1. O nosso Camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissourã e Brá, 1964/66, enviou-nos uma mensagem, com a primeira parte da história da sua Companhia de Artilharia:
Camaradas,
A exemplo de camaradas de outras Companhias, inicio a seguir um breve historial do BArt 733, e em particular da CArt 730.
Batalhão de Artilharia 733 - I Parte
Unidade Mobilizadora do Batalhão: RAL 1
A concentração das Sub-Unidades do Comando do Batalhão teve lugar no Regimento de Artilharia Ligeira no. 1, a partir de 29 de Junho de 1964.
EM PERIGOS E GUERRAS ESFORÇADOS
Porta de armas RAL 1- Foto de L. F. Camolas
A instrução de especialidades teve lugar de 29 de Junho a 15 de Agosto de 1964, e a instrução de aperfeiçoamento operacional foi efectuada na Serra da Carregueira de 31 de Agosto a 15 de Setembro.
Antes da partida foram-nos concedidos 10 dias de licença registada nos termos do no. 22 do D.Lei 42.937.
No dia 6 Out64 os militares da CArt 730 apresentaram-se no R.A.L.1, tendo depois sido transportados em viaturas para o BC 5, em Campolide onde pernoitaram de 7 para 8 de Outubro, dia do embarque.
A CArt 731 foi transportada para o BC 7 onde pernoitou.
Unidade Mobilizadora
Em viaturas auto todas as Sub-Unidades do Batalhão se deslocaram para o Cais da Rocha de Conde de Óbidos onde se reuniram em 8 de Outubro de 1964.
Sem se efectuar qualquer desfile realizaram-se as cerimónias de despedida que foi presidida por Sexa o General Buceta Martins, Governador Militar de Lisboa, em representação de Sexa o Ministro do Exército.
Cais da Rocha de Conde de Óbidos
Cais da Rocha de Conde de Óbidos
Niassa – Armador CNN – construido 1955 e abatido em 1979.
Lotação para 644 passageiros e 132 tripulantes.
No dia 8 de Outubro de 1964 o n/m Niassa começou a embarcar o pessoal do Batalhão de Artilharia 733, no Cais da Rocha de Conde de Óbidos das 07H00 às 11H00 tendo zarpado às 12H30 para terras africanas como reforço à guarnição normal da Província da da Guiné.
Chegada a Bissau dia 13 de Outubro, desembarque dia 14.
Guiné: 13 Outubro 1964 a 14 Agosto 1966
Composição da Companhia de Artilharia 730
Devido ao enorme número de praças, indico apenas o nome dos oficiais e Sargentos bem assim como a composição da 1ª. secção, do 1º. Pelotão, ao qual pertenci.
1964 - Companhia de Artilharia 730 (BART 733)
Guião e Emblema da CART 730
Batalhão Artilhara 733 - Cmdt: Ten. Cor. Art. José da Glória Alves (substituido em 27/4/66 pelo Ten. Cor. Orlando Rodrigues da Costa).
Oficial de Operações: Cap. Art. Aníbal Celestino G. da Rocha
Oficial Reabastecimento: Cap. Art. José Lopes Rijo
Comdt Companhia 732 - Cap. Art. Guy Stélio Pereira de Magalhães
Comdt. Companhia 731 - Ten. Art. Mário Rodrigues de Oliveira Azevedo
Comdt. Comp. 730 (S.P.M. 2578) - Cap. Art. Amaro Rodrigues Garcia
Médico: Ten. Mil. Jaime Heitor Afonso
Capelão: Alf. Mil. Felisberto Moreira Maia
Enc. Secretaria: 1º. Sarg. Maurício Martins Clemente
Cmdt. S. Morteiros: 2º. Sarg. António Eusébio Francisco
Cmdt. S. LGF: 2º Sarg. José João Gregório Morais
Enfermeiro: Fur. Mil. João Manuel Zaupa da Silva
Man. Auto: Fur. Mil. Ilídio Barros dos Reis
Transmissões: Fur. Mil. Higino José Gama Passos
Vaguemestre: Fur. Mil. Nelson Correia Borges
Cmdt. 1º. Pel. Atir.: Alf. Mil. José Francisco Ferreira (OpEsp./Ranger - Mafra: Março/Maio e Penude: 3º. C2 – 04Mai a 07Jun64 )
Cmdt. 1ª Secção: Fur. Mil. João Severo Parreira (OpEsp/Ranger - idem), substituido pelo Fur. Mil. Fernando Pereira Gomes
Cmdt. 2ª. Secção: Fur .Mil. Amadeu Júlio Neves Cruz (minas e armadilhas)
Cmdt. 3ª. Secção: Fur. Mil. João Norberto Lopes Bragança
Comdt. 2º.Pelot. Atir.: Alf. Mil. Orlando Diniz S.Valdez
Cmdt. 1ª. Secção: Fur. Mil. José Joaquim Nunes da Venda
Cmdt. 2ª. Secção: Fur. Mil. José Adalberto Vasques Almeida
Cmdt. 3ª. Secção: Fur.Mil. Manuel Júlio Vira
Cmdt. 3º. Pelot. Atir.: Alf.Mil. João José Andrade Crespo
Cmdt. 1ª. Secção: Fur. Mil. Joaquim José de Almeida Prates, subsituido pelo Fur. Mil. Manuel de Almeida e Silva
Cmdt. 2ª. Secção: Fur. Mil. Manuel Alcides Pereira Pinho
Cmdt. 3ª. Secção: Fur. Mil. Cristiano da Silva Tavares
Cmdt. Pelot. Acomp.: Alf. Mil. Adalberto dos Santos Seco
Cmdt. S. Met. P. Acomp.: Fur. Mil. António Joaquim Morais Caldas
Composição 1ª. Secção do 1º. Pelotão:
Fur. Mil. João Severo Parreira (OpEsp/Ranger) -(Comandos-10Fev65)
273/64 - 1º Cabo – Francisco Dias
274 – Sold. José Maria de Oliveira
292 - Sold. António Paixão Ramalho “Monte Trigo” (Comandos - 14Jul65)
293 - Sold. João Maria Leitão (Comandos - “ “ “ )
294 - Sold. Francisco José C. Pires “Cobras”
295 - Sold. Armindo Jerónimo Barrelas
296 - Sold. Cândido Perna Tavares “República” ( Comandos – 14Jul65)
298 - Sold. Jacinto Manuel Guerreiro
317 - Sold. Custódio António Dias
Oficiais e Sargentos da Companhia Artilharia 730: (no n/m Niassa)
Esq/dir em pé: Alferes Adalberto Seco, Capitão Amaro Garcia, Alferes
Francisco Ferreira; Baixo: Alferes Orlando Valdez e João Crespo
Furriéis da 730 > Esq/dir > Zaupa, Parreira, Cruz, Almeida, Tavares e Vira
Furriéis do BArt. 733
Durante a viagem foram efectuados pelos Cmdts. Compª., de Pelotão e por Oficiais médicos vários assuntos:
- Disciplina e segredo em relação às operações;
- Cuidados com o tiro, consumo de munições e seu controlo rigoroso;
- Conduta com as populações e soldados nativos;
- Exibição de filmes e realizou-se um torneio de ténis de mesa e um torneio de tiro ao alvo.
O navio tinha bom aspecto e até achei confortável, já que não conhecia melhor poi as únicas viagens que tinha feito até então tinham sido nos cacilheiros.
Da viagem lembro-me apenas que numa certa madrugada acordei sobressaltado pois o meu corpo flutuou durante alguns segundos em virtude do mar estar picado e com grandes vagas.
Como a situação se prolongou por muito tempo já não consegui adormecer, e como a cama ficava junto a uma escotilha fiquei a olhar para as ondas.
A viagem do Niassa para a Guiné terminou hoje, dia 13 de Outubro de 1964, às 11h00, altura em que fundeou junto a Bissau, mas não atracou.
O desembarque iniciou-se às 12H00 do dia seguinte, e pelas 15H00 a CCS a CArt 731 e a CArt 732 tinham desembarcado, com excepção da CArt730 (SPM 2578) que não teve autorização para desembarcar nesse dia.
No entanto, e a pedido de vários oficiais foi dada autorização para irmos passar o dia a Bissau, mas com instruções para regressarmos ao navio à hora do jantar.
15Out64 – Às 13H00 todo o pessoal da CArt 730 transitou do n/m Niassa para uma embarcação “BOR”, que nos levou para a Ilha de Bolama.
Durante a travessia, a embarcação encalhou num banco de areia e ficou parada durante várias horas aguardando que a maré subisse.
Chegámos a Bolama às 19H00 e ficámos instalados no aquartelamento C.I.M. (Centro de Instrução Militar).
Nessa primeira noite ficámos logo com a ideia do tempo que iríamos suportar pois choveu torrencialmente.
O Comando do Batalhão - a CCS - as Cart 731 e 732, que tinham desembarcado no dia anterior efectuaram pelas 16H00 um desfile pela Avenida da República, perante as individualidads civis e militares e o Povo da Província, findo o qual ocuparam as seguintes instalações:
- Granja do Pessube (Bissau)
- A CArt 732: - Cap. Art. Guy Stélio Pereira de Magalhães ficaram instalados nos...
Io Comando, a Sec. Op., Inf., Reab. Pess., a C. Admin. e Secret. e em 29 Dez 64 mudaram-se também para Brá.
- A todo o pessoal do Batalhão foram feitas microradiografias.
Missão do BArt 733 na zona de Farim:
CCS – Garante a defesa do aquartelamento e do Comando; colabora no plano de defesa da Vila de Farim;
A CArt 732 que está estacionada na zona de quadricula de Colina do Norte, garante a segurança dos itinerários:
Colina do Norte-Farim = até limite do Sector.
A CArt 731 executa operações na area de Farim e garante a segurança dos itinerários: Jumbembem; Dungal; Guidage; Binta = até limite do Sector.
A CArt 730: Do Cap. Art. Amaro Rodrigues Garcia, no CIM (Centro de Instrução Militar) em Bolama de 15 de Outubro a 11 Nov 64.
Aqui foi feita a instrução de adaptação às condições de clima e do terreno.
Neste período recebemos todo o material e em 6 dias alternados tivemos instrução de manejo da G-3, que ainda não havia sido dada e executámos sessões de tiro para nos adaptarmos às armas.
Oficiais e Sargentos sairam pela primeira vez em 23 de Outubro para executarem um reconhecimento à Ilha das Cobras.
No dia seguinte a Companhia em missão de patrulhas de reconhecimento teve contacto com o capim, a densidade do arvoredo e o tarrafo.
Apesar de todas as recomendações um soldado deixou disparar a sua arma, felizmente sem consequências.
Em 3 de Novembro a Companhia realizou a sua primeira missão junto do campo de aviação em virtude de se terem ouvido tiros suspeitos.
Por ser interessante envio a história do:
"Monumento” - Legenda original que o Duce, Benito Mussolini, mandou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama".
Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália".
Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil.
Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr.
Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz.
Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.
O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim.
Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama.
Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat.
É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado.
Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.
Saiu de Bolama em 11Nov64 e foi ocupar o “bivaque” de Bironque rendendo a CArt 731, com a finalidade de manter aberto o itinerário Mansabá-Farim.
23Nov64 - A Companhia regressou de Bironque e instalou-se em Bissau (Brá).
Em 8 de Dezembro saiu de Brá e foi instalar-se em Bissorã, onde ficou até 03Jun65, tendo depois sido substituida pela CArt 566.
Bissorã > Cmdt. Compª., Alferes Operacionais, Ten. Mil. Médico Heitor Afonso e Alf. Mil capelão Moreira Maia.
Uma das finalidades era a de reforçar as Companhias no Sector (BArt 645, com intervenções nos sub-sectores das CArt 643 e CArt 566) e permitir com mais facilidade o escoamento da mancarra da zona, para Bissau.
Tendo recebido verbalmente uma missão por dois meses o período arrastou-se quase a seis.
Por esse motivo surgiram vários problemas em consequência da determinação de todos nós de transportar por necessidade o mínimo de bagagem de Bolama como, fardamento, calçado e outros artigos.
Tendo saído de Bissorã a CArt 730 instalou-se no Aquartelamento dos Adidos em Brá Bissau de 06Jun a 11Jun65 tendo no dia seguinte ido estacionar na quadrícula de JUMBEMBEM, com a finalidade de render a CCav 488.
Garante a segurança dos itinerários: Jumbembem: Cuntima; Farim; Canjambari-Morocunda-Fajonquito = até limite do Sector.
A 730 mantém destacado em Canjambari/Morocunda 1 GComb, de rendição periódica.
(continua)
Abraço amigo,
João Parreira
Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 /BART 733 e do Grupo “Fantasmas”
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Nota de MR:
Este é o primeiro poste desta série.