segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10320: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (2): Cuntima





1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Humberto Nunes (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art,  Gadamael Porto e Cuntima, 1972/74:



Cacine > Eu no meio dos obuses

Cacine > LDG a ser carregada

Junto à Ilha de Bubaque

Cuntima > A minha segunda suite

Cuntima > Fabrico de blocos para as casas dos Artilheiros

Cuntima > As casas dos artilheiros

Cuntima > Ibus à espera de acção

Cuntima > Vista parcial

Cuntima > Vista parcial

Cuntima > Aproximação de um helicóptero

Cuntima > Chegada do helicóptero do correio

Cuntima > Algures, a caminho de Bissau
____________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 11 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10252: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (1): Gadamael

Guiné 63/74 - P10319: Notas de leitura (396): "Guiné-Bissau, 3 Anos de Independência" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2012:

Queridos amigos,
Trata-se de uma pequena incursão pelas publicações que abordam os acontecimentos pós-independência, não se pode escamotear a sua importância para a compreensão das história da Guiné-Bissau. Os lideres do PAIGC supunham que o capital de credibilidade auferido durante a luta armada era inesgotável. Dirigentes como Aristides Pereira irão mais tarde recriminarem-se por não terem estado atentos a tanto entusiasmo com a cooperação internacional, parecia que a Guiné-Bissau tinha direitos especiais em receber ajudas sem prestar contas. A nova classe política passeava-se por Bissau e adotava os estilos de vida que tinham censurado durante a luta armada. Cedo a casa ficou sem pão e todos passaram a ralhar, a praticar golpes de Estado e a engendrar inventonas.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau, três anos de independência

Beja Santos

Houve um embaixador português, Pinto da França, que lhe chamou tempo de inocência, é uma época de sonhos e promessas, ainda se acredita no trabalho das organizações de massas, na participação popular, mesmo em ziguezague as autoridades do novo Estado falam em grandes opções económico-sociais, idealizaram projetos para o sector agrícola, acreditam que o futuro está prenhe de sucessos na energia, na indústria, na educação e na saúde pública. A Guiné-Bissau tem uma política externa e anuncia-a ao mundo, baseada nos princípios da coexistência pacífica, do não alinhamento e anticolonialismo e anti-imperialismo. O CIDAC, em 1976, procede a uma reportagem a publica-a com o título “Guiné-Bissau, 3 anos de independência”. Está-se em vésperas do 3.º Congresso do PAIGC, aquele em que se detetaram profundas fissuras entre guineenses em cabo-verdianos e se fizeram críticas à deriva económica e financeira. Ao longo da reportagem afloram apreciações que já não disfarçam o emaranhado de contradições: os que vieram da luta instalam-se em Bissau e desfrutam o bem-estar, começam as incriminações à administração colonial como se não competisse ao partido revolucionário impor, por via do trabalho político, as novas linhas de rumo. Fala-se na camada social parasitária, na pequena burguesia citadina que seria obrigada a alterar os padrões de consumo e a reduzir os seus gastos supérfluos, mas irá descobrir-se, em 1976, que o novo poder adquiriu 8000 novos carros e metade do desequilíbrio das contas externas decorre da importação de alimentos destinados à velha e à nova burguesia citadina. Ao tempo, o PAIGC continua a recusar ser partido, insiste em apresentar-se como o movimento nacionalista de libertação. Nunca se fala em socialismo e muito menos em socialismo africano, fala-se em política para o povo com base na unidade nacional. E o PAIGC apresenta-se como a força dirigente da sociedade, a expressão suprema da vontade soberana do povo. A justiça baseia-se em tribunais que vieram do tempo da luta, fazem-se julgamentos populares mas reconhece-se a necessidade em mexer de cima a baixo no aparelho judicial. A unidade Guiné-Cabo Verde é dogma, está realizada no partido a seu tempo irá passar para as populações e diz-se repetidamente que a construção desta unidade é um inestimável contributo para a unidade africana.

Os novos políticos de Bissau mostram-se ambiciosos quando falam do futuro da agricultura, a terra tem boas condições para a produção agrícola e promete-se uma via progressista para a agricultura mas avultam outras medidas importantes, tudo ainda no campo das promessas: uma reforma fiscal que iria eliminar os impostos anteriores e veria surgir o imposto de reconstrução nacional; o controlo estatal dos principais circuitos do comércio interno através dos Armazéns do Povo; nacionalização do comércio externo. Na reportagem diz-se textualmente: “A Guiné-Bissau encaminha-se para um tipo de sociedade com as seguintes características: conquista da independência económica e rejeição do neocolonialismo, eliminação das distinções de classe e da divisão da cidade-campo, forte intervenção do Estado ao serviço de todo o povo, planificação da economia, nacionalização da terra, reforma fiscal, participação estatal nas empresas, descentralização regional”. Era assim que se pretendia a abolição da exploração do homem pelo homem.

O ministro do Plano, Vasco Cabral, refere as prioridades para o desenvolvimento: aumentar a produção agrícola, desenvolver o potencial energético do país e fomentar as comunicações, criar pequenas indústrias ligadas aos recursos locais, vencer o analfabetismo e melhorar as condições sanitárias da vida da população. Havia a promessa de investimentos estrangeiros. A Esso, empresa multinacional de petróleo, a quem tinha sido concedida a prospeção do petróleo, considerou que os estudos eram francamente desencorajadores e abandonou o país; o comissário da agricultura confiava nas novas formas de propriedade (granjas do Estado, cooperativas de produção agrícola) havia mesmo a intenção da concessão de crédito e distribuição de sementes, tinha sido decretado um substancial aumento dos preços dos produtos agrícolas; estava previsto o aproveito hidráulico do vale do Rio Geba; quanto à horticultura e fruticultura, falava-se com entusiasmo na mandioca, na batata e no feijão, nas leguminosas e no tomate e previa-se a plantação de árvores de fruto em todo o país; o mais ambicioso dos projetos agrícolas era o complexo açucareiro a instalar na zona do rio Gambiel, afluente do Geba (a Líbia seria o principal financiador) e essas grandes intenções estendiam-se à riqueza florestal, avicultura e pecuária e previa-se um grande surto da atividade pesqueira, a Argélia já tinha enviado 4 barcos e formara-se um grupo constituído pela Guiné-Bissau, a França e o Senegal destinado à pesca do camarão na região do Cacheu.

A industrialização era acalentada: complexo energético-industrial a instalar em Porto Gole, aproveitamento hidrelétrico do rio Corubal, havia uma infinidade de novas indústrias a instalar: fábricas de móveis de madeira, de sumos e conservas de fruta, de descasque e extração de óleo, um centro apícola, uma fábrica de tecidos de algodão, um serviço de eletrotecnia a frio, doadores estavam a apoiar os trabalhos de melhoramento do porto de Bissau e do aeroporto de Bissalanca, estava já em laboração uma fábrica de camisas, a Bambi.

A educação era outro desafio até porque durante a luta quem visitava as bases de guerrilha no interior do território admirava-se com a grande capacidade de instalar um ensino alternativo. Todas as declarações, ao longo da reportagem, apontam para uma educação nova, para um salto na alfabetização, previam-se jardins-de-infância e o método de Paulo Freire promete ser um sucesso. Também a saúde pública aparecia no topo das prioridades, o colonialismo português era acusado de ter concentrado em Bissau a quase totalidade das camas e mais de metade dos médicos, bem como o grosso do equipamento hospitalar. Os novos governantes queriam socorrer-se da experiência das regiões libertadas, as grandes orientações para a saúde iam nessa direção. E esperava-se muito da cooperação internacional para formar quadros com formação universitária e financiamento para muitos dos projetos com que se sonhava estar a abrir o desenvolvimento do novo Estado.

Os políticos de Bissau mostram-se ufanos com a sua política externa, depois de 11 anos de guerra só pensam na coexistência pacífica e na boa vizinhança, só não se entendem com a África do Sul e são aliados indefetíveis do MPLA. As relações com Portugal, no fim do PREC, não são muito boas, Lisboa deixara de ser o primeiro aliado. Em anexo, a reportagem pública os estatutos do PAIGC, a constituição da República da Guiné-Bissau, a composição do Conselho de Estado e as resoluções da Assembleia Nacional Popular.

Era o tempo de inocência, o desastre económico vai explodir em breve.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10296: Notas de leitura (395): Guiné-Bissau, Um Estudo de Mobilização Política, de Lars Rudebeck (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10318: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (8): Porto de Bissau: ponte-cais... (Luís Calafate, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto)



Guiné > Bissau > 1907 > Vista do  porto e ponte cais (Imagem cedida por Luís Calafate)





Guiné > Bissau > Ponte cais > 1908  > Desembarque de tropas metropolitanas, no âmbito das 'campanhas de pacificaçao'. Fonte: desconhecida. Disponível em: Transpress nz: world transport history



1. Mensagem  de Luís Calafate [, foto à esquerda, retirada da sua página no Facebook], biólogo de formação de base, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. especialista em ecossistemas urbanos e sustentabilidade ("Interesso-me pela exploração das dimensões da sustentabilidade urbana. O estudo dos ecossistemas urbanos contribui para a compreensão do papel dos seres humanos como 'ecosystem engineers' ". Fonte: FC/UP)


De: Luís Calafate
Data: 31 de Agosto de 2012 18:08
Assunto: Porto de Bissau: ponte-cais

Estimado Luís Graça,

1- Quando procurava informação relacionada com a ponte-cais do porto de Bissau, encontrei uma imagem no vosso Blog, datada de 1969.

2- A imagem mais antiga que tenho do cais do porto de Bissau é datada de 1907 e parece tratar-se do mesmo cais (Anexo: Occ_N1041_1907).

3- Como estou a realizar uma investigação sobre a construção desse cais, venho perguntar se é possível obter mais fotografias.

Cumprimentos,
Luís Calafate
Faculdade de Ciências do Porto





Guiné > Bissau > 30 de maio de 1969 > Desembarque do pessoal da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, transportado pelo T/T Niassa. Foto do álbum fotográfico de Arlindo Roda, ex-fur mil at inf (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Guiné > Bissau > Cais de Bissau >  Álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms  da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).

Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados. 



Guiné > Bissau > 1974 > Ponte cais de Bissau com duas Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) e uma de desembarque ( LDM ) ao fundo do lado direito, no mês de Setembro de 1974. Algumas destas lanchas foram deixadas na Guiné.  Fotografia do marinheiro radio-telegrafista, Manuel Beleza Ferraz, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto  © Manuel Beleza Ferraz (2012). Todos os direitos reservados.  




Guiné > Bissau > Edifício da capitania dos portos, Anos 50. Foto do nosso camarada Mário Dias.


Foto:  © Mário Dias  (2006). Todos os direitos reservados.  




Guiné > Bissau > s/d  [Anos 60] > Vista aérea da Ponte Cais, Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte -
 Publicações e Artes Gráficas, SARL).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

Foto: © Agostinho Gaspar /  Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos direitos reservados



Guiné > Bissau > s/d [ Anos 60] > Ponte-cais, Bissau. Em primeiro, vê-se o monumento a Diogo Cão. Bilhete Postal, colecção "Guiné Portuguesa, 110". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Foto: © Agostinho Gaspar /  Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos direitos reservados


Guiné > Bissau > s/d  [ Anos 60] > Vista aérea parcial e Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). 

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010) 

Foto: © Agostinho Gaspar /  Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos direitos reservados


 Guiné-Bissau > Bissau > 1984 > Porto: Projecto da TECNIL, de construção do novo cais...

Foto: © António Rosinha (2006). Todos os direitos reservados.
 .

2. Comentário de L.G.:

Meu caro colega,

Aí vão algumas das fotos que temos sobre Bissau, o seu porto e a sua ponte cais...  É apenas uma amostra. Foi um sítio que todos (ou quase todos) conhecemos, quando as nossas tropas aí desembarcavam, vindas da metrópole, e voltavam a embarcar, de regresso a casa... Temos inúmeras descrições desse primeiro contato com aquela terra "verde e vermelha"... No final da guerra, a partir de 1973, o transporte de pessoal era já feito pelos TAM -  Transportes Aéreos Militares.

Durante anos, o porto de Bissau não tinha infraestruturas modernas de modo a permitir o desembarque direto das NT em navios de grande calado... O leito do canal do Geba  tinha, de resto, como tem hoje, problemas de assoreamento, entre a cidade de Bissau e o Ilhéu do Rei.

Em 30 de Maio de 1969, eu (e os meus camaradas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12)  já desembarquei diretamente no porto de Bissau, mas durante os primeiros anos da década de 60 (não sei exactamente até que ano, meados da década, segundo creio) tanto passageiros como mercadorias tinham que ser transportados para terra em batelões, ficando o navio ao largo da cidade de Bissau...  

Outros contributos dos amigos e camaradas da Guiné, reunidos neste blogue, serão bem vindos: fotos, outros documentos, história da construção do porto de Bissau... Desejo-lhe boa sorte para o seu trabalho de investigação. Disponha do nosso blogue como uma boa, plural, rica, diversificada fonte de informação e de conhecimento sobre a Guiné, ex-colónia portuguesa e hoje país da CPLP. Este é também um contribuinte que os ex-combatentes dão ao seu país, à lusofonia, à historiografia da guerra colonial, à historiografia da presença portuguesa em África, e ao estreitamente de relações entre os dois povos, o português e o guineense.

Pode utilizar os nossos materiais, dentro da observânciA dos nossos princípios que procuram: (i) respeitar (e fazer respeitar) os direitos de autor, e ao mesmo tempo (ii) promover o livre acesso à informação e ao conhecimento. Recorde-se aqui o essencial do que defendemos neste capítulo:

"Qualquer texto ou imagem publicada no nosso blogue pode ser reproduzida, desde que:  (i) não se destine a fins comerciais;  (ii) seja pedida a devida autorização por mail ao(s) editor(es) do blogue; e, por fim,  (iii) seja feita a citação expressa da fonte (blogue e autor do documento). Somos defensores da via verde da sociedade da informação e conhecimento... mas com respeito pelo trabalho intelectual de todos os produtores de conteúdos".
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10187: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (7): Fotos do Marcelino da Mata, ten cor ref, precisam-se para projeto editorial da Oficina do Livro / Grupo Leya

domingo, 2 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10317: Efemérides (109): Leiria vai homenagear os seus combatentes em 23 de Setembro de 2012 (José Marcelino Martins)


1. O nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem. 

Caros Camaradas, 

 De posse do cartaz acerca da Homenagem a realizar em Leiria, obséquio do nosso amigo Agostinho Gaspar, elaborei um texto que anexo, para publicação, caso vejam interesse, dados haver muitos camaradas que podem desconhecer. 

A inscrição no evento termina a 5 de Setembro (QUARTA FEIRA).

LEIRIA VAI HOMENAGEAR OS SEUS COMBATENTES 
23 de Setembro de 2012 

Anteriormente já nos havíamos referido à cidade de Leiria, pela apresentação de vários monumentos militares existentes em Leiria. Esse Post foi publicado no dia 21 de Setembro de 2010 - http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/09/guine-6374-p7020-monumentos-militares.html - no blogue de Luís Graça e Camaradas da Guiné. 

Um camarada de armas, amigo, leiriense e também combatente na Guiné, fez-nos chegar o cartaz abaixo, única informação disponível, para nós, no momento em que “alinhamos estas frases”. 


Pelo teor do cartaz que nos foi disponibilizado, a jornada iniciar-se-á pelas 14h30 com a celebração de uma Missa Solene, na Sé de Leiria, templo mandado construir pelo segundo Bispo, desta diocese, D. Frei Gaspar do Casal (bispado de 1557 a 1579), tendo sido lançada a primeira pedra em 11 de Agosto de 1550. “ O Bispo D. Gaspar do Casal deu principio à nova Sé, e a acabou, para a qual se passou o Cabido no ano de 1574; ficou com a cidade, somente, por Paróquia; …” [O Couseiro, capítulo 123º, página 130 – Edição Textiverso Dez.2011]. 

Durante a cerimónia, chegado o momento de Invocação dos Defuntos, será o tempo de lembrar todos os combatentes da cidade que, desde 1135, data da fundação do castelo, até aos nossos dias, participaram nas diversas guerras e combates em que Portugal esteve envolvido. 

Pelas 15h30, será prestada homenagem aos Combatentes Tombados em defesa da Pátria, sendo descerrada placa alusiva ao acto. 

Pelas 16h00 será prestada a homenagem aos Combatentes do Concelho. A cidade já assistiu, em 1 de Dezembro de 1919, a uma homenagem a todos os militares do extinto Regimento de Infantaria nº 7, que participaram na Grande Guerra. 


  
Diploma atribuído a José Marcelino (3 de Fevereiro de 1881 † 21 de Setembro de 1937) 2º Sargento de Infantaria, do Batalhão do Regimento de Infantaria n º 7, ferido em combate e dado com incapaz para todo o serviço militar. Também prestou serviço em Moçambique, entre 5 de Julho de 1899 e 24 de Junho de 1900, integrado na força expedicionária do BC 6/RI 7. Acervo documental de José Marcelino Martins.
© Foto José Martins

A cerimónia ficou, também, gravada na pedra. A lápide inaugurada no acto, está incrustada na entrada do Quartel da Cruz da Areia, onde está aquartelado o RA 4. Este quartel foi entregue ao RI 7 em 6 de Maio de 1955, pela Comissão Administrativa das Novas Construções para o Exército. 

Ás 16h20 haverá um desfile integrando antigos combatentes e actuais militares, desfile esse que se realizará no Largo 5 de Outubro, junto ao Jardim Luís de Camões. 

Terminadas estas cerimónias, no centro da cidade, haverá, pelas 17h00 um lanche-convívio nas instalações militares da Cruz da Areia (Regimento de Artilharia nº 4).


Placa, em três lápides, com o nome de todos os Combatentes que tombaram em África entre 1961 e 1974. © Foto José Martins
                                       
            Este evento é organizado pela Câmara Municipal de Leiria e pelo Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes. Tem o apoio do Regimento de Artilharia nº 4, Base Aérea nº 5 e Juntas de Freguesia do Concelho. 

  • Informações:
  • Inscrições;
    • Juntas de Freguesia de naturalidade do combatente até 5 de Setembro
  • Os Combatentes podem-se inscrever para três situações:
    • Para serem homenageados;
    • Também, para participarem no desfile. Neste caso terão de participar num treino antes da cerimónia e de, no desfile, irem de fato escuro.
    • Também participarem no lanche convívio. Neste caso deverão pagar 5 € por cada pessoa (podem levar amigos e familiares) no momento da inscrição.
    • Caso se trate de um Combatente que seja associado do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes e não pertença ao concelho, então poderá inscrever-se no Núcleo de Leiria.
Esperamos que seja uma jornada de confraternização de Leirienses e Camaradas de Armas com a população e amigos e, porque não, antigos colegas de escola, já que na cidade houve escolas de referência: Jardim Escola João de Deus; Escolas Primárias de Santo Estêvão e Amarela: e Liceu de Leiria e Escola Industrial e Comercial.

25 de Agosto de 2012
José Marcelino Martins
Leiriense, residente em Odivelas
Combatente na Guiné
Membro LC, núcleo de Lisboa
____________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 – P10316: Memórias de Gabú (José Saúde) (24): Morte estúpida na pista de aviação



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.


Camaradas,


Não obstante o silêncio entretanto constatado, eis-me de regresso ao blogue com mais um pequeno apontamento das “Minhas Memórias de Gabu”. 

Hoje, centro atenções na morte do soldado Damásio. 

Um militar exemplar, amigo, educado e que encontrou a morte em plena pista de aviação. 

Coube-me a missão de acompanhar a derradeira partida do soldado Damásio para a viagem sem regresso, fazendo o espólio dos seus haveres. 

Aqui fica, pois, os pormenores do sucedido. 

Morte estúpida na pista de aviação 
Damásio, soldado exemplar 

Diz-nos o teor da veracidade do BART 6523 que nos 14 meses de comissão em território da Guiné, o seu efetivo registou apenas uma baixa. É certo que o período normal de incumbência das nossas tropas naquela antiga província ultramarina, ia para além deste ciclo, porém a Revolução de Abril de 1974 acelerou o regresso do nosso exército das três frentes de guerra – Angola, Moçambique e Guiné - com as quais Portugal estava envolvido.  

O meu Batalhão, sediado em plena região de Gabu, não obstante os ataques noturnos, designadamente às companhias destacadas no mato – Madina Mandinga e Cabuca -, teve a sorte em não se deparar com eloquentes baixas resultantes de confrontos diretos com o IN, tão-pouco deparar-se com rebentamentos das famigeradas minas antipessoais ou anticarros que originavam efetivos para abater nas contas do exército português. As operações feitas no terreno passaram isentas de eventuais baixas que serviam para engrossar a lista de infelizes que perderam a vida no campo de batalha. 

Em parte incerta da obra “AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, tive o cuidado em expressar, com enfâse, que houve mortes que nada tiveram a ver com o conflito. Sou testemunha de uma morte estúpida, e única, de um soldado da CCS do meu Batalhão na pista de aviação, numa situação considerada aparentemente normal e quando nada o fizesse prever. Mas infelizmente aconteceu. 

Coube-me a tarefa para tratar o assunto de perto. Chamava-se simplesmente Damásio e era um dos soldados do meu grupo. Numa manhã, perfeitamente vulgar, o soldado Damásio integrou um grupo cujo objetivo único passava por descarregar bens alimentícios originários de Bissau e que vinham a bordo de um avião. Fez-se o habitual cordão para facilitar o serviço, sendo que o Damásio se colocou entre as duas viaturas destinadas ao carregamento. 

Num ápice, uma das viaturas tentou a aproximação a outra que se encontrava estacionada por perto e numa manobra arriscada – marcha atrás – embateu na traseira da outra viatura, sendo que o embate ficou marcado, infelizmente, pela morte imediata do Damásio que naquele momento se encontrava entre as duas viaturas. Foi horrível. Morreu esmagado. 

Como um dos líderes do grupo, tive a missão de organizar o espólio do infeliz Damásio e enviá-lo depois para a família. Não foi fácil lidar com toda a situação. O Damásio era um moço educado. Fazia amigos, facilmente. E eu fui um deles. Sei que guardei durante vários anos um documento onde tinha descriminado todas as suas pertenças pessoais que na altura mandei para os seus familiares. Nada faltou. Lembro-me do derradeiro adeus. As lágrimas dos camaradas que viram partir para a eternidade – a tal viagem sem regresso – um jovem que vivia, certamente, um mundo de sonhos. 

Senti, na altura, o vazio nas almas que se abateu sobre os seus familiares. Como explicar-lhes tamanha fatalidade! E nós, homens que convivíamos com ele diariamente, lá longe sem nada podermos transmitir aos seus entes queridos. Impunha-se aconchegar o seu profundo desespero, todavia a distância ditava, apenas, o carpir mágoas pelo seu infeliz último adeus. Ficavam as amarras do silêncio. O Damásio ficou-me eternamente na memória. Até sempre, camarada! 


Damásio (à esquerda) com o enfermeiro Alfredo Dinis, no navio Niassa a caminho da Guiné (foto do saudoso Dinis, membro da nossa Tabanca) 

Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados. 
____________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P10315: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte IV: Atividade operacional, de maio a julho de 1971 (Orlando Silva)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 &gt  Um dos poucos momentos de descanso no Bar de Oficiais: Alf Rodrigues, Alf Cunha, Cap Parracho e Alf Cristina. 


 .

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > Vista aérea do quartel, tabanca e pista de aviação.

Fotos (e legendas): © Orlando Silva (2009). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 &gt > Foto nº 17 - "O Furriel Noronha quando tentava o levantamento de uma mina A/Carro TMD na picada que vai de Guileje a Gadamael" (Legenda: Orlando Silva).

Foto: © Jorge Parracho / AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação da história da CCAÇ 3325, que esteve eem Guileje, de janeiro a dezembro de 1971, reproduzida aqui com a devida autorização do autor, José Orlando Almeida e Silva, ex-alf mil, residente em Aveiro (*). 

Actividade operacional:

De 1 a 29 de Maio de 1971:

Realizámos mais 16 patrulhas.

Neste período há a assinalar especialmente o facto dos poços onde as NT se abasteciam de água na Bolanha terem secado, o que originou até mais de meados do mês sérios problemas. Procedemos então à abertura de uma picada até ao Rio Caconde que permitiu o trânsito de viaturas, ficando assim o assunto solucionado.

A actividade operacional das NT foi orientada no sentido de manter livre o itinerário Guileje-Gadamael, atendendo às colunas de reabastecimento que se iam realizar antes da época das chuvas.

Já no fim deste período, foi descoberto uma nova Base de Fogos do IN. O moral do nosso pessoal foi no entanto afectado pelo suicídio do Furriel de Transmissões. Os tempos livres dos nosso militares continuaram a ser, a limpeza do Quartel, o seu melhoramento exterior (embora lento por falta de materiais) e a prática de algum desporto. 


De 01 a 30 de Junho de 1971:

Realizámos mais 21 patrulhas.

Neste período, há a assinalar o corte de comunicações com Gadamael em virtude das chuvas torrenciais que caíram, ficando a Companhia totalmente isolada e ùnicamente com ligações aéreas, situação esta que se iria manter até fins de Novembro.

Entretanto fomos informados, de que o IN tinha sido reforçado na nossa Zona de Acção por um pelotão de Sapadores Cubanos, o que nos veio alertar para a possível montagem de Minas e Armadilhas, uma vez que o IN não nos enfrentava por medo da nossa actuação.

E na continuação da picagem da estrada Guileje-Gadamael para a realização das colunas de reabastecimento, foi detectada pelo meu Grupo uma Mina Anti-Pessoal PMD-6. Procedi ao seu levantamento e mais à frente, quando já tínhamos passado 17 pelo mesmo local, o 18º (Soldado Vera Cruz) calcou uma mina A/P, ficando gravemente ferido, tendo sido transportado para o Hospital Militar de Bissau.

No dia seguinte, imediatamente realizámos outra acção ao mesmo itinerário, tendo-se levantado mais 7 minas do mesmo tipo, o que contribuiu para uma elevação do moral da Companhia.

Através da Artilharia, o 15º PELART bateu por diversas vezes o “Corredor de Guileje ” tendo causado muitas baixas ao IN o que, segundo informações recebidas, causou grandes problemas às suas colunas.
O período foi essencialmente caracterizado por um intenso esforço logístico, tanto no aspecto de transporte como no de um melhoramento, aumentos e construções de depósitos e paióis, conseguindo-se com grande esforço do pessoal uma sensível melhoria na armazenagem, de géneros, artigos de cantina e munições. Em outros sectores, também se fizeram beneficiações como seja no Centro de Transmissões, Centro de Cripto, Sala do Soldado e Padaria.


 De 1 a 31 de Julho de 1971:

Foram realizadas mais 18 acções de combate.

A actividade do IN aumentou durante o período, principalmente no que se refere à implantação de Engenhos Explosivos, visando cortar ou pelo menos dificultar as ligações entre Guileje e Gadamael, confirmando-se assim as informações que havia sobre as possíveis acções sobre aquele itinerário. O esforço do IN teve lugar porém quando já não se realizavam mais colunas auto, em virtude das más condições da estrada. E pela primeira vez o IN aplicou,  na nossa Zona de Acção, Minas Anti-Carro.

Verificámos pois que o IN pretendia fixar as NT, imobilizando-as, também à custa de minas Anti-Pessoal e Armadilhas que ia implantando em grande percentagem na ZA. Assinale-se que desde princípio de 1970 até Junho de 1971, nunca tinham sido detectadas minas na ZA da Companhia.
De assinalar também o volume de fogo usado pelo IN na flagelação ao Aquartelamento no dia 29, e que a mesma tinha sido dirigida por Cubanos, conforme conversas captadas pelos nossos rádios e posteriores declarações de um prisioneiro.

Numa outra acção realizada àquela estrada, e embora devidamente avisados para não saírem da picada, um soldado, nas minhas costas, saiu para se instalar à sombra e infelizmente calcou uma mina, ficando gravemente ferido, vindo a falecer já em Bissau, o que afectou o moral do pessoal. No dia seguinte, de imediato foi realizada outra acção ao mesmo local, tendo sido encontradas e levantadas então 5 Minas A/P PMD-6, 3 Minas Plásticas, 2 Armadilhas A/P e 1 Mina A/C TMD.

De salientar que só com uma picagem muito criteriosa, conseguimos descobrir a primeira Mina Plástica. Passava pois despercebida, com uma picagem normal. Pelo seu interesse militar, foi tentada a desmontagem de uma dessas minas, o que se conseguiu. O estudo foi feito com esquema, e difundido de imediato por todo o TO da Guiné. Salienta-se que estas minas A/P Plásticas (cor verde) foram as primeiras a serem detectadas e levantadas no TO da Guiné. Destruíram-se também 3 Minas A/C TMD que se encontravam armadilhadas.

Estas acções e principalmente a acção sobre o “Corredor de Guileje” na Zona de Intervenção do Comando Chefe (ZICC) visando a implantação de Minas A/C e A/P, fizeram subir consideravelmente o moral do nosso pessoal.

Como se tratava de uma zona onde só costumavam actuar as tropas especiais, e onde todas as noites e dias andava a nossa aviação a bombardear, era uma zona totalmente desconhecida das NT. No entanto, como queríamos demonstrar ao IN que quem mandava na nossa Z.A. éramos nós, solicitámos a devida autorização e,  embora admirados, a Rep-Oper em Bissau autorizou-nos.

E com o auxílio de uma bússula conseguimos por fim atingir o objectivo. Na picada, viam-se sinais de rodados recentes, prova da utilização no “Corredor de Guileje” de viaturas. Quando o pessoal se encontrava a montar as Minas, apareceu vindo da Rep da Guiné um Grupo de cerca de 20 elementos camuflados e armados. As nossas tropas abriram fogo, pondo o IN em fuga depois de trocar alguns tiros. O IN abandonou no local várias peças de vestuário, comida, utensílios vários e correspondência, alguma dela do Chefe da Base de Kandiafara e de elementos Cubanos.

Continuaram neste período a realizar-se beneficiações nas instalações dos Oficiais, Sargentos e Praças, além de se comprarem gira-discos, violas e vários jogos para entretenimento do pessoal. Lutou-se porém, com grande dificuldade no que respeita a alimentação e transportes, como consequência do isolamento.

(Continua)

_______________

Nota do editor:


Último poste da série > 19 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10278: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte III: Atividade operacional, de 31 de janeiro a 29 de abril de 1971 (Orlando Silva)

sábado, 1 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10314: Convívios (467): Almoço convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972, Setúbal - 5 de Outubro de 2012 (Manuel Freitas)



1. O nosso Camarada Manuel Freitas, que foi 1º Cabo Escriturário no HM 241 - Bissau - 1968/70, solicita-nos a divulgação do próximo convívio do Almoço/Convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972 


Almoço convívio do pessoal que esteve no HM241 entre os anos 1967 e 1972

5 de Outubro de 2012 - Setúbal 

Caro amigo Luís Graça, 

Pedia-te o favor de anunciares no nosso blogue o almoço/convívio que organizo há 11 anos. 

Este ano vai decorrer em Setúbal, no dia 5 de Outubro de 2012. 

A concentração vai efectuar-se junto ao Estádio do Bonfim, a partir das 10h30 e o almoço será em Palmela no restaurante Dª Isilda. 

 Este convívio destina-se aos ex-militares que estiveram no HM241 entre os anos 1967 e 1972. 


Contactos: 
manuel.freitas@equicontas.com 
ou 964498832 - telemóvel. 

Agradeço-te e envio-te um grande abraço, 

Manuel Freitas 
1º Cabo Escriturário do HM 241 
____________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P10313 Efemérides (108): No dia em que o primeiro homem pisou a lua... Neil Armstrong (1930-2012), um herói do nosso tempo, visto de Samba Cumbera, tabanca fula a sudoeste de Galomaro, longe do Vietname, a 400 mil km de distância do nosso satélite (Rui Felício / Luís Graça)



Neil Armstrong (1930-2012), antigo combatente da guerra da Coreia, astronauta da NASA, o primeiro homem a pisar a lua... Foto da NASA, tirada a 1 de julho de 1969. (Fonte: Wikipédia).


1. Ontem foi um dia especial, 6ª sexta-feira, 31 de agosto de 2012... Dia de lua cheia, a "lua azul" (nome da lua quando ocorre duas luas cheias no mesmo mês: tinha ocorrido uma primeira lua cheia a 2 de agosto e a agora ocorreu a segunda: é um fenónemo com alguma raridade, acontece em cada  dois anos e picos...  A lua azul anterior ocorreu em dezembro de 2009, e a próxima será em julho de 2015).

Por estranha coincidência ou não, o primeiro homem que pisou a lua, Neil Armstrong, foi ontem a enterrar, numa cerimónia privada. Tinha morrido dias antes, a 25 de agosto de 2012. Com 82 anos. Na Grécia antiga, seria um herói, um semideus. Para os norte-americanos, e para todos os habitantes do planeta, o dia 20 de julho de 1969 foi uma datas mais memoráveis do séc. XX, e o comandante da missão Apolo 11 tornou-se um "ícone global", A família definiu-o como um "herói americano relutante"...Milhões de pessoas viram-no, pela televisão, em direto, descer na superfície lunar. Ele e Edwin Aldrin foram os primeiros humanos a descer no satélite da terra e explorar, durante 2 horas e meia, a sua superfície.

Nascido em 1930, Neil Armstrong começou por servir o seu país, na marinha de guerra, foi piloto e combateu na guerra da Coreia. Entrou para a NASA em 1962 e em 1965 comandou a missão Gemini VIII, indo pela primeira vez para o espaço.

Em 20 de julho o nosso camarada Rui Felício estava com o seu grupo de combate reforçando o sistema de autodefesa de uma tabanca, Samba Cumbera,  a sudoeste de Galomaro. Ele era um dos "baixinhos de Dulombi", alf mil da CCAÇ 2405, adido ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Eu. por minha vez,  tinha chegado Bambadinca, sede do setor L1, em 18 de julho, vindo de Contuboel. A minha companhia, CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), passava a estar às ordens do comando daquele batalhão.

Em 20 de julho de 1969, domingo, não soube lamentavelmente desse grande acontecimento, de imediato reconhecido como um marco na história da humanidade. Ou se soube, não me lembro. Alguns dias depois, a 24 de julho, 3 grupos de combate da minha companhia tiveram o seu batismo de fogo, em farda nº 3, ainda nem sequer tinham chegado os camuflados para os nossos  soldados africanos. Em Madina Xaquili, a sudeste de Galomaro... na Guiné, longe do Vietname, a menos de 400 mil km da lua... 

Sobre esta efeméride o Rui Felício, um, homem sábio, escreveu um poste de antologia, na I Série do nosso blogue (nº 640, de 19 de março 2006).  Muitos leitores não o conhecem, nem ao poste nem ao autor. É da mais elementar justiça reeditá-lo. É ao mesmo tempo quádrupla homenagem, (i) ao Rui Felício, português, ecuménico, tolerante, sábio;  (ii) ao seu companheiro daquela noite, o Samba, chefe da tabanca de Samba Cumbera, um outro homem sábio, fula, guineense, muçulmano;   (iii)  ao primeiro homem que pisou a lua e que acaba de nos deixar, um herói do nosso tempo; e  ainda, e porque não, (iv) à lua, ora azul, ora vermelha, ora prateada, o satélite do nosso planeta que nos fascina, emociona, inspira, intriga, interpela, provoca, desafia...e a quem os cães ladram...LG


A lua, nosso satélite... Foto da NASA


Aldrin, da missão Apolo 11, na superfície lunar, em 20 de julho de 1969. Foto da NASA.



31 de agosto de 2012 > A minha "lua azul", tirada de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, Portugal... (Foto de Luís Graça)




2. O dia em que o homem foi à lua
por Rui Felício


Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta [, Neil Armstrong] afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transistores que nos mantinham ligados ao mundo.

Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo.

Mas nos confins da mata, longe de toda a civilização, a importante notícia precisava de ser partilhada e divulgada... Os soldados se encarregariam de o fazer à sua maneira, junto das bajudas. Por mim, preferia meditar sobre o assunto, silenciosamente... Afinal os nossos avós jamais imaginariam que alguma vez o homem pudesse chegar à Lua, apesar de Júlio Verne, o visionário do século anterior, já o ter previsto…

E, longe das mais modernas evoluções da ciência e da tecnologia, os naturais da Guiné que nasciam e morriam na sua aldeia da selva sem nunca sairem do pequeno perímetro onde viviam, muito menos sonhariam com essa utópica possibilidade de o homem chegar à Lua.

Como muitas vezes fazia, depois de jantar, sentei-me numa cadeira de fula, onde descansava semi deitado, olhando o céu, nessa noite muito limpo e estrelado…Bem alto, a luz branca da lua, em quarto crescente, derramava-se pela orla da floresta e pelos cones de capim dos telhados das tabancas, desenhando sombras fantasmagóricas pelo terreno limpo do centro da aldeia.

E mantive-me assim deitado, o olhar fixo na lua, tentando perscrutar o mais pequeno sinal da presença do homem que eu sabia estar ali vagueando, em qualquer lugar do Mar das Tempestades…

Não sei quanto tempo assim me mantive, absorto, atento e quieto… Despertei e voltei à realidade com a voz do meu simpático amigo Samba, Chefe da Tabanca de Samba Cumbera, que me perguntava se podia sentar-se a meu lado, para o qual arrastara uma cadeira semelhante à minha…

Era um homem de grande cultura árabe, que conhecia muito da história do islamismo, que sabia com um estranho rigor a exacta direcção de Meca, que lia e escrevia árabe, que conhecia em pormenor toda a história dos Fulas e da razão de ser da sua permanência na terra da Guiné… Para onde, dizia, foram empurrados em sucessivas lutas tribais com os seus rivais Mandingas…

As nossas conversas eram normalmente muito agradáveis e, posso dizer, sempre aprendi mais com ele do que ele comigo…Temos a tendência e o preconceito de avaliar os outros pelos nossos parâmetros e pela nossa cultura, catalogando-os de bárbaros e analfabetos só porque não têm o conhecimento e a instrução, medidos pelos nossos padrões.

Aprendi que no meio daquela gente existiam homens com conhecimento mais vasto e aprofundado que muitos dos nossos soldados… O Samba era um deles…Perguntou-me porque estava tão pensativo e quieto… Respondi-lhe que aquela noite era muito especial para o mundo, porque estava se passando algo que nunca antes tinha acontecido…

Franziu o rosto, comentando que, pelo meu ar, não devia ser coisa boa… Sorri, dizendo-lhe que era exactamente o contrário…E, embora sabendo de antemão a resposta, perguntei-lhe apenas como forma de iniciar a revelação do que estava acontecendo:
- Sabes que neste preciso momento um homem como nós caminha na lua que está ali em cima diante dos nossos olhos?

A reacção foi inesperada e contrária a tudo o que eu teria imaginado:
- Alfero! Não é um homem como nós, não! É o profeta Maomé que, juntamente com Alá, dali nos vigia a todos, para nos proteger, nos ensinar o caminho justo e para nos castigar quando dele nos desviamos…

E prosseguiu:
- Como é possível que homem grande e instruído como o Alfero, só hoje soubesse isso? Não entendo mesmo!...

Pensei durante uns segundos se devia argumentar, puxar dos meus galões de homem civilizado, e demonstrar-lhe a minha superioridade, provando-lhe que não era nada daquilo que ele dizia. Desisti de o fazer…

Afinal, ambos nos estávamos alimentando de sonhos… e, cada um à sua maneira, sentíamo-nos felizes pela beleza insubstituível de um luar africano em noite calma e limpída…Independentemente de quem lá estava caminhando naquele momento…

Rui Felício,
Ex-Alf Mil Inf,
3º Gr Comb
CCAÇ 2405
(Dulombi, 1968/70)

P.S. - Passados dias, com a chegada de um jornal de Lisboa, mostrei-lhe as fotografias do astronauta pisando a Lua. E, então expliquei-lhe o que realmente se tinha passado naquela noite… Pelo seu ar meio trocista, ainda hoje não sei se o convenci… Mas como ele também não me convenceu que por lá andavam Alá e o Maomé, ficamos quites, cada um na sua... em paz!

_____________


Notas do editor:


Último poste da série > 10 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10246: Efemérides (107): Dia 10 de Agosto de 1972 - Naufrágio no Rio Geba de um sintex com pessoal da CART 3494 (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P10312: Parabéns a você (467): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

Para aceder aos postes do nosso camarada Manuel Joaquim, clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10304: Parabéns a você (463): António Barbosa, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Guiné, 1966/68) e José Corceiro, ex-1º cabo trms. CCAÇ 5 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10311: (Ex)citações (193): Telefono regulamente ao Armor Pires Mota e a outros camaradas do BCAV 490 (1963/65)... mas somos cada vez menos (Jaime Segura)

1. Mensagem do Jaime Segura, nosso leitor (e camarada da CCAV 488/BCAV 490, 1963/65), com data de 27 do corrente, a propósito do poste P10302:

Viva, boa tarde.

O Armor Mota continua a ser um velho amigo, que vive na Oiã, e com quem eu troco mails e telefonemas assíduos, e vemo-nos de vez em quando. Também convivo regularmente com o ex-alferes Fernando Correia, da minha companhia, e que vive em V.N.Gaia.

Convivo telefonicamente e por mail, com diversos elementos do BCAV 490, a maioria do Alentejo. Também falo por telefone regularmente com o ex-alferes Rui Ferreira, que vive no Algarve. Enfim, não há mês nenhum que eu não telefone para uma série de ex-combatentes do BCAV 490. Se calhar a idade avança e... a saudade aumenta! E cada vez somos menos!...

Também convivo regularmente com ex~furriel Manuel Coelho, que embora não pertencendo ao BCAV, esteve na Guiné na mesma altura que eu, e pertencia ao Batalhão do ten-cor. Hélio Felgas.

Vou digitalizar as fotos pedidas e enviá-las, muito em breve.

Entretanto, aqui fica um abraço,

Jaime Segura

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 13 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10259: (Ex)citações (192): Ainda as afirmações do senhor René Pélissier àcerca do nosso blogue (António Melo)