quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12561: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (3): O 'Jogo da Bola' nos intervalos da guerra: os craques da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) ... (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART  3494 > Uma equipa do 4.º Gr Comb (pormenor), o grupo que sofreu duas emboscadas na Ponta Coli (22 de Abril e em 1 de Dezembro de 1972). Em primeiro plano , da esquerda para a direita, estão o Teixeira (soldado), o Manuel Rocha Bento [fur mil, natural de Ponte Sor,  morto na emboscada de 22/4/1972, a única baixa em combate ao longo dos mais de vinte e sete meses de comissão da companhia],  o Jorge Araújo (furriel, autor deste poste), o Sousa Pinto (furriel) e o Monteiro (1.º cabo).

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Mensagem do Jorge Araújo [ex-Furriel Mil. Op Esp / Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)]:

Data: 18 de Outubro de 2013 às 15:16
Assunto: O "Jogo da Bola" nos Intervalos da Guerra de Guerrilha ...


Caríssimo Camarada Luís Graça,

Os meus melhores cumprimentos.

A ideia de escrever mais um pequeno apontamento histórico relacionado com as nossas vivências na Guiné, nos já distantes anos de 1972 a 1974, nasceu por influência de nova consulta ao nosso baú fotográfico, ainda que reduzido, mas onde existiam algumas imagens dos nossos tempos de lazer, em particular os registos sobre a prática do «jogo da bola», vulgo futebol.

Como eram relativas, maioritariamente, a camaradas da minha companhia (CART 3494), foi para eles
que enviei a primeira versão sobre o tema, como seria natural e normal, e publicada no blogue CART 3494 & camaradas da guiné (Vd. Msg 190).

Agora, como membro da Tabanca Grande,  entendi que se justificava dar conta, também, deste facto, independentemente de se tratar de um tema pouco abordado neste contexto, mas que merece, tal como os outros, um espaço de debate e de contraditório.

Espero merecer a V. concordância.

Obrigado pela atenção.

Jorge Araújo [, foto de então, à esquerda]


2. Comentário de L.G.:

Jorge, obrigado por te teres lembrado de que o tema da bola em tempo de guerra também nos interessa (ou deve interessar). Ou não fosses tu um homem da educação física!... Estamos de acordo sobre a importância que tem o exercício físico não só na preparção e manutenção da capacidade operacional do combatente como na proteção e promoção da saúde do indivíduo...

Por outro lado, nada do que diz respeito aos tempos passados no TO da Guiné nos é indiferente, desde a atividade operacional  à ocupação dos tempos livres entre duas operações... Dito isto, o teu texto já deveria ter sido pubklicado, atendendo á ordem (cronológica) de chegada. Estava devidamente sibnalizado (, este mais outros dois que estão  pendentes,), mas tenho que reconhecer publicamente que houve, da minha parte, uma descoordenação na atribuição de editor, assunto de que já te escclareci, internamente.

Resta-me pedir desculpa pelo lapso que não representa qualquer juízo de desmérito. Pleo contrário: o teu texto ganha atualidade com o desaparecimento do nosso ídolo de adoslecência, o Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014), e com o início da publicação desta nova série, "E fazíamos grandes jogatanas de futebol"...O teu texto é ouro sobre azul e não haveria outra melhor oprotunidade editorial para o divulgar do que este início de 2014. Recebe o meu abraçlo fraterno, extensivo aos "heróis da bola" que tu, tão carinhosamente, aqui evocas, e que é também também uma homenagem ao único camarada da tua companhia que morreu em combate o Manuel Rocha Bento, de Ponte Sor (Passa a ter um descritor no nosso blogue, em homenagem à sua memória).

PS - Como tu bem exemplificas com o teu caso, o "jogo da bola", nas condições duríssimas da Guiné (terreno do campo de jogos, humidade do ar, temperatura, situação de guerra, falta de equipamento...) também não era isento de riscos (físicos); cabeças, braços e pernas partidas, luxações e outras lesões músculo-esqueléticas...


3. Guiné  > O jogo da bola nos intervalos da guerra: memórias de há 40 anos do Xime, Bambadinca e Mansambo (1972-73) 

Jorge Alves Araújo
ex-Furriel Mil. Op Esp / Ranger
CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)

[Jorge Araújo, foto de então, à direita]


Revisitando, uma vez mais, o baú de memórias relacionadas com as vivências e experiências que fazem parte do nosso currículo militar construído no CTIGuiné, entre 1972 e 1974, organizadas por contexto e estruturadas segundo uma classificação que varia entre factos bons e menos bons (ou maus!), eis que, pelo presente, vos quero dar conta de uma prática lúdica que, tradicionalmente, ocorria a meio da tarde, depois de cumpridas as principais tarefas impostas pela natureza dos diferentes deveres.

Era, então, o tempo da prática a que chamo do «jogo da bola», vulgo futebol, e que despertava sempre grande entusiasmo no seio da nossa companhia (provavelmente semelhante à esmagadora maioria de outras unidades, das menos às mais numerosas), estando sempre garantida elevada adesão, quer fosse na qualidade de agentes activos (os jogadores), quer se tratasse de agentes passivos (os assistentes), fenómeno que continua a ser recorrente nos dias de hoje.

Contudo, era necessário a existência do objecto que dá sentido ao jogo – a bola – suscitando, a partir de então, um desejo crescente de a pontapear, constituindo-se, por essa via, como um poderoso meio de socialização.

Esta bola mágica, como lhe chamam muitos estudiosos do fenómeno, porque tem a propriedade de entrar em movimento em função das suas cinco dimensões: direcção, colocação, velocidade, rotação ou trajectória, faz depender o seu resultado da acção exógena que sobre ela é exercida. Deste modo, esta bola (todas as bolas!) tem, assim, um movimento variável e aleatório, por via de seguir um itinerário dependente do modo como é impelida, batida ou arremessada. Daí se considerar que a bola continua a ser um brinquedo que exerce sobre o Homem, jovem ou adulto, uma atracção que se renova permanentemente.

Praticada nos intervalos da guerra de guerrilha, esta que por definição emerge da táctica que utiliza (ataques rápidos seguidos de fuga; confronto indirecto; emboscadas; ataques surpresa, por via da grande mobilidade dos seus intervenientes), o «jogo da bola» contribuiu, de facto, para o desenvolvimento de competências relacionadas com factores tácticos, técnicos, psicológicos e físicos, quando analisado numa perspectiva endógena de superação ou transcendência de que cada jogo está impregnado, e que ajudou a lidar melhor com o “jogo do gato e do rato”, driblando o melhor possível as dificuldades/adversidades e os problemas colocados em cada situação pelo IN.


Quando alguém fazia surgir um exemplar da dita «bola mágica», mesmo que o seu aspecto/estado fosse igual ou pior que a imagem ao lado, logo nascia a vontade de a fazer rolar, organizando-se de imediato dois grupos informais, ainda que alguns dos seus intervenientes se encontrassem na fase de aprendizagem, por ausência de prática anterior, garantindo, a maioria das vezes, sucessivas desforras ou “tira teimas”, em função dos resultados, em novo intervalo da guerrilha, mas que acabariam por se revelarem de importantes no reforço da coesão de todo o colectivo da CART 3494, com influência positiva em palcos (recintos) mais adversos.

Após a conclusão de cada «jogo da bola», o processo de socialização mudava de terreno de prática, sendo transferido para o bar, onde os golos tinham outro sabor, e as conservas, os enchidos, a mancarra, a castanha de caju, e outras iguarias de ocasião, eram digeridos/as, igualmente, com grande prazer e satisfação, muitas das vezes em substituição da ementa da semana «arroz de estilhaços».

Aqui a vitória estava sempre garantida, erguendo-se os diferentes troféus conquistados, ainda que o tempo de jogo não fosse igual para todos os jogadores, passe a metáfora.



Foto n.º 1 – Xime (Maio de 1972) – Fase do jogo fora das quatro linhas, em que se verificou prolongamento. Da esquerda para a direita, os furriéis: Ferreira, Godinho, Araújo.


Em função do exposto, os testemunhos fotográficos que seguidamente se apresentam por ordem cronológica, referentes a este tema, reportam a momentos onde a câmara esteve presente. A qualidade de cada um não é a melhor, mas não nos podemos esquecer que todas as fotos têm mais de quarenta “chuvas” de vida e, tal como os humanos, vão sofrendo mutações.

A todos os camaradas que estiveram na zona leste da Guiné, ou os que por lá passaram, espero que tenham recordado as boas memórias dos vários locais identificados: Xime-Bambadinca-Mansambo, em particular os camaradas da minha companhia (CART 3494), ou aqueles que, em cada ocasião, tiveram o privilégio de nelas estarem incluídos, numa época em que cada um de nós teria apenas 21/22/23 anos, pois foi esse o principal objectivo que me moveu ao escrever mais esta singela retrospectiva histórica.

FOTOGALERIA




Foto n.º 2 – Xime (Abril de 1972) – Eu com uma postura à imagem e semelhança do saudoso José Maria Pedroto (1928-1985), treinador de futebol de alguns dos mais importantes clubes portugueses (FC Porto, Académica, Leixões, Varzim, Setúbal, Boavista e Guimarães), considerado o primeiro treinador português a concluir um curso superior, nascido na Freguesia de Almacave, Município de Lamego.

A cidade de Lamego acabaria por ficar ligada ao meu itinerário militar, uma vez que foi aí que ficou traçado o meu destino de combatente, com guia de marcha para a Guiné (BART 3873/CART 3494, formado no RAP 2, em Vila Nova de Gaia), na sequência da conclusão do curso de especialização em “Operações Especiais/Ranger”, no complexo do CIOE, de Penude.



Foto n.º 3 – Xime (Abril 1972) – Uma equipa do 4.º Gr Comb, o grupo que sofreu duas emboscadas na Ponta Coli – a primeira, em 22 de Abril de 1972; a segunda,  em 1 de Dezembro d1972 (Vd. Postes: 9698 e 9802).

Na 1.ª linha, da esquerda para a direita, estão o Teixeira (soldado), o Bento (furriel), o Araújo (furriel), o Sousa Pinto (furriel) e o Monteiro (1.º cabo).

Esta imagem foi obtida três semanas antes da primeira emboscada, onde viria a falecer o camarada Furriel Manuel Bento, natural da Ponte de Sor, e que seria a única baixa em combate registada pelo contingente metropolitano da CART 3494, nos mais de vinte e sete meses de comissão.



Foto n.º 4 – Xime (Abril 972) – Uma equipa mista da CART 3494. Imagem obtida quinze dias antes da primeira  emboscada na Ponta Coli, com destaque, na 1.ª fila, para o furriel Manuel Bento (o 1.º da direita) e o furriel Sousa Pinto (o 2.º da esquerda), falecido em 1 de Abril de 2012.


Foto n.º 5 – Xime (Abril 1972) – Fase muito animada de um «jogo da bola» no centro da parada do aquartelamento.



Foto n.º 6 – Bafatá (28 de Janeiro de 1973) – Equipa da CART 3494 que se deslocou a Bafatá para realizar um jogo com um misto de militares aquartelados naquela região.



Foto n.º 7 – Bafatá (28 de Janeiro de 1973) – Imagem referente aos preparativos de regresso ao Xime, após a conclusão do jogo.



Foto n.º 8 – Bafatá (28 de Janeiro de 1973) – Imagem referente à fase que antecedeu o início do jogo.



Foto n.º 9 – Bafatá (28 de Janeiro de 1973) – Imagem após a conclusão do jogo.



Foto n.º 10 – Mansambo (Abril 1973) – Equipa de sargentos e oficiais organizada após a transferência do Xime para Mansambo, ocorrida em Março de 73, em substituição da CART 3493, deslocada para Cobumba, localidade situada em pleno Cantanhez.

Em 1.º plano, da esquerda para a direita: os Furriéis: Araújo, Ferreira, Oliveira e Godinho. Em 2.º plano, segundo a mesma ordem: Correia (Alferes), Luciano Costa (Capitão – o 3.º da Companhia), Jesus (Furriel) e Araújo (Alferes).




Foto n.º 11 – Bambadinca (30 Set 1973) – Equipa mista constituída por elementos da CCS/BART 3873 e da CART 3494, escalada para os jogos (dois) com a CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro).

Em 1.º plano, da esquerda para a direita: Costa, Ferreira, Romão, Sousa e Adérito. Em 2.º plano: Mesquita, Santos, Carrasqueiro, Alberto, Rainha, Araújo, Gonçalves e Oliveira.



Foto n.º 12 – Bambadinca (Novembro de 1973) – Imagem obtida no campo de futebol de Bambadinca (instalações do BART 3873), a meio da tarde, num contexto informal de prática lúdica.


Na sequência da nossa deslocação a Galomaro, o “prémio do jogo” foi a de me ter lesionado no rádio (osso), entre o estilóide radial e o escafóide, do braço esquerdo, obrigando-me a andar durante cinco semanas com ele engessado, como aliás, é possível observar na foto.

Do meu lado direito, e entre postes, está o ex-Furriel Comando, da 35ª CCmds, Américo Costa, colocado na CCS do Batalhão, na sequência de ferimentos em combate.

Um forte abraço para todos, com muita saúde e energia.

Jorge Araújo

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2013). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12555: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (2): Os craques da CCAÇ 12 e da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (Fotos de Benjamim Durães)


Guiné 63/74 - P12560: Parabéns a você (675): Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12548: Parabéns a você (674): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12559: Estórias do Juvenal Amado (50): Em Alcobaça, assinaturas do tempo

Mosteiro de Alcobaça
Foto: © José Eduardo Rodrigues Oliveira (JERO)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Janeiro de 2014:


ASSINATURAS DO TEMPO

Quando moramos num sítio vamos absorvendo pormenores que há primeira vista pouco importam, até parece que não nos afectam . Mas ficam gravados na nossa cabeça e mais tarde, adquirem importância para lá do que alguma vez pensamos.

Naquele tempo, que eu caminhava entre casa e a fábrica ou o café para as habituais tertúlias, sabia de cor cada pedaço de calçada arrancada, cada pedaço de lancil marcado por uma jante, cada mancha de musgo ou mesmo os estranhos desenhos, que ficavam quando caía algum pedaço de reboco de uma parede ou mesmo um muro. Era assim a vida lenta, previsível, como tempo de quem sabe que mais não podia fazer para além disso enquanto esperávamos pela tropa.

Como eu me lembro do conformismo desse tempo. Uns iam para Angola, outros para Moçambique e por fim outros para a Guiné. Também alguns felizardos iam para S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Macau ou Timor mas eram poucos e mesmo por isso invejados. Não havia volta a dar, ir para a tropa e esperar que não nos calhasse os piores destinos, era o pão nosso de cada dia.

Fazia parte de um ritual da nossa passagem à idade adulta. Engraçado que conhecia os nomes de quase toda a gente que morava em Alcobaça, hoje não conheço os nomes dos moradores do prédio onde moro. A taverna do Dinis e dos homens a comer laranja com sal para fazer peito ao copo de 3, do quartel dos bombeiros em frente, o Manuel Lourenço de quem eram suficientemente conhecidas as suas três grandes paixões: os bombeiros, o Benfica e o ciclismo.

A mercearia do sr. Emidinho com o seu sobrinho quase tão velho como ele. Os dois pequeninos magrinhos e carecas, eram figuras únicas que eu sempre vi com uns casaco de sarja cinzenta, cumprimentavam cerimoniosamente e humildemente as senhoras que ia à sua mercearia, quer pagassem logo, ou mandassem assentar no rol.

O David Pinto e os seus bem conhecidos sonhos de democracia mais a sua famosa ginja, que chegou aos dias de hoje como supremo néctar, que se espera ansiosamente por provar todos os anos.

Café Paris nome pomposo que acabou por ser popularmente conhecido pelo café do Isidro, que fazia uns bitoques que nós devorávamos já fora de horas. Recordo os jogos de xadrez, o ar preocupado dele com algumas conversas e com alguma literatura, que mudava de mãos nas horas tardias.

As fiadas de lojas que vendiam louça típica e histórica de Alcobaça.
Emprestavam um colorido sem par com as louças artisticamente pintadas a forrar as paredes exteriores das mesmas, espalhadas pelas calçadas em prateleiras e cestos cheios até cima de miniaturas pintadas por aprendizes da Vestal, Olaria, Elias & Paiva (Pouca Sorte) e Raul da Bernarda.
Naquele tempo só uma fábrica tinha alcunha de “pouca sorte”, hoje todas acabaram por ter a mesma sorte.

Os correios o largo dos Mosteiro de Sta Maria, que todos chamavam e chamam rossio com os seus jardins com alguma relva arrancada pelos transeuntes, que atalhavam caminho pisando-a sem dó nem piedade. Vi a Rainha de Inglaterra aí a descer as escadarias do Mosteiro, corsos carnavalescos com batalhas de flores com sacos de serradura, farinha e água à mistura, mas era carnaval e nada parecia mal.

A saudosa esplanada do Bau e os bolos da pastelaria Toval, não é que os de hoje não sejam porventura bem melhores, mas na altura o acesso a essas guloseimas era muito mais restrito e por isso ficaram na memória.
Local de namoricos e troca de caricias.
Também manifestações avassaladoras de pesar, quando a dor atingiu algumas famílias de Alcobaça na perca de vários dos seus filhos, em que toda vila se uniu na dor.
Local de discretas celebrações de datas como o 1 de Maio.

Podia fazer o caminho quase de olhos fechados tal foram as vezes e os anos a percorrê-lo. As figuras castiças como o Tibúrcio, o Valadares engraxador, o Augusto da Vestiaria eram parte da identidade da vila com quem nos cruzávamos a todo o instante. Os internados do asilo que pediam sempre um cigarrito ou à falta disso apanhavam as beatas, que eram sempre abundantes pelo chão. Desfaziam-nas para dentro de uma caixa de lata e a seguir com mortalhas, confecionavam novos cigarros.
Reciclavam, palavra que está hoje em voga.

Entre eles, dois ou três juntavam-se a nós, havendo mesmo um, que tinha um ar existencialista e toda a vida ter frequentado a universidade, compunha o estilo com ar de poeta, um livro de baixo do braço, fosse para onde fosse.
Mais tarde falou-se que afinal não sabia ler, o que não teve importância nenhuma, tal era a forma com que enriquecia as tardes e serões com a sua experiência de vida. Morreu quando eu estava na Guiné.

Morreu só, uma vez que as pessoas que cativáramos fora da instituição viviam as suas vidas a outras velocidades. A sua doença e morte acabaram por passar quase despercebidas. A maioria de nós só soube quando regressou das comissões.

Na Guiné foram muitas dessas recordações que me fizeram companhia juntamente com o calor e os mosquitos. Muitas vezes no posto de sentinela revia mentalmente o percurso e vinham-me à cabeça todos os pormenores que antes julgava não prestar atenção. A distância aguçava as saudades ao mínimo pormenor.

Quando regressei, voltei a fazer vezes sem conta os mesmos caminhos. A maioria das coisas estavam lá ainda, pouco se tinha alterado, eu é que via tudo com outro olhar.
Vinte e sete meses longe tinham-me transformado e era com avidez que bebia as imagens, que funcionavam como assinaturas do tempo.

Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12170: Estórias do Juvenal Amado (49): Afinal era bala real - Lembrando João Caramba

Guiné 63/74 - P12558: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (4): G - Localização dos Órgãos, Unidades e Serviços do Exército (1961-1974) (3): Município de Lisboa




1. Quarta parte da série "Fábricas de Soldados", trabalho do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), enviado ao nosso Blogue em mensagem do dia 18 de Dezembro de 2013:














(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12550: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (3): G - Localização dos Órgãos, Unidades e Serviços do Exército (1961-1974) (2): Municípios de Covilhã a Linda-a-Velha

Guiné 63/74 - P12557: O nosso blogue em números (33): Um em cada cinco dos nossos visitantes vem do Novo Mundo (Brasil, EUA e Canadá)... Cabo Verde é o 10º país do nosso "top ten"... Atingimos os 5,3 milhões de visualizações, 12500 postes, 3500 descritores... e somos 636, os membros da Tabanca Grande... (Luís Graça)



Gráfico nº 1 > Total de visitas, por país, em % (desde novembro de 2009: n=3,250 milhões)



1. Em 31 de dezembro de 2013, os visitantes do nosso blogue oriundos de Portugal representavam menos de 2/3 do total... Vinham, em segundo lugar, os brasileiros (12,2%), seguidos dos norte-americanos (7,6%) (Vd. Gráfico nº 1).

Se considerarmos o Brasil, os EUA e o Canadá, em conjunto, os visitantes do Novo Mundo representam  já 20,5% do total... Desses, seguramente, muitos serão portugueses da diáspora, antigos camaradas de armas a quem saudamos, neste início de ano novo, desejando-lhe força para continuarem a atravessar a ponte que os liga às suas raízes... E o nosso blogue também é (ou pretende ser) uma ponta da e para a lusofonia.

Estes números dizem respeito a um total de  3,250 milhões de visualizações, contadas desde a data  em que passámos a ter registos estatísticos no Blogger  (novembro de 2009, ou seja, há pouco mais do que 4 anos)...

Se compararmos este perfil com o de setembro de 2012, quando atingimos os 4 milhões de visitas, verificamos a tendência que já vinha de trás, a da "interncaionalização" do nosso blogue, quanto à origem geográfica das visitas. Em setembro de 2012, o perfil era o seguinte:

(i) 70,5% das visitas eram oriundas de Portugal;
(ii) seguia-se, em segundo lugar, o Brasil (13,5%);
(iii) vinham depois os Estados Unidos (4%) e a França (2,3%), totalizando estes 4 países mais de 90%;
(iv) entre os dez mais contam-se ainda, por ordem decrescente, a Alemanha, o Canadá, o Reino Unido, a Rússia, a Espanha e Cabo Verde...

A Rússia aparecia, pela primeira vez, neste "top ten"; por outro lado, o número de visitantes do Brasil e dos EUA  tinham aumentado em detrimento de Portugal que perdia mais de 3 pontos percentuais em relação à situação em abril de 2011 (então com 73,3%).



Gráfico nº 2 > Evolução do nº visualizações, em milhões, desde Maio de 2006 a finais de 2013.


2. No fim do ano de 2013, contabilizávamos um total de  5 270 672 visualizações de páginas (visitadas), ou seja, mais 863 mil do que no final de 2012 (4 407 672). Esse ano, o de 2012,  foi o melhor de todos. Em 2013, passámos a ter a clara concorrência do Facebook, mais acentuadamente a partir de finais de abril de 2013.

Janeiro: 92 mil
Fevereiro:  84 mil
Março: 92 mil
Abril: 92 mil
Maio: 60 mil
Junho: 54 mil
Julho: 60 mil
Agosto: 55 mil
Setembro: 60 mil
Outubro: 73 mil
Novembro: 73 mil
Dezembro: 68 mil

Total: 863 mil (Média mensal: c. 72 mil)


Recorde-se que começámos a "blogar" há quase 10 anos, em 23 de abril de 2004 (início da I Série do nosso blogue, que vai até 31 de maio de 2006, contabilizando um total de... 70 mil visitas).

O primeiro milhão de visitas só foi atingido, cinco anos depois,  em fevereiro de 2009.

Os 2 milhões de visitas foram atingidos em meados de setembro de 2010; os 3 milhões de visitas na 1ª quinzena de novembro de 2011; e os 4 milhões em setembro de 2012, e os 5 milhões um ano depois, em setembro de 2013. Na primeira semana de semana de janeiro de 2014,. estamos já nos 5,3 milhões.
(Vd. Gráfico nº 2).

A média mensal de visitas em 2012 (c. 104 mil) era de longe superior à do período anterior (de julho de 2010 a maio de 2011), que não chegava aos 79 mil.). Em 2013, há um claro decréscimo: 72 mil/mês, em  média.


 3. Em 2014 o nosso blogue vai fazer 10 anos... Mas é bom lembrar que chegámos a 31 de dezembro de 2013 com um total de 636 membros da Tabanca Grande (dos quais 29 já morreram), ou seja, com 41 a mais do que em 31 de dezembro de 2012... De qualquer modo, o crescimento do blogue, em termos de entrada de novos membros e de visitas, abrandou em 2013: é agora de 3,4 por mês (em média).

 Recorde-se que começámos a II Série do blogue, em junho de 2006, com 111 inscritos... Eis a evolução das "entradas" na nossa Tabanca Grande desde então até ao final do ano de 2013 (Vd. Gráfico nº 3)



Gráfico nº 3 > Evolução do nº de membros da Tabanca Grande, desde maio de 2006 até ao final de 2013

4.  É bom recordar que temos, desde janeiro de 2011,  uma página no Facebook, chamada Tabanca Grande, com 1340 amigos (mais 340 do que no final do ano passado). Temos dado preferência, em termos de resposta aos chamados pedidos de amizade, aos antigos combatentes da guerra colonial, mas nem todos os amigos do Facebook têm a ver com a guerra,  longe disso, e muito menos com a Guiné.

A nossa página do Facebook, gerida pelos editores Luís Graça e Carlos Vinhal, não se rege pelos mesmos princípios editoriais do blogue. Os amigos do Facebook não são automaticamente membros do blogue. Para esse feito, têm que seguir os mesmos procedimentos: (i) mandar 2 fotos, (ii) ter um email válido (ou disponível, através de um familiar ou amigo);  e  (iii) apresentar-se aos membros da nossa comunidade virtual a que chamamos Tabanca Grande.

De qualquer modo, temos de encontrar uma maneira de articular melhor o blogue e a página do Facebook. E prestar mais atenção às muitas páginas que, sob a forma de blogues, sítios e páginas do Facebook, se abriram nestes últimos anos, individuais ou de grupo, e que são um importantíssimo contributo para o esforço de preservação, proteção e divulgação das memórias dos antigos combatentes da guerra colonial.

Uma palavra de grande apreço é devida ao portal UTW - Ultramar Terraweb, fundado, em 20/3/2006,  pelo nosso camarada  António Pires (ex-fur mil  mec auto, CSM/QG/RMM (Moçambique 1971/1973). Para ele e para a sua equipa, vai o nosso fraterno alfabravo, e o nosso apreço pelo gigantesco trabalho realizado.


5. Em 31/12/2013, tínhamos, por outro lado, 381 seguidores do blogue,  mais 125 do que no final de 2012 (N=256), o que representa um aumento de quase 50% (48,8%).

Em 31/12/2012, tínhamos atingido a cifra dos 38.300 comentários (desde o início da II Série do nosso blogue, ou seja, desde 1/6/2006). No final de 2013, eram 47.500. Houve uma aumento exponencial de comentários sobretudo a partir de finais de 2008. Até então havia moderação (, o comentário tinha que receber o OK do editor...), pelo que o número de comentários era muito mais restrito, em números redondos e por anos (entre parênteses):

20 (desde 1 de junho até final de 2006):
200 (2007);
1000 (2008);
6000 (2009);
11000 (2010);
10500 (2011);
9600 (2012);
9200 (2013)

Total = 47520

Em 2012, a média mensal era  de 800 comentários (26,7 por dia). Em 2013, a média mensal de comentários é ligeiramente mais baixa: 767 (25,2 por dia, em média).

Motivo de orgulho, para todos nós, é o facto de praticarmos uma política de expressão livre em matéria de comentários e serem raríssimas as ocasiões em que os editores tiveram que intervir para eliminar, a posteriori, comentários que violavam as nossas regras de são convívio (com excepção, naturalmente, do SPAM ou "lixo" que escapa aos nossos filtros)...

Este facto só pode ser interpretado como uma prova de grande maturidade, sentido de responsabilidade, elevação cívica e capacidade de tolerância de todos nós, amigos e camaradas da Guiné,  que fazem, leem e comentam este blogue.


Gráfico nº 4 > Nº de postes editados, na I e II Série, por ano, até 31/12/2013.  Total = 12529.

6. Apesar da "crise" que também nos afeta, apesar da concorrência  do Facebook e de muitas outras páginas sobre a guerra colonial que apareceram na Net, apesar do nosso cansaço, saturação, desânimo, descrença, envelhecimento... e do inevitável esgotamento das nossas "memórias" (guardadas no "baú")..., apesar de tudo isto conseguimos editar/publicar mais postes em 2013 do que em 2012... 

A diferença não é grande (+ 36)  mas merece ser sublinhada... Não trabalhamos para bater recordes... Mesmo assim, é bom lembrar que estamos bem longe do recorde estabelecido em 2010, com um total de 1955 postes.... No total  foram já publicados, até hoje, mais de 12550 postes (Vd, Gráfico nº 4). E quanto a descritores, são mais de 3500  (o que corresponde a uma lista de 130 páginas, em formato word. cada uma com 27 descritores).

7. Este poste já vai longo, mas não posso acabar sem deixar aqui, em público, um alfabravo de amizade e camaradagem para todos os nossos editores (que são, além de mim, o Carlos Vinhal, o Eduardo Magalhães Ribeiro e o Virgínio Briote que, por razões de saúde, deixou de estar ativo, sendo por isso um editor "jubilado"), e demais colaboradores permanentes (Humberto Reis, Hélder Sousa, Jorge Cabral, José Martins e Torcato Mendonça)... Eles merecem todo o meu (e, seguramente nosso) apreço...

Não me levem a mal, que discrimine, pela positiva, o nosso Carlos Vinhal: pelo seu trabalho, pela sua disponibilidade, pela sua generosidade, pelo seu companheirismo e sobretudo pela sua inteira dedicação ao nosso blogue,  ele  é uma das traves-mestras deste edifício que estamos a construir juntos, e merece as nossas palmas.

A lealdade, camaradagem e generosidade de todos vocês, editores e conselheiros, não têm preço. A minha/nossa gratidão é extensiva a todos os autores, leitores, visitantes, sem esquecer os nossos amigos do Facebook donde iremos cada vez recrutar gente e material... Quanto aos autores que alimentam todos os dias o nosso blogue, seria injusto destacar A, B ou C... Mas o seu contributo é decisivo para o sucesso e a longevidade do nosso blogue.

Para todos os/as amigos/as e camaradas da Guiné vai o meu/nosso Oscar Bravo (OBrigado). Continuamos  a contar com todos para, juntos, mantermos vivo este nosso projeto, que já não é nosso, é da NOSSA geração...

Uma saudação também especial a todos os 41 "periquitos" em 2013 passaram a honrar-nos com a sua presença sob o poilão da Tabanca Grande. 

E não nos esqueçamos de dar um viva ao nosso próximo 10º aniversário, em 23/4/2014...  (E a propósito, é um ano tramado para comemorações: devo ir à faca, para pôr um prótese na anca direita, neste 1º trimestre de 2014, mas temos que acertar uma data para o nosso próximo encontro anual... Espero também lançar por estes próximos meses um livrinho de poesia dedicada aos amores,  aos lugares e à guerra)...

8. Por fim, e não menos importante, quero recordar aqui os camaradas que nos deixaram, no ano de 2013: foram 7 (num total dos 29 que já não estão entre nós, a não ser em memória):

António Teixeira (1948-2013)
João Caramba (1950-2013)
José Marques Alves (1947-2013)
Luís Borrega (1948-2013)
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Manuel Martins (1950-2013)

 Os seus nomes continuam a figurar, a seguir à lista alfabética dos membros da Tabanca Grande,  na lista dos "Amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando (n=29)". 

Guiné 63/74 - P12556: Estórias cabralianas (84): Ganhámos! O Alfero meteu golo!... (Jorge Cabral)






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > O 1º Cabo Negado e o Alfero treinando no relvado de Fá.


Foto: © Jorge Cabral (2014) . Todos os direitos reservados.  [Edição de L.G.]

1. Mensagem do Jorge Cabral [
, jurista, advogado de barra, docente universitário reformado, ex-alf mil at art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, setor L1, Bambadinca, 1969/71]:


Data: 7 de Janeiro de 2014 às 16:51

Assunto: Golo!

Amigo!

Na Guiné até o Alfero jogou futebol...
Abraço!
J.Cabral

Junto foto - O 1º Cabo Negado e o Alfero treinando no relvado de Fá.


2. Estórias cabralianas  > Ganhámos! O Alfero meteu golo.

por Jorge Cabral

Um dia, ouvi, em Bambadinca, que ia haver um campeonato de futebol. Para além da CCaç 12 , entravam todos os Pelotões e Serviços da CCS. Inscrevi o Pel Caç Nat 63, embora não tivéssemos equipa, nem sequer bola, que me apressei a adquirir.

Chegado a Fá, ordenei treinos diários. Tarefa difícil, pois os meus soldados africanos nem as regras conheciam. Eram fortes e rápidos, mas pareciam especialistas em sarrafadas. Para tirar a bola ao adversário valia tudo…

Iniciou-se o campeonato e nós sempre a perder. Resultados catastróficos…autênticas cabazadas.. Para apoio moral, levávamos uma enorme claque de miúdos que,  em alarido, aplaudiam tudo.

Não sei porque não fomos desclassificados e chegámos ao último jogo, contra o  Pelotão dos Morteiros. Com o jogo quase a terminar,  e quando já havíamos sofrido oito golos sem resposta, o guarda-redes Mamadú chutou a bola para o Demba que a tocou para o Alfero, e este, em manifesto fora de jogo, rematou. 
Gooooolo! Gooooolo!Gooooolo!

O árbitro, alferes,  hesitou e olhou para o rematador, que encolheu os ombros… Golo validado, claro. A algazarra foi tanta, que o Comandante do Batalhão saiu do seu gabinete, para ver o que se passava, tendo-se mostrado irritado.

Rapidamente regressámos a Fá. Nessa altura, o Pelotão tinha um Segundo Sargento que,  intrigado com a nossa ruidosa alegria, perguntou:
–  Então? Que aconteceu?
– Ganhámos! O Alfero meteu golo! –  gritou-lhe o Sambaro.

Jorge Cabral

________________

 Nota do editor:

Último poste da série > 26 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12345: Estórias cabralianas (83): Da Gata Catota à Tabanca da Queca... (Jorge Cabral, com bolinha...)

(...) No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco. (...)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12555: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (2): Os craques da CCAÇ 12 e da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (Fotos de Benjamim Durães)


Foto nº 140 > O campo de futebol de onze, em Bambadinca, localizava-se junto á pista de aviação (ao fundo), sendo a linha divisória o arame farpado...  No topo sul do campo, havia duas acácias vermelhas, aqui  na foto, esplêndidas, floridas...



Foto nº 96 > O campo, de terra batida, aguentava-se.mesmo assim, na época das chuvas... O BART 2917 chegou a Bambadinca no início da época das chuvas, em finais de maio de 1970 (se não erro).



Foto nº 80 > Uma equipa de futebol mista, com malta da CCAÇ 12 e da CCS/BART 2917... Da CCAÇ 12, identifico na segunda fila, de pé, a contar da direita para a esquerda, logo em segundo lugar o Videira, 2º srgt inf. O último elemento parece-me ser o Gualberto Magno Passos Marques, o cap art, comandante da CCS/BASRT 2917, que gostava de acamaradar com a malta.   Na primeira fila, da esquerda para a direita, o saudoso Luciano Severo de Almeida,  um camarada da CCS (?), o fur mil enf Coelho (da CCS), o Tony Levezinho e o Carlão (ambos da CCAÇ 12).



Foto nº 108 >  2ª fila, de pé, da esquerda para a direita: o Joaquim Fernandes, o António Branquinhho, o António Marques, o Humberto Reis (quatro furriéis da CCAÇ 12) e, se não erro, o próprio Benjamim Durães, autor destas fotos; na primeira fila, da esquerda para a direita, só sou capaz de identificar o Abílio Machado, o "Bilocas" (alf mil, CCS) e o Arlindo Roda (CCAÇ 12)


Foto nº 91 > A equipa identificada na fo anterior... Ao fundo, a tabanca (reordenada) de Bambadincazinho


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Fotos do álbum do Benjamim Durães (ex-fur mil op esp. Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).


1. Em Bambadinca, os batalhões iam e vinham e a malta, nomeadamente da CCAÇ 12, continuava a jogar à bola (*)...

Segundo o Benjamim Durães. foram as seguintes as subunidades que estiveram sob o comandodo BART 2917, entre 1970 e 1972:

CArt 2714, 2715 e 2716;
CCaç 12; 
Pel Caç Nat 52, 53, 54 e 63;
Pel Rec Daimler 2206 e 3085;
Pel Mort 2106 e 2268; 
Pel Intend A/D 2189 e 3050;
20º Pel Art/GAC 7; e 
Pel Eng do BENG 447.

Guiné 63/74 - P12554: Ser solidário (157): O nosso camarada, luso-guineense, natural de Contuboel, desempregado, a residir em Alfragide, António U. Baldé, pai da Alicinha do Cantanhez, tem um sonho: ser apicultor em Caboxanque...

1. Já aqui apresentámos em tempo o António Ussumane Baldé, nascido  em Contuboel em 1944, de etnia fula (*) [Foto à esquerda, Alfragide, 27/7/2012, na casa do nosso editior Luís Graça]

Foi educado, até aos 12 anos, pelo chefe de posto local, o português José Pereira da Silva, ainda hoje vivo, com residências no concelho de Oeiras. Fez a 4ª classe e isso abriu-lhe outras portas a que outros miúdos da sua tabanca não tiveram acesso. 

Lembra-se bem da serração do Albano, que ainda existia no meu tempo (junho/julho de 1969, quando Contuboel foi Centro de Instrução Militar, donde saíram, de entre outras, as futuras CART 11 e CCAÇ 12).

Em 1966, foi chamado para a tropa. Fez a recruta e a especialidade no CIM de Bolama. Ficou lá dois anos. Promovido a 1º cabo, de artilharia, foi instrutor. Lá se formaram diversos Pel Caç Nat. Em 1969 é transferido para o Pel Caç Nat 56, sediado em S. João, frente a Bolama.  Em 1970 é transferido para a CART 11 (e mais tarde CCAÇ 11), que estava em Paúnca. O comandante do seu pelotão era o alf mil Matos, que é de Ovar, e com quem ainda hoje convive e fala ao telefone. Já foi uma ou mais vezes aos convívios da companhia.

Em 1969 casou-se. Será o primeiro de quatro casamentos. Teve ou tem 15 filhos,  o último dos quais a Alicinha do Cantanhez, filha da saudosa  Cadi Indjai (1985-2013), nalu de Farim do Cantanhez [ foto à direita], filha de um antigo guerrilheiro do PAIGC, "combatenet da liberdade da Pátria", que perdeu uma perna numa mina A/P da tropa portuguesa. Mais recentemente perdeu um neto.

Saiu da tropa em finais de 1970 ou princípios de 1971. A mulher tinha ficado em Bolama. Assistiu depois à independência. Não tem boas memórias de Bambadinca desse tempo (onde assistiu à bárbara execução pública, após serlvagens julgamentos populares, de "inimigos públicos do PAIGC", "cães dos colonialistas"... 
mas  não teve quaisquer problemas com os novos senhores da Guiné-Bissau. 

Ainda antes da independência tinha começado a trabalhar nos serviços agrícolas da província. Fez formação em floricultura, se não me engano. Foi ele e outros estagiários quem fez o jardim do Bairro da Ajuda, em Bissau, no tempo do administrador Guerra Ribeiro. Depois da independência começou a trabalhar com o engº agr Carlos Scwharz, no DEPA, na região de Tombali. Tem uma grande admiração pelo Pepito e pelo trabalho dele em prol do desenvolvimento da sua terra, através da sua ONG AD, der que é membro cooperativo (e cofundador, se não erro).

No princípio deste século, veio a Portugal fazer um curso de apicultura, que é hoje a sua grande paixão. Acabou por ficar. Trabalhou, até há pouco tempo, como segurança numa empresa de construção, no concelho de Cascais. Entretanto, obteve a nacionalidade portuguesa. Tem um filho, de 13 ou 14 anos, o Umaro Baldé, que vive com ele desde os 6 anos e que está a frequentar o 7º ano de escolaridade obrigatória, em Alfragide, e que ser informático.

De momento o António Baldé está desempregado. O seu sonho é voltar a Caboxanque onde tem casa, junto ao rio Cumbijã, e desenvolver o seu projeto de apicultura no Cantanhez. Está a preparar o seu regresso.  Bom muçulmano, vai todas as sextas feiras à mesquita de Lisboa. É uma homem afável, conhece meio mundo, fala e escreve bem o português, e pediu-me para ingressar na Tabanca Grande em março do ano passado (*). 

2. O António Baldé está interessado sobretudo em partilhar conhecimentos e experiências na área da apicultura, em que fez formação profissional. Está a preparar-se para regressar à sua terra natal e montar o seu negócio em Caboxanque.

Lembrei-me que o podia ajudar, publicando uma lista de materiais apícolas que ele precisar de comprar, uns novos, outros podendo ser em segunda mão. O Natal já passou mas pode ser que haja, entre os nossos leitores, algum Pai Natal, que seja ou tenha sido apicultor, que o queira e possa ajudar.... 

Às vezes ser solidário (**)  não custa muito. E podemos mudar a vida de outro humano, dar-lhe uma grande alegria, pô-lo de novo a sorrir e a ter esperança,  ajudar a construir o seu negócio ... Neste caso, ser apicultor em Caboxanque!

Aqui vai a lista de materiais apícolas que o António Baldé anda à procura. Podem contactá-lo pelo telemóvel 969 262 831 (de preferência) / telef  216 054 667 (noite)