1. Dizia-nos o nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) na sua mensagem de 7 de Abril de 2015:
Queridos amigos,
Ao longo de décadas, e ao princípio por razões meramente profissionais, fui estabelecendo uma relação muito afetuosa com uma cidade de quem os eurocratas não têm uma opinião lisonjeira, alegando que ali chove a cântaros, o tempo sempre escuro, muita friagem, um centro histórico que à noite fica entregue aos turistas.
A verdade é bem diferente, Bruxelas tem lindos parques, guarda monumentos que nos lembram que a Bélgica, em 1900, era a quinta potência mundial, e a sua arquitetura ainda hoje espelha essa opulência de outrora e a vida farta do presente. Bruxelas oferece por metro quadrado mais vida cultural que Nova Iorque em museus, exposições, eventos étnicos espantosos, pois alberga gentes de mais de 120 países.
Esta é a Bruxelas com que ganhei intimidade e onde tenho a dita de guardar amigos indefetíveis.
Um abraço do
Mário
Bruxelles, mon village (1)
Beja Santos
Tenho uma relação inquebrantável com Bruxelas, mais positiva não podia ser. Aqui arribei em 1977, naquela ocasião em que se bateu à porta da então CEE. Tive direito a um programa para conhecer as instituições ligadas ao meu trabalho e foi nesses contactos que encetei esta duradoura amizade com André Cornerotte, mal sabia eu que viria a ser o meu guru, foi sobretudo graças a ele que vim a conhecer os fundamentos de uma política que dava, desde 1975, os seus primeiros passos. Com a adesão propriamente dita, passei a vir regularmente a Bruxelas, e a conhecer o país, muitíssimo belo e variado como o nosso. O André passou em minha casa a quadra do Natal e do Ano Bom, fui agora retribuir, fiquei alojado na Cité du Logis, em Watermael-Boisfort, um quase arredor, mesmo em frente à Floresta de Soignes. Espaço classificado, um património habitacional integrado, foi concebido como habitação social, e dá gosto ver como é um bairro bem mantido, conforme a imagem junta.
Estamos no dealbar da Primavera, o céu está plúmbeo, vou comprar vitualhas para preparar as coisas do jantar. Este é dos lagos de Watermael, árvores nuas que se projetam no espelho que parece oleoso. Dou meia volta e vou fazer uma passeata pela floresta, vou à espreita dos primeiros acordes da Primavera.
Considerado como um dos nomes mais sonantes da pintura belga, Rik Wouters (1882-1916) foi igualmente um nome determinante na escultura do seu tempo. Morreu tragicamente no exílio, nos Países Baixos. Os jardins de Bruxelas guardam recordações da sua mestria, aqui fica uma imagem captada em Watermael, e agora meto-me ao caminho para a floresta.
Ora cá está, a Primavera despertou, estes junquilhos parecem alvoroçados a anunciar o novo tempo, o sol abriu um pouco e vou tirar vantagem do que a floresta nos oferece, pois claro.
As nuvens parecem galopar, contentes, com esta nesga de sol. Aproveito os contrastes de luz, esta maquineta tem poucos recursos, mas não escondo a satisfação pelos efeitos obtidos. E ponho-me ao caminho, sempre são uns quilómetros por estes caminhos de terra batida, passarei por Rouge-Cloître, como fiz em Janeiro do ano passado, mais à frente conto.
O que nasce terá de morrer, esta árvore monumental estatelou-se no seu último suspiro, em pó se há de tornar. Mas há outras leis da natureza, este desfazer-se levando-nos à contemplação de um madeirame que se cobre de musgo e apodrece com encanto, embelezando a floresta, como numa pose melancólica. Prossigo o passeio, estou agora no Rouge-Cloître. E veio-me então à memória um textinho que escrevi depois dessa viagem de Janeiro de 2014 e enviei a alguns amigos, com o título:
David e Denise
Previa-se uma manhã sem chuva naquele dia de Janeiro, em Bruxelas. O André e eu acordámos num passeio pela Floresta de Soignes. Depois do pequeno-almoço, atravessámos o Boulevard du Souverain pouco passava das dez horas, vínhamos de Watermael-Boitfort, num instantinho desapareceu o bulício urbano, tínhamos à entrada do caminho um piso saibroso e alcantilado, por vezes passávamos pela berma para não nos enlamearmos, o sol timidamente começou por se infiltrar no arvoredo e desanuviar o céu de chumbo, tão frequente no período invernal.
Rondam os 5º, pelo que procuramos estugar o passo nesta magnífica floresta que tem milhares de hectares, que atravessam Bruxelas, Flandres e a Valónia, um arvoredo soberbo, um silêncio cortado pelo voo dos corvos, dos lugarejos limítrofes surgem alguns pedestres encasacados, por vezes com os seus cães, o André nem parece ter 80 anos, vai bem embiocado e conta o que a Floresta de Soignes oferece aos amantes da natureza, em vegetação, casas de campo, flora prodigiosa que não desperdiça aqueles terrenos húmidos e férteis. Aqui e acolá despontam florinhas bravias. Que bela manhã, que belo passeio nas curtas férias da visita que viera fazer aos meus amigos. Íamos com rumo certo, mesmo deambulando por veredas serpenteantes caminhamos em direção a um importante conjunto arquitetónico dentro da floresta, mas já no limiar de Auderghem, Rouge-Cloître, uma comunidade que foi de Agostinhos, tem pelo menos cinco séculos, belos edifícios cercados de lagos e charnecas, há para ali moinhos e terrenos agrícolas de que a comunidade se alimentava.
Vamos em conversa desopilante, aproveito para fazer perguntas sobre a Cité du Logis, o bairro onde vivem os meus anfitriões, casas classificadas do período entre as guerras, moradias com portadas verdes em ruas, todas elas, com nomes de pássaros. Quando chegamos a Rouge-Cloître a manhã aqueceu, paramos para ver os regatos que travessam prados encharcados, há para ali muitos lameiros, visitamos as velhas cavalariças, as dependências agrícolas, o espaço conventual em parte ocupado por artífices que se dedicam às artes do vidro, tecelagem, encadernação. E rumamos para Auderghem, já passa do meio-dia, apetece um bom café, contornamos Rouge-Cloître, ainda parámos para ver belas moradias antes de entrar nos arredores movimentados da velha comuna, outrora fora de Bruxelas. E entrámos no restaurante “Les Deux Petits Diables” que anuncia especialidades italianas, massas, saladas e carpaccio. Pedimos café no balcão, o patrão, sorridente convida-nos a sentarmo-nos, a clientela do almoço ainda não chegou, e tagarelamos os três.
O patrão chama-se David, é um quarentão ágil, enquanto conversa vai dando instruções, apercebe-se que estou curioso quanto à decoração, conta detalhes da compra destes objetos, muitos deles vieram de um empreendimento anterior, mantém a mesma sociedade com o mesmo sócio, está encantado com o bairro, tem fregueses fiéis, houve mesmo uma cliente que lhe deixou uma lembrança inesquecível, quando entrara no ramo da restauração, confessa, nunca suspeitara que há amizades insuspeitadas que superam a morte. Fez-se um silêncio constrangedor, senti-me picado pela curiosidade, de que amizade se tratava, que lembranças perenes ficaram? O patrão olha-me frontalmente, pergunta se temos ainda alguns minutos mais, claro que temos, não íamos sair daqui sem ver o enigma desvelado, e ele então desfiou a sua história.
“Aqui nas redondezas vivem muitos velhos, alguns deles completamente sós. É gente com meios, aqui não há pobreza, estas casas são dispendiosas. Mal abri o restaurante e um sábado, tocavam as badaladas do meio-dia no campanário, e entrou uma senhora, teria entre 85 e 90 anos. Pediu a carta, escolheu uma entrada, um prato principal, uma sobremesa, um copo de vinho e uma garrafa de água. Vinha só, a partir daí veio sempre só, nunca lhe conheci companhia. Uma mulher seca de carnes, mas sólida, desempenada, com um discurso muito lógico, cheia de lembranças, bem-humorada. Coisa rara, enquanto comia interpelava-me frequentemente, com o andar dos anos metia-se mesmo nas conversas entre mim e o meu sócio, gostava de dar opiniões. Nunca me disse adeus, disse-me sempre até breve, e nunca veio a não ser ao sábado, aparecia pontualmente ao meio-dia, gostava daquela mesa virada para o parque, almoçava, falava connosco e deixava-nos aí pelas três da tarde.
Mas houve um sábado que não apareceu. Fiquei inquieto, nunca a vira fazer férias, pensei que estava adoentada. Claro que eu sabia onde ela vivia, o nome da rua e o número da moradia. Fui lá e bati à porta, ninguém respondeu. Voltei para aqui. E passei uma semana à espera da minha cliente. Acreditem que tinha saudades, senti um vago mal-estar. E no sábado seguinte voltou a não aparecer. Pela uma da tarde, apoderou-se de mim uma enorme angústia, voltei lá a casa, não houve resposta e bati à porta dos vizinhos mais próximos. Quem me abriu a porta era uma senhora de idade, assim que a interpelei o rosto ficou sombrio, o olhar triste:
“A Denise morreu de noite, a meio da outra semana, a empregada deu com ela já morta na cama, quando chegou de manhã. O filho já tratou do funeral, estamos profundamente consternados, a Denise era uma vizinha amorosa, participava em várias iniciativas de solidariedade, visitava enfermos e gente que vivia tão só como ela. Perdemos uma grande amiga”.
Regressei melancólico, pus-me a trabalhar com uma grande mágoa, tinham sido pelo menos cinco anos a ouvir a porta abrir-se quando soavam as badaladas do meio-dia de sábado. O mais importante está para vir.
Passaram-se uns meses e um dia entra alguém que pergunta por mim. Pediu para nos sentarmos, escolhi a mesma mesa onde almoçava a Denise, não sei porquê. Tratava-se de uma herança, precisava de falar comigo em privado. E fui-o ouvindo de cara à banda, ele ia falando e tudo me parecia inacreditável:
“Sou o filho único da Denise, aquela sua cliente que apreciava muito a vossa comida e o vosso ambiente. A minha mãe deixou no testamento o automóvel para si. Escreveu-me uma cartinha a explicar que aquele automóvel só tinha valor simbólico, funcionava muito bem, estava afinado, mas tinha escasso valor comercial. Ela ouvira uma conversa entre si e o seu sócio, parece que os dois por vezes tinham que disputar a única viatura do restaurante. Ela pensou vezes sem conta que lembrança lhe devia deixar, achou que não tinha sentido oferecer uma jóia ou qualquer objeto decorativo, não conhecia os seus gostos, queria mesmo que fosse uma lembrança útil, que ficasse na memória. O carro está ali à porta, aqui tem a chave e toda a documentação. Agradeço-lhe a companhia que deu à Denise”.
O André e eu regressámos à Cité du Logis, tínhamos sopa, endívias com presunto e uns queijinhos para finalizar. Pela tarde, queria ir até ao centro da cidade. A história da Denise não nos largou, estávamos impressionados, há laços afetivos insondáveis. Mal sabia eu que essa tarde, num alfarrabista do Boulevard Anspach, a pretexto de umas grossas bátegas, iria encontrar, sublinhado e comentado o livro de contos “Objeto Quase”, de José Saramago, pertencera a alguém que se chamava Soraya, o texto todo anotado, mergulhei nas preocupações da leitora, muitas vezes ganhamos muito em reler um texto pela mão de outra pessoa. E por aqui nos ficamos.
Agora é que vou mesmo às compras e depois entrego-me aos desvarios da cozinha. Quero ir cedo para a cama, amanhã, haja friagem ou um sol retumbante, vamos de manhã ouvir música coral de Dietrich Buxtehude e Bach, o sublime. E depois percorrer à pata a Bruxelas típica, e a outra, com muita Arte Nova e Arte Deco. Depois conto.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14450: Os nossos seres, saberes e lazeres (85): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte III) (Luís Graça)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14471: Parabéns a você (890): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14458: Parabéns a você (889): Francisco Santiago, ex-1.º Cabo TRMS do BART 3873 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14458: Parabéns a você (889): Francisco Santiago, ex-1.º Cabo TRMS do BART 3873 (Guiné, 1972/74)
terça-feira, 14 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14470: Tabanca Grande (457): Alexandre Alberto Correia Cardoso, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969/70
1. Hoje apresenta-se nesta nossa Tabanca Grande o nosso Camarada Alexandre Alberto Correia Cardoso, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969/70.
Um abraço,
Nota de M.R.:
Camaradas, Fui mobilizado no R.I.10, em Fevereiro de 1969,com destino aos Adidos, tendo seguido para Encheia e, posteriormente, para Biambi.
Mais tarde tomamos o rumo a Buba onde fizemos escolta e segurança à capinagem.
Finda esta missão, seguimos para Inhala.
Eu era conhecido pelo “Cardoso Metralha”.Um abraço,
Alexandre Cardoso
Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 2464
2. Camarada Alexandre Cardoso, em nome do Luís Graça de demais Camaradas integrantes desta nossa Tabanca Grande. quero dar-te as boas-vindas.
Com a tua prestação são já 4 os elementos do teu batalhão de que temos aqui notícias.
Os outros 3 Camaradas são, como podes constatar no link:
- José Maria Claro, DFA, (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia) da CCAÇ 2464;
- António Nobre (ex-Fur Mil) da CCAÇ 2464;
- Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º) da CCS.
Resta-me desejar que se te lembrares de alguma(s) história(s) nos as envies bem com mais fotos que possuas no teu álbum de memórias.
Um abraço Amigo do MR.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
13 DE ABRIL DE 2015 > Guiné 63/74 - P14467: Tabanca Grande (456): Sebastião Ramalho Lavado, ex-sold comando, CCmds do CTIG, Grupo Apaches, Brá, 1965/66... Mais um camarada da diáspora: vive em em França há 45, está reformado.
13 DE ABRIL DE 2015 > Guiné 63/74 - P14467: Tabanca Grande (456): Sebastião Ramalho Lavado, ex-sold comando, CCmds do CTIG, Grupo Apaches, Brá, 1965/66... Mais um camarada da diáspora: vive em em França há 45, está reformado.
Guiné 63/74 - P14469: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (10): a lista final dos 200 magníficos, por ordem alfabética e por concelho de residência
Observ.
(*) Águeda, Almada, Barcelos, Covilhã, Espinho, Figueira da Foz, Loures, Marinha Grande, Óbidos, Oliveira do Bairro, Paredes, Ponta Delgada (RA Açores), Régua, Sta. Maria da Feira, Torres Vedras e Viana Castelo (n=32)
(**) Alvaiázere, Aveiro, Barcelos, Cadaval, Cantanhede, Coimbra, Condeixa, Gondomar, Guimarães, Ílhavo, Lamego, Mafra, Montemor- Velho, Nazaré, Ourém, Penamacor, Seixal, Tomar e Vila Real (n=19)
Distribuição dos inscritos por regiões (n=200)
Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)
OS 200 INSCRITOS PARA O X ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE - MONTE REAL, 18 DE ABRIL DE 2015
Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Acácio Dias Correia e Maria Antónia - Linda-a-Velha / Oeiras
Agostinho Gaspar - Leiria
Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões / Matosinhos
Alberto Godinho Soares - Maia
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria / Marinha Grande
António Augusto Proença e Beatriz - Covilhã
António Brito da Silva e Isabel - Madalena / V. N. de Gaia
António Dias - Porto
António Estácio - Mem Martins / Sintra
António Faneco e Tina - Massamá / Sintra
António Fernandes Neves - Setúbal
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António Joao Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António José P. Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
António Manuel Garcez Costa - Lisboa
António Manuel S. Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Lisboa
António Martins de Matos - Lisboa
António Osório, Ana e Maria da Conceição - V. N. de Gaia
António Paiva - Lisboa
António Pimentel - Figueira da Foz
António Santos Pina - Lisboa
António Santos e família (6) - Caneças / Odivelas
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Souto Mouro - Paço de Arcos / Oeiras
Arlindo Farinha - Almoster / Alvaiázere
Armando Pires - Algés / Oeiras
Arménio Santos - Lisboa
Artur Soares - Figueira da Foz
Baltazar Rosado Lourenço - Nazaré
Belarmino Sardinha e Maria Antonieta - Odivelas
Benjamim Durães, Fábio, Rafael, Marta, Tiago, Pedro e Sérgio - Palmela
Belarmino Sardinha e Maria Antonieta - Odivelas
Benjamim Durães, Fábio, Rafael, Marta, Tiago, Pedro e Sérgio - Palmela
C. Martins - Penamacor
Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo Jorge - Paço de Arcos / Oeiras
Carlos Alberto Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
Carlos Vinhal, Dina e 2 amigas- Leça da Palmeira / Matosinhos
Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo Jorge - Paço de Arcos / Oeiras
Carlos Alberto Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
Carlos Vinhal, Dina e 2 amigas- Leça da Palmeira / Matosinhos
David Guimarães e Lígia - Espinho
Delfim Rodrigues - Coimbra
Delfim Rodrigues - Coimbra
Eduardo Ferreira Campos - Maia
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto
Ernestino Caniço - Tomar
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto
Ernestino Caniço - Tomar
Fernando Gouveia - Porto
Fernando de Jesus Sousa - Lisboa
Fernando de Jesus Sousa - Lisboa
Gil Moutinho - Fânzeres / Gondomar
Hernâni Joel Silva e Branca - Lisboa
Hélder V. Sousa - Setúbal
Hélder V. Sousa - Setúbal
Idálio Reis - Cantanhede
J. L. Vacas de Carvalho - Lisboa
Joao Alves Martins e Graça - Lisboa
Joao Maximiano - Santo Antão / Batalha
Joao Sacoto e Aida - Lisboa
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
Joaquim Luís Fernandes - Maceira / Leiria
Joaquim Luís Mendes Gomes - Mafra
Joaquim Mexia Alves, Catarina e André - Monte Real / Leiria
Joaquim Pinto de Carvalho - Cadaval
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto e Ana Maria - Agualva / Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Alberto Pinto - Barcelos
José Almeida e Antónia - Viana do Castelo
José António Chaves - Paço de Arcos / Oeiras
José Augusto MIranda Ribeiro - Condeixa
José Barros Rocha - Penafiel
José Botelho Colaço - Lisboa
José Casimiro Carvalho - Maia
José Diniz Faro - Paço de Arcos / Oeiras
José Eduardo R. Oliveira - Alcobaça
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Leite e Ana Maria - Sintra
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Luísa - Régua
José Manuel Matos Dinis - Cascais
José Marques e Florinda - Paredes
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa
José Nunes Francisco e família (5) - Batalha
José Pereira Augusto Almeida - Lamego
José Ramos Romão e Emília - Alcobaça
José Vieira Machado - Lisboa
José Zeferino e Duarte - Loures
Juvenal Amado - Fátima / Ourém
Joao Alves Martins e Graça - Lisboa
Joao Maximiano - Santo Antão / Batalha
Joao Sacoto e Aida - Lisboa
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
Joaquim Luís Fernandes - Maceira / Leiria
Joaquim Luís Mendes Gomes - Mafra
Joaquim Mexia Alves, Catarina e André - Monte Real / Leiria
Joaquim Pinto de Carvalho - Cadaval
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto e Ana Maria - Agualva / Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Alberto Pinto - Barcelos
José Almeida e Antónia - Viana do Castelo
José António Chaves - Paço de Arcos / Oeiras
José Augusto MIranda Ribeiro - Condeixa
José Barros Rocha - Penafiel
José Botelho Colaço - Lisboa
José Casimiro Carvalho - Maia
José Diniz Faro - Paço de Arcos / Oeiras
José Eduardo R. Oliveira - Alcobaça
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Leite e Ana Maria - Sintra
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Luísa - Régua
José Manuel Matos Dinis - Cascais
José Marques e Florinda - Paredes
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa
José Nunes Francisco e família (5) - Batalha
José Pereira Augusto Almeida - Lamego
José Ramos Romão e Emília - Alcobaça
José Vieira Machado - Lisboa
José Zeferino e Duarte - Loures
Juvenal Amado - Fátima / Ourém
Liberal Correia e Maria José - Ponta Delgada (RA Açores)
Lucinda Aranha e José António - Santa Cruz / Torres Vedras
Luís Duarte - Seixal
Luís Graça e Alice- Alfragide / Amadora
Luís Lopes Jorge - Monte Real
Luís Moreira - Mem Martins / Sintra
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Lucinda Aranha e José António - Santa Cruz / Torres Vedras
Luís Duarte - Seixal
Luís Graça e Alice- Alfragide / Amadora
Luís Lopes Jorge - Monte Real
Luís Moreira - Mem Martins / Sintra
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Manuel Domingos Santos - Leiria
Manuel Domingues - Lisboa
Manuel Fernando Sucio - Vila Real
Manuel Joaquim, Alexandra e José Manuel - Agualva / Sintra
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Luís Lomba e Maria Arminda - Barcelos
Manuel Ramos - Lisboa
Manuel Reis - Aveiro
Manuel Resende e Isaura - S. Domingos de Rana / Cascais
Mario Fitas e Helena - Estoril
Mario Vasconcelos - Guimarães
Miguel José Ribeiro Rocha e Olinda - Linda-a-Velha / Oeiras
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
Mário Gaspar - Lisboa
Manuel Domingues - Lisboa
Manuel Fernando Sucio - Vila Real
Manuel Joaquim, Alexandra e José Manuel - Agualva / Sintra
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Luís Lomba e Maria Arminda - Barcelos
Manuel Ramos - Lisboa
Manuel Reis - Aveiro
Manuel Resende e Isaura - S. Domingos de Rana / Cascais
Mario Fitas e Helena - Estoril
Mario Vasconcelos - Guimarães
Miguel José Ribeiro Rocha e Olinda - Linda-a-Velha / Oeiras
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
Mário Gaspar - Lisboa
Paulo Santiago - Aguada de Cima / Águeda
Raul Albino e Rolina - Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Ricardo Figueiredo e Cândida - Porto
Ricardo Sousa e Georgina - Lisboa
Rogé Guerreiro - Cascais
Rui Gouveia e Eulália - Leiria
Rui M. D. Guerra Ribeiro - Lisboa
Rui Pedro Silva - Lisboa
Rui Silva e Regina Teresa - Sta. Maria da Feira
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Ricardo Figueiredo e Cândida - Porto
Ricardo Sousa e Georgina - Lisboa
Rogé Guerreiro - Cascais
Rui Gouveia e Eulália - Leiria
Rui M. D. Guerra Ribeiro - Lisboa
Rui Pedro Silva - Lisboa
Rui Silva e Regina Teresa - Sta. Maria da Feira
Valentim Oliveira, Maria Joaquina, Cyndia e Carina - Viseu
Victor Tavares - Recardães / Águeda
Virgínio Briote e Irene - Lisboa
Vítor Caseiro e Maria Celeste - Leiria
Victor Tavares - Recardães / Águeda
Virgínio Briote e Irene - Lisboa
Vítor Caseiro e Maria Celeste - Leiria
A Comissão Organizadora
CarlosVinhal
Joaquim Mexia Alves
Luís Graça
Miguel Pessoa
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13 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14465: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (9): Em 2015, como era esperado mais ano menos ano, atingimos o limite físico da sala que habitualmente ocupamos, as duzentas pessoas.
Guiné 63/74 - P14468: Notas de leitura (703): Sinopse do livro "Guerra na Bolanha", por Francisco Henriques da Silva
1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 7 de Abril de 2015:
Meus caros amigos,
Não é usual e pode até parecer presunçoso que um autor se pronuncie sobre a sua própria obra. Todavia, tendo em conta que as recensões sobre o meu recente livro - “Guerra na Bolanha - de estudante, a militar e diplomata” - foram até à data escassas, decidi publicar uma sinopse sobre a obra, com um ou outro comentário, apenas para despertar a atenção e o interesse dos eventuais leitores. Entendi que devia, de algum modo, divulgar o que escrevi, em especial junto dos antigos combatentes e dos meus contemporâneos e amigos. Adianto que um ou dois excertos da obra já foram publicados neste blog.
O livro lançado pela Âncora Editora, tem o patrocínio da Liga dos Combatentes, da Comissão Portuguesa de História Militar, do Programa Fim do Império e da Câmara Municipal de Oeiras. Já se encontra disponível nas livrarias e pode também ser encomendado on-line.
Mais esclareço todos os interessados que em 5 Maio, pelas 18h00, no Palácio da Independência, ou seja na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no Largo de S. Domingos, em Lisboa será levada a efeito uma sessão de apresentação seguida de debate. A entrada é livre e oportunamente darei conhecimento por esta via de mais pormenores e avivarei a memória dos potenciais interessados.
Com um abraço cordial e amigo
Francisco Henriques da Silva
(ex-Alferes miliciano de infantaria da CCaç 2402
e ex-embaixador de Portugal em Bissau (1997-1999)
"Guerra na Bolanha"
À semelhança de muitos jovens da minha geração, fui alferes miliciano de infantaria na então Guiné Portuguesa, entre 1968 e 1970. 27 anos mais tarde fui nomeado embaixador de Portugal na Guiné-Bissau independente, onde assisti e intervim, como testemunha privilegiada e como mediador, na guerra civil daquele país entre 1998 e 1999, o que já descrevi numa minha obra anterior “Crónicas dos (des)feitos da Guiné” (2012).
Não é de mais salientar que se tratou de uma situação sui generis, na medida em que, tanto quanto sei, fui o único embaixador que exerceu a chefia de uma missão diplomática, num território onde havia previamente combatido como militar.
O presente livro assume um carácter marcadamente intimista e autobiográfico. Para alguns talvez demasiado intimista, quase roçando a linha vermelha do pudor. Mas trata-se, como escreveu o nosso camarada de armas Mário Beja Santos, do “crepúsculo dos combatentes” – ou seja, a nossa hora - em que podemos dizer tudo o que nos vai na alma: para nós, hoje, com a idade que temos, já não existem segredos, nem angústias. Somos transparentes e frontais. Chegou o momento de nos assumirmos plenamente, e com a coragem dos cabelos brancos.
Este livro refere-se a três momentos distintos, na vida de um jovem. Antes da guerra, ou seja, a dia-a-dia de um adolescente no Portugal dos anos 60 do século passado, da classe média urbana, que foi estudante e roqueiro, os seus hábitos, as suas leituras, o seu percurso académico e os respectivos namoros, até ao seu ingresso nas fileiras e as minhas primeiras experiências, como militar.
Durante a guerra, a confrontação com um cenário bélico real numa terra estranha consistiu num reality shock complexo - o quotidiano da luta, as condições de vida, os dramas humanos envolvidos, as questões psicológicas, enfim, tudo o que marca de modo indelével um jovem para sempre.
Depois da guerra, surge uma nova etapa: o regresso definitivo. Como se processou a reinserção na sociedade portuguesa dos anos 70? Que objectivos de vida tinha quando voltou: a retoma ou não dos estudos, o emprego, a vida sentimental e sexual, a diluição dos traumas de guerra? Que acolhimento lhe (nos) reservou o Portugal e os portugueses desse tempo?
Via de regra, a maioria dos autores menciona o que foi o conflito nas suas diferentes dimensões, por vezes, com uma incursão ou outra no passado anterior à ida para África, mas muito poucos mencionam a reintegração na sociedade que deixaram, aspecto que procurei abordar na minha perspectiva própria, com franqueza, sem subterfúgios e sem silêncios.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Abril de 1025 > Guiné 63/74 - P14466: Notas de leitura (702): "O Meu Avô Andou na Guerra", por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014 (Mário Beja Santos)
Meus caros amigos,
Não é usual e pode até parecer presunçoso que um autor se pronuncie sobre a sua própria obra. Todavia, tendo em conta que as recensões sobre o meu recente livro - “Guerra na Bolanha - de estudante, a militar e diplomata” - foram até à data escassas, decidi publicar uma sinopse sobre a obra, com um ou outro comentário, apenas para despertar a atenção e o interesse dos eventuais leitores. Entendi que devia, de algum modo, divulgar o que escrevi, em especial junto dos antigos combatentes e dos meus contemporâneos e amigos. Adianto que um ou dois excertos da obra já foram publicados neste blog.
O livro lançado pela Âncora Editora, tem o patrocínio da Liga dos Combatentes, da Comissão Portuguesa de História Militar, do Programa Fim do Império e da Câmara Municipal de Oeiras. Já se encontra disponível nas livrarias e pode também ser encomendado on-line.
Mais esclareço todos os interessados que em 5 Maio, pelas 18h00, no Palácio da Independência, ou seja na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no Largo de S. Domingos, em Lisboa será levada a efeito uma sessão de apresentação seguida de debate. A entrada é livre e oportunamente darei conhecimento por esta via de mais pormenores e avivarei a memória dos potenciais interessados.
Com um abraço cordial e amigo
Francisco Henriques da Silva
(ex-Alferes miliciano de infantaria da CCaç 2402
e ex-embaixador de Portugal em Bissau (1997-1999)
"Guerra na Bolanha"
À semelhança de muitos jovens da minha geração, fui alferes miliciano de infantaria na então Guiné Portuguesa, entre 1968 e 1970. 27 anos mais tarde fui nomeado embaixador de Portugal na Guiné-Bissau independente, onde assisti e intervim, como testemunha privilegiada e como mediador, na guerra civil daquele país entre 1998 e 1999, o que já descrevi numa minha obra anterior “Crónicas dos (des)feitos da Guiné” (2012).
Não é de mais salientar que se tratou de uma situação sui generis, na medida em que, tanto quanto sei, fui o único embaixador que exerceu a chefia de uma missão diplomática, num território onde havia previamente combatido como militar.
O presente livro assume um carácter marcadamente intimista e autobiográfico. Para alguns talvez demasiado intimista, quase roçando a linha vermelha do pudor. Mas trata-se, como escreveu o nosso camarada de armas Mário Beja Santos, do “crepúsculo dos combatentes” – ou seja, a nossa hora - em que podemos dizer tudo o que nos vai na alma: para nós, hoje, com a idade que temos, já não existem segredos, nem angústias. Somos transparentes e frontais. Chegou o momento de nos assumirmos plenamente, e com a coragem dos cabelos brancos.
Este livro refere-se a três momentos distintos, na vida de um jovem. Antes da guerra, ou seja, a dia-a-dia de um adolescente no Portugal dos anos 60 do século passado, da classe média urbana, que foi estudante e roqueiro, os seus hábitos, as suas leituras, o seu percurso académico e os respectivos namoros, até ao seu ingresso nas fileiras e as minhas primeiras experiências, como militar.
Durante a guerra, a confrontação com um cenário bélico real numa terra estranha consistiu num reality shock complexo - o quotidiano da luta, as condições de vida, os dramas humanos envolvidos, as questões psicológicas, enfim, tudo o que marca de modo indelével um jovem para sempre.
Depois da guerra, surge uma nova etapa: o regresso definitivo. Como se processou a reinserção na sociedade portuguesa dos anos 70? Que objectivos de vida tinha quando voltou: a retoma ou não dos estudos, o emprego, a vida sentimental e sexual, a diluição dos traumas de guerra? Que acolhimento lhe (nos) reservou o Portugal e os portugueses desse tempo?
Via de regra, a maioria dos autores menciona o que foi o conflito nas suas diferentes dimensões, por vezes, com uma incursão ou outra no passado anterior à ida para África, mas muito poucos mencionam a reintegração na sociedade que deixaram, aspecto que procurei abordar na minha perspectiva própria, com franqueza, sem subterfúgios e sem silêncios.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de Abril de 1025 > Guiné 63/74 - P14466: Notas de leitura (702): "O Meu Avô Andou na Guerra", por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014 (Mário Beja Santos)
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14467: Tabanca Grande (456): Sebastião Ramalho Lavado, ex-sold comando, CCmds do CTIG, Grupo Apaches, Brá, 1965/66... Mais um camarada da diáspora: vive em em França há 45, está reformado.
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > >4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (1)
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (2): O grupo Apaches, aque pertencia o Sebastião Ramalho Lavado.
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (3)
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (4) : Cap mil comando Saraiva_impõe os crachás_ao grupo Apaches
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Formatura (4)
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 4 de setembro de 1965 > Cerimónia de imposição dos crachás aos novos comandos > Desfile dos novos comandos depois da cerimónia de entrega dos crachás
Guiné > Região do Cacheu > CCmds do CTIG> Novembro de 1965 > Material capturado ao PAIGC pelo grupo Apaches., comandados pelo nosso grã-tabanqueiro, o 2º srgt comando Mário Dias.
Guiné > Brá > CCmds do CTIG > 20 de junho de 1966 > Fim da comissão
Fotos (e legendas): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.
I. Mensagem e fotos enviadas pelo Virgínio Briote em 30 de março passado:
Assunto - Sebastião Ramalho Lavado
Boa tarde, Camaradas
Lembro-me do nome do Sebastião Lavado, embora não tenha pertencido ao meu grupo [, que era os Diabólicos]. Anexo alguns nomes, faltam-me 4 ou 5 que ainda não descobri, do Gr Cmds Apaches, comandado na altura pelo então alf mil António Neves da Silva, hoje coronel reformado.
Anexo também algumas fotos daquele tempo, em que o Sebastião pode ver alguns dos seus camaradas de então e talvez se possa rever em uma ou outra imagem. A maior parte refere-se à imposição dos crachás em 4 de setembro de 1965, em Brá, com a presença do gen Schulz e do cmdt militar de então, cor Monteiro Guerra (?).
Duas outras das fotos que envio referem-se ao grupo Apaches em Bigene onde, numa acção comandada pelo notável sargento Mário Dias, em que o grupo entrou por um acampamento e capturou as armas que aparecem numa outra imagem.
Para o Sebastião Lavado um abraço e o reconhecimento por se ter lembrado dos camaradas dos comandos do CTIG (Brá, 1965/66).
Para o Sebastião Lavado um abraço e o reconhecimento por se ter lembrado dos camaradas dos comandos do CTIG (Brá, 1965/66).
II. Em 4 setembro de 1965 terminou o 2º Curso de Comandos do CTIG. Eis a relação dos nomes do Grupo Apaches:
1. Alf mil António Amadeu C. Neves da Silva / 2º Sargento Mário Dias
2. 2º Sargento Mário Roseira Dias (ex-”Camaleões”)
3. Furriel mil Carlos Alberto Correia da Silva (ex-”Camaleões”)
4. Fur mil João Severo Parreira (ex-“Fantasmas”)
5. Fur mil Fernando José Gomes Cordeiro
6. 1º Cabo José Maria Branco
7. 1º Cabo António Jacinto Rosário Moreira
8. 1º Cabo Manuel Xarepe (ex-“Fantasmas”, substituiu o Moreira)
9. 1º Cabo Carlos Alberto M. Messias
10. 1º Cabo Alberto Alves
11. Soldado Lifna Cumba (ex-“Camaleões”, morto em 19/10/66, ao serviço da 3ª CCmds)
12. Soldado Reinaldo Ângelo de Oliveira
13. Soldado Mário B. Henrique Dias
14. Soldado Rolando da Costa Martins
15. Soldado Jacinto da Conceição Venâncio
16. Soldado Sebastião Ramalho Lavado
17. Soldado Idílio Lourenço Filipe
18. Soldado José Alfredo Martins (ex-“Camaleões”)
19. Soldado Carlos Manuel Soares
20. Soldado Ilídio Manuel Faria Coelho
III. O nosso editor Luís Graça deu, de imediato, em 31 de março, conhecimento desta mensagem ao filho do Sebastião Ramalho Lavado e convidou o nosso camarada, que reside em França, a integrar o nosso blogue:
Cher ami: Voici des photos envoyées par le camarade Virginio Briote, commandant du groupe "Diabólicos" [Diaboliques], de la même compagnie des comandos de la Guinée portugaise (Brá, 1965/66)... Il est très heureux de savoir de nouvelles du camarade Sebastiao Ramalho Lavado, dont il se souvient bien!...
J'invite ton père à intégrer cette comunnauté virtuelle d' anciens combattants de la guerre en Guinée (1961/74)... J'ai besoin seulement de une photo actuelle de ton pére!...Je pense que ton père et ta famille vivent en France depuis beaucoup de temps... Et quelle est l' origine de ton père, au Portugal ? Tu pourrais nos renseigner un petit peut sur son histoire de vie... Bonne santé. Luis Graça
IV. O filho do Sebastião Ramalho Lavado respondeu-nos ontem, nestes termos:
Bonjour, monsieur, je vous envois une photo actuelle de mon pére, monsieur Ramalho Lavado Sebastião. Mon père vive en France depuis 45 ans. Il est marié depuis 47 ans à Rosa Maria Saraiva Lavado. Nous sommes 4 enfants, 3 garçons qui ont 44 ans, 41 ans, 42ans, puis une fille de 29 ans de la même épouse. Il est à la retraite depuis 3 ans, il a été maçon à son compte durant 42 ans. Il a 6 petits enfants entre 18 ans et 2 ans pour le plus petit. Merci beaucoup bonne journée.
Ramalho Lavado Sebastiao
Duas fotos recentes do novo membro da Tabanca Grande, Sebastião Ramalho Lavado, ex- sold coamndo, da CCmds do CTIG (Brá, 1965/66). Foram enviadas por um dos seus filhos que já há dias nos tinha contactado (*).
Vive em França há 45 anos., em Le Barcarès [ município situado no departemento dos Pirinéus Orientaos, região de Languedoc-Roussillon], ou seja, no sudeste, junto ao Mediterrâneo. Está reformado, foi pedreiro por conta própria durante 42 anos. É casado com Rosa Maria Saraiva Lavado. É pai de 3 rapazes e uma rapariga. Tem 6 netos. O contacto, por email, é feito através de um dos filhos, que escreve em francês. Temos o endereço postal e o nº de telefone do nosso camarada. Só não sabemos em que parte do nosso país nasceu...
Em nome do nome editor Luís Graça e demais equipa desta blogue, saúdo o nosso novo grã-tabanqueiro, que passa a ser o nº 678 (**). Agradeço igualmente ao Virgínio Briote as preciosas fotos, que nos mandou, dos valorosos comandos do CTIG (Brá, 1965/66).
Sebastião, as regras do nosso blogue constam da coluna do lado esquerdo. Este é um blogue de partilha de memórias (e de afetos) à volta da guerra colonial na Guiné, entre 1961 e 1974. Desejo-te muita saúde e longa vida. E felizes reencontros através do nosso blogue. Felicidades para a família.
À bientôt!
Carlos Vinhal
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 29 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14413: Em busca de... (233): Ramalho Lavado Sebastião, comando da CCmds de Brá, grupo Apaches (1964-66) procura camaradas do seu tempo...
(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14260: Tabanca Grande (455): José Júlio Dores Nascimento, ex-Fur Mil Art da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo, Quinhamel, 1969/71)
Guiné 63/74 - P14466: Notas de leitura (702): "O Meu Avô Andou na Guerra", por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Junho de 2014:
Queridos amigos,
É uma guerra contada às avessas, o narrador de sempre escolhe um interlocutor ingénuo, tenrinho, pronto a ouvir falar de fadas e lobos maus.
Tanto quanto sei, é o primeiro livro em que as façanhas bélicas são relegadas para anexo, incluindo o descritivo operacional. É uma imagem intencionalmente diferente da guerra, privilegia-se o tom caricatural, a ternura, no palco estão jovens irreverentes num teatro de guerra chamado Cabinda onde uma floresta portentosa, o Maiombe, pontifica, une e separa. Memórias redigidas com uma serenidade que assombra.
E faz pensar.
Um abraço do
Mário
O meu avô andou na guerra
Beja Santos
É um título claramente feliz, sugestivo, remete para a comunicação de velhos combatentes aos netos. É uma literatura que pode começar sempre por “Era uma vez…”. Trata-se de uma abordagem singular da vida de um batalhão que foi parar ao Enclave de Cabinda, o destaque vai para a rebeldia e camaradagem desses moçoilos que porventura, até lá chegar, nunca tinham ouvido falar no Maiombe.
É habitual, na literatura da guerra, ver os relatos atravessados por eventos épicos, por mantos espessos de solidão, os frémitos da saudade, o choro pelas perdas, sentir-se o fragor dos tiroteios. Em “O Meu Avô Andou na Guerra”, por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014, a história do BCAV n.º 682 guia-se por outro cânon, apresenta-se deliberadamente heterodoxo, aqui cintila o picaresco, a caricatura, as alcunhas dos tropas e as suas razões de ser. Fala-se pouco das pessoas importantes mas não é esquecido o tratador de porcos que um dia fugiu para o Congo, e também não se esquece a referência bonacheirona a Pascoal, o moleque que trocava latas de rações pelos afetos de uma negrinha.
Uma escrita amena, com derivativos espirituosos, nada de rancores, não se pretende um estudo minucioso, qual documentário, sobre as vicissitudes porque passaram aqueles combatentes, não há para ali o tropel de patrulhas, minas e emboscadas. Que as houve, irão aparecer como um inventário histórico do BCAV n.º 682, um anexo que não exige leitura obrigatória. Destarte, lá vão 600 mancebos para entre dois Congos. Antes, foram às sortes, esses moços nascidos em 1941 e 1942, um dia apareceu o carteiro com a guia de marcha e requisição para a CP os transportar para o quartel de destino. As peripécias da adaptação misturam o caricatural e o burlesco, é assim que se faz uma recruta por via da descoberta da socialização da caserna e da parada, a vida de quartel sincroniza-se por toques da corneta. Para que não subsistam dúvidas na cabeça dos netos, fica escrito: “Já sabíamos marchar, marcar passo, pôr em sentido, apresentar armas e até dar uns tiros com umas espingardas que já tinham andado noutras lutas. Era agora preciso cultivar cada uma dar artes apropriadas aos conflitos que nos esperavam. E como numa guerra nem todos andam aos tiros, uma vez que tem de haver quem faça a comida, quem cure as feridas, quem conduza os carros, quem faça reparações e até quem toque com a corneta. Éramos, então divididos, por diversos quartéis para tirar a Especialidade: de cozinheiro, de enfermeiro, de condutor, de corneteiro e por aí fora”.
Os netos e leitores adventícios têm direito a uma farta explicação sobre a definição de especialidades: “A maior parte ia para atirador, já que numa guerra a função principal é atirar. Uma espécie de caçadores que se pretendia fossem caçar uns indivíduos que, numas terras bem distantes, andavam lá a apregoar que aquela terra era deles, enquanto por cá se cantava em coro: É nossa. Um ou outro soldado, a quem não se encontrasse jeito para nada, era rotulado de básico, que era o mesmo que não servir para nada, mas quando se chegasse à guerra, logo se via, algum préstimo haveria de ter, nem que fosse na faxina”.
É lá vão num quartel flutuante, o Vera Cruz, ali se tomou contacto com pequenas coisas trazidas de Las Palmas, isqueiros Ronson, relógios Cauny, máquinas fotográficas Canon, tabaco AC, até se cambiava a moeda de Angola. Desembarca ao largo de Cabinda, com direito a salto para um batelão.
A peroração para netos prossegue, conta-se a história daquela terra encravada entre dois congos: “Cabinda passou para o domínio português em 1885, através do Tratado de Simulambuco, assinado por Brito Capelo e pelos príncipes, chefes e oficiais do reino de N’Goyo que declararam reconhecer a soberania de Portugal”. E começa a descoberta da floresta tropical. Os que foram para Massabi, mesmo junto da fronteira com a República do Congo, tiveram, primeiro que tudo, descobrir qual a zona que lhes competia defender, já que nas cartas estava assinalado um marco que definia a linha de fronteira, mas como a vegetação ali não pede licença para crescer o tal marco estava totalmente abafado. À força da catanada lá se foram abrindo umas clareiras e eis que um dia, toda a gente ficou a saber até onde podia ir sem passar para o outro lado. O marco era um gigantesco tronco de madeiro atravessado no caminho, a palavra fronteira estava inscrita em letras garrafais.
Os autores falam do Dinge com a propriedade de quem ali assentou arraiais. Bem-humorados, os autores desfiam as suas histórias: o capelão, o tenente Esteves, adorava caçar pássaros com uma espingarda de pressão de ar; o soldado Orelhas ajudava na cozinha e cuidava do bem-estar dos porcos, da sua engorda, um dia teve uma repentina e foi parar à República do Congo, nunca se apurou a causa da fuga… seguem-se as alcunhas, a história de um casamento que estive previsto para um alferes, as férias passadas em Angola, visitou-se Luanda, Sá da Bandeira e Moçâmedes, e novamente a subir para Luanda passando por Benguela, Lobito, Novo Redondo e Porto Amboim. E havia as escapadelas até Cabinda, os negócios de bordel, tudo contado entre o pícaro e o hílare, para não ofender a sensibilidade dos petizes. E há histórias sobre animais, pois claro, cadelas e macacos, embora por lá aparecessem crocodilos bebés.
A guerra também se fazia pelas ondas hertzianas, dá-se conta da propaganda da Rádio Brazzaville no dia 18 de agosto de 1965. E há histórias de lavadeiras, como moçoilos vindos da Madeira e dos Açores engrenaram na máquina do batalhão e se mostravam felizes.
E chegou a hora da volta ao puto, a mesma azáfama em entregar o material na unidade mobilizadora e partir para a família, tinham-se passado entre três a quatro anos desde que tinham saído de casa para assentar praça algures num quartel. E agora? Agora andamos por aí, somos reformados e temos netos para tratar. E de vez em quando encontramo-nos, como termina a história para encantar netos: “O relacionamento que mantemos tem o seu quê de peculiar, a e a forma de convivermos não tem paralelo com encontros que realizamos no âmbito de outras relações como as profissionais. Essa particularidade poderá resultar do facto de ser esta a única vivência durante um tão longo período e todos estarmos em condições idênticas durante todas as horas do dia. A partir de agora é só mais um esforço para continuar a andar por aí, a ler histórias de fadas, princesas e lobos maus aos netos, e quando eles perceberem que não existem fadas nem princesas – lobos maus nunca se sabe – contar-lhes que o avô andou na guerra”.
Esta a magia da simplicidade, uma guerra pintalgada de humor cáustico e do deslumbramento de aprender a ser homem tirando partido da adversidade.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
É uma guerra contada às avessas, o narrador de sempre escolhe um interlocutor ingénuo, tenrinho, pronto a ouvir falar de fadas e lobos maus.
Tanto quanto sei, é o primeiro livro em que as façanhas bélicas são relegadas para anexo, incluindo o descritivo operacional. É uma imagem intencionalmente diferente da guerra, privilegia-se o tom caricatural, a ternura, no palco estão jovens irreverentes num teatro de guerra chamado Cabinda onde uma floresta portentosa, o Maiombe, pontifica, une e separa. Memórias redigidas com uma serenidade que assombra.
E faz pensar.
Um abraço do
Mário
O meu avô andou na guerra
Beja Santos
É um título claramente feliz, sugestivo, remete para a comunicação de velhos combatentes aos netos. É uma literatura que pode começar sempre por “Era uma vez…”. Trata-se de uma abordagem singular da vida de um batalhão que foi parar ao Enclave de Cabinda, o destaque vai para a rebeldia e camaradagem desses moçoilos que porventura, até lá chegar, nunca tinham ouvido falar no Maiombe.
É habitual, na literatura da guerra, ver os relatos atravessados por eventos épicos, por mantos espessos de solidão, os frémitos da saudade, o choro pelas perdas, sentir-se o fragor dos tiroteios. Em “O Meu Avô Andou na Guerra”, por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014, a história do BCAV n.º 682 guia-se por outro cânon, apresenta-se deliberadamente heterodoxo, aqui cintila o picaresco, a caricatura, as alcunhas dos tropas e as suas razões de ser. Fala-se pouco das pessoas importantes mas não é esquecido o tratador de porcos que um dia fugiu para o Congo, e também não se esquece a referência bonacheirona a Pascoal, o moleque que trocava latas de rações pelos afetos de uma negrinha.
Uma escrita amena, com derivativos espirituosos, nada de rancores, não se pretende um estudo minucioso, qual documentário, sobre as vicissitudes porque passaram aqueles combatentes, não há para ali o tropel de patrulhas, minas e emboscadas. Que as houve, irão aparecer como um inventário histórico do BCAV n.º 682, um anexo que não exige leitura obrigatória. Destarte, lá vão 600 mancebos para entre dois Congos. Antes, foram às sortes, esses moços nascidos em 1941 e 1942, um dia apareceu o carteiro com a guia de marcha e requisição para a CP os transportar para o quartel de destino. As peripécias da adaptação misturam o caricatural e o burlesco, é assim que se faz uma recruta por via da descoberta da socialização da caserna e da parada, a vida de quartel sincroniza-se por toques da corneta. Para que não subsistam dúvidas na cabeça dos netos, fica escrito: “Já sabíamos marchar, marcar passo, pôr em sentido, apresentar armas e até dar uns tiros com umas espingardas que já tinham andado noutras lutas. Era agora preciso cultivar cada uma dar artes apropriadas aos conflitos que nos esperavam. E como numa guerra nem todos andam aos tiros, uma vez que tem de haver quem faça a comida, quem cure as feridas, quem conduza os carros, quem faça reparações e até quem toque com a corneta. Éramos, então divididos, por diversos quartéis para tirar a Especialidade: de cozinheiro, de enfermeiro, de condutor, de corneteiro e por aí fora”.
Os netos e leitores adventícios têm direito a uma farta explicação sobre a definição de especialidades: “A maior parte ia para atirador, já que numa guerra a função principal é atirar. Uma espécie de caçadores que se pretendia fossem caçar uns indivíduos que, numas terras bem distantes, andavam lá a apregoar que aquela terra era deles, enquanto por cá se cantava em coro: É nossa. Um ou outro soldado, a quem não se encontrasse jeito para nada, era rotulado de básico, que era o mesmo que não servir para nada, mas quando se chegasse à guerra, logo se via, algum préstimo haveria de ter, nem que fosse na faxina”.
É lá vão num quartel flutuante, o Vera Cruz, ali se tomou contacto com pequenas coisas trazidas de Las Palmas, isqueiros Ronson, relógios Cauny, máquinas fotográficas Canon, tabaco AC, até se cambiava a moeda de Angola. Desembarca ao largo de Cabinda, com direito a salto para um batelão.
A peroração para netos prossegue, conta-se a história daquela terra encravada entre dois congos: “Cabinda passou para o domínio português em 1885, através do Tratado de Simulambuco, assinado por Brito Capelo e pelos príncipes, chefes e oficiais do reino de N’Goyo que declararam reconhecer a soberania de Portugal”. E começa a descoberta da floresta tropical. Os que foram para Massabi, mesmo junto da fronteira com a República do Congo, tiveram, primeiro que tudo, descobrir qual a zona que lhes competia defender, já que nas cartas estava assinalado um marco que definia a linha de fronteira, mas como a vegetação ali não pede licença para crescer o tal marco estava totalmente abafado. À força da catanada lá se foram abrindo umas clareiras e eis que um dia, toda a gente ficou a saber até onde podia ir sem passar para o outro lado. O marco era um gigantesco tronco de madeiro atravessado no caminho, a palavra fronteira estava inscrita em letras garrafais.
Os autores falam do Dinge com a propriedade de quem ali assentou arraiais. Bem-humorados, os autores desfiam as suas histórias: o capelão, o tenente Esteves, adorava caçar pássaros com uma espingarda de pressão de ar; o soldado Orelhas ajudava na cozinha e cuidava do bem-estar dos porcos, da sua engorda, um dia teve uma repentina e foi parar à República do Congo, nunca se apurou a causa da fuga… seguem-se as alcunhas, a história de um casamento que estive previsto para um alferes, as férias passadas em Angola, visitou-se Luanda, Sá da Bandeira e Moçâmedes, e novamente a subir para Luanda passando por Benguela, Lobito, Novo Redondo e Porto Amboim. E havia as escapadelas até Cabinda, os negócios de bordel, tudo contado entre o pícaro e o hílare, para não ofender a sensibilidade dos petizes. E há histórias sobre animais, pois claro, cadelas e macacos, embora por lá aparecessem crocodilos bebés.
A guerra também se fazia pelas ondas hertzianas, dá-se conta da propaganda da Rádio Brazzaville no dia 18 de agosto de 1965. E há histórias de lavadeiras, como moçoilos vindos da Madeira e dos Açores engrenaram na máquina do batalhão e se mostravam felizes.
E chegou a hora da volta ao puto, a mesma azáfama em entregar o material na unidade mobilizadora e partir para a família, tinham-se passado entre três a quatro anos desde que tinham saído de casa para assentar praça algures num quartel. E agora? Agora andamos por aí, somos reformados e temos netos para tratar. E de vez em quando encontramo-nos, como termina a história para encantar netos: “O relacionamento que mantemos tem o seu quê de peculiar, a e a forma de convivermos não tem paralelo com encontros que realizamos no âmbito de outras relações como as profissionais. Essa particularidade poderá resultar do facto de ser esta a única vivência durante um tão longo período e todos estarmos em condições idênticas durante todas as horas do dia. A partir de agora é só mais um esforço para continuar a andar por aí, a ler histórias de fadas, princesas e lobos maus aos netos, e quando eles perceberem que não existem fadas nem princesas – lobos maus nunca se sabe – contar-lhes que o avô andou na guerra”.
Esta a magia da simplicidade, uma guerra pintalgada de humor cáustico e do deslumbramento de aprender a ser homem tirando partido da adversidade.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14465: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (9): Em 2015, como era esperado mais ano menos ano, atingimos o limite físico da sala que habitualmente ocupamos, as duzentas pessoas.
Monte Real, 14 de Junho de 2014 > Foto da Grande Família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné
Foto: © Manuel Resende (2014). Todos os direitos reservados.
X Encontro Nacional da Tertúlia
18 de Abril de 2015
Mensagem da Organização
18 de Abril de 2015
Mensagem da Organização
Em 2015, como era esperado mais ano menos ano, atingimos o limite físico da sala que habitualmente ocupamos, as duzentas pessoas.
Terminadas que foram as inscrições, cabe relembrar o programa do nosso Convívio.
Vai ser celebrada uma Missa de sufrágio na Igreja Matriz de Monte Real, pelas 11h30, pelos camaradas caídos em campanha e pelos camaradas e amigos que depois da guerra foram falecendo.
Finda a Missa será feita a foto de família frente ao Hotel.
Às 13 horas teremos o buffet de entradas, que, se houver bom tempo, será servido na varanda exterior.
Seguir-se-á o almoço durante o qual o convívio será mais próximo e mais restrito.
O pagamento será feito já na mesa em momento a anunciar. O custo será de 30€ para adultos e 15€ para crianças até aos 12 anos.
Durante a tarde o convívio continuará dentro e fora do Hotel, com a certeza de que pelas 18 horas será servido um lanche ajantarado para fim de festa.
O pagamento das pernoitas será feito na recepção do hotel no momento da saída.
Pedimos a especial atenção a quem por motivos de força maior não puder comparecer, que me envie até às 24 horas de quarta-feira, dia 15, uma mensagem (carlos.vinhal@gmail.com) ou liguem para o meu telemóvel, dando conta da sua desistência.
Lembramos que os faltosos terão o dever moral de ressarcir os organizadores que terão de pagar do seu bolso os almoços de quem não comparecer.
Como informação complementar aqui ficam as coordenadas de GPS do Palace Hotel de Monte Real: LAT +39° 51' 5.15' - LON -8° 52' 1.87'.
Os organizadores
Luís Graça
Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de11 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14457: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (8): Com 195 inscrições, a meio da tarde de hoje, estamos a atingir o limite dos 200 lugares, e a bater um recorde em dez anos de história dos nossos encontros nacionais
Guiné 63/74 - P14464: Agenda cultural (388): Apresentação do livro "Nós Enfermeiras Paraquedistas", dia 16 de Abril de 2015, pelas 15 horas, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto
Com a devida vénia à Tabanca do Centro e ao nosso camarada Miguel
Pessoa, reproduzimos o poste com o anúncio da apresentação do livro "Nós
Enfermeiras Paraquedistas", a levar a efeito no próximo dia 16 de Abril de 2015, pelas 15 horas, na Messe de Oficiais, na Praça da Batalha-Porto.
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14459: Agenda cultural (391) "Génesis", de Sebastião Salgado, talvez o maior fotojornalista da atualidade: a não perder, de 10 de abril a 2 de agosto de 2015, Lisboa, Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14459: Agenda cultural (391) "Génesis", de Sebastião Salgado, talvez o maior fotojornalista da atualidade: a não perder, de 10 de abril a 2 de agosto de 2015, Lisboa, Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Guiné 63/74 - P14463: Manuscrito(s) (Luís Graça) (53): A liberdade, a altiva garça real e a ociosa cegonha, agora desempregada, que já não traz os bebés de França...
Alcácer do Sal > Rio Sado > 12 de abril de 2015 > Andei a perseguir esta garça real (ou garça cinzenta) (Ardea cinerea cinerea, nome científico em latinório), com a minha pequena máquina fotográfica... [Vd, as duas primeiras fotos acima].
Ela estava longe, do outro lado da margem do rio, e naturalmente estava irrequieta, nervosa, pouco segura, à procura de almoço... O estômago vazio não rima bem com liberdade... E ela afastava-se cada vez mais do meu ponto de observação. Eu tinha uma vantagem em relação a ela: acabara de almoçar, e o almocinho até foi bom e relativamente barato p'rós tempos que correm (no restaurante "Retiro Sadino", passe a publicidade, uma boa sugestão do meu amigo arquiteto José António Paradela, que tem obra por estes lados, e que é mais peixeiro do que carneiro, tal como eu, ou não fossemos ambos nascidos na costa atlântica, ele em Ílhavo, eu na Lourinhã)...
Todavia, a persistência não é o meu forte. Se eu fosse garça real, talvez não fosse tão longe como ela (que pode viver 25 anos, o que é uma eternidade para uma ave que, tal como a galinha, é descendente de dinossauros)... Acabei por conseguir, sem tripé, uma meia dúzia de boas fotos, de entre algumas dezenas que fui tirando, em más condições de exposição, com muita contraluz, distância e rapidez de movimentos do objeto...
E, de repente, viajei sem querer até à Guiné e ao tarrafe do meu Rio Geba.. Vá-se lá saber porquê, se o Rio Sado não é o Rio Geba, e não há aqui nada, nem sequer flamingos vermelhos, a falar-me da guerra, mesmo subliminarmente...Por que raio me veio à ideia o Geba e a guerra e os flamingos vermelhos ? Para além da garça real, a pescar, vejo apenas (e fotografo), no campanário da igreja, algumas famílias de pachorrentas cegonhas, agora desempregadas por que já não trazem os bebés de França, e que talvez por isso são "ocupas", não pagando a renda de casa ao padre... (O que não as impede de viver. comer e reproduzir-se como qualquer ser vivo, com direito a ter um lugar ao sol na mesa do banquete da vida....).
Enfim, são sinais também dos tempos, a par da desolação do rio Sado, navegável daqui até Setúbal, mas sem barcos à vista que o animem (e nos animem)... Onde está o nosso milenar e bravo povo de pescadores e marinheiros ?...
Mas deu-me prazer chegar a casa, do outro lado de outro rio (o Tejo), e selecionar esta e outras fotos, de um belo domingo passado em Alcácer do Sado (onde se come bem e é uma terra linda de morrer, como muitas outras do nosso belo e querido Portugal, mesmo em declínio) e em Grândola, "vila morena" (muito menos bonita e mas onde também se come bem)...
Em contrapartida, vim a descobrir, em Grândola (, onde acabei por não ver a exposição de desenho, escultura e fotografia de José Cutileiro, porque a biblioteca municipal está fechada ao domingo...), que foi num já longínquo ano de 1964 que o Zeca Afonso passou por aqui, pela Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (antigo Cineteatro Grandolense e antes disso hospital e igreja da misericórdia local...) e levou daqui a motivação e a inspiração para compor a sua famosa "Grândola, Vila Morena"...
Fica aqui o registo para os nossos leitores, não tão assíduos destas paragens como a cegonha e a garça real... (LG)
Grândola, 12 de abril de 2015 > Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (antigo Cineteatro Grandolense) > Cartaz de Zeca Afonso e lápide com a história do edifício que fica paralelo ao edifíicio dos antigos paços do concelho (séc. XVIII)
Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:
Último poste da série > 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14434: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): A sagração da primavera
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