sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7455: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (4): Boas-Festas da Tertúlia

O MURAL DO PAI NATAL DA TABANCA GRANDE 2010 (4)


1. Dos nossos camaradas:
Armando Fonseca, ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64
Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (1970/71)


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2. Do nosso camarada Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)

Nesta noite iluminada
Adoremos o Salvador.
Todos unidos, ao redor
Acordemos, cantemos com emoção,
Louvemos o Menino, JESUS, do coração.
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3. Do nosso camarada José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux. Enf. CART 2716/BART 2917 (Xitole, 1970/72)

Não se lamentem e desfrutem da vida, porque há muita gente a sofrer.
Um grande e fraterno Abraço de Amizade
Zé Rodrigues
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4. Do nosso camarada Xico Allen, ex-1.º Cabo da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1973/74)

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante, vai ser diferente. " 
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5. Do nosso camarada António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil da CCaç 3 e CCaç 19

Pois Bem! Aqui vão os meus votos de Boas Festas de 2010!
Basta ir ao Site


Espero que o vosso Natal seja tão alegre e iluminado quanto este e já agora não se esqueçam dos que não têm nada para dar... nem sequer um e.mail para enviar!

Um abraço
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6. Do nosso camarada Manuel Lema Santos, ex-1.º Ten da Reserva Naval da Marinha de Guerra

Feliz Natal 2010 e Bom Ano Novo 2011 com Saúde, Amor, Paz e muita, mas mesmo muita, Sabedoria.
São os nossos votos!
mls
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7. Do nosso camarada Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador da CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69)

Desejo um bom Natal para todos e um grande abraço.
Aproveito e envio o LINK de  um pequeno vídeo para a época, saquei-o da Internet mas o que importa é a mensagem.

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8. Do nosso camarada Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63)

Camarada Carlos Vinhal
Alguns camaradas mais antigos, como eu, recordam certamente este aerograma.
Nunca me passou pela cabeça que quase 50 anos depois, o iria utilizar para mandar boas festas.

Um Grande Abraço
Alberto Nascimento

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9. Dos nossos camaradas:
Amílcar Ventura, ex-Fur Mil da 1.ª CCAV/BCAV 8323 (Bajocunda, 1973/74)

e
Francisco Palma, Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)

Quero agradecer-te aquilo que partilhaste durante o ano de 2010, as alegrias e as tristezas e desejar-te um SANTO E FELIZ NATAL E UM PROSPERO ANO NOVO e que 2011 seja um ano da mais Paz, Alegria e Felicidade.
Um grande Bem-haja para ti e tua família.

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10. Do nossos tertulianos Isabel Levy Ribeiro e  Carlos Schwarz  da Silva,  da AD - Acção para o Desenvolvimento

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7449: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande 2010 (3): Que ricas prendas, Giselda & Miguel...

Guiné 63/74 - P7454: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (11): O PAIGC que nos saiu na rifa, a Portugal e à Guiné: Cumbe di Baguera / Ninho de abelhas

1. Texto do nosso camarigo António Rosinha


Data: 15 de Dezembro de 2010 23:20


Assunto: O PAIGC que saiu a Portugal e à Guiné - Cumbe di Baguera


Quando se fala que Portugal não preparou elites africanas a quem entregar a governação das suas colónias, partimos do princípio que franceses, ingleses e belgas criaram essas elites.


Não pretendo contrariar ou desmentir quem assim pensa, porque tudo é relativo, conforme quisermos ver esta questão, até podemos dizer que os movimentos MPLA, FRELIMO e PAIGC tinham muita gente bem preparada para governar, tanto nos seus quadros efectivos, como no seio dos seus muitos simpatizantes.

Simplesmente Salazar jamais entregava as colónias fosse a quem fosse, e duvido que outros políticos portugueses que estivessem no governo o fizessem. Pelo menos naqueles anos 50/60 do século passado.

Se atentarmos em Amílcar Cabral, Vasco Cabral etc., e toda a burguesia guineense, (auto-intitulada), e toda unida e acreditando, tipo Yes, We Can, à volta do PAIGC, porque haveremos de afirmar que não havia uma elite para governar a Guiné? 


Se olharmos para Cabo Verde vemos que era viável tal governação, e o Luís Cabral chegou a dar mostras de ser possível governar a Guiné.


Em Angola, essa burguesia era descomunalmente superior em número à da Guiné. Qualquer cidade angolana tinha angolanos na chefia de todos os organismos públicos, exceptuando os governadores gerais, e de distrito, e mesmo assim muitos já eram descendentes de africanos.


Tal como na Guiné, também havia em Angola muitos funcionários oriundos de Cabo Verde, que se viam nos Notários, Câmaras, Caminhos de Ferro, Portos, Obras Públicas, etc.


Sobre Moçambique não me pronuncio, mas penso que a FRELIMO tinha também nos seus quadros gente muito capaz.  


Mas, apesar de haver muita gente nas colónias que almejava libertar-se de Portugal, pouca gente em Portugal, e alguma em Angola, mesmo os anti-salazaristas, achavam normal uma independência porque já havia muita confusão na anglofonia e francofonia.


Nos outros movimentos pouco se sabe, porque de uma maneira geral ficaram muito ofuscados, quando não mesmo desaparecidos, caso da Guiné. Embora parecessem desactivados aos olhos de Spínola e de Amílcar, talvez existissem devidamente camuflados, e é de supor quem devia saber falar sobre esses hipotéticos movimentos camuflados, são os juizes que julgaram os assassinos de Amílcar.


Alguns desses juízes ainda estão vivos, podiam falar e escrever como foi, antes que desapareçam com a idade. Sem dúvida que havia muitos africanos, em que se podem abranger também lusodescendentes e caboverdeanos que possuiam o liceu ou tinham sido universitários ou estudaram em missões, estavam bastante preparados para governar as colónias portuguesas em 1960. O grande problema dessas elites é que, ao recorrerem a certos processos de luta, alguns desses processos nunca chegaram a ser compreendidos pelo povo, e afastaram a maioria dessas mesmas elites, que gostariam de se ligar activamente à luta de libertação, ou seja, lutar pela independência da sua terra. E, ao contrário, muitos até chegaram a lutar contra esses movimentos ao lado do exército português. 


E o que se seguiu à desistência da luta da parte do exército português com o 25 de Abril, aconteceu o que todos temiam, foi a guerra total, em Angola e Moçambique e, embora sem guerra declarada na Guiné, a mesma guerra esteve sempre latente até há poucos anos. 


Essa guerra latente, não seria perpetrada pelos tais movimentos camuflados a que me refiro atrás, que podiam existir bem disfarçados debaixo do emblema do PAIGC?


E, debruçando-nos apenas à Guiné e ao PAIGC, não teria Amílcar Cabral cometido um erro enorme, quando, com a sua reconhecida eficácia política e capacidade de persuasão, fez desaparecer todos os movimentos guineenses tipo FLING e outros? Em que estes movimentos, insidiosamente acabariam por se organizar sob a bandeira do PAIGC, e aí continuam até aos dias de hoje, dividindo em facções o partido e que teem provocado todos os acontecimentos nefastos, desde o assassinato de Amílcar, até ao fim de Nino Vieira?


Enquanto o MPLA tinha facções, em que até houve massacres que fazem esquecer o ques passou com PAIGC, toda a gente sabia quem era quem e de que lado estava, no PAIGC, mata-se e morre-se e tem sido tudo tão internamente que até hoje nem aparece nada escrito nem julgado, isto desde os tempos de Conacri.


O PAIGC criou uma constituição depois de 1981 (?), em que era vedado a cidadãos como Amílcar Cabral, com ascendentes estrangeiros, serem candidatos a presidentes da República. Este assunto era discutido publicamente em Bissau e não sei se ainda é assim.

 

Ao contrário do que se passa em Angola, os detratores de José Eduardo dos Santos [JES], (ou este próprio) fazem correr que ele é filho de sãotomenses. JES aproveita a embalagem para criar uma imagem de neutralidade tribal, o que é positivo; no caso de Amílcar é acusado que não é fidju di terra, e é criada uma imagem negativa.

E aqui entra o ninho de abelhas, Cumbe di Baguera, que em Canjadude, capital do mel, os apicultores colocam bem no alto de grandes árvores. Tal como o Cumbe de Baguera, o povo guineense viu sempre o PAIGC bem lá no alto, com as abelhas a picar os diversos apicultores, (Amilcar, Luís, Nino). E tal como o Cumbe di Baguera, impõe um certo afastamento a tudo o que o rodeia.

E o grande criador desse ninho de abelhas, foi Amílcar Cabral, (mesmo depois do multipartidarismo, continuou o ferrão pronto, ou seja, o dedo no gatilho). 

 

Houve muito entusiasmo nos primeiros anos de independência da parte dos jovens guineenses, mas prudentemente, uma faixa etária mais antiga, que assistiu à luta de libertação desde o início, ficou olhando sempre para o PAIGC com distanciamento, e o partido retribuia na mesma moeda.   Se o sonho de Amílcar Cabral era uma Bandeira e um país independente,  o sonho foi realizado. [Foto à esquerda, Domingos Ramos, empunhando a bandeira do PAIGC]


Se todos os meios para atingir os fins eram lícitos, também tinha razão, mas da parte do Estado português fosse qual fosse o governo, cairia muito mal perante a sociedade guineense se apadrinhasse uma independência a figuras como os fundadores do PAIGC, aliás, a outros quaisquer pois já estavam outros com apoios dos vizinhos.

 

E perante a política internacional daquela guerra fria daquele tempo, não seria um país como Portugal que teria hipóteses de proteger um governo apadrinhado, como faziam ingleses com uma Gâmbia, ou a França com um Senghor. Entregar à ONU? Sabemos o que se passava e passou onde essa entidade entrou. Aliás, na Guiné, desde a FAO, UNICEF, OMS, todos estes anos ajudaram àquilo que resta.

 

Como através do Blog e dos anos que vivi na Guiné, criei uma ideia do que se passou e podia ter passado neste país, e como vi em Angola, o papel de MPLA, da UNITA e da UPA (FNLA), e tambem criei ao fim destes anos uma ideia sobre Angola, transmito o que me pareceu ser o desempenho daqueles que aqui tratamos de IN.

 

Sobre o papel daqueles que por lá andámos, só espero que aquelas fronteiras nunca desapareçam, que será o mínimo dos mínimos que merece a memória daqueles que lá ficaram, porque se não fossem aqueles treze anos, nem as velas como as que arderam por Timor as salvavam.

Mas, como neste blog contamos a nossa história para que ninguém a conte por nós, é apenas e só o meu ponto de vista que aqui está. E ninguém me pergunte onde me documentei. Pode contestar e contradizer. Porque neste blog, cada um dá os tiros com a sua própria mauser.


Um abraço para a tertúlia, Antº Rosinha


[ Revisão / fixação de texto / título / fotos: L.G.]


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Nota de L.G.: 


Último poste da série > 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7321: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (10): As desilusões históricas ou Portugal não é para levar a série

Guiné 63/74 - P7453: Parabéns a você (190): Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70 (Tertúlia / Editores)


Em 17 de Dezembro de um ano da década de quarenta (Sec. XX), nascia o nosso camarigo Fernando Gouveia.

Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), foi militar operacional, mesmo só com um morteiro 60 sem prato.

O nosso aniversariante é arquitecto de formação e exerceu a função na Câmara Municipal do Porto, mesmo ali em frente à estátua do nosso Almeida Garrett.

Marido de uma esposa corajosa que duas vezes lhe fez companhia no Resort de Bafatá, a nossa tertuliana Regina, que nos presenteou com lidas prosas e versos, não exercesse ela a nobre função de escrever, especialmente para os mais novos.

Fernando Gouveia, que está connosco desde Abril de 2009, presenteou o espólio do nosso Blogue com textos da sua vivência pelas matas de Bafatá e arredores, ilustrados com as mais belas fotos. Destaca-se a série "A guerra vista de Bafatá" que além das histórias do tempo de campanha, teve de permeio o relato da sua ida à Guiné-Bissau actual, experiência que quer repetir.
Esperamos que a série venha a ter continuidade, após acabar  uma novela que tem em mãos, que um dia poderá ver a luz do dia, cuja ficção é baseada em pessoas e factos ocorridos lá na Guiné dos nossos tempos.

A melhor maneira de conhecermos o Fernando, é apreciar as suas fotos, quer as do tempo de comissão, quer as da sua última visita à Guiné-Bissau, verdadeiras maravilhas.

Deixo este aperitivo. Se quiserem mais, consultem a série "A guerra vista de Bafatá". Vale a pena.


Fotos: © Fernando Gouveia (2010). Direitos reservados.

Vamos terminar como costumamos começar, apresentando ao nosso camarada Fernando Gouveia os nossos parabéns pela passagem de mais este aniversário, e formular os nossos votos para que esta data seja festejada por muitos anos, junto da sua companheira de vida, Regina, filhos, netos e demais familiares.

Amigos seus não faltarão que se queiram associar à alegria sentida nesta data festiva, pelo que a tertúlia do nosso Blogue quer formar na fila da frente.


Até ao ano camarada
Tertúlia e Editores

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Notas de CV:

- Postal de aniversário do nosso camarada Miguel Pessoa

(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4163: Tabanca Grande (132): Fernando Gouveia, ex-Alf Mil de Rec e Inf (Bafatá, 1968/70)

Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7444: Parabéns a você (189): António Paiva, ex-Soldado Condutor, HM 241, 1968/70 (Tertúlia / Editores)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 – P7452: FAP (57): Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra? (António Martins de Matos)


1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos hoje, dia 16 de Dezembro, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Aproveito para desejar a todos os camarigos um bom Natal.

Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra?"

Isto de escrever para o blogue tem que se lhe diga, aos poucos vamos criando os nossos hábitos e raízes, por outro lado os camarigos também nos vão catalogando conforme as nossas ideias e a nossa maneira de escrever, bom, mau, rambo, realista, esquerdista, salazarista, desbocado...

Pela minha parte tenho feito os possíveis por me manter fiel ao que vivi na Guiné, contando factos e tentando justificar as minhas opiniões com coerência e sem grandes floreados ou divagações.

O que não impede de por vezes me caírem em cima, não pelo cerne da questão mas por pequenas ninharias, se disser que “quatro é igual a dois mais dois”, alguém refila, que não senhor, que a minha visão está deturpada, a verdade verdadeira é que “quatro é igual a cinco menos um”. Feitios.

Mas tenho que reconhecer que às vezes também é bom dizer umas m... sair das baias do dia-a-dia, entrar no disparate, gritar umas inconveniências, partir a louça, que a vida são dois dias e de tristezas já está o mundo cheio.

E para defender este meu ponto de vista, já lá dizia um português dos imortais que “mais vale experimentá-lo que julgá-lo”, não vos estou a dar nenhuma novidade, mesmo que nunca tenham lido o Camões já todos certamente “o experimentaram”.

Até porque tudo isto também é importante para a satisfação do nosso ego, anda por aí um alemão a ver se nos cala (o Alzheimer), qualquer dia já nem nos lembramos de como se atam os sapatos.

Tinha que dar esta introdução, um pouco longa, porque hoje resolvi pôr em cheque a minha pequenina reputação e avançar para o desconhecido... nada de factos devidamente comprovados... só suposições, bocarras de fazer tremer as paredes, só teorias disparatadas e ideias malucas.

Nesta ordem de ideias o tema que hoje proponho vai-vos dar cabo da cabeça, é um desafio ao pessoal da Tabanca, os mais nervosos que fiquem a ver a telenovela.

Dos que quiserem afrontar a coisa depois que ninguém se corte, que aqui não há pegas de cernelha, todos entram de caras, os comentadores de serviço, os ideólogos e pensadores, os estrategas, passando igualmente pelos historiadores, pelos rambos, pelos normais e anormais, os que sabem tudo e os que só sabem que nada sabem, enfim, os que passaram por terras da Guiné e que ainda gostam de pensar com as suas cabeças.

Se já estão bem instalados frente ao computador, limpem os óculos, apaguem o cigarro antes que engulam a cinza, ponham a mulher, filhos e eventuais netos com destino e preparem-se para o embate.

E a pergunta que faço é a seguinte:

Será que os políticos do PAIGC queriam ganhar a guerra?

OK, já estou a ver a vossa cara de espanto, semblante carregado e testa enrugada, surpresos, “o gajo passou-se”, “foram os cortes do Sócrates”, “ o FMI”, “ o Sporting que só lhe dá desgostos”... e por aí fora.

Tenham calma, não me julguem antes que as minhas ideias possam ser passadas ao papel e devidamente lidas e interpretadas pelas vossas mentes iluminadas.

Deixem-me explicar as minhas teorias, se no fim chegarem à conclusão que me fartei de dizer asneiras, atirem-me com um cartão vermelho directo, cartões amarelos já não me causam mossa, passei a vida a coleccioná-los.

Estão prontos? Cá vai:

O PAIGC, Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde tinha duas correntes de funcionamento, os guinéus a vergar a mola, de bolanha em bolanha, umas vezes emboscando, outras vezes emboscados, vida difícil…

A outra corrente, os cabo-verdianos a angariar apoios, Nova Iorque, Estocolmo, Moscovo, até foram a Roma visitar o Papa... vida difícil...

E todos eles sabiam (uns e outros) que no final, quando os portugueses se cansassem da guerra e abandonassem a Guiné, uma “outra guerra” iria começar, a luta interna pelo poder e pelas suas mordomias (parece que passados estes 36 anos ainda não acabou)!!!

Os guerrilheiros do mato, essencialmente balantas, manjacos e mandingas estariam mais que desejosos de ver o fim da guerra, eram sempre os mesmos, a fonte de recrutamento era bem escassa.

O dia-a-dia do PAIGC sempre foi incerto, por um lado conseguiam saber dos movimentos da nossa tropa quando esta saía dos quartéis, podendo assim avaliar as forças em presença e, num jogo de gato e rato, calcular se podiam ou não enfrentar-nos.

Por outro lado nunca conseguiam adivinhar para onde se dirigiam os aviões G-91 que todos os dias descolavam de Bissalanca a fim de largar uma série de bombas numa das chamadas “zonas libertadas”.

Ao contrário do normalmente apregoado, os guerrilheiros do PAIGC não podiam ser muito populares junto das populações.

Os comissários políticos iam falando de uma Guiné livre mas, para além de retórica, nada mais ofereciam, antes pelo contrário, “roubavam-lhes” os parcos víveres e levavam à força os jovens em idade de combater.

Do lado do opressor, o nosso, entre outros apoios respondíamos às suas questões através dos “Congressos do Povo”, dávamo-lhes armas para se defenderem e assistência médica H-24, por sinal bem superior à que tinham (e ainda hoje têm) os habitantes de Trás-os-Montes.

Sim, que eu deixei algumas vezes de almoçar para ir buscar uma parturiente ou um doente a Susana ou Cacine ou Buruntuma.

Que fique “clarinho clarinho” como costumam dizer os militares, a “Guiné Libertada” não passava de uma utopia, o pessoal do PAIGC tanto morria no meio da bolanha e em combate contra as tropas portuguesas como a descansar nas ditas “zonas libertadas” do Morés, Caboiana ou Cantanhês, só eram “libertadas” enquanto os portugueses não fizessem intenção de lá ir.

Como exemplo do que acabo de afirmar, o Cantanhês, dizia o PAIGC ser uma área totalmente controlada e onde até planeavam declarar a independência.

Quando em finais de 1972 Spínola resolveu reocupar aquele território e lá estabelecer 3 novos quartéis (Cafine, Cadique e Caboxanque), logo se acabou essa coisa de “zona libertada”, a população fugiu mas logo voltou, até gostou da mudança, os guerrilheiros é que tiveram que atravessar o rio Cacine em passo de corrida.

Igualmente em Setembro de 1973, quando o PAIGC declarou a independência supostamente nas terras libertadas de Medina do Bué, os intervenientes estavam num outro local, bem escondido e ao abrigo de um eventual ataque aéreo.

Certamente estariam para lá da fronteira, não podiam arriscar ser detectados e pôr em perigo a vida dos seus convidados, até porque já tinham tido essa má experiência.

No ano anterior e durante a visita de uma delegação da ONU, tinham passado as passas do Algarve para se safar da enrascada, com os pára-quedistas no seu encalço.

Por outro lado e ao contrário do que normalmente consta, o PAIGC não era bem recebido no Leste da Guiné, já que os fulas nutriam uma maior simpatia pelos portugueses.

No Bué e por mais que procurássemos naquelas terras desérticas nada encontrámos que pudesse indicar a preparação de uma cerimónia.

Comparando as fotos tiradas na altura com as de tempos anteriores tudo continuava igual, sem o mais pequeno vestígio de qualquer movimentação.

Não contentes com as fotos, os nossos amigos Páras ainda tinham ido ao local, dar uma mirada, não enxergaram nem vivalma, tudo continuava como havíamos deixado.

Na eventualidade de ainda aparecer alguém por aquelas paragens, acabámos por lá deixar uma prenda, uma daquelas louças típicas das Caldas (não é gozo, é a mais pura das verdades, há fotos a comprovar).

Não sei se os camarigos sabem mas nós dispúnhamos de cobertura fotográfica de toda a Guiné, renovando-a periodicamente e assim descobrindo as diferenças existentes entre fotos tiradas no mesmo local mas em tempo diferente, trilhos, tabancas, machambas, cambanças...

Este reconhecimento fotográfico era maioritariamente feito pelo avião Dakota e posteriormente interpretado por uma equipa especializada da Base.

Os voos do Dakota até acabaram por ficar registados em filme, conforme aparece na série “ A Guerra” do jornalista Joaquim Furtado, na área do Morés vê-se de súbito a população da dita “área libertada” a refugiar-se por causa da aviação.

E por entre a folhagem das árvores lá se vê passar o pachorrento Dakota, nada de agressivo, tão só a fazer umas fotos.

Todo este palavreado para chegarmos à conclusão de que a Força Aérea seria a principal causa do desconforto do PAIGC.

Para se furtarem aos G-91, Heli-canhão, T-6 e até por vezes o DO-27 com foguetes nas asas (ideia bem parva de um qualquer iluminado), só para lá das fronteiras é que podiam garantir o estar em segurança e sem receio de serem bombardeados.

Passo seguinte, se a FAP era o calcanhar de Aquiles, como a neutralizar?

Lá chegamos aos STRELAs e aos MIGs.

Dos STRELAs já aqui se falou inúmeras vezes, asseguraram os comissários políticos à população que nunca mais seriam bombardeados e, no entanto, nunca e em tão curto espaço de tempo tantas bombas caíram sobre as suas cabeças.

Algumas dessas equipas de mísseis fora mesmo pulverizadas pois, ao dispararem da orla da mata, acabaram por permitir o referenciar das suas posições.

Constou-nos igualmente que algumas das equipas dos STRELAs acabaram por ser averbadas pela própria população, descontentes com as promessas entretanto feitas e não cumpridas.

Com os MIGs foi uma outra história, agora é que ia ser... ia do verbo ir... nunca ninguém os viu e nunca nada aconteceu!!!

E pronto, não conseguiram descortinar mais nada, soluções esgotadas.

É neste ponto que chegamos ao vértice da questão.

Então não havia outras maneiras de tentar aniquilar a FAP?

Deixem-me por momentos envergar a camisola do PAIGC e planear medidas contra os Tugas:

MEDIDA 1

Todos os dias e sempre à mesma hora (19:00), um autocarro Mercedes tipo TP21 saía da Base de Bissalanca em direcção a Bissau, transportando os pilotos que quisessem ir jantar ao Pelicano ou Solar do Dez, ou às ostras...

Quantos pilotos seguiam no autocarro?

Umas vezes 8, ou 13, ou 17, dependia da qualidade do jantar na base, carne ainda a coisa aguentava, se fosse peixe dava um autocarro cheio.

E todos os dias à mesma hora (21:00) o autocarro regressava à Bissalanca.

O local para um possível encontro, a estrada entre a Base da Bissalanca e o quartel mais próximo, uma recta de uns bons dois quilómetros de completa escuridão, tabancas de um lado e do outro.

Agora imaginem 3 guerrilheiros devidamente fardados de paisanos e uma bazuca, um deles a ver se o autocarro vinha cheio, caso contrário adiava-se a coisa para o dia seguinte, outro a municiar e outro a apontar e disparar.

E no fim até podiam deixar a bazuca de prenda e ir comemorar o resto da noite ali ao Pilão, era bem perto.

Já perceberam porque razão comprei uma moto?

MEDIDA 2

Eu e a maioria dos pilotos de G-91 morávamos em Bissau.

Por vezes acontecia que, já noite cerrada, alguém me batia à porta.

Abria-a com a mesma ligeireza com que abro a porta da Pensão Montanha quando vou ao cozido da Dona Preciosa.

Uma das vezes apareceu-me um jovem africano a pedir dinheiro para livros de francês, disse ele “quando vocês forem embora o francês passa a ser mais importante que o inglês”, o rapazito até sabia de política internacional.

Imaginem, se em vez do estudante aparecesse o...

MEDIDA 3

Que raio de ideia quererem MIGs, isso era material demasiado caro.

Receita bem mais económica, uma avioneta das mais vulgares, daquelas que não custavam mais que o Mercedes do delegado do PAIGC em Nova Iorque, um piloto (dos mercenários do Nigéria/Biafra, não eram caros), um voluntário para fazer de ajudante e uma caixa de granadas.

Descolagem ao entardecer, de Ziguinchor ou de Boké, navegação calma e suave com o apoio das luzes dos quartéis dos tugas, evitar a Base Aérea que tem antiaéreas, chegada a Bissau já de noite, largada da carga uma a uma, alvos preferenciais, os depósitos de combustível da SACOR, o CG, o Palácio, o Solar do Dez... o granel na cidade.

E se não tivessem granadas, podiam largar tijolos que o efeito seria muito semelhante, os voos da TAP para Lisboa esgotavam-se nos meses seguintes.

Sem me querer alargar mais, qualquer destas três medidas podia acabar rapidamente com a guerra.

Tudo o que acabo de dizer tem um denominador comum que dá pelo nome de “Terrorismo Urbano”, utilizado no Vietname, Argélia, Cuba, País Basco... enfim, em todos os locais onde a vontade da população em correr com o opressor é grande.

Por que razão nunca aconteceu na Guiné?

Alguém sabe?

Será que os guinéus em Bissau se sentiam bem com os portugueses ou, pelo contrário, queriam ver-nos pelas costas?

E as populações do mato?

E a população de uma tabanca da qual já não me lembro o nome, onde fui buscar um jovem a quem os curandeiros da aldeia já nada sabiam o que fazer para o salvar, e que, duas semanas depois, tive o privilégio de voltar a devolver à tabanca, fresco que nem uma alface e já sem o apêndice.

Alguém acredita que aquela população nos queria ver pelas costas?

E havendo tantos cabo-verdianos no PAIGC por que razão não havia terrorismo em Cabo Verde? E nos Bijagós?

Vão-me responder que era por serem ilhas? Bah, que falta de imaginação!!!

Então os pensamentos e vontades do PAIGC eram alimentados pelo povo local ou tinha a ver com coisa importada?

Terá sido por isso que já depois do 25 de Abril e nas cerimónias de entrega de vários quartéis, grande parte dos guerrilheiros só falava francês?

E todos estes nossos camarigos que nos dias de hoje vão à Guiné e são recebidos de sorrisos abertos, será que ainda não perceberam que eles sempre gostaram de nós?

Estas e outras questões seriam interessantes para conversar com os nossos amigos, os antigos membros do PAIGC.

Perguntas que provavelmente ficariam sem respostas pois que, passados todos estes anos e apesar de um franco diálogo (dizem), continuamos sem conseguir saber como foram os acontecimentos vistos do seu lado.

Como resultado da democracia por lá instalada, os nossos amigos afectos ao PAIGC leram todos pela mesma cartilha, a versão oficial diz que para eles só houve vitórias sobre vitórias, esquecendo algo importante, que as derrotas também podem ajudar a unir um povo.

E se alguém duvida destes comportamentos, basta ler as últimas páginas do livro do Cor Calheiros “a Última Missão”, contêm um depoimento do Comandante Manuel dos Santos, “Manecas”, Comissário Político da Zona Norte.

Neste texto e a propósito da operação dos Comandos Africanos a Cumbamori, afirma que o que é relatado pelos nossos militares, o armamento e os paióis destruídos, as baixas sofridas, tudo isso não passou de pura fantasia e que a operação Ametista Real em nada os afectou.

Nós reconhecemos termos tido inúmeras baixas, eles zero, nicles, null, népia...

Enfim, opiniões!

Em resumo, andámos nós e eles (os militares) a peneirar anos e anos pelos buracos da Guiné enquanto que nós e eles (os políticos) andaram a sofrer as agruras da guerra pelas salas de conferência dos Hotéis de 5 estrelas.

O 25 de Abril acabou por mudar as variáveis.

Para os militares (os portugueses e os balantas, manjacos e mandingas) significou o fim dos combates, nós fartos, rodávamos a tropa de dois em dois anos, eles bem pior, eram sempre os mesmos.

Para os políticos foi o fim de muita coisa.

Do nosso lado uns partiram para um exílio dourado, enquanto outros regressaram de um exílio dourado.

Para os nossos políticos o trabalho seguinte foi fácil, independência para todos já, quer queiram quer não queiram.

E foi o que se viu, até os que não queriam ser independentes (S. Tomé) tiveram que se chegar à frente.

Aos políticos do PAIGC a transição foi bem mais difícil.

A partir desse dia tiveram que regressar à Guiné, deixaram o papel de “Executivos” e passaram verdadeiramente a arriscar a vida, tentando passar por entre as gotas da chuva, sobreviver aos vários “ajustes de contas”, aos golpes e contragolpes, até só sobrarem os “Eleitos”.

Passada essa fase má (já passou?) o democrata Nino Vieira lá acabou por correr com os políticos cabo-verdianos do PAIGC e, de golpe em golpe, a Guiné lá se tem conseguido transformar em país charneira para o tráfico de droga.

E os políticos que sobreviveram a tudo isto, devem andar a pensar:

“Estávamos tão bem sem termos que ganhar a guerra...”

Um abraço,

António Martins de Matos

Ten Pilav da BA12

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

1 de Dezembro de 2010 >

Guiné 63/74 – P7366: FAP (56): MIGs, MIRAGEs e miragens (António Martins de Matos)

Guiné 63/74 - P7451: O Nosso Livro de Visitas (104): Camaradas da Guiné (Domingos Santos)


1. O nosso Camarada-de-armas Domingos Santos, da CCAÇ 1684 do BCAÇ 1912 - Susana e Varela -, MAI67 a MAI69, enviou ao nosso Camarada Luís Graça, em 15 de Dezembro de 2010, a seguinte mensagem.
Camaradas da Guiné
É com enorme alegria que ao ver camaradas da Tabanca Grande a relatar episódios passados na Guiné, e em especial em Susana e Varela que foi onde estive, já lá vão uns bons quarenta e três anos, pois estou a falar nos anos de 67-69.
Como ao longo destes últimos anos não tive grande tempo para aprender esta nova tecnologia dos computadores, agora como reformado arranjei esse tempo para aprender e assim pesquisar coisas bastante interessantes.
Vi aqui também que o camarada Pepito também passou por Susana e Varela, pois vi fotos do quartel lá de Susana enviadas penso eu por ele e também artigos onde fala dos Felupes e seus costumes.
É sempre bom haver alguém que fale destes acontecimentos, para que fique para os nossos netos relatos do que nós passamos na guerra de África.
Também tenho imensos casos passados na minha permanência na Guiné, que um dia relatarei, mas só quando dominar melhor esta tecnologia.
Um grande abraço para todos os camaradas, em especial os que passaram por Guiné.
Do Camarada Combatente
Domingos Santos
2. Gostávamos de transmitir ao Domingos Santos que já mandaram mensagens para o blogue os seguintes Camaradas e familiares de Camaradas nossos do BCAÇ 1912:

- O nosso camarada Júlio César Ferreira (ex-1º Cabo, CCAÇ 2659/BCAÇ 2905, Guiné 1970/71), em 9 de Março de 2010, procurou saber notícias do ex-1º Cabo Manuel Silva Ferreira da CCAÇ 1684;
- A amiga Lídia Gonçalves (filha de José Manuel Costa Gonçalves. Ex-1º Cabo Mecânico Auto Rodas da CCAÇ 1685 - Os insaciáveis), procurou notícias de seu pai falecido em 12 de Agosto de 2009;
- O nosso Camarada Aires Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1686);
- O nosso Camarada Mário de Oliveira (que foi Alf Mil Capelão) e é conhecido como o Padre Mário da Lixa;
- O amigo Sérgio Nunes Rodrigues de Oliveira, filho do nosso Camarada Reinaldo de Oliveira Pereira (ex-Sold Condutor da CCAÇ 1686), em busca de Camaradas de seu pai.
3. Resta-nos, em nome do nosso Camarada Luís Graça, Editores e demais tertulianos desta Tabanca Grande, enviar ao Domingos Santos o habitual convite para se juntar às nossas fileiras, enviando-nos pelo menos um texto contando-nos um episódio e fotos do seu tempo de comissão.
Emblemas de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Todos os direitos reservados

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Guiné 63/74 - P7450: Em busca de... (151): Augusto Pereira, hoje professor, natural de Bissorã, djubi no tempo da CART 1746, 1967/69 (Manuel Moreira)


1. Mensagem de Manuel Vieira Moreira** (ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69), com data de 15 de Dezembro de 2010:

Amigo Carlos Vinhal,
Gostaria que publicasses esta história no nosso Blog se assim o entenderes.

Um Abraço
Manuel Moreira


Quando a CART 1746 esteve em Bissorã, a Secção Auto estava deslocada da Companhia, pois funcionava num Barracão/Oficina junto à saída para a mata. Aí, os Mecânicos ocupavam uma dependência ao fundo que servia de quarto habitacional. Vários miúdos,  djubis, vieram oferecer os seus préstimos para nos ajudar nas nossas tarefas, como sendo: chegar ferramenta, lavar peças e, consequentemente, tratar da limpeza das instalações.

Dos vários que se apresentaram, a escolha foi para um que, pela sua inteligência e capacidade demonstrada, nos satisfez.

Esse miúdo, que na altura tinha talvez 7 ou 8 anos, chama-se Augusto Pereira.

A CART 1746 esteve em Bissorã de finais de Julho de 67 a início de Janeiro de 68, por isso, pouco tempo mas o suficiente para ver o Augusto chorar profundamente com a nossa saída.

Em 1983, por altura das férias escolares, se não estou em erro, fui numa noite a casa do meu Amigo Lúcio, também ex-combatente na Guiné, que toca viola e me acompanha quando canto,  para cantar uns fados e beber uns copos e, quando chego ao Bar onde já se encontravam algumas pessoas, vejo, de viola nas mãos, um rapagão de cor negra que me fez estremecer.

Volto para trás para perguntar ao Lúcio quem era. Respondeu-me que era um aluno que estudava em Aveiro com a irmã e que o trouxe para trabalhar numa Cerâmica e ganhar algum dinheiro.

Regresso ao Bar, dirijo-me a ele e pergunto-lhe de onde é ao que me responde, Guiné. Qual a localidade, ao que me disse, Bissorã.

Eu não estava a acreditar e perguntei-lhe o nome e a resposta foi:
- Sou o Augusto,  nosso Cabo Moreira.

Matámos saudades.

Passados alguns dias levei-o a jantar em minha casa, numa noite chuvosa e escura pois o temporal havia derrubado árvores para cima das linhas eléctricas o que nos deixou sem luz várias noites em Aguada de Cima e fomos obrigados a usar os arrumados candeeiros a petróleo.

Fi-lo sentar à mesa entre a minha filha e o meu filho, já crescidos, e não se dava pela sua presença devido à pouca luz, apenas se viam os olhos e os dentes a reluzir.

O Augusto andava a estudar para alcançar objectivos. O Augusto é Professor. Em 1984 trabalhou em Bula e foi transferido para Bissau, para o Departamento de Formação e Superação de Professores do Ministério da Educação e Desporto.

Já passaram alguns anos sem saber do Augusto. Se o Augusto tiver acesso a esta história, gostaria que entrasse em contacto comigo.

Manuel Moreira

Secção Auto > Eu sentado no guarda lamas esquerdo e, não tenho certeza, o Augusto.

Saída de Bissorã > Eu de pé na primeira viatura com a mão no ombro

Desfile em Bissorã > Eu à frente, ao centro
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6179: Convívios (132): 7º Convívio da CART 1746 (Manuel Vieira Moreira)

Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7443: Em busca de... (150): Pessoal do BENG, Bissau, 1966/68 (Jorge Picado / José Manuel Bastos Cachim)

Guiné 63/74 - P7449: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande 2010 (3): Que ricas prendas, Giselda & Miguel...



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Nota de L.G.:


Guiné 63/74 - P7448: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (2): Mensagem de Natal (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa* com data de 15 de Dezembro de 2010:

Mensagem de Natal

Caro Professor Luís Graça
Editor e amigo Carlos Vinhal
Editor Magalhães Ribeiro
Editor Virgínio Briote
Humberto Reis (cartógrafo-mor)
Caros Tertulianos e amigos deste imenso Blogue.

Há cerca de dez meses que aportei ao blogue de “Luís Graça e Camaradas da Guiné” na sequência da minha autobiografia, que escrevia na altura. Pretendendo falar de acontecimentos relevantes da minha juventude, referi entre outros a guerra do Ultramar, e, muito naturalmente escrevi no Google, Guerra da Guiné, na procura de informações precisas. Perante os meus olhos surgiu este blogue ao qual me dirigi, perguntando a medo, se alguns dos senhores conheceria por acaso, um senhor de nome Hélder Martins de Matos de quem eu tinha sido madrinha de guerra entre 63/64.

O Carlos Vinhal respondeu-me prontamente, e o José Marcelino Martins, sempre disponível, foi inexcedível na procura de informação, através da qual consegui o contacto do referido senhor (que ainda não conheço).
Por Convite fiquei, e permaneço encantada.

Quero dizer-vos que, ao longo destes meses, tenho procurado absorver informação desse tempo que motiva a existência deste blogue, e que sempre me interessou, por ser um acontecimento que marcou a minha geração/a nossa geração, da forma que aqui é retratado.

Quero agradecer a todos quantos participam e me dão o prazer de ler coisas espantosas de amizade, de solidariedade, de descrição do Teatro de Guerra, de reencontros, de conhecimentos e da vossa cultura, que muitas vezes me deixam verdadeiramente encantada.

Cresci rodeada de homens: avô, pai, tios, irmãos, depois namorado, marido, filhos e neto. Fui sempre acarinhada por todos. Isto, para vos dizer, que é um prazer estar entre vós.
Sinto por todos um carinho muito especial, como se fossem todos meus irmãos.
Alguns destacaram-se mais pela proximidade da origem, quase conterrâneos, e fazem o favor de me tratarem por amiga. Sou concerteza, uma amiga incondicional, agradecida e orgulhosa.

O tempo foi passando e estamos a viver mais uma quadra Natalícia.
Quero desejar a todos, independentemente da religião de cada um,
Um tempo de Paz, de união, de tolerância e de fraternidade, de que tantos de vós, deram e continuam a dar provas.
Quero dizer, que vos admiro, que partilho as vossas alegrias e tristezas, que vos desejo e às vossas famílias, as maiores felicidades.
A Quadra para mim sempre primou pela reunião das famílias, que com o decorrer dos anos se vão muitas vezes perdendo ou dividindo, mas, na nossa lembrança vão ficando os momentos vividos.
Cada ano que passa, trás e leva boas e más recordações.
Momentos de alegria que perdura.
Saudade do passado.
Tristezas que queremos esquecer.
Projectos que queremos ver concretizados.
E, é nesta miscelânea de sentimentos e desejos, que a vida acontece.
Obrigada por terdes partilhado comigo este ultimo ano.

Permito-me enviar um poema que ofereci aos meus no Natal de 68.

É Natal!

Ponho a mesa só para três
Como se a ela se sentassem todos!
Como se à volta desta mesa estivessem…
Os que já não voltam…
E os presentes, que se ausentam temporariamente:
Estão comigo todos!
E, num prazer que descrevo
Transformo a ausência em presença que fica.
Que fica comigo,
Em rostos, palavras, lágrimas e risos…
Em gestos que não olvidei
Em palavras que jamais esqueci
Em lágrimas de alegria que chorei
Em risos felizes, puros, sentidos
Em rostos ausentes, presentes e fixos
Na minha memória
Aonde estão vivos.
E, assim perpétuo o Natal da vida.
Da minha vida
Dos que já partiram
Dos que vamos estando!
E, num abraço grande
Onde cabem estórias, tempo, memórias
Eu reúno hoje… as recordações de 60 anos!
Com eles e convosco, as vivi e vivo.
E, quando eu partir
Sei que aqui deixo
Quem seja capaz
De continuar a contar as histórias
De que também fiz parte:
Efémera a vida, é para viver plena, alegre e sentida.
Mas, nessa alegria, cabe a emoção
E a comoção com que é vivida.

Felismina Costa
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(*) Vd. poste de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7380: Blogpoesia (92): Sinfonia (Felismina Costa)

Vd. primeiro poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7441: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (1): Querido Pai Natal... (Albino Silva, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70)

Guiné 63/74 - P7447: Blogpoesia (96): Contrato com o Exército (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  14 de Dezembro de 2010:

Caro Carlos,
Aqui vão umas fresquinhas.

abraço
manuelmaia


CONTRATO COM O EXÉRCITO

Marmita de alumínio reluzente,
que leva o mau "conduto" e sopa quente,
lavada é logo após a refeição...
Na guerra Cantanhez, com tudo errado,
senti-me figurante algo enganado,
num filme série B de mau guião...


Contrato então firmado (ai se era agora...)
p`lo Estado regulado, sem demora,
impunha vinte e quatro horas/serviço...
Dinheiro p`ra uns copitos e tabaco,
diária a trinta escudos, em buraco,
e fogachal do IN sem sumiço...

É certo que houve casos mais marcantes
que o nosso, meros bandos figurantes,
no bem-bom d`aramadas posições...
Que o diga AB, herói tão esforçado,
sujeito a falhas de ar condicionado,
aquando da investida a refeições...

Nos bolsos da camisa camuflada,
latinha "coração", bem arrolhada,
e pano de flanela/polimento...
Nas calças, palha d`aço e detergente,
repõem brilho bem resplandecente,
à lataria exposta "no evento"...

Contrato pela malta foi cumprido,
no tabaco e no álcool consumido,
o curto patacão, dito ordenado...
Dois anos média o tempo/comissão,
Falharam só chefias da Nação,
ao impedir ao tropa ser tratado...
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7421: Blogpoesia (95): Malefícios da água não potável (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7446: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (11): Os Pequenos Nadas da vida

1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira* (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), com data de 14 de Dezembro de 2010:

Meu Caro Amigo Luís

Com a aproximação do Natal queria dar-te uma prova de respeito e amizade. Ou vice-versa.

Voltar ao "Blogando e andando", que comecei no nosso blogue com o teu "alto patrocínio", é simbolicamente essa prova. É raro o dia em que não me surpreende a força e dinamismo do nosso blogue. É simplesmente notável.

Nos últimos tempos devido ao envolvimento pessoal que tenho no jornal da terra não tenho tido tempo para nada. Depois... estou metido em dois livros. Um está pronto - falta apenas inseriras imagens - e outro se seguirá.

Quando se chega aos "setenta" sentimos que o tempo nos pode faltar e alguma ansiedade nos assalta para "deixar" testemunhos... antes que seja tarde...
Estou nessa fase.

Alguma remorso me acompanha por não ter mais tempo para colaborar no nosso blogue mas espero que o Editor e seus colabores mais próximos me possam perdoar...

Entretanto é tempo de votos. Para ti e para os teus votos de um Feliz e Santo Natal.

Um abraço fraterno de Alcobaça,
JERO

PS-Segue um pequeno texto com o simbolismo dos "pequenos nadas" que fazem a diferença na vida.Digo eu.


BLOGANDO E ANDANDO (11)

OS ”PEQUENOS NADAS” DA VIDA…

O Pedro, um jovem de 13 anos, acompanhava habitualmente o pai nas idas à taberna da aldeia.

Vivia numa zona rural e depois da “escola” ajudava nas tarefas caseiras. Na fazenda, que circundava a casa dos seus pais e avós, pegava na sachola ou no ancinho dia sim, dia sim e ia aprendendo o que a vida custa. Os trabalhos agrícolas eram duros e as idas à taberna com o seu pai eram sempre momentos bem-vindos.

Fascinavam-no as conversas do seu pai com os mais velhos, nomeadamente, quando essas conversas evocavam recordações da guerra do Ultramar. Se tentava meter a sua “colherada” não lhe davam grande atenção. Era ouvir e calar. Quando o seu pai bebia o seu copo de vinho soltava um “ah” de satisfação, que parecia ficar a pairar algum tempo no ambiente acolhedor da taberna. “Ouvia-se” o silêncio entre conversas dos amigos de seu pai.

Aqueles “aaahh” de satisfação eram momentos “únicos”… Pareciam fazer parte de um ritual monástico, salvaguardadas as devidas proporções. Quando o pai esvaziava o copo e batia com ele, já vazio, no balcão o “aaahh”, já tantas vezes ouvido, surpreendia sempre o Pedro que seguia com olhar o momento de prazer do seu pai. Que bom devia ser beber um copo. Quando é que ele teria direito a um “aaahh”!?

O tempo ia passando e o Pedro um dia atreveu-se a pedir ao pai:

- Quando é que eu posso beber um “aaahh”?

O olhar que o seu pai lhe deitou antecipou a resposta que bem lhe custou a ouvir:

- Ainda és muito novo para um “aaahh”.

Passou o Verão, chegou o Outono e o Pedro pensou que já tinha acumulado “créditos” para mais um pedido. E num dia em que tudo tinha corrido especialmente bem nos trabalhos da escola e da fazenda arriscou:

- Oh pai, quando é que eu posso beber um “aaahh”?

Teve direito a mais resposta negativa mas, desta vez, pareceu-lhe que o Pai tinha feito um compasso de espera antes de proferir o “não”. Saiu chateado da taberna e voltou sozinho para casa.

No dia seguinte o Pedro fez mais uma tentativa.

- Oh Pai quando é que eu…

Para sua surpresa o pai disse para o taberneiro.

- Oh Grazina dá lá um copo ao rapaz.

Pareceu-lhe que tinha havido um piscar de olhos entre ambos mas… o seu copo finalmente “aterrou” no balcão.

O Pedro pegou-lhe com o coração a palpitar e com os olhos a brilhar preparou-se para soltar o seu primeiro “aaahh”.

Bebeu o primeiro golo e arrepiou-se todo. Soltou um “iiiihh” prolongado… Tentou um segundo golo e o seu “iiiiiiihhh” foi ainda mais prolongado. Olhou para o copo com asco… e sentiu a mão do pai nas suas costas.

- Como vês ainda não tens idade para um “aaahh”.

O Pedro teve que reconhecer que sim e saiu para a rua para apanhar ar. O pai ficou um pouco trás e, bem disposto, disse ao Grazina:

- Eh pá não poupaste no vinagre. Fico-te a dever uma.

Só muito mais tarde o Pedro soube da “marosca” e... percebeu como o seu Pai tinha sido sábio.

De facto o vinho não deve ser bebido por gente nova… e que há idade para tudo…

Esta história é verdadeira e passou-se numa freguesia perto de Alcobaça.

Infelizmente os pais dos miúdos da cidade nem sempre têm tempo para estar tão presentes nas vidas dos seus filhos. Nomeadamente nas suas saídas nocturnas, quando consomem “aaahh’s” antes de tempo…

Os tais “pequenos nadas” da vida que podem vir a fazer toda a diferença!

É ou não “eeehh”!?
JEROOO…
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7246: (Ex)citações (107): Mininus di praça e “O Fascínio” (José Eduardo Oliveira)

Vd. último poste da série de 26 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6899: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (10): Revisitando o passado de Alcobaça, dos anos 40, na Tabanca de São Martinho do Porto