quinta-feira, 7 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11208: Álbum fotográfico de Abílio Pimentel (ex-fur mil, CCAÇ 2617, Os Magriços do Guileje, Pirada e Guileje, 1969/71) (Parte I)




Foto nº 128 > "O marco do correio"


Foto nº 127 - S/l


Foto s/nº - A bela... Fatumata




Foto s/ nº - "Fora do quartel1"



Foto s/ nº - "Fora do quartel4"



Foto s/ nº - "População 2"




Foto s/ nº - "População 4"... O Abílio Pimentel com um belo exemplar de um felino, um leopardo (panthera pardus), possivelmente abatido por uma caçador local.  Não confundir com a onça, que é um felino sul-americano...


Foto: Leopardo, Parque Nacional do  Serengeti, Tanzânia, 2007-02-13 18:08. Dimensões: 1536×2048×8 (711868 bytes). Autor: Jan Erkamp. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia.


Guine > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 2617, Os Magriços do Guileje, Março de 1970 / Fevereiro de 1971..  O elemento que aparece em todas as fotos é o Abílio Pimentel, ex-fur mil... Estas fotos fazem parte do seu álbum (cerca de 35 imagens, a cores e a preto e branco, disponibilizadas pelo autor, ou alguém por ele,  ao nosso amigo Pepito, no âmbito do projeto  Núcleo Museológico Memória de Guiledje; sem legendas ou fracamente legendadas).

O nome completo do nome é Abílio Alberto Pimentel Assunção. Sei que vive (ou vivia no Seixal), mas não tenho nenhum contacto dele. Espero que nos leia e nos dê notícias. O único "magriço do Guileje" que faz parte da nossa Tabanca Grande é o José Crisóstomo Lucas, ex-af mil op esp.

Fotos: © Abílio Pimentel (2006) / AD - Acção para o Desenvolvimento. Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]

Esta companhia passou por Pirada, na zona leste, antes de ser colocada em Guileje. As unidades sediadas em Guilele, por ordem cronológica (1964/73) (com o respectivo elemento de ligação à ONG AD, do nosso amigo Pepito, foram as seguintes: 

CCAÇ 495 (Fev 1964/Jan 1965)
CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) (contactos: Teco e Nuno Rubim)
CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966) (contacto: Nuno Rubim )
CAÇ 1477 (Dez 1966/Jul 1967) (contacto: Cap Rino)
CART 1613 (Jun 1967/Mai 1968) (contacto: Cap Neto) [infelizmente já desaparecido, José Neto, 1929-2007]
CCAÇ 2316 (Mai 1968/Jun 1969) (contacto: Cap Vasconcelos)
CART 2410 (Jun 1969/Mar 1970) (contacto: Armindo Batata)
CCAÇ 2617, Os Magriços (Mar 1970/Fev 1971) (contacto: Abílio Pimentel)
CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971) (contacto: Jorge Parracho);
CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje  (Nov 1971 / Dez 1972)  (contacto: Amaro Munhoz Samúdio);
CCAV 8350, os Piratas de Guileje  (Dez 1972/Mai 1973) (contacto: José Casimiro Carvalho )

Guiné 63/74 - P11207: (In)citações (50): "A Voz da População", um filme dos nossos amigos da AD-Bissau, sobre a experiência pioneira das rádios comunitárias... Com a Rádio Voz Quelelé à cabeça, são já 30, cobrindo praticamente todo o país

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Vídeo (26' 23''): "A Voz da População"

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2012). Todos os direitos reservados [Cortesia da Margas Filmes]

1. Os nossos amigos e parceiros da ONG  AD -Acção para o Desenvolvimento,  com sede em Bissau (#), no bairro do Quelelé,  estão de parabéns: acabam de lançar um filme sobre a história e o desenvolvimento das “Rádios Comunitárias da Guiné-Bissau”, sob o título "A "Voz da População".(##)

O filme, com a duração de 26 minutos foi financiado pela OXFAM NOVIB. Tem argumento e texto de Lucia van den Bergh e realização e imagem de Andrzej Kowalski. Nele participaram jovens das três televisões comunitárias da AD, lideradas por Demba Sanhá, relatando a evolução deste meio de comunicação comunitário, desde o tempo em que se deu a abertura politica na Guiné-Bissau, até à sua instalação em quase todos os setores administrativos  do país. Cerca de 3 dezenas de rádios comunitárias cobrem hoje praticamente todo o país, desde Bissau ao Boé e do Cacheu ao Tombali  (*)

A Rádio Voz de Quelélé foi a primeira a ser criada, justamente em 4 de Fevereiro de 1994, pela Associação dos Moradores do Bairro de Quelélé, com o apoio da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, cujo diretor executivo é o nosso amigo Pepito (Eng agr Carlos Schwarz). (**)

No sítio da AD, na Internet, pode ler-se: " Para nós, guineenses, é uma enorme alegria poder estar na liderança deste processo em todos os países africanos com os quais fizemos o percurso para a independência nacional. Este filme está disponivel em 3 idiomas: português, francês e inglês. Convidamos todos a aceder a qualquer destas versões e a dá-la a conhecer nos respectivos países".

(#) Contacto: ONG AD – Acção Para o Desenvolvimento
Caixa Postal 606
Bairro de Quelelé
Bissau
República da Guiné-Bissau
Email: adbissau.ad@gmail.com
URL: http://www.adbissau.org/
FB: https://www.facebook.com/adbissau

(##) Ficha técnica:

Realização: Andrzej Kowalsk
Argumento e texto: Lucia van den Bergh
Locução: José H. Neto
Imagem:  Andrzej Kowalsk
Assistente de câmara:
Demba Sanhá
Inácio Mamadu Mané
Edição: Luís Margalhau
Tradução: J. H. Neto
Posprodução: Margas Filmes

Agradecimentos:

Rádio Voz Quelelé (, bairro do Quelelé, Bissau]
Rádio Kassumai [, São Domingos, região do Cacheu]
Rádio Balafom [, Ingoré, região do Cacheu]
Rádio Lamparam [, Iemberém, região de Tombali]
TVK - Televisão Comunitária do Quelelé
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11202: (In)citações (49): Quando os vencidos é que fazem a história... Ou, como lá diz o provérbio, "dunu di boka más dunu de mala" [, mais vale ter uma grande boca do que uma grande mala] (Cherno Baldé)

(**) Um caso de sucesso, a Rádio Voz Quelelé (RVQ) no combate contra o surto de epidemia de cólera (Bissau, 1994):

(...) Por iniciativa particular de José Henriques, então técnico da ICAO a dar assistência técnica à Guiné-Bissau e que dedicou toda a sua vida, entusiasmo e competência à promoção de novas e modernas tecnologias de comunicação adaptadas ao desenvolvimento do país, a ONG Acção para o Desenvolvimento (AD) envolveu-se na criação desta primeira rádio comunitária que veio trazer ao bairro uma dinâmica de auto confiança e identidade que se está a transformar num instrumento útil de desenvolvimento colectivo.

Foi nesse ano que se dava então início à experiência daquela que passou a ser a primeira rádio comunitária de Guiné-Bissau, a partir de um pequeno equipamento de base; uma consola e uma antena as emissões cobriam um raio de cerca de 4km. Atingindo o bairro de Quelelé, com cerca de 10.000 habitantes, bem como alguns bairros limítrofes como Cumtum, Bairro Militar, Bor e Bra.

A adesão e entusiasmo criado nos habitantes do bairro, particularmente nos jovens que foram os primeiros a aderirem em força, aliados ao facto de se estar em vésperas de eleições presidenciais e legislativas levaram o poder político a interditar o funcionamento da rádio Voz de Quelelé e ordenar o seu enceramento, pretextando o não cumprimento das leis do país.

Com o surgimento de epidemia de cólera em outubro de 1994 e do pânico generalizado que se viveu, a rádio Voz de Quelelé decidiu recomeçar as suas emissões. Se no princípio do ano a rádio Voz de Quelele funcionava apenas aos fim de semana, nas manhãs de sábado e domingo, já nesta fase as emissões passaram a ser diárias, apenas no período da tarde.

O maior sucesso da rádio Voz de Quelele foi sem dúvida o combate à cólera, uma actividade que se baseou em duas vertentes: a) Organização da população para limpeza do bairro, remoção do lixo desinfecção do poços, evacuação dos doentes para o hospital (a AD teve um veículo sempre à disposição), desinfecção em casa dos doentes, visitas diárias dos membros do comité dos moradores a cada residência a fim de detectar casos de cólera; b) Sensibilização da população para uma maior higiene doméstica, para um maior e reforçado acompanhamento das crianças, para a explicação da origem e formas de propagação da doença.

Toda a campanha utilizou fundamentalmente a rádio Voz de Quelelé, onde regularmente vinham médicos da AD que respondiam às questões pertinentes colocadas diariamente pela população em mensagens adaptadas a uma linguagem directa e passadas nas várias línguas das etnias do bairro.

Segundo informações de que se dispõe, o bairro de Quelelé tera sido o menos atingido de Bissau por esta doença, com apenas seis casos confirmados de cólera, um dos quais mortal. (...)

Guiné 63/74 - P11206: Humor de caserna (31): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (4): A família Mauser K98

1. Em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador...




A FAMÍLIA MAUSER K98

A “Família Mauser K98”, com todas aquelas coisas que os amigos antigos combatentes, tiverem a pachorra de ler, e ficaram por certo com o coração a transbordar de saudades, e também alguma mágoa, destas jovens, que desprotegidas, viram no seu alistamento nas forças militares do seu país, um meio de sobrevivência.

De novo o Cifra, vai começar com aquele blá, blá, blá, que já conhecem, e pedindo antecipadamente desculpas às digníssimas leitoras, que sempre têm a amabilidade de abriram a página do Luís Graça & Camaradas da Guiné, ao Luís Graça, Carlos Vinhal e demais editores, que por certo, encolhem os ombros, e sabem que daqui não sai coisa que se veja, mas a linguagem é correcta, é uma cópia da verdade dos factos, só que alguns dos antigos combatentes e não só, é que pensam logo coisas que não são, portanto, para os que vivem no mundo onde se fala inglês, vão por certo dizer:
- The history of “Family Mauser K98”, was not even bad.

No mundo onde se fala francês, dizem:
- L’histoire de “Famille Mauser K98”, n’était même pas mal.

Onde se fala germânico, friamente dizem:
- Die Geschichte von “Family Mauser K98”, war nicht einmal schlecht.

No mundo que se fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- La historia de la “Familia Mauser K98”, ni siquiera era malo.

Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:



Perceberam? Não? Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu.

E nós portugueses, dizemos, com um pouco de enfado:
- A história da “Família Mauser K98”, até nem era má.

Portanto cá vai, como já sabem, era uma família rural, viviam num país frio e do que lhes dava a natureza, elas, as duas irmãs orfãs, que restaram desta família, não vendo outro meio de sobrevivência, resolveram alistar-se nas forças militares do seu país. Cumpriram o seu tempo de serviço, regressam à sua aldeia rural, uma, a mais velha, morreu com uma doença nova, que os médicos ainda não conheciam, mas mais tarde veio a saber-se, era a doença da guerra, o chamado “stress de guerra”, ficou ali calada, nervosa, não podia ouvir ninguém a contrariá-la, não comia, passava o dia sem falar, levantava-se de noite e passava horas e horas acordada, a pensar em tudo menos em dormir, e um dia “pifou-se”.


A mais nova juntou-se a um coronel reformado que lhe “arranjou” uma filha, que na voz do povo, queria dizer engravidou-a, que é aquela que está na foto acima, onde o Cifra colocou a imagem ao lado, com aqueles homens novos todos, a fazerem força, e ela ao lado descontraída, só para comparação, que podia media forças com qualquer Curvas, alto e refilão que lhe aparecesse, e estava ali forte, pronta a medir essas forças, em qualquer situação, com estes rapazes novos cheios de vigor, que ela estava pronta a “aviar”, que na linguagem do povo era “despachar”, vencer, em caso de provocação, e diziam mesmo que de uma vez “aviou” seis, que se lhe cruzaram na sua frente, quase sem roupa, com a desculpa de que queriam tomar banho, mas ela sempre confiante no seu corpo, e talvez herdando o treino da sua mãe, colocou-se de cócaras, tal como um lutador japonês, e de um a um, “aviou-os” a todos, que derrotados, seguiram o seu destino, alguns caminhando com dificuldade, mesmo com as pernas abertas, quase “derrapando”, sem respeitarem a placa de sinalização de tráfico, que a foto mostra, e com ar de sofrimento, como se pode ver na foto acima.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11131: Humor de caserna (30): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (3): Outra vez guerra?

Guiné 63/74 – P11205: Convívios (497): XIV Convívio da CCAÇ 3549, no próximo dia 23 de Março, em Queirã/Tondela (José Cortes)


1. O nosso Camarada José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74, solicita-nos a divulgação do programa da festa anual - 2013 -, da sua companhia.





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Nota de MR: 

Vd. último poste da série em: 


quarta-feira, 6 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11204: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (4): Mansoa, julho de 1974: os primeiros encontros de paz com o PAIGC


Foto nº 1 - Encontro com o PAIGC


Foto nº 2 - Encontro com o PAIGC 


Foto nº 3 - Encontro com o PAIGC 


Foto nº 4 - Encontro com o PAIGC 


Foto nº 5 - Encontro com o PAIGC 


Foto nº 6 - Mansoa, guerrilheiros do PAIGC

Foto nº 7 - Mansoa, ponte sobre o Rio Mansoa



Foto nº 8 - Mansoa, o "ninho", espaldão do obus 14


Foto nº 9 - Mansoa, a tabanca


Guiné > Região do Oio  > Mansoa  > 1974 > BCAÇ 4612 (1972/74) > 1974 > Legenda do Jorge Canhão:

"Os oficiais que eu identifico,estão todos na 1ª foto.São da esquerda para a direita: Comandante da 2ª CCaç/BCaç 4612/72 (Jugudul), Almada Contreiras, assíduo participante (e já organizador) dos encontros da sua CCaç. O seguinte é o saudoso capitão de operações do BCAÇ  4612/72 (CCS), Fernando Pereira Vicente,também um assíduo presente nos encontros das diversas companhias do Batalão.  O 3º oficial é o já falecido Cmtd do BCAÇ  4612/72, Ten Cor Eurico Simões Mateus, conhecido entre nós por 'O Libelinha'.  Sobre o local,  parece-me ser Jugudul, mas em breve tentarei saber. Sobre o outro capitão que aparece numa outra foto, talvez o Magalhães Ribeiro ou alguém do destacamento do Polibaque possa esclarecer". 

Fotos: © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso amigo e camarada Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74).

Estas fotos, relativas a Mansoa.  chegaram-nos às mãos através de outro grã-tabanqueiro, o Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), residente em Leiria. Os nossos especiais agradecimentos aos dois, e muito em especial ao nosso camarada Jorge Canhão, que está a recuperar dos problemas de saúde. Já aqui lhe desejámos publicamente  rápidas melhoras e o rápido regresso, em boa forma, ao nosso convívio. Vamos, por isso,  fazer-lhe uma grande receção em Monte Real, no dia 22 de junho de 2013, por ocasião do VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, evento para o qual ele já antecipadamente  se inscreveu.

Não sabemos quem é o autor (ou quem são aos autores) das fotos: as seis primeiras têm a ver com os primeiros contactos com o PAIGC; uma delegação do PAIGC passa a estar sediada, permanentemente em Mansoa, a partir de 19 de julho de 1974. As três últimas (nºs 7, 8 e 9) podem não ser de 1974. Estas fotos constam de um CD, do Agostinho Gaspar, estão sob um ficheiro com a seguinte designação: Jorge Canhão > Vários Batalhão.

Reproduz-se aqui as páginas 111, 112 e 113 da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa e Gadamael, 1972/74). (*)






Guiné 63/74 - P11203: PAIGC: Dispositivo militar, antes do 25 de abril (História do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74, ed. revista, melhorada e aumentada por Jorge Canhã0)











N a zona oeste,. e ao longo da fronteira senegalesa, o PAIGC beneficiava das bases de M' Pacck, Campada, Sikoum, Cumbamory, e Hermacono






Na região leste, o PAIGC dispunha das bases,  situadas em território da Guiné-Conacri, de Foulamansa / Kaorané / Missirá, Foulamory, Kambera [, também designada por Madina do Boé]  e Koundara (centro logístico)


Na região sul, o PAIGC dispunha de duas bases fundamentais, situadas na Guiné-Conacri, Kandiafara e Boké (centro logístico).





1. Dispositivo militar do PAIGC. Infografia constante da História do BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74), conforme versão em formato pdf, revista, melhorada e aumentada por Jorge Canhão, ex-fur mil at inf, 3ª CCAÇ.

Desconheço  a origem deste documento, o mapa  com a distribuição das forças do PAIGC. Mas presumo que seja de meados de 1973, e seja nosso, oriundo do próprio Quartel General (QG).  O mapa, inserido logo no início do documento, ocupa uma página. Foi recortado por mim, em diversas partes (quadrantes), de modo a tornar-se mais legível. È pena que o Jorge não tenha citado a fonte. Mas tudo indica que é, de facto,  um documento nosso,  até pelas  letras desenhadas a escantilhão.(Repare-se que há correções, a "corretor branco",  da responsabilidade do Jorge Canhão):

No início da história da unidade  há uma nota do Jorge Canhão, que diz o seguinte: 

"As páginas deste documento em pdf não correspondem, como é obvio,  às páginas dos documentos originais, devido às alterações de forma, feitas por mim.

Fiz este trabalho no sentido de não se perder através dos tempos como mais facilmente acontece com documentos em papel, fi-lo também e principalmente como homenagem aos camaradas mortos na Guiné, assim como todos aqueles que já não estão connosco, mas que fizeram parte deste grande grupo de camaradas que pertenceram ao Batalhão de Caçadores 4612/72.

Quero também agradecer aos camaradas que nos forneceram fotocópias da História do Batalhão, e aqueles que por outros meios também me ajudaram e deram o pontapé de saída para que este trabalho fosse possível.

Os mapas aqui presentes foram tirados de livros editados, e outros documentos foram conseguidos na internet. Abraços para todos. Jorge Canhão, ex-furriel miliciano atirador de infantaria da 3ª Compª do BCaç 4612/72.

É também chegada a altura de homenagear o nosso camarada Jorge Canhão, que está a recuperar de recentes problemas de saúde. Desejamos-lhe rápidas melhoras e queremos que regresse, em boa forma, ao nosso convívio. Vamos fazer-lhe uma grande receção em Monte Real, no dia 22 de junho de 2013, por ocasião do VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande.

2. Uma leitura rápida do mapa permite-me tirar as seguintes conclusões:

(i) O PAIGC nunca conseguiu um presença efetiva, em homens e armas, no chão manjaco (Teixeira Pinto), no chão felupe (São Domingos), no chão bijagó  (Bolama), no chão fula (zona leste, eixo Bambadinca-Bafatá-Nova Lamego, com centro em Bafatá);

(ii) Foram muito importantes, para o PAIGC, ao longo da guerra (1963/74) as suas bases de retaguarda, nos dois países limítrofes, a começar pela Guiné-Conacri, que sempre apoiou abertamente a guerrilha, como no próprio Senegal, que tolerava a presença dos guerrilheiros...

(iii)  Com tempo e pachorra, poder-se calcular os efetivos totais do PAIGC, sabendo-se que, de acordo com o Supintrep 31, as equivalências numéricas eram as seguintes:

Bigrupo = 44
Bigrupo reforçado= 70
Grupo de artilharia= 50
Grupo de morteiros 82= 23
Grupo de canhões s/r= 23
Grupo de foguetões 122= 16
Pelotão de antiaéreas= 16
Grupo de morteiros 120= 40
Grupo de comandos= 50
Grupo especial de bazucas (RPG)=  20

(iv) Na zona do Xime/Xitole,  no final da guerra, parece haver apenas 2 bigrupos de infantaria (= 90 homens) e 2 grupos especiais de RPG (= 40), o que totaliza menos de 130 homens em armas, cerca de metade das forças estimadas no meu tempo, em 1969/71 (, estimativa que apontava para 5 bigrupos + artilharia);

(v) Os grupos especiais de artilharia (míssil terra-ar Strela), estão referenciados nas regiões fronteiriças: Kandiafara, e Kambera (no sul); Foulamannsa e Coumbamory (no norte);  no interior, a exceção parece ser o Morès e Sara, a norte do Geba; e o sul (Regiões de Quínara e Tombali): ao todo 4 grupos...

(vi) Os grupos de foguetões 122 mm (Graad ou "jato do Povo)" também estão localizados de preferência nas zonas fronteiriças; 

(viii) Enfim, esta infografia vale o que vale, sabendo-se que o PAIGC e as NT tinham  estratégias diferentes ao nível da sua implantação no terreno...

3. Reproduz-se a seguir um excerto (pp. 18/19) do relatório da 2ª Rep., já aqui transcrito na íntegra:

Vd. poste de 4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21








[Admitimos que esta estimativa peque por excesso... Em toda a parte do mundo os burocratas militares tendem a revalorizar  poder bélico do inimigo para se valorizarem a eles próprios ou poderem negociar mais meios com o  poder politico... Aliás, foi justamente isso que o PAIGC fez, depois da morte de Amílçcar Cabral, com os seus aliados internacionais...

Mas, ao fim de mais de um a década de guerra, o PAIGC tinha graves problemas de recrutamento humano, tal como nós... Em 1974,  a população civil e a guerrilha (Exército Popular e milícias) estão exaustos, cansados e com graves problemas de saúde, a avaliar por várias fontes internas... O tema do "mútuo cansaço da guerra" é glosado, por exemplo, no notável filme do Flora Gomes, de 1978, Mortu Nega (a morte negada), que passou há dias, em 2 de março,  na RTP África... Diga-se de passagem que se trata da primeira longa metragem do cinema do novo país lusófono... e que me surpreendeu agradavelmente; um grande filme de um grande cineasta, Tenho pena de o não ter visto exatamente desde o início].

Guiné 63/74 - P11202: (In)citações (49): Quando os vencidos é que fazem a história... Ou, como lá diz o provérbio, "dunu di boka más dunu de mala" [, mais vale ter uma grande boca do que uma grande mala] (Cherno Baldé)


1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P11190:

Caro Mário,

O conteúdo deste texto policopiado reporta-se as crónicas guerreiras do reino mandinga do Gabú, na sua última e derradeira fase que coincide com a revolta dos Fulas encabeçados por "Alfa" Molo Baldé rei do Firdu pai de Mussa Molo, este último bem conhecido pelos portugueses pelas suas frequentes incursões e razias nos territórios ainda em disputa dos regulados de Ganadu/joladu, Sancorla e Mancorse, antes da conquista final pelos Almames de Timbo e Kadé(Futa-Djalon).

Relativamente ao Djanké Uali, penso que se trata, como já referi, de crónicas guerreiras e não lendas, por tratar-se de um periodo mais ou menos recente (2ª metade do sêc. XIX), mais ou menos bem conhecido da historiografia africana ou europeia, tanto escrita como oral.

As localidades de Beré-colon (Sector de Contuboel, arredores de Fajonquito) e Kansala (Sector de Pirada) são bem conhecidas e os seus vestígios são objeto de visitas de pesquisadores e simples curiosos.

O mais interessante nestas crónicas, popularizadas pelos Djidius,  mandingas de Korá, é o facto de que são os vencidos que fazem a história, transformando os derrotados (os guerreiros de Djanké Uali) em heróis invencíveis, cujo fim deve ser visto como o fim do mundo (Turban) o que, a meu ver, constitui um enigma ou, no mínimo, um paradoxo da nossa história que a discrição prática, própria dos fulas,  permitiu crescer até atingir dimensões delirantes. Isto é tão real que quase ninguém conhece os nomes dos comandantes e chefes dos exércitos fulas que estiveram na origem das derrotas dos mandingas tanto em Beré-colon como Kansala.

É, como diz um provérbio krioulo, "dunu di boka más dunu de mala",  ou seja, mais vale ter uma grande boca do que uma grande mala [, mais ou menos equivalente ao português "ter mais fama do que proveito", ... se bem que "fama sem proveito faz mal... ao peito"... LG].

Um abraço amigo,

Cherno Baldé
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11169: (In)citações (48): Vídeo "A Outra Guiné / The Other Guinea", de Hugo Costa e Francisco Santos, ou o regresso ao passado do Albano Costa, ex-1º cabo, CCAÇ 4150 (Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74)

Guiné 63/74 - P11201: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (7): Patrulhamentos no Pilão

1. Em mensagem do dia 28 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74), enviou mais uma crónica para a sua série Um amanuense em terras de Kako Baldé.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé

(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné) 

6 - Patrulhamentos no Pilão

Durante os cerca de 30 meses em que permaneci nas fileiras do Exército, em cumprimento do Serviço Militar obrigatório, muito enriqueci o meu vocabulário à custa da chamada "linguagem de caserna", particularmente na Guiné. E se em relação aos vocábulos "ordinários", pouco tinha a aprender, confesso, já no que se refere a expressões mais "pacíficas", o ganho foi substancial.

Efectivamente aprendi e usei expressões (e ainda uso algumas) que, embora sendo consideradas calão, não são pejorativas e fazem, também elas, parte integrante da história de uma época e de um contexto onde todos nós, ex-combatentes, vivemos durante algum tempo da nossa juventude. Com o fim da guerra colonial, muitas daquelas expressões caíram em desuso e, para que se preserve este valioso património, tentarei usar e abusar, nesta "Tabanca", de expressões usadas entre os militares em serviço na Guiné e que me ficaram na memória.

Dito isto, vamos aos "famosos" patrulhamentos no Pilão.

O Pilão (assim designava-mos habitualmente o Cupilom) era o maior bairro negro de Bissau e situava-se perto das instalações militares de Santa Luzia, onde estava instalado o QG/CTIG. Era composto por numerosas tabancas, sem energia eléctrica, sem água canalizada e sem rede de esgotos. Era ali que vivia a maior parte da população pobre de Bissau. Era também ali que havia "manga de fudi-fudi"(1) e onde muitos militares iam "desenferrujar o prego". À noite era perigoso andar por ali sozinho.

Recordo-me de, ainda na Metrópole e terminadas a férias que antecediam o embarque, ter-me deslocado a uma barbearia para um corte de cabelo curto, e o barbeiro que me atendeu ter-me perguntado se ia para a tropa. Tendo-lhe respondido que não, que já lá andava há quase um ano, mas que ia para a Guiné, ele logo me avisou:
- Cuidado com o Pilão, um 'gajo' entra e sai de lá com a cabeça debaixo do braço!.

Fiquei esclarecido.

Efectivamente, vim a constatar depois que, à noite no Pilão, havia constantes conflitos por variadíssimas razões, entre as quais o "fudi-fudi". Era também habitual o rebentamento de granadas naquela bairro e constava até que por lá havia muita gente simpatizante do PAIGC e que alguns guerrilheiros ali vinham passar os fins de semana, recolhendo informações.

Os patrulhamentos estavam a cargo do pessoal da CCS do QG/CTIG e eram efectuados em três turnos; 20h-24h, 24h-04h, 04h-08h e eram controlados por um Capitão do COMBIS (Comando de Defesa de Bissau).

E é neste contexto que este vosso camarada "operacional do ar condicionado", apenas com alguns dias de Guiné, é chamado a efectuar o seu primeiro patrulhamento nocturno ao Pilão. "Piriquito"(2) como era, estava decidido a seguir à risca todas as instruções que me fossem transmitidas para o efeito.
Munido de G3, telemóvel matulão (já não sei como se chamava aquilo) e um croquis mal-ajambrado, com notas escritas à máquina e envolto num plástico transparente, lá vou eu comandar uma patrulha de seis homens, transformados em guardas-nocturnos.

Vamos de Unimog e largam-nos no local indicado no croquis. Este, tinha aspecto de já ter cumprido dezassete comissões e apresentava-se com a farda toda esfarrapada. Isto é: o plástico estava a desfazer-se e o papel mal se conseguia ler. Então de noite, sem luz, era giro!

Mas eu estava determinado a fazer tudo certinho e direitinho (era mesmo muito "pira"!(2)) e esforço-me por estudar o croquis, quando um elemento da patrulha me diz que o "télélé" tinha lanterna o que me levou a concluir que, afinal, a tropa portuguesa estava bem equipada. Às apalpadelas tentei acertar com o botão respectivo, mas acabou por ser o tal elemento da patrulha a dar à luz. Logo pensei: "este deve ser Engenheiro".

Os caracteres esbatidos daquele croquis já se me apresentavam mais legíveis e tratei de perceber qual o trajecto que teria de seguir para cumprir cabalmente a missão que me havia sido confiada, quando dou com o seguinte fragmento de texto: "(...) junto a um mangueiro com uma faixa branca (...).

Porra! Esta merda está toda rota, a luz é fraca comó caraças, um gajo num bê a ponta dum chabelho e, ainda por cima, estes gajos num sabem escreber, ou estom a gozar comigo?! Como é que bou encontrar uma mangueira com uma risca branca, no meio desta escuridom?! Tá tudo doido! (Em 1973, com 4 ou 5 dias de Guiné, sabia lá eu que existiam mangueiros!)

Fartei-me de olhar para o chão à cata da tal mangueira! Resumindo: perdi-me completamente e, a páginas tantas:
- kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto. - kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto.

O "télélé" tinha acordado - era o Capitão do COMBIS! Respondo:
- celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto - celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto - (duas vezes - tinham-me dito que era assim).

Do outro lado respondem:
- kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto - kalar, kalar, aqui celta, diga se me ouve, escuto.

E eu novamente:
- celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto - celta, celta, aqui kalar, diga se me ouve, escuto.

Aquilo até estava a ser giro, mas o tal "engenheiro" diz-me:
- Meu Furriel, tem de carregar num botão aí ao lado! (o tipo sabia mesmo daquilo!).

Carreguei no botão, mas a conversa continuava monótona como tinha começado:
- kalar, kalar para cá - celta, celta para lá -  e já começava a chatear!

Então o "engenheiro" diz:
- Meu furriel, tem um botão de cada lado, tem de carregar nos dois ao mesmo tempo! - Aí convenci-me mesmo que o "bacano" era Engenheiro, e dos bons! Talvez electrotécnico.

Bom, lá consegui chegar à fala com o Capitão que me perguntou onde é que eu estava, e eu lá tive de lhe dizer que me tinha enganado no autocarro, que era a primeira vez, etc. e tal e ele lá me disse que estava junto à igreja, o que me deixou mais sossegado pois, provavelmente, estaria em meditação e dava-me algum tempo para lá chegar. Como não fazia a mínima ideia onde ficava a igreja, perguntei ao pessoal e um dos negros que compunham a patrulha lá nos encaminhou.

Chegados lá, nem Capitão, nem Padre, nem Sacristão, nem o raio que os parta! Recomeça a cantoria:
- kalar, kalar...

A sério que me apeteceu mesmo mandá-lo calar, mas lá carreguei nos dois botões (a gente está sempre a aprender) e o Capitão pergunta-me:
- Então, onde é que você anda?!

O tom de voz dele já não me estava a agradar. Respondi-lhe com alguma sobranceria:
- Estou junto à Igreja!

E ele:
- Junto à Igreja estou eu e não vejo aqui ninguém!

Eu, afinal, estava junto a uma mesquita!!!
Ai meu Deus que desta é que eu vou parar a São Crincalho! - (Já me estava a imaginar no centro de Madina de Boé a fazer patrulhamentos com uma moca de Rio Maior na mão e uma fisga no bolso!)

Lá me explicou mais ou menos onde ficava a Igreja e, como o pessoal mostrou conhecer o caminho, para lá avançamos a todo o vapor! Lá chegados, continuei com as minhas desculpas e não notei nele grande ressentimento. Julgo que era Capitão Miliciano. Assinei o mapa de controlo e lá me embrenhei novamente na "densa mata", até ser rendido.

 Tabanca do Pilão
Foto: © Arménio Estorninho

Eu era de rendição individual, estava há três ou quatro dias na Guiné e ainda não tinha tido tempo para conhecer todos os "cantos à casa". Vim mais tarde a saber como a "coisa" funcionava e, até ao fim da comissão, agi de acordo com as regras vigentes e..., "tá na mala!"(3)

Então era assim: O Capitão do COMBIS ligava para o Oficial de Prevenção - Alferes Miliciano - informando-o da hora e local onde seria efectuado o controlo. O Oficial de Prevenção avisava o Sargento de Ronda. Este seguia directamente com a patrulha para perto do local de controlo e, minutos antes da hora marcada, avançava destemido para o "objectivo". Nunca falhava!

Eu nunca dormia (forte sentido de responsabilidade), mas algum pessoal era "tiro e queda!".  Uma das vezes dei comigo a guardar seis "bacanos" a ressonar! "Oh c'um carago, mas que é isto?! Tudo a "ferrar o galho" e eu aqui feito camelo, de sentinela a velar por eles?!"
- Toca a acordar pessoal, vamos dar uma volta que estou a ficar com frio! - Acordaram e lá foram, meio a resmungar.

Em Setembro de 1973, vim de férias à Metrópole e, regressado a Bissau, "tungas, bora lá alinhar" numa rondazinha ao Pilão.

Era o turno das 20h às 24h, o pior em termos de conflitos. Eu tinha regressado no dia anterior e estava atarefado a tentar descansar da azáfama das férias. Sossegadinhos no canto de uma tabanca (do lado de fora, claro), fomos sobressaltados com o rebentamento de uma granada. Ouvi, registei e esperei. Logo de seguida, rebenta outra, depois outra... Mau, vim ontem de férias e ainda me sinto em convalescença e com pouca vontade de entrar em "festas"!. Continuam a rebentar - tenho de ir, pois vai aparecer o COMBIS de certeza.

Inicio, então, a deslocação das tropas exactamente em sentido contrário ao do som dos rebentamentos (cautelas e caldos de galinha...). O pessoal alerta-me, mas eu não ouço. É para este lado e "mai nada!"

Rebenta mais outra e aqueles "camelos" insistem:
- Meu Furriel é para ali! -  (militares impreparados!).
Lá tive de inverter o sentido da marcha. Aqueles "gajos" não estavam a facilitar nada.
- Calma, nada de pressas-, ordenei eu!

Entretanto rebenta uma granada incendiária que provocou um grande clarão e pude ver que já lá se encontrava alguma tropa e,  aí sim, acelerei a marcha. Não façam já juízos precipitados! Acelerei a marcha, não porque me sentisse mais seguro, mas porque estavam lá camaradas meus que podiam necessitar da minha ajuda (a isto chama-se altruísmo!).

O Capitão da COMBIS manda-me fazer um cordão de segurança ao local (eu mais 6 homens, quando muito uma cordinha!), pois estava uma granada descavilhada junto à porta de entrada da casa de um 1º Sargento e era preciso fazer segurança aos homens que iriam tentar resolver o assunto. Aquela granada podia rebentar por simpatia a qualquer momento. Colocaram sacos de areia junto à entrada da casa.
Pensou-se em dar um tiro de longe à granada, mas não seria fácil acertar-lhe e, além disso, parece que havia uma determinação qualquer que não permitia tiros em Bissau.

Se algum tabanqueiro tiver informações acerca do assunto, seria interessante divulgá-las aqui na Tabanca, pois sempre me pareceu absurda a ideia, tanto mais que era frequente o rebentamento de granadas, mas realmente e apesar da quantidade de armas que por ali circulavam, nunca tive conhecimento de cenas de tiroteio em Bissau. Talvez eu andasse distraído, não sei.

Aquilo demorou uma eternidade. Toda a gente dava palpites e eu, "experimentado" como era no assunto, também dou o meu.
- E se se abrissem algumas munições e se fizesse no chão um carreiro de pólvora até à granada e se espalhasse em cima desta alguma pólvora. Depois, era só chegar fogo à pólvora no início do carreiro e proteger-mo-nos.

A sugestão foi bem recebida, mas o pior veio a seguir. Era preciso um voluntário... "Querem ver que estes "gajos" estão a pensar na minha pessoa para pôr em prática o meu plano?! Estão doidos!"

Realmente, isto de fazer planos para os outros executarem é muito lindo. Não deixavam de ter razão, mas eu tinha regressado de férias no dia anterior, carago! Era só por isso, mais nada. E não é que um "bacano" do meu "grupo de combate" se oferece como voluntário?! Este gajo é maluco! Esta merda ainda rebenta, o "gajo" vai pelos ares, e eu fico com um "molho de brócolos" nas mãos, do carago!

O "bacano" lá começa a fazer o carreiro de pólvora até à granada e eu sempre a "rezar" para que ela se aguentasse muda e queda e a pedir que o "bacano" se despachasse. Quando chega à granada e começa a despejar pólvora em cima dela, eu já tremia todo só de imaginar a "gaja" a explodir, o "bacano" a ficar feito em fricassé e eu a "sentar o cu no mocho".

Lá terminou sem problemas aquela tarefa e, então, chegou fogo à pólvora. Todos nos abrigamos a aguardar os acontecimentos. A pólvora lá foi ardendo pelo carreiro e, quando chegou à granada, dá-se um clarão e... "um autêntico flato em pantufas!". A "gaja" não rebentou, chegou o pelotão para me render, eu regressei a quartéis e no dia seguinte soube que lá tinha ido o pessoal das minas e armadilhas que tratou do assunto.

A esta distância (40 anos) estes episódios são relatados com esta ligeireza da "calma, descontração e estupidez natural", mas não deixei de apanhar alguns "cagaços", pois temos de levar em conta que o meu nome completo inclui os apelidos Valente e Magro e que, o último me assentava na perfeição, à época.
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(1) - "manga de fudi-fudi" - muito sexo
(2 - "piriquito" ou "pira" (abrev.) - expressões que designavam um militar recém chegado à Guiné e cujo camuflado, com pouco uso, nos levava a assemelhá-lo ao periquito verde da Guiné (papagaio do Senegal).
(3) - "tá na mala!" - Está feito, siga! 

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 27 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau