Para contextualizar a resposta, o artigo pode ser lido no Blogue O Adamastor.
O comentário do camarada Coutinho e Lima, por ser algo extenso, vai ser publicado em duas partes. CV
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1.ª Parte do Comentário ao artigo
"Guiné,
Guileje e o desnorte do reino" (1)
Há umas semanas,
fazendo uma pesquisa no Google, sob a rubrica “retirada de Guileje –
comentários”, encontrei um artigo, com o título referido acima, da autoria do
Sr. Ten. Cor. Pil Av. (Ref.) Brandão Ferreira, com data de 22 JUN 2013,
publicado no seu blogue Novo Adamastor. Neste, o Autor apresenta-se como
Comandante de Linha Aérea e Mestre em Estratégia.
Antes de entrar na análise do artigo indicado,
importa referir que o Sr. Ten. Cor. nasceu em Setembro de 1973; por esse facto,
na data de 25 de Abril de 1974 (referido, na sua escrita, como “21/4”, o que,
só por si, tem o seu significado), tinha 20 anos, estando portanto no início da
sua vida militar. Por esta razão, não pôde participar na guerra – Angola, Guiné
e Moçambique; em consequência, a sua experiência nestas guerras é igual a ZERO.
Não obstante este facto, não se coíbe de fazer afirmações sobre a nossa guerra
em África, como se tratasse de um catedrático na matéria, com longa experiência
no campo de batalha. Talvez o Curso de Comandante de Linha Aérea e o Mestrado
em Estratégia o tenham habilitado com as ferramentas necessárias para perorar
sobre assuntos que desconhece.
“Presunção e água benta cada qual toma a que quer”.
No que diz respeito
a experiência de guerra, devo informar que cumpri 3 comissões, por
imposição, na Guiné: a 1ª. (63/65), comandando a Companhia de Artilharia
494 (CART 494), que esteve em Ganjola (Norte de Catió), desde Setembro a
Dezembro de 1963; em Gadamael, com um destacamento em Ganturé, desde Dezembro
de 1963 até Maio de 1965; todas estas localidades, foram ocupadas pela primeira
vez, pela CART 494. Além da missão prioritária, que era a actividade de
contra-subversão, contra um inimigo bastante aguerrido, a Companhia teve que
construir 3 aquartelamentos, partindo praticamente do zero.
Na 2.ª Comissão (68/70),
fui colocado no Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné,
em Bissau. Não se pense que esta colocação foi consequência de alguma “cunha”;
na verdade estava habilitado com o Curso de Observador Aéreo de Artilharia
(COAA), frequentado em Vendas Novas e Tancos, em 1958; o COAA era especialidade
de mobilização (já o era em 63), razão pela qual tive esta colocação. Refiro
que o Sr. Comandante Chefe era, durante toda esta Comissão,
o Sr. General António de Spínola.
Na 3.ª Comissão
(72/74), com o posto de Major, fui mobilizado, em rendição individual, de novo
para a Guiné; de SET a DEZ 72, prestei serviço no Centro de Instrução Militar
(CIM) em Bolama; de JAN a MAI 73, fui Comandante do Comando Operacional nº. 5
(COP 5), em Guileje; de MAI 73 a MAI 74, estive na situação preventiva, em
Bissau, como consequência de ter decidido efectuar a Retirada de Guileje. Regressei
a Lisboa, em 12 MAI 74.
Portanto, comparando a minha experiência de combate e a do
Sr. Ten. Cor. Brandão Ferreira estamos conversados.
Depois de ler o artigo do Sr. Ten. Cor., que contem algumas,
poucas, afirmações verdadeiras, tem, porém, muitas mentiras, imprecisões e
omissões, fica claro que o articulista não conhece, verdadeiramente, o que se
passou e, presumo que não leu o meu livro “A Retirada de Guileje”, pois se o
tivesse feito, não dizia tantas asneiras.
Felizmente que, depois do 25 de Abril de 1974, há liberdade
de expressão e, em consequência, também há liberdade para a ASNEIRA.
Vou agora analisar o conteúdo do artigo em causa, nesta 1.ª
Parte apenas no que respeita à retirada de Guileje; na 2.ª Parte abordarei os
aspectos relativos a Guidage e Gadamael, assim como referirei documentos
relacionados com a guerra dos 3 G – Guidage, Guileje e Gadamael.
Começo com a seguinte referência:
“…e ao mito
que se veio a criar que a guerra na
Guiné estava perdida…”
Sobre este “mito”, reporto-me ao livro MARECHAL COSTA GOMES – No centro da tempestade, da autoria de LUIS NUNO RODRIGUES (pág. 101 a 103),
referindo uma viagem, em JUN 73 à Guiné:
“… A posição de Costa Gomes relativamente
à situação no teatro de operações da Guiné era bastante clara. Na sua opinião,
o “desenvolvimento da manobra em curso” e a “manutenção do actual dispositivo”
só seria possível mediante a “disponibilidade de volumosos meios adicionais que
permitissem o reforço adequado das guarnições de fronteira”. Nisso concordava
com Spínola. No entanto, nas condições existentes em Portugal, tanto humanas
como materiais, a Guiné não poderia contar com o “reforço adequado de meios por
absoluta impossibilidade de os fornecer actualmente”. A solução, sob o ponto de
vista militar, passaria pela “adopção de uma manobra visando o encurtamento de
área efectivamente ocupada, evitando-se desse modo a contingência de
aniquilamento das guarnições de fronteira que se impõe a todo o transe evitar,
atentas as repercussões militares e políticas externas e internas”.
De acordo com Costa
Gomes, esta modificação do dispositivo implicava a retirada de todas as forças
colocadas nas fronteiras para uma zona onde não pudessem ser “vítimas” dos
“chamados morteiros de 120”, uma arma terrível, utilizada pelo PAIGC “com muita
facilidade”.
…Na sua opinião, a
Guiné era “defensável” caso o dispositivo fosse modificado, retirando para o
interior as guarnições militares que estavam a defender as povoações
localizadas junto à fronteira. Tudo isto, porém, na condição de o PAIGC não
utilizar os Migs que se sabia
possuir.
Deste modo, se o
PAIGC viesse a dispor doa aviões Migs poderia bombardear Bissau, “nós
perderíamos imediatamente a guerra.”
Relativamente aos meios aéreos de que o PAIGC dispunha nessa
altura, transcreve-se o que o Sr. Chefe
da Repartição de Informações do Comandante Chefe afirmou, na Reunião de
Comandos, realizada em Bissau, em 15 MAI 73:
“…Para complementar o
quadro da evolução do potencial material do In, resta acrescentar, no que se
refere a meios aéreos, que o PAIGC dispõe já de 4 aviões ligeiros e aguarda o
fornecimento de mais 6 de tipo não revelado, contando já com 28 pilotos…
…no quadro do potencial aéreo inimigo, os
meios que a REP GUINE pode empenhar e em relação aos quais se refere:
- A recente chegada
de 6 pilotos estrangeiros (líbios e argelinos) à REP GUINE para substituir, nos
MIG-15 e MIG-17, os pilotos guineanos cuja imperícia se revelou em alguns
acidentes.
- A chegada à REP
GUINE de 2 helicópteros MI-8 em fins de Abril.
- A promessa da REP
GUINE ceder uma pista ao PAIGC para manobra dos seus aviões.”
Pelo que fica escrito, parece que não se tratava
propriamente de um “mito”.
Continuando com as afirmações do Sr. Ten. Cor.:
“No meio da ofensiva
referida veio a ter destaque, pelas piores razões, o abandono do quartel
do quartel e povoação de Guileje, no dia 22 de Maio.
Piores razões, porque
marca uma página negra da História Militar Portuguesa, dado que uma guarnição
que estanho longe de ser batida, quebrou o dever militar, ao abandonar a sua
área de operações sem ordem para o fazer e sem razão que o justificasse. A
única que o fez em 13 anos de combate.”
“Pelas piores razões”, é a opinião do Sr. Ten. Cor., mas não
é, seguramente, a da esmagadora maioria (com uma única excepção) dos militares
que estavam em Guileje, que, para mim, é incomensuravelmente a mais importante.
Felizmente não é o Sr. Ten. Cor. que faz a História Militar
Portuguesa e por isso vamos esperar para
ver se os historiadores consideram o facto “uma página negra”.
A guarnição, contrariamente ao articulista afirma (até
parece que estava lá…), “estando longe de ser batida”, estava, com toda a
certeza, muito próxima de ficar completamente cercada pelo PAIGC (o cerco
estaria completo no dia 22 MAI 73).
Não considero que tenha quebrado “o dever militar”, porque,
alem de não estar vedada a retirada (só o estaria se a Missão fosse “defesa a
todo o custo”, o que não era o caso), esta foi efectuada “sem ordem para o fazer”,
pelo facto de o quartel ter ficado privado de qualquer meio de comunicação,
porque o centro de comunicações foi totalmente destruído pela flagelação
sofrida na tarde do dia 21 MAI 73.
Tenho sérias dúvidas que o abandono de Guileje tenha sido o
único; o Sr. Ten. Cor. contradiz-se, quando refere em (1) que em 30/1/73
(enganou-se no ano, pois foi em 74 e não em 73), também foi abandonado ;
não tenho a certeza se também o quartel de Canquelifá não terá sido também abandonado
e em seguida reocupado em 74.
Continuando a análise, afirma o Sr. Ten. Cor:
“Depois de abandonar
o serviço activo, escreveu um livro, profere conferências e entra em debates,
no sentido de descrever o que se passou, explicar as razões por que tomou a
decisão que tomou e insurgindo-se contra o processo de que foi alvo”
Será que só o Sr. Ten. Cor. está autorizado a
escrever, proferir conferências e entrar em debates? Continuarei a fazê-lo,
quando para isso for solicitado, mesmo com a sua discordância.
Nunca me insurgi contra o processo de que fui alvo (isto é
mais uma invenção do Sr. Ten. Cor.), porque sabia que a instauração de um auto
de corpo de delito era inevitável.
O que censuro, com a maior veemência, é a maneira,
verdadeiramente tendenciosa, como o mesmo processo foi levado a efeito. Sabe-se
que o objectivo primário da investigação é o apuramento da verdade;
seguramente, não foi esta a preocupação do Sr. Oficial da Polícia Judiciária
Militar (PJM) – Sr. Brigadeiro Leitão Marques; não sei se este recebeu algumas
orientações específicas para conduzir o processo, nem isso interessa muito. O
Sr. Brigadeiro foi o único responsável pela forma como dirigiu a investigação,
da qual resultou a intenção deliberada de me acusar.
No processo, podem verificar-se várias anomalias, apontadas
no meu livro. Indico algumas:
- Depoimentos
contraditórios de duas testemunhas, sobre a destruição dos carros
sanitários, sem que o Sr. Oficial da PJM tenha feito qualquer diligência para
esclarecer o assunto.
- Não aceitação da
procuração em que eu nomeava meus defensores 4 Advogados, Oficiais Milicianos,
todos a prestar serviço militar na Guiné, prejudicando assim a minha defesa.
- O interrogatório
que o Sr. Brigadeiro Leitão Marques fez à testemunha, Sr. Ten. Cor. Pinto de
Almeida, Chefe da Repartição de Operações do Comando Chefe (pág 692 a 697 do processo),
em que nem uma pergunta foi feita sobre os acontecimentos ocorridos em
Guileje; todas as perguntas versaram sobre o que ocorrera em Guidage.
Sobre este último assunto escrevi no meu livro:
“Após ter feito a primeira leitura do depoimento do S. Chefe
da Repartição, fiquei com dúvidas se teria lido bem. Voltei a ler, com toda a
atenção, e fiquei perplexo e estupefacto; na realidade, o caso não era
para menos; não é que, tratando-se de um processo sobre a retirada de Guileje,
o Sr. Oficial da PJM não formulou nenhuma pergunta acerca do objecto dos autos!
Isto tem um nome, que é DESONESTIDADE
INTELECTUAL.”
A testemunha podia, por sua iniciativa, fazer declarações
sobre Guileje, mas assim não entendeu.
Não tenho qualquer dúvida, que se tratou de UM VERDADEIRO CONLUIO ENTRE O SR. OFICIAL
DA PJM E A TESTEMUNHA, o que considero gravíssimo, especialmente por se ter
verificado no Exército Português.
Continuando a análise do artigo, o Sr. Ten. Cor. Afirma:
“ Foram escolhidas
pois estavam mesmo junto à fronteira…”
Referia-se a Guidage e Guileje; enquanto que a primeira
localidade está mesmo na fronteira, já Guileje dista da dita fronteira, cerca
de 8 quilómetros, em linha recta, o que significa que, mais uma vez, não sabe
do que estava a falar.
“No meio desta
ofensiva séria, foi atacado o aquartelamento de Guileje, no dia 18 de Maio,
possivelmente como diversão, para obrigar forças que estavam a auxiliar
Guidage.”
A “ofensiva séria” era em Guidage, podendo por isso
entender-se que, em Guileje, a “ofensiva era a brincar…”. No mínimo, haja
respeito por quem lá estava.
Não admira que o Sr. Ten. Cor. confunda tudo, porque da guerra da Guiné, não percebe nada.
Para seu esclarecimento, devo informá-lo que, pelo chamado “corredor
de Guileje”, que vindo da República da Guiné Conacri, passava bem longe do
aquartelamento de Guileje, o PAIGC fazia entrar cerca de 60/70% dos
abastecimentos, de toda a ordem, para todo o nosso território. Daí a
importância atribuída pelo In à nossa presença, o que fez com que preparasse,
com muitos meses de antecedência um “ataque com toda a força a Guileje”, na
própria expressão do PAIGC.
Não tenho qualquer dúvida que o ataque a Guidage (de acordo
com informações recolhidas no Simpósio Internacional de Guileje, em Mar 2008,
em Bissau, devia ter início ao mesmo tempo que o ataque a Guileje e só não
houve simultaneidade porque, no primeiro caso, foram detectados pelas NT, as
comunicações do In, obrigando este a desencadear o ataque mais cedo), era uma
manobra de diversão, sendo o ataque a Guileje a acção principal. A intenção do
PAIGC era obrigar o Comando Chefe , em Bissau, a socorrer as duas guarnições,
tendo que repartir as suas reservas. Para o In, a actuação do Sr. General
Spínola não podia ser-lhe mais favorável, ao hipotecar praticamente todas as
suas reservas no socorro a Guidage. Mais à frente voltarei a este assunto.
“A guarnição do Comando
Operacional 5 sofreu um morto e dois feridos. O Comandante, Major Coutinho e
Lima, decidiu ir a Bissau expor a situação. Regressou no dia seguinte e tomou a
decisão de abandonar o quartel, levando consigo toda a população para Gadamael-
Porto, uma povoação a poucos quilómetros.”
Esta narrativa (como agora se diz) do Sr. Ten. Cor., muito
sintética, sobre o que se passou em Guileje, fica muito aquém da realidade,
além de incluir várias incorreções e deturpação dos factos. Passo a esclarecer.
As baixas sofridas pelas NT, na emboscada de 18 MAI 73, foram:
um morto, sete feridos graves e quatro feridos ligeiros (e não um morto e
dois feridos).
Não decidi ir a Bissau, conforme afirma o Sr. Ten.
Cor.
Após a emboscada
montada pelo In, impedindo, pela primeira vez, a realização da coluna de
reabastecimento, tive a noção perfeita de que estávamos perante uma situação
grave. Nestas condições, enviei, em 18 MAI 73, às 09H05, uma mensagem
RELÂMPAGO (a de maior prioridade, sendo as prioridades seguintes: IMEDIATO,
URGENTE e ROTINA), para a REP/OPER, com o seguinte texto:
“VIRTUDE FORTE
EMBOSCADA COLUNA HOJE SOLICITO VINDA ESTE DELEGADO ESSA DELEGADO COAT”.
(COAT = Comando Aero-Táctico da Força Aérea)
Quando enviei esta mensagem, não sabia ainda que a Força
Aérea não ia a Guileje, o que vim a verificar depois.
A resposta foi dada, no mesmo dia, às 13H13,
com uma mensagem IMEDIATO:
“ REF S/…AGUARDA-SE
ENVIO RELIM” (RELIM= Relatório Imediato).
Às15H10, enviei nova mensagem RELÂMPAGO:
“ S/…INFO RELIM
INSUFICIENTE. ASSUNTO TRATAR DIZ RESPEITO FALTA APOIOS EFECTIVOS REALIZAÇÃO
COLNS FACE POTENCIAL IN. SOLICITO INFORME ESTA VIA QUANDO VÊM DELEGADOS.”
Continuando sem resposta da REP/OPER, enviei nova mensagem
RELÂMPAGO, às 22H45 desse dia 18MAI:
“M/…SOLICITO RESPOSTA
ESTA VIA POIS TENHO POSSIBILIDADE SEGUIR MANHÃ 19 MAI GADAMAEL PORTO.”
Preocupado com a vinda os delegados, enviei em 19 MAI, às
03H50, a mensagem RELÂMPAGO:
“CASO HAJA
DIFICULDADE VINDA DELEGADOS SOLICITO AUTORIZAÇÃO IDA BISSAU E TRANSPORTE PARTIR
GADAMAEL PORTO FIM EXPOR SITUAÇÃO.”
Esta mensagem foi respondida, no mesmo dia, às 11H11
(07H21 depois, o que é um exagero, inadmissível, para responder a uma mensagem
RELÂMPAGO):
“ REF S/… DE 19 MAI
73, SITUAÇÃO LOCAL NÃO ACONSELHA SAÍDA DEMORADA DO SECTOR. ESTE TENTOU IR MAS
FAEREA SO VAI GADAMAEL EMERGENCIA, EXPONHA SITUAÇÃO ESTA VIA.”
Esta mensagem foi enviada apenas para o COP 5
(Guileje), onde a REP/OPER sabia que eu não estava, o que demonstra a maneira
desleixada (para não ser mais contundente), como o assunto foi tratado; o
procedimento correcto era enviar a mensagem também para Gadamael e Cacine,
havendo assim a certeza que eu a receberia, na hora.
Em consequência, só tive conhecimento do seu teor no dia
20 MAI, pelas 03H00, quando foi retransmitida de Guileje para Cacine, onde
eu me encontrava.
Tendo chegado a Cacine na manhã do dia 19 MAI, donde foram
evacuados os feridos pela Força Aérea (a REP/OPER não se lembrou de utilizar
este transporte para enviar os delegados que eu, insistentemente pedia), e não
recebendo resposta de Bissau (recordo que a mensagem acima só foi do meu
conhecimento no dia seguinte), desesperado com tanta negligência, fui tentando
resolver a situação, inclusivamente solicitando transporte ao Comando de Defesa
Marítima, que tinha um avião à sua disposição, o que não foi possível.
Entretanto Guileje estava sujeito à acção do In, com
flagelações de dia e de noite.
No dia 20 MAI, às 03H20, após tomar conhecimento da
mensagem da REP/OPER do dia 19 MAI, (11H11), pelas razões apontadas, enviei, de
Cacine, a seguinte mensagem RELÂMPAGO:
“ SUA…DE 19 MAI 73
CMDT PRESENTE NESTA INFORMA NECESSITA UMA COMPANHIA TROPA ESPECIAL FIM EFECTUAR
REFORÇO TEMPORÁRIO REABASTECIMENTO GUILEJE. NECESSÁRIO TAMBÉM REFORÇO VIATS E
ESTIVADORES. VIRTUDE SE ENCONTRAR NESTA JULGA ACONSELHÁVEL IR BISSAU
REGRESSANDO IMEDIATAMENTE”.
No dia 20 MAI, à tarde, veio finamente a Cacine um
helicóptero, que me transportou para Bissau.
Pelo que fica escrito, espero que o Sr. Ten. Cor. se
convença que não decidi ir a Bissau.
“Do que se sabe o
General Spínola …e não lhe explicou nada. Podia ter-lhe dito…eu agora não lhe
posso valer pois tenho todas as minhas reservas empenhadas (o que era verdade),
volte para lá, aguente-se, que logo que possa envio-lhe auxílio”.
Realmente o Sr. General Spínola não me explicou nada.
Contrariamente ao que afirma o Sr. Ten. Cor., não é verdade que todas as
reservas estivessem empenhadas. Conforme se pode verificar pelo depoimento
do Sr. Chefe de Repartição de Operações, já indicado atrás, em resposta à
pergunta do Sr. Oficial da PJM:
“… qual a situação
das reservas do TO em vinte de Maio de mil novecentos e setenta e três…”, a
resposta foi:
“…A trigésima quinta
de Comandos encontrava-se em Bissau com a missão de segurança ao Palácio do
Governo. …A Companhia de Caçadores Paraquedistas cento e vinte e um
encontrava-se em Bissau em descanso desde vinte de Abril de mil novecentos e
setenta e três.”
Portanto, se o Sr. General Spínola quisesse (e não quis),
podia reforçar Guileje, de imediato, com a 35ª. Companhia de Comandos (depois
de substituída na missão que lhe estava atribuída, o que não era
particularmente difícil) e com a Companhia de Paraquedistas 121; refere-se que,
esta Companhia foi reforçar Guidage, desde as 17H00 do dia 20 MAI 73
(ironicamente, depois de eu ter pedido reforço- ver mensagem anterior, enviada às
03H20 desse mesmo dia 20- esta Compª foi mandada para Guidage) até às 15H00
do dia 31 MAI73.
O argumento de que não havia reservas para reforçar
Guileje, como se vê, é verdadeiramente falacioso. Acrescenta-se que
estavam, em 20 MAI 73, em Cufar, as Companhias de Paraquedistas 122 e 123
(Sector do COP 4), que quinze dias mais tarde, foram reforçar Gadamael. Estas
duas Companhias também podiam socorrer Guileje, de imediato, se recebessem essa
missão do Comandante Chefe.
Se o Sr. General tivesse dito (e não disse), …”logo que
possa envio-lhe auxílio”, isto equivaleria a dizer que a guerra, em Guileje,
poderia esperar. Na prática, foi o que o Sr. General determinou, com a sua
decisão de não atribuir qualquer reforço. Esqueceu-se foi do PORMENOR do envio
de uma mensagem RELÂMPAGO, de teor semelhante ao seguinte:
“ Para o Comandante
Zona Sul PAIGC – Nino Vieira
VIRTUDE TER TODAS
MINHAS RESERVAS EMPENHADAS GUIDAGE, SOLICITO PARAGEM TEMPORÁRIA VOSSA ACÇÃO
GUILEJE. LOGO QUE RESOLVA PROBLEMA NORTE, INFORMAREI ESTA VIA.
António de Spínola
Talvez Nino Vieira tivesse sido sensível à solicitação!
(Continua)
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Nota do editor
Último poste dasérie de 21 de Outubro de 2014 >
Guiné 63/74 - P13776: (Ex)citações (242): Água da bolanha... quem a não bebeu ?!... Abastecimento na poça da Tabanca de Padada, dia 15JUN69 (Fernando Gouveia)