Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > 8 de maio de 2013 > Foto nº 14 > O frondoso cajueiro sob o qual os casais Silva e Teixeira almoçaram, depois do regresso de Elalab.
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > A caminho de Elalab > 8 de maio de 2013 > Foto nº 1 > O caiaque Tabanca Pequena (oferecido pela ONG Tabanca Pequena) vai acostar para nos recolher
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > De Varela para Elalab > 8 de maio de 2013 > Foto nº 3 > O caiaque Tabanca Pequena... O Silva vai "atento ao inimigo"...
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 8 de maio de 2013 > Foto nº 5 > Aspecto exterior do Centro Materno-infantil
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 9 de maio de 2013 > Foto nº 7 > Até que enfim!, já há um registo oficial dos nascimentos na tabanca de Elalab. Que grande avanço!
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 9 de maio de 2013 > Foto nº 12 > Um grupo de miúdos da escola local.
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 9 de maio de 2013 > Foto nº 6 > Encontro com a comissão de mulheres gestoras do Centro, vendo-se em primeiro plano a coordenadora...
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 8 de maio de 2013 > Foto nº 8 > As primeiras crianças a nascer (1)
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 9 de maio de 2013 > Foto nº 9 > As primeiras crianças a nascer (2)
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 8 de maio de 2013 > Foto nº 10 > Inesquecíveis momentos de diálogo em dois dialetos (o felupee o crioulo) e uma língua (o português)... O diálogo possível entre mães.
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 8 de maio de 2013 > Foto nº 11> A minha perdição: as crianças!
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Elalab > 9 de maio de 2013 > Foto nº 13 > No regresso a Varela apreciamos os viveiros de ostras nas plantas aquáticas das margens do rio.
Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]
1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte XI
por José Teixeira
O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete.
No dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira. Ba 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo.
No dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)...
É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7 foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo daCART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,
A crónica anterior a nº 9, corresponde ao dia 6 de maio: os nossos viajantes foram até Farim e regressaram a Bissau. já que o Francisco Silva, mesmo de férias, teve de fazer uma intervenção cirúrgica, a uma criança que esperava um milagroso ortopedista há mais de um ano! Na crónia nº 10, descreve-se a viagem até Varela, em 7 de maio. No dia 8, o grupo vai, de barco, até Elalab..
Próximas crónicas: 9 maio- Visita a Djufunko e um cheirinho de praia em Varela; 10 maio – Descanso em Varela; 11 maio – Regresso a Bissau e embarque de madrugada, de regresso a casa.
2. Parte XI> 8 de maio de 2013: Em pleno chão felupe, visita ao Centro Materno-Infantil de Elalab
Foi um acordar sossegado, nesta manhã do dia 8 de Maio. Varela, terra banhada por um mar de águas cálidas e belas praias convida a uma pausa no ritmo de vida que vimos tendo desde que aterramos na Guiné-Bissau.
1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte XI
por José Teixeira
O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete.
No dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira. Ba 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo.
No dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)...
É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7 foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo daCART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,
A crónica anterior a nº 9, corresponde ao dia 6 de maio: os nossos viajantes foram até Farim e regressaram a Bissau. já que o Francisco Silva, mesmo de férias, teve de fazer uma intervenção cirúrgica, a uma criança que esperava um milagroso ortopedista há mais de um ano! Na crónia nº 10, descreve-se a viagem até Varela, em 7 de maio. No dia 8, o grupo vai, de barco, até Elalab..
Próximas crónicas: 9 maio- Visita a Djufunko e um cheirinho de praia em Varela; 10 maio – Descanso em Varela; 11 maio – Regresso a Bissau e embarque de madrugada, de regresso a casa.
2. Parte XI> 8 de maio de 2013: Em pleno chão felupe, visita ao Centro Materno-Infantil de Elalab
Foi um acordar sossegado, nesta manhã do dia 8 de Maio. Varela, terra banhada por um mar de águas cálidas e belas praias convida a uma pausa no ritmo de vida que vimos tendo desde que aterramos na Guiné-Bissau.
Acordo ao som da cristalina água que se espreguiça nas areias brancas e finas, acompanhado por um sonoro chilrear da passarada que me transporta ao ano de 1968 em Ingoré, a umas dezenas de quilómetros, onde eu também acordava ao som dos passarinhos, mal o sol despontava.
Nesse tempo era impossível percorrer a distância Ingoré a Varela sem uma escolta bem armada e por essa razão, pura e simplesmente não se fazia. De Varela ficou a recordação (segundo diziam) de que era uma praia maravilhosa, onde a famosa Brigite Bardot teria feito umas belas férias antes da guerra pela independência ter começado, e ficou o sonho secreto de um dia visitar Varela.
Terra de paz e sossego, foi um dos primeiros espaços territoriais a ser atacado no início da guerra, pelo seu valor turístico e simbólico. Ficou desde então reduzida ao esquecimento. Se durante a guerra não havia condições para manter o turismo, apesar dos povos autóctones, de maioria Felupe, serem pacíficos, e fiéis, contrariamente ao que se fazia constar de que eram canibais.
As novas autoridades [, da Guiné-Bissau,], talvez por castigo pela não adesão à causa, mantiveram toda esta região no esquecimento. Sem pontes nem estradas, sem assistência de qualquer espécie. De recordar que a ponte sobre o Rio Mansoa foi aberta em 2003 e a de S. Vicente sobre o Rio Cacheu foi inaugurada em 2009, quebrando assim o isolamento da Guiné- Bissau para Norte por S. Domingos até ao Senegal. As velhas jangadas a pedir reforma há muitos anos eram um atraso de vida para quem precisava de se deslocar para lá da terra para tratar da saúde, fazer compras ou vender os produtos da terra.
Varela ficou assim mais perto de Bissau, apesar de serem precisas mais de duas horas para cobrir os cerca de 60 quilómetros que separam esta Tabanca da cidade de S. Domingos, devido ao mau estado da picada que as une, se for na época seca. Na época das chuvas, creio que o tempo duplicará, mesmo com um condutor experiente.
Da forte herança colonial destruída durante a guerra há as ruinas de um hotel à beira-mar e alguns resíduos de construções, talvez habitações e bares junto à praia. Ruinas que o mar se apressa em destruir no seu caminhar pela terra adentro.
A umas dezenas de metros da praia, algumas construções modernas, propriedades de guineenses com algumas posses, residentes em Bissau, e que aos fins-de-semana, tal como em Portugal, procuram este local para descansar, agora que as pontes e a estrada alcatroada até S. Domingos lhe permitiram reduzir o tempo de estrada. Um pouco mais afastada, fica a Tabanca, onde a Chez Héléne da Fá é uma referência de bom comer e bem-estar.
Varela está nas bocas do mundo e no pensamento dos políticos locais pelo valor acrescentado que as jazidas de Titânio e Zircão, lhe vieram trazer. Metais raros, de grande utilidade para a fabricação de peças de aviões e componentes para telemóveis, cuja exploração está a ser disputada por russos e chineses, para enriquecimento não da população local mas dos políticos como sempre acontece.
Bem pelo contrário, a população pode vir a sofrer consequências nocivas, não só pela perigosidade para a saúde, pelas substâncias cancerígenas usadas na sua exploração, mas também pelo desastre ecológico que a sua exploração pode provocar, nomeadamente a contaminação do lençol freático e a poluição do ecossistema rico em orizicultura e piscicultura.
Depois do pequeno-almoço que a Satu, filha do nosso cicerone, o Kissimá, nos preparou com carinho, partimos de novo. O nosso motorista, sempre pronto, como nos tempos em que era 1º cabo do exército português, estava à espera. Seguimos até Suzana, internamo-nos na mata até encontrarmos as margens do rio que se espreguiça pelas terras bolanhosas inundando-as de água salgada tornando-as improdutíveis. Mais, impede a circulação de pessoas, isolando as populações de forma impiedosa.
Para chegarmos a Elalab, o nosso destino de hoje, temos dois caminhos à escolha: (i) uma viagem pelo areal desértico, seguida de uma caminhada através de um dique construído por mão humana, que nos levará pelo menos três e horas de canseira; ou (ii) uma viagem de barco – O Tabanca Pequena, em homenagem à Associação Tabanca Pequena ONGD que o ofereceu à população desta tabanca há cerca de dois anos, reduzindo assim o tempo de chegada a Suzana para cerca de 45 minutos, navegando ria acima e pondo de lado a longa caminhada no quente e desértico areal.
[Não conseguimos identificar, nas nossas antigas cartas militares, a posição exata de Elalab. De qualquer modo nas férias, estamos com acesso limitado á Net, LG.]
Sem dúvida, que a opção foi a viagem de barco. Se atravessar as picadas do Cantanhez no Sul da Guiné, por vezes sentimos um arrepiar da espinha, ao rever mentalmente outros tempos bem mais difíceis. Este arrepiar que era felizmente compensado com o acolhimento de irmãos, somos, proporcionado pelas populações por onde passamos. Agora descer o rio com aquelas margens fechadas de floresta virgem e o ruido do pequeno motor a avassalar o ambiente, transporta-nos de novo ao tempo em que por detrás de cada árvore gigantesca que povoavam as suas margens estava um perigoso “turra” de RPG apontando ao couraçado da LDM que nos transportava para qualquer operação de “pacificação” e logo eu que não sei nadar!
Aqui, nas margens deste rio, de águas calmas e tempos de paz, as ostras colam-se aos rebentos das plantas aquáticas imprimindo aos seus troncos banhados pelas águas uma cor esbranquiçada. Um bom prenúncio para o que nos espera nesta laboriosa tabanca Felupe.
Junto ao cais improvisado, as crianças da escola local, mulheres e homens esperavam expectantes. O barco dobra a curva do rio e eis que uma multidão começa a cantar e a dançar, abrindo clareiras para os “ilustres” visitantes passarem, logo que o barquito atraca no tarrafo. É desta forma, alegre e expansiva que a população de Elalab acolhe estes dois casais [, os Teixeira e os Silva], em visita de cortesia.
No Centro Materno-Infantil, uma pequena construção pedida pelas jovens mulheres cansadas de sofrer as dores da maternidade em espaço aberto e que a AD- Acção Para o Desenvolvimento com o apoio das ONG TABANKA [, alemã,] e Tabanca Pequena, construiu e garante a manutenção, fomos recebidos pela comissão de mulheres que gerem este projeto.
Inesquecíveis momentos de diálogo em três dialetos: o felupe, o crioulo e o português. Mas deu para entender, os seus sonhos: Ter um espaço íntimo e reservado para o trabalho de parto, com o mínimo dos mínimos de condições de higiene; ter algum equipamento para facilitar as tarefas, ter medicamentos, sobretudo Paracetamol para as dores de cabeça e Quinino para a malária das crianças.
Ao ser-lhes perguntado, se não estavam precisando de mais nada, a coordenadora sorriu e disse que tinha de ir reunir com as outras pessoas (mulheres) que estavam cá fora para lhes perguntar. Feita a consulta, pediram-nos uma televisão para a escola. Aguardamos que a AD confirme se na região há sinal de TV, mas a televisão vai aparecer com toda a certeza.
Que lição, para os homens de mulheres de hoje, deste mundo consumista!
Seguiu-se o encontro com um grande grupo de homens, mulheres e crianças que nos esperavam no exterior à sombra de gigantescos poilões e, enquanto esperavamos pelas deliciosas ostras que estavam algures a ser preparadas para nós saborearmos, fomos ouvindo uns e outros a falarem de dificuldades, de sonhos, de esperança, ao mesmo tempo que aprofundávamos os nossos conhecimentos sobre a história deste povo, o felupe, que continua a usar o arco e flecha com maestria, alheio às novidades tecnológicas que tem um sonho – ter um médico que os visite de longe a longe e medicamentos para lutar contra a malária. Por ora têm apenas um enfermeiro, que de motoreta, e há que dar graças a Deus, uma vez por mês os visita, mas vai sempre de mãos vazias.
O Centro Materno Infantil, neste cerca de ano e meio de vida, acolheu quinze parturientes. Catorze crianças vivas e saudáveis vieram ao mundo, trazidas por suas mães ajudadas pelas mãos daquelas mulheres (matronas) que se entregaram a este projeto, apenas e só por amor à vida renascida em cada criança que chega a este mundo. A décima quinta ficou pelo caminho, sem ver a luz do sol, mas há duas mães esperançosas e sorridentes à espera do seu momento. Que seja um feliz momento.
Maldito tempo que desaparece sem darmos por si. Chegou a hora da despedida. Abraços sentidos, sorrisos de esperança e dor. Um reforçar dos pedidos – mezinho para as crianças, a televisão para a escola e… partimos de novo, rio acima até Suzana, onde nos esperava o Bemba para nos transportar a Varela e à sombra de um frondoso cajueiro bem carregadinho de fruto, saboreamos o petisco de frango que a Satu nos preparou com todo o carinho, neste almoçar tardio, depois de uma manhã cheia de emoções e aventuras.
Depois de um merecido descanso, um passeio pela costa marítima à procura do local ideal para uma banhoca nas mornas e serenas águas do Atlântico.
E assim se passou mais um dia de aventura nesta nova Guiné, a Guiné-Bissau.
Terra de paz e sossego, foi um dos primeiros espaços territoriais a ser atacado no início da guerra, pelo seu valor turístico e simbólico. Ficou desde então reduzida ao esquecimento. Se durante a guerra não havia condições para manter o turismo, apesar dos povos autóctones, de maioria Felupe, serem pacíficos, e fiéis, contrariamente ao que se fazia constar de que eram canibais.
As novas autoridades [, da Guiné-Bissau,], talvez por castigo pela não adesão à causa, mantiveram toda esta região no esquecimento. Sem pontes nem estradas, sem assistência de qualquer espécie. De recordar que a ponte sobre o Rio Mansoa foi aberta em 2003 e a de S. Vicente sobre o Rio Cacheu foi inaugurada em 2009, quebrando assim o isolamento da Guiné- Bissau para Norte por S. Domingos até ao Senegal. As velhas jangadas a pedir reforma há muitos anos eram um atraso de vida para quem precisava de se deslocar para lá da terra para tratar da saúde, fazer compras ou vender os produtos da terra.
Varela ficou assim mais perto de Bissau, apesar de serem precisas mais de duas horas para cobrir os cerca de 60 quilómetros que separam esta Tabanca da cidade de S. Domingos, devido ao mau estado da picada que as une, se for na época seca. Na época das chuvas, creio que o tempo duplicará, mesmo com um condutor experiente.
Da forte herança colonial destruída durante a guerra há as ruinas de um hotel à beira-mar e alguns resíduos de construções, talvez habitações e bares junto à praia. Ruinas que o mar se apressa em destruir no seu caminhar pela terra adentro.
A umas dezenas de metros da praia, algumas construções modernas, propriedades de guineenses com algumas posses, residentes em Bissau, e que aos fins-de-semana, tal como em Portugal, procuram este local para descansar, agora que as pontes e a estrada alcatroada até S. Domingos lhe permitiram reduzir o tempo de estrada. Um pouco mais afastada, fica a Tabanca, onde a Chez Héléne da Fá é uma referência de bom comer e bem-estar.
Varela está nas bocas do mundo e no pensamento dos políticos locais pelo valor acrescentado que as jazidas de Titânio e Zircão, lhe vieram trazer. Metais raros, de grande utilidade para a fabricação de peças de aviões e componentes para telemóveis, cuja exploração está a ser disputada por russos e chineses, para enriquecimento não da população local mas dos políticos como sempre acontece.
Bem pelo contrário, a população pode vir a sofrer consequências nocivas, não só pela perigosidade para a saúde, pelas substâncias cancerígenas usadas na sua exploração, mas também pelo desastre ecológico que a sua exploração pode provocar, nomeadamente a contaminação do lençol freático e a poluição do ecossistema rico em orizicultura e piscicultura.
Depois do pequeno-almoço que a Satu, filha do nosso cicerone, o Kissimá, nos preparou com carinho, partimos de novo. O nosso motorista, sempre pronto, como nos tempos em que era 1º cabo do exército português, estava à espera. Seguimos até Suzana, internamo-nos na mata até encontrarmos as margens do rio que se espreguiça pelas terras bolanhosas inundando-as de água salgada tornando-as improdutíveis. Mais, impede a circulação de pessoas, isolando as populações de forma impiedosa.
Para chegarmos a Elalab, o nosso destino de hoje, temos dois caminhos à escolha: (i) uma viagem pelo areal desértico, seguida de uma caminhada através de um dique construído por mão humana, que nos levará pelo menos três e horas de canseira; ou (ii) uma viagem de barco – O Tabanca Pequena, em homenagem à Associação Tabanca Pequena ONGD que o ofereceu à população desta tabanca há cerca de dois anos, reduzindo assim o tempo de chegada a Suzana para cerca de 45 minutos, navegando ria acima e pondo de lado a longa caminhada no quente e desértico areal.
[Não conseguimos identificar, nas nossas antigas cartas militares, a posição exata de Elalab. De qualquer modo nas férias, estamos com acesso limitado á Net, LG.]
Sem dúvida, que a opção foi a viagem de barco. Se atravessar as picadas do Cantanhez no Sul da Guiné, por vezes sentimos um arrepiar da espinha, ao rever mentalmente outros tempos bem mais difíceis. Este arrepiar que era felizmente compensado com o acolhimento de irmãos, somos, proporcionado pelas populações por onde passamos. Agora descer o rio com aquelas margens fechadas de floresta virgem e o ruido do pequeno motor a avassalar o ambiente, transporta-nos de novo ao tempo em que por detrás de cada árvore gigantesca que povoavam as suas margens estava um perigoso “turra” de RPG apontando ao couraçado da LDM que nos transportava para qualquer operação de “pacificação” e logo eu que não sei nadar!
Aqui, nas margens deste rio, de águas calmas e tempos de paz, as ostras colam-se aos rebentos das plantas aquáticas imprimindo aos seus troncos banhados pelas águas uma cor esbranquiçada. Um bom prenúncio para o que nos espera nesta laboriosa tabanca Felupe.
Junto ao cais improvisado, as crianças da escola local, mulheres e homens esperavam expectantes. O barco dobra a curva do rio e eis que uma multidão começa a cantar e a dançar, abrindo clareiras para os “ilustres” visitantes passarem, logo que o barquito atraca no tarrafo. É desta forma, alegre e expansiva que a população de Elalab acolhe estes dois casais [, os Teixeira e os Silva], em visita de cortesia.
No Centro Materno-Infantil, uma pequena construção pedida pelas jovens mulheres cansadas de sofrer as dores da maternidade em espaço aberto e que a AD- Acção Para o Desenvolvimento com o apoio das ONG TABANKA [, alemã,] e Tabanca Pequena, construiu e garante a manutenção, fomos recebidos pela comissão de mulheres que gerem este projeto.
Inesquecíveis momentos de diálogo em três dialetos: o felupe, o crioulo e o português. Mas deu para entender, os seus sonhos: Ter um espaço íntimo e reservado para o trabalho de parto, com o mínimo dos mínimos de condições de higiene; ter algum equipamento para facilitar as tarefas, ter medicamentos, sobretudo Paracetamol para as dores de cabeça e Quinino para a malária das crianças.
Ao ser-lhes perguntado, se não estavam precisando de mais nada, a coordenadora sorriu e disse que tinha de ir reunir com as outras pessoas (mulheres) que estavam cá fora para lhes perguntar. Feita a consulta, pediram-nos uma televisão para a escola. Aguardamos que a AD confirme se na região há sinal de TV, mas a televisão vai aparecer com toda a certeza.
Que lição, para os homens de mulheres de hoje, deste mundo consumista!
Seguiu-se o encontro com um grande grupo de homens, mulheres e crianças que nos esperavam no exterior à sombra de gigantescos poilões e, enquanto esperavamos pelas deliciosas ostras que estavam algures a ser preparadas para nós saborearmos, fomos ouvindo uns e outros a falarem de dificuldades, de sonhos, de esperança, ao mesmo tempo que aprofundávamos os nossos conhecimentos sobre a história deste povo, o felupe, que continua a usar o arco e flecha com maestria, alheio às novidades tecnológicas que tem um sonho – ter um médico que os visite de longe a longe e medicamentos para lutar contra a malária. Por ora têm apenas um enfermeiro, que de motoreta, e há que dar graças a Deus, uma vez por mês os visita, mas vai sempre de mãos vazias.
O Centro Materno Infantil, neste cerca de ano e meio de vida, acolheu quinze parturientes. Catorze crianças vivas e saudáveis vieram ao mundo, trazidas por suas mães ajudadas pelas mãos daquelas mulheres (matronas) que se entregaram a este projeto, apenas e só por amor à vida renascida em cada criança que chega a este mundo. A décima quinta ficou pelo caminho, sem ver a luz do sol, mas há duas mães esperançosas e sorridentes à espera do seu momento. Que seja um feliz momento.
Maldito tempo que desaparece sem darmos por si. Chegou a hora da despedida. Abraços sentidos, sorrisos de esperança e dor. Um reforçar dos pedidos – mezinho para as crianças, a televisão para a escola e… partimos de novo, rio acima até Suzana, onde nos esperava o Bemba para nos transportar a Varela e à sombra de um frondoso cajueiro bem carregadinho de fruto, saboreamos o petisco de frango que a Satu nos preparou com todo o carinho, neste almoçar tardio, depois de uma manhã cheia de emoções e aventuras.
Depois de um merecido descanso, um passeio pela costa marítima à procura do local ideal para uma banhoca nas mornas e serenas águas do Atlântico.
E assim se passou mais um dia de aventura nesta nova Guiné, a Guiné-Bissau.
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Nota do editor:
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