Mensagem de Carlos Nery (ex-Cap Mil, Comandante da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), com data de 21 de Julho de 2010:
Caros Camaradas e Amigos,
A propósito da publicação do conto do Mário Cláudio "Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez" desencadeou-se viva polémica no nosso blogue. Em si próprio o fenómeno terá que ser considerado bastante positivo. Contudo, acabaram por sobrar alguns comentários que considero infelizes, roçando a deselegância e, por vezes, ofensivos. Fico a pensar no que terá sido dito naqueles que, julgo, foram eliminados pelos editores.
Peço, portanto, a publicação, no blogue, de um Poste com o texto que segue em anexo, bem como as fotos e legendas para as mesmas que junto também.
Um grande abraço e bom convívio na Tabanca de Matosinhos.
Carlos Nery
CCaç 2382 em patrulha, foto do Comandante da Companhia, ex-Cap Gomes de Araújo
Quem não se sente... não é filho de boa gente
1. Literatura e opinião política, leio-a noutro lado...
Quando divulguei no
Poste 6479 o meu “Noite Longa em Contabane” contei 11 comentários à minha descrição. Atendendo a que dois eram de minha autoria, afinal houvera 9 camaradas que se tinham dado ao trabalho de ler e dizer alguma coisa sobre o meu texto. Fiquei contente.
Imagine-se a reacção de Mário Cláudio aos 6 Postes e aos 51 comentários (se me não enganei a contar) a propósito do
Poste 6672, onde foi publicado o seu conto “Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez”. É obra!
Os camaradas e amigos “aquecem” rapidamente com um bom debate! (Conclusão de José Belo no
Poste 6691 parecendo querer encerrar o assunto).
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Olá, Belo! Afinal lembro-me de ti perfeitamente, embora, quando falei pela primeira vez com o Luís Graça, pelo telefone, eu tivesse feito uma pequena confusão... Tinha a ideia de que o tal Alferes Belo, que num lance de audácia havia libertado alguns civis levados pela guerrilha, merecendo referências elogiosas do então Major Carlos Azeredo, pertencia a uma companhia mais antiga no Forreá. Mas, quando vi a tua foto logo se desvaneceram as minhas dúvidas. Afinal pertenceras à 2381! Não me recordava de que a tua companhia estivesse em Aldeia quando nós estávamos em Mampatá, após o abandono de Contabane. Passados 40 anos a memória nem sempre é pronta... Recordei-me, então, de uma viagem que fizemos juntos, de Abrantes para Lisboa, não sei se no meu, se no teu carro, quando me descreveste a tua experiência em Israel. De como tinham feito renascer uma língua quase morta, dos dispositivos de aquecimento solar (na altura desconhecidos entre nós), dos sistemas de rega gota-a-gota... Tem graça como essa conversa, afinal, permaneceu na minha memória. Haveria de me recordar dela, cerca de trinta anos depois, quando visitei Israel, justamente em 2000, ano do Jubileu.
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Mas voltemos ao que diz o Belo. Em seu entender, as palavras sensatas de Vasco da Gama no seu
Poste 6675 recolocam o debate dentro de perspectivas... do "viável".
Cheio de esperança de que se fizesse luz lá fui, com mais atenção, reler essas palavras...
Fiquei a saber de que VG “
gostou do texto são e escorreito” mas que “
o texto é um panfleto contra a presença da tropa na Guiné e é apenas e só pura literatura”. (Sem descortinar o que o texto “são e escorreito” tem que ver com a presença da tropa na Guiné, fiquei sem saber se isto de ser “pura literatura” é qualidade ou defeito)...
E, por fim, que “
no meu Blogue interessam-me os escritos dos camaradas da Guiné e as suas experiências dolorosas, contadas por gente com estatuto de escritor, ou por outros que mal sabem escrever”.
E, para acabar, que “
literatura e opinião política, leio-a noutro lado”.
Ó Belo, desculpa lá mas não descortino onde está a sensatez deste discurso...
Ó Vasco da Gama, tento entender a lógica destas palavras... Mas... Não chego lá...
Para já um reparo: isso de procurar a política noutro lado é, também, uma outra forma de fazer política, ou não é?...
2. Nem eu nem ninguém, felizmente...
Camaradas, um debate faz-se na diversidade de opiniões. Eu, por mim, a escolher, dentro da intensa troca de ideias que o conto do Mário Cláudio suscitou, algo com que concordasse plenamente, optaria então pelo comentário do Luís Graça ao Poste 6677 do Belarmino Sardinha. Permito-me mesmo destacar esta passagem:
“
De qualquer modo, nem eu nem ninguém, felizmente, pode impedir que o Rui Barbot Costa, aliás Mário Cláudio, ou o Armor Pires Mota, ou o Álvaro Guerra, ou o Mário Beja Santos, ou o Barão da Cunha, ou o José Brás, ou o António Graça de Abreu, ou o Zé Teixeira, ou o Jorge Cabral, ou o J. Mexia Alves ou qualquer ex-camarada que tenha passado pelo TO da Guiné, escreva sobre a guerra, em prosa ou em verso, em registo heróico, dramático, humorístico ou burlesco... Aliás, essa é uma das funções essenciais do nosso blogue...
Não me interessa se o escritor (ou o escriba...) esteve na frente ou rectaguarda, no "front office" ou no "back office", na Amura ou em Buruntuma, se foi operacional ou contabilista, transmissões ou informações, capelão ou caixeiro, enfermeiro ou padeiro... Todos pertencemos ao mesmo exército, independentemente do "curriculo militar" ou até do "chumbo" que levámos no corpo”...
Felizmente! Amigo e camarada, Luís Graça, permito-me sublinhar a palavra!
3. Incluam-me no grupo dos iletrados!
Nos meus tempos de adolescente e de juventude, para nós, o objecto mais precioso existente em nossas casas, era o livro que se andava a ler... Líamos tudo. Desde o Mark Twain ao Eça, ao Júlio Dinis, ao Júlio Verne, ou aos romances históricos do Alexandre Herculano e do Walter Scott, passando por tudo o que era livro policial ou de aventuras. Durante uma estada passada no Funchal, em casa de família, li toda a biblioteca de livros policiais de um tio meu, para desespero de meu pai que me escrevia de Lisboa, incitando-me a visitar o interior da Ilha... Essas visitas fá-las-ia bastantes anos depois... Na altura, devorei umas centenas de livros que, depois, organizei por colecções e por autores...
Numa entrevista do Saramago, o escritor contou que, com essa idade, lia à noite, escondido por baixo dos cobertores, usando uma pequena lanterna de pilhas para o poder fazer.
Efectivamente, os adultos tentavam contrariar essa nossa actividade. Se me surpreendia a ler, meu pai repreendia-me chamando-me a atenção para a necessidade de estudar em vez de “perder o meu tempo com leituras”...
Mas o ser humano tem a misteriosa necessidade de ouvir uma história e, nesse tempo, era o livro quem lha contava. Também se ia ao cinema. Mas ir ao cinema era um ritual complicado e dispendioso que só acontecia de vez em quando.
Porém, actualmente, quando os meus netos entram em minha casa não é o livro que procuram.
Correm para a televisão ou para o meu computador. A casa, aliás, passou a estar organizada em função do televisor e o antigo leitor compulsivo acaba por não encontrar muitas vezes um local e um ambiente adequados à leitura. Lê-se menos, portanto. Mas os escritores referenciados como de mais qualidade não parecem querer fazer qualquer esforço para produzir uma literatura mais absorvente, mais acessível. Um dia, regressado da Guiné, portanto há cerca de quarenta anos, num debate realizado no Clube de Teatro 1.º Acto, em Algés, perguntei a Mário Sottomayor Cardia porque não utilizava ele uma forma de escrever mais fácil, mais atractiva para o leitor. Ouvi uma resposta breve e definitiva: “Escrevo como sei escrever”.
Entendi. A minha pergunta tinha sido descabida. É que ao leitor cabe também algum esforço.
Se leram com alguma atenção o
Poste 6675 do Vasco da Gama, (desculpa lá, pá, estás na berlinda!) hão-de ter reparado que, logo no início, ele afirma possuir, com sua mulher, alguns livros do Mário Cláudio. Mas, poucas linhas adiante, confessa a sua iliteracia “Claudiana”. Poderei concluir que o nosso camarada tem livros em casa que nunca leu?
Se assim é, confesso de imediato que o mesmo se passa comigo. Vão longe os tempos em que “derrubava” bibliotecas... Hoje, são vários os livros que comprei e que ainda não li. Por exemplo do Lobo Antunes, da Augustina, do Saramago e até... do Mário Cláudio. (Confesso-te o meu pecado, amigo Barbot)...
Incluo-me, portanto, entre aqueles camaradas que, nem sempre estão dispostos, ou não encontram ambiente, ou tempo, para fazer o esforço de atenção que um bom livro nos exige.
Não pretendia dizer mais do que isto no email que enviei ao Rui Barbot e que transcrevi como comentário ao
Poste 6672 e que mereceu tanta animosidade.
Meu caro Luís Graça, se porventura aquilo que disse é um atestado de iliteracia aos nossos amigos, incluam-me, então, no grupo dos iletrados...
4. Entra bem, pela tua mão...
Parece ter provocado entre alguns camaradas alguma estranheza o facto de ter sido eu a apresentar o texto do Mário Cláudio. Embora não entendendo qual a relevância desse pormenor, com a devida vénia, caro Luís Graça, passo a transcrever o teu e-mail de 08JUN10, que recebi após ter-te informado que o Barbot conhecia o blogue (que considera “muito saudável”, posso agora acrescentar) e que estava disposto a disponibilizar-lhe dois textos de sua autoria.
Carlos,
Obrigado pelas tuas diligências. Diz-lhe que é também uma honra para nós ter no nosso blogue um dos maiores escritores vivos da língua portuguesa!... De qualquer modo, o nosso blogue é também uma razoável montra... No espaço de um mês e pouco tivemos 100 mil visitas. Ontem por exemplo, andámos nas 3 mil... O Mário que nos mande 2 "chapas" (uma do tempo da tropa e outra actual) mais um pequeno texto de apresentação... Tu podes compor o resto... E entra bem, pela tua mão, na nossa Tabanca Grande... Um abraço, e até a um dia destes... em Alfragide. Luís
Contactei novamente o Rui Barbot que me enviou o material solicitado bem como os referidos dois contos:
“Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez”, que sei agora não ser um inédito, tendo sido publicado em O Prazer da Leitura, Teorema/FNAC, 2008. Edição comemorativa do 10.º aniversário da FNAC. (O produto da venda reverteu, na totalidade, para a AMI).
“Espólio de Lama”, conto publicado no livro “Itinerários”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1993.
O resto é consabido, não é verdade?
Falta publicar, no blogue, “Espólio de Lama”. Quem adivinha o número de Postes e de comentários que essa publicação pode vir a suscitar?
5. A minha outra face...
(Foi realmente muito bom este nosso reencontro mais de 40 anos depois (Poste 6670), não menos cantores mas um pouco mais calvos, claro. Disse o João Barge)
Páginas centrais do programa com fotografias tiradas durante os ensaios
Os Actores: João Barge, Ana Maria, Lisa Nunes, Maia Alexandre, Maria Guilhermina e Rui Barbot
Dou agora a palavra ao João Barge, alferes da C.Caç 2317 de Gandembel, onde foi colocado em 1968, por rendição individual:
Em Novembro de 1969, a CCaç 2382 do Cap. Gomes de Araújo deixa Buba e vai para Bissau onde a guerra acaba e a paz começa, onde o tempo agora se conta sempre a descer, com os olhos finalmente a acreditar que em breve se voltariam a ver terras de Espanha, areias de Portugal.
Ora um belo dia, o Cap. Araújo, cristianissimamente e sem que tivesse havido qualquer ofensa prévia, presumo eu, resolveu dar a outra face, a sua outra face, e surge o encenador Carlos Nery mais o projecto de criar de raiz um grupo de teatro. E assim do nada, na base de um amigo que traz outro amigo também, o grupo foi nascendo, e fez o seu caminho descobrindo e formando actores, inventando técnicos, confiando o guarda-roupa a senhoras sábias e generosas, improvisando palco e materiais de cena, propondo, discutindo, até se chegar à primeira peça (afastados o Auto da Índia e a Gota de Mel para evitar melindres maiores) - um texto de Eugène Ionesco - La Cantatrice chauve (A Cantora careca), publicado em 1950, um clássico do chamado Teatro do Absurdo.
Reparaste, caro Vasco da Gama? A Gota de Mel, referida por ti no
Poste 6675... Coincidências, não é?
Pedi, na altura, a minha mulher, em casa dos pais, no Porto, que me conseguisse junto do poeta Egipto Gonçalves a sua tradução do belíssimo poema de Léon Chancerel. Passados alguns dias, ou semanas, lá a recebi. Como sabes contém uma clara censura à guerra e à violência. Quanto ao Auto da India, de Gil Vicente, também o sabes, evoca alguns aspectos negativos da nossa expansão marítima. Fidelidades e infidelidades de um casal separado pela ausência do marido na India, marido esse que, no seu regresso, se assume sem rebuços como um émulo, no sec. XVI, do mais recente Capitão Garcez...
Adivinhas o que se seguiu? O Barge já o deu a entender... Pediram-nos delicadamente que encontrássemos outro texto... Certos pruridos actuais já se manifestavam nesse tempo... Mas, naquele contexto, insistir iria certamente levar-nos a um beco sem saída. Procurámos outra peça, que remédio!
Pela minha parte, confesso, que sentia uma enorme necessidade de fazer algo de diferente daquilo que me ocupara intensamente durante cerca de ano e meio em Bula, Contabane, Mampatá, Aldeia Formosa, Nhala e Buba. Usar a minha imaginação de outra forma. Esquecer os incidentes das operações, dos patrulhamentos, das colunas de reabastecimentos ou da protecção a colunas. Das emboscadas a colunas inimigas, da reacção às emboscadas do inimigo. Das flagelações e dos ataques aos nossos aquartelamentos... Da picagem das estradas e do levantamento das minas detectadas. Da colocação de minas nossas... Do empenhamento posto na abertura da tal Estrada Nova que nunca serviu para nada... Esquecer a tensão constante em que tínhamos vivido durante esses quase dezoito meses. Como muito bem diz o João Barge no seu texto a incluir no Poste que estamos a preparar sobre a experiência da Cantora Careca:
“
Creio, a esta distância, que o entusiasmo posto por todos nós foi uma forma de derrotarmos aquela guerra que nos consumia. De nos dizermos: estamos vivos, somos capazes de pensar, de sentir e de transmitir emoções”.
Foi isto, Vasco da Gama, camarada de armas, colega de teatro. Foi isto. Não dá para torceres o nariz.
6. “AS CUNHAS QUE OS SISTEMAS POLÍTICOS SEMPRE PROPICIAM A QUEM GOSTA DE CHAFURDAR EM TAIS MANJEDOURAS” ou “ENTRE DUAS GARRAFAS DE WHISKY VELHO ENTREMEADOS COM UNS GIN TÓNICOS GORDON`S OU SIMILAR, ENCENAVAM-SE TAMBÉM, AO QUE PARECE, OBRAS DE IONESCU...
GENTE FINA É OUTRA COISA COMO DIRIA O OUTRO... (frases de um comentário ao Poste 6675)
Comentário do João Barge: Foto minha em Gandembel (Ponte Balana), de Dezembro de 1968, à entrada do abrigo onde dormia com a minha gente. Como diz o Manuel Maia, em maiúsculas, logo aos berros: Sem boas cunhas, como é que eu iria para Gandembel? E depois para Buba? E depois para o Gabu?
Quinze meses depois, de novo João Barge, finalmente em Bissau, aguardando a hora do ensaio.
João Barge e Rui Barbot. Comentário do João: E o nosso Rui Barbot, licenciado em direito, só com altíssimas cunhas iria para uma secção de Justiça em Bissau... Como se sabe hoje, ser mobilizado para a Guiné, só com padrinhos de ministro para cima!
Ao Manuel Maia só quero felicitar pela sua capacidade de brilhante ficcionista.
Só que ele tem uma visão redutora do ambiente vivido numa Bissau que não conheceu, nem no tempo nem no lugar. É que entre 1970 e 1974 muita água correu pelos rios da Guiné...
Camarada, a realidade da Messe de Oficiais era bem mais complexa daquela que te deitas a adivinhar. Se é verdade que havia alguns frequentadores habituais, a grande maioria de quem por ali passava não pertencia a esse grupo. Gente de unidades do mato, em Bissau por baixa médica ou para tratar de algum assunto da sua unidade, ou ainda de férias, aguardando o transporte para Lisboa ou, terminadas estas, esperando transporte para a sua unidade. Gente da Força Aérea ou da Marinha... Oficiais das unidades especiais (comandos, pára-quedistas ou fuzileiros)... Oficiais das recentemente criadas unidades africanas. Oficiais “periquitos” ou veteranos prestes a abalar... Médicos em serviço no hospital, oficiais do QG, que sei eu... E as famílias de alguns... Recordo-me, por exemplo de ali encontrar, poucos dias antes de ser assassinado, o Major Passos Ramos e sua família bem como uma criança africana que ele tinha a intenção de adoptar.
Não, caro camarada, nunca fui de puxar por galões nem quando mos puseram sobre os ombros obrigando-me a cumprir cerca de cinco anos de serviço militar obrigatório.
Como comandante de uma companhia em teatro de operações evoco o testemunho de quem me conheceu e observou o meu comportamento.
Aqui, na Tabanca Grande há gente que esteve comigo em Buba ou no Forreá:
Da minha companhia, C.Caç. 2382, os furriéis Manuel Traquina e Joaquim Vieira Lopes e o soldado José Manuel Cancela.
(Cancela, camarada combatente e soldado amigo, diz lá qual era a alcunha que revelaste ser a minha, no encontro de Monte Real, dada pelos homens sob o meu comando, em Buba... E o porquê, dessa alcunha?)
Da C.Caç 2381 podem falar de mim o Zé Teixeira (que, aliás já o fez num comentário ao
Poste 6479), o Belo, que foi um dos seus alferes, e o Eduardo Moutinho, alferes graduado em capitão, que substituíu o então Capitão Aidos no comando da companhia. Os dois últimos, não sei o que pensam de mim, sujeito-me ao seu testemunho.
Da C.Caç. 2317, a companhia de Gandembel, evoco o testemunho do camarada Idálio Reis e, como não podia deixar de ser, do João Barge.
Conheceram-me, observaram como me comportava e podem, se concordarem, testemunhar se, de facto, eu fui oficial para ter de puxar dos meus galões para assumir o comando dos homens sob minha responsabilidade.
Quanto à tal outra face, a de homem de teatro, faço lembrar aquilo que a meu respeito eu disse no
Poste 6183:
(…) sou um amador (no sentido em que amo) de Teatro. Aliás, em Bissau, no fim da comissão, ainda encontrei disposição para encenar "A Cantora Careca", de Ionesco... Teatro do absurdo em teatro de guerra... Um dos meus actores foi o Alferes Barbot, da Secção de Justiça do QG, hoje escritor Mário Cláudio. No programa do espectáculo escreveu um texto muito a propósito da situação dos muitos absurdos em que estávamos mergulhados...
Bem... Passaram-se quarenta anos, não é? Pois acontece que, neste momento, participo numa empolgante experiência no Centro Cultural de Belém. Dir-lhe-ei que foram convidadas pessoas com experiência teatral com idade superior a sessenta anos. Tiago Rodrigues (actor, dramaturgo e encenador) é o responsável pelo projecto que aponta para a formação da Companhia Maior do CCB. O texto ainda não existe. Ou melhor vai sendo construído por nós. Numa primeira apresentação pública eu "fui" um soldado que conta um episódio baseado em algo que aconteceu realmente (...)
Sobre teatro foi isto que disse a meu respeito. Nunca me afirmei um encenador. Fazer uma encenação (ou duas, ou três) não é bem a mesma coisa do que ser um encenador... Há que saber ler, caro Manuel Maia e não ser precipitado nem injusto. Aqui no blogue existe suficiente informação sobre o assunto que trataste tão leviana e incorrectamente. Não é próprio de um licenciado em História, como julgo que és! É que o teu arrazoado, além de ofensivo, não tem pés nem cabeça meu caro. Não foste só tu que estiveste em guerra, desculpa lá!
Mas, para acabar só uma pergunta: antes de embarcar, de regresso a Portugal, terminada a comissão da vossa unidade, quanto tempo estiveram vocês a aguardar embarque? E, durante esses dias, ou semanas, ou meses, em que ocupavam os vossos tempos livres? Por onde andavam? Que faziam?
No que nos toca, aos “filhos da Cantora Careca”, como nos baptizou o Barbot, (eu preferiria, os avós...), aproveitámos para levantar do nada uma peça de teatro. O que não adivinhávamos é que, quarenta anos depois, essa nossa actuação ia ser escrutinada desta forma, obrigando-me a adiantar esta justificação...
Julgo que algo vai mal no “Reino da Dinamarca”.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Julho de 2010 >
Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)