A grande árvore que dominava o aquartelamento do Xitole. Lá continua de pé, mais de trinta anos depois.
© David J. Guimarães (2001)
Texto do David J. Guimarães (ex-Furriel Mil. da CART 2716, Xitole, 1970-72):
Junto mais quatro fotografias à nossa página do Xitole. Como é óbvio estou a contar as coisas mais ou menos encadeadas no tempo. Uma das fotografias que em estou com cotos (ou invólucros) de granadas de canhão sem recuo, é algo que conto em breve. Talvez coloque um título: "Nino e os seus canhões" ou "Uma rajada de canhões -a primeira de várias"... São os episódios da nossa guerra. Só que mais histórias surgirão ainda antes desses bombardeamentos...
O camarada Quaresma é esse aí que aparece ao meu lado: eu estou a dedilhar a viola e ele parece que canta o fado... Se repararem ele usa um colar ao pescoço. Isso era mesinha, que era pressuposto protegê-lo daquilo que lhe veio a acontecer... E lá cai a crença de rastos: negam-se os amuletos pela sua funcionalidade. Ironia das ironias, o fado (ou o destino) diz que contra a morte, afinal, não há nada a fazer...
Os negros da Guiné crêem muito nas mesinhas, como vocês sabem... Um dia em Bissau fui ver um jogo de futebol: era o Benfica contra os Balantas... Não é que a bola batia na trave, chegava à linha de golo e não entrava!... Enfim, aqueles casos de se gritar golo e a bola nunca entrar!... Foi lindo: de seguida começou tamanha cena de porrada, que só só visto... Tudo por que o guarda redes tinha mesinha num canto da baliza.
São os intervalos da guerra.
David J. Guimarães
2.O nosso amigo e camarada Guimarães é uma caixinha de surpresas. Aqui o vemos, à direita, tocando viola, quando há 3 anos esteve na Índia (Panjim, Goa, Damão) com um grupo de fados de Coimbra.
© David J. Guimarães (2005)
Diz ele: "Dediquei-me sempre a isto após a guerra e sou convidado por eles para tocar aqui ou ali. Nesta caso foi a Fundação Oriente.
"O poeta, o Camões, tinha aquela frase famosa Numa mão a espada e noutra a pena... Na Guiné, eu bem poderia dizer, a respeito de mim próprio: Numa mão a G3 e noutra a viola... É que também no Xitole era eu quem dava uma certa alegria àquela gente com a minha viola - não esta, que vocês vêem na foto, em Panjim, mas uma que comprei na Rua do Carmo, em Lisboa, para fazer a comissão. No fim vendi-a por 80 escudos... Engraçado!... É essa mesma que vocês podem ver na foto com o Quaresma".
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 18 de julho de 2005
Guiné 63/74 - P111: Bibliografia de uma guerra (5): "Uma campanha na Guiné, 1965/67", de Manuel Domingues (ex-alf mil op esp, cmdt pel rec inf, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67)... Nota de leitura de A. Marques Lopes
Texto de A. Marques Lopes (ex-alferes miliciano da CART 1690, Geba, 1967, e da CCAÇ 3, Barro, 1968, e actulamente corononel, DFA, na situação de reforma).
1. Caros amigos:
Estou de regresso das minhas férias e tenho visto no blogue a excelente iniciativa do Jorge Santos em divulgar a bibliografia da guerra. Achei, por isso, que podia dar um contributo com mais uma achega para esta bibliografia: "Uma campanha na Guiné, 1965/67: hiatória de uma guerra", de Manuel Domingues.
Trata-se de uma edição do autor. Conheci-o quando ele teve a amabilidade de oferecer um exemplar da obra à biblioteca da Delegação do Norte da Associação 25 de Abril e nos enviou alguns exemplares para vendermos, com uma boa percentagem para os nossos fundos (sempre tão no fundo que mal se vêem...).
Como ele próprio diz na "Apresentação", faz um historial do BCAÇ 1856, que esteve no Leste, Sector L3:
(i) o Comando e CCS sedeados em Nova Lamego [Gabu];
(ii) as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli)), em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá) e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).
Mas o que acho mais interessante é que ele dá, neste livro, voz a vários combatentes:
- "Diário de um combatente", por um desconhecido, que mostra ser poeta, da CCAÇ 1417;
- "Afinal o que é Madina do Boé?", por Jorge Monteiro, Cap Mil da CCAÇ 1416;
- "Agruras de um sapador", por João Silvestre Carvalho, Fur Mil sapador da CCS;
- "Retalhos de uma campanha", por António Sousa Madureira, Fur Mil da CCAÇ 1416;
- "Aconteceu em Madina do Boé", por José Miranda Alves, 1º Cabo da CCAÇ 1416;
- "Recordações", por António Manuel Santos Reis, radiomontador da CCS;
- "Aspectos caricatos de uma guerra", por António Araújo, da CCAÇ 1416;
- "Coisas que o capelão passou na Guiné", por Mota Tavares, capelão do BCAÇ 1856 (mais um a quem disseram: "Senhor capelão, o senhor sabe por que está aqui? Veja lá como me fala" - diz ele que "fiquei a saber que a PIDE e a minha história de revolta cristã tinham chegado ao Batalhão primeiro que eu");
- "Uma amizade que o tempo não apagou", por Fernando Pereira, Fur Mil da CCAÇ 1417 (o menino Óscar Baldé, que foi quando crescido lutador pela liberdade e que, alcançada esta, se licenciou e foi Director-Geral das Pescas da Guiné-Bissau);
- "Epílogo: valeu a pena?", pelo próprio Manuel Domingues, que voltou à Guiné em 1981, que sentiu a dor e o desencanto por aquele povo não estar agora como todos desejávamos, melhor e mais feliz.
Só por estes testemunhos directos e pessoais vale a pena ler.
2. Apresentação da obra pelo próprio autor (incluída na edição):
«A ideia deste trabalho surgiu perante a constatação de que, passadas três décadas e meia sobre o fim da comissão do BCAÇ 1856, os encontros de confraternização, que tiveram origem num despretensioso almoço levado a efeito em Luanda em 1972, onde o acaso nos juntou a meia dúzia de elementos da mesma Unidade, continuam a reunir cerca de duas centenas de pessoas, incluindo filhos e netos dos antigos Combatentes.
"Todos os anos muitos destes elementos fazem centenas de quilómetros para se encontrarem com antigos camaradas e recordar tempos idos. Este Encontro Geral é ainda completado por outros a nível de companhia ou de região, num exemplo notável de manutenção de laços adquiridos na flor da idade e que nenhum obstáculo tem conseguido quebrar.
"Nesses encontros, ao ouvir relatos e histórias, apercebemo-nos dos efeitos da erosão que o tempo decorrido provocou, tornando confusos e imprecisos os limites do contexto em que tiveram lugar.
"Assim entendemos que seria útil sistematizar aspectos desta experiência colectiva, referindo os factos principais ocorridos durante a existência do BCAÇ 1856, e sobretudo os acontecimentos que rodearam a Comissão de Serviço na Guiné Portuguesa, mediante uma inventariação rigorosa dos mesmos.
"No entanto, e porque que cada um viveu os acontecimentos de forma diferente, era importante que antigos componentes da nossa Unidade descrevessem as suas memórias face à vivência dessa situação de guerra e aos valores que os guiavam como jovens da década de sessenta, traçando desta forma um quadro das emoções e sentir humanos que uma simples cronologia dos factos não podia conseguir. Só com estes dois aspectos complementares se poderá reconstituir e interpretar o ambiente geral e o contexto em que decorreu aquele período tão marcante das nossas vidas.
"Os objectivos são simples e claros:
"1°- Facilitar o enquadramento das nossas memórias pessoais no trabalho colectivo desenvolvido pela Unidade de que fizemos parte, podendo explicar aos mais novos em que consistiu o esforço anónimo, e por vezes mal compreendido, de muitos da nossa geração para um período importante da história de Portugal;
"2°- Ressalvar a nossa própria vivência porque nem sempre nos identificamos com a generalização de factos reais ou imaginários contados por outros;
"3°- Recordar aqueles 12 companheiros que na flor da juventude pagaram com a vida o cumprimento da sua Missão na Guiné e mostrar a nossa solidariedade com os que foram marcados por traumas que os acompanharão durante a sua existência.
"Embora não seja nossa intenção analisar aqui as causas da guerra em que esta Campanha se inseriu, não podemos deixar de constatar que neste conflito a explicação assenta na clássica trilogia: cegueira, ou falta de visão estratégica, surdez ou insensibilidade à voz da razão e do bom senso, e mudez ou ausência de diálogo, como instrumento de resolução de divergências. Num ambiente de impreparação geral para o tipo de guerra em causa, emergia a única palavra de ordem possível: AGUENTAR.
"A nível da superstrutura político-militar era notória a falta de visão estratégica dos decisores acabando por arrastar a guerra durante treze longos anos e que culminou com a descolonização exemplar. Neste contexto a interrogação dos militares do BCAÇ 1856 no final da Comissão de Serviço, sobre a utilidade do seu esforço, fazia todo o sentido.
"Os protagonistas relatam dificuldades sentidas desde o início, não só devido à sua impreparação e desconhecimento da realidade, mas também à de muitos dos intervenientes no processo da guerra, e às falhas do sistema nos aspectos de programação, logística, meios disponibilizados e sensibilidade às condições existentes no terreno operacional. São referidos ainda conflitos que algumas hierarquias tentavam camuflar ou resolver através do RDM [Regulamento de Disciplina Militar].
"Igualmente somos levados a concluir que na fase pós-libertaçao tudo se resume na mesma trilogia. O processo de aprendizagem do uso da independência não tem sido fácil nem pacífico, quer nas antigas possessões portuguesas, quer na generalidade dos territórios descolonizados.
"A falta de preparação de elites e as interferências externas são duas das principais causas das dificuldades que afectam os novos países. No caso da Guiné as lutas internas e a ambição desmesurada dos dirigentes tem desbaratado o enorme potencial oferecido pela comunidade internacional, colocando as populações numa situação de extrema penúria e o País entre os dez mais pobres do Mundo. A inexistência de um sentimento geral de nação entre os vários grupos étnicos nunca foi resolvido pelo PAIGC, que tentou cativar os habitantes da Guiné para o conceito aglutinador de libertação .
"Obtida esta, os antigos combatentes instalam-se no poder e progressivamente vão-se afastando dos restantes grupos, que constituem a maioria da população.
"O regime torna-se autoritário, senão ditatorial, de partido único. Os benefícios da libertação só chegam a alguns, enquanto a grande maioria contínua a viver na mais extrema pobreza. A corrupção e o despotismo generalizaram-se. Foi esta realidade que pudemos constatar, que nos levou a referir o caso de alguém que, não pertencendo aos que utilizaram armas contra o colonizador, tem uma visão diferente da seguida pelos antigos guerrilheiros.
"O trabalho que a seguir se apresenta, não pode ser encarado como uma obra acabada, mas antes como um estímulo para que mais se decidam a compartilhar as suas memórias e vivências. A linguagem e os critérios de análise utilizados na descrição da Campanha basearam-se em parâmetros vigentes na época em que ocorreram e foram vividos, recusando-se qualquer avaliação fora desse contexto que ditou o comportamento dos mais de 670 combatentes que integraram o BCAÇ 1856. Não pretendemos justificar o que fizemos mas apenas relatar os factos e a forma como os vivemos. Temos direito à nossa memória, que não deve ser apropriada por ninguém.
"Assim, e em resumo, estruturamos o trabalho da seguinte forma:
"- Na 1ª Parte, da nossa inteira responsabilidade, enumeram-se, por ordem cronológica, e com o maior rigor possível, os factos mais importantes da existência do Batalhão, desde a sua constituição em 16 de Janeiro de 1965, até ao desembarque no cais de Alcântara, em Lisboa, em 21 de Abril de 1967, bem como dados informativos relativamente à Guiné, no período em que decorreu a Comissão de Serviço do BCAÇ 1856. Em cada fase importante do BCAÇ 1856 tentamos analisar alguns dos factores e condicionalismos que enquadraram a actividade operacional e comportamental dos elementos que o integraram.
"- Na 2ª Parte, os intervenientes na guerra evocam factos e emoções então vividos e que o decorrer do tempo não apagou. Inclui histórias relacionadas com o ambiente de guerra e memórias desde factos do dia a dia do combatente até pequenos incidentes que o tempo parece ter reduzido à insignificância ou tornado caricatos, mas que na altura apareciam como importantes a quem os viveu.
"Mantivemos, no essencial, a forma como cada um entendeu descrevê-los, pelo que a verdade pode coexistir com o imaginário e o rigor pode atenuar-se com o passar das décadas. No entanto, e também por isso, aquilo que é relembrado foi o mais importante para cada um.»
3. O autor, Manuel Domingues:
(i) nasceu em Castro Laboreiro, em 1941;
(ii) frequentou o Liceu da Póvoa de Varzim e o de Braga;
(iii) fez os estudos universitários e um curso de pós-graduação em gestão financeira na Universidade Técnica de Lisboa;
(iv) como bolseiro do Governo Francês realizou uma pós-graduação em Desenvolvimento Económico, em Paris;
(v) dirigiu um Centro de Formação Internacional da UNESCO.
(vi) Incorporado no serviço militar, frequentou o Curso de Rangers e integrou o BCAÇ 1856;
(vii) foi destacado para a Guiné, de 31/07/1965 até 15/04/1967;
(viii) como Alferes Mil foi Cmdt do Pel Rec e Informação e desempenhou as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações com louvor pelo seu desempenh
(ix) passa à disponibilidade em Maio de 1967 e integra a direcção de um grupo económico multinacional, realizando vários estudos e missões em diversos Países da CEE e no Ultramar Português;
(x) ingressou no Grupo CUF, onde foi consultor especializado em Planeamento a Longo Prazo, Gestão por Objectivos e Organização e Gestão de Empresas, tendo dirigido a reorganização e modernização de grandes empresas e serviços públicos;
(xi) coordenou o suplemento económico do jornal A Capital, as publicações da Associação Comercial de Lisboa - Câmara de Comércio e outras de carácter económico;
(xii) desempenhou vários cargos de Direcção Geral. Foi director do Desenvolvimento Organizacional de grandes empresas e Secretário Geral do Ministério da Agricultura durante 8 anos e da TAP durante 3 anos;
(xiii) conselheiro da Comissão Empresas Administração até à sua extinção em 1995 e expert independente da OCDE;
(xiv) foi Relator do 1° Congresso de Modernização Administrativa, docente universitário e Consultor de Formação durante cerca de 20 anos;
(xv) possui ainda o Curso de Auditor da Defesa Nacional;
(xvi) publicou vários livros e artigos sobre assuntos ligados ao Planeamento e Gestão Estratégica das organizações;
(xvii) está reformado.
1. Caros amigos:
Estou de regresso das minhas férias e tenho visto no blogue a excelente iniciativa do Jorge Santos em divulgar a bibliografia da guerra. Achei, por isso, que podia dar um contributo com mais uma achega para esta bibliografia: "Uma campanha na Guiné, 1965/67: hiatória de uma guerra", de Manuel Domingues.
Trata-se de uma edição do autor. Conheci-o quando ele teve a amabilidade de oferecer um exemplar da obra à biblioteca da Delegação do Norte da Associação 25 de Abril e nos enviou alguns exemplares para vendermos, com uma boa percentagem para os nossos fundos (sempre tão no fundo que mal se vêem...).
Como ele próprio diz na "Apresentação", faz um historial do BCAÇ 1856, que esteve no Leste, Sector L3:
(i) o Comando e CCS sedeados em Nova Lamego [Gabu];
(ii) as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli)), em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá) e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).
Mas o que acho mais interessante é que ele dá, neste livro, voz a vários combatentes:
- "Diário de um combatente", por um desconhecido, que mostra ser poeta, da CCAÇ 1417;
- "Afinal o que é Madina do Boé?", por Jorge Monteiro, Cap Mil da CCAÇ 1416;
- "Agruras de um sapador", por João Silvestre Carvalho, Fur Mil sapador da CCS;
- "Retalhos de uma campanha", por António Sousa Madureira, Fur Mil da CCAÇ 1416;
- "Aconteceu em Madina do Boé", por José Miranda Alves, 1º Cabo da CCAÇ 1416;
- "Recordações", por António Manuel Santos Reis, radiomontador da CCS;
- "Aspectos caricatos de uma guerra", por António Araújo, da CCAÇ 1416;
- "Coisas que o capelão passou na Guiné", por Mota Tavares, capelão do BCAÇ 1856 (mais um a quem disseram: "Senhor capelão, o senhor sabe por que está aqui? Veja lá como me fala" - diz ele que "fiquei a saber que a PIDE e a minha história de revolta cristã tinham chegado ao Batalhão primeiro que eu");
- "Uma amizade que o tempo não apagou", por Fernando Pereira, Fur Mil da CCAÇ 1417 (o menino Óscar Baldé, que foi quando crescido lutador pela liberdade e que, alcançada esta, se licenciou e foi Director-Geral das Pescas da Guiné-Bissau);
- "Epílogo: valeu a pena?", pelo próprio Manuel Domingues, que voltou à Guiné em 1981, que sentiu a dor e o desencanto por aquele povo não estar agora como todos desejávamos, melhor e mais feliz.
Só por estes testemunhos directos e pessoais vale a pena ler.
2. Apresentação da obra pelo próprio autor (incluída na edição):
«A ideia deste trabalho surgiu perante a constatação de que, passadas três décadas e meia sobre o fim da comissão do BCAÇ 1856, os encontros de confraternização, que tiveram origem num despretensioso almoço levado a efeito em Luanda em 1972, onde o acaso nos juntou a meia dúzia de elementos da mesma Unidade, continuam a reunir cerca de duas centenas de pessoas, incluindo filhos e netos dos antigos Combatentes.
"Todos os anos muitos destes elementos fazem centenas de quilómetros para se encontrarem com antigos camaradas e recordar tempos idos. Este Encontro Geral é ainda completado por outros a nível de companhia ou de região, num exemplo notável de manutenção de laços adquiridos na flor da idade e que nenhum obstáculo tem conseguido quebrar.
"Nesses encontros, ao ouvir relatos e histórias, apercebemo-nos dos efeitos da erosão que o tempo decorrido provocou, tornando confusos e imprecisos os limites do contexto em que tiveram lugar.
"Assim entendemos que seria útil sistematizar aspectos desta experiência colectiva, referindo os factos principais ocorridos durante a existência do BCAÇ 1856, e sobretudo os acontecimentos que rodearam a Comissão de Serviço na Guiné Portuguesa, mediante uma inventariação rigorosa dos mesmos.
"No entanto, e porque que cada um viveu os acontecimentos de forma diferente, era importante que antigos componentes da nossa Unidade descrevessem as suas memórias face à vivência dessa situação de guerra e aos valores que os guiavam como jovens da década de sessenta, traçando desta forma um quadro das emoções e sentir humanos que uma simples cronologia dos factos não podia conseguir. Só com estes dois aspectos complementares se poderá reconstituir e interpretar o ambiente geral e o contexto em que decorreu aquele período tão marcante das nossas vidas.
"Os objectivos são simples e claros:
"1°- Facilitar o enquadramento das nossas memórias pessoais no trabalho colectivo desenvolvido pela Unidade de que fizemos parte, podendo explicar aos mais novos em que consistiu o esforço anónimo, e por vezes mal compreendido, de muitos da nossa geração para um período importante da história de Portugal;
"2°- Ressalvar a nossa própria vivência porque nem sempre nos identificamos com a generalização de factos reais ou imaginários contados por outros;
"3°- Recordar aqueles 12 companheiros que na flor da juventude pagaram com a vida o cumprimento da sua Missão na Guiné e mostrar a nossa solidariedade com os que foram marcados por traumas que os acompanharão durante a sua existência.
"Embora não seja nossa intenção analisar aqui as causas da guerra em que esta Campanha se inseriu, não podemos deixar de constatar que neste conflito a explicação assenta na clássica trilogia: cegueira, ou falta de visão estratégica, surdez ou insensibilidade à voz da razão e do bom senso, e mudez ou ausência de diálogo, como instrumento de resolução de divergências. Num ambiente de impreparação geral para o tipo de guerra em causa, emergia a única palavra de ordem possível: AGUENTAR.
"A nível da superstrutura político-militar era notória a falta de visão estratégica dos decisores acabando por arrastar a guerra durante treze longos anos e que culminou com a descolonização exemplar. Neste contexto a interrogação dos militares do BCAÇ 1856 no final da Comissão de Serviço, sobre a utilidade do seu esforço, fazia todo o sentido.
"Os protagonistas relatam dificuldades sentidas desde o início, não só devido à sua impreparação e desconhecimento da realidade, mas também à de muitos dos intervenientes no processo da guerra, e às falhas do sistema nos aspectos de programação, logística, meios disponibilizados e sensibilidade às condições existentes no terreno operacional. São referidos ainda conflitos que algumas hierarquias tentavam camuflar ou resolver através do RDM [Regulamento de Disciplina Militar].
"Igualmente somos levados a concluir que na fase pós-libertaçao tudo se resume na mesma trilogia. O processo de aprendizagem do uso da independência não tem sido fácil nem pacífico, quer nas antigas possessões portuguesas, quer na generalidade dos territórios descolonizados.
"A falta de preparação de elites e as interferências externas são duas das principais causas das dificuldades que afectam os novos países. No caso da Guiné as lutas internas e a ambição desmesurada dos dirigentes tem desbaratado o enorme potencial oferecido pela comunidade internacional, colocando as populações numa situação de extrema penúria e o País entre os dez mais pobres do Mundo. A inexistência de um sentimento geral de nação entre os vários grupos étnicos nunca foi resolvido pelo PAIGC, que tentou cativar os habitantes da Guiné para o conceito aglutinador de libertação .
"Obtida esta, os antigos combatentes instalam-se no poder e progressivamente vão-se afastando dos restantes grupos, que constituem a maioria da população.
"O regime torna-se autoritário, senão ditatorial, de partido único. Os benefícios da libertação só chegam a alguns, enquanto a grande maioria contínua a viver na mais extrema pobreza. A corrupção e o despotismo generalizaram-se. Foi esta realidade que pudemos constatar, que nos levou a referir o caso de alguém que, não pertencendo aos que utilizaram armas contra o colonizador, tem uma visão diferente da seguida pelos antigos guerrilheiros.
"O trabalho que a seguir se apresenta, não pode ser encarado como uma obra acabada, mas antes como um estímulo para que mais se decidam a compartilhar as suas memórias e vivências. A linguagem e os critérios de análise utilizados na descrição da Campanha basearam-se em parâmetros vigentes na época em que ocorreram e foram vividos, recusando-se qualquer avaliação fora desse contexto que ditou o comportamento dos mais de 670 combatentes que integraram o BCAÇ 1856. Não pretendemos justificar o que fizemos mas apenas relatar os factos e a forma como os vivemos. Temos direito à nossa memória, que não deve ser apropriada por ninguém.
"Assim, e em resumo, estruturamos o trabalho da seguinte forma:
"- Na 1ª Parte, da nossa inteira responsabilidade, enumeram-se, por ordem cronológica, e com o maior rigor possível, os factos mais importantes da existência do Batalhão, desde a sua constituição em 16 de Janeiro de 1965, até ao desembarque no cais de Alcântara, em Lisboa, em 21 de Abril de 1967, bem como dados informativos relativamente à Guiné, no período em que decorreu a Comissão de Serviço do BCAÇ 1856. Em cada fase importante do BCAÇ 1856 tentamos analisar alguns dos factores e condicionalismos que enquadraram a actividade operacional e comportamental dos elementos que o integraram.
"- Na 2ª Parte, os intervenientes na guerra evocam factos e emoções então vividos e que o decorrer do tempo não apagou. Inclui histórias relacionadas com o ambiente de guerra e memórias desde factos do dia a dia do combatente até pequenos incidentes que o tempo parece ter reduzido à insignificância ou tornado caricatos, mas que na altura apareciam como importantes a quem os viveu.
"Mantivemos, no essencial, a forma como cada um entendeu descrevê-los, pelo que a verdade pode coexistir com o imaginário e o rigor pode atenuar-se com o passar das décadas. No entanto, e também por isso, aquilo que é relembrado foi o mais importante para cada um.»
3. O autor, Manuel Domingues:
(i) nasceu em Castro Laboreiro, em 1941;
(ii) frequentou o Liceu da Póvoa de Varzim e o de Braga;
(iii) fez os estudos universitários e um curso de pós-graduação em gestão financeira na Universidade Técnica de Lisboa;
(iv) como bolseiro do Governo Francês realizou uma pós-graduação em Desenvolvimento Económico, em Paris;
(v) dirigiu um Centro de Formação Internacional da UNESCO.
(vi) Incorporado no serviço militar, frequentou o Curso de Rangers e integrou o BCAÇ 1856;
(vii) foi destacado para a Guiné, de 31/07/1965 até 15/04/1967;
(viii) como Alferes Mil foi Cmdt do Pel Rec e Informação e desempenhou as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações com louvor pelo seu desempenh
(ix) passa à disponibilidade em Maio de 1967 e integra a direcção de um grupo económico multinacional, realizando vários estudos e missões em diversos Países da CEE e no Ultramar Português;
(x) ingressou no Grupo CUF, onde foi consultor especializado em Planeamento a Longo Prazo, Gestão por Objectivos e Organização e Gestão de Empresas, tendo dirigido a reorganização e modernização de grandes empresas e serviços públicos;
(xi) coordenou o suplemento económico do jornal A Capital, as publicações da Associação Comercial de Lisboa - Câmara de Comércio e outras de carácter económico;
(xii) desempenhou vários cargos de Direcção Geral. Foi director do Desenvolvimento Organizacional de grandes empresas e Secretário Geral do Ministério da Agricultura durante 8 anos e da TAP durante 3 anos;
(xiii) conselheiro da Comissão Empresas Administração até à sua extinção em 1995 e expert independente da OCDE;
(xiv) foi Relator do 1° Congresso de Modernização Administrativa, docente universitário e Consultor de Formação durante cerca de 20 anos;
(xv) possui ainda o Curso de Auditor da Defesa Nacional;
(xvi) publicou vários livros e artigos sobre assuntos ligados ao Planeamento e Gestão Estratégica das organizações;
(xvii) está reformado.
domingo, 17 de julho de 2005
Guiné 61/74 - P110: Bibliografia de uma guerra (4): Padre Mário de Oliveira, Cristóvão de Aguiar e José Pardete Ferreira
1. O Jorge Santos, autor de uma excelente página sobre a guerra colonial e nosso companheiro de tertúlia (embora tenha sido combatente noutra frente, em Moçambique) continua a alimentar a bibliografia sobre a guerra colonial na Guiné, com destaque para as obras de ficção. Hoje aqui vão mais três referências, duas de ficção e uma de natureza mais jornalística.
© Padre Mário (2005)
© Padre Mário (2005)
TÍTULO: Mas à África, Senhores, Por Que Lhe Dais Tantas Dores...
AUTOR: Padre Mário de Oliveira
EDITORA: Campo das Letras(Porto)
ANO: 1997
Nota sobre o autor: Em Novembro de 1967 desembarca na Guiné, como alferes capelão do Exército, integrado no Batalhão 1912, na região de Mansoa. Em Março de 1968 é expulso de capelão militar, por ter ousado pregar, nas missas, o direito dos povos colonizados à autonomia e independência. É rotulado pelo bispo castrense de então como "padre irrecuperável".
RESUMO: "27 anos depois de ter sido expulso de capelão militar da guerra colonial, o autor voltou à Guiné-Bissau, e foi terrível o choque que sofreu. Ao todo são oito crónicas. De dor e de cólera. Também de esperança. Valem como um grito. Que ninguém pode deixar de ouvir-acolher-divulgar. Foram escritas, durante uma semana, na Guiné-Bissau. Mas remetem-nos para todo o continente africano. Um continente tragicamente crucificado. Que urge descrucificar.
"Primeiro, foram os muitos anos de escravatura, de colonialismo e de guerra colonial. Um crime sem nome, que o Ocidente cometeu. Impunemente. Agora, é o abandono. E o silêncio. Como se todos aqueles povos já não existissem. E como se a dramática situação em que presentemente se encontram não tivesse nada a ver connosco. Aceita uma sugestão? Deixe-se peregrinar por estas páginas. Comungue da vigorosa emoção que por elas perpassa.
"Experimentará, no final, uma incontida vontade de nascer de novo e de passar a ser para sempre uma mulher/um homem universalmente fraterno e solidário. Também uma alegria sem fim" (Apresentação do editor).
TÍTULO: Relação de Bordo (1964-1988)
AUTOR: Cristóvão de Aguiar
EDITORA: Campo das Letras (Porto)
ANO: 1999
Nota sobre o autor: Foi Alferes Miliciano na Guiné (Contuboel e Dunane), entre Abril de 1965 e Janeiro de 1967.
RESUMO: Esta obra foi Grande Prémio Literatura Biográfica – APE/Câmara Municipal do Porto. É um testemunho de muitos tempos e muitos lugares: o tempo e o lugar da Coimbra dos anos 60, o regresso episódico às origens açoreanas do autor, a passagem pelos lugares da emigração americana, a guerra colonial, os entusiasmos da revolução de 74.
Encontrando-se na Guerra Colonial contra sua vontade, comparava as zonas onde esteve a uma morte lenta. Foi informado de que o Comando emitiu uma ordem de ensinarem localmente e com grande rapidez os três primeiros anos da escola primária aos soldados portugueses, sob pena de não serem desmobilizados. Falsifica então o exame a dez soldados.
O autor publicou já a Relação de Bordo II (1989-1992), na mesma editora,em 2000.
No Jornal de Letras, de 8 de Setembro de 1999, o crítico literário Carlos Reis saudou de forma expressiva o primeiro volume de Relação de Bordo, de Cristovão de Aguiar, dizendo que se tratava de "outro passo importante na obra de um escritor porventura ainda insuficientemente valorizado, mas a quem devemos já uma obra ficcional coerente, tecnicamente elaborada e bem representativa de tendências da ficção portuguesa contemporânea".
TÍTULO: O Paparratos: Novas Crónicas da Guiné 1969-1971
AUTOR: José Pardete Ferreira
EDITORA: Prefácio
ANO: 2004
Nota sobre o autor: Fez a comissão na Guiné, tendo recebido a Medalha Militar do Ultramar com a menção Guiné 1969/70. Foi igualmente o autor do discurso proferido na Cerimónia Comemorativa do Dia do Combatente, organizada pelo Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes (9/4/1998).
RESUMO: "O Paparratos é um confessado momento de divertimento. É bom sentir o prazer da memória na escrita de Pardete Ferreira. As situações caricatas e cómicas são saborosos pitéus oferecidos ao leitor.
"Mas o livro é muito mais do que o prazer da memória. Escrevendo um romance histórico sobre as revoltas estudantis dos anos sessenta e sobre a Guerra Colonial, Pardete Ferreira esquematiza o que foram os destinos marcados a toda uma juventude portuguesa: o pequeno número dos privilegiados com condições de acesso ao ensino e o grosso da coluna que de todos os cantos e recantos foram trazidos a Alcântara para irem fazer as guerras de África sob a chefia dos primeiros, melhor dito, daqueles dos primeiros que não escaparam ao imenso rol dos milicianos". (Resendes Ventura, in Prefácio)
AUTOR: Padre Mário de Oliveira
EDITORA: Campo das Letras(Porto)
ANO: 1997
Nota sobre o autor: Em Novembro de 1967 desembarca na Guiné, como alferes capelão do Exército, integrado no Batalhão 1912, na região de Mansoa. Em Março de 1968 é expulso de capelão militar, por ter ousado pregar, nas missas, o direito dos povos colonizados à autonomia e independência. É rotulado pelo bispo castrense de então como "padre irrecuperável".
RESUMO: "27 anos depois de ter sido expulso de capelão militar da guerra colonial, o autor voltou à Guiné-Bissau, e foi terrível o choque que sofreu. Ao todo são oito crónicas. De dor e de cólera. Também de esperança. Valem como um grito. Que ninguém pode deixar de ouvir-acolher-divulgar. Foram escritas, durante uma semana, na Guiné-Bissau. Mas remetem-nos para todo o continente africano. Um continente tragicamente crucificado. Que urge descrucificar.
"Primeiro, foram os muitos anos de escravatura, de colonialismo e de guerra colonial. Um crime sem nome, que o Ocidente cometeu. Impunemente. Agora, é o abandono. E o silêncio. Como se todos aqueles povos já não existissem. E como se a dramática situação em que presentemente se encontram não tivesse nada a ver connosco. Aceita uma sugestão? Deixe-se peregrinar por estas páginas. Comungue da vigorosa emoção que por elas perpassa.
"Experimentará, no final, uma incontida vontade de nascer de novo e de passar a ser para sempre uma mulher/um homem universalmente fraterno e solidário. Também uma alegria sem fim" (Apresentação do editor).
TÍTULO: Relação de Bordo (1964-1988)
AUTOR: Cristóvão de Aguiar
EDITORA: Campo das Letras (Porto)
ANO: 1999
Nota sobre o autor: Foi Alferes Miliciano na Guiné (Contuboel e Dunane), entre Abril de 1965 e Janeiro de 1967.
RESUMO: Esta obra foi Grande Prémio Literatura Biográfica – APE/Câmara Municipal do Porto. É um testemunho de muitos tempos e muitos lugares: o tempo e o lugar da Coimbra dos anos 60, o regresso episódico às origens açoreanas do autor, a passagem pelos lugares da emigração americana, a guerra colonial, os entusiasmos da revolução de 74.
Encontrando-se na Guerra Colonial contra sua vontade, comparava as zonas onde esteve a uma morte lenta. Foi informado de que o Comando emitiu uma ordem de ensinarem localmente e com grande rapidez os três primeiros anos da escola primária aos soldados portugueses, sob pena de não serem desmobilizados. Falsifica então o exame a dez soldados.
O autor publicou já a Relação de Bordo II (1989-1992), na mesma editora,em 2000.
No Jornal de Letras, de 8 de Setembro de 1999, o crítico literário Carlos Reis saudou de forma expressiva o primeiro volume de Relação de Bordo, de Cristovão de Aguiar, dizendo que se tratava de "outro passo importante na obra de um escritor porventura ainda insuficientemente valorizado, mas a quem devemos já uma obra ficcional coerente, tecnicamente elaborada e bem representativa de tendências da ficção portuguesa contemporânea".
TÍTULO: O Paparratos: Novas Crónicas da Guiné 1969-1971
AUTOR: José Pardete Ferreira
EDITORA: Prefácio
ANO: 2004
Nota sobre o autor: Fez a comissão na Guiné, tendo recebido a Medalha Militar do Ultramar com a menção Guiné 1969/70. Foi igualmente o autor do discurso proferido na Cerimónia Comemorativa do Dia do Combatente, organizada pelo Núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes (9/4/1998).
RESUMO: "O Paparratos é um confessado momento de divertimento. É bom sentir o prazer da memória na escrita de Pardete Ferreira. As situações caricatas e cómicas são saborosos pitéus oferecidos ao leitor.
"Mas o livro é muito mais do que o prazer da memória. Escrevendo um romance histórico sobre as revoltas estudantis dos anos sessenta e sobre a Guerra Colonial, Pardete Ferreira esquematiza o que foram os destinos marcados a toda uma juventude portuguesa: o pequeno número dos privilegiados com condições de acesso ao ensino e o grosso da coluna que de todos os cantos e recantos foram trazidos a Alcântara para irem fazer as guerras de África sob a chefia dos primeiros, melhor dito, daqueles dos primeiros que não escaparam ao imenso rol dos milicianos". (Resendes Ventura, in Prefácio)
Guiné 63/74 - P109: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso.
Devo dizer, em primeiro lugar, que estou muito sensibilizado pelo convite de Gustavo Pimenta [n. 1944, em Ponta de Lima] para fazer a apresentação do seu primeiro livro. Suponho, aliás, que o convite tem sobretudo a ver, para além da sólida amizade que nos liga, com o facto de o autor saber do meu interesse pelo tema que trata o livro – a guerra colonial – e da minha relação com o período mais penoso da geração a que ambos pertencemos.
No final dos anos 60, na Guiné, eu e ele cruzámo-nos sem nos cruzarmos, percorremos trilhos da mesma aventura, navegámos os mesmos rios, pisámos a mesma terra, vivemos os mesmos perigos, suportámos os mesmos sacrifícios, socorremos os nossos feridos, chorámos os nossos mortos, colhemos experiências comuns, e chegámos até a frequentar os mesmos quartéis. Quando – já não sei em que data – a companhia de Gustavo Pimenta esteve em trânsito pela sede do meu batalhão, embora por muito pouco tempo, certamente chegámos a estar tão próximos um do outro quanto estamos agora aqui, nesta sala, a celebrar um acontecimento extremamente importante: a celebração de um novo livro. Quer-se dizer: a celebração do seu primeiro livro. Mas ainda que tenhamos estado na mesma unidade, nunca porém nos encontrámos.
Só mais tarde, devido a uma circunstância feliz, viemos a conhecer-nos em Lisboa, para – já então reconciliados com o nosso passado de guerreiros transitórios – voltarmos à Guiné como homens livres, na companhia de um amigo comum, o tenente-coronel José Aparício, seu antigo comandante. Foi nessa viagem de trabalho e depois dela que nasceu e se desenvolveu a nossa amizade. Uma amizade que ficou para a vida inteira.
Para a maioria dos presentes, senão mesmo para todos, Gustavo Pimenta dispensaria apresentações. Mas, se me permitem, gostaria ainda assim de fazer algumas considerações acerca do autor de sairòmeM. Além de amigo exemplar, Gustavo Pimenta é também um homem de fino trato na relação com os outros, senhor de uma extraordinária verticalidade no confronto com a vida e o mundo que o rodeia.
Durante quase vinte anos fui, na qualidade de jornalista, regularmente à Assembleia da República. E posso dizer, sem qualquer favor prestado, que Gustavo Pimenta foi um dos deputados [pelo Partido Socialista, na mais discretos que algum dia conheci nas sucessivas legislaturas que acompanhei. E ser-se discreto não significa, neste caso, ao contrário de muitos outros, infelizmente, um menor empenhamento nos trabalhos do plenário ou nas comissões parlamentares. Esteve sempre onde devia estar, com o mesmo espírito de missão e sentido de dever com que no passado lutou por uma causa em que ele próprio não acreditava.
No seu livro, o autor escreve, a propósito. Passo a citar:
Devo dizer, em primeiro lugar, que estou muito sensibilizado pelo convite de Gustavo Pimenta [n. 1944, em Ponta de Lima] para fazer a apresentação do seu primeiro livro. Suponho, aliás, que o convite tem sobretudo a ver, para além da sólida amizade que nos liga, com o facto de o autor saber do meu interesse pelo tema que trata o livro – a guerra colonial – e da minha relação com o período mais penoso da geração a que ambos pertencemos.
No final dos anos 60, na Guiné, eu e ele cruzámo-nos sem nos cruzarmos, percorremos trilhos da mesma aventura, navegámos os mesmos rios, pisámos a mesma terra, vivemos os mesmos perigos, suportámos os mesmos sacrifícios, socorremos os nossos feridos, chorámos os nossos mortos, colhemos experiências comuns, e chegámos até a frequentar os mesmos quartéis. Quando – já não sei em que data – a companhia de Gustavo Pimenta esteve em trânsito pela sede do meu batalhão, embora por muito pouco tempo, certamente chegámos a estar tão próximos um do outro quanto estamos agora aqui, nesta sala, a celebrar um acontecimento extremamente importante: a celebração de um novo livro. Quer-se dizer: a celebração do seu primeiro livro. Mas ainda que tenhamos estado na mesma unidade, nunca porém nos encontrámos.
Só mais tarde, devido a uma circunstância feliz, viemos a conhecer-nos em Lisboa, para – já então reconciliados com o nosso passado de guerreiros transitórios – voltarmos à Guiné como homens livres, na companhia de um amigo comum, o tenente-coronel José Aparício, seu antigo comandante. Foi nessa viagem de trabalho e depois dela que nasceu e se desenvolveu a nossa amizade. Uma amizade que ficou para a vida inteira.
Para a maioria dos presentes, senão mesmo para todos, Gustavo Pimenta dispensaria apresentações. Mas, se me permitem, gostaria ainda assim de fazer algumas considerações acerca do autor de sairòmeM. Além de amigo exemplar, Gustavo Pimenta é também um homem de fino trato na relação com os outros, senhor de uma extraordinária verticalidade no confronto com a vida e o mundo que o rodeia.
Durante quase vinte anos fui, na qualidade de jornalista, regularmente à Assembleia da República. E posso dizer, sem qualquer favor prestado, que Gustavo Pimenta foi um dos deputados [pelo Partido Socialista, na mais discretos que algum dia conheci nas sucessivas legislaturas que acompanhei. E ser-se discreto não significa, neste caso, ao contrário de muitos outros, infelizmente, um menor empenhamento nos trabalhos do plenário ou nas comissões parlamentares. Esteve sempre onde devia estar, com o mesmo espírito de missão e sentido de dever com que no passado lutou por uma causa em que ele próprio não acreditava.
No seu livro, o autor escreve, a propósito. Passo a citar:
"Mais do que não sentirmos nosso o que defendíamos, o dilema estava em não sabermos, não entendermos, o que estávamos a defender. Aquela terra, aquelas gentes, por mais hospitaleiras que se nos oferecessem, nada nos diziam. Não éramos dali. Fôramos parar à Guiné como, na roleta das mobilizações, poderíamos ter ido parar a qualquer outra colónia. Coubera-nos em rifa o cu do mundo, dizíamos. Porque o cu do mundo, se existe, é sempre o sítio da nossa perplexa angústia".
(...) Além da atitude simples e discreta deste homem perante a vida, dos sentimentos de solidariedade que o habitam, das qualidades humanas a que já fiz referência, e só não me alonguei por respeito à modéstia que o caracteriza, Gustavo Pimenta é também um herói. E não sou eu a dizê-lo.
Há cerca de três anos, a SIC passou um documentário sobre a guerra colonial. Nesse documentário, que relata um dos episódios mais tristes e violentos da guerra em África, participaram, entre outros antigos combatentes, Gustavo Pimenta, o tenente-coronel José Aparício, seu antigo comandante, e vários oficiais dos exércitos português e guineense.
O filme conta a história da operação militar da retirada da Companhia 1790 do aquartelamento de Madina do Boé, durante a qual morreram 46 militares, 15 dos quais pertencentes ao pelotão comandado pelo ex-alferes miliciano Gustavo Pimenta. A tragédia, de incomensuráveis proporções, ocorreu quando a jangada que ligava as duas margens do rio Corubal, para o transporte dos homens e das viaturas, se virou inexplicavelmente. Muitos salvaram-se, muitos morreram. Vinham de Madina – essa região vasta e despovoada no leste do território, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri – onde a companhia de caçadores, de que fazia parte Gustavo Pimenta, estivera estacionada durante treze meses. E em treze meses, não contando com o número de ataques da forças do PAIGC de duração inferior a dez minutos, que em muitos casos só serviam para causar desestabilização e afectar psicologicamente os militares, o quartel foi bombardeado por 243 vezes.
Sobre a vida tormentosa dos homens que pertenceram à Companhia de Caçadores 1790, desses soldados anónimos que viveram no confronto permanente com a morte, pronunciaram-se no documentário que atrás citei quatro antigos combatentes: dois oficiais portugueses e outros dois guineenses.
Num depoimento emocionado, o brigadeiro Hélio Felgas, que era o comandante da operação e comandante do sector, diz o seguinte: "Quando o general Spínola deixou o helicóptero e foi ter comigo, eu estava a chorar. Porque realmente pareceu-me injusto que homens que tanto tinham sofrido, que militarmente haviam sido uns heróis, acabassem por morrer afogados".
Também o general Almeida Bruno se refere aos militares da Companhia 1790 em termos que não deixam margem para dúvidas. Passo a citá-lo: "Quero aqui prestar uma homenagem – a minha homenagem pessoal, como comandante que fui – a todos os militares, oficiais sargentos e praças, que viveram e combateram em Madina, que, com uma coragem notável, resistiram não só ao adversário, ao inimigo, como às condições adversas em que viveram. E julgo que um dia a história vai fazer dos militares que viveram em Madina o exemplo típico do soldado português, que é verdadeiramente de excepção".
Sobre a capacidade de resistência e heroísmo dos militares que, como Gustavo Pimenta, viveram e combateram em Madina do Boé, Ierro Camará, antigo guerrilheiro e actual tenente-coronel do exército guineense afirma também. E cito-o: "Todos aqueles que combateram em Madina do Boé, tanto da parte portuguesa como da parte do PAIGC, podem ser considerados heróis. São heróis mesmo!".
Ainda no mesmo documentário, o coronel Aliú Camará, ex-comandante da unidade de artilharia que regularmente bombardeava o quartel, falando por si e pelos seus antigos camaradas, diz. Passo a citar: "Nós rendemos homenagem aos ocupantes de Madina, porque era muito difícil viver naquelas circunstâncias. Sempre à espera dos bombardeamentos, em horas alternadas, às vezes à meia-noite, às vezes ao meio-dia, às vezes no período da tarde, tantas vezes que ninguém pode imaginar aquele sacrifício".
(...) No seu livro, Gustavo Pimenta lembra o episódio mas, como noutros que relata, fá-lo com a serenidade e o distanciamento de quem acha haver cumprido uma simples missão, sem aclarar, no entanto, que essa e outras tarefas exigiram dele e dos restantes camaradas sacrifícios impensáveis. É do autor s seguinte frase. Cito-o: "Em cima da jangada vinham dezenas de homens que, durante cerca de treze meses se haviam habituado a mergulhar para a vala mais próxima ou a correr para o abrigo mais à mão, sempre que o som cavo das granadas à saída da boca dos morteiros ou dos canhões sem recuo anunciavam mais um ataque com armas pesadas".
O livro de Gustavo Pimenta não é um romance. É um livro de memórias. Um livro que exclui a existência de heróis – ainda que o tenham sido todos quantos viveram e combateram em Madina do Boé –, um livro que reflecte sobre a existência do sacrifício na sua expressão mais brutal e nos ajuda a reflectir, à distância de 30 anos, acerca da dimensão de uma das maiores tragédias do nosso tempo, à escala nacional. Gustavo Pimenta escreve sobre o império do delírio da guerra com um sentimento que nos emociona. Está ali uma parte da sua vida, a partida e o regresso a casa; o relato dos anos perdidos da juventude num país longe, a mais de quatro mil quilómetros de sua casa. É dele a seguinte frase. Passo a citar: "Não desejávamos a morte, nossa ou deles, mas ninguém abdica do direito à valentia. Cada combate era sempre uma questão pessoal onde não se prescindia do melhor desempenho. É por isso que os portugueses serão sempre bons soldados".
Sinceramente, nunca li, nas dezenas de livros até hoje publicados em Portugal sobre a guerra colonial, todos ou quase todos ficcionados, uma reflexão desta natureza. Gustavo Pimenta odiava a guerra, combatia contra a sua própria guerra, não queria morrer nem desejava a morte dos outros, dos que lutavam do lado de lá, mas ainda assim não deixa de reconhecer que nem ele nem ninguém abdicaria do direito à vitória de um combate – nem que para isso fosse preciso pôr em causa a própria vida.
Escrever isto, no registo em que o faz, constitui uma atitude de coragem digna de louvor. Li o primeiro esboço do sairòmeM em Julho passado, quando Gustavo Pimenta me consentiu esse privilégio. É um livro comovente, escrito num registo elegante e poético. E só um homem como Gustavo Pimenta, despretensioso, simples, naturalmente simples, poderia escrever um livro destes.
Não sou crítico literário e por isso não me atreverei a tecer quaisquer considerações técnicas à boa maneira dos críticos literários. No entanto, como leitor atento, permitam-me que aconselhe a leitura desta obra, não apenas às pessoas particularmente sensíveis ao tema, mas a todas em geral. Porque além das emoções que se revelam em cada página, há também a beleza da linguagem que nos prende e nos seduz. Felicitemos pois o autor e marquemos desde já com ele um novo encontro para a apresentação do seu segundo título.
José Manuel Saraiva
Fonte: Extractos de Palimage Editores - A Imagem e A Palavra
(...) Além da atitude simples e discreta deste homem perante a vida, dos sentimentos de solidariedade que o habitam, das qualidades humanas a que já fiz referência, e só não me alonguei por respeito à modéstia que o caracteriza, Gustavo Pimenta é também um herói. E não sou eu a dizê-lo.
Há cerca de três anos, a SIC passou um documentário sobre a guerra colonial. Nesse documentário, que relata um dos episódios mais tristes e violentos da guerra em África, participaram, entre outros antigos combatentes, Gustavo Pimenta, o tenente-coronel José Aparício, seu antigo comandante, e vários oficiais dos exércitos português e guineense.
O filme conta a história da operação militar da retirada da Companhia 1790 do aquartelamento de Madina do Boé, durante a qual morreram 46 militares, 15 dos quais pertencentes ao pelotão comandado pelo ex-alferes miliciano Gustavo Pimenta. A tragédia, de incomensuráveis proporções, ocorreu quando a jangada que ligava as duas margens do rio Corubal, para o transporte dos homens e das viaturas, se virou inexplicavelmente. Muitos salvaram-se, muitos morreram. Vinham de Madina – essa região vasta e despovoada no leste do território, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri – onde a companhia de caçadores, de que fazia parte Gustavo Pimenta, estivera estacionada durante treze meses. E em treze meses, não contando com o número de ataques da forças do PAIGC de duração inferior a dez minutos, que em muitos casos só serviam para causar desestabilização e afectar psicologicamente os militares, o quartel foi bombardeado por 243 vezes.
Sobre a vida tormentosa dos homens que pertenceram à Companhia de Caçadores 1790, desses soldados anónimos que viveram no confronto permanente com a morte, pronunciaram-se no documentário que atrás citei quatro antigos combatentes: dois oficiais portugueses e outros dois guineenses.
Num depoimento emocionado, o brigadeiro Hélio Felgas, que era o comandante da operação e comandante do sector, diz o seguinte: "Quando o general Spínola deixou o helicóptero e foi ter comigo, eu estava a chorar. Porque realmente pareceu-me injusto que homens que tanto tinham sofrido, que militarmente haviam sido uns heróis, acabassem por morrer afogados".
Também o general Almeida Bruno se refere aos militares da Companhia 1790 em termos que não deixam margem para dúvidas. Passo a citá-lo: "Quero aqui prestar uma homenagem – a minha homenagem pessoal, como comandante que fui – a todos os militares, oficiais sargentos e praças, que viveram e combateram em Madina, que, com uma coragem notável, resistiram não só ao adversário, ao inimigo, como às condições adversas em que viveram. E julgo que um dia a história vai fazer dos militares que viveram em Madina o exemplo típico do soldado português, que é verdadeiramente de excepção".
Sobre a capacidade de resistência e heroísmo dos militares que, como Gustavo Pimenta, viveram e combateram em Madina do Boé, Ierro Camará, antigo guerrilheiro e actual tenente-coronel do exército guineense afirma também. E cito-o: "Todos aqueles que combateram em Madina do Boé, tanto da parte portuguesa como da parte do PAIGC, podem ser considerados heróis. São heróis mesmo!".
Ainda no mesmo documentário, o coronel Aliú Camará, ex-comandante da unidade de artilharia que regularmente bombardeava o quartel, falando por si e pelos seus antigos camaradas, diz. Passo a citar: "Nós rendemos homenagem aos ocupantes de Madina, porque era muito difícil viver naquelas circunstâncias. Sempre à espera dos bombardeamentos, em horas alternadas, às vezes à meia-noite, às vezes ao meio-dia, às vezes no período da tarde, tantas vezes que ninguém pode imaginar aquele sacrifício".
(...) No seu livro, Gustavo Pimenta lembra o episódio mas, como noutros que relata, fá-lo com a serenidade e o distanciamento de quem acha haver cumprido uma simples missão, sem aclarar, no entanto, que essa e outras tarefas exigiram dele e dos restantes camaradas sacrifícios impensáveis. É do autor s seguinte frase. Cito-o: "Em cima da jangada vinham dezenas de homens que, durante cerca de treze meses se haviam habituado a mergulhar para a vala mais próxima ou a correr para o abrigo mais à mão, sempre que o som cavo das granadas à saída da boca dos morteiros ou dos canhões sem recuo anunciavam mais um ataque com armas pesadas".
O livro de Gustavo Pimenta não é um romance. É um livro de memórias. Um livro que exclui a existência de heróis – ainda que o tenham sido todos quantos viveram e combateram em Madina do Boé –, um livro que reflecte sobre a existência do sacrifício na sua expressão mais brutal e nos ajuda a reflectir, à distância de 30 anos, acerca da dimensão de uma das maiores tragédias do nosso tempo, à escala nacional. Gustavo Pimenta escreve sobre o império do delírio da guerra com um sentimento que nos emociona. Está ali uma parte da sua vida, a partida e o regresso a casa; o relato dos anos perdidos da juventude num país longe, a mais de quatro mil quilómetros de sua casa. É dele a seguinte frase. Passo a citar: "Não desejávamos a morte, nossa ou deles, mas ninguém abdica do direito à valentia. Cada combate era sempre uma questão pessoal onde não se prescindia do melhor desempenho. É por isso que os portugueses serão sempre bons soldados".
Sinceramente, nunca li, nas dezenas de livros até hoje publicados em Portugal sobre a guerra colonial, todos ou quase todos ficcionados, uma reflexão desta natureza. Gustavo Pimenta odiava a guerra, combatia contra a sua própria guerra, não queria morrer nem desejava a morte dos outros, dos que lutavam do lado de lá, mas ainda assim não deixa de reconhecer que nem ele nem ninguém abdicaria do direito à vitória de um combate – nem que para isso fosse preciso pôr em causa a própria vida.
Escrever isto, no registo em que o faz, constitui uma atitude de coragem digna de louvor. Li o primeiro esboço do sairòmeM em Julho passado, quando Gustavo Pimenta me consentiu esse privilégio. É um livro comovente, escrito num registo elegante e poético. E só um homem como Gustavo Pimenta, despretensioso, simples, naturalmente simples, poderia escrever um livro destes.
Não sou crítico literário e por isso não me atreverei a tecer quaisquer considerações técnicas à boa maneira dos críticos literários. No entanto, como leitor atento, permitam-me que aconselhe a leitura desta obra, não apenas às pessoas particularmente sensíveis ao tema, mas a todas em geral. Porque além das emoções que se revelam em cada página, há também a beleza da linguagem que nos prende e nos seduz. Felicitemos pois o autor e marquemos desde já com ele um novo encontro para a apresentação do seu segundo título.
José Manuel Saraiva
Fonte: Extractos de Palimage Editores - A Imagem e A Palavra
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