sábado, 2 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11182: Memória dos lugares (220): Gandembel: fotos de 1968 (Idálio Reis), 2008 (Luís Graça) e 2011 (Carlos Afeitos) (Parte I)



Foto nº 1 (Carlos Afeitos,  2011)


Foto nº 2 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 3 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 4 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 5 (Carlos Afeitos, 2011)



Foto nº  6 (Luís Graça, 2008)


Foto nº  7 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 8 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 9 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 10 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 11 (Luis Graça, 2008)


Foto nº 12 (Luís Graça, 2008)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel >  CCAÇ 2317 (1968/69) > Neste e num poste seguinte, vamos apresentar imagens de épocas diferentes, captadas por Idálio Reis (1968), Luís Graça (2008) e Carlos Afeitos (2011).


1. Mensagem, datada de 21 de fevereiro último, de Carlos Afeitos, antigo professor, cooperante na Guiné_Bissau (2009-2012) e membro recente da nossa Tabanca Grande:

Boa tarde,

Tenho lido o blog e continuo com a mesma percepção de que falei anteriormente. É incrivel saber as coisas que vocês por lá passaram e como em pouco tempo o degradamento dos edifícios que foram deixados. Eu conheço os sítios de como estão agora e vejo a diferença. Continuando, estive a ver que agora estão alguns posts relativamente à linha de defesa junto da Guiné-Conacri e como conheço alguns sítios envio mais um lote de fotografias.

Desta vez é de Gandembel, o que tem uma história particularmente engraçada. Quando passei a segunda vez pela placa, decidimos parar e ir visitar as antigas instalações de Gandembel. Como eu nunca fui à tropa e estava acompanhado de dois amigos que conhecem essas andanças, lá me foram dando algumas luzes do que estava a ver. Vi pelo menos um bunker, uma linha de trincheiras ao redor do aquartelamento, um fosso para fazer tiro de morteiro, segundo as explicações, o que resta de um edifício e uma espécie de fosso. Fosso esse que não sei o que seria, se seria para mecânica ou algo parecido. Já agora coloco a questão, que tipo de aquartelamento era Gandembel? Quantos militares lá estavam?

Continuando o meu relato, andámos por todo o lado e percorremos o que restava, claro que sempre acompanhado por um enorme nuvem de mosquitos, mas mesmo grande,  que eu passava as minhas mãos por detrás da cabeça e sentia-os a bater-me nas palmas das mãos. Tal era a quantidade de aeronaves voadoras por aqueles lados, até aqui tudo bem. 

Continuámos o nosso caminho e fomos até Gadamael Porto, Cacine e Cameconde. Não cheguei a ir a Campeane. Existiu algum quartel por aqueles lados? Em Cameconde, estivemos e veio um professor pedir-nos ajuda com alguns materiais escolares, livros e coisas afins. Isto passou-se em Julho. Em Agosto regressei a Portugal para férias escolares e voltei para a Guiné em Outubro. Em Novembro, consegui reunir bastantes livros de vários anos e mais algum material escolar e marquei um dia para ir entregar o material. Lá fomos de carro cheio de material escolar de Bissau até Cameconde. 

Pelo caminho, como ia com outro amigo que nunca tinha ido para aqueles lados, queríamos parar em Gandembel. Para grande surpresa nossa, estavam a desminar aquela área e não foi possível visitar novamente o aquartelamento. Como ia eu e mais um amigo da outra vez, ficámos a pensar um bocado pois ainda há 4 meses tínhamos percorrido tudo e agora estavam a desminar o sítio. Uma das pessoas disse-nos que tinham encontrado 38 objectos explosivos, mas não sei o que seria,  se minas ou outra coisa qualquer. Sei que o vi com uma espécie de bala na mão, mas em tamanho grande. Podem ver que eu sou mesmo perito nestas andanças.

Com os melhores cumprimentos,

Carlos Afeitos [, foto atual, à direita,]

2. Resposta do editor L.G.:

Obrigado, Carlos... Fico muito sensibilizado...

Sobre Gandembel, tens no blogue cerca de 150 referências... Ganbembel foi construído de raíz, a pá e pica, e defendido com unhas e dentes... Em qualquer parte do mundo, daria um filme épico!... Em menos de 9 meses, a CCAÇ 2317 (c. 150 homens) tiveram c. de 370 ataques e flagelações... Vê aqui uma coleção notável de fotos (11 postes) em:

10 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

3. Comentário do Idálio Reis [, foto à esquerda], com data de 1 do corrente, a pedido dos editores:

Assunto - Gandembel e as fotos de um cooperante português: Carlos Afeitos

Quando se procura testemunhar indícios da passagem do homem, passados 44 anos e mais em África, o que poderá restar? Fósseis.

No abandono de Gandembel, a 28 de Janeiro de 1969, todas as infraestruturas existentes ficaram intactas, e porque se procedeu a destruições posteriores, são mistérios. Talvez, ambos os beligerantes, tenham a sua quota-parte, quer seja pelo poder das bombas da Força Aérea, quer mesmo pelo PAIGC.

A envolvente de Gandembel ficou pejada de minas e armadilhas antipessoais. Mas das fotos que me enviaram aquando do Simpósio de Guileje, em 2008, não estavam lá tais placas. Contudo, se se processava a um processo de desminagem, como atesta o Carlos Afeitos, é porque algo se passou de consequências imprevisíveis. Muitos artefactos por lá restaram, desde munições a granadas de mão que se enterraram, a granadas de morteiro que não rebentaram. Oxalá que tais trabalhos de desminagem tenham resultado em pleno, para que aquela terra ardente sossegue definitivamente.

E nesses chãos do Balana, a pujança da fauna e da flora do Cantanhez continue em ciclópica regeneração, pois a Guiné-Bissau possui aí uma riqueza incomensurável.

Do mail do Carlos Afeitos, refere as nuvens de mosquitos. Porventura resultantes de charcos do Balana, já que no meu tempo, não foi esse o nosso grande flagelo, pois jamais houve uma rede mosquiteira. As ingentes azáfamas quotidianas toldadas com os constantes estrondos da metralha, foram sempre o nosso penar. Quanto sangue se jorrou em Gandembel!

Das fotos, notam-se essencialmente restos calcinados das casernas-abrigo - os tais bunkers -, que nos proporcionava alguma segurança pessoal. Verifica-se que o cimo de uma delas, tomba de pleno, onde se nota restos da parede posterior, que as estruturas metálicas de sustentação fizeram solidificar.

Um dos locais do morteiro 81 [ Fotos nºs 1, 2, 3, 4] continua presente. Era aí que pernoitavam o comandante da Companhia e o seu ajudante.

Também, pelo seu figurino geométrico se mostra o armazém de víveres, a última das construções mais sólidas a serem edificadas. [,Fotos nºs 5 e 6]

Desconheço se o cooperante Carlos Afeitos ainda continua a calcorrear aquelas terras do Forreá. Terei o maior prazer em lhe ofertar um livro meu, para lhe dar a conhecer o quanto representou aquelas paragens para a minha CCaç 2317. E se acaso, por aí se quedar, que envie mais algumas imagens. Ficarei satisfeito.

Calorosamente, Idálio Reis
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2013 >  Guiné 63/74 - P11171: Memória dos lugares (219): Olossato, anos 60, no princípio era assim (6) (José Augusto Ribeiro) 

Guiné 63/74 - P11181: Em busca de ... (216): O meu professor, em Afiá, Aldeia Formosa, o ex- 1º cabo Abeltino José Rocha (Sori Baldé, secretário executivo da ONG ADI - Associação para o Desenvolvimento Integrado)


Guiné > Região de Tombali > Guileje (mapa de 1956) (Escala 1/50 mil) > Detalhe > Posição relativa de Afiá

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

1. Mensagem do nosso leitor Sori Baldé, com data de 28 de fevereiro último:

Bom dia,

Sou Sori Baldé, guineense, técnico agrícola, actualmente secretário executivo de ONG-ADI [, Associação para o Desenvolvimento Integrado]. [Ver aqui uma entrevista de há dois anos com Sori Baldé]

Estou à procura de um português que passou na Guiné, nos meados de 1972/74, 1º cabo, professor colocado em Afiá e residente na Aldeia Formoso, de nome Abeltino José Rocha.

Sori Baldé

Telemóveis: +(245) 662 63 15 ou 590 02 56

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Sori Baldé, obrigado por bateres à porta da nossa Tabanca Grande. Mas vamos  lá ver se te conseguimos ajudar. Infelizmente não temos listas completas e atualizadas dos militares portugueses  que passaram pela tua terra, entre 1972 e 1974... O teu professor tem, no entanto, uma nome pouco vulgar, Abeltino...  Pesquisando na Net localizei um indivíduo com esse nome, Abeltino José Rocha, em dois sítios:

- Rede social Sonico Portugal: há um indivíduo com o mesmo nome, residente em Setúbal;

- Brigada Fiscal - Aviso no Diário da República: há também, ou havia em 2001, um agente da Brigada Fiscal com esse nome.

Mas o mais importante é saber a que unidade (batalhão ou companhia) pertencia o teu professor... Espero que ele ou algum seu antigo camarada de armas possa ler o teu apelo... Ele por certo que ficará feliz e orgulhoso por saber notícias tuas. Recebe um abraço dos teus amigos de 72/74. Mantenhas. Luís Graça

PS - Ah!, e conta-nos com mais pormenores como era a tua aldeia, Afiá, nesse tempo,  e que militares lá estavam, juntamente com o teu professor. Também podes falar da tua ONG e do trabalho que vocês estão a fazer no terreno (que, pelo que li, se tem concentrado nas regiões de Biombo, Cacheu, Oio, Tombali e no Sector Autónomo de Bissau).

3. Aqui ficam informações recolhidas pelo nosso colaborador permanente José Martins sobre as unidades que passaram por Aldeia Formosa no período em questão (1972/74). Todas elas têm representantes no nosso blogue.

Viva,  Luis

Eis o que consegui encontrar:

Unidades estacionadas em Aldeia Formosa, no período referido:

Mobilizado no Regimento de Infantaria 15 - Tomar
Batalhão de Caçadores 4516/73, entre Agosto e Outubro de 1973
2ª Companhia, entre Julho e Agosto de 1973
3ª Companhia, entre Julho e Outubro de 1971
Contacto para o encontro de 2007
Manuel António Silva  + telemóveis 933 629 860 e 965 528 580

Mobilizado no Regimento de Infantaria 2 – Abrantes
Batalhão de Caçadores 4513/72, de Março de 1973 a Abril de 1974
2ª Companhia, idem.
Contacto para o encontro de 2011
Adalberto Silva, telefones 309 713 745 ou 965 816 315
Email: batcac4513@gmail.com ou a.costasilva@hotmail.com

Mobilizado no Regimento de Cavalaria 3 – Estremoz
Companhia de Cavalaria 8351/72, de Outubro de 1972 a Julho de 1973.
Contactos não encontrados

Abraço
Zé Martins
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11118: Em busca de... (215): Informações sobre o malogrado Fur Mil Lenine José da Costa Lima e Castro (Pel Rec Fox 693), falecido em campanha em 28 de Novembro de 1964 (Carlos Matos Gomes)

Guiné 63/74 - P11180: Do Ninho D'Águia até África (55): O fim aproximava-se, mas havia desespero (Tony Borié)





1. Quinquagésimo quinto episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177:




DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA - 55


O mosquiteiro, que se usava sobre a cama, já estava roto e cheio de marcas de sangue seco dos mosquitos mortos, que quando vivos, faziam uma zoeira na área das orelhas, e acordavam o Cifra, as picadelas, não produziam qualquer efeito. As botas estavam rotas e gastas, tinha um par delas melhor, que estava a guardar para o embarque, pois queria aparecer aos primos de Lisboa, limpo e com alguma dignidade.

O Cifra estava a passar por uma fase difícil, tinha pensamentos arrepiantes, algumas vezes quando ao final do dia vinha até à ponte, olhava a água, principalmente na maré cheia, parece que ouvia uma voz a chamá-lo, a convidá-lo a mergulhar nessa mesma água, turva e cheia de lama, nesse momento, tirava o cigarro da boca, atiráva-o para a água e via-o desaparecer, num turvilhão sujo, com espuma e alguns pedaços de ervas secas, que iam com destino ao mar do oceano Atlântico, talvez indicando-lhe o caminho da Europa, onde estava a sua aldeia do vale do Ninho d’Águia, nessa altura, uma força interior, fazia-o olhar em outra direcção e fugia, correndo para longe da ponte, em direcção ao aquartelamento, onde aparecia angustiado, e sem falar a ninguém ia deitarse, encolhido dentro do mosquiteiro e olhava os buracos desse mesmo mosquiteiro, com medo que alguém lá entrasse e o fosse levar para junto daquele turvilhão de água suja, com ervas secas, que iam com direcção ao oceano Atlântico.

Esta era uma fase da sua estadia em cenário de guerra, em que andava muito desmoralizado, já não podia ver à sua frente o café preto sem açúcar, que todas as manhãs o “Arroz com pão”, o tal cabo do rancho, lhe dava, e ele bebia. Ao decifrar uma mensagem, denunciando a morte de militares em combate, ficava nervoso, tremia, saía fora do centro cripto, olhava o horizonte, para onde pensava ser o lado de Portugal, e começava a chorar, deprimido.

Falava pouco, e só quando era preciso. Passava muito tempo com o seu macaco, foto em cima, para quem já tinha arranjado novo dono, e que já o tratava algumas vezes. Por vezes irritava-se com o animal, que logo ficava com um ar triste, e vinha lamber-lhe as mãos, e olhava para os olhos do Cifra, de diferente ângulos, como se fosse um ser humano, e percebesse a angústia do Cifra.


Escrevia algumas frases de revolta, numa folha de papel no centro cripto, lia essas frases, e rasgava o papel, atirando esse papel para uma caixa de cartão que estava num canto, onde se colocava algumas fitas do código de mensagens decifradas e que se queimavam ao final do dia, ao lado do cabanal onde se fazia a limpeza das armas, depois vinha a essa caixa, e ia rasgar outra vez, tudo em pedacinhos mais pequenos.

Não podia manter conversação com ninguém, pois se o contrariassem, argumentava, e não procurava quem tinha razão.

Ele é que estava sempre certo.

Os colegas com o mesmo tempo de província, como era o caso do Setubal, ou do Curvas, alto e refilão, pouca diferença faziam do novo carácter e maneira de proceder do Cifra, fumavam, bebiam, falavam pouco e nada lhes interessava.

O Curvas, alto e refilão, a maior parte das vezes, andava nú, ou então só com uns restos de calcões, mesmo rotos, e a medalha, cruz de guerra, pendurada neles, a caminhar pelo dormitório, e quando o questionavam dizia:
- Vai chatear a tua avó!. E cala-te senão és capaz de levar com uma granada no focinho!.

Andava tão “despassarado”, que uma vez, até deixou ir a medalha cruz de guerra, agarrada aos restos dos calções para a lavadeira, e chamava filho da p... a toda a gente, pois tinhamlhe roubado a medalha, e qual foi o seu espanto, quando a lavadeira, no final da semana, lhe vem entregar a roupa, e com a medalha na mão, lhe diz mais ou menos isto:
- Isto parece patacão, mas não é, deve ser patacão do Portugal, tem uma fita agarrada, se tú não queres, eu coloca na orelha, tem manga de ronco!.

E exemplificava, com a medalha encostada na orelha, gravura em cima, e como tinha umas argolas no pescoço, até nem lhe ficava nada mal!.

Por vezes, quando com eles falavam, tinham que repetir as palavras, pois o seu pensamento estava longe. Tirando o comandante, não lhes interessava que fosse oficial, sargento ou qualquer outra pessoa, eles não falavam, nem saudavam.
Era melhor assim, pois no contrário, havia conflito.

Era muito tempo dentro do arame farpado, andavam desesperados.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 26 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11156: Do Ninho D'Águia até África (54): Ano e meio já lá vai (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11179: In Memoriam (143): Soldados Domingos do Espírito Santo Moreno e João Amado, e 1.º Cabo João António Paulo, da CCAÇ 3489, mortos em combate, em Cancolim, no dia 2 de Março de 1972 (Juvenal Amado)

 

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 27 de Fevereiro de 2013:

Caros Luis, Carlos, Magalhães e restante camaradas da Tabanca Grande
Prestes a fazer 41 anos sobre o ataque a Cancolim em que morreram três camaradas, mando aqui uma pequena homenagem.
Juvenal Amado




Tudo a postos


Cancolin, 2 de Março de 1972

No ar paira um cheiro estranho 
Na escuridão tudo são sombras e medo 
A luz difusa amplia os nossos fantasmas 
Olhos que já não veem o desespero 
Gargantas que não articulam sons 
Jazem inertes na boca de cena 
Marionetes a quem se lhes cortou os fios 
Estão imóveis sem luz e sem chama 
O que ficou por construir será sempre uma incógnita 
A mais pequena insignificância será uma relíquia 
Através dela revive-se o homem 
Para trás ficaram os sacrifícios supremos 
Já não têm medo, nem dor, nem saudade 
No peito uma rosa de sangue 
O amor para sempre adiado 
Crianças penduram desejos na árvore da vida 
Fatalismo que se cobre de negro 
Lágrimas que teimam em rolar pelas faces 
Rostos e mãos que vão envelhecer sem esperança 
Pele amarrotada pela vigília e pela poeira dos tempos 
Mas ainda paira no ar o tal cheiro estranho 
Cheiro que se nos pegou a nós em Santa Apolónia 
Que nos quebrou nos porões ao sabor do destino 
O cheiro trágico de vidas que ficam por cumprir. 

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Mortos em combate: 
João António Paulo 
João Amado 
Domingos do E. Santo Moreno
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 1 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11175: In Memoriam (142): Sesimbra, 26/2/2013, cemitério local, talhão dos antigos combatentes: singela mas digna cerimónia de trasladação dos restos mortais do nosso amigo e antigo comandante cor inf ref Alberto Costa Campos (Carlos Jorge Pereira)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11178: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (4): Situação das reservas para pernoita no Palace Hotel de Monte Real (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

VIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE

DIA 22 DE JUNHO DE 2013

PALACE HOTEL DE MONTE REAL 




Caros camaradas e amigos tertulianos
Informamos que hoje mesmo ficamos a saber pelo nosso camarada Joaquim Mexia Alves que foi anulada a pré-reserva da qual dependia a possibilidade de pernoita dos participantes do nosso VIII Encontro no Palace Hotel de Monte Real.

Quem eventualmente estivesse reticente em participar por não poder usufruir das excelentes condições deste Hotel, pode inscrever-se desde já pois haverá vagas para nós.

Não se deverá, no entanto, deixar muito para tarde os pedidos de reserva porque a situação, de repente, pode inverter-se.

Por outro lado, a inscrição atempada no Convívio do dia 22 de Junho não impede a desistência por motivo de força maior, desde que comunicada à Organização com pelo menos três dias de antecedência.

Lembramos os preços por quarto, com pequeno almoço incluído: 
duplo - 60€
single - 50€

Já agora fica novamente aqui o preço do almoço: 30€, cuja ementa se pode consultar clicando aqui.

A Organização:
Luís Graça
Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11170: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (3): Em 90 respondentes à nossa sondagem, mais de 42% já se inscreveu ou vai-se inscrever... Cerca de 28% ainda estão indecisos... 30% não pode ou não pensa comparecer...

Guiné 63/74 - P11177: Para que a memória não se perca (4): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Quarta e última parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se prolongou por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.




Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (4)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW 


Operações militares no Xuro em 1914
Foi no dia 12 de Dezembro de 1913 que as gentes de Xuro se insurgiram contra as autoridades provinciais, assassinando o Administrador de Cacheu, Alferes Nunes, assim como tomaram o motor “Cacine”, trucidando parte da sua tripulação.
Ao tomar conhecimento desta insurreição, o governo manda organizar uma coluna para se dirigir para o Cacheu, que, sob o comando do Capitão João Teixeira Pinto, era constituída por um 1º Sargento e 40 praças de infantaria, 15 praças de cavalaria do pelotão de policia rural, uma peça de 7 c. e respectiva guarnição e 200 indígenas auxiliares.
A força, que se encontrava em Cacheu a 2 de Janeiro de 1914, ruma ao Xuro e, depois de uma marcha de cerca de 8 horas, sempre debaixo de fogo, acampa pelas 21H30, reiniciando a marcha no dia seguinte, até ao local onde foi assassinado o Alferes Nunes, assim como a “Cacine” destruída.
Os revoltosos já se tinham retirado para Bagulho, para onde se dirigiu a coluna, para lhes dar combate e destruir a povoação.
Distinguiram-se e foram louvados:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto, 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa, Tenente Médico Gonçalo Monteiro Filipe, Alferes do Quadro Auxiliar de Artilharia António Maria, 2º Sargento de Infantaria José Francisco Alhandra, 2º Sargento Enfermeiro Manuel Gomes Garcia, 1º Cabo de Infantaria João Rodrigues Faria e Soldado Casino.

Forças que constituíam uma coluna
© Foto: José Henrique de Mello

Operações contra os balantas de entre Mansoa e Geba em 1914 
Havendo necessidade de lançar uma ponte sobre o Rio Banubi, encarregaram o Alferes Manuel Augusto Pedro para escolher o local adequado a tal obra. Assim, em 5 de Fevereiro de 1914, o citado subalterno saiu de Mansoa à frente do seu pelotão para dar cumprimento à missão de que tinha sido encarregado.
Enquanto a patrulha desenvolvia a sua missão, foi a mesma atacada por numerosos balantas das tabancas de Braia e Banubi em tal numero que, além do comandante foram mortos os 1º Cabos António Pereira, os 1º Cabos Ferrador António Augusto de Sá Morais e Francisco Martins, assim como 15 Soldados indígenas que faziam parte da força. Foi o ataque levado até ao extremo, visto que até os cavalos foram todos abatidos.
O tiroteio foi ouvido em Mansoa, cujo comandante mandou sair uma força, comandada por um sargento, com o propósito de colher informações sobre o sucedido, tendo encontrado dois, dos seis soldados, que tinham escapado à chacina, que informou o comandante da patrulha do sucedido.
Mesmo consciente do risco que corria, dada a força diminuta de que dispunha, o 2º Sargento Romualdo Anastácio Lopes, tomou a decisão de se deslocar ao local daquela ocorrência para recolher os corpos dos camaradas tombados. Tendo sido atacado pelos revoltosos, respondeu ao tiroteio conseguindo repelir o ataque de que foi alvo. No local apenas pode recolher os corpos do 1º Cabo António Pereira, do 1º Cabo Ferrador António Augusto de Sá Morais e de um Soldado indígena, já que com a subida da maré os restantes corpos ou se encontravam cobertos pela subida das águas ou tinham sido arrastados. Recolheu os despojos dos camaradas e regressou ao quartel.
Perante estes factos, o Capitão João Teixeira Pinto organiza uma coluna que, sob o seu comando, inicia uma operação, que se prolongará por seis meses, fazendo guerra implacável e sem quartel aos autores e apoiantes do ataque sofrido, destruindo tabancas, mesmo aquelas que se supunham ser inexpugnáveis.
Toda a operação foi apoiada pelas canhoneiras “Zagalo” e “Flecha”.

Pelotão de Companhia Indígena 
© Foto: José Henrique de Mello 

Tomaram parte nas operações, as seguintes forças:
• Um 1º Sargento, no comando de 30 Praças da 2ª Companhia Indígena da Infantaria da Guiné;
• Tenente Augusto José de Lima Júnior, 37 Praças da guarnição do Posto de Bissoram;
• Tenente Artur Sampaio Antas, no comando de 53 Praças da guarnição do Posto de Mansoa;
• Capitão Médico Cristóvão Joaquim do Rosário Colaço;
• Mamadu-Sissé, comandando 200 homens de guerra;
• Abdul-Injai, comandando 500 homens de guerra;
• 60 Irregulares a cavalo, que foram utilizados no serviço de exploração;
• Canhoneiras “Zagaia” e “Flecha” da Marinha de Guerra.

Distinguiram-se e foram louvados: 
Comando:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto;
• Armada:
o 2ºs Tenentes Artur Arnaldo do Nascimento Gomes e Raul Queimado de Sousa; 1º Artilheiro José Ferreira e 2º Artilheiro António Ferreira; 1º Fogueiro Domingos Moreira e 2º Fogueiro José Maria;
• Exército de Terra:
o 1º Sargento de Artilharia Alberto Soares; 2ºs Sargentos Vilaça, José Augusto Ribeiro, José Rodrigues Faria e Romualdo Anastácio Lopes.
• Civis:
o Vergílio Acácio Cardoso, administrador de Bissau.
• Auxiliares:
o Mamadu-Sissé, promovido a Alferes de 2ª Linha,
o Abdul-Injai, promovido a Tenente 2ª Linha.


Operações contra grumetes e papeis da ilha de Bissau em 1915
Chamar os indígenas, mesmo os grumetes e papéis da zona de Bissau, ao convívio e à civilização, ou mesmo à subordinação á nossa autoridade, era tarefa difícil.
Os desacatos eram frequentes e, até os soldados da guarnição de Bissau, eram desfeiteados já que as populações não permitiam que lhes fossem arroladas as moranças, para lhes ser cobrado o respectivo “imposto de palhota”.
Perante a situação, o governo da província entende organizar uma coluna para castigar os insubmissos e conseguir a cobrança dos impostos, o que efectivamente foi conseguido, embora à custa de grandes combates em Intim e Bandim, não só na marcha sobre Sanfim e no ataque à tabanca do régulo de Biombo, fazendo frente a uma força inimiga mais poderosa, aguerrida e bem armada, não evitando que centenas de baixas entre o gentio.
Exército de Terra:
Oficiais e forças presentes:
• Major José Xavier Teixeira de Barros;
• Capitães de Infantaria João Teixeira Pinto e António Sérgio de Brito e Silva;
• Capitães Médicos Francisco Augusto Regala e Alfredo Vieira;
• Tenentes Henrique Alberto de Sousa Guerra, Alfredo Fernandes de Oliveira, António José Pereira Saldanha e Agostinho do Espírito Santo;
• Tenente Médico Gonçalo Monteiro Filipe;
• Tenente Farmacêutico Armando de Miranda Abelha;
• Alferes Joaquim Marques;
• Tenente de 2ª Linha Abdul-Injai;
• Alferes de 2ª Linha Mamadu-Sissé.
Serviço de Saúde:
• 1 Sargento e 1 Soldado;
Artilharia da Guiné:
• 2 Sargentos e 10 cabos e soldados;
Guarnição da Fortaleza de Bissau:
• 2 Sargentos e 45 Cabos e Soldados;
Secção de Artilharia da Guiné:
• 55 Cabos e Soldados;
1ª Companhia Indígena:
• 4 Sargentos e 72 Cabos e Soldados;
2ª Companhia Indígena:
• 2 Sargentos
Secção de Depósito da Guiné:
• 2 Artífices:
Companhia de Saúde da Guiné:
• 6 Sargentos e 3 Soldados;
Auxiliares:
• 1500 Irregulares
Armada:
Oficiais e forças presentes:
• 2ºs Tenentes José Francisco Monteiro e Raul Queimado de Sousa e Guarda Marinha Auxiliar António José Pereira;
Canhoneira “Cacheu”:
• 1 Sargento e 8 Praças;
Canhoneira “Flecha”:
• 7 Praças;
Delegação Marítima de Bissau:
• 1 Oficial;

Coluna em tempo de descanso 
© Foto: José Henrique de Mello 

Distinguiram-se e foram citados os oficiais, praças e civis indicados:
Exército de Terra:
• Major José Xavier Teixeira de Barros;
• Capitães de Infantaria João Teixeira Pinto e António Sérgio de Brito e Silva;
• Capitão Médicos Francisco Augusto Regala;
• Tenentes Henrique Alberto de Sousa Guerra e António José Pereira Saldanha;
• 1ºs Sargentos Alberto Soares, António Ribeiro Vilaça, José Rodrigues Faria, João Baptista Lobo
• 2ºs Sargentos José Jacinto, João Rodrigues e José Batista Ramos Júnior (Serralheiro Ferreiro);
Armada:
• 2ºs Tenentes José Francisco Monteiro e Raul Queimado de Sousa;
• Guarda Marinha Auxiliar António José Pereira; •
Cabos Álvaro Pereira e António Germano (Fogueiro)
Civis e Auxiliares:
• Félix Dias, Jorge Karam, Carlos Cabral Adelino, Torquato Leandro Dias, João José da Costa Ribeiro e André Gares (francês);
• Tenente de 2ª Linha Abdul-Injai;
• Alferes de 2ª Linha Mamadu-Sissé.


Operações em Bijagós em 1917 
Nos Bijagós, o gentio da ilha de Canhamaque revolta-se, obrigando o governo provincial a decretar o estado de sítio e enviando uma força para repor a ordem pública. Além do castigo que devia infringir aos revoltosos, simultaneamente a força encarregar-se-ia de estabelecer postos militares, para garantir o domínio do arquipélago.
As forças enviadas para os Bijagós levaram a bom termo a missão de que tinham sido incumbidas, apesar de terem feito uma campanha de cerca de oito meses, tendo tomado as tabancas de Inorei e Meneque e, a partir delas, subjugar os rebeldes e instalar postos militares em Bine e In-Orei.
As grandes dificuldades encontradas pelas nossas forças foram a densidade de mato, de onde eram atingidos, além de terem sofrido uma epidemia de beribéri, o que levou a muitas baixas entre as forças empenhadas na missão.

Destruição de tabanca 
© Foto: José Henrique de Mello 

Tomaram parte nas operações, as seguintes forças:
• Comando do Major Carlos Ivo de Sá Ferreira;
• Uma Companhia Indígena de Infantaria, sob o comando do Tenente Eduardo Correia Gaspar, auxiliado pelos Alferes Cipriano Pereira e Alberto Torres;
• Um troço de auxiliares do chefe de guerra e oficial de 2ª linha Mamadu-Sissé, sob a direcção do Tenente Alberto Sousa Guerra;
• Serviços administrativos chefiados pelo Tenente de Administração Militar A. M. Horácio de Oliveira Marques.
Distinguiram-se e foram louvados:
• Alferes Cipriano Pereira e Alberto Torres;
• Sargentos Henrique Valente, Salvador Cipriano Ferreira e Vasco Pinto Fernandes;
• Administrador da circunscrição Tenente Jaime Augusto da Graça Falcão.


Operações de Policia na região de Baiote em 1918
O posto de Cassalol, na região dos baiotes, foi atacado pelos indígenas das povoações de Varela e Catão, em 19 de Outubro de 1918.
Nomeada uma coluna para fazer frente às hostilidades, entrando em combate com os revoltosos no dia 20, provocando-lhes inúmeras baixas, pelo que retirou para Cassolol, onde ficou até 1 de Novembro, para receber os grandes das povoações castigadas.
Após a apresentação dos vencidos às autoridades, a força retirou para Bolama, sendo dissolvida no dia 4 de Novembro.

Um régulo e a sua comitiva 
© Foto: José Henrique de Mello 

Composição da coluna:
• Comando do Capitão de Infantaria António Albino Douwens;
• Estado-maior com o Capitão António José Pereira Saldanha e Alferes António Alves Fernandes;
• 1ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné, com 2 sargentos e 61 cabos e soldados;
• 2ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné, com 1 sargentos e 22 cabos e soldados;
• Secção de Depósito da Guiné com 2 soldados;
• Companhia de Saúde da Guiné com 1 sargento e 1 soldado.


Operações de Policia na área do Comando Militar de Bissoram e circunscrição civil de Farim em 1919
Circunscrição de Farim – região do Comando Militar de Bissoram: Declaração do estado de sítio em Julho de 1919, em virtude de Abdul-Injai, régulo de Oio, se ter declarado em aberta rebelião, depois de três anos de abusos de autoridade, situação que o governo desculpou, face aos significativos serviços prestados, pelo mesmo, a Portugal nos muitos combates que travou na Guiné, demonstrando uma valentia e lealdade impar.
Pelos seus serviços a Portugal e à Guiné, foi promovido a Tenente de 2ª Linha, foi-lhe dado o regulado do Oio e, sendo chefe incontestado pela sua gente, foi um grande auxiliar do Capitão Teixeira Pinto e Tenente Sousa Guerra que, apoiado pelas suas gentes, auxiliou muito o governo da província a pacificar aquelas terras.
A causa próxima do estabelecimento do estado de sítio tem as suas origens em Abril de 1916, altura em que o régulo Abdul-Injai começou, com prepotência, a aplicar multas aos chefes da povoações limítrofes das usas, fazendo exigências várias, entre as quais, trabalhar nas sua terras sem direito a qualquer pagamento.
Tendo em conta a sua “folha de bons serviços”, foi sendo aconselhado a alterar a sua posição, não só em relação à administração mas também em relação aos povos seus vizinhos. Estes avisos e/ou conselhos não só não surtiram efeito como agravaram a situação, o que levou Abdul-Injai, em Abril de 1919, a atacar com a sua gente a povoação de Solinto-Tiligi e, em 29 de Maio do ano de 1919, apoderou-se das espingardas que a administração havia distribuído às populações do Cuhor.
Como condição para proceder à devolução das armas, exigia uma indemnização de 40 contos, além da percentagem de 10% do imposto de palhota cobrado em Mansoa, Oio, Costa de Baixo e Bissau.
A aceitação destas condições colocaria, o governo da província, em situação de subalternidade, levaram à constituição de uma coluna de polícia que, em 3 de Agosto de 1919, entrou em combate com as forças revoltosos, tendo aprisionado Abdul-.Injai e os seus mais directos colaboradores, que foram desterrados para Cavo Verde.
Abdul-Injai viria a falecer pouco tempo depois, terminando assim a vida de um aventureiro que prestou relevantes serviços à Guiné, mas também lhe criou grandes problemas, obrigando à adopção de medidas extremas para contrariar a sua atitude.
Nesta operação perdeu a vida o Alferes Afonso Figueira e 9 dos seus soldados.

Condensação de:
José Marcelino Martins
12 de Fevereiro de 2013
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores de:

23 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11143: Para que a memória não se perca (1): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

25 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11153: Para que a memória não se perca (2): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)
e
27 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

Guiné 63/74 - P11176: E as Nossas Palmas Vão Para... (5): Daniel Rodrigues, 25 anos, português, fotojornalista, que ganhou o "óscar" da melhor fotografia, na categoria "Vida Quotidiana", do concurso de 2013 da "Word Press Photo", com um belíssima foto de uma jogatana de futebol entre miúdos de Dulombi, março de 2012 (Luís Dias)



Página principal do blogue do Daniel Rodrigues, fotojornalista, "freelancer", naturald e Vila Nova de Famalicão, e que acaba de ganhar o "óscar" da fotografia, na categoriA "Daily Life" [, Vida quotidiania], no âmbito do concurso de 2013 da World Press Photo.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Dulombi > Março de 2012 > O Daniel e os putos de Dulombi [Cortesia da página do Facebook da Missão Dulombi].


Guiné > Zoan Leste >Setor L5 > Galamoro > Dulombi > Fevereiro de 1972 > Partida de futebol entre os "velhinhos" da CCAÇ 2700 e os "periquitos" da CCAÇ3491 [, Gentileza de Fernando Barata, ex-alf mil da CCAÇ 2700, e Luís Dias, ex-alf mil da CCAÇ 3491].



1. Mensagem do nosso camarada Luís Dias ( ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74), com data de 16 de fevereiro último:

Assunto: Foto tirada no antigo quartel de Dulombi, Guiné-Bissau,  ganha prémio internacional

Caros Editores

Um fotojornalista português ganhou o 1º prémio de um prestigiado concurso internacional [, World Press Photo], com uma foto tirada na Guiné, conforme informação abaixo.

Um abraço.

Luís Dias

FOTO TIRADA NO ANTIGO AQUARTELAMENTO DO DULOMBI-GUINÉ BISSAU, GANHA PRÉMIO INTERNACIONAL

O foto jornalista, Daniel Rodrigues, venceu o primeiro prémio da secção "Daily Life" (Vida Quotidiana) da World Press Photo (WPP). A fotografia vencedora, que data de Março de 2012, retrata um grupo de crianças a jogar futebol num pelado na Guiné Bissau.

Daniel Rodrigues, de 25 anos,  fotojornalista,  participou na "Missão Dulombi" [, organização de ajuda humanitárioa com sede em Vila do Conde], em 2012, em apoio às antigas áreas onde estiveram os aquartelamentos de Galomaro e Dulombi.

Nesta viagem, o fotojornalista esteve na Guiné Bissau onde se deparou com um grupo de jovens (rapazes e raparigas)  que jogavam futebol. A foto, que ganhou o primeiro prémio da secção "Daily Life", foi tirada num local que no passado foi um antigo quartel colonial português - Dulombi
O Dulombi situa-se no Leste da Guiné e foi onde estiveram instaladas as companhias de caçadores 2405 (70), 2700 (70/72), 3491(72/74) e já em 1974 a 1ª CCAÇ do BCAÇ4815/73 (esta por muito pouco tempo).

Interessante é que na área onde os jovens jogam à bola, era também o mesmo local onde a malta das companhias que por ali passaram faziam também as suas "aguerridas" peladinhas.

Juntam-se fotos: Foto premiada; Foto do Fotógrafo no Dulombi  (ambas retiradas do FB-Missão Dulombi) e de um jogo de futebol entre os então "Velhinhos" da CCAÇ 2700 e os "Periquitos" da CCAÇ3491 (Foto publicada nos blogues de ambas as companhias).

A Missão Dulombi irá partir em finais de Março para a Guiné-Bissau, na sua 3ª Missão, para continuar a dar apoio às escolas das tabancas do Dulombi e Galomaro (onde ficava a sede do Batalhão e que dista 20 km do Dulombi) e ao Hospital do Cossé (Galomaro) e enfermaria do Dulombi.

Quem quiser saber mais "coisas" e historias das suas viagens, com fotos e vídeos, consultem a Missão Dulombi no Facebook.

Parabéns ao premiado e à estupenda fotografia obtida no nosso antigo quartel.

Luís Dias
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6424: E as Nossas Palmas Vão Para... (4): O Município de Vila Nova de Famalicão no Dia Internacional dos Museus, a que se associaram dez museus, públicos e privados, incluindo o Museu da Guerra Colonial

Guiné 63/74 - P11175: In Memoriam (142): Sesimbra, 26/2/2013, cemitério local, talhão dos antigos combatentes: singela mas digna cerimónia de trasladação dos restos mortais do nosso amigo e antigo comandante cor inf ref Alberto Costa Campos (Carlos Jorge Pereira)


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19


Foto nº 20


Foto nº 21


Foto nº 22


Foto nº 27


Foto nº 29

Cemitério de Sesimbra, 26 de fevereiro de 2013... Cerimóna da trasladação dos restos mortais do cor inf ref Costa Campos para o talhão dos combatentes.

Fotos: © Mário Fitas (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Jorge Pereira [, foto atual à esquerda]:

Assunto - Coronel Carlos Alberto da Costa Campos
Data: 26 Fev 2013 20:20:19
Companheiro Luis Graça

Realizou-se hoje pelas 11.00 horas a trasladação dos restos mortais do nosso saudoso Comandante e Amigo Coronel Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos no cemitério de Sesimbra para o Talhão dos Combatentes.

A cerimónia iniciou com um pequeno acto religioso, seguido de alguns discursos de evocação do Sr Cor Costa Campos [, foto à direita].

O Presidente do Núcleo de Sesimbra, Ten de Marinha Ref Florindo Paliotes referiu-se ao comportamento dos Militares e às suas  dificuldades e à especificidade das suas missões.

Pelos militares da CCaç 763 presentes, o ex-Alf Mil Jorge Paulos referiu o lado humano do seu antigo Comandante.

Em representação de SExa o General Artur Neves Pina Monteiro, Chefe do Estado Maior do Exército, o Sr Ten Cor Mário Bastos transmitiu o agradecimento do Exército ao Militar e ao Homem que hoje era homenageado. 

Presentes igualmente a sua viúva,  D. Maria Teresa e filho, além do ex-Ten Fuzileiro Luís Costa Campos e Esposa,  que lembrou  que, finalmente este dia tinha chegado, pois um dos últimos desejos de seu Pai era repousar no Talhão dos Antigos Combatentes.

Quero expressar o meu agradecimento aos que a mim se juntaram para conseguir um local digno e eterno para o nosso antigo Comandante.

Não posso deixar de referir o Ex-Fur Mil Benjamim Durães e do Ex-Fur Mil. Artur Zegre do Núcleo de Setúbal e de Sesimbra,  sem os quais esta minha missão não teria sido possível.
Inegável e fundamental foi a divulgação dada pelo bloque Luis Graça & Camaradas da Guiné sem a qual não teria sido possível coordenar esforço e ter presente na trasladação tantos antigos companheiros. O blogue para os antigos Combatentes é uma referência.
 
Obrigado a todos


 
Carlos Jorge Lopes Marques Pereira
Ex-Fur Mil de Infor e Operações de Infantaria
Bigene-Guidage
Guiné 1972-74

PS - Junto envio fotografias tiradas pelo Ex-Fur Mil Mário Fitas [, da CCAÇ 763,] sugerindo, caso não possam ser todas, que se publiquem as 17, 19, 20, 27 e 29.

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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11167: In memoriam (141): Nuno Felício (1974-2013), jornalista da Antena 1, filho do nosso camarada Rui Felício (ex-alf mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro, Dulombi, 1968/70)

Guiné 63/74 - P11174: Notas de leitura (460): Texto policopiado e publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa - Ultramar (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,
Foi durante a arrumação do meu gabinete na Direção-Geral do Consumidor, a limpar tudo e à beira da aposentação, que encontrei um texto policopiado que foi publicado pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa – Ultramar.
Desconheço inteiramente a proveniência, embora haja aqui qualquer coisa nas meninges que me diz que terei assistido a um concerto onde foram distribuídas várias folhas acerca dos Mandingas, da sua música e lendas associadas às músicas e canções.
Não escondo a minha devoção pelo Korá que tanta companhia me dá enquanto trabalho, há mestres do Mali (de quem, aliás, o meu amigo Braima Galissá se sente devedor) que hoje são tratados como artistas de primeiríssima água, formam-se inclusive duos com violoncelistas, um deles deu um espetáculo na Gulbenkian na temporada de música de 2011.
O nosso blogue tende a ser depositário de relíquias onde os investigadores vêm espreitar, sinto muito orgulho por este contributo.

Um abraço do
Mário


Mandingas – Um pouco de história (1)

Beja Santos

Na Guiné existem dois grandes grupos de povos. Os povos litorálicos e os povos do interior. Os primeiros são animistas e os últimos maometanos. Entre estes podemos falar dos Fulas e dos Mandingas sendo estes últimos muito mais islamizados que os fulas.

Na Guiné a etnia Mandinga é computada entre sessenta mil a setenta mil indivíduos. Nos países vizinhos, tais como República da Guiné, Camarões, Senegal, Mali, Alto Volta, etc., esta etnia chega a atingir no seu total cerca de seis milhões de habitantes. Daqui se infere que só parte muito reduzida, perto de 1%, desta etnia é que habita a Guiné Portuguesa.

As canções que se irão ouvir são da autoria de homens ilustres à nossa província como também de heróis que nasceram dentro da Guiné.

Os clássicos portugueses europeus fazem referência a este povo. Assim, temos Duarte Pacheco Pereiro e outros e até os Lusíadas quando nos fala do país que fornece o ouro.

Na época das navegações todo o ouro em quantidade era da origem do Rio Gâmbia e vendido pelos Mandingas. Mais tarde, todo o comércio da Mina era também efetuado por intermédio deste grupo étnico. Os Mandingas ao contrário da quase maioria dos povos africanos não se constitui em tribo, são uns grandes construtores de um Império, o Império de Ghana, nascido por volta do século IV da era cristã, era formado pelo povo Saracolé, ainda Mandingas misturados.

O Império do Mali, que substitui o Império do Ghana, no século XIII (1220), era já formado só por Mandingas. Aquando da chegada às costas da Guiné dos navegadores portugueses estavam o Império do Mali em plena força e, enquanto os navegadores faziam a sua aparição pela costa, os Mandingas chegam pelo Leste e pelo Gabu, aparecendo também misturados com os Fulas, povos pastores, ao passo que os Mandingas são um povo de agricultores e artistas por excelência.

O rei D. João II mandou vários embaixadores ao Mandimansa (Imperador Mandinga) serviam estes medianeiros entre Fulas e Mandingas que por esta época se guerreavam.

Senhores, durante 7 a 8 séculos, de toda a região da Guiné, só em 1850 é que os Mandingas foram vencidos pelos Fulas, por estas alturas os Fulas de Gabu foram apoiados pelos Futa-Fulas.


Braima Galissá em concerto

Os tocadores

Os tocadores são indivíduos que pertencem a uma casta que unicamente têm por missão serem os historiadores, os genealogistas, enfim, transmitir de geração em geração todo um repositório de literatura oral.

A casta de tocadores é fechada, isto é, passa de pais para filhos e assim sucessivamente. De tal maneira isto é verdadeiro que para qualquer pessoa que esteja a par da vida social e familiar deste povo basta que alguém diga um nome para se saber se ele é da família de músico ou não.

Os franceses chamavam-lhes “griot”. Em crioulo da Guiné são chamados por Djidus. Em Mandinga Djalô (singular) e Djabolo (plural). Os Djidus ou Judeus em português podem identificar-se com os jograis da Idade Média do Cristianismo. O grupo de tocadores que ireis ouvir tem como norma, rigidamente observada, iniciar as suas atuações tocando o Hino Nacional.


Bilhete postal da era colonial, mostra os pais de Braima Galissá

Korá – Nótula descritiva

Na África Negra, os instrumentos de cordas dedilhadas que atraem mais a atenção são a lira, as cítaras e as harpas (as quais têm correspondência na música ocidental), são de preferência as composições de lira, harpa e cítara: a harpa-lira “Korá” da África ocidental, e a harpa-cítara “Muet”, que se encontra sobretudo na África central.

O Korá é um dos mais belos instrumentos de música da África Negra, ao mesmo tempo pela sua forma e pelo seu timbre. Compõe-se essencialmente de uma caixa-de-ressonância, de um braço, de um cavalete de grandes dimensões e 21 cordas.

A caixa-de-ressonância é um semi-cabaço de grande diâmetro, forrada de uma pele. Na parte convexa, pratica uma abertura onde se decora cuidadosamente o contorno. Esta abertura, pela qual “se escapam os sons”, corresponde evidentemente à rosácea de lira do ocidente. Por vezes o resto do hemisfério de ressonância é igualmente decorado, mas isto não é uma regra geral. Existe um longo braço em madeira, cilíndrica (fixada, cravada) nesta caixa. Uma destas extremidades (perto de 4cm acima da caixa) serve de ponto de partida de todas as cordas ao passo que, sobre o braço propriamente dito, diametralmente oposto a esta extremidade, as cordas são fixadas em 21 pontos diferentes, afastando-se progressivamente da caixa sonora. Os pontos de fixação são anéis de coro que podem deslizar sobre o braço, o que permite esticar as cordas à vontade e regular deste modo a afinação do instrumento. Um cavalete de uns alguns 20cm de altura, largura de 3 a 6cm, suporte 10 entalhes (armar a seta no arco) sobre um destes campos, 11 entalhes sobre o outro. Este cavalete forma com o braço os lados rígidos de um triângulo, entre os quais são fixadas as cordas. É esta a caraterística, essencialmente, que aparenta este instrumento com uma harpa. Mas, ao mesmo tempo, o Korá pode ser considerado como uma lira, pois que possui um braço, o que é próprio das liras.

É, pois, justo, tendo em conta estas notas, chamar o instrumento por harpa-lira. Trata-se, com efeito, de uma harpa dupla, o cavalete dividindo as cordas em duas (arrumações fileiras), uma de dez, a outra de onze. Para completar, os músicos tem por hábito fixar, no alto do cavalete, uma placa de metal de ângulos arredondados, cujo contorno tem fixados pequenos anéis destinados a fazer ouvir ao menor movimento. Encontramos aqui a procura dos sons impuros.
As notas de Korá são da mais grave à mais aguda:
fá-dó-ré-mi-fá-sol-si-ré-fá-lá-dó-mi (para a mão esquerda)
fá-lá-dá-mi-sol-si-ré-fá-sol-lá (para a mão direita).

Contudo, apesar do vigor técnico destes sons, será fácil constatar que, na prática, cada nota é afetada de um como a mais ou menos, o que faz com que os europeus digam que o instrumento está mal afinado. Precisamos igualmente que a afinação precedente é a do Korá do Senegal, tal como a Escola de Artes de Dakar a adotou. A afinação do Korá no Mali, assim como no país de origem deste instrumento, a Guiné, não é forçosamente a mesma, e faz frequentemente ainda em maior número o fi da gama de Bach.

Encontra.se assim, na Guiné, uma Korá de 19 cordas, chamado “Seron”. Este parece-se em todos os pontos com o Korá e toca-se praticamente como ela. Existem excelentes gravações de música de Seron, notavelmente solos tocados por um autêntico “griot” guineense da região de Kankan, que põe em relevo todos os recursos do instrumento, com uma música unicamente instrumental de muito boa qualidade.

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 25 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11151: Notas de leitura (459): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (3) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11173: Bibliografia de uma guerra (68): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2) (René Pélissier / Mário Beja Santos)

1. Lembrando a mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
Alguns meses atrás, recebi uma carta do Prof. René Pélissier solicitando-me livros e alguns contactos, ele continua indefetivelmente, infatigavelmente, a fazer recensões de livros em torno dos nossos conflitos coloniais. Daí nasceu a ideia, mais tarde, de sugerir a esta autoridade internacional na historiografia das nossas guerras que pusesse por escrito as suas reflexões sobre escritores e escritos de antigos combatentes.
Penso que este trabalho científico nos deve orgulhar e não escondo uma certa ufania em ter participado neste exclusivo que inclui fotografia inédita do historiador a mostrar leituras onde a Guiné é preponderante.

Um abraço do
Mário



Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (2)

René Pélissier

Um dos erros que um historiador não deve cometer, em absoluto, é o de a partir de uma dada situação num período preciso e generalizar conclusões. Cada mentalidade é uma ilha mais ou menos acolhedora ao leitor. Mário Beja Santos cultiva as relações humanas. É um autor que não nos vai ensinar muito sobre as operações militares. Ele não participa em grandes ofensivas. Não estará mesmo constantemente assediado pelos artilheiros cubanos do PAIGC. Vive num território onde a população não está ferozmente explorada por colonos brancos gananciosos, como em certas zonas de Angola ou Moçambique, o seu sector não é uma Disneylândia mas também não é o planalto dos Macondes nem a selva dos Dembos onde cada um sabe onde está o inimigo. Onde ele vive, há uma certa fluidez. O fator étnico, histórico e mesmo social deve ser sempre tomado em conta e nunca deve ser extrapolado à escala de todo um país em África. Uma das explicações da duração da resistência portuguesa à erosão nacionalista que, finalmente, a levará ao esgotamento, reside, apesar de tudo, no facto da guerra da Guiné ter sido conduzida no terreno por soldados oriundos de meios muito humildes, habituados à dureza da vida, e contra guerrilheiros ainda mais pobres do que eles, mas bem armados, cheios de esperança e bem aconselhados. Quanto aos portugueses, a sua esperança era a de regressar o mais rapidamente possível para junto dos seus entes queridos.

Nós estamos nos antípodas de uma guerra ultratécnica, de um lado, perante camponeses fanatizados (tipo Afeganistão e, mais longinquamente, o Vietname ou a Argélia) sem possibilidade de uma real aproximação humana, ao nível dos combatentes. Os portugueses estão condenados a perder, mas lentamente. E, sobretudo, esse sentimento está mais instalado na mente dos oficiais de carreira do que na superioridade esmagadora dos seus adversários. É uma guerra entre duas paciências.

De qualquer maneira, Mário Beja Santos é o autor que publicou mais livros sobre a Guiné: pelo menos cinco grandes volumes até ao início de 2013. E publicou-os através de editoras capazes de tocar um público numeroso. O mesmo não se pode dizer dos dois livros seguintes, seja qual for o valor literário ou documental destes títulos em apreço. Aqui, nós abordamos sem pudor uma questão delicada para um crítico, mas é preciso que fique claro. Para se vender bem um livro, é preciso que ele seja bem distribuído nas livrarias e que, no mínimo, haja bons contactos na comunicação social que permitam o conhecimento desta produção. Os autores-editores e os autores que pagam a um pequeno editor para que a sua obra seja publicada são, por vezes, bem-sucedidos a ganhar dinheiro quando apresentem um tema dito “do grande público”.

Infelizmente, as memórias da guerra colonial não fazem parte desse grande público, salvo honrosas exceções. O “grande público”, em todos os países, é um público de rebanhos que segue a moda ou em conformidade com o que se vê na televisão. Falar de Timor aquando dos massacres cometidos pelas milícias pró-indonésias era uma garantia de sucesso na época. Agora, seria sopa requentada numa panela velha: impensável! Ora, no contexto português atual, a guerra colonial da Guiné interessa a pouca gente, salvo precisamente os antigos combatentes, as suas famílias e os seus amigos. O que é insuficiente. Acresce, é preciso dizê-lo em muitos casos, os simples autores-editores não fazem nada para se fazerem conhecer, ou não têm meios para isso. Alguns limitam-se a dar algumas conferências em vilas de província, em reuniões de clubes, outros não ultrapassam o nível dos antigos camaradas das suas unidades militares, alguns mencionam um ISBN na ficha técnica mas não indicam o endereço ou as livrarias onde se podem fazer encomendas. Sei isto muito bem porque eu compro – ou muitas vezes procuro comprar – todos os anos dezenas de livros que as livrarias portuguesas não sabem mesmo aonde os encomendar. São livros fantasmas, desconhecidos das melhores bibliotecas estrangeiras e mesmo portuguesas. Ou sabe-se que eles existem, talvez, mas nunca lhes pomos a vista em cima.

O mínimo que devia respeitar um autor-editor seria fornecer nos livros e na publicidade à volta da sua obra, um endereço, seja postal, seja eletrónico, e responder aos potenciais compradores se ele não quer assegurar um serviço de comunicação aos raríssimos críticos que querem divulgar a obra. De igual modo, um jornalista ou um publicista deveria nas suas recensões dizer onde se pode obter a obra de que ele está a falar. Caso contrário, é amadorismo que revela uma ausência de confiança na qualidade do livro ou uma evidente falta de profissionalismo.

Pequeno ou grande, para mim, crítico e historiador, um livro desconhecido com uma tiragem de 300 exemplares tem o mesmo valor que um best-seller, se ele é original e me traz algo de novo, comparativamente ao que já foi publicado. Mas também é preciso saber que são muito raros os antigos combatentes que conhecem aquilo que já foi escrito, vai para uns três, cinco, dez anos antes, por um membro da sua própria unidade militar, a fortiori quando se trata de livros publicados por um autor que pertence a uma outra unidade. Cada um no seu pequeno cantinho faz, por conseguinte, a sua própria “cozinha” memorial, sem ir muitas vezes ao “restaurante” – uma biblioteca especializada, quero eu dizer – para comparar e verificar.

Compreendo que um avô queira deixar aos netos as suas memórias da guerra, dizer-lhes as experiências que teve, contar-lhe as operações nas quais ele talvez tenha participado, os seus estados de alma, as suas alegrias, a sua camaradagem com este ou aquele, mesmo os seus desesperos, a brutalidade do comandante, do inimigo, o seu horror face a crimes, os mortos, os hospitais, a rotina quotidiana, os seus medos, a imbecilidade de certos regulamentos, a sua indignação por o terem obrigado a deixar a sua aldeia ou o seu bairro, a vergonha de se ter sentido impotente ou manipulado, e mesmo – isto existe também nos textos de alguns antigos combatentes das tropas especiais – o seu sentimento de satisfação por terem pertencido a um corpo de elite e de se terem sentido “super-homens” durante alguns anos. Tudo isto é admissível, mas o que se destaca, sobre 10 ou 30 páginas, é a centésima versão da viagem para Bissau, Luanda ou Lourenço Marques, é que este material está muito longe de ser indispensável. Ou então que o autor seja um verdadeiro talento no campo do romanesco.

Entre os livros recentemente recebidos sobre a Guiné, assinalaremos ainda António Lobato, Liberdade ou Evasão. O Mais Longo Cativeiro da Guerra, 4ª edição aumentada, DG Edições, Linda-a-Velha, 2011, 277pp., fotos a preto e branco. Este livro foi inicialmente publicado pela Editora Erasmo, 1995, 214pp. com fotografias, analisei-o longamente (cf. René Pélissier, Angola-Guinées-Mozambique, op.cit, p.372), porque é um livro-documento importante sobre o tratamento dos prisioneiros portugueses e sobre a natureza da guerra praticada pela Força Aérea, Lobato acidentou-se em 22 de Maio de 1963, no regresso de uma operação na Ilha de Como. Como eu então cometi uma imprecisão, retifico-a agora. O autor, sargento da Força Aérea, não foi abatido diretamente pelos guerrilheiros, o seu avião simplesmente foi tocado em pleno voo. Ele pedira a um piloto de um outro T6 para verificar se o seu trem de aterragem não estava destruído, o outro piloto passou sob o seu aparelho. E foi durante esta manobra delicada que o avião do seu camarada colidiu com a hélice do avião de Lobato, este ficou ingovernável, o seu camarada despenhou-se e morreu enquanto Lobato aterrou numa bolanha de Tombali. Perderam-se assim dois aviões no dia 22 de Maio de 1963, Lobato foi feito prisioneiro, espancado, ferido e encarcerado em condições muito duras na Guiné-Conacri. Será libertado em 22 de Novembro de 1970 no decurso da operação Mar Verde, os Comandos Africanos assaltaram a prisão e trouxeram todos os prisioneiros portugueses que ali estavam. Na presente atualização da sua narrativa, em Fevereiro de 1999, Lobato foi convidado pelo Presidente ex-inimigo, “Nino” Vieira recebeu-o em pessoa em Bissau, tinha sido “Nino” Vieira a impedir que ele fosse mais mal tratado do que já tinha sido, no início do seu cativeiro: daí a adição de novas páginas (pp. 247-250) sobre este episódio menor mas sintomático da reconciliação. Assim, é necessário possuir esta 4ª edição.

É igualmente recomendado que se procure um romance histórico que decorre praticamente ao mesmo tempo que A Viagem do Tangomau…, op.cit.

Pensamos que Guilherme Costa Ganança, O Corredor de Lamel, 68 Guiné 69, 2ª edição, Chiado Editora, Lisboa, 2012, 418 pp., fotografias a preto e branco, é um romance autobiográfico que vem na sequência de outro volume, igualmente romanceado, sobre o período imediatamente anterior. Trata-se de um alferes da Madeira, da sua companhia, dos seus problemas com a hierarquia, dos seus amores epistolares e sobretudo das operações em que ele intervém em Contuboel, Bula, Cabedu, Catió e, finalmente, a partir de Farim, o famoso corredor de Lamel, que deve ainda hoje evocar muitas recordações. Uma das diferenças da Guiné relativamente a Angola é que o território sendo pouco extenso e o PAIGC militarmente muito mais ativo que a FNLA e o MPLA (e, acessoriamente, a UNITA) havia poucos sectores onde os portugueses viviam em calma ou segurança, com a exceção de Bissau e quatro ou cinco cidades do interior, nos Bijagós, e nos Felupes, e, de uma maneira mais compacta, na região dos Fulas. Dito de outro modo, à intensidade dos combates, à dureza do clima e à morbidade em geral, seria necessário juntar a raridade de sectores tranquilos para onde se podiam enviar as tropas para recuperação das energias. Na Guiné não havia Sá da Bandeira, Lunda, Bié ou vilegiaturas urbanas. A inquietação era geral e nós ainda não lemos uma só narrativa onde os soldados desmobilizados se tenham vindo a instalar na Guiné, situação que foi frequente em Angola e Moçambique. Era um Purgatório para todos e um Inferno para a maioria. Mesmo os ultrapatriotas ou os super-homens autoproclamados dos comandos, dos páras e dos fuzileiros só tinham em mira um objetivo: a peluda. Como é evidente, com o passar dos anos e com a juventude já no passado longínquo, certos autores não querem mais do que rememorar – seletivamente – os raros momentos em que eles estavam otimistas, mas se dispuséssemos de um corpus completo de todos os livros publicados pelos antigos soldados da Guiné, poder-se-ia estabelecer uma grelha de análise fina onde certamente se poderia constatar que as más recordações são mais frequentes que as reminiscências felizes. E isto ainda mais no Exército, em especial nos açorianos e nos madeirenses que foram enviados para a Guiné nos últimos anos da guerra.

Em última análise, todos estes autores (uma centena) não tiveram nem têm uma memória tão compassiva face aos guineenses como Mário Beja Santos que deve ter sido o alferes (1968 a 1970) mais atento à sorte dos seus homens, velhos e desesperados, vendo em que decrepitude caiu a Guiné, tal como ele a visitou em 1990, 1991 e 2010. Ele resumiu o quadro através de uma expressão fúnebre: “um buraco na escuridão” (p.509).

Tantos mortos, tantas esperanças para ter que ver um antigo coronel do PAIGC mendigar-lhe um saco de arroz.
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Nota do editor

Vd. poste anterior de 26 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11159: Bibliografia de uma guerra (67): Alguns comentários sobre a guerra na Guiné e a sua literatura (1) (René Pélissier / Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11172: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (9): A praxe da Ivone

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 20 de Fevereiro de 2013:

Olá Camaradas
Aqui envio uma cena de praxe de que fui vitima e aceitei bem.
As coisas, como tudo na vida, têm de ser feitas com humor, gosto e classe. De outro modo, não valem a pena...

Um Ab.
Pereira da Costa


A Minha Guerra a Petróleo - 9

A Praxe da Ivone

A Ten. Enf. Pára Ivone Reis era uma militar circunspecta e que levava muito a sério os procedimentos ditados pelas ordens e regulamentos. Era simpática e acessível, mas para ela conhaque era conhaque e serviço era serviço. Mas posso testemunhar que também lhe resvalou o pé para a praxe. Como vão ver a vítima fui eu.

Em 12 Dezembro de 1968 a CArt 1692 estava a terminar o seu tempo em Cacine. A sobreposição com a CCaç 2445 – uma unidade de açorianos – estava a chegar ao fim. Foi montada uma operação lá para os lados de Cacoca levada a cabo pelos “periquitos”, na máxima força e apoiados por heli-canhão, enfermeira-paraquedista e com o controlo aéreo a cargo do meu capitão. O grupo de combate “da velhice” (o do João Almeida, “O Alce”) marchava à retaguarda e constituía a força de reserva, para qualquer situação mais delicada que pudesse surgir. Os “piras” já não eram muito piras pois já tinham tido o baptismo numa acção no Quitafine, mas a área de Sangonhá e Cacoca que havia sido repartida entre as companhias de Cacine e Gadamael não era agora muito conhecida. Fora abandonada havia cerca de seis meses e o inimigo parecia não se interessar muito por ela, limitando-se a intensificar a guerra de minas. Foram accionadas três e levantadas cerca de cem, todas anti-pessoal PMD-6. Era o tempo em que Gandembel estava ao rubro e o In não tinha possibilidade de actuar em força nos dois quartéis mais a Sul.

Os meios aéreos ficaram na pista e nós ficámos aguardando. As coisas estavam muito calmas e a dada altura o Cap. Veiga da Fonseca (“O Foca”) decidiu ir ver como estavam as coisas no terreno e eu tomei lugar na traseira da “avionette” (avião DO-27 para os pilotos). Foi a única vez que vi a “guerra” de cima.

Descolámos e, minutos depois, estávamos às voltas na área onde dois bi-grupos de “piras” progrediam e começámos a procurar o nosso grupo. Respondia às chamadas pela rádio, mas não se deixava ver. Estava bem dissimulado e de súbito…

Quem seriam aqueles gajos? Aquilo era um grupo de turras! Kum karakas! Era preciso avisar os nossos e atacá-los. O avião meteu uma asa em baixo e deu umas duas voltas bem apertadas a tentar ver o que seria “aquilo”. O “Cap.” fez-me sinal com as mãos para que eu visse cerca de 20 “turras” que progrediam lentamente e com muito cuidado. Chamou pela rádio a pedir a entrada do héli-canhão. Porém, Cacine não estava à escuta e, a toda a velocidade, voltámos a Cacine tentando chamar a atenção com sucessivos passes a baixa altitude.

Lá vimos o jeep que se dirigia para a pista com o piloto e o apontador, a grande velocidade, e regressámos ao local da refrega. Mais umas voltas e apareceu o héli que voava bastante baixo e em círculos de canhão apontado ao grupo In. De súbito, uma surpresa. Os inimigos tiravam os quicos e cada um, à sua maneira, saudava o helicóptero.

É entontecedor o movimento do rotor dum héli aos círculos e nós próprios a voar por cima, rodando. Por mim, comecei logo a ficar “almareado”, mas procurei fixar um ponto no infinito para ver se me aguentava.

Regressámos a Cacine satisfeitos por tudo ter acabado bem. Mas para mim o pior estava para vir. A cabeça andava-me à roda e eu ansiava que aquilo acabasse. O avião tocou na pista e eu só tive tempo de abrir aquela janelinha de correr que existia na fuselagem e “deitar a carga ao chão”. Chegámos a Cacine e eu deveria vir com um aspecto deplorável. A Ivone Reis (“A Gazela”) quis saber o que se passava comigo – não fosse enfermeira – e eu contei, na minha boa-fé. Quando esperava solidariedade ela puxou dos galões e deu-me uma ordem seca:
– Patinho, isso foi grave! Vá lavar o avião já e bem. Não vamos voltar assim à base.

Debalde procurei descrever em pormenor o que sucedera e apresentar as minhas razões, mas a Ivone não se comoveu (regulamento é regulamento) e eu de balde e escova, coitado de mim, lá fui lavar o vomitado que pingava da fuselagem. O Cap. (ou “Quepezinho”) que conhecia bem a Ivone de Angola ajudou à festa e só já em Bissau, alguns dias depois num jantar no “Solar do 10”, a minha falta foi relevada, creio que à custa de uma lanterna de Dão Tinto para iluminar a mesa onde se sentavam o Cap, a Ivone, o Comandante da LDG que nos trouxera para Bissau e eu.

Como se vê, pelo menos daquela vez, a Ten Enf. Pára Ivone Reis também praxou, o que não será muito regulamentar. Segue junta a prova do sucedido à qual a Ivone chamou “O Pato e a Estátua” (foto tirada junto ao monumento evocativo da passagem da CArt 1692.

Mem-Martins
18FEV13

Cacine, 12 de Dezembro de 1968 > Ivone Reis e Pereira da Costa
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 25 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10721: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (8): Você agrediu-me?