sábado, 20 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13629: Bom ou mau tempo na bolanha (67): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (7) (Tony Borié)

Sexagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Sétimo dia de viagem

Não é os “Caminhos de Santiago”, que eram aqueles percursos percorridos pelos peregrinos, que afluíam a Santiago de Compostela, desde o século IX para venerar as relíquias do apóstolo Santiago Maior, cujo suposto sepulcro se encontra na catedral de Santiago de Compostela. Também não são as “Via Cássia”, “Via Domícia”, “Via Egnácia”, “Via Devan” ou “Via d’Etraz”, que eram aquelas Estradas Romanas, que partiam de diversos pontos da Europa Medieval, com destino a Roma ou Jerusalém, onde em algumas, era concedida “indulgência” plena, a quem fizesse o seu percurso, não tem pontes e marcos históricos, em pedra de granito e milenários, os seus, são mais recentes, mas o seu percurso também atravessa, montanhas, vales, rios, alguns de água quente, planícies, glaciares, florestas, savanas e, tem muitos precipícios e, também não se concede qualquer “indulgência” a quem a percorre.

É, única e simplesmente, o “Alaska Highway”, ou seja, a estrada que liga por terra, os USA, atravessando o país amigo do Canadá, ao estado do Alaska.


Já bastante no norte do Canadá, nesta altura do ano era de dia, pelo menos por um período de 18 ou 20 horas, saímos da povoação de Beaverlodge, ainda na província de Alberta, onde dormimos por umas horas, tomando um refrescante banho, comendo fruta, bebendo água e sumos, com alguma medicina de manutenção diária, era madrugada, pelo menos no nosso relógio, pois já havia sol, continuámos na estrada número 43, atravessando a fronteira, entrando na província de British Columbia, chegando à cidade de Dawson Creeck, procurando o local da “Historic Mile 0”, ou seja o quilómetro zero, preparados para iniciar a jornada pelo famoso “Alaska Highway”.


Quando parámos no local, onde se inicia o “Alaska Highway”, na cidade de Dawson Creek, no Canadá, a que podemos chamar, tal como eu chamo muitas vezes à “nossa” Mansoa e, o “comandante” Luís, apelidou de “Mansoa City”, um “posto avançado de fronteira”, já lá estavam algumas caravanas, motos e outros veículos, alguns vindo da Europa, onde despacham os seus veículos, via Frankfurt/Alifax, viajando depois de avião ao encontro deles, pois muitas pessoas oriundas daquele continente, principalmente alemães, italianos, ingleses ou franceses, têm orgulho em dizer que viajaram no “Alaska Highway”, também se vêm muitos oriundos da Austrália, então as pessoas que viajam de moto, que nós consideramos uns heróis, depois de fazerem o “Alaska Highway” ou o “Dalton Highway”, de que falaremos mais tarde, são considerados pelos seus companheiros, como sendo uns heróis, ou seja, é quase o máximo que se pode exigir a uma pessoa viajando de moto, depois desta aventura fica mais ou menos com a patente de “General”, na linguagem militar.


Esperámos pela nossa vez. Tirámos as fotos da praxe junto do “Historic Milepost 0”, visitámos o local que circunda toda a área, fizemos os últimos preparativos, tanques cheios de gasolina, o do Jeep e mais quatro tanques extras, de cinco galões cada um, água, fruta, pão, mapas organizados, o GPS ligado e, marcado no que julgávamos ser o nosso destino, embora sabendo que em muitas partes do percurso não existe sinal de satélite, que era só uma estrada, não havia que enganar, mas queríamos saber as milhas percorridas a cada instante. Eis-nos na estrada, que começa na cidade de Dawson Creek, no Canadá e se prolonga até à cidade de Delta Junction, onde está o “Historic Milepost 1422”, já no estado do Alaska, continuando para sul, ou para norte, com o nome de “Richardson Highway”, para sul, leva-nos à cidade de Valdez, para norte, leva-nos à cidade de Fairbanks, onde se encontra o “Historic Milepost 1520”, que nos diz que percorremos mais ou menos 2500 quilómetros de terra, lama, pedra miúda ou graúda, algum alcatrão, riachos, buracos com água, alguns com dimensões para tomar banho, pontes em reparação, onde passa só um veículo de cada vez, entre outras coisas, a espera pelo “Carro Piloto”, que nos guia por uma determinada distância, onde não temos autorização de nos desviarmos da rota do referido carro.


Mas nem tudo são coisas más, pois a paisagem é de outro “planeta”, temos a oportunidade de apreciar, algumas planícies, montanhas, “glaciares”, aves e outros animais selvagens, lagos, rios revoltosos, alguns de água quente, árvores, vistas de montanha que não se tem oportunidade nunca na vida de um ser humano ver, a não ser viajando no “Alaska Highway”.


O “Alaska Highway”, a quem também chamam, “Alaskan Highway”, “Alaska Canadian Highway”, ou simplesmente “ALCAN Highway”, foi construído durante a “World War II”, (Segunda Guerra Mundial), com o propósito de haver uma via de comunicação terrestre entre os USA e o estado do Alaska, passando pelo Canadá.


A sua construção começou no ano de 1942, pois o ataque do Japão à baía de Pearl Harbor, no Hawai, começou um teatro de guerra no oceano Pacífico, com o Japão a querer avançar para ocupar a costa oeste dos USA, incluindo as “Aleutian Islands”, que se situam também na parte oeste do Alasca. Assim, no dia 6 de Fevereiro de 1942, o congresso dos USA, aprovou a sua construção e, o presidente Franklin D. Roosevelt mandou começar as obras uns dias depois, o Canadá concordou com a condição de a construção ser financiada pelos USA e, no final, a estrada e todas as facilidades dela provenientes, ficassem propriedade do governo do Canadá.


Oficialmente a sua construção começou em Março de 1942, depois de centenas de peças de equipamento de construção de estradas terem sido transportadas com uma certa prioridade por comboios da “Northern Alberta Railways”, com o pessoal do “U. S. Army Corps of Engineers”, (Corpo de Engenheiros do Exército dos USA), que é uma agência federal, que em conjunto com o “Major Army Command”, (Comando Maior do Exército), que integrava alguns milhares de pessoas, civis e militares, que ainda hoje estão associados à construção de barragens, canais, ou protecção contra inundações ou outras catástrofes, não só nos USA, como em diversas partes do mundo, juntamente com o mesmo departamento do estado do Canadá, a trabalharam arduamente, pois havia notícias que o Japão queria invadir Kiska Island e Attu Island, na região das “Aleutians Islands”. Tudo tinha que ficar completo antes que chegasse o inverno, uns começando pela parte do norte/oeste e outros pela parte do sul/leste, encontrando-se em Setembro do mesmo ano, na “Históric Milepost 588”, que depois foi chamada “Contact Creek”.


Em Outubro do mesmo ano estava completa e, quero mencionar algumas curiosidades, uma foi, que não existe, em todo o seu percurso, um único túnel, tudo foi feito à pressa, à luz do dia, improvisando, com os recursos que na altura havia, fazendo todas as curvas, que o acidentado do terreno mostrava, em algumas zonas, não sendo possível seguir, rasgavam o lado das montanhas, de onde tiravam terra, cascalho ou pedra, para colocar em alguns terrenos mais baixos, que eram alagadiços. Outra curiosidade, foi que durante a sua construção foi chamada de “Oil Can Highway”, dado o grande número de latões vazios de óleo e outros combustíveis, que iam ficando para trás, marcando o progresso da estrada. Também devemos recordar que foi construída, quase toda, com muito trabalho físico, onde era usada a pá, picareta e a vagoneta, também movida com esforço físico, por homens, do tempo dos nossos pais ou avós, pois nos dias de hoje, para se estender um fio eléctrico de umas centenas de metros, usam um helicóptero.


Já chega de história, os primeiros contactos com o “Alaska Highway”, foram no início, tal como esperávamos, longas zonas de estrada em construção sinal que daqui a alguns anos, já não vai existir o “Alaska Highway”, pois o progresso vai fazer desta estrada, onde ainda existem as tais pontes originais, que atravessam rios e ribeiros, precipícios, zonas de lagos, animais a atravessarem a estrada, não contentes com a presença humana no seu território e, como dizíamos vão fazer dela uma verdadeira auto-estrada, é o sinal do progresso, já existem povoações que são formadas única e simplesmente por trabalhadores de construção de estradas, com casas transportáveis, tipo “contentor”, onde existem já alguns hotéis, sempre com lotação esgotada, sem qualquer vaga, só para trabalhadores de construção, com oficinas e algumas plantas de cimento e alcatrão, tudo isto nas primeiras 80 ou 100 milhas, mais ou menos, mesmo depois de passar a povoação de Fort St. John, onde comprámos alguma gasolina.


Depois, continuou a aventura, parando aqui ou ali, umas vezes por obras de reparação na estrada, onde o inverno, com avalanches de neve, ou forte corrente de água, onde os rios cresceram destruindo parte da estrada, principalmente junto de algumas pontes, outras vendo a paisagem, chegando à povoação de Fort Nelson, “Historic Milepost 300”, onde encontrámos alguns dos aventureiros das motas que connosco estiveram na cidade de Dawson Creek, pela manhã, sujos, molhados, mas alegres, trocando a corrente das motas, dizendo que nesse mesmo dia, se iam aventurar até à povoação de Liard River.


Nós, com o Jeep e a Caravana, bastante sujos, mas em boa condição de andar, depois de ver muitos ursos pretos e castanhos, lobos, muitos búfalos, aves e outros animais a atravessarem a estrada, ou a fugirem a esconder-se no interior das matas que circundam a estrada, rios selvagens, montanhas com neve, cascatas de água pura, resolvemos acampar na região de “Muncho Lake”, “Historic Milepost 456”, mesmo à beira do lago, com água também pura, vinda dos “glaciares”, que se pode beber. Aqui preparámos uma refeição com vegetais e conservas portuguesas e vinho também português, dormimos na nossa Caravana e, quando abríamos a porta, deparávamos com um cenário de montanha e lagos que talvez custasse “um milhão de dólares”, mas que não era possível ver, se não nos tivéssemos “arrojado” a esta aventura.

Neste dia percorremos 489 milhas, com o preço da gasolina a variar de $1.78 a $1.98 dóllares o litro.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13606: Bom ou mau tempo na bolanha (65): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (6) (Tony Borié)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13628: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte X: novembro de 1972, início da época seca: (i) desmantelamento de uma célula clandestina do PAIGC, com a prisão de caboverdianos em Bambadinca; e (ii) continuação das visitas ao Enxalé de elementos pop sob controlo IN

1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].


Dois destaques, no mês de novembro de 1972, início da época seca:

(i) distribuição de panfletos clandestinos com a denúncia, por parte do PAIGC; da prisão de caboverdianos em Bambadinca; presume-se que as prisões tenham sido efetuadas pela PIDE/DGS, de Bafatá; o comando do BART 3873 admite a existência de uma célula clandestina do PAIGC, na vila de Bambadinca, "núcleo populacional, militar e económico de importância";

(ii) apresentaram-se, no Enxalé, mais 3 elementos da população controlada pelo PAIGC, e ao mesmo tempo o destacamento e tabanca recebeu a visita de 74 elementos pop; esta "desproporção" entre  "apresentações" e "visitas" é explicada pelo receio de represálias por parte do PAIGC sobre as populações que controla "no mato"; no entanto, estas visitas, cada vez mais frequentes, parecem ser toleradas ou até desejadas pela guerrilha...



Guiné-Bissau > Cuor > Belel > 2010 > Mneinos da escola de Belel... Muito provavelmente netos e filhos de "gente do mato", da zona de Madina / Belel  (a sul da região do Morés) que o PAIGC controlava, no tempo da guerra colonial, e que iam visitar os seus parentes ao Enxalé, a sul, na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime...

"Seguiu-se para Belel. Esta é uma enternecedora memória, a escola de Belel. Curiosamente, o professor, vemo-lo na primeira fila de pé, também se chama Sori, recebeu-nos efusivamente, propôs fotografia. O Tangoamu gosta a valer desta imagem, mais do que futuro temos aqui a hospitalidade guineense. Aqui se interrompe a viagem, a motocicleta está cada vez pior e o narrador quer ter mais história para contar, amanhã. Vamos continuar, está prometido" (MBS).


Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Mapa do Xime (1955), 1/50000 > Detalhe: o Rio Geba, o Rio Corubal, à esquerda,  o Xime e, do outro lado do Rio Geba, o Enxalé... Em novembro de 1972, a unidade de quadrícula do Xime era a CART 3494, com um 1 Gr Com destacado no Enxalé. Estava tanb+em no Xime o 20º Pel Art, com 3 obuses 10,5, além de um esquadrão do Pel Mort 2268 (, sediado em Bambadinca). O Enxalé tinha ainda 2 GEMIL, 309 e 310. A população era balanta (Enxalé) e mandinga (Xime)..

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


Novembro de 1972, início da época seca: (i) desmantelamento de uma célula clandestina do PAIGC, com a prisão de caboverdianos em Bambadinca; e (ii) continuação das visitas ao Enxalé de elementos pop sob controlo IN







(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13590: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte IX: outubro de 1972: (i) no final das chuvas, e ao fim de dez meses de comissão, o primeiro ataque a um barco civil, o "Mampatá", no Rio Geba Estreito, à 1 hora da noite, de que resultaram feridos, 1 militar e 3 civis; (ii) Spínola no encerramento do 3º turno de instrução de milícias; e (iii) 37 balantas de Mero recebem instrução militar...

Guiné 63/74 - P13627: Agenda cultural (337): Jornadas Europeias do Património - 26 a 28 de Setembro de 2014 no Museu da Marinha

De 26 a 28 de setembro vão realizar-se as Jornadas Europeias do Património

As Jornadas são uma iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, envolvendo cerca de 50 países, tendo como objetivo a sensibilização dos cidadãos para a importância da proteção do Património, desta feita o tema será “Património, sempre uma descoberta”.

A Marinha Portuguesa, pela Comissão Cultural de Marinha, não poderia deixar de se associar ao evento, tendo em conta o vasto património histórico e cultural que agrega. Deixamos assim o convite para se associarem a nós na comemoração deste evento.

21 AGO – 21 SET | Desafio Fotográfico “Novas perspectivas, outros olhares” na FDFG | FRAGATA D. FERNANDO II E GLÓRIA

27 SET | Concerto pela BA | BANDA DA ARMADA, no MM | MUSEU DE MARINHA - Pavilhão das Galeotas || 16H00 || Entrada gratuita

27 SET | Inauguração da Exposição relativa ao desafio fotográfico “Novas perspectivas, outros olhares” || MM | MUSEU DE MARINHA - Pavilhão das Galeotas || 17H00 || Entrada gratuita

27 SET | Itinerários Culturais e Patrimoniais - Visita guiada à Fragata “D. Fernando II e Glória”, ao Palácio Real do Alfeite e ao Museu do Fuzileiro. || 10H00 || Gratuito, exceto almoço. (visitas mediante marcação, sujeito a um máximo de 30 pessoas – inscrições 2º Tenente Duarte Dias – email: duarte.dias@marinha.pt

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13599: Agenda cultural (336): Apresentação do livro "Marcello e Spínola: A Ruptura", do Coronel Manuel A. Bernardo, dia 19 de Setembro de 2014, pelas 21h00, no Pólo da Biblioteca Municipal em Quarteira

Guiné 63/74 - P13626: In Memoriam (194): João Dias Garcia (1950-2014), ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 19, falecido no passado dia 11 de Setembro de 2014, no Hospital de Leiria (José Manuel Pechorro)


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Pechorro (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73), com data de hoje, 19 de Setembro de 2014:

Camarada Luís,
Envio esta notícia que julgo de interesse para o blogue e que sujeito à vossa consideração na sua postagem, que desde já agradeço:

Informo que faleceu o João Dias Garcia, no Hospital de Leiria, no passado dia 11 do corrente.


Ex-1º Cabo Mecânico Auto, Nº 617771, da CCac 19, 1971/73

Como tal suportou as colunas Guidage - Binta – Guidage, o assédio do IN e o cerco de Maio de 1973.

1.º Cabo, estimado por todos e pela população. Mencionei-o na postagem: Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro):

“Fui até à caserna do 1.º Pelotão, onde conversei com o Garcia, 1.º Cabo Mecânico. Estava com ele, quando surge a 5.ª flagelação (por volta das 12 ou 13 horas), desta vez do lado das casernas do 3.º e 4.º Pelotões, com armas ligeiras, RPG,s e morteiro 82, também do lado de lá da bolanha, território Senegal. 
A minha arma desapareceu, apercebi-me ter sido um soldado que a utilizou, quando correndo se foi refugiar na vala. 
Abriguei-me com o 1.º Cabo Garcia, no ninho da metralhadora pesada, de que é responsável. 
Ao tentar manejá-la, entalou-se. O palavreado dele, muito sério, mas com piada, provocou-me o riso, que contive a muito custo, intercalado, no matraquear do tiroteio e estrondos das explosões”.

De pé: Mussá Uali que faleceu em Bissau. Em cima, da esquerda para a direita: Figueiredo, Sold Mec; Mayer Mané, Condutor; João Dias Garcia, 1.º Cabo Mec, falecido no Hospital de Leiria em 11SET2014; Ibrahimo Djaura, e Seco Sanó também já falecido

Pela sua actuação foi um dos louvados na folha de serviço do COP 3, sediado em Guidage, de 11 de Junho de 1973, pelo Comandante, Ex-Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos.

No passado Sábado, 14 do corrente, pelas 15 horas, teve lugar a cerimónia religiosa de corpo presente, na Igreja matriz de Maiorga, Alcobaça, seguindo-se o cortejo fúnebre para o cemitério desta localidade, participada de muito povo.

Anexo ficheiro com duas fotos do mesmo.

Um abraço,
José Pechorro
Ex-1.º Cabo Op Cripto,
CCaç 19 – Guidage - Guiné
1971/73

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Nota do editor:
Em nome da tertúlia e dos editores deste Blogue apresento as nossas condolências aos familiares do nosso camarada João Garcia, com os quais estamos solidários nesta hora de dor.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13496: In Memoriam (193): Manuel Vieira Moreira (1945-2014), ex-1º cabo mec auto, CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69), natural de Águeda, poeta e amante do fado

Guiné 63/74 - P13625: Notas de leitura (633): “Poesias e Cartas", por José Bação Leal (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Setembro de 2014:

Queridos amigos,
Quem quiser ir ao encontro de um jovem intelectual do início da década de 1960, um adolescente a transmutar-se em jovem adulto, com problemas de fé e crescentes dúvidas religiosas, a poetar, amante do cinema, com enorme prazer pelo convívio, seguramente um caso ímpar de alguém que vai para a guerra pejado de literatura e sempre a pedinchar mais e mais, revoltado, entediado, em rota de colisão com a hierarquia militar, punido com 5 dias de prisão por ter enfiado um par de bananos noutro camarada por razões desconhecidas e que vai parar a um teatro bem incómodo no Norte de Moçambique, acidentado numa mina anticarro e que entra em coma sem que os médicos diagnostiquem o seu mal, tem que ler obrigatoriamente este livro.
Aproveitem, porque é barato, é uma edição do jornal Público.

Um abraço do
Mário


Poesias e cartas, por José Bação Leal

Beja Santos

O jornal Público tem vindo a editar livros proibidos. A Censura foi implacável no seu juízo, escrevia o capitão Brandão de Mello em Dezembro de 1971: “Trata-se de obra póstuma de um combatente em África contra o terrorismo, mas imbuída de um doutrinismo político-social inaceitável ou reprovável por antinacional e negativista (…) há trechos elucidativos ou caraterísticos do pensamento ou ideário político-social do autor do livrinho que me parece sem o menor interesse literário ou espiritual, mas, isso sim, mais uma obra de contestação, eivada de revolucionarismo e revolta e constituindo um péssimo exemplo de uma mocidade para outras mocidades”.

Recomendo a todos os títulos que se procure ler este voluminho de alguém que morreu em Nampula, com 23 anos, pouco tempo depois de um acidente com mina anticarro, terá morrido de doença não diagnosticada. Convém saber que quem pesquisar na net por João Bação Leal pode ter acesso a um documentário mais esclarecedor e revelador da personalidade deste jovem com uma clara inclinação para as letras. Correndo o risco de ser injusto, a sua poesia é de um iniciado que procura rumo, está datada e percebe-se quais os seus santos de culto, como é o caso de Ramos Rosa e de Herberto Helder. Onde atinge uma fasquia respeitável é na epistolografia, é verdadeiramente incomum encontrar tão possantes faculdades. Como escreve no prefácio Urbano Tavares Rodrigues: “O caráter extremamente pessoal das suas conotações, o tom coloquial, íntimo, a violência terna e exacerbada das suas metáforas, em que é sempre patente a carga afetiva, o tónus poético de muitas das cartas dão-nos uma tocante imagem de vertiginoso crescimento humano e estético”. E também uma cultura incomum, não cita à toa Sartre ou Roger Garaudy, e mesmo Mounier ou Gabriel Marcel.

Duas palavras sobre a sua poesia, foi a mãe do autor que as recolheu de rascunhos que ele deitava fora. Empreguei a palavra pesquisa, alguém que desperta o estro poético e o dilui em pequenos poemas. Assim:

As poesias nascem dum silêncio
ou de uma conversa que temos a sós
com uma dúvida ou uma madrugada
que faz de nós que não somos nada
a própria dúvida mas concretizada

Em Novembro de 1962 escreve a um amigo que queimou tudo o que tinha escrito. Depois voltou a escrever e confessa: “Não supões a emoção absurda que se sente quando se destrói, voluntariamente, o que nos momentos mais nossos criámos”. Gosta de cinema, foi ver “Cléo de 5 a 7”, de Agnès Varda, filme muito badalado e incensado pela crítica, não gostou, embora reconhecendo ter momentos belíssimos. Está em Mafra e inicia uma carta com quatro citações. De Fernando Pessoa: “Quero ir para a morte como para uma festa ao crepúsculo”; de António Ramos Rosa: “Não posso adiar o amor para o outro século. Não posso adiar o coração”; de Herberto Helder: “Porque o povo não sabe que um homem morre antes da sua última canção”; de António Ramos Rosa: “Era o tempo em que sentados na pedra, ouvíamos a erva. E era verão”. E arranca logo: “… poeticamente exausto, verticalmente só, lembro memória de um qualquer verão em nenhuma parte”. Estamos em Agosto foi promovido a aspirante. Segue para Lamego, vai tirar o curso de Ranger. Dirige-se a um amigo: “Talvez tropece em Lisboa depois de amanhã”.

Dá sugestões sobre recitais. Em Julho está em Beja, de formação católica, depois de ter assistido a uma procissão escreve: “Toda aquela gente, toda aquela pompa, um sabor a erro antigo, a falsidade. Nunca mais, nunca mais acreditarei em Deus”. Em Novembro, escreve de Luanda: “Se eu morrer em África (voluntária ou involuntariamente) não permitas a utilização do meu nome por quem quer que seja”. Chegado a Nacala, parte para Alto Molocué. Pede livros, e é preciso no que pede. A melancolia não o larga, melancolia e solidão, começa a sair para o mato, mas pede insistentemente mais livros: de Philippe Sollers, de Lawrence Durell, de Fernando Pessoa. Chegou o Natal, endereça mensagens: “Um vasto Natal, rente ao coração dos teus”. Está enfronhado nos problemas religiosos: “Não posso acreditar num Criador distraído”. Quer mais livros: de Kafka, de Malraux, de M. S. Lourenço. Continua a interrogar os amigos sobre cinema, remete poesia, recomenda a um amigo que leia o estudo da personalidade de John Ford na revista “Positif”. Quer saber se houve Dia do Estudante. Recomenda a um amigo que leia “Os Condenados da Terra”, de Franz Fanon. Recusa-se a falar da guerra, mas sente-se que entrou num processo de diluição, de confrontação: “Chegou o 2.º comandante, mas nada se alterou. Sempre o mesmo sol doente, o mesmo esqueleto a fingir de esperança”.

Estamos em 30 de Maio de 1965, ainda no Alto Molocué: “Cumpro 5 dias de prisão. O general agravará fortemente, em virtude do texto, redigido a martelo, da punição”. O problema religioso devora-o: “Abraçar o catolicismo lembra-me algo como legitimar o egoísmo. Esta uma verdade que me dói no sangue. Perdoa-me, mas hoje tinha que dizer isto a alguém. Escolho-te a ti, porque te considero um católico bom, porque, penso, não me levarás a mal” e a outro amigo: “5 dias de prisão podem significar Mueda ou Vila Cabral. Sou neste momento um cadáver em fúria. Aguardo transferência, aqui em Nampula”. Quase na mesma data escreve a outro amigo: “Apresento-te um ex-presidiário, um homem ferozmente silencioso, a um degrau do Norte (isso: da guerra)”. Está obcecado pelo Norte, fala recorrentemente em Mueda ou Vila Cabral, aqui chegará em 29 de Junho, distribui o seu novo S.P.M. pelos amigos, está colocado em Metangula, povoação à beira-lago do Niassa.

Em 10 de Julho, acidenta-se com uma mina anticarro, é evacuado para Nampula, vai às consultas de ortopedia, tem um braço fraturado. Está visivelmente desencorajado, diz que está a enlouquecer, a tropeçar de raiva e tédio. Em Agosto, ainda em Nampula, começa a adoecer, nas suas últimas cartas, datadas de 24 de Agosto, fala num diabólico ataque de sinusite e diz mesmo a um amigo: “Acredita que prefiro o Vietname a estas dores de cabeça. Era boa altura de me mandarem para casa”. Vai adoecendo, morrerá em 1 de Setembro. O pai, um conceituado estomatologista de Lisboa, João Bação Leal, tudo fará para deslindar os responsáveis pela negligência médica. Poder-se-ão ler estas cartas com a dupla amargura de se perceber que morreu um jovem cheio de talento, de férrea estrutura cultural para os seus 23 anos, mas também alguém que representa uma certa imagem da sua geração, alguém que vagueia em solidão e escreve trepidantemente aos amigos, à procura de uma âncora. E escusado é dizer que Bação Leal viva encouraçado nas suas leituras e nos seus poemas, aquela guerra não lhe disse literalmente nada. Este livro está disponível nas livrarias ao preço de 6,50€.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13611: Notas de leitura (632): “Guiné: Até amanhã se Deus quiser" por Vítor Nogueira (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13624: Estórias avulsas (79): A melhor coisa que me poderia acontecer, uma viagem sem pressa que até parecia que estava no país das maravilhas (José Maria Claro)

1. Mensagem do nosso camarada José Maria Claro, DFA, (ex-Soldado Radiotelegrafista de Engenharia da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Biambe, 1969), com data de 15 de Setembro de 2014:

Caro camarada
Segue em anexo mais uma pequena memória bem como mais algumas fotos.

Cumprimentos
José Claro


Depois de ter sido capa de jornal do Diário Popular do dia 6 de Maio (Segunda-feira) na entrada da porta de armas do Campo de Tiro da Serra da Carregueira, foi constituído o pelotão dos tipógrafos e fotógrafos que tinham por destino o RT1 no Porto (foto que apresento nas aulas de morse).
Daí, feito o curso, ida para BC10 (Chaves), que foi uma das melhores e mais bonitas viagens que fiz em toda a minha vida (até aí).

 Nas aulas de Morse

Estive recentemente na Régua e andei a bisbilhotar se via a linha estreita que ia para Chaves(*) (não a encontrei, para me recordar), pois foi a melhor coisa que me poderia acontecer, uma viagem sem pressa que até parecia que estava no país das maravilhas.

Rio Corgo - 1978 (Rui Morais)

Uma paisagem de sonhos numa linha que fazia que tudo abanasse, com o andamento lento das carruagens, uma linha cheia de curvas, altos e baixos curvas e contracurvas, vales profundos e serras enormes. As pessoas que já a conheciam saltavam das carruagens em andamento e daí a um bocado o comboio passava junto à via no outro lado e apanhavam outra vez o comboio, foi uma viagem de sonhos, com maravilhosas e lindas paisagens.

Sem outro assunto aqui envio mais umas fotos, como me pediste, mas vê se têm interesse, se vires que não têm não vale a pena repetir.

Mais não digo.
Do amigo Claro

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Nota do editor:
(*) A Linha de comboio a que o camarada Claro se refere é a Linha do Corgo que ligava a Régua a Vila Real.
Aceder a Movimento Cívico pelo Linha do Corgo - MCLC
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12967: Estórias avulsas (78): O meu amigo cigano Zé Beiroto (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado



1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Setembro de 2014:

Bom dia Carlos,
Raspando o fundo do baú, sempre aparece algo.

Nesses tempos de "selfies" (neologismo que significa autorretrato), chamou minha atenção essa foto de 1970, poucos dias após a chegada à Guiné.
Autorretrato acompanha a História da Humanidade, lembra Narciso filho de liríope, passa pela necessidade de autoconhecimento, até chegar na expressão dos modernistas angustiados.

Mas voltemos ao soldado, que parece perguntar:
- Como é que eu vim parar aqui?

É uma viagem à década de sessenta, jovens inexperientes, num país que se queria fechado ao mundo. Eu, particularmente, vinha da Bairrada profunda, de um grupo familiar que Gramsci apelidada "intelectuais rurais', logo por defenição conservadores, embora dela tenham saído alguns que ele chama de intelectuais urbanos.

Passando pelas escolas locais, cheguei na Academia Coimbrã em plena efervescência da segunda metade da década de 60, verdadeiro "ponto de clivagem", dos valores e hábitos Ocidentais (não vamos achar que somos o centro do Mundo, só porque assim fizemos como nosso mapa).
Um fervilhar de ideias, contestação dos valores tradicionais, onde poucos tinham uma visão cosmopolita.

Na época, muitos devem lembrar, a figura do "passador", que mediante determinada quantia, fazia chegar as pessoas, além Pirenéus.
Pois, tinha um que era amigo da família, pai de um amigo, e que trabalhava em parceria com um frade (não sei se este o fazia por dinheiro ou convicção), eu tinha também, grande parte da família do outro lado do Atlântico. Assim, com essa facilidade, eu, que jamais pensei que a missão era "dilatar a fé e o império", nunca me passou pela ideia de usar os seus serviços, ou me reunir aos parentes. Penso, talvez, que não queria romper com os valores culturais em que estava inserido.
Contudo, "nesta altura do campeonato", não é mais relevante. Alguns de nós foram à guerra por convicção, outros movidos pela propaganda, muitos por inércia, e alguns outros com receio de enfrentar usos e costumes estrangeiros.

Forte abraço
VP
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

Guiné 63/74 - P13622: Convívios (630): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte VI: Discurso do Jaime Bonifácio Marques da Silva > 2ª Parte: homenagem ao sold paraquedista lourinhanense, natural de Toledo, Vimeiro, Carlos Alberto Ferreira Martins (1950-1971), morto em combate em Ganguirô, Canjadude, região de Gabu, Guiné, em 15/4/1971




Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 6 de setembro de 2014 > I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Coroa de flores oferecida pela Junta de Freguesia do Vimeiro ao homenagem ao filho da terra, o Carlos Alberto Ferreira Martins (1950-1971), morto em combate no TO da Guiné, ao serviço da CCP 123 / BCP 12, em 15/1/1971, na Região de Gabu, Canjadude.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.





Guiné > Região de Gabu > Mapa de Cabuca (1959) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Canjadude e Ganguirô (zona onde morreu o sold paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins, em 15/4/1971). Canjadude, aquartelamento guarnecido pela CCAÇ 5 ("Gatos Pretos"),  era, na região de Gabu, a posição mais meridional das NT,  depois da retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969. Beli já tinha sido abandonado em finais de 1968. Na região do Boé, deixamos de ter unidades de quadrícula. A CCP 123/BCP 12 estava temporariamente instalada em Nova Lamego em abril de 1971.

Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2014)



A. Continuação do discurso do Jaime Silva (2ª parte)


CARLOS ALBERTO FERREIRA MARTINS – GUINÉ

Paraquedista,  natural do lugar do Toledo – freguesia do Vimeiro e concelho de Lourinhã – morto na Guiné em 15.4.1971

Arquivo do Exército - processo fotocopiado em 26 agosto 2014



1. Dados da Guia de apresentação no Distrito de 
Recrutamento e Mobilização n.º 5 - Santarém com a data de 24 de março de 1969:

Nome - Carlos Alberto Ferreira Martins [, foto à direita]

Profissão – Empregado de bar

Habilitações literárias - 4.ª Calasse (2.º Grau do Ensino Primário Elementar) (4.º Grupo)

Estado Civil – solteiro

Data de nascimento - 12 de julho de 1948

Natural do Lugar do Toledo - Freguesia do Vimeiro e concelho da Lourinhã

Filiação: Carlos de Sousa Martins e Maria da Luz Ferreira

Ano do recenseamento: 1968 – Freguesia do Vimeiro e Concelho de Lourinhã

Inspeção – 29.6.1968 (apurado para todo o serviço militar).


2. Serviço Militar - Habilitações Profissionais Militares:

- Apresentado e Incorporado - em Tancos a 21 de fevereiro de 1969 com o n.º 409/69

- Curso de Paraquedismo – 20 fevereiro de 1970 (O.S. 53 RCP)

- Curso de instrução de combate – 12.6.70 (O.S. 148 RCP)

- Tirocínio de Paraquedismo – 13 7.70

- COLOCAÇÃO DURANTE O SERVIÇO

1.º RCP – 21.2. 1969 - N.º 409

2.º BCP 12 – 13.7.1970 – N.º 106 - 2º Pelotão da CCP 123, do BCP 12),

3.º DRM 5 – 15 DE ABRIL 1971 (morto em combate)


3. Habilitações Profissionais Militares:

- Curso de Paraquedismo – 20 fevereiro de 1970 (O.S. 53 RCP) - Titular do Brevet de Paraquedista nº 8065.

- Curso de instrução de combate – 12.6.70 (O.S. 148 RCP)

- Tirocínio de Paraquedismo – 13 7.70


4. Serviço no Ultramar

Nomeado por imposição para prestar serviço militar no Ultramar (BCP 12) –O.S. n.º 107 RCP:

- Embarcou em 13 de julho (OS. n.º 170 RCP) e desembarcou no Aeroporto de Bissau.

- Baixa de Serviço – 15 de abril de 1971 por falecimento em combate na Guiné (Ganguirô, na região de Liporo / Canjadude),


NOTAS

Nesta mesma emboscada, tombou outro camarada: o Soldado Paraquedista Avelino Joaquim Gomes Tavares.

O Martins encontra-se sepultado no cemitério da freguesia do Vimeiro, concelho de Lourinhã.


5. Louvor

Louvado a título póstumo a 16.7.71 pelo comandante do BCP 12 --------- por proposta do Comandante da Companhia de Caçadores Paraquedista 123 (OS n.º 64)


“Louvado pelo Comandante do BCP 12 pelas suas qualidades de trabalho, dedicação e espírito de sacrifício demonstrados ao longo dos nove meses em que permaneceu nesta província. Dotado de um elevado espírito de missão e agressividade,  demonstrara sempre altas qualidades de tenacidade, espírito de camaradagem, resistência e espírito de sacrifício, nunca se poupando a esforços para total cumprimento das suas funções, e oferecendo-se voluntariamente para operações e serviços que não lhe competiam especificamente. Extraordinariamente cumpridor, disciplinado, leal e dedicado pelo serviço, granjeou a estima e consideração dos seus camaradas e superiores, tornando-se merecedor de público louvor" (OS. N.º 64 do BCP 12 de 16.7.1971)

IN. Arquivo Geral do Exército - processo consultado em 26 agosto 2014 por Jaime Bonifácio da Silva

Lourinhã, 6 de setembro de 2014

Jaime Silva

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Nota do editor

(*) Último poste da série > 18 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13621: Convívios (629): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte V:  Discurso do Jaime Bonifácio Marques ds Silva  > 1ª Parte: o  elogio dos Boinas Verdes, e a homenagem aos nossos bravos, caídos na campo da honra (I Grande Guerra, 194/18, França, Angola e Moçambique; e guerra colonial), 1961/74) 

Guiné 63/74 - P13621: Convívios (629): I Encontro de paraquedistas do Oeste... Lourinhã, 6 de setembro de 2014... Parte V: Discurso do Jaime Bonifácio Marques da Silva > 1ª Parte: o elogio dos Boinas Verdes, e a homenagem aos nossos bravos, caídos na campo da honra (I Grande Guerra, 1914/18, França, Angola e Moçambique; e guerra colonial, 1961/74)


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 6 de setembro de 2014 > I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Homenagem aos nossos mortos (I Grande Guerra e Guerra Colonial) (*)


1. Mensagem do nosso camarada e amigo Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, (Angola, 1970/72);:

Data: 11 de Setembro de 2014 às 22:04

Assunto: Jaime,  6 setembro


Caro Luís

Já estamos cá pelo norte e só agora consigo enviar-te o texto - vai em anexo

Obrigado, em nome da AVECO e da Organização, pelo teu apoio na divulgação do Evento no Blogue.

Na reunião que realizámos na passada 3.ª feira, dia 9, para fazermos o balanço do Encontro, todos foram unânimes em realçar um conjunto de entidades que colaboraram connosco e das quais destacámos o Blogue.

Bem hajam pelo vosso trabalho e dedicação na luta pela causa dos combatentes.

Obrigado em nome do grupo

Abraço de amizade

Jaime





Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 6 de setembro de 2014 > I Encontro dos Paraquedistas do Oeste > Doscurso do Jaime Silva, professor de educação física reformado, ex-autarca em Fafe, e ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72)

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

2.  I Encontro de Paraquedistas do Oeste > Lourinhã, 6 de setembro de 2014 > Alocução feita pelo Jaime Silva


SAUDAÇÃO

Sr. Presidente da Câmara Municipal da Lourinhã - Sr. Eng.º João Duarte;
Sr. General Avelar de Sousa;
Sr. General Hugo Borges;
Sr. Coronel Gaspar da Xica;
Sr. Presidentes das Juntas: Lourinhã - Atalaia – Sr. Pedro Margarido; Vimeiro – Sr. Rui Miguel Santos;
Exmo Senhor Presidente da AVECO - Sr. Fernando Castro;
Examos Familiares dos militares mortos na Guerra em África e, particularmente, a família do soldado Paraquedistas Carlos Alberto Ferreira Martins;
Paraquedistas e associações presentes;
Camaradas e amigos da Força Aérea, do Exército e da Marinha aqui presentes e com os quais nos cruzámos pelos quartéis e picadas de Angola, Guiné e Moçambique:

Todos, sejam bem-vindos. Em nome da Comissão Organizadora. o nosso muito obrigado pela Vossa presença

 Caros Combatentes, minhas Senhoras e meus Senhores:

Este ENCONTRO, organizado pelos Paraquedistas, sócios da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste - que congrega no seu seio militares dos três Ramos das Forças Armadas participantes na Guerra do Ultramar tem como objetivo (**):

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i) Primeiro, juntar, num saudável convívio, todos os que na sua juventude optaram por cumprir o Serviço Militar Obrigatório integrados nas Tropas Paraquedistas e, com essa decisão, fruto do seu esforço e sacrifício, conquistaram o direito de usar uma Boina Verde e, consequentemente, puderam descobrir e fruir do prazer de se poder lançar livremente para o espaço, da porta de um avião em pleno voo e pairar no ar, suspenso por um Paraquedas, até à aterragem.

Os Saltos de Paraquedas proporcionaram-nos momentos inolvidáveis e inesquecíveis e, nunca mais se apagarão da nossa memória.

Jamais um Paraquedista esquecerá a exigência física e psicológica do seu Curso de Paraquedismo, alicerçado no reconhecimento das competências dos Instrutores, oficias e sargentos, responsáveis pela sua administração.

No RCP [Regimento de Caçadores Paraquedistas], em Tancos, respeitávamos e confiávamos nesses militares, responsáveis pelas nossas vidas, para além do RDM (Regimento de Disciplina Militar).

É claro que. depois dos Saltos, apareceu o reverso da medalha – veio a Guerra – a fase do “ferro”. Quando cheguei a Tancos em julho de 1969, vindo da EPI [, Escola Prática de Infantaria.] em Mafra, para frequentar o 52º Curso de Paraquedismo, era frequente ouvir os Paraquedistas que tinham acabado de cumprir uma Comissão de Serviço na Guiné, dizerem: Estive no “Ferro” ou, ainda: estou mobilizado para o “ferro”.

OUTROS TEMPOS: Tempos difíceis. Tempos de Guerra.

Mas isso, são “contas de outro rosário” e não queremos hoje, trazer a este Convívio as suas implicações e consequências, apesar das memórias desse “calvário” que foi a nossa participação na Guerra em Angola, Guiné ou Moçambique.

Desse tempo de Guerra, preferimos, antes, trazer hoje à memória os momentos de camaradagem, de convívio e de solidariedade vividos entre nós, Paraquedistas e, ainda, os momentos vividos em conjunto com os outros militares participantes nos diferentes teatros de operações em África e que cumpriam o seu serviço integrados num dos três Ramos da Forças Armadas Portuguesas.

Qual o Paraquedista que esquece, hoje, o apoio e a solidariedade dos nossos camaradas do Exército, da Marinha ou da Força Aérea durante as operações que realizámos e travámos nas bolanhas da Guiné, nos planaltos do norte de Moçambique ou em Angola, nas matas do norte ou nas chanas do leste?

Fomos, também, solidários com esses nossos camaradas e, desse convívio, resultou entre nós muitas e salutares amizades, algumas delas perduraram até hoje.

Nós, Paraquedistas (os mais velhos e os homens e as mulheres das novas gerações), continuamos a ser homens solidários e gratos e, por isso, para aqueles nossos amigos do Exército, da Marinha ou Força Aérea que hoje quiseram juntar-se a nós neste salutar ENCONTRO, peço a todos os PÁRAS aqui presentes e como preito do nosso respeito, uma grande salva de palmas para todos eles.

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ii) Como segundo objetivo para este ENCONTRO foi intenção da Comissão Organizadora propor aos presentes um momento de Reflexão e Evocação em memória de todos os Combatentes Portugueses que tombaram nos campos de batalha na Europa e em África, em nome de Portugal.

Entendemos que é um ato cívico e um exemplo de cidadania para as novas gerações, um povo lembrar e evocar a memória daqueles que tombaram ao serviço da sua Pátria.

Assim:

A primeira EVOCAÇÃO, será para os mais de 8 mil combatentes que tombaram na Guerra Colonial em África.

Na segunda EVOCAÇÃO, lembraremos as consequências desta Guerra para as famílias dos militares do concelho da Lourinhã e que se traduziu na morte de 20 dos seus filhos: 9 em angola, 5 em moçambique e 6 na Guiné.

Neste número está incluído o nosso camarada, o Soldado Paraquedista Carlos Alberto Ferreira Martins, falecido em combate na Guiné em 15 de abril de 1971 e que será lembrado nesta cerimónia em momento próprio.
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POR ÚLTIMO, e porque durante este ano de 2014 todo o Mundo Civilizado evoca os Cem anos do início da I Guerra Mundial, entendeu a Comissão Organizadora propor aos presentes, também um MOMENTO DE EVOCAÇÃO em Memória dos portugueses mortos durante esse conflito nos campos de combate em França e em África (sul de Angola e norte de Moçambique).

Esta guerra deixou um rasto de destruição e morte em vários continentes. De acordo com estatísticas oficiais perderam a vida a mais de 37 milhões de pessoas, militares e civis, entre 3 de agosto de 1914 e 11 de novembro de 1918, data em que foi assinado o Armistício.

Portugal só entra na Guerra, na frente europeia, em 1916, apesar de em África as tropas portuguesas terem começado a combater os alemães logo em agosto de 1914.

Cinquenta e cinco mil homens constituíram o Corpo Expedicionário Português e destes, estima-se que tenham morrido 7.760 soldados portugueses, a grande maioria dos quais em Moçambique, cerca de 4.811.

HOJE, por todo o mundo, evoca-se a memória das vítimas da I Guerra Mundial.

E em Portugal?

No passado dia 1 de agosto a Rádio Renascença (versão on line), divulgava a seguinte notícia:

“Há um mar de papoilas em Londres para lembrar as vítimas da I Guerra”

O relvado da Torre de Londres está pintado de vermelho. Este foi o local escolhido para plantar 888.246 papoilas de cerâmica, uma homenagem às vítimas britânicas da I Guerra Mundial.
A Exposição vai estar aberta até ao dia 11 de novembro. Depois disso, todas as papoilas serão vendidas por 25 libras cada, o que angariará cerca de 15 milhões de libras. Estes fundos serão distribuídos pelas várias associações que ajudam os veteranos de guerra e as suas famílias. Nesta altura 645.000 das papoilas já estão reservadas.”

Este é um exemplo de um povo que foi educado a respeitar, a reconhecer e a evocar a memória dos que se sacrificaram na defesa da sua Pátria!

E em Portugal? O que fez Portugal em relação aos seus filhos que sacrificaram o seu sangue ao seu serviço?

O costume: exigiu-lhes a própria vida e, em troca, olhou-os sempre de esguelha e esqueceu-os.

Foi assim com os militares portugueses que tombaram na I Guerra Mundial. Foi assim com os militares portugueses que tombaram na Guerra do Ultramar!

Lê-se na historiografia atual, disponível: “Em janeiro de 1919 os militares do CEP (Corpo Expedicionário Português) regressaram e encontraram um país mergulhado numa profunda crise. Foi um regresso pouco entusiasta – “quase às escondidas”.

A História repetiu-se em 1974 !

A este propósito, cito do 1.º Suplemento diário sobre a Primeira Guerra Mundial editado pelo Jornal Público em 28.7.2014 na pg. 3:

“ No dia 26 de junho o primeiro-ministro de Portugal foi ao cemitério militar de Richebourg, no norte da França, “prestar a homenagem coletiva (portuguesa) ” aos soldados que morreram na Primeira Guerra Mundial. Se, em vez de ter escolhido o palco europeu da guerra, optasse pelo cemitério de Palma ou o ossário de Mocímboa da Praia, no norte de Moçambique, dificilmente Pedro Passos Coelho teria condições para manifestar o “respeito e sentimento de enorme orgulho “que o país supostamente “tem por todos aqueles que se sacrificaram ao serviço da nação”. Porque nesses lugares remotos não encontraria cemitérios com cruzes brancas, alinhados e conservados, a cortarem o verde da paisagem. Descobriria, sim, lápides a emergirem entre o lixo que alimenta galinhas e cabras. Tumbas engolidas pelo avanço da selva, túmulos profanados com os restos dos esqueletos dos combatentes expostos ao ar, campas onde só com esforço se consegue ler o nome dos que morreram em Quionga, em Negomano ou no território dos macondes do rio Rovuma”.

Governados por gente como esta, para nós portugueses, hoje, que significado tem, sobretudo para as novas gerações “entoar-se o Hino Nacional”, ou Gritar: “VIVA PORTUGAL”?

Mas nós, ex – combatentes, não nos calaremos! Os Mortos nos campos de batalho, não se calarão!

Termino, lendo parte de um poema de John McCrae escrito em Maio de 1915, depois da segunda batalha de Ipres (Leste da Bélgica), que matou milhares de soldados:

"Nos campos da Flandres crescem papoilas
Entre as cruzes que, fila a fila, marcam o nosso lugar (...)
Se trairdes a fé de nós que morremos,
Jamais dormiremos, ainda que cresçam papoilas
Nos campos da Flandres".

Obrigado.

(Continua)
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Notas do editor


(**) 17  de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13619: Convívios (628): Rescaldo do almoço/convívo do pessoal da CART 6254/72, levado a efeito no passado dia 13 de Setembro em Espinho (Manuel Castro)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13620: Memória dos lugares (273): Ganjola, destacamento de Catió, na margem direita do Rio Ganjola, vista pelo saudoso Victor Condeço (1943-2010), ex-fur mil mec armamento, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)...Foi também lá que tombou, em combate, em 23/1/1965, o lourinhanense José António Canoa Nogueira (sold, Pel Mort 942 / BCAÇ 619, Catió, 1964/66)


Foto 6 >  CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola (*).  O fur mil  Victor Condeço em foto para a família com menina mestiça.


Foto 5 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola. Meninos filhos de habitantes, os mestiços eram irmãos e dizia-se entre a tropa, que eram filhos do proprietário, o sr. Brandão. Vista parcial dos edifícios.


Foto 5> > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola. Por menor dos meninos filhos de habitantes locais, dois deles irmãos, os mestiços.


Foto 4 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola. As instalações que eram do Sr. Brandão que vivia em Catió, eram compartilhadas pela tropa e por uns poucos civis, duas famílias.  Na foto, o fur.mil Pires:  de visita, aproveitou foi ao barbeiro.


Foto 3 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)  > Rio Ganjola na cambança para o Destacamento, o militar em primeiro plano é o Srgt  Gaio, do Pelotão de Morteiros 1209.



Foto 2 > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Rio Ganjola vendo-se na margem direita o Destacamento de Ganjola Porto,  na foz do rio Canlolom. O destacamento tinha uma guarnição fornecida por Catió, ao nível de um pelotão, a área ocupada era menor que meio campo de futebol. [este destacamento foi abandonado pelas NT na segunda metade de 1968]



Foto 2A > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)  > Pormenor da foto anterior (2). Ganjola Porto era apenas um grande edifício à beira rio, que servia de habitação e entreposto de comércio, nas traseiras deste, uma outra pequena edificação era a cozinha. O resto era os postos de sentinela e defesa, tudo circundado por uma paliçada e arame farpado. O poço era fora do arame farpado a pouca distância.


Foto 1 >  CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69)  > Rio Ganjola visto da margem esquerda, junto da cambança para o Destacamento de Ganjola Porto. Distava cerca de 5 km do centro de Catió para Norte.

Fotos do álbum do ex-fur.mil mec armamento,  CCS / BART 1913 (Guiné, Região de Tombali, Catió, 1967/69), o saudoso Victor Condeço (1943-2010), natural de (ou residente, até à sua morte, em) Entroncamento.


Fotos (e legendas) de Catió: Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados


José António Canoa Nogueira
(1942-1965)
1. Temos poucas referências (cerca de uma dezena) ao destacamento de Ganjoja, a nordeste de Catió. Por lá passaram alguns camaradas nossos, como o então cap art Alexandre Coutinho e Lima, que fez a sua primeira de três comissões no TO da Guiné, como comandante da CART 494 (Gadamael, 1963/65). Ou o Horácio Fernandes, ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69) que visitou Ganjola 8e que esteve em Catió com o Victor Condeço..

Ganjola é o primeiro topónimo que me fica gravado a ferro e fogo, na minha memória, quando eu já tinha os meus dezoito anos... Dirigia o jornal regionalista "Alvorada" quando soube da morte do primeiro lourinhanense em terras da Guiné, e fiz 3 meses tarde a notícia do seu funeral. 

Por sinal, ele era meu primo em 3º grau,  o José António Canoa Nogueira. Era sold do Pel Mort 942 / BCAÇ 619 (Catió, 1964/66). Morreu em Ganjola, em 23/1/1965. Tinha 23 anos (nascera em 11/1/1942, na vila da Lourinhã). O seu pai, o primo Nogueira, primo direito da minha mãe, ficou destroçado, nunca mais fo o mesm,o homem. Tem duas irmãs que eu já não conheço. Creio que uma está emigarada (nos EUA ou no Canadá).

Publiquei, em 23/5/1965, no jornal, quinzenário, "Alvorada", a última (ou uma das últimas cartas que ele terá escrito antes de morrer. Já a republiquei na I Série do nosso blogue, em poste de 8/9/2005. Continuam a ser memórias (algumas, dolorosas) daquela  terra e daquela guerra (***).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 17 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13617: O meu baptismo de fogo (27): Às 16H45 do dia 17 de Setembro de 1963, o IN atacou o que iria ser o futuro aquartelamento de Ganjola (Coutinho e Lima)

(**) Último poste da série > 23 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13433: Memória dos lugares (272): Espectáculos em Galomaro no tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares)

(**) Vd, I Série > 8 de setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXI: Antologia (18): Um domingo no mato, em Ganjolá

(...) Um domingo no mato

Aqui, Ganjolá, Guiné, 10-1-1965

Mesmo no sul da Guiné, pequeno destacamento militar presta continência à Bandeira Verde-Rubra que sobre o mastro fica brilhando ao sol. E que linda que é a nossa bandeira; e é tão alegre, tão garrida, só olhá-la nos faz sentir alegria e também emoção; alegria de sermos portugueses e emoção por estarmos cá longe para a defender. Embora assim perdida no mato, a bandeira, brilhando, afirma que aqui também é Portugal.

Em volta, meia dúzia de barracas verdes, o nosso aquartelamento, a única nota de civilização nesta imensa planície. Muito ao longe, quase perdidas no mato e no capim, algumas palhotas indígenas; de resto, tudo é solidão. Somos soldados de Infantaria e por isso o nosso trabalho é fazer operações em qualquer parte do mato.

Aqui não há escolas e as igrejas não têm paredes; o tecto é o céu. Em toda a parte se reza e tudo nos incita à oração. Deus está em toda a parte e ouve-nos.

Hoje é domingo, dia de descanso, não se trabalha, mas distracções também não há. Alguns vão à pesca ou à caça; outros, deitados debaixo das enormes árvores, dormem e pensam nas suas terras e famílias distantes, mas pertinho do coração. Como são diferentes aqui os divertimentos nos domingos.

Dois soldados vão todos os dias à caça; por isso, fome não há. Temos carne com abundância, mas falta tanta coisa!... Ei-los que chegam com tenros cabritos e gazelas e logo enorme fogueira crepita alegremente. Esfolam-se os animais e lava-se a carne; a água não falta, embora para se beber seja preciso enorme cuidado. Prepara-se um espeto para se assar a carne. Espalha-se então o cheiro da carne assada pelo pequeno acampamento. Está a refeição preparada; troncos de árvores, caixotes vazios, servem de mesa e de cadeiras.

Todos se servem. A refeição é pouco variada: apenas carne assada e pão. O vinho também é pouco, mas dividido irmãmente dá para todos; que bem que sabe uma pinguita com este almoço!...

Bebia-se mais mas não há, paciência… O improvisado cozinheiro faz enormes quantidades de café. Todos enchemos os copos de alumínio e bebemos alegremente. Acaba a refeição; por fim, alguns macacos, meio domesticados, que por aqui andam, aproximam-se e reclamam a sua parte.

É assim um domingo no mato. Depois de explanar esta ideia, termino. Despeço-me com o mais ardente desejo de a todos vós abraçar brevemente, fazendo preces ao Senhor para que tenhais saúde e boa sorte. Vosso amigo que respeitosamente se subscreve, todo vosso.

José António Canoa Nogueira.
Soldado nº 2955/63
SPM 2058. (...)


Guiné 63/74 - P13619: Convívios (628): Rescaldo do almoço/convívo do pessoal da CART 6254/72, levado a efeito no passado dia 13 de Setembro em Espinho (Manuel Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Castro (ex-Fur Mil Mec Auto da CART 6254 (Os Presentes do Olossato), Olossato, 1973/74), com data de 16 de Setembro de 2014:

ALMOÇO/CONVÍVIO DO PESSOAL DA CART 6254

ESPINHO - 13 DE SETEMBRO DE 2014

A CART 6254, que esteve no Olossato entre Março de 1973 e Julho de 1974, realizou, no passado dia 13 de Setembro de 2014, o seu 6.º almoço/convívio.

O programa iniciou-se, junto ao memorial dos combatentes, no quartel do Regimento de Engenharia 3, em Espinho, com uma cerimónia em homenagem aos camaradas que tombaram em combate.
Para o efeito o Sr. Comandante do Regimento disponibilizou as instalações e uma pequena força militar devidamente comandada pelo Sr. Alferes Oficial de Dia à Unidade.
A cerimonia terminou com a deposição de uma coroa de flores no memorial.
De seguida, foi celebrada uma missa em memória dos ex combatentes já falecidos.

Terminadas as cerimonias, no RE 3, o grupo seguiu para o restaurante onde almoçou e passou o resto da tarde partilhando memórias e acrescentando mais algumas peças ao puzzle da história da companhia.

Estiveram presentes no evento 30 ex-combatentes e 49 familiares.
Saiu toda a gente muito bem disposta e com a vontade de, anualmente, repetir o acontecimento que se realiza no segundo Sábado de Setembro de cada ano.




Manuel Castro
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13615: Convívios (627): Rescaldo do Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, ocorrido no passado dia 11 de Setembro de 2014 (José Manuel Matos Dinis e Manuel Resende)