Vídeo: 6' 47'' Luís Graça (2010). Direitos reservados (Alojado em You Tube > Nhabijoes)
Apresentação do livro Spínola: Biografia, da autoria do historiador Luis Nuno Rodrigues (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2010). Local: Lisboa, Fundação Mário Soares, 8 de Abril de 2010. Sessão presidida por Mário Soares.
Excerto da intervenção do Embaixador João Diogo Nunes Barata, antigo chefe de gabinete de Spínola na Guiné. Neste excerto, é feita uma apreciação global do autor, o historiador Luís Nuno Rodrigues (ISCTE e IPRI) e da obra. Embora este vídeo tenha sido gravado em contexto público, pedi a devida autorização ao autor, Embaixador Nunes Barata, para reproduzir aqui a sua imagem e as suas palavras, pedido esse que foi gentilmente deferido.
Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados.
1. António Sebastião de Spínola (1910-1986) faria 100 anos no próximo dia 11 de Abril, domingo, se fosse vivo. Morreu em 13 de Agosto de 1966, aos 86 anos. "Vítima de embolia pulmonar, no Serviço de Doenças Infecto-Contagiosas do Hospital Militar, na Ajuda, em Lisboa" (Manuel Catarino e Miriam Assor - Spínola: Senhor da Guerra. S/l: Presselivre, Imprensa Livre SA, 2010, p. 235). O centenário do seu nascimento será necessariamente objecto de diversas celebrações e eventos, algumas já anunciadas (*).
"Quem era, quem foi - o que não é exactamente o mesmo - António de Spínola ?", pergunta Carlos Matos Gomes, no prefácio ao supracitado livro... Acaba de sair, na editora A Esfera dos Livros, aquela que já é considerada a sua primeira grande biografia (pela quantidade e qualidade da informação, pelo rigor metodológico do autor, um conceituado académico): Spínola: Biografia, do historiador Luis Nuno Rodrigues (748 pp.).
Para já, queremos continuar a publicar os testemunhos e depoimentos dos nossos camaradas que serviram sob as ordens de (e conheceram, mesmo que supercialmente) o brigadeiro e depois general António Spínola, (ou simplesmente Spínola) como Governador Geral e Comandante Chefe no TO da Guiné (1968-1973) (**). Para já dois comentários, de Joaquim Mexia Alves e José Manuel Dinis (*). Outros comentários, ou mesmo texto mais elaborados, serão bem vindos.
Como escrevi há dias, aquele que foi, para muitos de nós, o Velho, o Caco, o Caco Baldé, o Homem Grande, o Bispo, algumas das alcunhas por que era conhecido entre a tropa, o Com-Chefe e Governador-Geral António Spínola, não o conhecemos assim tão bem quanto o julgamos... Temos a tendência, bem portuguesa, por ficarmos pela rama, pelo anedótico, pela pequena história, pelo boato, pelo preconceito, pelo fait-divers...
É a altura de confrontarmos as nossas recordações de Spínola com a biografia do homem, do português, do militar e do político que passou à História (ou que, pelo menos, é já hoje objecto da investigação historiográfica).
É altura de olharmos, critica mas desapaixonadamente, para aquele que foi um dos mais importantes actores da cena político-militar do nosso tempo de jovens, combatentes e cidadãos ... Venham daí mais testemunhos a acrescentar aos dos nossos camaradas Vasco da Gama, Jorge Félix, Jorge Picado, Joaquim Mexias Alves e José Manuel Dinis.
(i) Joaquim Mexia Alves:
O General Spínola foi, independentemente do ódio de alguns, um digníssimo oficial superior das Forças Armadas Portuguesas, que muito as prestigiou.
Foi sem dúvida um comandante de homens que nunca voltou a cara ao perigo, arriscando às vezes até mais do que seria desejável na sua posição de Comandante Chefe.
Se numa dessas temeridades acontecesse o pior, qual não seria a vitória para o PAIGC ?!
Numa operação com desembarque de LDG no Corubal, abaixo da Ponta do Inglês, estava à nossa espera no cimo do talude do rio, para nos incentivar. Não vi lá mais nenhum oficial superior, nem comandantes de Batalhão.
Como todas as pessoas também cometeu erros, mas no computo geral, julgo que foi um grande Português e um Grande e Competente Militar.
Já tardava esta homenagem.
Se puder lá estarei com orgulho de ter servido sob as suas ordens.
(ii) José Manuel Matos Dinis:
O Gen Spínola não foi, seguramente, uma figura consensual. Na aplicação disciplinar, usou de vários critérios e incongruências; do ponto de vista estratégico, não se lhe conheceu um golpe de asa capaz de virar o rumo dos acontecimentos; enquanto Com-Chefe não foi capaz de montar uma máquina de auditoria e fiscalização, no sentido de moralizar e solidarizar os serviços de intendência e os comandos das diversas unidades; também as diversas Repartições, muitas vezes deram mostras de alheamento face às necessidades da guerra; enquanto político não manifestou um pensamento coerente, e só com o Portugal e o Futuro deu uma nota da sua visão, mas foi impotente para condicionar o Movimento dos Capitães a tomar a linha de rumo ali traçada, apesar de "envolvido" ab initio; com a lei que regulamentou a carreira dos oficiais, tanto alinhou com os milicianos, como com os do QP; enfim, vaidoso e ambicioso, desde cedo deu a ideia de querer vir a ser a 1ª figura da nação. Claro que também teve qualidades, mas acho relevantes as críticas anteriores.
Uma ocasião, enquanto estive hospitalizado, o meu pelotão foi colocado numa aldeia, em autogestão, até que um dia a abandonou face aos sucessivos atrasos na distribuição do almoço. Era um pelotão valente, esforçado, generoso e optimista, apesar das reiteradas manifestações de desprezo e castigo por parte do comando (capitão e sargentos).
Pois nesse período, o General Spínola deslocou-se a Tabassi onde teve um cordial encontro com a rapaziada, de tronco nú e barbas por cortar.
Foi o meu Comandante, estarei presente numa homenagem de veteranos, se assim for decidido, mas afastada pelo menos cem metros da oficial, pois não posso alinhar e dar um agreement aos hipócritas, incompetentes, e metidos em trapalhadas, que dominam este país. O General, pelo menos, não deu ideia de se ter servido da posição em proveito pessoal, e foi corajoso, talvez excessivamente.
Abraços fraternos.
J.Dinis
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6097: Agenda Cultural (67): Homenagem da Câmara Municipal de Lisboa ao Marechal António Spínola (Mário G. R. Pinto)
(**) Vd. postes anteriores desta série:
17 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4041: O Spínola que eu conheci (4): Mansoa, 17 de Março de 1970, com o Ministro do Ultramar (Jorge Picado)
1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3953: O Spínola que eu conheci (3): Um homem de carácter (Jorge Félix)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3935: O Spínola que eu conheci (2): O artigo da Visão e o meu direito à indignação (Vasco da Gama)
24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3929: O Spínola que eu conheci (1): Antes que me chamem spinolista... (Vasco da Gama)