quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Guiné 63/74 – P6987: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (39): Pilhagens, Gamanços ou Desvios! (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 39ª mensagem, em 14 de Setembro de 2010:

Camaradas,

Ao ler o poste do meu camarada e amigo João Félix Dias " TABANCA DO MONTIJO", e respondendo à sugestão do Luís Graça, sobre Vaguemestres e pilhagens nas colunas de reabastecimento, resolvi rebuscar na minha memória e nos meus apontamentos, sobre ditas que se faziam no meu tempo entre Buba-Aldeia Formosa.
COLUNAS DE ABASTECIMENTO BUBA-ALDEIA FORMOSA
Duas a três vezes por mês, na época seca era organizada uma coluna de grande dimensão, partindo de Aldeia Formosa, Mampatá e Nhala, com destino a Buba, afim de abastecer de mantimentos, que nos eram transportados via fluvial - Rio Grande de Buba - por LDG.

Esta coluna de abastecimento era efectuada pela estrada velha Buba-Aldeia Formosa (via Nhala), em virtude da estrada nova se ter tornado intransitável por vários motivos já aqui expostos por diversos camaradas.

A força de comando destas colunas eram normalmente feitas pelas unidades de Aldeia Formosa (CART 2521), sendo fornecido apoio logístico, como picagem e segurança ao longo do percurso pelas unidades CART 2519 (Mampatá), CCAÇ 2615 (Nhala) e CCAÇ 2614 (Buba).

Havia sempre apoio da força aérea que para isso deslocava 2 aviões T6, para a pista de aterragem de Aldeia Formosa, ficando de prevenção para qualquer eventualidade.

Estas colunas demoravam sempre cerca de dois a três dias, dependendo das marés em Buba, para a LDG poder acostar no cais. Era uma azáfama enorme lutando contra o tempo, que possibilitava à LDG descarregar o seu conteúdo, para todas as unidades do Sector.

Eram chamadas viaturas de cada unidade que, juntamente com o Vagomestre, carregavam os víveres da respectiva Companhia a que eram dirigidos. Aqui começava a «PILHAGEM», pois não havia tempo para conferir o material que a cada um era devido.

Indicavam o lote de abastecimentos que se encontrava no convés da LDG e cada unidade carregava as suas viaturas, a toda a pressa, porque o tempo sempre escasseava para esse efeito.

Depois esperava-se em Buba que todas as outras viaturas, que compunham a coluna, estivessem abastecidas para iniciar o regresso às respectivas unidades.

O regresso era sempre mais penoso porque as viaturas carregadas se atolavam na transposição das bolanhas existentes nos percursos e pessoal que garantia a segurança tinha que caminhar apeado por diversos motivos.

A segurança das estradas e as picagens, às idas para os reabastecimentos, eram levados ao maior grau de exigência, e dava os seus bons frutos, mas, nos regressos, devido à actividade inerente que as nossas movimentações provocavam, que, como é óbvio, alertava o IN permitindo-lhe preparar os seus ataques e esperar por nós. Os locais onde nos emboscavam eram quase sempre os mesmos e, por isso, já referenciados e considerados por nós como muito sensíveis.

Inúmeras minas foram detectadas e levantadas, ou destruídas, por todas as unidades nestas alturas, mas o que mais mossas faziam nas NT eram os fornilhos, porque se eram quase indetectáveis e o IN accionava-os, à nossa passagem, quando muito bem entendia.

Normalmente, os percursos das colunas corriam bem, devido essencialmente às boas e adequadas preparações e posicionamentos dos dispositivos colocados no terreno pelas NT e pelos meios envolvidos. Por vezes, quando menos esperávamos, lá ia uma viatura pelos ares, ou sofríamos uma emboscada mais elaborada pelo IN, porque às flagelações á distância já o nosso pessoal não ligava.

AS PILHAGENS

Se assim se podem chamar, sempre as houve mas feitas pelos nossos militares, porque culpar a população nativa é falso, pois era rara a que se transportava nas nossas colunas. Certa mercadoria (whisky, cerveja e pouco mais), era valorizada pelo pessoal e seguia devidamente referenciada nas viaturas e, esta sim, era alvo da cobiça geral. Como os índices dos “gamanços” eram tão baixos, os valores desaparecidos eram dados como destruídos ou perdidos, por acidente, durante o seu transporte.

As emboscadas, as minas e o rebentamento de fornilhos sobre as viaturas, era muitas vezes o motivo justificativo de tudo o que pudesse ter desaparecido nas viagens.

Também as instalações paupérrimas onde algumas unidades eram obrigadas a viver no mato, húmidas nas chuvas, secas no Verão, sem luz, sem ventilação, sem água, etc. originavam a deterioração dos géneros alimentares, materiais e equipamentos, que depois era obrigatório justificar.

Como não havia inspecção da Intendência, ou de entidades superiores, às zonas operacionais mais perigosas, podiam-se fazer relatórios de incapacidade e destruição de alimentos e equipamentos, porque ninguém ia verificar a sua veracidade. Assim houve “justificação” para muita coisa nas zonas de guerra de maior perigosidade.

Houve, como em tudo na vida, quem se soubesse aproveitar destas facilidades e os "desvios" como alguém lhe chamava, não foram a meu ver, mais do que permissividade total para outros fins menos dignos.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
9 de Junho de 2010 >

Guiné 63/74 - P6986: Parabéns a você (152): Manuel José Ribeiro Agostinho, Soldado Escriturário no QG/CTIG, 1968/70 (Os Editores)

1. Porque hoje, dia 15 de Setembro de 2010, está de parabéns por completar mais um ano de vida, estamos a saudar o nosso camarada Manuel José Ribeiro Agostinho (ex-Soldado Radiotelefonista, Condutor Auto e Escriturário no QG de Bissau nos anos 1968/70)*.

Caro Agostinho recebe da tertúlia um abraço e os votos de uma longa vida, com saúde, junto da tua esposa Elisabete, filhas, netas e demais familiares e amigos.

Permito-me deixar-te o meu abraço pessoal de parabéns e votos de bons êxitos na tua vida empresarial.

Embora nos vejamos frequentemente, porque, além de vizinhos e amigos, fazemos parte do grupo dos 4 que não pára, marco desde já encontro para o próximo ano, neste mesmo lugar, para renovação dos votos hoje formulados.

Pelos editores
Carlos Vinhal

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4951: Parabéns a você (26): Manuel José Ribeiro Agostinho, Escriturário no QG/CTIG, 1968/70 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 10 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6964: Parabéns a você (151): Tony Grilo, Sold. Apontador de Obús 8,8 cm, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68 (Editores)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6984: (Ex)citações (97): Tinha 22 anos e ainda sonhava... quando levei o prisioneiro Malan Mané a jantar comigo no café do Sr. Regala, em Galomaro (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III, BA 12, Bissalanca, 1968/70)

1. Mensagem, com data de 12 do corrente,  de Jorge Félix [, foto à esquerda, retirada com a devida vénia da sua conta no Facebook]

Assunto - Malan Mané, P6953 (*)

Caro Luís:

Na linha profilática que o teu/nosso Blogue tem prestado aos ex-combatentes da Guiné, e porque sou visado no P6953 e comentários associados a ele, gostaria de destacar o seguinte:

As frases,  "há gente que nunca mais faz dezassete anos"  e "pode acontecer que tenhas visto tudo isso em outra circunstância ou pode acontecer que haja outro Malan Mané", não têm sentido algum, mas eu entendo-as.

Aceita, Salvador Nogueira, que, não sendo importante, fui eu que transportei o Malan da Zops para Galomaro. (Um privilégio que não era para todos.. como se pode ler no cabeçalho do mesmo poste).

Acredita, Salvador, que estamos a falar do mesmo. Acredita que o que escreveu o "poeta",  foi dito por Malan, num jantar que o Comandante dos Páras permitiu que tivesse no "café do Sr Regala", no dia em que vocês o apanharam. Outras coisas foram faladas entre mim e Malan, que nunca irias acreditar. Pouco se falou de guerra. (**)

Claro que a autorização para Malan Mané ir jantar comigo e a conversa que daí decorreu não pode estar no relatório a que te referes, no PS da tua última nota  (PS - podes consultar o relatório da op e podes falar com o Sarg Sofio que toda a gente conhece em Constância - servia-te de passeio e matavas saudades da área,  uma vez que não já há nem BA3, nem RCP, nem gente que te conheça, nem nada) .

Como deves concordar (?!), não dá para perder tempo com a tua sugestão.

Não me "zanguei" com as tuas "tiradas". Já estou velho mas conservo o "romantismo" que transportava naqueles tempos. Posto isto, dou por terminado o diferendo que as histórias do Malam Mané criaram, e por tal não voltarei a responder por mais simpático ou violento que venhas a ser.

Caro Luís , se não fui explícito, não publiques. Vou pôr o meu nome, não para ser mais conhecido, mas para o associar ao texto.

Abraço
Jorge Félix
_______________


Notas de L.G.:


(*) Vd.poste de 8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6953: Estórias avulsas (94): A captura do incaracterístico guerrilheiro Malan Mané, no decurso da Op Nada Consta (Salvador Nogueira)

(...) [ Comentário de Jorge Félix, 9 Set 2010]

"Para publicar havia de ser a minha narrativa da captura do Malan Mané - mais circunstanciada!, lembras-te do croquis que te enviei? - mas só se alguém aparecesse de novo a divagar sobre o assunto de longe e a sonhar alto. Houve até um poeta que descrevia o piloto a soprar a mata com o rotor do héli e a gritar para avisar a tropa - azar, era eu... e li. E agora?- de que havia uns gajos emboscados... Há gente que nunca mais faz dezassete anos" (...)

Li e não percebi!!! (Ou melhor, parece que sei o que querem...!)

Sou o Félix, o ex-piloto que também viu o Malan Mané com o RPG2 que não quis disparar.

O mesmo que "poeticamente" aterrou o héli junto do Malan.

O mesmo que viu o Malan ser apanhado à mão.

O Félix que transportou o Malan para Galomaro.

O mesmo, Félix, que levou o Malan à casa do Sr Regala a jantar, como prenda de não ter disparado.

O mesmo que escutou Malan explicar, no mesmo "restaurante", que não disparou pois teve medo de ser visto porque o "rotor soprava a mata".

Na altura teria 22 anos, e ainda sonhava.


Hoje, passados estes anos, todos ter que ler o que li, ou não entendi nada, o que será possivel, resultado dos 63 que já carrego, ou..., meus caros Amigos, ía apagar tudo pois estava a passar para o terreno em que ía ser indelicado. Vou ficar por aqui.

Vai ficar o que está escrito, talvez o autor do poste, que não sei quem é, possa ler . Quero lhe dizer que felizmente estou tratado de todas as feridas da guerra (penso que sim). De outra maneira, ao ler o que escreveu, "tudo é mentira sobre a captura de Malam excepto o que eu sei", poderia pôr em causa as minhas capacidades mentais.

Isto de escrever umas merdas, e terminar com uma tirada inteligente, tem muito que se lhe diga.

Caro companheiro de luta, já todos fizemos os 17 há muitos anos. Acredito que muitos queriam continuar naquele tempo, pois naquele tempo continuam a viver, com a sua verdade una e imortal.


Sem mais, abraço a todos.

Jorge Félix

ex-alf piloto aviador

Guiné 68/69/70


(...) [ Resposta de SNogueira, 10 Set 2010]

Caro Félix, pode acontecer que tenhas visto tudo isso em outra circunstância ou pode acontecer que haja outro Malan Mané.

Asseguro-te que a captura, vista do chão e a curta distância, foi feita como descrevi - o guerrilheiro levantou-se com as mãos no ar e nunca mais tocou na arma; não me lembro da sua evacuação mas fica seguro de que lhe confiscámos o RPG2.

Também não imagino o que ele possa ter dito a quem o interpelou depois de evacuado mas fica seguro de que a informação que deu no local foi escassa e em pouco alterou o nosso planeamento - era um homem muito simples e nós, a minha tropa, não éramos propensos a grandes divagações...

SNogueira

(...) [Novo comentário de SNogueira, 10 Set 2010]

(PS - podes consultar o relatório da op e podes falar com o Sarg Sofio que toda a gente conhece em Constância - servia-te de passeio e matavas saudades da área uma vez que não já há nem BA3, nem RCP, nem gente que te conheça, nem nada... Lamento este desencontro de memórias e de opiniões)

(**) Vd. postes de:

7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai... (Luís Graça)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

(...) Depois de vários anos sem notícias do Jorge Félix, tive a felicidade de o reencontrar há dias através de e-mail que ele me enviou. Soube do meu endereço, por meio do teu blogue que tem lido...

Relembrou-me uma história curiosa que se passou em Galomaro numa operação militar em que ele esteve envolvido e da qual resultou um prisioneiro do PAIGC que pernoitou na sede da CCAÇ 2405. (...)

O JORGE FELIX E O PRISIONEIRO (Ou a psicossocial no seu melhor... )
por Rui Felício


(...) (i) PREÂMBULO


(...) O episódio que vou contar poderia ter resultado em catástrofe, como mais adiante se compreenderá, mas o que permanece na memória, é de facto a situação picaresca que, passado o perigo, a seguir se desenvolveu.

Antes do relato dos factos, é importante dar a conhecer a personalidade do Jorge Félix. Sem ela, esta história não teria o sal e a pimenta que a maneira de ser dele lhe conferem.

(ii) A PERSONALIDADE DO JORGE FÉLIX

O Jorge Félix, a quem ainda hoje me ligam laços de grande amizade, foi piloto de helicópteros da Força Aérea em Bissau nos anos de 1968 a 1970.

Para além do seu elevado profissionalismo, capacidade técnica e conhecimento do território, que o tornaram, na opinião generalizada, como um dos melhores, senão o melhor piloto de helicópteros que terão passado pela guerra da Guiné, reunia e ainda reúne, invulgares qualidades difíceis de encontrar todas concentradas numa mesma pessoa.

Aquelas que mais apreciei foram e ainda são, apesar dos anos passados, um apurado sentido de humor, uma jovial e permanente boa disposição que alastrava a quantos o rodeavam, um permanente lenço de seda colorido em volta do pescoço que era a sua imagem de marca e uma aptidão especial para rapidamente aprender a dominar as técnicas das mais variadas especialidades.

Refiro-me ao domínio da fotografia e da imagem, da música e, sobretudo, dos corações femininos! Dizem que destroçou vários na sua passagem por Bissau, Bafatá, Galomaro e sei lá quantas mais terras da Guiné...

(iii) A OPERAÇÃO MILITAR

Mas vamos à história de cuja parte final fui testemunha. A parte inicial foi-me descrita pelo próprio Jorge Felix e confirmada pelos paraquedistas intervenientes.

Num certo dia de Agosto de 1969, o Jorge Félix transportou no seu helicóptero um grupo de pára-quedistas que iam fazer um assalto, a uma base do PAIGC, identificada pelos serviços de informações militares da Guiné, como estando localizada no [subsector de Mansambo, Sector L1, Zona Leste].

Ao procurar local para a aterragem perto do objectivo, em plena mata, o Jorge Felix foi descendo o helicóptero e, a uns 5 metros do chão, a deslocação de ar, provocada pelo movimento das pás do aparelho, afastou uma série de ramos de arbustos deixando a descoberto um guerrilheiro do PAIGC que ali se havia emboscado.

O homem estava armado com um [ RPG2,], e a granada colocada, apontando para o helicóptero, o que naturalmente deixou em pânico o piloto e os tripulantes. Na verdade, se o gatilho tivesse sido premido, era o destruição do helicóptero e de algumas vidas, senão todas, daqueles que o tripulavam.

O Jorge Félix que foi quem primeiro avistou o guerrilheiro, gritou aos pára-quedistas que de imediato saltaram do Heli e aprisionaram o homem sem necessidade de dispararem um único tiro, desarmando-o acto contínuo.

Pelos vistos, o susto e a surpresa dele foram tão grandes, ao avistar inesperadamente o helicóptero sobre a sua cabeça, que lhe devem ter paralisado os movimentos e o raciocínio... para sorte dos militares que enchiam o aparelho...

(iv) O REGRESSO A GALOMARO

Mas vamos à história de cuja parte final fui testemunha. (...) [Para saber o resto, clicar aqui]

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

Guiné 63/74 - P6983: (In)citações (5): Amílcar Cabral, os portugueses, o colonialismo e o racismo (Cherno Baldé)

1. Comentário, de 9 do corrente,  de Cherno Baldé ao poste P6941 (*):

Amigo Torcato, (**)

Eu estudei na antiga URSS, sim, onde, juntamente com o leite e mel servido na cama individual, também nos serviam expressões agradáveis como " Ó macaco preto,  volta para a tua terra!".

Uma vez, em Kiev, conversando entre amigos e colegas de turma de várias nacionalidades, um Russo nos interpelou cheio de curiosidade:
- Disseram-me que vocês,  africanos,  nos vossos países, vivem em cima das árvores, mas como é que conseguem montar as camas ?

E alguém dos nossos respondeu-lhe:
-Sim,  é verdade,  e se queres saber mais digo-te que o vosso embaixador que vive lá connosco, está hospedado e dorme na árvore mais alta da nossa floresta.

A frase do romancista [ André Schwarz, ]conforme a entendi, e penso que o Filipe já disse o essencial, vai no sentido de que "só quem nos conhece nos pode magoar, prejudicar, ver matar". (***)  E acho que, não restam dúvidas que Cabral conhecia bem o regime Português e os Portugueses também. 

De resto quem quiser saber o que ele pensava dos Portugueses pode consultar o livro das suas obras escolhidas,  intitulado "A Arma da teoria",  num discurso proferido por ocasião do 1º ou 2º aniversário da invasão de Conacri e as causas do seu falhanço. Na minha opinião, aí estão contidas muitas mágoas para um bom Português como ele.

O que interessa reter é que hoje como ontem, em Portugal, vivem e trabalham muitos africanos, muitos dos quais, no fundo, nunca quiseram a ruptura completa e definitiva com Portugal e os Portugueses, mas que queriam simplesmente a sua emancipação. Agora vejam lá, se criam ou não criam mais outros Cabral. [, Foto, acima] (****)

Cherno

[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.]
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6941: Notas de leitura (144): Amílcar Cabral Documentário (Mário Beja Santos)


[Comentário de Antº Rosinha, 7/9/2010]

(...) Amilcar Cabral, com a sua cultura e conhecimentos africanos e europeus, podia falar muito bonito para branco entender, mas nunca contou a realidade africana. Nem ele, nem nenhum outro português como ele, quer do PAIGC, MPLA, ou FRELIMO (...).
[Comentário de Cherno Baldé, 7/9/2010]

Numa das passagens do romance de André Schwarz (ver refª abaixo), encontrei uma frase curta mas cheia de significado que diz o seguinte: "Atention, celui qui te connaît appartient pour toi aux bêtes qui tuent ». page 73.

ANDRÉ SCHWARZ BART
in "La Mulâtresse Solitude" , Roman–Points, ed. du Seuil, 1972.

E Amilcar Cabral, no seu tempo, foi daqueles que conheceram Portugal e os Portugueses, julgo eu, mais que qualquer outro Guineense ou estrangeiro que tivesse vivido por lá. Nem me passa pela cabeça imaginar o que ele teria sofrido para terminar com sucesso o seu percurso académico. (...)

[Comentário de ChTorcato Mendonça, 7/9/2010]


(...) Por fim, Amílcar Cabral, estudante.


Tirou certamente o curso de agronomia,  como qualquer colega. Dizem ter sido óptimo estudante. Havia a Casa do Império onde os estudantes, vindos de África,  ficavam. A polícia política certamente estava atenta e atenta estava com outros,  independentemente de sua cor. Racismo? É possível. Infelizmente há sempre gente mal formada. Aí não há? Olhe,  eu fui para militar e depois até aí e queria estudar...e você onde estudou? Talvez no Leste...terras de leite e mel (...).


(**) Último poste da série  (In)citações:

28 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6800: (In)citações (4): A lavadeira Lisboa e o tocador de harmónica Sene Coiaté, com a Júlia Neto, na inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje (Pepito, AD - Acção para o Desenvolvimento)

(***) Variante da célebre frase de Jesus Cristo na última ceia, denunciando o seu traidor: "Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato" (Mateus 26,14-25).

(****) Foto do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe,  editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... Aprimeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Guiné 63/74 - P6982: Blogues da nossa blogosfera (36): A Tabanca do Montijo, de João Manuel Félix Dias (ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539 e CCAÇ 3, 1969/71)



Foi criado, em Dezembro de 2009,  mais um blogue sobre a guerra na Guiné (1963/74)... A iniciativa é do nosso camarada João Manuel Félix Dias, que pertence à nossa Tabanca Grande desde Setembro de 2008 (*). Nome do blogue: Montijo - Tabanca do Montijo. É "dedicada aos militares de Montijo que, naqueles anos de 1961/1974,  por trilhos, picadas e bolanhas com Sangue, Suor e Lágrimas contribuiram para elaborar o Nosso Historial".

Boa parte da rapaziada do Montijo, dos três ramos das Forças Armadas, são ou foram amigos de infância e de juventude do João, a quem damos os parabéns pela iniciativa (e o apoio que for necessário por parte da Tabanca Grande).


Eis como se apresenta o autor do blogue:

"Morei, algum tempo, no Alto das Vinhas Grandes. Em 1958 mudámos para a Rua E, (hoje, da Guiné) nº 4, no Afonsoeiro. Estudei até à 4ª. classe na Escola Reis,  junto ao Cinema. Preparei a Admissão na Farmácia Higiene, Prof. Pita, antes do Exame para o Ciclo Preparatório.

"Frequentei a velha Escola Técnica EICM até 1963. Saí com 15 anos e nesse mesmo ano comecei a trabalhar. Fiz um estágio na Soluz,  do Sr. Joaquim C. Tapadinhas e Quirino Correia. Algum tempo trabalhei em Lisboa na Rádio Escola. Também na empresa José Trindade Ventura - Carnes - que funcionava no quintal do Sr. Ilhéu. E durante mais tempo, até à tropa, trabalhei na Oficina  Joao Augusto Ramos. Contacto joaomanuel47@gmail.com  ou felixdias@msn.com  964451199 / 212316862, São Francisco, Alcochete".

No TO da Guiné o João Manuel Félix Dias foi Fur Mil Grad SAM, tendo passado pelas CCAV 2539 (S. Domingos) e 2540 (Sedengal) /BCAV 2876 (Ingoré, 1969/70) e  CCAÇ 3 (Binta, Guidaje, 1970/71).

A este batalhão, o BCAV 2876, pertencia o malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar, comandante da CCAV 2538.

O João ia na coluna em que o Alf Mil Nelson Gonçalves, do Pel Caç Nat 60,  foi gravemente ferido numa A/C, na estrada São Domingos, Susana, a 13 de Novembro de 1969. (Há um blogue sobre o Pel Caç Nat 60, da autoria de Manuel Seleiro).

A mulher do Nelson Gonçalves, a Manuela Gonçalves (Nela) já escreveu, na I Série do nosso blogue,  sobre essse trágico episódio... Foi uma das primeiras mulheres a fazer parte da nossa tertúlia (hoje, Tabanca Grande). Tinha um blogue (Caminhos por onde andei) que já não está activo... Eu próprio lhe perdi o rasto. Eis o seu antigo email: misstrenga@gmail.com.




Blogue do Pel Caç Nat 60 (1968/74), da autoria de Manuel Seleiro

Ao telefone com o João, que tem uma excelente memória, fiquei a saber o seguinte:

(i) Ele cresceu n o Montijo, o pai era operário da Mundet, a fábrica de cortiça;

(ii) Hoje vive em São Franscisco, que pertence a Alcochete;

(iii) A ideia do blogue (**) surgiu-lhe quando estava desempregado;

(iv) Está a tentar reunir a malta da região, e fazer uma primeira reunião de convívio no Café Portugal;

(v) Foi vagomestre na CCAV 2539, mas levou uma porrada do capitão, acabando por passar um mês na CCAV 2540 e o resto da comissão na CCAÇ 3;

(vi) O vagomestre que ele foi render, teve uma comissão desgraçada: ficou até 1972 em comissão liquidatária; toda a gente roubava (a começar pela população civil a quem se dava boleia) quando da organização das colunas logísticas, de tal maneira que era preciso levar malta armada em cima das viaturas para dissuadir os ladrões; na mina em que foi ferido o Alf Mil Nelson Gonçalves, houve pilhagens de toda a ordem; 

(viii) Na CCAÇ 3 ele conseguiu convencer o capitão a arranjar mais um vagomestre: quando um ia a Guidage buscar os abastecimentos, ficava outro em Binta: tudo era conferido à partida e à chegada; ele não se queixa, na CCAÇ 3, teve uma comissão descansada;

(ix) Ouviu falar da história do Cap Luis Rei Vilar, da CCAV 2538, mas não sabe mais do que os boatos que circulavam; já conhecia aquele oficial deste Estremoz; achava que se devia pôr uma pedra no assunto;

(x) Tem, o contacto da Manuela Gonçalves (Nela) e de vez em quando trocam mensagens; o email dela é outro...

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3183: Tabanca Grande (85): João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539, 2540 e CCAÇ 3, Guiné 1969/71

(**) Último poste da série > 21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6203: Blogues da nossa blogosfera (35): Tabanca dos Melros, com sede no Choupal dos Melros, em Fânzeres, Gondomar, aberta a todos os ECUS, ex-combatentes do ultramar...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6981: Convívios (271): 10º Almoço de Confraternização da CCS do BCAÇ 1933


1. Ao publicarmos o convite e programa da festa desta CCS do BCAÇ 1933, verificamos que ainda não temos nenhum seu representante nesta nossa Tertúlia.
Assim, em nome do Luís Graça, Editores e demais tertulianos, aqui fica registado também um convite para que os seus elementos adiram às nossas “forças (des)armadas” desta Tabanca Grande.

Camaradas,

Aqui está um convite para o 10º Almoço de Confraternização da CCS do Bat. Caç. 1933.
O evento terá lugar no Restaurante-Marisqueira SOLMAR-CANAS, nas Caldas da Rainha. Rua Vitorino Fróis, nº40 (na estrada da Foz do Arelho).
No dia 25 de Setembro (Sábado) de 2010.

Com os nossos agradecimentos.
Um abraço.
PS: Para mais informações contactar: Vítor Lapa = Telm. 965 063 167
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:
Vd. também o último poste desta série em:

12 de Setembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P6978: Convívios (187): Tabanca de Guilhomil, Polvoreira, Guimarães, 30 de Agosto de 2010,com o Joaquim e a Margarida Peixoto (Luís Graça)




Guiné 63/74 - P6980: In Memoriam (52): O último voo de um anjo: Maria Zulmira André Pereira, enfermeira pára-quedista (1931-2010) (Giselda e Miguel Pessoa)



Maria Zulmira André  Pereira (1931-2010). Foto gentilmente cedida pela Rosa Serra.

1. Eis a triste notícia que nos chegou hoje, de manhã, através dos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa:

Data: 13 de Setembro de 2010 11:40

Assunto: Falecimento da Enfª Zulmira

Caros editores


Como ontem disse com muita sensibilidade uma camarada sua, igualmente ex-enfermeira pára-quedista, a Enfermeira Zulmira partiu, após doença prolongada.

Teve a felicidade de nestes últimos tempos se ver rodeada pelas amigas e ex-camaradas que solidariamente a acompanharam nesta difícil fase final da sua vida.

Sobre ela já a Enfª Rosa Serra teceu palavras elogiosas que deixavam transparecer as suas qualidades pessoais e profissionais. Desse texto tomo a liberdade de relembrar algo do que ali foi escrito:
"A Zulmira hoje, a esta distância da juventude de então, continua a ser um Ser Humano ainda mais maravilhoso, de sentimentos puros, que escuta as lamentações dos outros, mima a alma ferida de quem sofre, apazigua quando as emoções se revelam agitadas dos magoados pelas amarguras inesperadas da vida e sem se aperceber o quanto faz bem aos outros, continua a ser aquele anjo feito gente que se projecta no outro acreditando no ser humano, desculpando comportamentos e levando-nos a saber perdoar a quem nos ofende, de uma forma tão generosa e solidária que chega a ser comovente.

"Tem uma fé inabalável, que não impõe a ninguém, limita-se quando fala dela a dizer que Deus é seu amigo e que lhe pede para quando fizer a travessia (palavra dela) Ele esteja lá, para lhe dar a mão e que também gostava que a mãe e avó estivessem presentes para a acolher." (*)

Que descanse em paz.

Giselda e Miguel

PS - Informação adicional

A Zulmira tinha 79 anos. Nasceu em 19 de Março de 1931 em Santa Bárbara de Nexe, Faro. O corpo dará entrada na Igreja de S.Domingos de Benfica, em Lisboa, pelas 14H00, realizando-se ainda hoje a missa de corpo presente pelas 21H00. Seguirá amanhã para a sua terra natal, no Algarve, onde ficará sepultada.



Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio, do Mário Beja Santos > Representantes femininas da FAP - Força Aérea Portuguesa, que estiveram no teatro de operações durante da guerra do ultramar / guerra colonial. Este grupo de camaradas nossas, antigas enfermeiras pára-quedistas,  fez doações ao Museu, de grande valor museológico, documental e simbólico.  À esquerda, à ponta, a Maria Zulmira e a Rosa Serra; à direita, no outro extremo, a  Maria Arminda e a Giselda.  Das duas restantes camaradas, ao centro, não sei o nome (do que peço desculpa).


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio , do nosso camarada Beja Sanrtos > O Carlos Marques dos Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/70), cumprimentando a enfermeira pára-quedista, do 1º curso, 1961, Maria Zulmira André Pereira, que conheceu bem o TO da Guiné.


Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.

[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.]
_____________

Nota de L.G.:


Guiné 63/74 – P6979: Actividade da CART 730 do BART 733 (1): Parte 1 (João Parreira)


1. O nosso Camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissourã e Brá, 1964/66, enviou-nos uma mensagem, com a primeira parte da história da sua Companhia de Artilharia:


Camaradas,

A exemplo de camaradas de outras Companhias, inicio a seguir um breve historial do BArt 733, e em particular da CArt 730.

Batalhão de Artilharia 733 - I Parte

Unidade Mobilizadora do Batalhão: RAL 1

A concentração das Sub-Unidades do Comando do Batalhão teve lugar no Regimento de Artilharia Ligeira no. 1, a partir de 29 de Junho de 1964.

EM PERIGOS E GUERRAS ESFORÇADOS

Porta de armas RAL 1- Foto de L. F. Camolas

A instrução de especialidades teve lugar de 29 de Junho a 15 de Agosto de 1964, e a instrução de aperfeiçoamento operacional foi efectuada na Serra da Carregueira de 31 de Agosto a 15 de Setembro.

Antes da partida foram-nos concedidos 10 dias de licença registada nos termos do no. 22 do D.Lei 42.937.

No dia 6 Out64 os militares da CArt 730 apresentaram-se no R.A.L.1, tendo depois sido transportados em viaturas para o BC 5, em Campolide onde pernoitaram de 7 para 8 de Outubro, dia do embarque.

A CArt 731 foi transportada para o BC 7 onde pernoitou.

Unidade Mobilizadora

Em viaturas auto todas as Sub-Unidades do Batalhão se deslocaram para o Cais da Rocha de Conde de Óbidos onde se reuniram em 8 de Outubro de 1964.

Sem se efectuar qualquer desfile realizaram-se as cerimónias de despedida que foi presidida por Sexa o General Buceta Martins, Governador Militar de Lisboa, em representação de Sexa o Ministro do Exército.

Cais da Rocha de Conde de Óbidos

Cais da Rocha de Conde de Óbidos

Niassa – Armador CNN – construido 1955 e abatido em 1979.
Lotação para 644 passageiros e 132 tripulantes.

No dia 8 de Outubro de 1964 o n/m Niassa começou a embarcar o pessoal do Batalhão de Artilharia 733, no Cais da Rocha de Conde de Óbidos das 07H00 às 11H00 tendo zarpado às 12H30 para terras africanas como reforço à guarnição normal da Província da da Guiné.

Chegada a Bissau dia 13 de Outubro, desembarque dia 14.

Guiné: 13 Outubro 1964 a 14 Agosto 1966

Composição da Companhia de Artilharia 730

Devido ao enorme número de praças, indico apenas o nome dos oficiais e Sargentos bem assim como a composição da 1ª. secção, do 1º. Pelotão, ao qual pertenci.

1964 - Companhia de Artilharia 730 (BART 733)


Guião e Emblema da CART 730

Batalhão Artilhara 733 - Cmdt: Ten. Cor. Art. José da Glória Alves (substituido em 27/4/66 pelo Ten. Cor. Orlando Rodrigues da Costa).

Oficial de Operações: Cap. Art. Aníbal Celestino G. da Rocha

Oficial Reabastecimento: Cap. Art. José Lopes Rijo

Comdt Companhia 732 - Cap. Art. Guy Stélio Pereira de Magalhães

Comdt. Companhia 731 - Ten. Art. Mário Rodrigues de Oliveira Azevedo

Comdt. Comp. 730 (S.P.M. 2578) - Cap. Art. Amaro Rodrigues Garcia

Médico: Ten. Mil. Jaime Heitor Afonso

Capelão: Alf. Mil. Felisberto Moreira Maia

Enc. Secretaria: 1º. Sarg. Maurício Martins Clemente

Cmdt. S. Morteiros: 2º. Sarg. António Eusébio Francisco

Cmdt. S. LGF: 2º Sarg. José João Gregório Morais

Enfermeiro: Fur. Mil. João Manuel Zaupa da Silva

Man. Auto: Fur. Mil. Ilídio Barros dos Reis

Transmissões: Fur. Mil. Higino José Gama Passos

Vaguemestre: Fur. Mil. Nelson Correia Borges

Cmdt. 1º. Pel. Atir.: Alf. Mil. José Francisco Ferreira (OpEsp./Ranger - Mafra: Março/Maio e Penude: 3º. C2 – 04Mai a 07Jun64 )

Cmdt. 1ª Secção: Fur. Mil. João Severo Parreira (OpEsp/Ranger - idem), substituido pelo Fur. Mil. Fernando Pereira Gomes

Cmdt. 2ª. Secção: Fur .Mil. Amadeu Júlio Neves Cruz (minas e armadilhas)

Cmdt. 3ª. Secção: Fur. Mil. João Norberto Lopes Bragança

Comdt. 2º.Pelot. Atir.: Alf. Mil. Orlando Diniz S.Valdez

Cmdt. 1ª. Secção: Fur. Mil. José Joaquim Nunes da Venda

Cmdt. 2ª. Secção: Fur. Mil. José Adalberto Vasques Almeida

Cmdt. 3ª. Secção: Fur.Mil. Manuel Júlio Vira

Cmdt. 3º. Pelot. Atir.: Alf.Mil. João José Andrade Crespo

Cmdt. 1ª. Secção: Fur. Mil. Joaquim José de Almeida Prates, subsituido pelo Fur. Mil. Manuel de Almeida e Silva

Cmdt. 2ª. Secção: Fur. Mil. Manuel Alcides Pereira Pinho

Cmdt. 3ª. Secção: Fur. Mil. Cristiano da Silva Tavares

Cmdt. Pelot. Acomp.: Alf. Mil. Adalberto dos Santos Seco

Cmdt. S. Met. P. Acomp.: Fur. Mil. António Joaquim Morais Caldas

Composição 1ª. Secção do 1º. Pelotão:

Fur. Mil. João Severo Parreira (OpEsp/Ranger) -(Comandos-10Fev65)

273/64 - 1º Cabo – Francisco Dias
274 – Sold. José Maria de Oliveira
292 - Sold. António Paixão Ramalho “Monte Trigo” (Comandos - 14Jul65)
293 - Sold. João Maria Leitão (Comandos - “ “ “ )
294 - Sold. Francisco José C. Pires “Cobras”
295 - Sold. Armindo Jerónimo Barrelas
296 - Sold. Cândido Perna Tavares “República” ( Comandos – 14Jul65)
298 - Sold. Jacinto Manuel Guerreiro
317 - Sold. Custódio António Dias

Oficiais e Sargentos da Companhia Artilharia 730: (no n/m Niassa)
Esq/dir em pé: Alferes Adalberto Seco, Capitão Amaro Garcia, Alferes
Francisco Ferreira; Baixo: Alferes Orlando Valdez e João Crespo


Furriéis da 730 > Esq/dir > Zaupa, Parreira, Cruz, Almeida, Tavares e Vira


Furriéis do BArt. 733

Durante a viagem foram efectuados pelos Cmdts. Compª., de Pelotão e por Oficiais médicos vários assuntos:

  • Cuidados dedicar material guerra e fardamento;
  • Disciplina e segredo em relação às operações;
  • SIM – responsabilidade cada militar – normas acção;
  • Camaradagem, ajuda mutua e cooperação decorrer operações;
  • Cuidados com o tiro, consumo de munições e seu controlo rigoroso;
  • Vias hierarquicas; Gastos de dinheiro, possibilidade economias;
  • Higiene pessoal e colectiva; Profilaxia tropical indispensavel;
  • Conduta com as populações e soldados nativos;
  • Exibição de filmes e realizou-se um torneio de ténis de mesa e um torneio de tiro ao alvo.


O navio tinha bom aspecto e até achei confortável, já que não conhecia melhor poi as únicas viagens que tinha feito até então tinham sido nos cacilheiros.

Da viagem lembro-me apenas que numa certa madrugada acordei sobressaltado pois o meu corpo flutuou durante alguns segundos em virtude do mar estar picado e com grandes vagas.

Como a situação se prolongou por muito tempo já não consegui adormecer, e como a cama ficava junto a uma escotilha fiquei a olhar para as ondas.

A viagem do Niassa para a Guiné terminou hoje, dia 13 de Outubro de 1964, às 11h00, altura em que fundeou junto a Bissau, mas não atracou.

O desembarque iniciou-se às 12H00 do dia seguinte, e pelas 15H00 a CCS a CArt 731 e a CArt 732 tinham desembarcado, com excepção da CArt730 (SPM 2578) que não teve autorização para desembarcar nesse dia.

No entanto, e a pedido de vários oficiais foi dada autorização para irmos passar o dia a Bissau, mas com instruções para regressarmos ao navio à hora do jantar.

15Out64 – Às 13H00 todo o pessoal da CArt 730 transitou do n/m Niassa para uma embarcação “BOR”, que nos levou para a Ilha de Bolama.

Durante a travessia, a embarcação encalhou num banco de areia e ficou parada durante várias horas aguardando que a maré subisse.

Chegámos a Bolama às 19H00 e ficámos instalados no aquartelamento C.I.M. (Centro de Instrução Militar).

Nessa primeira noite ficámos logo com a ideia do tempo que iríamos suportar pois choveu torrencialmente.

O Comando do Batalhão - a CCS - as Cart 731 e 732, que tinham desembarcado no dia anterior efectuaram pelas 16H00 um desfile pela Avenida da República, perante as individualidads civis e militares e o Povo da Província, findo o qual ocuparam as seguintes instalações:

  • QG/CTIG (Bissau) - O Comando do Bt. - Ten. Cor. Art. José da Glória Alves
  • Granja do Pessube (Bissau)
  • A CCS - Cap. QSGE Francisco António Remondes até 28Dez64; depois foi para Brá, tendo o C.I.Comandos ficado sobre a sua dependência; em 21Jun65 transferiu-se de Brá para Farim;
  • O Pelotão de Sapadores reforçou as companhias operacionais 730, 731 e 732 com uma Secção.
  • O Pelotão de Sapadores era comandado pelo Alf. Mil. Luis Alexandre de Carvalho.
  • Na CArt 730 ficou o Fur. Leonel de Paiva Ribeiro, Cmdt. da 3a. Secção de Sapadores
  • Armazéns da Bolola (Bissau): O Comando, a CArt 731: - Ten. Art. Mário Rodrigues de Oliveira Azevedo
  • A CArt 732: - Cap. Art. Guy Stélio Pereira de Magalhães ficaram instalados nos...
  • No r/c. do QG (Bissau)
  • Io Comando, a Sec. Op., Inf., Reab. Pess., a C. Admin. e Secret. e em 29 Dez 64 mudaram-se também para Brá.
  • A todo o pessoal do Batalhão foram feitas microradiografias.

Missão do BArt 733 na zona de Farim:

CCS – Garante a defesa do aquartelamento e do Comando; colabora no plano de defesa da Vila de Farim;

A CArt 732 que está estacionada na zona de quadricula de Colina do Norte, garante a segurança dos itinerários:

Colina do Norte-Farim = até limite do Sector.

A CArt 731 executa operações na area de Farim e garante a segurança dos itinerários: Jumbembem; Dungal; Guidage; Binta = até limite do Sector.

A CArt 730: Do Cap. Art. Amaro Rodrigues Garcia, no CIM (Centro de Instrução Militar) em Bolama de 15 de Outubro a 11 Nov 64.

Aqui foi feita a instrução de adaptação às condições de clima e do terreno.

Neste período recebemos todo o material e em 6 dias alternados tivemos instrução de manejo da G-3, que ainda não havia sido dada e executámos sessões de tiro para nos adaptarmos às armas.

Oficiais e Sargentos sairam pela primeira vez em 23 de Outubro para executarem um reconhecimento à Ilha das Cobras.

No dia seguinte a Companhia em missão de patrulhas de reconhecimento teve contacto com o capim, a densidade do arvoredo e o tarrafo.

Apesar de todas as recomendações um soldado deixou disparar a sua arma, felizmente sem consequências.

Em 3 de Novembro a Companhia realizou a sua primeira missão junto do campo de aviação em virtude de se terem ouvido tiros suspeitos.

Por ser interessante envio a história do:

"Monumento” - Legenda original que o Duce, Benito Mussolini, mandou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama".

Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália".

Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil.

Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr.

Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz.

Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim.

Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama.

Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat.

É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado.

Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.

Saiu de Bolama em 11Nov64 e foi ocupar o “bivaque” de Bironque rendendo a CArt 731, com a finalidade de manter aberto o itinerário Mansabá-Farim.

23Nov64 - A Companhia regressou de Bironque e instalou-se em Bissau (Brá).

Em 8 de Dezembro saiu de Brá e foi instalar-se em Bissorã, onde ficou até 03Jun65, tendo depois sido substituida pela CArt 566.

Bissorã > Cmdt. Compª., Alferes Operacionais, Ten. Mil. Médico Heitor Afonso e Alf. Mil capelão Moreira Maia.

Uma das finalidades era a de reforçar as Companhias no Sector (BArt 645, com intervenções nos sub-sectores das CArt 643 e CArt 566) e permitir com mais facilidade o escoamento da mancarra da zona, para Bissau.

Tendo recebido verbalmente uma missão por dois meses o período arrastou-se quase a seis.

Por esse motivo surgiram vários problemas em consequência da determinação de todos nós de transportar por necessidade o mínimo de bagagem de Bolama como, fardamento, calçado e outros artigos.

Tendo saído de Bissorã a CArt 730 instalou-se no Aquartelamento dos Adidos em Brá Bissau de 06Jun a 11Jun65 tendo no dia seguinte ido estacionar na quadrícula de JUMBEMBEM, com a finalidade de render a CCav 488.

Garante a segurança dos itinerários: Jumbembem: Cuntima; Farim; Canjambari-Morocunda-Fajonquito = até limite do Sector.

A 730 mantém destacado em Canjambari/Morocunda 1 GComb, de rendição periódica.

(continua)

Abraço amigo,

João Parreira

Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 /BART 733 e do Grupo “Fantasmas”

_________
Nota de MR:

Este é o primeiro poste desta série.

domingo, 12 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6978: Convívios (270): Tabanca de Guilamilo, Polvoreira, Guimarães, 30 de Agosto de 2010,com o Joaquim e a Margarida Peixoto (Luís Graça)




A festa do carneirinho é uma tradição única no nosso país. Em Penafiel, o carneirinho é festejado na véspera o dia do Corpo de Deus. Em que consiste ? Nesse dia as crianças do 1º ciclo do ensino básico  (antiga 4ª classe) fazem um desfile,  ao longo das ruas de Penafiel. À frente seguem os bombos e os divertidos gigantones. Cada turma leva consigo um carneirinho, um anho,  enfeitado com flores de papel multicolores, oferenda ao seu(sua) professor(a)... Os miúdos vão vestidos com roupas tradicionais, levam bandeiras de papel e cartazes com frases alusivas aos professores. Desfilam entoando canções feitas por eles sobre o carneirinho, a escola e os professores. E no passado, a palmatória... Como recordam, aqui, os nossos amigos Joaquim e Margarida Peixoto, ambos professores, residentes em Penafiel. Ele, membro da nossa Tabanca Grande.

Esta tradição remonta a 1880, segundo Teresa Soeiro, autora do livro Penafiel. Nesse ano “um grupo de alunos da Casa Escolar do Sr. Henrique de Carvalho resolveram brindar o seu professor com um carneiro e fizeram-no por modo vistoso (…) indo na frente montado num jerico um aluno tocando corneta, e o carneiro muito enfeitado entre duas alas de pequenos estudantes vestidos a capricho. Todos acharam graça à lembrança.”

A nossa amiga Guida lembra-se, do seu tempo de menina e moça, das quadras que os  alunos cantavam durante o desfile, frente à casa da professora:

Viva o Carneirinho, / Viva a Professora, / Morra a palmatória, / Morra!

... No dia 30 de Agosto de 2010, nasceu mais uma Tabanca, a de Guilhomil, nome da quinta do Joaquim, sita na freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães. Fui lá, com familiares, almoçar, em resposta a um convite a este simpatiquíssimo casal de quem,  eu e a Alice,  já nos tornámos amigos.


 Vídeo (3' 38''): Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes




Guimarães, berço da nacionalidade, património mundial da humanidade... preparando-se para ser  a Capital da Cultura 2012...


Guimarães > Centro histórico, zona intra-muros (Classificada como património mundial da humanidade)  > Os antigos paços do concelho




Guimarães > Centro histórico > O célebre Largo da  Oliveira...



Guimarães > Centro histórica > Cada recanto, um encanto...



Guimarães < Polvoreira >  Quinta de Guilamilo, doravante Tabanca de Guilamilo ... A nobreza do granito esconde um antigo convento, de cuja história se sabe pouco... A casa está assombrada por vários fantasmas: o do Zé do Telhado, que a terá assaltado em emados do Séc. XIX; a de um frade que lá foi assassinado, possivelmente depois da extinção dos conventos em 1834... Mas foi lá que o Joaquim conheceu a Guida, numa festa que ele organizou depois do seu regresso da Guiné, creio que na passagem de ano de 1974...


Em casa é em U... Um pormenor do pátrio exterior, visto do 1º piso...


Vista para o pátio de entrada da quinta e da casa...


A belíssima cozinha do convento, que chegou a ter três fornos... Restam agora dois...


O oratório... e alguns dos livros que sobreviveram ao passar dos anos...


Fazendo as honras à casa: o Joaquim é exímio na arte de bem receber... O Joaquim e a Guida fazem, de resto,  uma belíssimo par.


Ainda em obras, a casa (o casarão) é um encanto... Da direita para a esquerda, o Joaquim (que a Guida trata por Carlos), a Alice, e os meus cunhados (e sócios de A Nossa Quinta de Candoz) Gusto e Nitas.


Vamos lá então ao cabritinho... com o estômado já bem composto pelas magníficas entradas confeccionadas pela Guida... Os vinhinhos eram verdes, monocastas, não da quinta (que produziu 40 pipas no tempo do pai do Joauqim) mas da  Região Demarcada dos Vinhos Verdes: um azal, outro avesso...À mesa estavam apenas, além dos anfitriões, a minha mulher Alice, e os meus cunhados, Ana Carneiro e Augusto Soares... Foi uma tarde de amena cavaqueira... Ainda iríamos depois à Penha (Guimarães) e ao Santuário de São Bento (Vizela)... Com esta história regressámos, eu e a Alice, a Candoz (e os meus cunhados ao Porto) já no dia seguinte...




A Guida, aliás Margarida... que na infância viveu em Angola.


Depois de uma magnífica refeição, ficámos os dois, eu e o Joaquim, a lembrar as coisas e as loisas da Guiné, com o Old Parr como digestivo...



 
A chave da nova Tabanca... de Guilamilo



O portal da casa do caseiro...



O velho brasão... A quinta foi herança do Joaquim, por via paterna... O pai foi nado e criado em Penafiel.




O senhor professor Joaquim Carlos Rocha Peixoto... ainda no activo...  A Guida já está reformada...

Recorde-se que era foi Fur Mil, da CCAÇ 3414, Sare Bacar, Cumeré, Brá, tendo estado no CTIG entre Julho de 1971 e Setembro de 1973.

A CCAÇ 3414 era uma companhia açoriana, comandada pelo Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria... Unidade mobilizadora, BII 17. O Joaquim era amigo do Fernando Ribeiro, morto já no final da comissão...Falámos disto, das peripécias da Guiné, das (des)venturas dos nossos camaradas (alguns velhos, gastos, doentes, solitários, e com dificuldades financeiras, garante ele que é um homem atento, observador e sensível). Falámos das nossas Tabancas, a Grande e a Pequena (a de Matosinhos, de que o Joaquim é presença habitual nos almoços de 4ª feira)... O Joaquim fez o antigocurso do magistério primário já depois de regressar da Guiné... A ele e à Guida o meu muito especial Oscar Bravo (obrigado) pela hospitalidade e a amizade com que me honraram, a mim, à Alice e aos meus cunhados.





Vizela > Santuário de São Bento, a 410 acima do nível do mar, ao pôr do sol... Dois camaradas da Guiné, Joaquim Peixoto e Luís Graça, os dois primeiros inscritos na Tabanca de Guilamilo (e não Guilhomil...). Obrigado, Joaquim, por esta bela jornada...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados

_______________

Nota de L.G.: