1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68), com data de 27 de Janeiro de 2014:
Olá Carlos:
Tentei responder no blogue mas, aparentemente a minha mensagem tinha mais texto que o permitido.
Deste modo, aqui fica para tua consideração, estas primeiras linhas, e no anexo, um excerto do meu próximo livro.
“Agradecendo sinceramente a todos os meus camaradas que tiveram a amabilidade de me dar os parabéns, informo mais uma vez que estou na fase final de terminar o meu próximo livro, intitulado
"BISSAULÓNIA".
Sobre o mesmo, creio já ter comunicado que que estaria aberto a receber toda e qualquer questão, relacionada com qualquer “curiosidade” que acaso possa existir na mente de muitos dos camaradas ainda viventes, tendo em conta, o facto de eu ter tido uma estadia na Guiné mais prolongada, que a maioria.
A abertura continua até ao dia da edição.
Depois, já será tarde.
Para já, e como forma de agradecimento, e a titulo de uma “pequena homenagem” aqui vai um pequeno excerto das paginas inicias de
“BISSAULÓNIA”.
Prometo enviar periodicamente mais algumas páginas, logo que revistas, na procura de algum erro.
ACEITO E AGRADEÇO QUALQUER CORREÇÃO.
Assim, temos…
"BISSAULÓNIA"
Um livro onde procuro descrever as mudanças visualizadas em Bissau, no contexto da composição da “textura humana” desde a data da minha chegada à Guiné (Maio de 1967) e o período pós independência.
Procuro também relatar as mudanças feitas na política local, com todas as suas consequências sociais e económicas que, lamentavelmente para mim e minha família, ainda hoje sinto um determinado traumatismo, com uma “raiva interior de impotência” pela “ingratidão" demonstrada para com a minha pessoa, não pelo povo da Guiné nem por todos os membros da “cúpula” do Governo da Guiné, mas sim por meia dúzia de “mal paridos”, aos que eu chamei e chamo – sem hesitação alguma – “batatas podres com pernas”.
Ingratidão para com quem demonstrou uma cega confiança na capacidade de “quem estivesse ao leme”, de saber diferenciar entre aqueles que acaso tivessem tido um comportamento menos apropriado, e a pessoa que arriscou cegamente tudo o que tinha ganho até ali, incluindo ficar empenhado com letras bancárias, para aquisição de outros locais de actividade, onde por certo daria trabalho a algum membros do povo da Guiné.
Como disse, não foi o “povo em geral” que foi ingrato nem tão pouco muitos dos membros “da cúpula”, mas sim uns quantos que se apoiavam na prepotência e no abuso de poder, por terem “compadres empoleirados” da ala politica que mais reinava na ocasião. A ala de Cabo Verde.
Nunca esqueci nem esqueço o que me fizeram e tentaram fazer".
Mário Serra Oliveira
Guiné-Bissau
INTENÇÃO – OBJECTIVO
A intenção destas linhas, tem como objectivo principal, satisfazer um pedido de vários ex-camaradas de armas, os quais, na sua grande maioria, prestaram serviço militar na então chamada Guiné Portuguesa, hoje um novo país, conhecido como Guiné-Bissau.
A razão principal, tem origem no facto de, enquanto muitos destes meus camaradas fizeram uma (ou mais, quem sabe?) comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses, sabe-se lá em que local do teatro de guerra, quantas vezes em risco constante da própria vida, eu, considerando-me um “sortudo”, que nem uma pistola tive distribuída, acabei por ficar na Guiné, após cumprida a minha comissão de 19 meses e 10 dias bem contados, com “risquinhos” mensais e tudo, no cinto – cópia fiel do uso e costumes de outros camaradas de armas – ao serviço da Força Aérea Portuguesa, inicialmente destacado na messe de sargentos e, posteriormente, na messe de oficiais, no coração da cidade de Bissau.
Com esta minha decisão, acabei por ficar na Guiné durante cerca de catorze anos e meio e, como tal, acabei por ser “testemunha” voluntária
(1) do desenrolar de vários acontecimentos, nunca ao alcance destes meus camaradas. No entanto, apesar de ter havido “episódios” espalhados por toda a Guiné, obviamente, só me posso referir aos “centralizados” na área de Bissau e vizinhanças limítrofes porque, era aí que eu me encontrava, “abrangendo” parte do período de guerra, desde a minha chegada a 17 de Maio de 1967, até ao dia da independência da Guiné, oportunidade que só os presentes na ocasião, puderam testemunhar – uns num local e outros noutro.
Uns de uma forma e outros doutra. Eu, como já disse, estava em Bissau.
Portanto, no que me diz respeito, além do período pré independência que refiro, desde Maio de 1967, tive a oportunidade de assistir – para bem ou para o mal – a toda a mudança da conjuntura social e política que passou a vigorar na Guiné, após a independência e durante cerca de 7 anos depois. De facto, só saí definitivamente da Guiné, em Agosto de 1981.
Como tal, desde Setembro de 1974 a Agosto de 1981, são quase 7 anos, como já disse. Seis anos e 11 meses, mais precisamente.
Portanto, perante esta certeza e estes factos, creio ser mais que lógico a existência de uma certa “curiosidade” por parte destes meus camaradas, em quererem saber como “foi aquilo” depois da partida deles ou, mais englobante, como “foi aquilo”, depois da independência.
É pois, com grande prazer pessoal, que tenho a honra de tentar satisfazer esta curiosidade, relatando o que quer que seja que haja a relatar, o mais realisticamente possível e o melhor que a minha memória me permite, pedindo desculpa a todos, se acaso não consigo satisfazer cabalmente a totalidade das vossas expectativas.
Aqui, nestas linhas, só digo o que sei e o que penso estar correcto, mesmo debaixo de alguma imperfeição humana.
Ao mesmo tempo, antes de dar início aos capítulos que irão fazer parte do “corpo principal” deste livro, não poderia deixar de fazer uma singela homenagem, a TODOS os milhares dos meus camaradas ex-combatentes das Forças Armadas de Portugal, que prestaram serviço no chamado “ultramar português” durante as guerras de libertação das ex-colónias, tendo em especial consideração, os milhares de camaradas que, no conjunto geral, uns numa ocasião e outros noutra, passaram pela então chamada Guiné Portuguesa, numa comissão de serviço que, normalmente, rondaria os 24 meses como já disse, a quem estas linhas são dedicadas.
A TODOS, um abraço aos ex-camaradas viventes e, aos que já partiram para “o jardim dos justos”, que a terra “Vos seja leve e o sorriso das flores Vos embale”.
Para a vida e para a morte, sou o sempre Vosso fiel camarada.
Mário Serra Oliveira -
1.º Cabo amanuense nº 262/66 – ZACVG.
(Mário Tito)
Guiné-Bissau - Bissau Velho
HOMENAGEM - RECONHECIMENTO
Ao mesmo tempo, e por respeito para com o meu semelhante, independentemente do ponto de vista políticos e acções do passado, sinto-me com o dever cívico de prestar uma homenagem de reconhecimento, a alguns elementos do PAIGC que, após a independência da Guiné, fizeram parte do Governo, ou que ocuparam outras posições de liderança naquela ocasião, com os quais tive a oportunidade e o privilégio de conviver – e até servir - atendendo à minha posição de comerciante no ramo da restauração, os quais, na sua maioria, de uma forma ou de outra, foram muito atenciosos para comigo
(2).
Procurarei também, separar o “trigo do joio” entre estes últimos homenageados e outros protagonistas ligados ao PAIGC porque, efectivamente, nem todos aqueles com quem convivi – independentemente do cargo que acaso ocupassem na ocasião – usaram a mesma cortesia, o mesmo respeito e a mesma justeza, na suas lides diárias ou ocasionais com a minha pessoa.
De facto, por parte de alguns destes, aos quais farei referência dos seus actos e atitudes noutra secção destas linhas, se houve algum excesso ou empenho, foi de abuso e prepotência, numa tentativa de “dificultar o mais possível” a minha vida, bem como a da minha família.
O porquê, só eles o saberiam ou, como sempre desconfiei, só eles teriam em mente um determinado objectivo - politico ou não - aberrantemente paupérrimo.
Mas, nesta secção, tratando-se de um espaço dedicado a uma homenagem, permitam-me seguir adiante, concentrando-me em alguns dos nomes que considero merecedores de reverência, a quem, com toda a minha sinceridade, presto uma póstuma homenagem aos já falecidos e, aos ainda vivos – se os houver, depois de tantas escaramuças politicas naquela “pobre" Guiné Bissau – apresento os meus mais profundos e sinceros agradecimentos.
Deste modo, cada qual pelo seu motivo mas, todos, pela sua atenção, boas palavras e cortesia, aqui ficam os nomes e cargos que ocupavam na ocasião, de todos os que a minha memória permite recordar com agrado e profundo reconhecimento, pedindo desculpa por se acaso a minha memória me atraiçoa, esquecendo de mencionar algum outro nome.
Temos:
- Laurentino Lima Gomes, comissário das obras públicas;
- Francisco Mendes, também conhecido como “Chico Tê”, 1º ministro em 1975, mais tarde assassinado;
- Armando Ramos, comissário do comércio;
- José Pereira, comissário da segurança social (se não estou em erro…);
- Juvêncio Gomes, presidente da Câmara Municipal de Bissau;
- Victor Saúde Maria, comissário dos negócios estrangeiros;
- Manuel Saturnino, cuja posição não recordo;
- Marcelino Lima, director dos armazéns do povo;
- um tal senhor ou camarada – como lhe queiram chamar
- Embaló, cujo nome completo não recordo, director da Dicol (antiga Sacor);
- José Carlos Schwarz, cuja posição que ocupava desconheço mas que, a título pessoal, era membro do conjunto musical Cobaiana Jazz, autor e poeta, falecido num trágico (?) acidente de aviação em Cuba;
- Carlos Gomes Júnior, (Cadogo) ex 1º Ministro da Guiné, e outros que, de um modo geral, foram muito corteses para comigo e minha família.
Aos já falecidos, que a terra lhes seja leve. E, aos ainda viventes, aqui fica o meu sincero e honesto agradecimento por tudo quanto fizeram e disseram, para aliviar as incertezas que “pairavam” no ar a cada instante.
Os nomes daqueles que foram uma espécie de “carrascos” para comigo, não têm lugar aqui nesta secção, em respeito aos acima homenageados, numa tentativa de não misturar “o bom com o mau”, separando com isso, o “trigo do joio”, conforme prometi anteriormente.
No entanto, cada qual a seu tempo, será alvo de referência, quando chegar o momento de relatar os episódios em que tristemente estiveram envolvidos contra mim.
Até lá, aqui fica esta singela homenagem aos que, por bem serviram e, em primeiro lugar mais uma vez, os meus camaradas de armas e, por bem fazerem, aos acima referenciados.
TODOS ELES, por direito e consideração, dignos ILUSTRES desta homenagem.
Finalmente, espero ter expressado claramente qual a minha intenção e, com isso, conseguir o objectivo a que me proponho.
Sinceramente.
Mário Tito