quinta-feira, 30 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11655: Quem dirigiu os destinos da Guiné (2/3): Capitania-Mor de Bissau, Centralização do Governo em Bissau, A autonomização, Governadores e Delimitação das fronteiras (José Martins)

1. Continuação da publicação do trabalho "Quem dirigiu os destinos da Guiné" compilado pelo nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):



QUEM DIRIGIU OS DESTINOS DA GUINÉ (2)

CAPITANIA-MOR DE BISSAU
(Continuação)

BARTOLOMEU DE SOUSA TIGRE – Promovido a Coronel e nomeado governador em 30 de Agosto de 1763, chegou a Santiago em 30 de Agosto de 1763. Tendo oficiado o Senado da Câmara de que ia ocupar o cargo para o qual havia sido nomeado, verificou que no Senado apenas havia um cónego, que acumulava, também, o cargo de governador de armas, cuja posse lhe havia sido concedida pelo juiz ordinário Romão da Silva, que servia, também, de ouvidor. A administração do arquipélago estava em completo abandono. A posse do novo governador foi conferida por um vereador da Câmara, simultaneamente escrivão da mesma. Apesar de criterioso e enérgico, não completou o seu mandato, por conflitos com o ouvidor Gomes Ferreira.

D. JOÃO JÁCOME BAIENA HENRIQUES – Toma posse em 27 de Dezembro de 1766 e morre a 4 de Maio do ano seguinte. O governo interino que devia ser exercido pelo Senado da Câmara, foi usurpado pelo comandante das tropas. Este facto levou a que, por alvará de 1770, fosse estabelecido que o substituto nato do governador fosse o Bispo.

JOAQUIM SALEMA SALDANHA LOBO - Nomeado a 29 de Março de 1768 e tomou posse em 13 de Dezembro do ano seguinte. Porque a cidade da Ribeira Grande se encontrava bastante degradada, o governador mudou-se para a vila da Praia, enquanto a Câmara, o ouvidor e o Cabido da Sé, se mantinham na Ribeira Grande, e o Bispo mantinha-se na ilha de Santo Antão. Em 1771 reportava que a secretaria e o arquivo do governo, mais não era que uma mala de pinho, onde se encontravam 17 livros, alguns alvarás e documentação vária que, pelo muito manuseamento, já se encontrava em estado adiantado de deterioração. No período de oito anos, tempo que durou a sua governação, teve de se opor com energia contra os abusos da Companhia de Grão-Pará. A população do arquipélago que em 1774 registava 50.640 habitantes tinha, no ano seguinte 28.000, consequência da fome que assolou a província.

ANTÓNIO DO VALE DE SOUSA E MENESES – Foi nomeado em 10 de Março de 1777, tomou posse em 21 de Maio desse ano, na vila da Praia. Era filho de António Maria de Sousa Meneses, governador da província entre 1756 e 1761. Foi na sua governação que o Senado da Câmara de Santiago solicitou, ao rei, além de algumas providências para acudir à miséria do arquipélago, a extinção da Companhia de Grão-Pará. Sobre a exposição enviada ao rei, o Conselho Ultramarino deu um parecer, no sentido de colonizar as ilhas com “casais naturais de Moura, Golegã, Ribeira do Sado e outras terras de clima semelhante aos das ilhas, juntando-se-lhes 800 a 1000 casais de pretos resgatados na Guiné que no fim de dez anos de trabalho ficariam livres.”

DUARTE MELO DA SILVA E CASTRO d’ALMEIDA – Nomeado no dia 20 de Junho de 1780, tomou posse em 19 de Fevereiro e morre 30 dias depois. A sucessão foi efectuada nos termos do alvará de 1770. No porto da Praia, em Abril de 1781 uma esquadra inglesa foi atacada por outra de nacionalidade francesa, em total desrespeito pela jurisdição portuguesa. A esquadra francesa fugiu, comandada por Suffren, depois de ter sido derrotada.

Bispo D. Frei FRANCISCO DE S. SIMÃO – Foi incumbido do governo da província, devido à sua competência e zelo, em 16 de Novembro de 1782, vindo a falecer no dia 10 de Agosto de 1783, tendo desempenhado o cargo exemplarmente.

ANTÓNIO MACHADO DE FARIA E MAIA – Foi nomeado em 23 de Agosto de 1784 vindo a tomar posse a 30 de Março do ano seguinte. A sua governação foi marcada por conflitos permanentes com o ouvidor geral Ferreira da Silva, e com um grupo político reunido à volta da família Freire de Andrade. O governador da província refere, num relatório, que as receitas da província não iam muito além de um conto de reis, referindo que a casa do governador era constituída “por um quarto chamado de casa de espera; uma sala de visitas que era coberta de lona; uma casa de jantar e um quarto de nova construção; e um quarto que servia de secretaria. A cozinha e outras dependências eram cobertas de palha”.

FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA CARNEIRO – Nomeado por decreto de 2 de Abril de 1789, toma posse em 21 de Janeiro do ano seguinte.

JOSÉ DA SILVA MALDONADO d’EÇA – Apesar de nomeado em 27 de Setembro de 1793, só veio a tomar posse em Junho de 1795. Uma das missões do seu governo, era colaborar no povoamento da ilha de S. Vicente, que seria dirigida por Carlos da Fonseca Rosado, deslocando algumas famílias das ilhas do arquipélago. O governador morreu em 10 de Setembro de 1795, pelo que foi constituída uma junta governativa, que incluía o Bispo, o ouvidor interino Francisco da Silva Pereira e João Freire de Andrade. Dado o Bispo se manter em S. Nicolau, a governação era, na realidade, efectuada pelos dois últimos elementos da junta.

MARCELINO ANTÓNIO BASTOS - Tomou posse em 3 de Novembro de 1796 e promoveu a cultura do café, assim como tentou florestar a província, tendo sido enviadas sementes de louro, pinheiro bravo, castanheiro, cedro e outras, mas apenas o louro se desenvolveu. Foram estabelecidas carreiras de correio marítimo ou paquetes, entre as ilhas e Portugal em 20 de Janeiro de 1798. Também graças a este facto o governador Bastos conseguiu melhorar a situação financeira da província, que anos atrás não passavam de 1.000$000, passaram em 1801 para 10.160$000 e no ano seguinte para 19. 670$000, orçando as despesas em 11.460$000 reis. Faleceu em 29 de Novembro de 1802.

D. ANTÓNIO DE COUTINHO LENCASTRE – Moço fidalgo da Casa Real é nomeado governador por carta de 13 de Maio de 1803. No início do seu governo houve um aumento substancial do número de soldados na província, o que levou ao lançamento de um imposto especial, para fazer face a esta despesa, o que levou a uma revolta popular. Os navios cabo-verdianos, assim como os próprios portos da província, são atacados por esquadras estrangeiras, o que leva a que a guarnição militar seja aumentada para 400 militares. Novos impostos são lançados para fazer face às novas despesas, o que provocou novas revoltas e a consequente exoneração do governador. A metrópole estava em guerra com a França e a Espanha: Eram as Invasões Francesas. Foi Morais e Castro que assumiu a governação interina de Cabo Verde em 1812, mas pouco depois o Coutinho Lencastre foi reintegrado, tendo ocupado o cargo durante 14 anos. 

ANTONIO PUSICH – Naturalizou-se português em 1791 e foi nomeado em 6 de Fevereiro de 1818, quando era Capitão-de-mar-e-guerra. O arquipélago não lhe era estranho, já que tinha estado em Cabo Verde como Intendente da Marinha e outras atribuições independentes do governador. Pusich, enquanto intendente, introduziu uma espécie de acácia, que ficou conhecida como “flor do intendente”. Foi afastado do cargo por um movimento revolucionário liberal, em 1 de Maio de 1821, sendo o governo entregue a uma Junta Provisória. Uma carta régia de 1º de Abril já tinha nomeado Luiz Xavier Palmeirim, para governador, mas não chegou a tomar posse.

JOÃO DA MATTA CHAPUZET – Sendo Coronel adido do Corpo de Engenheiros, foi nomeado, em 8 de Maio de 1822, governador militar e, em 1 de Fevereiro de 1825, foi nomeado governador-geral. Apesar de ter sido “desviado” para a metrópole o rendimento da urzela cabo-verdiana, com muita dificuldade conseguiu impor disciplina na administração geral e nas finanças. Em1826 foi, juntamente com o Bispo D. Frei Jerónimo do Barco, nomeado deputado por Cabo Verde.

CAETANO PROCÓPIO GODINHO DE VASCONCELOS – Capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado governador em 7 de Setembro de 1826, tomando posse no dia 13 de Dezembro seguinte. Há historiadores que se referem a este governador como “nada fez nem de bom nem de mau, passando o tempo a tornear”. 

D. DUARTE DA COSTA DE SOUSA MACEDO – Nomeado por decreto de 25 de Agosto de 1830, com o vencimento anual de 3.600$000 reis. Foi um período muito difícil, que foi assinalado por estiagens e fome, sendo socorrida por filantropos da América do Norte. Incapaz de resolver o problema, o governador apresenta a demissão em Janeiro de 1833, sendo nomeado D. José Coutinho de Lencastre, filho do antigo governador D. António Coutinho de Lencastre, mas com a mudança de regime no reino acabou por não se concretizar. A 8 de Setembro de 1833 chega a Cabo Verde a notícia da vitória dos constitucionalistas sobre os miguelistas, que leva à deposição do governador e a nomeação de uma junta governativa. D. Duarte da Costa de Sousa Macedo embarca para a Gâmbia e daí para Portugal. Foi neste governo que se puseram em circulação as “cédulas” a que depreciativamente chamavam baralho de cartas.

MANUEL ANTÓNIO MARTINS – Foi nomeado, por decreto em 17 de Dezembro de 1833, perfeito de Cabo Verde e Costa da Guiné, por “ter coadjuvado a causa da Rainha e da Carta Constitucional e de ter dado provas de amor da Pátria”. Com base na nova organização administrativa do ultramar, de 1832, foi também nomeado José Joaquim Lopes de Lima, oficial da armada, como secretário da prefeitura. Depois de tomarem posse na vila da Praia, e porque o governador tinha residência e interesses na ilha da Boa Vista, o governo foi transferido para esta ilha. Capitão de um navio mercante, foi surpreendido, por um temporal em 1792, quando se encontrava na ilha de São Miguel que levou o navio para a ilha da Boa Vista. Também foi aventada a hipótese de que, este temporal, foi aproveitado para desviar os valores que estavam a bordo. Chegado à ilha começou a sua actividade, casou com uma das filhas de Aniceto Ferreira, estendeu a seu comércio ao negócio do sal e era administrador da urzela, antes de ser nomeado governador. Após a revolta miguelista, foi deposto e substituído por António Carlos Coutinho, conselheiro da prefeitura e juiz de direito. Mesmo depois da exoneração não deixou a sua actividade, quer politica quer comercial, até que, face a várias acusações de inimigos e até Pereira Marinho, que lhe sucedeu no cargo, foi preso.

JOAQUIM PEREIRA MARINHO – Coronel de Artilharia, foi nomeado a 4 de Junho de 1835 e empossado em 12 de Setembro seguinte. Houve uma revolta de escravos, de Cabo Verde, que pretendiam matar os seus senhores e fugir para a Guiné, tendo sido dominados e castigados. Com a queda do ministro Sá da Bandeira, o governador foi exonerado, com apenas um ano do cargo. Era normal que as nomeações para os cargos de governadores, capitães-mor, ouvidores ou outros administradores, tivessem a duração de três anos, mas com a implantação do regime constitucional, a nomeação e manutenção no Cargo passaram a depender da confiança do respectivo ministro. Seguiu-se um conflito do antigo com o novo governador da província, tendo havido a intervenção de navios franceses e a retirada do governador exonerado para a Guiné.

DOMINGOS CORREIA AROUCA – Coronel do exército colonial, é nomeado em 16 de Junho de 1836 e toma posse a 24 do mês seguinte. Em Outubro desse ano, enquanto o governador se encontrava ausente na ilha do Fogo, o governador anterior resolve tomar conta do governo na ilha da Praia, pelo que, durante algum tempo, a província tem dois governadores, e o arquipélago fica “dividido” em dois grupos de ilhas. 

JOAQUIM PEREIRA MARINHO – Entretanto promovido a brigadeiro, foi reconduzido no cargo de governador por decreto de 13 de Janeiro de 1837. Em 2 de Abril de 1839 deixou o governo, por ter sido transferido para Moçambique.

JOÃO DE FONTES PEREIRA DE MELO – Capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado em 2 de Abril de 1839. Com o seu bom senso e imparcialidade, serenou os partidários dos ex-governadores Martins, Arouca e Martinho, conseguindo restabelecer a ordem na administração. Levou consigo a família, instalando-se na Ilha Brava, tendo como ajudante às ordens o seu filho António Maria de Fontes Pereira de Melo. Exonerado em 1842, voltaria a ser nomeado anos mais tarde.

FRANCISCO PAULA DE BARROS – Coronel de Infantaria, foi nomeado por decreto em 5 de Abril de 1842, tomando posse em 8 de Julho. Promoveu a cultura da purgueira, da qual se extrai o azeite-da-purgueira, que se tornou o produto de maior exportação da província. Acompanhado dos chefes dos serviços militares e civis, visitou o distrito da Guiné. Em Agosto de 1842, deu-se o início da publicação do Boletim Oficial.

D. JOSÉ MIGUEL DE NORONHA – Brigadeiro, foi nomeado em 31 de Dezembro de 1844, vindo a tomar posse em 26 de Junho seguinte. Teve como secretário-geral José Maria de Souza Monteiro. Simultaneamente com o Capitão Fontes Pereira de Melo foi, em 1848, eleito deputado por Cabo Verde. Um vapor inglês ao aportar, em 1846 na ilha da Boa Vista, transmitiu à população a febre-amarela, que vitimou 315 pessoas, considerando-se extinta em Fevereiro de 1847. Conseguiu um donativo, do governo britânico e de outras entidades, no montante de mil libras.

JOÃO DE FONTES PEREIRA DE MELO – Nomeado, pela segunda vez, em 13 de Maio de 1848, toma posse em 26 de Junho. Como a urzela tinha deixado de ter procura, a sua apanha passa a ser livre, por decreto de 6 de Julho de 1849, ficando apenas sujeita aos direitos de exportação a 1$400 reis, por quintal, para o estrangeiro e a metade para o território nacional. A cultura da purgueira e do café eram as preferidas pela população.

Mapa da costa da Guiné, não datado
© Ilustração do I Volume de História da Guiné de René Pelissier


CENTRALIZAÇÃO DO GOVERNO EM BISSAU
 
Uma fonte consultada indica que, no final de 1851, o governador de Cabo Verde Fortunato José Barreiros decide unificar, a administração das praças de Cacheu e de Bissau, num governo único da Costa da Guiné, com sede em Bissau.
As alegações para este acto, foram:

a) A conveniência de dar unidade à acção governativa daquela colónia e de alargar as atribuições do chefe do distrito, de forma a poder tomar em devido tempo as providências necessárias;
b) As dificuldades e demoras de comunicações com o governo-geral de Cabo Verde, que não podia exercer sobre a costa africana a devida fiscalização, dando assim lugar a frequentes irregularidades e abusos de autoridade;
c) A necessidade de se reprimir "o escandaloso comércio que alguns comandantes das baterias faziam com o povo e com os próprios soldados em prejuízo da instrução e disciplina militar …".

Por estas razões publicou, em 10 de Setembro de 1851, uma portaria nomeando o Tenente-coronel Alois da Rôlla Dziezaski, Governador da Costa da Guiné, interino, com um vencimento de 600$000 reis/ano. Os governadores de Cacheu e Bissau mantiveram as suas funções, sendo reduzido o seu vencimento anual de 400$000 para 240$000.
Porém, uma outra fonte, indica que foi durante a governação de Manuel António Martins, a 30 de Março de 1834, que é concentrada em Bissau a governação do território. O certo é que, na listagem de Governadores da Fortaleza de Bissau existem nomes que induzem em duvida se se trata de governadores de Bissau ou da Guiné.
As listagens consultadas, e sobre as quais foram elaboradas as que constam deste texto indicam, sem dúvida, que o primeiro Governador nomeado aquando da separação dos territórios de Cabo Verde e Guiné, foi o Tenente-coronel Agostinho Coelho.

FORTUNATO JOSÉ BARREIROS – Brigadeiro, nomeado em 25 de Julho de 1851 toma posse a 23 de Agosto. Em virtude das repartições públicas se encontrarem na ilha Brava, é ali que se fixa. Prevendo a hipótese de transferir a capital da província para a ilha de S. Vicente, promove o desenvolvimento do Mindelo.

ANTÓNIO MARIA BARREIROS ARROBAS – Major do Estado-maior é nomeado em 6 de Abril de 1854 e toma posse no dia 3 de Dezembro. Fez uma visita à Guiné. Na sua governação e dada a sua boa administração, recolheu muitas cédulas e letras, emitidas pelo governo local em que, os credores, tendo perdido a esperança de reaver os fundos aplicados, as ofereciam ao estado, em reconhecimento da boa administração de Arrobas. Foi eleito deputado em 1858.

SEBASTIÃO LOPES DE CALHEIROS E MENESES – Capitão do Estado-maior, nomeado por decreto de 25 de Novembro de 1857 e tomou posse a 28 de Março seguinte. Pouco depois da posse, efectuou uma visita ao distrito da Guiné. A vila da Praia foi elevada à categoria de cidade por decreto de 29 de 1858. Ao deixar a província em Junho de 1860, foi substituído interinamente por Januário Correia de Almeida, director das Obras Públicas.

CARLOS AUGUSTO FRANCO - Foi nomeado em 6 de Setembro de 1860 e tomou posse em 23 de Março de 1861.

JOSÉ GUEDES DE CARVALHO MENESES – Nomeado por decreto de 2 de Abril de 1864, rumou a Cabo verde, acompanhado pelo Dr. Macário de Sousa Pinto Cardoso, seu secretário-geral. Tomou posse em 25 de Abril.

CAETANO ALEXANDRE DA ALMEIDA ALBUQUERQUE – Capitão-de-fragata, foi nomeado em 11 de Fevereiro de 1869 e tomou posse em 29 de Março. Deslocou-se à Guiné onde, em 21 de Abril de 1870, tomou posse, solenemente da ilha de Bolama, uma vez que a questão que pendia sobre a soberania da mesma foi decidida a favor de Portugal contra a Inglaterra, com a intervenção do presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses Grant. Foi exonerado em 26 de Fevereiro de 1870.

JOSÉ MARIA DA PONTE HORTA – Lente da Escola Politécnica, foi nomeado em 26 de Fevereiro de 1870 e toma posse a 16 de Maio. Para reintegrar o seu antecessor, foi exonerado em 9 de Junho desse ano.

CAETANO ALEXANDRE DA ALMEIDA ALBUQUERQUE – Exonerado e substituído por José Maria da Ponte Horta, foi reintegrado no seu posto em 9 de Junho de 1870, mantendo o cargo até 28 de Fevereiro de 1876. A província fica a dever-lhe a urbanização da cidade da Praia. Mais tarde, foi governador da Angola e da Índia.

GUILHERME QUINTINO LOPES MACEDO – Tenente-coronel de Artilharia, foi nomeado por decreto de 14 de Fevereiro de 1876, tomando posse a 8 de Abril. Esteve poucos meses na província.

VASCO GUEDES DE CARVALHO MENESES – Tenente-coronel de Infantaria, foi nomeado em 30 de Setembro de 1876, tomando posse em 22 de Dezembro.

ANTÓNIO DO NASCIMENTO PEREIRA SAMPAIO – Capitão-de-fragata, foi nomeado por decreto de 9 de Maio de 1878, tomou posse em 13 de Junho desse mesmo ano. Foram de sua iniciativa a colocação de faróis nas ilhas de S. Vicente e Santiago. Governou até 1881.

Progressão da conquista e da Administração Portuguesas 
© Ilustração do II Volume de História da Guiné de René Pelissier


A AUTONOMIZAÇÃO DA GUINÉ 

Pouca gente pensaria que, no final daquele ano de 1878 fosse algo mais, que a mudança de ano, porém, mudou muito mais que isso.
Era mais um dos muitos combates que se iam travando no território da Guiné de Cabo Verde, já que se encontrava na dependência daquelas ilhas.
No norte do território, na embocadura do Rio Cacheu, ficava a povoação de Bolor que, dada a sua situação, tentava impedir a instalação de estrangeiros na zona. Não havia instalações fortificadas e, ali, existia uma guarnição de quatro soldados cuja missão era hastear a bandeira portuguesa, quando passavam barcos perto, dando sinal de soberania.
O governo de Cabo Verde reconhecia que Bolor era um local onde os portugueses eram recebidos como amigos. Tinha rei, autoridades e soldados. Era um território dentro dum território.
A norte de Bolor, as povoações de Jafunco, Ossor, Igim e Lala, necessitavam de atravessar o território, da primeira, para poder escoar os seus produtos pela Ponte de Bolor, o que lhes estava vedado.
A povoação de Bolor sentiu-se ameaçada e pediu ajuda a Cacheu, mas acabou por ser arrasada em 21 e 22 de Setembro de 1878, perde a totalidade do gado, tem cerca de trinta mortos e os habitantes refugiam-se em Cacheu, cujo administrador vai a Bolor mas, o régulo de Jufunco recusa apresentar-se e intitula-se rei de Bolor, recusando a oferta de 300$000, montante que era hábito oferecer aos vencedores para que estes aceitassem a paz.
O capitão-mor de Bissau António José Cabral Vieira pede auxilio a Cabo Verde, que lhe envia o reforço de um oficial e cinquenta e dois soldados, aumentando para duzentos e trinta e quatro soldados, em todo o território.
O capitão-mor resolve avançar para o confronto já que, aos notáveis de Cacheu, não lhes agradava a ideia de uma solução negociada, que era de frágil duração. A acção foi levada a efeito, mas com a condição de serem os voluntários e os auxiliares, a levar a cabo o ataque. Ficando o capitão–mor de Bissau a bordo do palhabote Guiné, é lançado o ataque por cerca de trezentos auxiliares, na tentativa de retomar Bolor, enquanto a força, que veio de Cabo Verde, fica de reserva sob o comando do Tenente Calisto dos Santos e do Alferes Sousa.
O régulo de Jufunco, previamente avisado, dá duro combate aos auxiliares e, depois de os dispersar, avança sobre a reduzida força militar, que estava de na praia. Surpreendidos com o ataque, com que não contava, a força militar tenta retirar, mas a maioria acaba por ser massacrada, em terra ou na água, já que o bote que estava na praia e utilizaram para tentar regressar ao palhabote, não resistiu ao peso dos seus ocupantes.
O barco, a bordo do qual se encontrava o capitão-mor António José Cabral Vieira, ainda tenta reagir com disparos de artilharia, mas sem êxito. Recolhe apenas quatro sobreviventes e retira.
O Capitão-mor de Bissau reclama ser ouvido em Conselho de Guerra, para poder justificar o desaire; reclama o envio de um reforço de 500 soldados e um vapor, para assim vingar a honra e retomar Bolor.
O governador de Cabo Verde, António de Nascimento Pereira de Sampaio responde, informando não ter meios para satisfazer o pedido. A 19 de Janeiro de 1879 nomeia um interino e envia, não a força solicitada, mas cinco oficiais e cinquenta soldados, além algum de material de guerra. O inquérito levado a cabo revela-se, se não inconclusivo, pelo menos de resultados duvidosos.
Um decreto de 18 de Março de 1879, desanexa a Guiné do governo de Cabo Verde e nomeia Governador da novel província Agostinho Coelho, enquanto o que resta do Batalhão nº 1 de Cabo Verde é transferido para a Guiné, que passa a depender directamente do governo central, em Lisboa.

Carta de situação referida a 8 de Novembro de 1963 
© Guerra de África – Guiné, Fernando Policarpo


GOVERNADORES DA GUINÉ 

AGOSTINHO COELHO – Tenente-coronel, tomou posse em 20 de Abril de 1879, governando durante dois anos.

PEDRO IGNACIO GOUVEIA – Capitão-tenente, conselheiro, foi nomeado em 10 de Novembro de 1881, tomando posse a 16 de Dezembro, tendo sido exonerado a seu pedido em 26 de Dezembro de 1884.

FRANCISCO PAULA GOMES BARBOSA – Oficial da Armada, tomou posse em 17 de Março de 1885. Demissionário, desde 17 de Março de 1885, o governo da província é assumido pelo Juiz de Direito Duarte de Vasconcelos, do Coronel Castela do Vale e do Secretário-geral Jaime Lobo Brito Godins, constituindo um Conselho Governativo.

Carta de situação referida a 7 de Abril de 1974 
© Guerra de África – Guiné, Fernando Policarpo


Delimitação das fronteiras DA GUINÉ 

Com a chegada dos liberais ao poder, as colónias ou domínios ultramarinas, passam a ser designadas como Províncias Ultramarinas. Estes territórios ainda não tinham as suas fronteiras definidas, pois estas variavam com a sorte das armas. A Guiné era um enclave em território francês, com fronteiras com o actual Senegal e a Guiné Conacri, enquanto os ingleses assediavam as ilhas Bijagós, a partir das suas possessões a sul na costa da Guiné.
Porém, as fronteiras “iniciais” desta província iam para além das fronteiras que viriam a ser encontradas nas convenções havidas com a França e Portugal, em relação à delimitação das mesmas na África Ocidental.

Esta era uma situação inédita, já que Portugal nunca havia estado “sentado à mesa de negociações” para definir as suas fronteiras. Foram dezasseis difíceis sessões, já que se encontravam em discussão, não só as fronteiras da Guiné, mas também as de Angola, que se prendiam com a questão do território referido como “Mapa Cor-de-Rosa”.
Com a autonomia administrativa da Guiné em 1879, havia necessidade de consolidar as fronteiras, pelo que foi constituída uma comissão para fixar no terreno, a linha divisória acordada na convenção de 12 de Maio de 1886, assinado em Paris, entre as partes interessadas, ratificada por El-Rei D. Luís em 25 de Agosto de 1887 e publicado no Boletim Oficial da Guiné em 24 de Setembro desse ano.

A fronteira, estabelecida com base no meridiano de Paris, ficou definida:
• A Norte do território, a partir do cabo Roxo para Leste, sensivelmente a igual distância dos rios Casamança e de São Domingos, até á intercepção do meridiano 17º,30 de longitude de Paris com o paralelo 12º,40 de latitude Norte. A partir deste ponto, até ao meridiano de 16º, a fronteira confunde-se com o paralelo 12º,40;
• A Leste, a fronteira segue o meridiano de 16º,00 desde o paralelo 12º,40 até ao paralelo 11º,40.
• A Sul, a partir da foz do rio Cajet, deve manter-se a igual distância do rio Componi e do rio Cacine, ao principio, e depois do rio Grande até terminar da intercepção do meridiano 16º,00 com o paralelo 11º.40 de latitude Norte.

Uma comissão composta pelo Oficial da Marinha E. J. Oliveira e Costa, o antigo secretário-geral da Guiné Augusto César de Moura Cabral e o Capitão Bacellar, por Portugal e o Capitão H. Brosselard, o Tenente Clerc e o publicista F. Galibert, por parte da França, acompanhados das respectivas comitivas e carregadores, inicia, em Janeiro de 1988, o reconhecimento das fronteiras, mas como há divergência na interpretação de alguns pontos do convénio, a missão é suspensa.
Só anos mais tarde, em 1901, nova comissão constituída pelos portugueses 1º Tenente João de Oliveira Muzanty, e pelos Guardas-Marinha Teles de Vasconcelos, Jaime de Sousa, Proença Fortes e alguns oficiais do Exército da Guiné, e a comissão francesa era constituída pelos oficiais Payne, Benoit, Brocard, Forget, Leprince e o Dr. Maclaud, se retomam os trabalhos.
Foram cinco anos de trabalhos de campo, em que houve incidentes e discussões, resultante de alguns erros existentes nos mapas utilizados no convénio de 12 de Maio de 1886. Na altura dos encontros para a definição das fronteiras, supunham os membros da mesma que, o regulado de Cadé se situava mais a leste, portanto dentro do que seriam as fronteiras da África Ocidental Francesa. Para obviar esta situação, acordaram em fazer uma reentrância, no que seria o território da Guiné Portuguesa, colocando o regulado de Cadé na parte francesa e acrescentando, igual área, no sul da parte portuguesa.
Os trabalhos terminaram em 1905. A 6 de Julho de 1906, com a troca de notas diplomáticas, entre os dois governos, ficou encerrado o processo de limitação das fronteiras da Guiné.

JOÃO EDUARDO BRITO – Coronel, nomeado em 2 de Setembro de 1886, toma posse a 24 do mesmo mês. Por conselho da Junta Médica muda-se para a ilha Brava em Novembro, ficando o Secretário-geral, César Augusto Moura Cabral, encarregado do governo. 

EUSÉBIO CASTELA DO VALE – Tenente-coronel, comandante do batalhão de Bolama, é nomeado Governador interino por decreto de 5 de Abril de 1887. 

FRANCISCO TEIXEIRA DA SILVA – Contra-almirante da Armada, é nomeado em 5 de Abril de 1888, tomando posse a 30 de Maio. Por motivos de saúde, governa durante poucos meses, retirando-se para a ilha Brava e dali para a metrópole.

JOAQUIM DA GRAÇA CORREIA LANÇA – É nomeado governador interino em 5 de Dezembro de 1888, é autor de um relatório, dos poucos que foram publicitados na época.

AUGUSTO RODRIGUES GONÇALVES DOS SANTOS – Major, governa interinamente desde 22 de Fevereiro de 1890, até à entrega do governo ao seu sucessor.

LUIZ AUGUSTO VASCONCELOS E SÁ – Coronel, toma posse em 26 de Junho de 1891. Retira-se para a metrópole em 24 de Abril de 1893, por motivos de saúde, entregando a governação ao Secretário-geral interino Dr. César Gomes Barbosa, regressando em 23 de Outubro de 1893. No início do ano de 1895, regressa de novo a Lisboa, entregando a governação a César Augusto Moura Cabral, secretário-geral.

EDUARDO JOÃO DA COSTA OLIVEIRA – Capitão-tenente, nomeado interinamente para o cargo de governador por decreto de 4 de Abril de 1895, deixa a governação em 28 de Novembro desse ano, a seu pedido.

PEDRO IGNACIO GOUVEIA – Capitão-tenente, é nomeado pela segunda vez para o cargo em Novembro de 1895, tomando posse a 24 de Janeiro seguinte. Gravemente doente, entrega o governo ao Secretário-geral César Augusto Moura Cabral, e embarca para Lisboa em 25 de Agosto de 1897, tendo falecido durante a viagem.

ÁLVARO HERCULANO DA SILVA – 1º Tenente da Armada, toma posse a 22 de Dezembro de 1897. Já tinha prestado serviço na província da Guiné, como comandante de flotilha.

ALBANO MENDES DE MAGALHÃES RAMALHO – Oficial da Marinha, nos últimos meses de 1898, governou interinamente.

(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 28 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11644: Quem dirigiu os destinos da Guiné (1/3): A descoberta da Guiné e de Cabo Verde; Governadores de Cabo Verde; Capitães-Mores e Governadores; Capitania-Mor do Cacheu e Capitania-Mor de Bissau (José Martins)

Guiné 63/74 - P11654: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (15): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte III : O Dauda (filho do vento e mascote da companhia), o 1º cabo escriturário Cardoso, o faxina Rochinha, e...o batismo de fogo, no final das chuvas, em outubro de 1967



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O quarto do Zé Neto... Na mesinha de cabeceira, uma foto da esposa Júlia, de quem tem três filhas. A Júlia é nossa tabanqueira.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A secretaria... [ O Zé Neto deixou-nos o seu álbum fotográfico (, obtido a partir dos seus diapositivos), organizado por temas, mas as fotos, individualmente, não estão legendadas. Não sei se o 1º cabo Cardoso, escriturário, aparece aqui na foto. Também não nos parece que o Cap Corvacho esteja neste grupo, segundo informação do cor art ref  (e nosso tabanqueiro) Nuno Rubim, que é do curso a seguir ao dele. O Corvacho também já morreu].



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O 2º sargento José Neto (que exercia as funções de 1º sargento da compnhia) junto a um abrigo e a uma viatura do Pel Rec Fox 1165, que era comandado pelo alf mil cav Michael Winston Schnitzer da Silva.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O obús 8.8 (1)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O obús 8.8 (2)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) >  O Dauda, a "mascote da companhia" (1), com outros meninos da Tabanca, a brincar numa poça de água, junto à capelinha...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda,  a "mascote da companhia" (2)... Vivia praticamente com os militares...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O Dauda, a "mascote da companhia" (3)... Dizia-se, na caserna, que era cara chapada do pai... O Dauda terá morrido há 4 anos atrás, com cerca de 45 anos... Era casado e pai de duas filhas. A família vivia em Bissau.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Dauda era filho de Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. O pai biológico  de Dauda, dizia-se,  era um militar português que passara por Cacine, em 1965/66.  O Dauda teve no Zé Neto um protetor. E, história espantosa, em janeiro de 2010, a Júlia Neto, viúva do cap ref José Neto (1929-2007), foi conhecer a esposa e as duas filhas do Dauda (, entretanto falecido ainda há pouco tempo), em Bissau.

Sobre este reencontro, escreveria o Pepito mais tarde, no nosso blogue: "Quando o Capitão começou a colaborar com a Iniciativa de Recuperação de Guiledje, a única coisa que pediu foi: 'Procurem e encontrem-me o Dauda, filho abandonado por um militar que tinha estado neste quartel e que sempre tratei como um filho e que gostaria de voltar a ver'. Para ele, Capitão Neto, com aquele coração enorme que tinha, nunca conseguiu perceber como se pode abandonar uma criança pequena e desinteressar-se definitivamente dela. A sua mulher Júlia Neto veio a Guiledje e encontrou a mulher e as filhas do Dauda e … perfilhou-as imediatamente. A família Neto, toda ela, tem um coração de ouro".

E com o Dauda que começa a III parte das memórias de Guileje, da autoria do Zé Neto, e que já publicámos na I Série do nosso blogue, em janeiro de 2005. O Zé Neto úm dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa. Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Faz há 40 anos, a 22 de maio de 1973, que retirámos de Guileje.



2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte III


(i) Dauda,  filho vento e mascote da companhia


Como já escrevi, eram todos de etnia fula, de raça negra, com excepção de um menino mestiço.
Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa.

Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas…

Foi pela minha mão que o miúdo deu os primeiros passos. E foi por ele que, suponho, arrisquei a vida quando, num ataque bem apontado, as morteiradas atingiram a zona da cozinha, lenheiro e depósito de géneros.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 >  Uma dos dos abrigos enterrados... Na foto vê-se uma bazuca pendurada e, do lado direito, a máquina de costura do alfaiate da tabanca...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Ao correr para o abrigo ouvi o choro duma criança. O Viegas tinha jantado connosco, como de costume, e tive a quase certeza de que era ele. Retrocedi e apanhei-o junto ao coberto que servia de messe de sargentos. Arrastei-o até à entrada do abrigo e, uns instantes depois, uma granada explodiu no monte de lenha a menos de quatro metros de distância, projectando cavacas em todas as direcções.

Dos meus troféus faz parte a empenagem que sobrou dessa granada, que nunca limpei, e que a minha mulher resmunga que só serve para sujar o móvel onde está. Não é que suje, mas também nunca me apeteceu contar-lhe a história desse bocado de ferro com alhetas e terra empastada.

Quanto à actividade militar, a das tropas operacionais era intensa e da minha parte não o era menos. O Capitão Corvacho, ainda em Brá, dividiu o comando da companhia em duas partes distintas: a parte operacional era dirigida por ele e a administrativa por mim. Basta referir que o meu Registo Geral (caderno mensal em que são escriturados todos os homens e as suas mais diversas situações) tinha muito perto de trezentos títulos.


(ii) O meu escriturário, o 1º cabo Cardoso, empregado de sapataria em Viseu, e meu braço direito

Creio que é a terceira vez que o trago a esta história, mas não posso deixar de salientar a enorme ajuda do meu escriturário, o 1º Cabo Ramiro Pais Cardoso, um jovem que antes da tropa era empregado duma sapataria em Viseu, sua terra natal, cuja dedicação e competência me levaram a decidir e recomendar ao nosso Capitão que, durante a minha licença na Metrópole, ele ficasse a exercer as minhas funções, prescindindo da regulamentar substituição pelo 2º Sargento C... P..., que só constou no papel e nos actos imprescindíveis… tais como dispensa de serviço de escala.

(iii) O Rochinha, meu fidelíssimo faxina, manufactor de calçado na vida civil, básico na tropa por ter os pés chatos...

E aproveito também para prestar o meu profundo apreço pelo meu ultra zeloso faxina pessoal, o Rochinha, de seu nome completo António Casimiro da Rocha, natural de Passais, freguesia de Fiães, concelho de Vila da Feira. Dizia-se mal classificado pela tropa, pois era manufactor de calçado e não sapateiro como constava nos seus documentos e roía-se todo por ter sido privado de especialidade, ficando portanto básico, só pelo facto de ter os pés chatos.

Cuidava de mim e dos meus pertences com uma dedicação extrema. Um dos seus cuidados era fazer-me o café às horas certas de acordo com a nossa combinação. Ficou histórica a sua presteza quando, durante os dois dias de viagem marítima de Buba para Gadamael, às horas marcadas me aparecia o Rochinha com o cafezinho fumegante.

E o único convidado para a bica que ele admitia era o nosso Capitão e o Dr. Oliveira Martins quando estava connosco. Fartou-se de me pedir para o deixar ir a uma operação, mas sempre lhe neguei a vontade, porque, se por um lado lhe estava vedada essa actividade, por outro eu não podia prescindir da sua colaboração.

De parceria com o Ramiro, que o ensinou a escrever à máquina, dava volta à papelada mais trivial com segurança e a contento de todos, pois nunca abusou da sua relativa proximidade com o comando da companhia. Antes pelo contrário. Algumas vezes ajudava um ou outro camarada menos expedito a trazer-me este ou aquele problema que necessitava da minha intervenção.


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Mais um dos abrigos enterrados... e local de brincadeira da criançada...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

(iv) O nosso batismo de fogo já no final das chuvas, em outubro de 1967

O resto da estação das chuvas, de Junho a Setembro [de 1967], foi passada na expectativa das tradicionais boas vindas que os turras costumavam dar às guarnições novas.

Havia informações de que o IN tinha deslocado para aquela zona dois bigrupos (*) e possivelmente, tal como nós, andavam a adaptar-se ao terreno. Até que, em meados de Outubro, tivemos o primeiro ataque, muito mal realizado, graças a Deus.

Primeiro, já tínhamos conhecimento dos seus movimentos e da hora provável da flagelação e segundo, acercaram-se demasiado do perímetro fortificado e ficaram expostos ao fogo das nossas armas ligeiras, principalmente dilagramas (1) e bazucas. Além disso as suas granadas de morteiro, embora tivessem o alvo constituído pelas coberturas de zinco das nossas instalações iluminado pelo luar, caíram todas longe da tabanca, sem causar o mínimo estrago.

Em contrapartida, deixaram no terreno algum armamento, peças de roupa ensanguentada e sinais de uma retirada pouco organizada. Soube-se depois que esta acção foi o baptismo de fogo da maior parte dos atacantes, uma espécie de exercícios finais de recrutas, mas a sério. E para mim também o foi, já que a campanha do Lap Sap, de 1952, em Macau (2), não conta, porque não cheguei a sentir o calafrio provocado pela incerteza de onde irá cair a próxima?

Tínhamos acabado de jantar e cada qual foi para o seu buraco, porque, como já referi, estávamos à espera do ataque. No meu quarto-abrigo a segurança era mais que suficiente e dispus-me a escrever um aerograma para a minha mulher a mentir-lhe, como sempre fiz em relação aos perigos que corria, dizendo-lhe que estava tudo bem comigo, que estivesse descansada e por aí fora.

Ao estrondo da primeira granada de morteiro que caiu lá para o fundo da pista seguiu-se o corte da electricidade, já programado. Acendi a minha lanterna de pilhas e fiz um leve risco no alto da folha para assinalar o acontecimento. Com o continuar dos rebentamentos, começou a ouvir-se o som característico das costureirinhas e das Kalash, o que pressupunha a intenção de flagelação seguida de tentativa de assalto.

Até essa altura eu tinha a convicção de que a história de medo de pôr os cabelos em pé não passava disso mesmo, um rifão como outro qualquer. Mas a veracidade estava bem presente. Por momentos senti um arrepio de frio na espinha e os cabelos, e pêlos dos braços, a eriçarem-se.

Compreendi rapidamente que estar ali sozinho não me era emocionalmente favorável e arrastei-me até ao abrigo fortificado que ficava por trás do meu quarto onde encontrei os elementos da guarnição muito calmos a fazerem uns disparos tiro-a-tiro pelas seteiras ao mesmo tempo que comentavam:
- Estes gajos são loucos. Se avançam para cá das árvores caiem todos como tordos.

Ao fim de muitas horas, quando o silêncio se consolidou, fiquei pasmado ao olhar para o meu relógio e constatar que a coisa tinha durado menos de quarenta minutos. Acompanhei o Capitão na volta pelos abrigos e palhotas da tabanca e certificámo-nos de que o ataque nem uma beliscadura causou.

Em conversa sobre o acontecido eu disse-lhe que me tinha arrepiado com medo, embora sabendo que estava em local seguro. Respondeu-me que também ele já tinha passado por isso, mas que, com a continuação, uma pessoa se habitua.

Entramos assim num ciclo de duas campanhas: eles executavam a sua de noite e nós a nossa de dia. Quanto aos ataques que sofremos daí para o futuro, e foram muitos, apenas quero salientar, para além do que descrevi sobre o Viegas, dois ou três pormenores:

Na gíria das transmissões essas acções do IN eram alcunhadas de festival o que se estendeu ao dia-a-dia do pessoal. Muitas vezes as nossas sentinelas detectavam o som da saída das granadas do tubo e disparavam uma rajada ao mesmo tempo que gritavam:
-Festival!!!

Quando a primeira granada chegava já estava quase tudo abrigado. Uma ocasião tal não sucedeu e se alguém pode acreditar em milagres, esses são o Capitão Corvacho e o Alferes Michael (3). Ao correrem para junto da posição do Morteiro de 81 mm, seu posto de combate na circunstância, por pouco não foram atingidos por qualquer coisa que não identificaram de imediato. Quando acabou a flagelação constatou-se que essa coisa era uma granada de morteiro que não explodiu e estava semi-enterrada no solo.

Tomaram-se as precauções necessárias e no dia seguinte a granada foi puxada por um extenso cabo de aço. Mas antes, como bom artilheiro, o Capitão mediu o ângulo de chegada do projéctil com o qual calculou a direcção e a distância de onde tinha sido disparado, para futuras retribuições (4).

Providencialmente o turra tinha-se esquecido de sacar a cavilha de segurança da espoleta antes de meter a granada no tubo!!!

(Continua)

[Subtítulos da responsabilidade do editor]
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Notas do autor


(1) Dispositivo de Lançamento de Granadas de Mão, um engenho português que se adaptava ao cano da espingarda automática G3. Com uma munição especial, facultava o lançamento de granadas de mão a distâncias consideráveis em tiro curvo. Era terrivelmente eficaz quando lançado sobre as copas das árvores, pois as granadas explodiam e fragmentavam-se em direcção ao solo.

O seu uso exigia do atirador muita perícia e, principalmente, concentração, pois se na confusão fosse utilizada munição normal a granada explodia imediatamente. Deu-se um percalço destes com um atirador da CART 1612 que matou dois soldados.

(2) Incidentes das Portas do Cerco que isolaram Macau durante três semanas, nos quais os chineses mataram o Soldado Moçambicano Jacinto Mundau.

(3) Michael Winston Schnitzer da Silva [, alf mil cav, comandante do Pelotão de Reconhecimento Fox nº 1165, ou Pel Rec Fox 1165]


(4) O Morteiro é uma arma de tiro curvo, mas diferente dos obuses ou canhões. Grosso modo pode dizer-se que o projéctil descreve uma trajectória parecida com um V invertido. O alcance da arma (distância para o alvo) é obtido pelas tabelas de inclinação do tubo de lançamento e variação das cargas propulsoras. Assim, identificado o projéctil descobre-se com facilidade a arma que o lançou. Com uma arma igual, ou outra com os ajustes calculados, há muitas probabilidades de fazer um disparo inverso e atingir as redondezas da posição da arma inimiga.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11635: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (14): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Partes I/II: Formação e mobilização da companhia, que foi render a CCAÇ 1477

Guiné 63/74 - P11653: Em busca de... (223): Pessoal do Pel Mort 1242 (Buba, outubro de 1967/ agosto de 1969) cujos nomes ficaram gravados na "pedra de Buba"... O que é feito de ti, camarada Clemente, ex-alf mil e comandante? E de ti, Simão? E de ti, Laginha?... E de vocês todos, 44 anos anos depois de terem regressado no T/T Uíge, em 23/8/1969?


Foto nº 1 >Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"... Restos do seu memorial, com o respetivo brasão.


Foto nº 2 >Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"...  O que resta do memorial, em pedra, com os nomes de todos os seus militares (1)


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"...  O que resta do memorial, em pedra, com os nomes de todos os seus militares (2)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"...  O que resta do memorial, em pedra, com os nomes de todos os seus militares (3)

Fotos : © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]



1.  O que é feito de vocês, camaradas do Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69)? Por onde param?  Que histórias têm para contar? (*)... A "pedra" de Buba registou para a posteridade os vossos nomes... O José Teixeira e o Francisco Silva passaram por lá, no passado dia 1 de maio (**)  e trouxeram-nos uma foto do vosso memorial que não era aos mortos, mas aos vivos!...

Ainda bem visíveis, gravados na pedra (quase intacta) estão os nomes de:

Clemente
Gomes
Albuquerque
Simão
Correia
Fernandes
Gonçalves
Brito
Sousa (?)
Cerqueira
Pipa (?)
Neto
Gomes
Sarmento
Aurélio (?)
Neto
Pereira
Branquinho (?)
Matias
[...]

[vd. foto nº 3]

e também

Rodrigues
Félix
Macedo
Farropas (?)
Teixeira
M [...]
M. Vieira
Domingos
Laginha
Couto
Venâncio
P. Vieira
P. Barbosa
Lopes
G. Barbosa
Ribeiro
Alves
Carvalho
Reis
Marques
B. Peneira (?)
Oliveira
Anacleto
[...]

[Vd, foto nº 4].

Sabemos, das pesquisas no nosso colaborador José Martins, que o Pel Mort 1242 foi mobilizado pelo BC 10, Chaves, e esteve no TO da Guiné, em Buba, desde  outubro de 1967 até agosto de 1969.  É bem possível que tivesse secções e esquadras espalhadas por outros aquartelamentos e destacamentos da região de Quínara.

Muito provavelmente, o pessoal era transmontano, sendo a unidade mobilizadora o BC 10, de Chaves.  Sabemos que regressou no Uige, em 23/8/1969, juntamente com outras tropas... Esta era lista dos "passageiros", segundo apontamentos do nosso camarada da Reserva Naval, Manuel Lema Santos:

Cmd BCaç 1933/RI 15
CCaç 1790/1791/1792 RI 15
Cmd BCaç 1932/RI 15 CCaç 1787/1788/1789 RI 15
CCaç 1801/1802/ BC 10
Pel Mort 1242/BC 10
Pel AA 1257/RAAF
Pel Rec D 1258/ RC 6.

Se alguém souber do paradeiro atual de algum destes camaradas, que nos avise. Ou se alguém souber da sua história lá pelas terras de Buba, que nos escreva. Eles não têm ninguém que os represente na nossa Tabanca Grande. Há escassas referência, no nosso blogue, ao Pel Mort 1242. (***)
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11582: Em busca de ... (222): Quem confirma a ida de Brigitte Bardot às praias de Ponta Varela no início dos anos 60? (José Belo)

(**) Vd. poste de 28 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11649: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (2): De Bissau até ao sul: Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane, Buba, Quebo...

(***) Em 1968 estava em Buba o BCAÇ 2834:

Sobre o BCAÇ 2834:

Unidade Mobilizadora: RI 15 - Tomar
Comandante: TCor Inf Carlos Barroso Hipólito
2.º CMDT: Maj Inf Rui Barbosa Mexia Leitão
Of Inf Op/Adj: Maj Inf Albino Simões Teixeira Lino

CMDTs CCS:
Cap SGE António Freitas Novais
Cap Mil Art António Dias Lopes
Cap Inf Eugénio Batista Neves

CMDT CCAÇ 2312: Cap Mil Inf Júlio Máximo Teixeira Trigo
CMDT CCAÇ 2313: Cap Inf Carlos Alberto Oliveira Penim
CMDT CCAÇ 2314: Cap Inf Joaquim de Jesus das Neves

Divisa: "Juntos Venceremos" - "Para Vencer, Convencer"
Partida: 10JAN68
Regresso: 23NOV69

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11652: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (60): Respostas (nºs 133/134/135): Carlos Rios (CCAÇ 1420, Mansoa e Bissorã, 1965/66); Ricardo Figueiredo (2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74); e Manuel Amaro (CCAÇ 2615, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

Mais três respostas ao nosso questionário (*), mais três "provas de vida"!... Obrigado, camaradas, a vocês três, que continuam a sentar-se, vivinhos da costa, no nosso bentém, à sombra do nosso mágico, fraterno, mítico, fantástico, maravilhoso, protetor, solidário,  frondoso... poilão da Tabanca Grande!


Resposta nº 133  >  

Carlos Rios [, ex-fur mil, CCAÇ 1420 / BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66]

 Caros camaradas e amigos! 
Lamentando a lentidão da resposta ao Questionário, com a apresentação das minhas desculpas aqui vos envio a minha modesta opinião!

1) Não tenho a certeza absoluta, mas creio que foi em 2010.

2) Através da troca de e-mail`s com o meu camarada de companhia, Henrique de Sacadura Cabral, tendo solicitado também pela mesma via ao co-responsável do blogue Ilmº. Ex-Alferes Cmdº. Virginio Briote, a quem envio um profundo agradecimento e um respeitoso cumprimento a minha adesão ao blogue.

3) Sim, sou membro da Tabanca Grande, puco tempo após o mencionado na alínea 1)

4) Faz parte do meu quotidiano.

5) Sim enviei e fizeram o favor de publicar o que escrevi (um diário em caderninhos), e estou a tentar coligir mais alguma coisa.

6) Não, detesto tudo o que se relaciona com a palavra FACEBOOK, para além de não me entender com aquela metodologia.

7) A resposta está inserta na alínea anterior.

8) O Blogue está estruturado superiormente e todo ele me é agradável e chamativo, agradando-me sobremaneira onde aparecem referências de caracter social.

9) As respostas anteriores são explícitas; creio eu!

10) Não, todavia não esqueço que quando me encontro em 

Ferreira do Zêzere, tenho problemas de lentidão na Internet, globalmente, o que pressupõe uma dificuldade tecnológica simplesmente.

11) Representa um aumento de força anímica, o reencontro e nascimento de grandes amizades, e camaradas, um motor de sociabilidade; o homem é um ser gregário, bem como um aumento e abertura de conhecimentos e cultura na arrumação e estruturação da minha carola. Já vou com 70 anos. O muito obrigado aos camaradas, luis Graça,Carlos Vinhal, e todos os responsáveis do Blogue.

12) Não, nunca participei.

13) As minhas decrépitas condições de saúde levam a que (com muita pena minha), não possa deslocar-me facilmente, pelo que não posso participar, mas envio a minha felicitação pelo 9º Aniversário.

14) Incomensuravelmente!! Sim!!

15) Não tenho capacidade para analisar uma magnificente ideia dos camaradas. Apenas peço que continuem, e notem…

“POR MAIS LONGA E ESCURA QUE SEJA A NOITE O SOL (BLOGUE) VOLTA A BRILHAR” (Autor desconhecido)...

Com o maior abraço de solidariedade


Resposta nº 134 >   

Ricardo Figueiredo [, ex-fur mil,  2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74]

(1) Quando é que descobriste o blogue?

Por acaso,quando a nostalgia se apoderou de mim e iniciei a busca da minha 2ªCART/BART 6523 e coloquei no motor de busca CABUCA que me levou ao Blogue e me mostrou o mapa.Estava no ano de 2007.

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Pesquisa no Google.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?

Sou membro desde 19 de Janeiro de 2011 [, com o nº 472].

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente. De manhã visito o Diário da República. À tarde o blogue. Tornou-se uma obrigação.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?

Tenho mandado esporadicamente. Espero em breve aumentar a minha colaboração.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?

Conheço, mas visito-a com menos regularidade.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?

Vou mais vezes ao blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?

A história que se vai escrevendo e as estórias que se vão acumulando numa mescla de realidade e de imaginação. No Facebook não tenho opinião formada.

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?

A política que de forma camuflada de vez em quando se posta , reconhecendo porám o cuidado dos Editores em evitar ao máximo esse tipo de atitudes. Quanto do Facebook não tenho opinião formada pelas razões já expostas.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não tenho tido qualquer problema, talvez pela hora tardia a que acedo.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje para ti? E a nossa página no Facebook?

O Blogue é um meio imprescindível para a compreensão da guerra do Ultramar, do conhecimento da juventude de então, dos seus pensamentos, dos seus actos e das suas omissões e sobretudo um arquivo importantíssimo para a compreensão da HISTÓRIA. Creio que o Blogue será a transposição futura da verdadeira HISTÓRIA,  contada pelos seus intervenientes directos e será qualificado como o único repositório dos verdadeiros factos devidamente documentados e narrados pelos próprios actores.

Sobre o facebook , será sempre uma forma imediata e actual da expressão da comunicação de uma rede social.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?

Não , com muita pena minha.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?

Gostaria, mas mais uma vez não poderei estar presente.Espero para o próximo ano quebrar estes impedimentos. Sobretudo este ano gostaria de estar para abraçar o JOSÉ SAÚDE , que muito considero e estimo, no lançamento do seu novo livro.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?

Naturalmente que sim. Acho que o Blogue nunca será um moribundo,pois graças ao envolvimento que construiu ao longo dos anos, a seriedade que impôs no seu editorial,os filhos e netos dos ex-Combatentes da Guiné, saberão mantê-lo vivo, sabendo homenagear os seus mortos e trazendo à colação muita da documentação que certamente ainda se encontra arquivada.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Continuem com o mesmo espírito e se me é permitido, um abraço muito apertado aos seus Editores pela coragem,trabalho e dedicação com que mantêm o Blogue. BEM HAJAM !


Resposta nº 135 > 

 Manuel Amaro [, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71]

Caros Editores

Com um pedido de desculpas pela demora, aqui vai a minha resposta ao referido questionário.

1 - Descobri o blogue em Abril de 2008.

2 - Estava a fazer uma pesquisa sobre o Capitão Salgueiro Maia, para uma comunicação que ia fazer numa aula, sobre o 25 de Abril de 1974.

3 – Sou membro desta família desde 27 de Maio de 2008.

4 – Consulto o blogue, em média duas vezes por dia, embora por vezes esteja dias sem consultar.

5 – Já enviei vários textos, que foram publicados e faço comentários com frequência.

6 – No Facebook não tenho participado.

7 – Só vou ao blogue.

8 – Gosto de ler boas estórias, sejam elas “guerreiras” ou sociais, bons poemas e ver boas fotos.

9 – Não gostei de ler alguns textos doutrinários, algumas polémicas exageradas... sobre quem ganhou, quem perdeu, onde reuniu o PAIGC em 1973, quem matou Amílcar Cabral e mesmo sobre um texto do livro do Rui Alexandrino Ferreira, escrito pelo Major General Pezarat Correia. Até porque é sempre possível discordar sem recorrer à ofensa. E isso nem sempre foi conseguido. Mas, que diabo, ex-combatentes, seniores, também têm que ser tolerantes.

10 – Nunca tive dificuldade em aceder ao blogue.

11 – O blogue representou e representa muito para mim. Sem ser “lamechas”, foi aqui que reencontrei um grande amigo que estava “desaparecido” desde 1967: O Zé Teixeira. Foi aqui que reencontrei o Mário Pinto, o Arménio Santos, o Mário Fitas e o Alberto Branquinho. Foi aqui que voltei a ouvir falar, ler estórias e ver fotos de Buba, Nhala e Quebo, que foram as minhas “terras” na Guiné. É aqui que encontro ex-combatentes, gente que sentiu e que sente a Guiné como fazendo parte das suas vidas. O blogue é hoje uma das minhas referências de vida.

12 – Já participei em três Encontros Nacionais, em 2009/10/11, em Ortigosa e Monte Real.

13 – Este ano não vou participar porque estarei ausente, noutra missão, de 2 a 21 de Junho.

14 – Sim. Acho que o blogue tem todas as condições para continuar e para se fortalecer. Basta ver o trabalho feito até hoje pelo Comandante Luís Graça e pela Equipa de Editores.

15 – Sugestões? Bem sugestões, sugestões, não sei muito bem. Talvez continuar a trabalhar com o mesmo entusiasmo. Talvez com entusiasmo redobrado. Se o caminho percorrido valeu a pena, é seguir no mesmo caminho, de cabeça erguida. Sim, é isso. Porque o dever foi cumprido e as consciências estão tranquilas. Tenho dito... e escrito. Com um abraço.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P11643: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (59): Respostas (nºs 130/131/132): Albano Gomes (CART 2339, Fá Mandinga, Mansambo, 1968/69): João Nunes ( CCAÇ 4544, Cafal Balanta e Bolama, 1973/74); e Joaquim Sequeira (BENG 447, Bissau, 1965/67)

(...) Questionário ao leitor do blogue:

(1) Quando é que descobriste o blogue?
(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?
(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje para ti? E a nossa página no Facebook?
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. (...)

Quem não respondeu (e, portanto, não fez a "prova de vida"...), ainda vai a tempo. O blogue agradece. Contunuamos a celebrar, com alegria comedida, o nosso 9º aniversário. Nove anos a blogar são cinco comissões na Guiné!... É obra, meus caros coeditores Carlos, Eduardo, Virgínio, e demais colaboradores, autores, tabanqueiros e leitores!... 

Responder por email para: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com 

Guiné 63/74 - P11651: Tabanca Grande (401): Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado TRMS do Pel Mort 4574 (Nova Lamego, 1972/74)

Vista aérea da tabanca de Nova Lamego

Foto: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.


1. No passado dia 19 de Abril de 2013, recebemos do nosso camarada e novo tertuliano Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74, esta mensagem:

Sr. Luís Graça
Porque não nos conhecemos, tomo a liberdade de o tratar desta forma para lhe solicitar o seguinte:
- Desde há pouco tempo atrás, venho pesquisando os vossos blogs da Tabanca Grande, encontrando fotos inseridas no blog, (A.Santos Gabu Sara - Guiné-Bissau 1972/74), que me são "familiares".

A foto que retrata o Posto de transmissôes por Rádio e três militares, o que se encontra a ler algo, sou eu. Como são colegas, (entre outros), que tanto prezo e jamais voltei a encontrar, "aguçou-me o apetite" de, ( se houver lugar e mo permitirem ), entrar na vossa Tabanca, tentando desta forma alguma aproximação com amigos de longa data.

Agradeço que me informe o que se torna necessário para a minha entrada. Aproveitando a oportunidade, ficaria-lhe também muito grato que este assunto fosse levado ao conhecimento do bloguista A.Santos, soldado de transmissões do Pelotão de Morteiros 4574 já acima referido, mais o humorístico complemento.

Porque a Guerra agora é outra, disparei este pacífico foguetão que tem como único objectivo, (se explodir no local pretendido), noticiar a um amigo que não vejo há mais de 40 anos, principalmente duas coisas: 
- a primeira é que ainda sou vivo e com forças para lhe dar um abraço "do tamanho do mundo"; 
- a segunda, disponibilizar os meios através dos quais me poderá contactar, sabendo algo mais acerca deste intruso que está ansioso por lhe falar.

 Esperando ter sucesso, é tudo de momento. 
Obrigado a todos, um forte abraço e até breve.
Joaquim Moreira Cardoso


2. Cabe aqui uma lamentável nota. O camarada Cardoso nunca obteve resposta à sua mensagem porque o editor de serviço a perdeu de vista.


Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > Na foto, António Santos a "transmitir" e o Joaquim Cardoso, em primeiro plano, a ler

Foto: © António Santos(2006). Direitos reservados. Legenda: CV


3. Assim, e felizmente, o Cardoso insistindo, mandou-nos esta mensagem no passado dia 27 deste mês de Maio:

Caro Sr. 
Com os meus cumprimentos envio este mail para o seguinte: 
- Há tempos atrás, ao pesquisar algo relacionado com história de Portugal, encontrei muito casualmente o vosso blog tabanca grande e, ao abri-lo, deparei-me com uma agradável surpresa! Ali são expostas entre outras coisas, fotos dos meus ex-camaradas do Pelotão de Morteiros 4574 tiradas no Gabu Sara - Guiné nos anos 1972/74 nomeadamente, o Santos, o Graça e o Vasco. 
Éramos os quatro das transmissões que, por ironia do destino, não nos vemos há mais de 40 anos. 
Com esta "descoberta" ficou-me na cabeça a ideia de um dia formalizar o pedido de entrada na vossa tabanca, o que hoje concretizo, será aceite? 
Caso afirmativo anexo duas fotos, uma antiga vestido de militar e outra actual à civil.

Segue o meu nome, residência e contactos:
Joaquim Moreira Cardoso 
Ex-soldado de transmissões de Infantaria
NM 19453071 
Residente em Castelões - Penafiel 

Aguardando notícias, renovo os meus cumprimentos e subscrevo-me 
J. Cardoso.


4. Comentário do editor

Caro camarada Joaquim Cardoso
Tivesse eu a têmpera do Egas Moniz e apresentar-me-ia perante ti com uma corda ao pescoço, mas como não sou nenhum valente nem gosto de gravata, limito-me a pedir-te publicamente desculpa por ter perdido de vista a tua mensagem de 19 de Abril, logo não te ter dado resposta.

Em boa hora resolveste insistir e agora sim vais ser apresentado formalmente à tertúlia.
Podes perguntar porque não é o editor Luís Graça a responder-te, já que até te dirigiste a ele? Respondo eu, porque, como trabalho por estes lados é coisa que não falta, tentamos distribuir tarefas e algumas funções. É suposto eu responder aos camaradas que se querem juntar a nós, só que desta vez falhei.

Acho que o António Santos, um camaradão que eu tenho o prazer de conhecer pessoalmente, vai ficar contente por te juntares a ele neste Blogue e por a partir de agora poderes participar nos Convívios do Pel Mort 4574, o próximo já no dia 1 de Junho. Espero que te tenhas já inscrito. Vê aqui, é só clicares: Guiné 63/74 - P11551: Convívios (519): 9.º Almoço de confraternização do pessoal do Pel Mort 4574/72 em Almeirim no dia 1 de Junho de 2013 (António Santos)

Se quiseres contribuir com as tuas fotos e algumas das tuas memórias escritas, manda-as para a caixa de correio do editor Luís Graça e para a de um dos co-editores, eu ou Eduardo Magalhães.

Por outro lado, se tiveres necessidade de algum esclarecimento adicional não hesites em solicitá-lo.

E por falar em esclarecimento, ficas desde já a saber que na tertúlia não há nenhuma distinção entre os camaradas, que por o serem, se tratam todos por tu.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11641: Tabanca Grande (400): Almiro da Silva Gonçalves, ex-Soldado TRMS de Inf do Pel Mort 4580 (Bambadinca, 1973/74)

Guiné 63/74 - P11650: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (14): Ciúmes

1. Em mensagem do dia 27 de Maio de 2013, o nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), enviou-nos a sua décima quarta "Carta de Amor e Guerra".


CARTAS DE AMOR E GUERRA

14 - Ciúmes

Vale de Figueira, 9-Fevereiro-66 
Meu M. querido, acho um pouco estranho não ter recebido notícias tuas, sábado. Esperava-as com ansiedade tanto mais que havias prometido escrever acerca de um assunto em que eu não tinha nem sequer pensado. (… … …). 
(…). 
Isto foi o prefácio para me pôr à vontade contigo. Tenho um assunto mais delicado a focar-te. 

Previno-te já que não gozes. Está bem, meu querido? 

Fotos: D. em Lisboa (1967) e M. em Bissorã (1966)

Gosto muito, muito de ti. Mas isso não é suficiente para que não sinta certas dúvidas e desconfianças quando posta ao corrente das reacções de tantos perante a vida que levam as moças de quem gostam. Eles não gostam disto ou daquilo, sentem ciúmes, etc. Ora, em todo este tempo de convivência nunca me apercebi de que, contigo, acontecesse tal. Não te rias, meu M., já sabes que detesto ser objecto de troça.

Mas existe ou não existe ciúme, o mínimo que seja, em relação a mim? Nunca me apercebi dessa existência e agora preocupo-me, sinto-me muitas vezes até diminuída, ao ouvir o que as minhas colegas me contam de noivos ciumentos. E ao expor-lhes certos pontos de como decorre o nosso namoro, elas estranham e eu deduzo que não acreditam nas tuas boas intenções a meu respeito.
(…). Mesmo assim, meu querido, acredito na tua sinceridade, na tua lealdade, numa retribuição completa, total, dos meus sentimentos.
Ainda assim, atrevo-me a perguntar-te:
- Sentes ciúmes de mim? Principalmente agora, que estamos tão distanciados, que estou empregada e que mantenho uma correspondência íntima com um grande amigo?
Explica-me, esclarece o que te for possível neste sentido. Está bem? (…).Com todo o meu amor, beijo-te e abraço-te intensamente. (…).


Bissorã, 24FEV66 
Não, minha querida, o teu comportamento nos últimos tempos de maneira nenhuma influenciou os meus silêncios, de vez em quando mais prolongados do que o costume. Tu sabes que estou contigo. Então para quê todos esses receios, por possíveis zangas minhas? 
(… … …). 
E, para a próxima, não andes por aí a atrapalhar-te com os meus aborrecimentos sem primeiro veres, com olhos de ver, o que te escrevo. 
(… … …). 
E vamos lá então falar um bocadito dos ciúmes que queres que tenha. 
Que queres que te diga? Forçosamente que os tenho mas numa quantidade muito relativa. Quero-te para mim, sim senhor. Mas quero-te para mim com a certeza de que és minha, te dás ao teu M. totalmente. O que é que me pode provocar ciúmes? Saber que te escreves com uma espécie de “rival” meu ou saber que acompanhas rapazes por aqui ou por ali? Não. 

Concedo às pessoas a máxima liberdade na máxima responsabilidade. Saber que anda um moço tentando conquistar-te, não me aflige. Fico à espera. E superficialmente advém-me uma certa aversão ao moço ou mesmo a ti (estou a falar num hipotético exemplo). Mas o meu espírito crítico põe-se logo em acção. Porquê tu com o outro? Os resultados não me afligem. Se me deixas e vais para o outro é porque, na verdade, eu te não sirvo, (…). 
Ciúmes duradoiros, não tenho. Ciúmes depois da reflexão, não tenho. Podes ter a certeza de que, se um dia te encontrasse ”fazendo amor” com um rapaz qualquer, estarias sujeita a levar dois estalos ou levarias mesmo [!!!], não pelo que estavas a fazer mas por me teres mentido. Ponho todas as hipóteses: 
Casamos. Se se desse o caso de teres encontrado um homem que te fizesse esquecer-me e mo dissesses, eu ajudar-te-ia inclusivamente a ires ao seu encontro [!]. Se eu entrasse em casa e vos visse aos dois na cama ou soubesse que a esposa se escapulia para ir ao encontro do “amado” então o caso mudaria de figura. A “queridinha” seria aquele bombo de festa [!!!]. Está claro que num ou noutro caso separar-me-ia imediatamente. Se eu confio plenamente em ti, como posso ser ciumento? Se eu confio plenamente na tua capacidade de escolheres o caminho que desejas, como posso ter ciúmes? Não sei como te hei-de explicar mas, o que é certo, é que não sou ciumento, no verdadeiro sentido da palavra. Estou a teu lado enquanto estiver convencido de que és aquela que quero ou até que me queiras. Hoje, amanhã, daqui a anos, a separação existirá se se verificar que fomos uns “patinhos” e que não servimos um para o outro. Resta-me agora acrescentar que não acredito nada em que isto possa acontecer. Amo-te e creio no teu amor, no nosso grande amor. Se o tema ciúme não estiver bem explicado, diz. Para a próxima continuo. 
Abraço-te e beijo-te, meu amor. M.


Lisboa, 1-Março-1966 Querido M. 
(…). Não há um dia em que tu não sejas recordado por mim com extrema saudade. Com a certeza do grande Amor que nos une, a vida ainda vale a pena, apesar de tudo. Conheci-te num período decisivo da minha vida, (…) agora nunca poderás sair dela, aconteça o que acontecer. 
(… … …). 
Agradeço-te, (…), o acolhimento, a compreensão, o estímulo com que aceitas e destrinças os meus problemas. Satisfez-me muito a tua explicação, os teus pontos de vista sobre o problema “ciúme”, (…). Um abraço, meu querido. Não de gratidão mas de certeza e afirmação de que te quero, um testemunho de que me serves. Essa tua explanação de ideias é suficiente, não preciso mais de falar em tal. Continuarei a merecer essa tua confiança como até agora, com a certeza de que posso contar contigo. Meu amor, talvez que quando esta carta te chegar às mãos já terás notícias da tua Mãezinha [hospitalizada]. Mesmo assim, afirmo-te que está excelente. Tenciona ir para casa esta semana. Podes descansar, meu querido, que já não corre perigo. 
(… … …). 
(…). Como anseio o teu regresso! Abraça-me, querido … Aperta-me nos teus braços como só tu sabes. (…). Autoriza que te grite uma vez mais que te amo muito, (…). (…). 
P.S. Diz-me os livros que gostarás de adquirir (…), tenho agora oportunidade de os mandar por um rapaz meu conhecido que embarca para aí a 22 do corrente. Está bem? Pede tudo o mais que quiseres. 
Beijo-te. (…).
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11614: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (13): Religiosidade

Guiné 63/74 - P11649: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (2): De Bissau até ao sul: Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane, Buba, Quebo...


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Maio de 2013 > Restos do forte na Ponte dos Fulas

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Maio de 2013 > A mesquita do Xitole


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de Maio de 2013 > O Francisco Silva junto ao memorial (ou o que resta dele) aos mortos da CART 2413.

[ A CART 2413 (Xitole, 1968/70), uma companhia com quem a CCAÇ 12 fez diversas operações no seu sector Esta subunidade, que será substituída pela CART 2716 (1970/72), teve 4 mortos, a saber (e de acordo com a lápide constante da imagem acima):

(i) Sold At Manuel de Sousa Branco, natural de Areosa, Rio Tinto, Gondomar, CART 2413/BCAÇ 2852, morto em combate, 25/10/1968. Os restos mortais estão no cemitério da sua Freguesia Natal (segundo a completíssima lista publicada pelo portal Utramar Terraweb, relativa aos mortos da guerra do Ultramar do concelho de Gondomar; acrescente-se: não só a mais completa como a mais fiável da lista dos mortos da guerra do ultramar, disponível na Internet);

(ii) Sold At Joaquim Gomes Dias Vale de Ossos, natural de Fradelos, Vila Nova de Famalicão, morto por afogamento em 7/11/1968. Está sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);

(iii) Sold At Crispim Almeida da Costa, natural de Monte Calvo, Romariz, Santa Maria da Feira, falecido por doença em 3/4/1969 doença, e sepultado no cemitério da sua Freguesia Natal (Fonte: Portal Ultramar Terraweb);

(iv) Sold At Mário Ferreira de Azevedo, nascido em Cavadas, Vermoim, Maia, falecido também por doença, em 22/12/1969, e sepultado no cemitério concelhio (Fonte: Portal Ultramar Terraweb).



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 1 de Maio de 1974 > O Francisco Silva (e em segundo plano a Armanda e a Elisabete) com habitantes do Xitole, falando do passado.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho  > 1 de Maio de 2013 > O Rio Corubal... Ainda um "paraíso do Saltinho"...


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Contabane > 1 de Maio de 2013 > O Régulo de Contabane, o Suleimane, com a sua família,  mais o  Zé Teixeira e esposa, Armanda:  amizades que perduram.


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Quebo > 1 de Maio de 2013 > A feira semanal, sempre colorida e movimentada.



Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Buba > 1 de Maio de 2013  > Por aqui passou o Pel Mort  1242 (1967/69).


Guiné-Bissau > Região de Tombali  > Buba > Maio de 2013  > Memorial do Pel Mort  1242 (1967/69). Ainda legíveis os nomes e quase todo os militares portugueses que o compunham. Era seu comandante o alf mil Clemente.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  LG]


Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte II

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013]


Partimos de Bissau pela manhã do dia seguinte [, 1 de maio, 4ª feira],  bem cedinho, com destino à Pousado do Saltinho [, onde pernoitámos]. O nosso destino final era Iemberém. Por agora queríamos peregrinar pelo Xitole, terra que o Francisco Silva bem conhecia e da qual estava roído de saudades (1).

Depois continuaríamos por Quebo, Mampatá Forreá e Buba, atravessar o rio Balana, subir a Gandembel, apanhar o carreiro da morte ou estrada da liberdade e seguir até Guiledje para apreciar o museu que a AD Acção para o Desenvolvimento está a construir para memória futura dum tempo que foi de sangue suor e lágrimas, muitas lágrimas.

Pernoitámos no Saltinho, depois de uma tarde bem vivida no Xitole, onde o Francisco Silva poisou e viveu grande parte da "sua" guerra, mas antes atravessamos parte da Guiné profunda em que em cada canto há uma estória para contar. 

A pista de Amedalae, ou a estrada transformada em pista de aviação para descarga da mal fadada droga, o Matu Cão, do Alfero Cabral, a Ponte dos Fulas, ou o Sr. Manuel Simões.  do Jugudul, o senhor que geria a empresa, à qual o exército português fretava os barcos para levar os mantimentos às suas tropas no interior. Amigo do Amílcar Cabral, a cujo funeral foi, transportando a bandeira do clube onde ambos eram associados e não foi preso quando regressou a Bissau. No fim da guerra comprou ao Nino Vieira o quartel do Jugudul e montou um alambique de água ardente de cana.

O negócio está mau, também para o Sr. Manuel,  ou o Nelinho Simões,  como era conhecido nos seus tempos de menino em Bolama. Hoje o alambique está parado. Não há dinheiro para comprar aguardente. Até o "choro" aos mortos deixou de ser aquela festança de arromba. Vai-se servindo o vinho de palma e o vinho de cajú, à falta de melhor.

Esta paragem no Saltinho foi uma oportunidade para mim de visitar um velho amigo de Mampatá, o Suleimane, atual Régulo de Contabane e sua mulher,  a Náná. Companheiros da minha juventude no que foi o melhor tempo que vivi na guerra. Não, porque houvesse paz, mas porque o povo de Mampatá, melhor que ninguém soube acolher-me na juventude perdida na guerra em que não queria participar.

Saboroso acolhimento, na companhia da minha esposa, que desta vez aceitou o desafio de me acompanhar nesta peregrinação à Guiné que não me cansa. Em cada passagem ficam memórias que persistem e obrigam a repensar um regresso

Gente extremamente simpática que sabe receber com calor humano e carinho. Gosto de conversar com eles e aprendo sempre qualquer coisa de novo. Aguardo agora que venham a Portugal para os poder acolher em minha casa.

Aqui, no Saltinho,  houve tempo para dar um mergulho no Rio Corubal, com as suas margens que nos transportam ao paraíso pela verdejante beleza natural que nos permitem desfrutar e lá seguimos para Quebo à procura do Habibo, o chefe da polícia local, também ele companheiro de outros tempos. Foi só um abraço, uma passagem pela feira que decorria e partimos de novo até Mampatá, a minha segunda terra. Um saltinho a Buba para rever a bela paisagem, agora perdida numa extensa plantação de cajueiros e onde não se pode tirar uma foto, nem aos memoriais deixados pelos militares portugueses.

 Zé Teixeira

Continua)

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Nota do autor:

(1) Este reencontro do Francisco, no Xitole, vai merecer uma crónica especial.