segunda-feira, 5 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13102: Os Nossos Cartazes de Propaganda (4): Parte IV (Fernando Hipólito): Na mata (no CTIG dizia-se "no mato"...) só há fome e doenças...




Cartaz nº 12


Cartaz nº 13



Cartaz nº 14



Cartaz nº 15


Cartazes de propaganda das Forças Armadas Portuguesas, s/d, neste caso mais especificamente dirigidos a população que vivia "na mato" (na Guiné, dizia-se "no mato"), acentuando as virtudes da paz, sob o controlo das autoridadees portugueses, contra os males da "vida na mata" (doença, morte, terror imposto pelos "bandidos") ... Foram recolhidos entre 1969 e 1971, pelo nosso camarada Fernando Hipólito e por ele digitalizados. Tudo indica que tenham sido usados no TO de Angola. Na Guiné, aos novos aldeamentos chamavam-se "reordenamentos". E aos cartazes eram escritos em crioulo ou em português e crioulo.

Imagens: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Estes cartazes pertencem à coleção do Fernando Hipólito [, foto atual à esquerda, ].

O Fernando passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968, antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa empresa de tintas de impressão.

Estes cartazes foram recolhidos por ele entre 1969 e 1971, têm hoje um real valor documental e historiográfico. São documentos avulsos, que estamos a publicar ao longo de vários postes (*). Estetica e graficamente  eram, em geral, pobres. Não sabemos qual era a eficácia comunicacional destes cartazes: presume-se que fosse baixa. Eram provalmente feitos por gente em Lisboa que pouco ou nada comnhecida da realidade local...  O serviço de propaganda do exército tinha a obgação de fazer muito mais e melhor (*)

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Guiné 63/74 - P13101: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65). Parte I: Caió, Bula, Olossato, Fajonquito, meados de 1963...





Guiné > Região do Oio > CART 527 (1963/65) > Olossato > Julho de 1963 > Fardas novas, capacete de aço. os graduados equipados com a pistola metralhadora FBP: em primeiro plano, o fur mil António Medina (em cima); a secção do António Medina (em baixo) (montagem de L.G.)

Nota do AM: "Vasculhando os meus arquivos encontrei a foto que faço juntar, que diz respeito à mata em Olossato. Eramos todos maçaricos na altura, com a farda ainda nova. Quem tirou a foto não me lembro."... Está bastante estragada, do lado esquerdo, pelo que teve de ser recortada e editada... (LG).


Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de 21 de abril último, do nosso camarada da diáspora (, natural de Santo Antão, Cabo Verde, a viver nos EUA) António Medina, ex-fur mil inf, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65):

Olá, amigo Graça,

Terminei o meu artigo , conforme te informei havia de to enviar logo que possível para ser publicado no blogue. Lamento nao ter fotos da area de Olossato que pudessem sustentar esse meu escrito, mas procurei ser o mais realista possivel. Ficarei aguardando as tuas noticias.


Um abraco camarada e amigo.


2. Resposta de L.G.:

António: Que memórias frescas!... Vou publicar e arranjar fotos... Diz-me se vais dar continuidade, e quantos textos ainda queres escrever sobre a tua vida na tropa e na guerra, e em particular sobre a história da tua CART 527... O que me mandaste podia ser "partido" em dois...Temos que fazer render o peixe... Mas, pelo que sei, tens mais histórias na forja... Vou abrir uma série, "De Lisboa a Bissau, passando por Lamego"... O início da guerra no TO da Guiné, em 1963, precisa de ser melhor documentado no nosso blogue... Vocês faziam coisas impensáveis no meu tempo (1969/71), só com um pelotão!... O que é feito do teu antigo comandante, o ex-alf mil Correia ? Tens notícias dele ?

Outra coisa: vê este documentário, de 1 hora, "Kolá San Jon é Festa di Kau Berdo", com cenas filmadas na Cova da Moura (Amadora), São Vicente e Santo Antão, a tua ilha, pode interesar-te. Foi realizado pelo Rui Simões, com produção da Real Ficção, em 2011... Está à venda em DVD:

Abraço grande. Luis

3. De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65): Parte I: Caió, Bula, Olossato, Fanjonquito, 1963

por António Medina

Cumprindo o serviço militar na Companhia de Caçadores 2, em Mindelo,  São Vicente, Cabo Verde, contando pelos dedos da mão os dias que já me faltavam para passar à peluda, inesperadamente fui mobilizado pelo RAL 1, de Lisboa, com instruções para me apresentar no Centro de Operações Especiais, em Lamego.

Deixei Cabo Verde naquela mesma noite no N/M Alfredo da Silva, revoltado e frustado por ver o meu tempo de serviço aumentar mais dois anos, e o perigo a que me iria sujeitar no teatro da Guerra. Como funcionário publico que era, tinha a garantia de retomar o meu emprego logo assim deixasse a tropa.

Fui então incorporado na CART 527. Se sucederam treinos variados, destacando a resistência física que foi a mais penosa e estafante, em especial quando se subia e se descia em cross a longa escadaria de Nossa Senhora dos Remédios. [vd foto a seguir].


Lamego: as célebres escadarias do Santuário
de N. Sra: Remédios. Foto: Wikipédia
A 29 de Maio deixámos Lamego e no dia seguinte, de Lisboa partimos para a Guiné, chegando a 4 de Junho em Bissau cerca do meio dia.

O sol era abrasador, o calor asfixiante, o suor escorria pelo rosto de todos, alguns sentindo ainda o mal estar do enjoo. Do navio atracado se via a banda militar, um primeiro sargento e seus “cometas” davam-nos as boas vindas à terra que se dizia ser portuguesa e que teríamos de defender com unhas e dentes até à última gota de sangue.

Estivemos duas semanas no Quartel de Amura. Nesse interim foi indicado Comandante da CART 527 o Capitão Antonio A. Varela Pinto que por sua vez dependeria do Tenente-Coronel Hélio Felgas do Batalhao de Bula [, BCAÇ 507]. O comando da companhia, o primeiro e o segundo pelotão ficariam sediados em Teixeira Pinto, o nosso terceiro pelotão em Caió e o quarto em Cacheu.

Em meados de Junho de 1963 deixámos Bissau a caminho de Teixeira Pinto, atravessámos o rio Mansoa pela jangada de João Landim. Foi o nosso primeiro contacto com o mato.

Chegamos à pequena vila de Caió onde se encontrou um pelotão independente que terminara a comissão e aguardava qualquer momento para o embarque de regresso. Como é óbvio, tinham eles alegria no rosto, enquanto mostravamos saudade, medo, preocupação e vontade de também querer partir.

Em principios do mês de Julho o inimigo já infiltrado se mostrava activo nas zonas Norte e Leste. Do Comando de Bula [, BCAÇ 507,] chegara em cripto instruções para o nosso Alferes Correia, que juntos com o quarto pelotão tomássemos o caminho de Bula prontos a entrar em acção (sic). 

Pela estrada fora um dos condutores do quarto pelotão adormeceu ao volante e o Unimog bateu numa árvore, devido a ferimentos graves o nosso Furriel Severino perdeu a vida, lembro-me de ter rezado baixinho para ele, fazendo o sinal da cruz antes do seu passamento.

Bula estava em pé de guerra com tropas chegadas de Mansoa
e outros quartéis, como reforço para a operação Morés.

Antes do Sol nascer,  e sob o comando do Tenente-Coronel Felgas,  partimos em coluna pelas estradas de Binar, Bissorã, Mansabá até chegarmos a Morés onde se dizia existir abrigos subterrâneos do PAIGC. Durante o percurso não houve contacto com o inimigo. Dois aviões Fiat lançaram foguetes para dentro do mato em Morés sem qualquer resposta, regressando à base em Bissau.

À tardinha foi então dada ordem de retirada para Bula, excepto ao nosso terceiro pelotão que. em vez, foi desviado para Olossato, na região do Oio, a reforçar a secção do furriel Campos que pertencia a uma companhia de Cavalaria, aquartelada em S. Domingos ou Farim.

A secção de Cavalaria ocupava um celeiro, porque o espaço não chegava para todos,  eu e o colega Fidalgo ficámos numa parte do edificio da Escola Primária. Coube-nos o chão cimentado que não era de todo mau para se passar a noite, mesmo assim alguns preferiram as carteiras da escola para que mesmo sentados tivessem algum descanso.



Guiné > Mapa da província >1961 > Escala 1/500 mil > No tempo em que um pelotão dava à volta a meio território, ou pelo menos, saía de Bissau, era colocado em Caió, dependente de Bula, ira reforçar o Olossato, participava numa operação no Morés  e ia acudir as gentes de Fajonquito... Estamos de meados de julho de 1963!.. Oficialmente a guerra tinha começado com uns tiros em Tite, no dia 23 de janeiro de 1963... Por sorte, ainda não havia minas... (LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


Batismo de fogo em Olossato e Fajonquito: início de uma guerra
Guiné, Região do Oio,
Olossato, 1963. CART 527. Fur mil
António Medina, equipado
de pistola metralhadora FBP



De madrugada fomos flagelados por um bando armado tentando atingir as nossas sentinelas, ao qual respondemos prontamente com o fogo das G-3. Não houve baixas.

De manhã reconhecemos a vila com casas cobertas de colmo,  outras com chapas de bidons e aluminio, formando uma pequena avenida. Deparamos com uma padaria pertencente a um casal libanês e mais abaixo, quase no principio da estrada que seguia para Farim, uma sucursal da Casa Gouveia.
Na quarta noite um guarda noturno da Gouveia nos informou que um grupo armado do PAIGC estava saqueando a empresa. Que alguns posicionaram-se ao longo da pequena avenida de Olossato entre as residências, para emboscar qualquer forçaa que se atrevesse a avancar.

O nosso Alferes determinou que eu saísse a pé com o guia por uma vereda que nos levaria às traseiras da Gouveia. O Furriel de Cavalaria que saisse alguns minutos mais tarde, de Unimog com metralhadora fixa pela avenida abaixo, então foram surpreendidos pelo nosso fogo cruzado

Constatámos no dia seguinte que o inimigo se retirou furtivamente no escuro da noite, deixando mercadorias ao abandono. Entretanto o casal libanês foi raptado e nunca mais se soube deles.

Destacados para Olossato vindos de Morés apenas com armas e munições, o que o Furriel tinha em stock não bastava para alimentar um pelotão por muito tempo. Por isso, o nosso colega Cruz,. desprezando o perigo,  saiu de Olossato a caminho de Mansoa à procura de mantimentos para voltar practicamente de mãos vazias, apenas com um saco de arroz e algumas folhas de bacalhau.



Guiné > Região do Oio > Olossato  > 1958 > O senhor Reis, da Casa Gouveia.  Foto nº 2267,  do nosso camarada   Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, NhacraQuinhamel, Binar, Teixeira PintoEncheia e Mansoa, 1963/65).

Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Aliás, o colega Cruz durante o seu caminho para Mansoa viu passando em certa érea algo estranho, árvores caidas atravessando a estrada, cratera de minas que explodiram e sangue, mais tarde confirmado que naquela madrugada a tropa de Mansoa caira numa emboscada com muitas baixas.

À tardinha, um dos guardas do Posto Admninistrativo acabara de chegar dando-nos a notícia que um grupo armado do PAICG esteve na tabanca de Fajonquito, aliciando, intimidando e recrutando pessoal, onde decapitaram dois dos habitantes que, para eles,  eram supostos colaboradores da tropa colonial.

O nosso alferes resolveu fazer um reconhecimento à tabanca no dia seguinte de manhã cedo. Connosco levámos alguns batedores com catanas e que iriam à frente em linha, abrindo caminho naquele mato cerrado cheio de espinheiras. Tivemos de atravessar uma bolanha de arroz, com água até aos joelhos,  para que se chegasse a Fajonquito.

A tarefa não foi facil, já  cansados avistámos a tabanca de Fajonquito, em terreno descoberto,  cultivado de mancarra à volta. O inimigo nos surpreendeu,  abrindo fogo do lado direito do terreno onde começava a mata, redireccionámos os nossos homens e contra-atacámos com as G-3, o furriel de cavalaria com a bazuca e o morteiro. O tiroteio durou algum tempo, depois fugiram deixando a minha secção com duas baixas sem gravidade.

Devo realçar o sangue frio do 1º cabo aux enfermagem  que mesmo debaixo de fogo não se poupou a cuidar daqueles feridos que mereciam receber os primeiros socorros, antes de serem evacuados para o Hospital de Bissau.



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1964/66 > Sérgio Neves e um camarada em cima de uma autometralhadora Daimler > Foto nº 15, do álbum fotográfico de Sérgio Neves (ex-fur mil, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), a falecido, irmão do nosso camarada Constantino (ou Tino) Neves.

Foto (e legenda): © Constantino  Neves (2010) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Mas aonde estaria o nosso Alferes Correia, que é feito dele ?

De inicio pensámos o pior, finalmente encontrámo-lo sentado no chão, abrigado em um monte de baga-baga. Como cristão que era, calmamente rezava seu terço. Sempre o trazia com ele, para fazer suas orações nas horas certas.

Em fins de Julho o nosso alferes nos informa que de imediato aprontássemos para o nosso regresso a Caió. É que o pelotão de Caió tinha recebido ordem de marcha e cabia agora a nós segurar aquela zona.

Euforicamente arrumámos o nosso material, tomámos as viaturas e partimos em alta velocidade pela estrada fugindo a qualquer emboscada que se avizinhasse, passando por Mansoa e Bula até chegarmos a Caió,  sãos e salvos. Olossato ficara para trás mas serviu para nos mostrar a determinação do inimigo em querer lutar pela sua ideologia e futura independência.

Doente e dando sinais de um certo desiquilíbrio,  o que na altura bastante lamentámos, o nosso alferes foi levado a se apresentar na junta médica em Bissau, que o desqualificou do serviço e o evacuou para Portugal.


Guiné 63/74 - P13100: Notas de leitura (586): "O Tráfico de Escravos nos Rios da Guiné e Ilhas de Cabo Verde (1810-1850)", por António Carreira e "Mário Soares e a Revolução", por David Castaño (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
António Carreira é um nome incontornável de toda a historiografia da Guiné portuguesa.
Neste seu trabalho publicado em 1981, de forma esquemática dá-nos um quadro das últimas décadas do comércio negreiro, e quando chegou o seu termo qual foi o profundo impacto que teve nas economias de Cabo Verde e dos rios da Guiné.
Com base nestes elementos, pode igualmente estender-se o estudo às consequências do “povoamento” cabo-verdiano no espaço guineense, agora direcionado para a economia agrícola.

E sugere-se a leitura de um livro que adapta a tese de doutoramento de David Castaño para se ter uma visão integrada, do lado português, do conjunto de vicissitudes em que decorreu o processo de reconhecimento da independência da Guiné-Bissau onde Mário Soares teve um papel de indiscutível relevo.

Um abraço do
Mário


O tráfico de escravos nos rios da Guiné na 1ª metade do século XIX

Beja Santos

Devemos a António Carreira algumas das mais significativas peças da historiografia envolvendo a Guiné Portuguesa bem como Cabo Verde. No seu trabalho “O trafico de escravos nos rios de Guiné e Ilhas de Cabo Verde (1810-1850)”, edição do Centro de Estudos de Antropologia Cultural da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1981, que Carreira chama subsídios ou sucintas notas que possam contribuir para o esclarecimento de alguns dos variados e complexos problemas do tráfico negreiro na área geográfica situada entre o rio Senegal e a Serra Leoa, revelam-se algumas surpresas que os estudiosos não podem ignorar.

O proeminente investigador começa por recordar os pontos fundamentais da regulamentação do tráfico nos rios de Guiné e ilhas de Cabo Verde. Quando se fazia um contrato de arrendamento de uma área de tráfico ficava acordado que os navios que se dirigissem àquelas paragens teriam obrigatoriamente de registar a entrada na Alfândega de Ribeira Grande, de Santiago; e completada a carregação do navio, este era obrigado a voltar à Ribeira Grande, pagar os direitos devidos e depois seguir para os portos de destino. As autoridades das praças da Guiné ficavam, pois, limitadas a fiscalização e cobrança de propinas pela entrada de mercadorias, com este dinheiro pagavam-se os seus ordenados. Também deste modo se controlava a saída de escravos. A situação não era do agrado tanto das autoridades dos rios como dos traficantes, era uma operação morosa que agravava despesas e acarretava mortandade nos escravos. Mas a Coroa não transigia no papel da ilha de Santiago no apoio ao comércio dos rios. Com a Restauração, surgiu a ideia de se autorizar o despacho dos navios nos portos de carregamento, o que permitia o pagamento de direitos dos escravos em Cacheu destinados aos portos do Brasil. Esta medida concorreu para aumentar o tráfico clandestino que não era detetado pelas autoridades de Cacheu, Ziguinchor e Bissau, o resto era verdadeira “terra de ninguém”. A Praça de Cacheu recebeu um provedor da Fazenda e era obrigada a rigorosa escrituração. Traficantes sediados em Cabo Verde passaram a comprar escravos nos rios, levando-os para o arquipélago e depois exportando-os tanto para as Antilhas como para o Brasil. Acelerou a concorrência estrangeira, a legislação torna-se ineficaz, criou-se a Companhia de Cacheu e Cabo Verde e assim se levou por diante a construção da fortaleza de Bissau. Carreira enuncia a cobrança de taxa por escravo e a sua evolução. Compulsada a documentação, Carreira chegou a números de escravos destinados ao Maranhão, ao Pará e outras paragens, no século XVIII Cabo Verde deixara de servir de entreposto à exportação de escravos.

Pelo Tratado de Viena de 22 de Setembro de 1815 decretou-se a proibição do tráfico de escravos ao norte do Equador. Em 1836, a legislação portuguesa decretava “proibida a exportação de escravos, seja por mar, seja por terra, em todos os domínios portugueses sem exceção, quer sejam situados ao norte, quer ao sul do Equador”. Mas no período intercalar havia taxa de direitos de entrada no Brasil oriundos dos rios da Guiné e Cabo Verde, o que significa que os acordos eram para inglês ver. O que Carreira observa é que se assistiu a um declínio do tráfico lícito e ao agravamento da crise económica e financeira na região dos rios da Guiné e o arquipélago de Cabo Verde. Cabo Verde assistia ao definhamento dos pequenos comerciantes, em 1772-1774 houve uma grande fome, uma hecatombe que inviabilizou a recuperação económica. A economia cabo-verdiana teve de se recentrar no apanho da urzela e na tecelagem de panos. As crises sucediam-se e a Corte declarou-se incapaz de acudir à crise de negócios nas ilhas.

Nos rios da Guiné também o comércio em geral decaia, os Djilas tornaram-se figuras de indiscutível importância. É neste contexto que os espanhóis que sempre tinham fugido a embrenhar-se diretamente no tráfico de escravos, passaram a fornecer mercadorias diversas e dinheiro aos traficantes cabo-verdianos – era a corrida ao abastecimento de Cuba. Escreve Carreira: “De 1835 a 1839 circulavam na área, afetos ao tráfico clandestino de escravos, 55 navios registados em nome de cabo-verdianos (…) A um mesmo tempo nos rios da Guiné os conflitos entre as diversas etnias do território, longe de se aplanarem, prolongar-se-iam até aos últimos anos do século XIX, com as inevitáveis repercussões nas relações comerciais e sociais entre as gentes do mato e as das praças e presídios. Entre 1820 e 1850 estes núcleos eram, no Norte (Cacheu e Ziguinchor), liderados por algumas famílias abastadas e em Geba e Bissau treze negociantes principais".

Carreira dá-nos um quadro da atuação do coronel Joaquim António de Matos e de Caetano José Nosolini, dois dos principais negociantes de escravos da época, fica com má imagem dos diferentes locais onde se iam abastecer e em que quantidades. Nosolini será protagonista das incursões inglesas em Bolama em tempos de grande tensão em que a Grã-Bretanha se julgava com direito absoluto sobre a ilha de Bolama.

Por último, uma palavra sobre o combate ao tráfico a cargo dos cruzeiros britânicos e o aprisionamento de navios e de escravos. De 1835 a 1839, com escravos a bordo foram referenciados 36 armadores com um total de 55 navios, 39 foram condenados a penas de multa, com ou sem confisco do casco e carga; do conjunto de navios, 15 eram espanhóis e 40 portugueses. Havia também navios considerados “suspeitos” já que transportavam apenas mercadorias destinadas ao “negócio da escravatura” (aguardente, pólvora, espingardas, terçados, barras de ferro, tabaco, vinho…). Para além destas mercadorias, também estavam sujeitos a apresamento os navios que tivessem escotilhas com grades abertas; gargalheiras, algemas, anjinhos, cadeias ou outros instrumentos de contenção, quantidade extraordinária de selhas, gamelas ou bandejas para a distribuição do rancho, quantidade extraordinária de comida, etc. A confiar na documentação existente, o comércio de escravos reduziu-se bastante a partir de 1841 devido à vigilância dos cruzeiros britânicos. Carreira considera que encontrou uma reduzida documentação, deparou-se com lacunas nas fontes de informação e foi forçado a desistir do propósito do seu estudo.

Imagem retirada do site Revista de História.com.br, com a devida vénia

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Leitura recomendada: "Mário Soares e a Revolução", por David Castaño

“Este livro procura responder a uma simples questão: ao conseguir traçar o seu próprio destino terá Mário Soares contribuído para condicionar e alterar o destino coletivo?”.
Com base na sua tese de doutoramento, o historiador David Castaño procura apresentar um retrato rigoroso e objetivo da afirmação política de Mário Soares nos anos decisivos da revolução de Abril. Trata-se do livro “Mário Soares e a Revolução”, por David Castaño, Publicações Dom Quixote, 2013.

Em síntese, e exclusivamente para os propósitos desta nota, Castaño começa por descrever a formação ideológica de Soares, a sua passagem pelo PCP, as principais etapas da sua oposição ao Estado Novo, a formação da Ação Socialista (embrião do PS), o seu exílio em Paris, o regresso em 28 de Abril de 1974, momento em que se encontra pela primeira vez com Spínola que imediatamente lhe pede apoio para publicitar os propósitos do levantamento militar junto de instâncias internacionais, com relevo para os partidos da Internacional Socialista. É nessa ocasião que Soares pede a Spínola um esclarecimento que reputa de fundamental, quer conhecer o seu desenvolvimento, direito ou indireto, no assassinato de Amílcar Cabral. Spínola responde-lhe prontamente que não teve qualquer comprometimento com a morte de Cabral.

Soares começa o primeiro périplo europeu como enviado da Junta de Salvação Nacional. Após a formação do primeiro governo provisório inicia-se o processo que conduzirá à descolonização. Recomenda-se a todos os interessados por conhecer o enquadramento das diligências que levaram aos acordos de Argel e ao reconhecimento do PAIGC pelo Estado português que consultem esta obra entre as páginas 115 e 168, está aqui o registo das conversações, das tensões entre Spínola e Soares e as manobras diplomáticas desenvolvidas em vários continentes.

É indiscutivelmente uma súmula de factos que dão a visão do lado português desses momentos cruciais que conduziram de facto à independência da Guiné-Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13081: Notas de leitura (585): "O Pano Artesanal na República da Guiné-Bissau", por Isabel Borges Pereira Mesquitela (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13099: Parabéns a você (730): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13092: Parabéns a você (729): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

domingo, 4 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13098: Efemérides (153): Inauguração do Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar - 1961-1974 do Concelho de Matosinhos (3): Convívio na Sede do Núcleo da LC, em Leça do Balio (Carlos Vinhal)

INAUGURAÇÃO DO MEMORIAL AOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR - 1961-1974 DO CONCELHO DE MATOSINHOS 

DIA 25 DE ABRIL DE 2014 

3 - CONVÍVIO COM LANCHE E ANIMAÇÃO NA SEDE DO NÚCLEO DA LC

Terminada a sessão solene no Salão Nobre da Câmara Municipal, quem se havia inscrito previamente no lanche com animação, deslocou-se para a sede do Núcleo de Matosinhos da Liga do Combatentes, sediada em Leça do Balio, local onde havia de terminar, em grande, este dia 25 de Abril.

Antes do lanche ainda iriam decorrer duas cerimónias protocolares presididas pelo Tenente-General Chito Rodrigues.

A primeira, a inauguração de uma belíssima exposição de pintura do nosso camarada e sócio da LC, Major Simões Duarte, e uma exposição de Capelas em madeira, trabalho do nosso camarada e sócio da LC, José Francisco Oliveira (Mestre Cartaxo).
A propósito, vejam no Poste 3092, publicado no nosso Blogue em 24 de Julho de 2008, uma exposição mais completa das Capelas e Igrejas da Freguesia de Leça da Palmeira, executadas pelo Mestre Cartaxo.

A segunda, a entrega de Testemunhos de Apreço aos sócios da Liga com mais de 40 anos de associados. Entre estes, um sócio recebeu um Testemunho de Apreço por ter completado 50 anos.

Destes acontecimentos ficam alguns instantâneos.


Momento em que o Ten-Gen Chito Rodrigues inaugurava a exposição de pintura do Mestre Simões Duarte (Major Art.ª Ref)

De baixo para cima podemos apreciar: o Rio Leça em Santo Tirso; um retrato do compositor e maestro Fernando Lopes Graça; Vista do Porto de Leixões e um retrato do Prof. Joel Cleto

Mais obras expostas. O retrato sempre presente.

Nestes três quadro podemos apreciar o retrato do realizador Manoel de Oliveira; um incêndio na Petrogal e um auto retrato do artista enquanto oficial de Artilharia.

Esta obra teve direito a foto individual, com a devida permissão do seu autor, porque tem como título: "Guiné, maternidade".

 Dois dos trabalhos expostos pelo Mestre Cartaxo, a Capela de Monte Espinho, à esquerda, e a Capela da Quinta da Conceição, à direita. Nos seus interiores pode-se apreciar os pormenores mais ínfimos dos altares, bancos, etc.

O senhor Ten-Gen Chito Rodrigues com o Mestre Cartaxo junto de duas das Capelas expostas

Início da cerimónia de entrega dos Testemunhos de Apreço aos sócios com mais de 40 anos de associados da Liga dos Combatentes, com o Presidente da Direcção Central da LC no uso da palavra.

Destaco na foto o Comandante da Zona Marítima do Norte; o Coronel Barbosa Pinto da LC e o Major Ref Simões Duarte, um dos sócios da LC agraciado com um Testemunho de Apreço.

E porque também de pão vive o homem... e de momentos de alegria também... assim se fez.

Na hora do repasto. Mesa de honra. Se derem pela minha falta, nesta ou noutras fotos, é porque estava nas funções de fotógrafo.

Também houve animação com música ao vivo

O animador

Os mais e os menos animados

 Os mais animados são normalmente as mulheres, logo passemos isto para o feminino, as mais animadas

Como se pode ver pela amostra: Abel Santos e José Francisco Oliveira, os homens o que querem... bem... são menos animados e gostam mais de dançar sentados.

Estava tudo animado quando o senhor General Chito Rodrigues se lembrou que tinha de fazer mais de 300 quilómetros para regressar a Lisboa. Alto e pára o baile.

O senhor General procedeu ao corte do bolo comemorativo dos 5 anos do Núcleo de Matosinhos da Liga, e teve a gentileza de oferecer a primeira fatia a uma das senhoras que se encontrava junto dele.

O Bolo Comemorativo e a espada que o cortou

O Coro juntou-se informalmente e entoou, acompanhado pelos presentes, o Parabéns a Você, ao menino Núcleo de Matosinhos.

Foi esta a última missão do nosso Presidente antes de se despedir.
Agradeceu a forma como foi recebido, gostou de nos conhecer... e quem sabe se brevemente voltará a Matosinhos para novo convívio, já que este foi mais de trabalho do que de folia.

E nós dizemos, até breve senhor General, gostamos muito de o ter entre nós.
Carlos Vinhal

Fotos de Abel Santos, Carlos Vinhal e Ribeiro Agostinho
Texto e legendas das fotos de Carlos Vinhal
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Nota do editor

Vd. postes de:

2 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13084: Inauguração do Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar - 1961-1974 do Concelho de Matosinhos (1) (Carlos Vinhal)
e
3 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13091: Inauguração do Memorial aos Combatentes da Guerra do Ultramar - 1961-1974 do Concelho de Matosinhos (2): Sessão Solene no Salão Nobre da Câmara Municipal (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P13097: (Ex)citações (230): Estudos Gerais da Arrábida > A descolonização portuguesa > Painel dedicado à Guiné (29 de Julho de 1997) > Depoimento do general Bethencourt Rodrigues (Excertos, com a devida vénia...)



Página de rosto do 

Arquivo de História Social > Instituto de Ciências Socias da Universidade de Lisboa (o link original foi descontinuado: ver aqui em Arquivo.pt)


"O Arquivo de História Social publica nesta página uma série de entrevistas sobre a descolonização portuguesa de 1974/1975, fruto de um projecto do Instituto de Ciências Sociais apoiado pela Fundação Oriente. Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena que coordenou, entrevistaram grandes protagonistas desse processo: por um lado, governantes, chefes militares, dirigentes do MFA e outros que então actuaram na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, Angola e Moçambique; por outro lado, responsáveis metropolitanos ou íntimos colaboradores seus.

"Não procurando promover qualquer interpretação, chegar a juízos gerais ou encerrar os eventos abordados numa dada problemática, o grupo entrevistador foi seguindo os relatos e aceitando as visões dos seus interlocutores, embora não deixasse de lhes solicitar esclarecimentos por vezes incómodos." 



1. Estudos Gerais da Arrábida  > A descolonização portuguesa >  Painel dedicado à Guiné (29 de Julho de 1997)  > Depoimento do general Bethencourt Rodrigues

(disponívbel em Arquivo.pt: 


[ Excertos, com a devida vénia: corrigimos  o nome do general que é Bethencourt e não Bettencourt  (, foto à esquerda, na base naval do Alfeite, em 30/4/1974; foto do álbum da família do cor inf António Vaz Antunes, a quem a agradecemos a gentileza, na pessoa do seu filho Fernando Vaz Antunes).

[Como se vê, pelo depoimento, ele foi avaro (e por isso dececionante) em palavras e emoções no que respeita ao "assalto" ao seu gabinete, na Amura. ] (*)

(…) Luís Salgado de Matos:

Passando agora para a Guiné. O sr. general chegou a organizar algum Congresso do Povo?

General Bethencourt Rodrigues: 

Sim, o quinto. Foi até o acontecimento político-social mais marcante do meu mandato como Governador. Para sua informação, eu descrevo isso com algum detalhe no depoimento que o Paradela de Abreu me solicitou em tempos, Vitória Traída. Mas houve também os congressos regionais, de onde eram cooptados os delegados para o Congresso Provincial.

Tudo isso movimentou na altura milhares de pessoas, completamente à margem do PAIGC.

Manuel de Lucena: 

Mas essa não interferência do PAIGC era deliberada por parte deles…

General Bethencourt Rodrigues: 

Incapacidade militar, meu caro amigo!

Luís Salgado de Matos: 

Havia alguma reflexão no Estado Maior sobre a táctica que o general Spínola estava a desenvolver na Guiné?

General Bethencourt Rodrigues: 

Ele fazia a sua política, era lá com ele. Cada um tinha as suas características próprias. Volto a repetir: os comandantes militares gozaram sempre de uma larga autonomia.

Quando cheguei à Guiné em 1973, habituado como estava à largueza de Angola, o que mais me impressionou foi a pequenez daquilo tudo. A Guiné é um país cuja área varia em função da maré!

Manuel de Lucena: 

Na Guiné, o sr. general chegou a pensar numa concentração do dispositivo?

General Bethencourt Rodrigues: 

Sim, planeava converter as 225 guarnições em 80 e tal. A dispersão é inimiga da eficácia. Mas já não tive tempo,

Manuel de Lucena: 

Por outro lado, a quadrícula dispersa é sinal de presença efectiva, possibilita o contacto directo com as populações…

General Bethencourt Rodrigues: 

É uma outra forma de ver as coisas. Simplesmente, havia que fazer uma opção.

Luís Salgado de Matos: 

Manteve o acordo do general Spínola com os Felupes, em que estes recebiam 100 escudos por cada cabeça de guerrilheiro abatido?

General Bethencourt Rodrigues: 

Não estava ao corrente desse acordo, mas se ninguém o denunciou…

Manuel de Lucena: 

Quando chegou à Guiné encontrou uma tropa bem preparada, motivada, com bons quadros? Faço lhe esta pergunta porque a ideia que normalmente se tem acerca do estado de espírito da nossa tropa na Guiné é a de uma desmoralização generalizada.

General Bethencourt Rodrigues: 

Sobre isso direi o seguinte: só se morre uma vez, não há mortes provisórias. Quando se combate com convicção e tenacidade, quando se tem a certeza de um trabalho bem feito, a motivação é coisa que não falta.

Manuel de Lucena: 

Mas o MFA na Guiné, ao nível dos quadros, aparentava estar bem organizado, tinha um número muito significativo de adesões. Qual era a sua percepção?

General Bethencourt Rodrigues: 

Não tive conhecimento disso, Que as condições eram terríveis, não contesto. Agora dizer que a tropa estava desmoralizada, de maneira nenhuma! Em Angola podia cumprir-se uma comissão alternando sítios fáceis com difíceis. Na Guiné não; vivia-se num sobressalto permanente. Por isso é que na Guiné as comissões duravam 21 meses e em Angola 24. Só quando os strelas entraram em cena é que as comissões passaram a 24 meses. O general Spínola deixou ficar os que lá estavam e aumentou o contingente com tropas frescas.

Manuel de Lucena: 

O 25 de Abril foi então uma surpresa para si?

General Bethencourt Rodrigues: 

Tanto foi que me assaltaram o gabinete! Embora quase tivesse assistido ao golpe das Caldas, quando vim a Lisboa em Março de 1974, não dei por nada. Quando a Revolução estalou, estava perfeitamente inocente.

Luís Salgado de Matos: 

O sr. general tinha confiança na tropa das informações? Na Marinha, onde fiz o meu serviço militar, corria que o Exército, na Guiné, estava infiltrado pelo PAIGC de alto a baixo.

General Bethencourt Rodrigues: 

Em geral tinha. Nas Informações trabalhava-se em estreita colaboração com a DGS, reconhecidamente competente nesse campo. O PAIGC, de resto, não tinha técnica para entrar um jogo desses.

Diz-se que um dos efeitos da contra-subversão é a lassidão, Mas a lassidão também os afectava a eles. O PAIGC não estava menos exausto que nós.

Manuel de Lucena: 

De qualquer forma, de todos os MFA's, não restam dúvidas de que o MFA da Guiné era o melhor estruturado. Basta atentar nos nomes proeminentes do 25 de Abril que saíram da Guiné. Se eles fossem fracos, o sr. general, no dia 25, ter-se-ia rido na cara deles e dado voz de prisão. Depois, o evoluir dos acontecimentos logo após o 25 Abril veio a demonstrar que na Guiné a vontade de regresso à Metrópole se sobrepunha praticamente atudo.

General Bethencourt Rodrigues: 

Olhe, como dizem os brasileiros, quando um general passa à reserva vira historiador. Foi o que sucedeu comigo. Reformado aos 55 anos, dediquei-me ao estudo. Pesquisei, li, meditei, E sabe a que conclusão cheguei? Que o país nunca teve um problema de defesa nacional em África. A tropa podia estar farta, mas obedecia. Faz parte da nossa natureza. A esse respeito nunca tive dificuldade - fui sempre obedecido. Raramente tive de usar de expedientes punitivos; escolhi sempre a via do exemplo: quando era preciso suportar dificuldades, eu fazia questão em suportá-las.

Quando estive em Lisboa em Março de 1974 - vim cá buscar 150 contos -, achei isto uma coisa horrorosa. Tinha havido a remodelação ministerial, a última do professor Marcelo. Senti um mal-estar generalizado, uma atmosfera pesada. Felizmente, o episódio da «brigada do reumático» apanhou-me já a caminho da Guiné.

Manuel de Lucena: 

Como foi a reacção ao golpe das Caldas na Guiné?

General Bethencourt Rodrigues: 

Irrelevante. O Ultramar ficava muito longe.

Luís Salgado de Matos: 

O facto do general Spínola ter saído após Guileje foi entendido como uma derrota? Não afectou as pessoas que lá estavam?

General Bethencourt Rodrigues: 

Note: o general Spínola esteve lá oito anos, fora nomeado no tempo do do Salazar. Eu até dizia: o Spínola não deve sair da Guiné senão por limite de idade ou de caixão. E, caramba, oito anos na Guiné é de morrer! A partir de determinada altura, admito que as coisas terão deixado de lhe correr de feição, nomeadamente porque o Governo não lhe dava todo o dinheiro que pretendia para a sua política de aliciamento das  populações.

Apesar de cada um ter a sua maneira de comandar, eu não enjeitei a sua política de melhoria desenvolvimento das populações autóctones. Mas com uma diferença: eles não me metiam a mão no bolso! Quer dizer; não lhes satisfazia todos os pedidos. Recordo-me de um dia ter  ido a uma sanzala e de um grupo de mulheres me ter pedido rádios. Vejam bem: rádios para falar com os maridos quando estes iam a Bissau! Não fui para a Guiné para agradar a toda a gente. Fui lá para cumprir o que devia ser cumprido.

Manuel de Lucena: 

Na conversa que teve com o professor Marcelo, antes de ir para a Guiné, não ficou com a sensação que a saída do general Spínola lhe causava a ele, Marcelo, um problema bicudo?

Luís Salgado de Matos: 

E a isso eu acrescento: a implicava a admissão da derrota de Spínola na Guiné?

General Bettencourt Rodrigues: 

Leiam o Depoimento do professor Marcelo Caetano. Ele narra a nomeação a reunião com os altos comandos.

Manuel de Lucena: 

E quando é nomeado para a Guiné tem outra entrevista com o professor Marcelo ...

General Bethencourt Rodrigues: 

Naturalmente. No entanto, o pretexto dessa conversa até foi outro assunto, designadamente, a negociação de um contrato publicitário entre a RTP e a Movierecord - eu nessa altura em administrador delegado da RTP. Só depois é que o Presidente do Conselho me assediou para a Guiné, onde a situação se deteriorara nos últimos tempos.

Luís Salgado de Matos: 

Mas porque é que saltaram a escala hierárquica e o escolheram a si? Não foi pela aura vitoriosa que trazia do Leste de Angola?

General Bethencourt Rodrigues: 

Sim, pode aceitar-se essa leitura.

Manuel de Lucena:

 Mas o sr. general Bethencourt e o sr. general Spínola são comandantes de estilos e escolas diferentes, não é assim?

General Bethencourt Rodrigues: 

O mais possível.

Manuel de Lucena: 

De resto, a «terceiro-mundialização» que o Exército português conheceu durante o PREC - e que se traduzia em ordens por despacho, ultrapassagem das hierarquias, etc. – não procedeu da organização do general Spínola na Guiné?

General Bethencourt Rodrigues: 

Mas note que, ao contrário do que muita gente pensa, o general Spínola não era assim tão popular na Guiné.

Manuel de Lucena: 

Quando fui subordinado do major Salles Golias, que servira sob as ordens do general Spínola na Guiné, e depois se tornou seu inimigo figadal recordo-me de ele ter dito que era capaz de tudo para evitar que o general Spínola, já depois do 25 de Abril, voltasse a pôr os pés na Guiné. O major Golias estava ciente que o general Spínola deixara uma multidão de indefectíveis, tanto cá como na Guiné.

General Bethencourt Rodrigues: 

Mas esses fiéis - o Monge, o Bruno, o Fabião, etc. - já haviam todos regressado quando fui para a Guiné. O sr. general Spínola, lamento dizê-lo, era muito faccioso. Para ele, quem não tivesse andado no Colégio Militar ou não fosse de Cavalaria era menos que zero.

Texto fixado por Pedro Aires Oliveira, a partir de notas suas e de  Fátima Patriarca.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13096: (Ex)citações (229): O MFA na Guiné-Bissau: comentário do ten cor ref Jorge Sales Golias sobre os acontecimentos de 26 de abril de 1974, em Bissau: o gen Bethencourt Rodrigues e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com deferência e cordialidade (Carlos Pinheiro / Bento Soares)

4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)

Vd. também:

1 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I

Guiné 63/74 - P13096: (Ex)citações (229): O MFA na Guiné-Bissau: comentário do ten cor ref Jorge Sales Golias sobre os acontecimentos de 26 de abril de 1974, em Bissau: o gen Bethencourt Rodrigues e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com deferência e cordialidade (Carlos Pinheiro / Bento Soares)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro [ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70, e nosso grã-tabanqueiro, foto à esquerda]

Data: 2 de Maio de 2014 às 23:35

Assunto: MFA na Guiné-Bissau


Camarigo Luis Graça, camarigo Carlos Vinhal


Perdoem-me,  os meus amigos,  mas sinto-me obrigado, mas também muito honrado, em transmitir-vos a mensagem abaixo do meu Comandante do STM em Bisssau, então Capitão Bento Soares, hoje Major General na Reforma sobre os dias 25 e 26ABR74.

Um abraço com amizade

Carlos Pinheiro


2. Mensagem de Bento Soares, maj gen  ref, e leitor do nosso blogue, e de quem não dispomo de nenhuma foto:

Caro amigo Carlos Pinheiro:

Como sabe,  tomei por seu intermédio conhecimento do Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, TO onde batalhamos no STM e por isso vejo sempre com agrado as historietas do Blog que regularmente fazem o favor de me enviar.

No último envio do blog deparei-me com o relato do Cor Vaz  Antunes sobre os dias 25 e 26 ABR74. Fiz então um reenvio para camaradas amigos meus que estiveram na Guiné.

Porque a todos interessa a verdade exacta sobre os documentos históricos (como é o caso daquele relato), envio-lhe um comentário do TCor Jorge Golias que viveu pessoalmente os acontecimentos narrados e, aliás, é citado no próprio relato.

Autorizou-me este oficial a fazer uso do seu comentário pelo que lhe pedia a fineza de o endereçar para os responsáveis do Blog, uma vez que o meu amigo é ali uma figura grada e conhecida.

Um abraço amigo
Bento Soares

3. Comentário ten cor ref Jorge Sales Golias Jorge Sales Golias, [ex-cap, eng trms, membro do MFA, Bissau,   adjunto do CEME, Gen Carlos Fabião - 1974/75, administrador de Empresas] [, foto à direita, cortesia da página Avenida da Liberdade, da associação 25 de Abril]

26 de Abril de 1974 em Bissau

O MFA resolveu actuar em face de uma escuta telefónica em que o senhor General Bethencourt Rodrigues deu ordem à PIDE para seguir os movimentos dos capitães do MFA em Bissau e pelo facto de não ter reconhecido a JSN [, Junta de Salvação Nacional], tal como já havia feito o Comodoro Almeida Brandão, comandante marítimo.

A entrada no gabinete do General comandante foi feita por oficiais desarmados que apenas lhe comunicaram que vinham depô-lo porque ele não reconheceu a JSN. Ele perguntou se se devia considerar preso e foi-lhe dito que não, que se considerasse detido em nome do MFA, e que preparasse a bagagem para embarcar para Portugal.

O Brigadeiro Leitão Marques dramatizou, dizendo que se solidarizava com o General e que queria que o fuzilassem. Foi esta a parte dramática e que teria sido bem escusada porque a intervenção do senhor Brigadeiro não tinha qualquer justificação. Tanto assim que o General comandante se levantou e, com toda a liberdade de movimentos, interpelou um a um os seus principais operacionais,  questionando-os por terem sido tão leais e agora estarem a colocá-lo naquela situação. Foi-lhe respondido que ele não soube assumir a posição que se esperava, naquela altura dos acontecimentos.

A carga dramática advém ainda do facto de todos nós considerarmos o General Bethencourt Rodrigues como um dos mais brilhantes do Exército, mas que na altura certa estava do lado errado da História.

Quanto ao senhor Coronel Vaz Antunes, soubemos no local que o mesmo tinha abandonado as instalações do Comando-Chefe na Amura sem autorização, dado que a PM [, Polícia Militar,] tinha ordens do Capitão Sousa Pinto, para não deixar sair nem entrar ninguém e receou-se que fosse ao COMBIS tentar obter meios para atacar os militares do MFA. Talvez por isso estava à sua espera um pelotão dos comandos africanos, mas esta parte eu só tomei conhecimento através do escrito no blogue Luís Graça [& Camaradas da Guiné].

En suma,  que fique claro que o senhor General Bethencourt e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com toda a deferência que lhes assistia e com a máxima cordialidade da nossa parte.

O capitão miliciano José Manuel Barroso (e não Alfredo Barroso) falou com o Comodoro Almeida Brandão, mandatado pelo MFA, porque era o único que o conhecia. A sua mulher, ao tempo, Dra. Emília Barroso, era professora em Bissau e foi depois distinta professora universitária em Lisboa.

O Tenente-Coronel Mateus da Silva foi indigitado pelo MFA para Encarregado do Governo, aceite provisoriamente pelo General Spínola, que ao tomar conhecimento dos factos sucedidos em Bissau o saudou e lhe disse que iria rapidamente nomear um substituto, que seria o Brigadeiro Carlos Fabião.

2 de Maio de 2014

Jorge Sales Golias

[Negritos do editor, L.G.]

[Vd. também Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril > J. Sales Golias > A descolonização da Guiné .]

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)

Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)


1. Conjunto de comentários, ao poste P13078 (*), subscritos por  do Luís Gonçalves Vaz.  professor do 2º/3º ciclos do ensino básico, em Vila Verde,  a residir em Braga, ativo ambientalista, membro da nossa Tabanca Grande, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo:


Para melhor comunicação, resolvi apagar o primeiro comentário e melhorar alguns pormenores, a saber:
Caros camarigos, tanto quanto sei (a ideia que ainda me ficou ao fim destes 40 anos), o "assalto ao gabinete" do Comandante em Chefe, general Bethencourt Rodrigues ... deve ter sido "muito desagradável",  já que decorreu de um Golpe Militar! 

E quanto a mim os oficiais revoltosos do MFA não admitiriam retorno, obviamente, estavam muito bem organizados, e deles faziam também parte alguns oficiais superiores, Majores e pelo menos um Tenente-coronel (que até seria familiar do então Comandante do CTIG, o sr. Brigadeiro Banazol, de que me lembro muito bem e até boleias me deu no seu Mercedes, entre a cidade de Bissau (Liceu Honório Barreto) e Santa Luzia, onde morava, mesmo em frente ao clube de oficiais.

Não entendo mesmo é a "destituição" do sr. Coronel António Vaz Antunes, muito menos pelas razões aparentes, que o documento da sua autoria nos dá, nomeadamente por questionar quem eram os representantes dos MFA… Haveria outras razões? Será que devido ás funções dele (comandante Interino do COMBIS) poderia “travar a evolução do golpe em curso? Brevemente deveremos saber mais, já que estes oficiais do MFA de então poderão “dar luz” a estas questões. Acho que será quase uma obrigação...

De qualquer forma, considero que, ao afastá-lo das suas funções (ao sr. cor Vaz Antunes), os representantes do MFA criaram um vazio na Defesa de Bissau: para todos os efeitos era ele quem estava à frente do COMBIS (Comando da Defesa de Bissau). 

Eu penso que em Bissau, nesta mesma altura, corremos alguns riscos de um ataque à cidade e aos QG (ainda que de baixo nível) ..... Eu estava lá e senti isso mesmo! Não “pânico”, mas havia muitos boatos que iriamos sofrer um “Ataque aéreo”, por exemplo! Mas no fundo eu senti-me sempre seguro, apesar desses mesmos boatos.

No entanto, fazendo agora uma análise (passado 40 anos), as quebras de "cadeias de comando", os saneamentos/afastamentos (alguns seriam imprescindíveis), a bandalheira nalguns sectores militares, etc., poderiam ter criado "graves prejuízos em termos de segurança". 

Tal não aconteceu, pois a necessária “Cadeia de Comando” reorganizou-se e foram tomadas “as medidas certas” para mantermos a “segurança" quer em Bissau, quer na gestão da frente de combate, que sei que aconteceu ainda durante uns tempos, antes de os nossos militares iniciarem convívios com os guerrilheiros do PAIGC.

Mas relativamente ao “Golpe em si, o de 26 de Abril”, que me fez levar a realizar estes artigos agora postados, felizmente tudo correu em Bissau sem sangue, nesse aspeto, foi à "boa maneira portuguesa", com brandos costumes! Sendo assim não fomos atacados pelo IN, pois,  se calhar, os seus “Serviços de Inteligência” (do PAIGC) não estariam a par dos “nossos golpes internos”, tal qual o general Bethencourt Rodrigues, que também foi apanhado de surpresa . 

Ainda bem, foi um “golpe palaciano”, sem fogo real, sem vítimas mortais, (já havia muitas nas várias frentes de combate) … e assim estou aqui, de boa saúde para poder contar alguns destes episódios, parte dos quais foram-me “avivados na memória” através da minha mãe, já que o meu pai, não falava sobre estes assuntos com os filhos …

Quanto ao "assalto ao gabinete" do CMDT CHEFE, alguns dos revoltosos teriam sido "menos corretos" com o Sr. General Bethencourt Rodrigues (segundo ele e outras opiniões...), já que “jovens capitães” teriam de ser “contundentes e muito firmes …. 

Para imporem uma destituição de UM GENERAL CMDT CHEFE com muita CLASSE e muita influência no meio dos seus homens (sempre foi pacífico que este general era muito admirado pela maioria dos seus oficias) e houve mesmo “aspetos dramáticos”, segundo o então capitão Jorje Sales Golias, um dos oficiais “revoltosos do MFA na Guiné”, ao ponto de o CEM/CTIG, que não fazia parte do MFA da Guiné ( mas com o qual acabou por se solidarizar naturalmente), se impor no sentido de que aqueles oficiais teriam de "respeitar o Sr. general" em todo aquele processo (repito que ele aderiu sem pensar muito), sob a pena de não aceitar continuar nas suas funções (acabou por vir a ser o CEM/CTIG e CCFAG do Comando Unificado, já que desde 17 de Agosto de 74, que oficialmente se constitui no TO da Guiné, um QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG, publicado em Ordem de Serviço do Comando Chefe.

O CEM/CCFAG já estava afastado (Coronel Hugo Rodrigues), o sr. Brigadeiro Leitão Marques (gostava de perceber a razão deste afastamento, já que o MFA da Guiné contava com ele!!!), o General Bethencourt Rodrigues, o Coronel António Vaz Antunes (Comandante do COMBIS),enfim todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau!

O 1º Comandante estava de licença, o segundo parece que também ..... Ficaríamos sob o Comando dos Comandantes da Marinha? Agora percebo melhor que "o melhor para mim e para outro dos meus irmãos” foi vir nos TAM [Transportes Aéreos Militares] logo no mês de Maio .... 

O Liceu Honório Barreto finalizou o ano lectivo em Maio/Junho. E o meu pai que levou três filhos menores para Bissau em 1973, contra muitas opiniões, tratou de nos enviar para a Metrópole logo a seguir ao 25 de Abril, talvez porque temesse (ou não?) "um ataque em massa a Bissau", não sei, mas não deve ter sido, pois o meu irmão mais pequeno ficou lá. 

Mas agora,  depois destas "análises após 40 anos", acho que fez muito bem, a "coisa podia ter corrido para o torto" .... já que o IN, o PAIGC poderia ter aproveitado …. Mas pelos vistos não tinham “competência militar” para isso, a “Nossa Máquina Militar estava Bem Montada e Oleada”, ainda que ao custo do sofrimento de muitos jovens Portugueses nas várias frentes de combate, neste TO (Teatro de Operações), sem dúvida alguma, o pior, o mais duro de todos os nos TO da altura.

Para finalizar, e ainda relativamente ao “Golpe Militar de 26 de Abril no TO da Guiné”, apenas gostaria de dizer que,  quanto eu sei, e aliás como o tenente-coronel Jorje Sales Golias diz “Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático” (, em comentário que o editor Luís Graça vai publciar e que teve a gentileza de antecipadamente me dar conhecimento), foi de facto em minha opinião, pois apesar das “cenas dramáticas”, que mais tarde ou mais cedo iremos ser esclarecidos, os “Altos Comandos deste TO” foram parcialmente substituídos, tendo o meu falecido Pai, na altura CEM/CTIG acompanhado o sr. general Bethencourt Rodrigues ao avião (penso que nesse mesmo dia ?) e despediu-se dele com um abraço, tendo o próprio general agradecido a “forma altamente digna com que foi tratado", e tanto quanto eu sei as queixas/mágoa que o sr. general se referia durante estes anos todos, se relacionava especificamente com “a forma como o destituíram naquela manhã no Comando Chefe”... 

Eu,  como não assisti a esses momentos dramáticos, mais não poderei dizer... (**)

Um abraço.

Braga, 3 de Maio de 2014

Luís Beleza Gonçalves Vaz

Guiné 63/74 - P12094: Efemérides (151): Dia da Mãe... Para celebrar, hoje como ontem, com poesia (Joaquim Luís Fernandes)

1. Mensagem do Joaquim Luís Fernandes, residente em Maceira, Leiria [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974] [, foto atual à esquerda]



Data: 4 de Maio de 2014 às 00:37

Assunto: Dia da Mãe- Celebrar com Poesia



Caros amigos e camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal

Saudações fraternas.

Hoje, domingo, 4 de maio é o dia que na nossa tradição cultural e religiosa dedicamos àquela Senhora que nos deu o ser, a nossa Mãe. A ela devemos grande parte do que somos e jamais conseguiremos saldar tão grande dívida. Para muitos de nós, Grã-Tabanqueiros, Ela já partiu para o Além. Resta-nos a saudade e as recordações de tempos vividos e nem sempre bem aproveitados.

Temos em comum a dor da sua separação, para alguns ainda recente, além desses dois anos de desterro na Guiné, em que sentimos o seu sofrimento,  mesmo quando ela se esforçava por nos encorajar para não agravar as nossas mágoas. São dignas e merecedoras do nosso tributo, as nossas Mães.

Assim, valendo-me de um dos livros de poesia, dos que me acompanharam durante a minha comissão na Guiné, este com poemas dedicados à Mãe e que lia com devoção, quase como rezando, destaquei 3 sonetos que gostaria de partilhar com a Tertúlia, como celebração deste dia e que envio em anexo.

O livro é: "A Mãe na Poesia Portuguesa"

É uma Colectânea de Poesias dedicadas à Mãe, em língua portuguesa, com coordenação de ABRANCHES BIZARRO . A Editora foi a Livraria Popular Francisco Franco - Lisboa 1971.

Se os Estimados Editores acharem por bem publicar estes poemas ficarei agradecido. Se não for oportuno e possível também não há problema. Ficarei contente por partilh´«a-los convosco.

E é tudo por hoje.

Abraços
JLFernandes
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CRENÇA

VEJO-TE, Deus! na folha do caminho
Quando, mal despontada, rente à haste,
É uma simples promessa, um bocadinho
De vida com destino que lhe baste.

Vejo-te, Deus! na ciência do cadinho
Onde as íris dos filhos me coraste
De azul... castanho... e eu nunca adivinho
Nem o sexo dos seres que me ofertaste.

Vejo-te, Deus! no amargo da descrença
Que teme ver-se escrava neste mundo,
Como se um Criador fosse uma ofensa...

Vejo-te, Deus! nos Céus que nunca vi,
Por detrás desse céu azul profundo,
Pois vejo minha Mãe ao pé de Ti!

LUÍS MANUEL CABRAL ADÃO (Séc, XX)


SONETO

LONGE de ti, na cela do meu quarto,
Meu copo cheio de agoirentas fezes,
Sinto que rezas do Outro-mundo, harto,
Pelo teu filho. Minha Mãe, não rezes!

Para falar, assim, vê tu! Já farto,
Para me ouvires blasfemar, às vezes,
Sofres por mim as dores cruéis do parto
E trazes-me no ventre nove meses!

Nunca me houvesses dado à luz, Senhora!
Nunca eu mamasse o leite aureolado
Que me fez homem, mágica bebida!

Fora melhor não ter nascido, fora,
Do que andar, como eu ando, degredado
Por esta Costa d’África da Vida.


ANTÓNIO NOBRE (Séc. XX)
«Só»

ÚNICA MÃE

Venho triste, e cansado, e insatisfeito.
Entrei na vida e já dela descreio.
Tu, que me deste o leite do teu peito,
dá-me agora o encosto do teu seio.

Se só o teu amor é bem perfeito,
para que andar, tremente de receio,
rolando de defeito para defeito
na busca vã da perfeição, que anseio?

Não. Quero descansar. Não posso mais
Limpa-me o pranto dos meus olhos tristes,
fecha na tua mão os meus ideais.

Tu, sim, que pelo muito que me queres,
nada queres! – Ó Mãe, se tu existes,
para que haverá na terra mais mulheres!?


FRANCISCO COSTA (Séc. XX)
«Pó»
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Nota do editor:
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Último poste da série > 2 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12787: Efemérides (150): Cufar, 2 de março de 1974: Horror, impotência, luto... (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)

Guiné 63/74 - P13093: Convívios (590): 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71), 31 de maio, em Canas de Senhorim, Nelas (Abílio Duarte)







1. Mensagem de ontem do nosso camarada Abílio Duarte [ex-Fur Mil Art da CART 2479 (que em JAN70 deu origem à CART 11 que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70]:

Amigo Luis,

Venho mais uma vez incomodar-te, para fazeres o favor de publicar no nosso Blog, a circular referente ao nosso almoço anual, para que todos os visitantes tenham conhecimento da mesma, assim como todos os  elementos da Companhia.


Os meus agradecimentos, e um grande abraço.

Abílio Duarte

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13089: Convívios (589): Concentração do pessoal do Agrupamento de Transmissões do CTIG, dia 24 de Maio de 2014 nas Caldas de Aregos - Resende (Álvaro Vasconcelos)

Guiné 63/74 - P13092: Parabéns a você (729): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 63/74 - P13086: Parabéns a você (728): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)