos viagem, agora com todo o ‘comércio’ em exposição, até então escondido, que deu para comprar telefonias, gravadores, máquinas fotográficas, etc., a jogar à lerpa, a fazer exercícios e simulacros, a ver peixes-voadores e, à noite, deitados no tombadilho, de barriga para o ar, a ver o céu estrelado, passando os dias de enjôos até aparecerem os pilotos de barra, muito pretos e a falar (crioulo?) sem se perceber o que diziam, e o Alferes Pina Cabral a dizer-me 'Queiroz, agora é que chegamos à Guiné'.
Chegamos à Guiné. Terra vermelha. Bissau, sem colinas, céu cinzento, calor pesado, mosquitos e crianças a pedir ‘parte um peso’, (crianças que nós passamos a chamar jubis, mas jubi em crioulo quer dizer ‘olha’, ‘estás a ver’, ‘repara’, - bu ka na jubi riba / sem olhar para cima -, do verbo djubi = ver), tropa por tudo o que é sítio, com as camisas suadas, a dizerem-nos ‘salta, periquito’, ‘periquito, vai pró mato’, mas também muita gente à civil, europeus e naturais, muito pretos, e nós desejosos de uma cerveja fresca, fomos encaminhados para umas tendas em Brá, em que alguns tiveram os primeiros encontros com lacraus e todos com um discurso empolgante de Spínola que nos visitou.
Passamos uns dias em Bissau com muito calor, do que não estávamos habituados. Desfile no Estádio Sarmento Rodrigues, com mais um discurso empolgante do Spínola. Passeios pela cidade. Tardes na esplanada da Solmar a beber umas cervejolas 2M (MacMahon) ou uns whiskies com água Perrier, que era mais cara que o whisky, acompanhado com mancarra vendida, pelas bajudas, a meio peso, a observarmos os abutres em cima do telhado do mercado e a ‘deitar abaixo’ umas travessas de ostras, na esplanada do Nacional.
Ouvimos falar de ataques, emboscadas, minas, na '5ª. REP’ (Esplanada do Bento, da Amura) e também ouvimos rebentamentos, à noite, num ataque a Tite, no outro lado do estuário do Geba, mesmo em frente a Bissau. Ouvimos a guerra.
Depois, fomos para o mato. Subimos de LDG o rio Geba, com armamento, viaturas e outro material da nossa CART 2479. Rio acima, sempre a mesma paisagem, sem se avistar povoações, desembarcando no Xime.
Depois, fomos para o mato. Subimos de LDG o rio Geba, com armamento, viaturas e outro material da nossa CART 2479. Rio acima, sempre a mesma paisagem, sem se avistar povoações, desembarcando no Xime.
O Xime, zona de guerra, que parecia uma terra de cowboys, só visto no cinema, com uns casebres velhos e esburacados (de ataques?), ruas de terra poeirenta e cães escanzelados cheios de moscas, com os tropas em cabelo, comprido e grandes patilhas, alguns sem camisa, só em calções e chinelos, com uma cor bronze-amarelada, agarrados às pretas, alguns com os camuflados cortados às tirinhas estilo Bufallo Bill, e sem se notar ninguém a comandar. Grande choque para todos nós. [A unidade de quadrícula do Xime era então a CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69, comandada pelo nosso querido cap mil e grã-tabanqueiro António Vaz] [LG].
Seguimos em coluna na estrada, de terra batida, vermelha, que tinha ‘embrulhado’ há dias, aparecendo-nos a milícia, com lenços vermelhos atados ao ombro, a fazerem a nossa segurança e que já tinham feito a picagem da estrada (mais tarde seriam os nossos soldados da CART 11 e da CCAÇ 12).
Seguimos em coluna na estrada, de terra batida, vermelha, que tinha ‘embrulhado’ há dias, aparecendo-nos a milícia, com lenços vermelhos atados ao ombro, a fazerem a nossa segurança e que já tinham feito a picagem da estrada (mais tarde seriam os nossos soldados da CART 11 e da CCAÇ 12).
Árvores esburacadas por bazucadas, cápsulas de balas pelo chão, deram uma amostra de guerra. Com muito calor e a água a esgotar no cantil atravessamos a bolanha passando, ao longe, por Amedalai, tabanca em autodefesa, cercada de arame farpado e, depois, atravessamos por uma ponte cheia de ninhos de andorinhas, chegando a Bambadinca [, sede do BCAÇ 2852, 1968/70; a ponte só poderia ser a do Rio Udunduma] [LG].
Por Bambadinca, localidade também à beira do rio e de terra vermelha, com tropa e população e bem arrumada, passamos quase sem parar, entrando na estrada alcatroada, com descidas e subidas para o planalto de Bafatá, agora todos nas viaturas e sem segurança.
Vimos Bafatá lá em baixo (…que bonita é Bafatá!!!) e continuamos, na estrada alcatroada, todos nas viaturas seguindo para Contuboel, com os abutres a vigiarem-nos do alto do céu.
Vimos Bafatá lá em baixo (…que bonita é Bafatá!!!) e continuamos, na estrada alcatroada, todos nas viaturas seguindo para Contuboel, com os abutres a vigiarem-nos do alto do céu.
Saímos do alcatrão e viramos para uma estrada de terra batida, atravessando uma ponte sobre o rio Geba. Entramos na estrada para Contuboel, com grandes árvores floridas, de cor azul-grená e bem cheirosas (jacarandás?) e vimos grandes construções de terra seca, ninhos de formigas baga-baga, e alguns macacos-cães a darem-nos as boas vindas.
Chegamos a Contuboel, situada no interior, leste da Guiné. Ruas de terra batida, umas casas de rés de chão e uma grande tabanca com muitas árvores estavam à nossa espera. Na rua principal, um cartaz pregado a uma árvore, a anunciar um filme a exibir nessa semana descontraí-nos à chegada e uma placa colocada num cruzamento indicava QUARTEL. É neste local, com clima mais ameno, que vamos ficar uns meses.
Chegamos a Contuboel, situada no interior, leste da Guiné. Ruas de terra batida, umas casas de rés de chão e uma grande tabanca com muitas árvores estavam à nossa espera. Na rua principal, um cartaz pregado a uma árvore, a anunciar um filme a exibir nessa semana descontraí-nos à chegada e uma placa colocada num cruzamento indicava QUARTEL. É neste local, com clima mais ameno, que vamos ficar uns meses.
(Continua)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 1998 > Rua principal de Contuboel...
Foto: © Francisco Allen & Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12726: Tabanca Grande (428): Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), grã-tabanqueiro nº 648
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 1998 > Rua principal de Contuboel...
Foto: © Francisco Allen & Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12726: Tabanca Grande (428): Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), grã-tabanqueiro nº 648